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Caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante

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Academic year: 2021

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Caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante

Luciane Schneider

Mestranda em Economia Aplicada (Esalq/USP) CPF nº 969.805.910-53

Endereço: Av. Pádua Dias, 11 CP.: 252 CEP 13.400-970 Piracicaba, SP E-mail: lschneid@esalq.usp.br

Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes

Profª. Drª. Do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq/USP CPF nº 066.698.338-06

Endereço: Av. Pádua Dias, 11 CP.: 9 CEP 13.418-900 Piracicaba, SP E-mail: mafdmora@esalq.usp.br

Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

Apresentação em Sessão com Debatedor

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Caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante

Resumo

Este estudo tem por finalidade verificar as relações entre os elos da cadeia produtiva do vinho espumante para o estado do RS permitindo, assim, sua caracterização. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que mais contribui para a atividade vitivinícola brasileira – mais de 90% da produção nacional provém deste estado. A motivação maior que levou a realização deste trabalho foi a ausência de estudos recentes nesta área, e também, a crescente demanda por vinhos espumantes revelada na década de 90.

O referencial teórico que sustentará este estudo é a Economia dos Custos de Transação (ECT).

PALAVRAS-CHAVE: VITIVINICULTURA, CADEIA PRODUTIVA, ATIVOS

ESPECÍFICOS

(3)

Caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante

1. INTRODUÇÃO

Principalmente nas últimas décadas, a vitivinicultura

1

evoluiu extraordinariamente no Brasil em termos de tecnologia, expansão espacial e qualidade do produto. Este fato foi consolidado quando, a partir de 1995, o Brasil passou a ser membro da OIV (Office International de la Vigne e de Vin – Organização Internacional do Vinho), organismo que regula as normas internacionais de produção do vinho, cujo cumprimento resulta, obrigatoriamente, em elevação do padrão dos vinhos nacionais.

Atualmente, o Brasil produz vinhos varietais (os quais são elaborados com um tipo predominantemente de uva) brancos (das uvas Chardonnay, Riesling, Sauvignon Blanc, etc.) e tintos (das uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, etc.) sendo que muitos deles têm recebido prêmios internacionais supervisionados pela OIV.

A década de 90 marcou a indústria vinícola tanto em termos de avanços na tecnologia adotada, quanto em termos de variação no consumo dos produtos. Este processo ocorreu devido à abertura econômica e, conseqüentemente, ao aumento das tarifas de importação.

De acordo com Mello e Mattuela (1999), a posição relativamente cômoda do setor ficou abalada com a abertura do mercado. A maior ameaça encontrava-se no âmbito do Mercosul, com a concorrência dos vinhos argentinos e chilenos. No entanto, segundo os autores, houve um incremento nas importações provenientes do mercado europeu.

Como resposta à concorrência externa, o setor investiu na qualidade do seu produto, lançou estratégias de mercado e organizou-se. As alterações cambiais, mais tarde, também provocaram fortes impactos na indústria nacional de vinhos. Todavia, as três categorias da produção vinícola – vinhos comuns, finos e espumantes – com público alvo diversificado, passaram por mudanças diferentes.

O setor vitivinícola brasileiro é representado aproximadamente por 80% de vinhos comuns (elaborados a partir de uvas americanas) e 20% de vinhos finos (elaborados a partir de uvas européias). Desta última parcela, aproximadamente dois terços são vinificados em tinto e um terço em branco, dos quais provém o vinho base para a produção de espumantes (Callegaro e Binotto et al, 2002).

A produção de espumantes difere da produção de vinhos tanto em termos de tecnologia adotada, como de insumos utilizados. Os espumantes são fabricados a partir de uvas mais específicas (viníferas). Ou seja, para a fabricação do produto final (espumante), a empresa processadora necessita de um ativo específico, dado que a maioria dos vinhos produzidos é da categoria comum/mesa fabricados a partir das uvas americanas, largamente encontradas junto aos produtores de uvas.

Porém, a diferença entre a produção de vinhos comuns e espumantes é apenas uma afirmação de caráter empírico, dado que não há estudos comprovando tal afirmação.

1 Viticultura significa a cultura/produção da vinha (ou vinhedos, comumentemente chamados de parreiras de uvas). Vinicultura é o nome dado a produção de vinhos, ou seja, ao processo de transformar a uva em vinho.

E, por fim, freqüentemente utiliza-se o termo vitivinicultura, que agrega os dois termos anteriormente definidos.

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A partir desta ótica, pretende-se construir a cadeia produtiva do espumante, identificando seus elos e as principais diferenças em relação à cadeia de produção do vinho.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O foco principal deste estudo é a caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante fabricado na Serra Gaúcha do Rio Grande do Sul, por ser o estado com maior participação na produção nacional da uva e vinho.

2.2 Objetivos Específicos:

a) Verificar as relações entre os elos da cadeia de espumantes;

b) Realizar uma análise comparativa com a cadeia produtiva da uva e do vinho para a Serra Gaúcha (RS);

c) Levantar dados específicos sobre a estrutura do mercado de espumantes (nº empresas, localização, fornecedores, barreiras à entrada, etc);

d) Traçar o cenário da vitivinicultura nacional.

3. METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho pretendeu-se, inicialmente, fazer uma revisão da literatura relacionada ao tema.

Para a caracterização da cadeia produtiva foi necessário buscar informações mais específicas junto às vinícolas, feita através de entrevista aos vitivinicultores e consulta a dados secundários (dados da atividade vitivinícola – comercialização, exportação e importação - realizados junto a organizações do setor, como por exemplo, a UVIBRA (União dos Vitivinicultores do Brasil), IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho), AGAVI (Associação Gaúcha dos Vitivinicultores) entre outras, e também em instituições governamentais, como o IBGE e Embrapa, por exemplo).

Para tratar mais detalhadamente da caracterização da cadeia produtiva, foi utilizado como referencial teórico o conceito de ECT – Economia dos Custos de Transação, desenvolvido por Williamson (1985) e de Cadeia Produtiva.

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Economia dos Custos de Transação - ECT

A Economia dos Custos de Transação é uma vertente da Nova Economia Institucional (NEI), que desenvolveu novos paradigmas para os estudos das organizações.

Ronald Coase contribuiu significativamente para os avanços da NEI, com seu artigo “The

nature of the firm”, de 1937. Coase considerou aspectos de organização ou de

relacionamento com clientes e fornecedores, os quais eram desconsiderados pela Teoria

Neoclássica, abrindo as portas para a compreensão da organização moderna, levando a

construções teóricas fundamentais: a coordenação vertical da firma (conhecida como os

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limites da firma) e a estrutura da organização interna da firma. Williamson (1985), por sua vez, permitiu a compreensão da coordenação vertical das firmas (Zylberstajn, 1999).

Coase (1937) observou que o mercado, sob a ótica de um sistema econômico, não era isento de custos. Os custos de operacionalizar no mercado, e que são indiretos à produção, são conhecidos por Custos de Transação. Tais custos podem ser divididos em duas espécies: custos de coleta de informações e custos de negociação e estabelecimento de contratos. Segundo o autor, custos de transação são aqueles que surgem a medida que os agentes do mercado se relacionam entre si e problemas de coordenação de suas ações aparecem.

4.1.1 Pressupostos Comportamentais da ECT

Os pressupostos comportamentais da ECT são racionalidade limitada e oportunismo. Conforme Williamson (1985) quanto à racionalidade limitada, os contratos serão intrinsicamente incompletos (na medida em que será impossível aos agentes preverem e processarem todas as variáveis que estão relacionadas ao contrato). O conceito de racionalidade limitada assume que os indivíduos agem racionalmente, mas de modo limitado.

A racionalidade se distingue em três níveis:

i) Maximização – racionalidade forte;

ii) Racionalidade limitada – racionalidade semiforte;

iii) Racionalidade orgânica – racionalidade fraca.

Williamson (1985) destaca também, três níveis de oportunismo (comportamento auto-interessado), definido como um comportamento que visa atingir o interesse do agente com astúcia.

i) Oportunismo ou auto-interesse forte;

ii) Auto-interesse simples ou sem oportunismo;

iii) Obediência ou ausência de auto-interesse.

Como ressalta Farina et all (1997), a importância do pressuposto comportamental de oportunismo está na possibilidade do surgimento de problemas de adaptação decorrentes de contratos incompletos.

4.1.2 Características das transações

De posse dos pressupostos que as transações assumem, convém ressaltas suas características básicas: especificidade dos ativos, freqüência e incerteza.

Farina et all (1997) definem ativos específicos como aqueles que não poderão ser empregáveis novamente, a menos que ocorra com perda de valor. Esta característica das transações é definida por perda de valor dos ativos envolvidos em determinada transação, no caso desta não se concretizar, ou no caso do rompimento contratual.

Para Williamson (1985), os ativos podem apresentar diferentes categorias de especificidades: temporal, locacional, de capital humano e de ativos dedicados.

Quanto maior for a especificidade do ativo, maiores serão os riscos e os problemas de adaptação e, portanto, maiores os custos de transação.

A segunda característica, a freqüência, refere-se ao número de vezes que uma

transação ocorre entre os agentes. Transações podem ocorrer uma única vez ou podem

repetir-se dentro de uma periodicidade conhecida. A repetitividade de uma transação pode

rebaixar os custos de preparação e monitoramento de contratos, ou seja, diminuir os custos

de transação (Zylberstajn, 1999).

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E, por fim, a incerteza foi a característica menos desenvolvida pela ECT, sendo associada a efeitos não previsíveis. A incerteza pode levar ao rompimento contratual não oportunista e está relacionada, também, ao surgimento de custos de transação irremediáveis, motivados pela racionalidade limitada dos agentes (Zylberstajn, 1999).

Como argumenta o autor acima, o foco da ECT é verificar de que forma o custo de uma transação leva as organizações a adotarem diferentes formas de organizar a produção em um determinado ambiente institucional. Em outras palavras, a ECT se propõe a estudar de que maneira as características envolvidas na transação criam estruturas de governança visando reduzir riscos associados às relações de troca, minimizando, assim, os custos de transação e garantindo uma maior eficiência competitiva da empresa.

As características das transações juntamente com seus pressupostos (racionalidade dos indivíduos e ao comportamento oportunista dos agentes) afetam os tipos de estrutura de governança serem adotados. Por exemplo, se a especificidade de um ativo for alta e a incerteza do mercado também, é provável que a firma preferirá integrar-se verticalmente;

neste mesmo exemplo, se a incerteza for média ou baixa, as transações entre os agentes podem ser via parceria formal (contratos) ou informal.

4.2 Cadeia Produtiva e Integração Vertical

Uma cadeia de produção pode ser visualizada como um sistema de fases sucessivas e assim representar o fluxo produtivo e distributivo de um determinado produto (Zylberstajn, 1999). Ou seja, é um nexo de fases da produção interligadas.

As relações que existem entre os agentes da cadeia, segundo o autor, são de interdependência e determinadas por forças hierárquicas. As relações entre os elos que formam o sistema compreendem desde a origem da produção primária até o término – consumo final.

A hipótese deste estudo é que, dado que a uva para fabricação de espumantes pode ser considerada um ativo específico (frente aos insumos utilizados na elaboração de vinhos comuns) e as vinícolas procuram garantir seus insumos com qualidade, a relação entre a firma e os produtores deve ser via parceria (seja ela formal ou informal) ou, talvez ocorra integração vertical nas vinícolas.

5. REVISÃO DE LITERATURA

5.1 Aspectos da vitivinicultura no país

Segundo Mello (2003), a viticultura é uma atividade econômica recente no país, quando comparada aos tradicionais países produtores da Europa, sendo um pouco menos da metade da produção de uvas destinada ao processamento. A autora ressalta que o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas destinadas ao processamento, representando em torno de 95% do total de uvas processadas no país. Em 2002, o RS foi responsável por 56,08% (36.668 ha) da área total produzida do país (65.381 ha), como mostra a Tabela 1.

O estado de São Paulo é o segundo maior produtor de uvas do país, sendo que a produção é

destinada basicamente ao consumo in natura.

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Tabela 1. Área plantada de videiras no Brasil - 2001/2002.

Estado/Ano 2001 2002

Pernambuco 3.702 3.365

Bahia 2.768 2.732

Minas Gerais 840 950

São Paulo 11.128 12.152

Paraná 6.168 6.000

Santa Catarina 3.487 3.514

Rio Grande do Sul 34.682 36.668

Outros 513 -

Fonte: Mello (2003)

Segundo a União dos Vitivinicultores do Brasil (UVIBRA), a Espanha é o país que possui a maior área cultivada com videiras, enquanto que o Brasil é o 25º no ranking mundial, com 61,2 mil hectares cultivados. Em termos de produção, o país é o 17º maior produtor de vinhos (0,23 bilhões de litros/ano) e o 29º consumidor da bebida (1,85 litros per capita/ano).

Se comparado com outros países, o consumo de vinhos é baixo em relação ao apresentado pelos países do Mercosul e, menor ainda, se comparador com países tradicionais produtores de vinho (Europa). Por ser um país vitícola não tradicional, a questão é que no Brasil não há uma tradição em consumir vinhos, sejam eles de mesa ou finos. Por outro lado, se é de fato observável o baixo consumo, um fator relevante na demanda pelo produto é o preço, que é relativamente caro por conseqüência da alta taxação de impostos. Devido aos elevados impostos pagos pelo produto nacional, os vinhos importados apresentam preços inferiores ou potencialmente competitivos frente ao produto nacional.

A Figura 1 mostra que os vinhos comuns possuem a maior participação no mercado, seguidos dos vinhos finos, o que remonta a composição do setor nacional: 80%

de vinhos comuns e 20% de vinhos finos, incluindo espumantes. Todavia, os vinhos finos – separados dos espumantes - vêm demonstrando uma tendência de consumo decrescente no período analisado. Este fato pode estar relacionado com as mudanças ocorridas no ambiente institucional na década de 90. Percebe-se claramente, a persistente queda do consumo deste produto a partir da desvalorização da moeda nacional.

Por outro lado, os espumantes, que não demonstravam tendência definida até

1995, apontam para um novo patamar, mais elevado, principalmente a partir de 1999. Ao

longo do período analisado, verifica-se que a comercialização de espumantes no Brasil

praticamente dobrou, atingindo um ápice no ano de 1999. nota-se que à medida que os

vinhos finos reduzem seu espaço no mercado, os espumantes iniciam uma fase de

expansão.

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Figura 1 - Comercialização de vinhos no mercado interno - 1990/2002

0 50000000 100000000 150000000 200000000 250000000

90 92 94 96 98

2000 2002

Ano

Kg

espumantes comuns finos

Fonte dos dados brutos: Embrapa Uva e Vinho

A categoria vinhos comuns (ou de mesa), segundo Mello (2003) não sofreu a concorrência do importado, pois é demandado por consumidores de uma faixa de renda mais baixa e são produtos mais competitivos em termos de preços. Além do fator preço, a autora ressalta que a composição deste tipo de vinho faz com que apresentem sabor característico deste tipo de cultivares (uvas americanas e híbridas), diferentes daquelas produzidas nos países tradicionalmente vitícolas. Já os vinhos finos, elaborados a partir de cultivares Vitis Vinifera, foram fortemente atingidos pelas importações de vinhos (atualmente, o mercado brasileiro destes vinhos contempla 50% dos importados).

No Brasil, o vinho fino é considerado uma bebida elitizada, visto que os níveis mais altos de consumo remetem a camadas da população com renda e grau de instrução mais elevado (Mello, 2003). Já o consumo dos vinhos espumantes, está associado principalmente, às ocasiões de festas especiais (como as de fim de ano, por exemplo). Isto revela que o consumo desta categoria de vinho é sazonal e, segundo a autora, mais baixo do que as demais.

Pode-se perceber, pela Figura 2, que o setor de espumantes ganhou mercado nos últimos anos. O ano de 1999, além de ser marcado por mudanças no ambiente institucional, foi um ano de safra extraordinária, que proporcionou vinhos de excelente qualidade.

Figura 2 - Comercialização de Espumantes no Brasil - 1990/2002

0 1000000 2000000 3000000 4000000 5000000 6000000

90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

2000 2001 2002 Ano

Kg

Fonte dos dados brutos: Embrapa Uva e Vinho

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Tal fato também é observado no comportamento das exportações do vinho espumante, quando em 1999, aumenta substancialmente, retomando seu nível médio posteriormente (figura 3).

Figura 3 - Exportações de espumantes - 1990/2002

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002 Ano

Kg

Fonte dos dados brutos: Embrapa Uva e Vinho

Quanto às importações de espumantes, existe uma tendência crescente no período analisado, comprovando que o mercado está se expandindo. Porém, para Mello (2003), o consumo deste tipo de vinho vem crescendo acentuadamente nos últimos anos, e comparativamente aos demais tipos de vinhos têm melhores perspectivas de mercado.

Figura 4 - Importações de Espumantes - 1990/2002

0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002 Ano

Kg

Fonte dos dados brutos: Embrapa Uva e Vinho

5.2 O Vinho Espumante

O espumante foi inventado na região francesa de Champagne, e por isso, leva o

nome de champanha pelo mundo afora. Todavia, os órgãos internacionais que regulam o

comércio de vinho garantem à região francesa o monopólio sobre o seu nome próprio

(Viotti, 2003). Então, fora da região francesa este tipo de vinho deve se chamar assim

mesmo: espumante. O vinho espumante é feito a partir de vinhos base branco

(provenientes de uvas brancas, tintas ou rosadas).

(10)

Há vários tipos de espumantes que são fabricas no Brasil: entre os brancos há os brut (secos), meio-doces ou demi-sec (bem doces) e os moscatéis espumantes. A produção nacional de espumantes vem de uvas brancas, rosadas e, também, de algumas tintas, sendo todas viníferas (origem européia). Entre estas pode-se destacar a Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinotage, Pinot Noir e Tannat. Já as variedades Chardonnay, Flora, Malvasia, Moscato, Pinot Blanc, Prosecco, Riesling (Itálico e Renano), Sémillon, Sylvaner e Trebbiano são brancas e rosadas que possuem forte participação na elaboração de espumantes.

Para a elaboração dos espumantes, as vinícolas dispõem de três métodos:

a) Champenoise – tradicional, que proporciona champagnes e espumantes mais finos;

b) Charmat - que proporciona espumantes de menor qualidade;

c) Asti - mais simples e rápido.

Para elaborar um espumante, é necessário, primeiramente, fazer o vinho branco (chamado de vinho base). Ao vinho base, adiciona-se um licor de tiragem composto de açucares e leveduras, que iniciarão a nova fermentação (Viotti, 2003). Esta segunda fermentação pode ocorrer de duas maneiras: pelo método tradicional ou pelo método Charmat.

Método Champenoise

No sistema tradicional, a mistura de vinhos base e licor é fermentada dentro da própria garrafa e tem duração de cerca de 3 meses. Estas garrafas ficam em estantes inclinadas, em que as garrafas se encaixam em furos (pupitres). As rotações são periódicas, manuais ou por meio de máquinas – as gyropalettes – e ao fim do processo (conhecido como remuage) quando a fermentação termina, as garrafas estão de cabeça para baixo (Viotti, 2003). O passo seguinte é o degórgement: congelamento do gargalo em solução refrigerante, para a retirada das borras acumuladas na fermentação anterior. Adiciona-se, então, novamente um licor de expedição, composto por açúcar, álcool, ácidos e outros ingredientes que o responsável ache necessário para atingir o paladar desejado. A seguir, as garrafas são fechadas com rolhas de cortiça apropriada e gaiola de arame, da forma que chegará ao consumidor, passando primeiramente, para o armazenamento (mínimo de 1 ano; se o espumante for do tipo “brut” ou “milésimé” o armazenamento dura até 7 anos).

Este método, segundo Viotti (2003) é muito praticado no sul do país.

Método Charmat

A grande parte dos espumantes não é feita pelo método tradicional e sim pelo método Charmat, que se difere do tradicional principalmente porque a segunda fermentação é em grandes cubas, e não individualmente.

É um método mais simples e que requer menos tempo. Prevê a adição do licor e leveduras ao vinho base, que passa a fermentar em tanques de aço inox ou de outro material (com duração de 20 a 60 dias). Após esta etapa, o líquido passa pela decantação e filtração; uma nova adição de licor de expedição será feita se houver pouca quantidade de açúcar no licor de tiragem (aquele que foi acrescido ao vinho base). Mais tarde e sob baixas temperaturas, o espumante é engarrafado e a rolha de cortiça juntamente com a gaiola de arame dão os últimos ajustes. O armazenamento requer no mínimo 1 mês.

Moscatel tipo Asti

Segundo Viotti (2003), o nome Asti também foi considerado próprio e de uso

reservado à região de origem, norte da Itália. No Brasil, o nome deste tipo de espumante

caracteriza-se por ser mais doce e refrescante, porém conhecido como Moscatel

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Espumante. Ele é obtido pela vinificação da peculiar Moscatel (uva aromática) e através de um método conhecido como “Asti”. Neste método de obtenção de espumantes, tanto a obtenção do álcool quanto da espuma é feita em apenas uma fermentação. É mais simples, mais rápido e barato que o Charmat, porém a restrição está na matéria-prima, pois geralmente, este tipo de espumante é composto totalmente por variedades da uva moscatel (Moscato Giallo e Moscato Bianca).

5.2.1 Cadeia Produtiva do Espumante

Para a caracterização da cadeia produtiva do vinho espumante procurou-se, inicialmente, fazer um levantamento do número de empresas do setor. De acordo com o IBRAVIN, existem cerca de 600 empresas que fabricam vinhos no RS. Dentre este total de vinícolas, apenas 36 produzem vinho espumante (6% das vinícolas) sendo que, segundo informações da UVIBRA, todas estas vinícolas estão localizadas na Serra Gaúcha.

Para a presente pesquisa, foram analisadas 22 vinícolas (cerca de 61,11% do total de vinícolas que produzem o vinho espumante). Buscou-se uma boa representatividade junto às vinícolas, porém sem a preocupação de se dimensionar um tamanho de amostra com o rigor estatístico.

Primeiramente, pode-se perceber a preocupação das empresas quanto à qualidade da uva processada, pois grande parte das videiras encontra-se em espaldeira simples

2

. Dentre a amostra obtida, pode-se observar que 45,45% possuem vinhedos próprios, ou seja, a uva processada, pelo menos no que tange a produção de espumantes, é produzida pela própria empresa

3

. Para as vinícolas, além de garantir a qualidade do insumo, a produção final não fica ameaçada. Muitas videiras são familiares, de patrimônio histórico- cultural para as empresas, sendo que muitas vezes tornam-se também, um atrativo turístico.

Por outro lado, 54,55% das vinícolas da amostra produzem uma parte da uva utilizada na produção e, a outra parte, adquirem junto a fornecedores próprios. Geralmente, a proporção é de que 40% da uva é cultivada nos próprios parreirais e o restante de terceiros (60% do total de insumos destinados a fabricação de espumantes). A relação destas vinícolas com os fornecedores não segue uma regra: em alguns casos, há existência de contratos e, em outros, apenas uma parceria informal.

Um fator estimulante para a produção de uvas viníferas é de que o preço pago é substancialmente superior ao preço mínimo – o adicional varia entre as próprias vinícolas:

algumas pagam 50% acima do preço mínimo, enquanto outras, chegam a pagar até 150% a mais, dependendo da qualidade da matéria-prima. Se a uva, além de ser vinífera, apresentar teor de açúcar mais elevado, o produtor ganha um adicional sobre o preço. Ou seja, é a qualidade da uva que define o preço final. Muitas das vinícolas prestam assistência para os produtores, porém, para os vinhedos próprios, a atenção é maior.

Muitas empresas ressaltaram que recentemente voltaram a negociar com os fornecedores, em busca de insumos, devido à retomada em força da produção, anteriormente alterada devido aos problemas que o setor sofreu (abertura comercial, desvalorização cambial, etc.).

2 Este sistema parece com uma cerca de arame com três fios em que a videira se enrosca. A outra opção era o sistema em latada, os tradicionais caramanchões fechados, abandonados em todo o mundo para vinhos de qualidade superior. Quando a videira está sob a forma de espaldeira, o fruto fica exposto ao sol por mais tempo, garantindo qualidade superior em relação àquela obtida na forma de latada. Esta última, geralmente proporciona quantidades maiores, porém qualidade inferior.

3 Este processo de internalização de atividades é comumentemente conhecido como integração vertical.

(12)

Em relação ao transporte da uva da propriedade rural até a agroindústria, este fica sempre por conta dos próprios fornecedores, os quais devem arcar com as despesas.

Quando a vinícola é uma cooperativa, toda a uva processada para fabricação de espumantes é obtida entre os associados, que também são responsáveis pelo transporte e custos relacionados. O preço também varia de acordo com o grau de açúcar que o insumo apresentar: quanto mais elevado for o grau de açúcar da uva, maior será o preço pago.

Então, de posse da uva, a vinícola processa o insumo até obter o produto final.

Outro fator importante para esta caracterização é de todas as vinícolas produzem, a partir dos insumos, o vinho base que posteriormente se transformará em espumante, ou seja, não existe a possibilidade de adquirir de outras empresas o vinho base. Desta forma, as empresas garantem a origem e qualidade do produto final.

A distribuição geralmente é feita através de representantes da firma ou junto ao varejo (redes ou supermercados, lojas especializadas no produto, etc.). Deve-se ressaltar que não há venda a granel deste produto; o espumante sai da firma engarrafado e pronto para o consumo final.

O esquema abaixo sintetiza as informações acima relatadas:

Setor de Apoio

Distribuição Processamento

Insumos Videiras

próprias

Fornecedores

Consumidor final

Figura 5 – Esquema representativo da cadeia produtiva do espumante.

Todo o setor de apoio à produção, tanto do cultivo da uva quanto da fabricação do produto final, também é internalizado pelas vinícolas (acompanhamento de enólogos).

Estes profissionais são responsáveis pelas condições de cultivo e tratamento das uvas, bem como pelo processamento dos insumos e o andamento da produção. Ressalta-se também, a participação de pesquisas públicas e privadas realizadas por órgãos relacionados ao setor (Embrapa Uva e Vinho, IBGE, UVIBRA, IBRAVIN, etc) que beneficiam o andamento do setor.

Com mencionado anteriormente, quando as empresas adquirem insumos de fornecedores, existe um apoio técnico por parte da agroindústria para os produtores rurais.

Então, com base na teoria que fundamentou este estudo, percebe-se que com a internalização de fases da produção (ou parte de uma fase), as agroindústrias diminuem seus custos de transação. Há também a influência das características dos ativos – neste caso, as uvas vitis viníferas – que são produzidas totalmente ou parcialmente pela empresa, devido a sua especificidade. Em conformidade com a teoria, verificou-se que a produção de espumantes é totalmente verticalizada ou possui parceria informal em uma fase da produção: aquisição de insumos – uva.

5.3 Cadeia Produtiva da uva e do vinho para o Rio Grande do Sul

A caracterização da cadeia produtiva da uva e vinho para o RS foi realizada através

de entrevistas diretas com representantes de cada elo da mesma. Os agentes foram

separados em quatro elos: setor de apoio, produção, processamento e distribuição.

(13)

De acordo com Mello e Mattuela (1999), o setor de apoio, que diz respeito à assistência técnica e extensão rural, serviços das secretarias municipais de agricultura e sindicatos rurais, garante que há mercado para toda a uva produzida na região. Existem alguns problemas no que tange a comercialização:

a) prazos de pagamento da uva por parte da agroindústria: não existe uma prática comum em relação aos prazos para a liquidação da compra do insumo;

b) o preço pago pela uva: geralmente, o preço pago pelo insumo não cobre o custo de produção;

c) o custo de transporte da produção: este serviço geralmente é terceirizado e se refere ao transporte da propriedade rural até a agroindústria;

d) preço mínimo de suporte para a uva estabelecido pelo governo: é considerado um entrave à comercialização

4

, pois muitas vezes inibe a negociação direta entre as partes interessadas e o preço vigente acaba por ser aquele estabelecido no mercado. Isto ocorre principalmente pelo fato de a agroindústria ter poder de barganha frente aos produtores rurais.

Segundo os autores, outro fator que dificulta um aprimoramento do setor é o ceticismo dos produtores quanto às recomendações dos técnicos na adoção de novas tecnologias. Uma proposta levantada pelos entrevistados é a de que o êxito da inserção da atividade vinícola no mercado é a qualificação do produtor na área de gestão.

A visão do setor de apoio é, em grande parte, compartilhada pelos produtores. Estes sugerem que a pesquisa e a extensão não atendem seus anseios. Afirmam que a assistência técnica é insuficiente e que as pesquisas desenvolvidas não atendem suas necessidades, no que tange a resolução de problemas do cotidiano da produção agrícola. Os produtores de uva estão satisfeitos com a performance da atividade vitícola, tanto em termos da qualidade da uva quanto em relação à produtividade dos parreirais; por outro lado, alegam que os fatores desfavoráveis em relação à atividade são o preço e a forma de pagamento da uva feitos pela agroindústria, pois na maioria das vezes, o preço pago é o mínimo estabelecido pelo governo

5

(Mello e Mattuela, 1999).

Outro fator importante ressaltado pelos autores é o fato de que os produtores não possuem uma visão dr conjunto da cadeia produtiva. Esta afirmação foi baseada no fato de os produtores acreditam que a abertura de mercado não interfere no preço recebido pela uva, mas afeta apenas o preço do vinho nacional.

Quanto ao setor de processamento (a agroindústria), os autores concluíram que a maioria das empresas vinícolas não presta assistência técnica ao produtor. Pelo fato de a maioria das empresas ser de pequeno porte, alegam não terem condições de arcar com tal custo (apenas algumas cooperativas e empresas maiores oferecem tal serviço). Outro entrave destacado por tal elo da cadeia produtiva é a resistência dos produtores em aceitarem mudanças: geralmente, o produtor busca a maximização do volume de produção e não da qualidade da uva. Segundo os empresários, os produtores poderiam auferir lucros maiores se produzissem uvas com alto grau de açúcar. Conclui-se assim, que existem problemas na coordenação e nos incentivos entre os agentes da cadeia produtiva.

Todavia, é consenso entre os fabricantes, que a qualidade do vinho precisa melhorar para poder enfrentar a concorrência dos importados (a abertura comercial foi benéfica, neste sentido).

Em relação à política de preços, a agroindústria afirma não haver definição quanto ao preço pago pela uva, mas geralmente esperam que o governo estabeleça o preço mínimo

4 É considerado um entrave, pois na maioria das vezes, as empresas aguardam o preço a ser divulgado pelo governo para depois negociarem com os produtores rurais, fornecedores de uvas.

5 O preço mínimo estabelecido pelo governo para a uva da safra 2004 é de R$0,39/Kg (IBRAVIN).

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para então definirem suas estratégias quanto à aquisição da matéria-prima (Mello e Mattuela, 1999). Entretanto, algumas empresas consideram a possibilidade de estabelecerem um “preço-base” antes da safra e negociarem com os produtores um adicional por ocasião da entrega da uva (volume de estoques, qualidade do insumo, produção total da safra, entre outros).

Quanto às questões de comercialização, os autores verificaram que existem diferentes canais: parte do vinho comum é comercializada a granel para envasadores e uma porção menor é destinada às redes de supermercado ou junto à pequenos varejistas. Por outro lado, o vinho de consumo corrente usualmente envasado em garrafões, mostrou uma tendência em abandonar tal tipo de embalagem. As empresas vêm utilizando as embalagens “tetra pak” e “pet”, entre outros vasilhames usuais. Porém, o vinho fino continua sendo envasado em garrafas.

Mello e Mattuela (1999) perceberam que a legislação referente à atividade não está sendo aplicada. Os produtores ressaltaram que as maiores falhas apontam para a falta de uma definição clara dos produtores que realmente são derivados do vinho.

As informações obtidas pelos autores junto ao setor de distribuição revelaram que os fornecedores de vinho das grandes redes de supermercados são escolhidos de forma criteriosa. Na maioria das vezes, o tamanho do fornecedor não tem importância, desde que tenha capacidade de manter um fluxo contínuo de oferta do produto desejado. Os supermercados trabalham com estoques próximos de zero, por isto os pedidos são feitos com freqüência e em pequenas quantidades. O maior problema identificado neste elo da cadeia está vinculado ao transporte: geralmente os fabricantes cumprem os prazos de entrega junto aos transportadores, porém estes detêm os volumes até completar a carga para um certo destino, o que muitas vezes atrasa as entregas. Quanto aos preços de compra, estes são negociados com cada fornecedor seguindo as condições do mercado. Os distribuidores vêem o departamento de produtos vitícolas como sendo de venda sazonal.

O esquema abaixo mostra as relações entre os elos da cadeia da uva e do vinho (RS):

Produtor de uva

Setor de Apoio

Transporte (terceirizado)

Agroindústria

Consumidor final Distribuição

Figura 6 – Esquema representativo da cadeia produtiva da uva e do vinho (RS) 5.4 Análise comparativa

Percebe-se que existem muitas diferenças entre a cadeia produtiva do espumante e

do vinho. Primeiramente, no que tange ao setor de apoio, as vinícolas produtoras de

espumantes possuem profissionais responsáveis pela produção da matéria-prima, os quais,

também acompanham as etapas produtivas do espumante. Na cadeia do vinho percebe-se

que os fornecedores necessitam de assistência técnica e apoio, seja particular ou pública. A

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aquisição da matéria-prima também difere substancialmente, pois na produção de espumantes existe a integração vertical da firma e/ou existência de parceria formal/informal; para a produção dos demais vinhos, os insumos são obtidos junto aos produtores rurais, sem existência de contratos de compra e venda. Adiciona-se também, a questão da especificidade do insumo para a produção de espumantes frente ao insumo utilizado para elaboração de vinhos comuns.

Acredita-se que o entrave existente entre produtores e processadores (quantidade versus qualidade) poderia ser resolvido se as instalações se modificassem: com as videiras na forma de espaldeira simples, a uva produzida possui teor de açúcar mais elevado em relação àquela obtida na forma de latada. Entende-se que os produtores, com o objetivo de maximizar o volume de produção, tendem a manter as videiras em latada, já que, para tal elo, quantidade supera qualidade. Os produtores parecem não perceber que com qualidade superior do insumo poderiam auferir preços mais elevados.

Outro fator relevante diz respeito à distribuição: no mercado de espumantes, a distribuição é feita através de representantes ou junto a redes de supermercados e varejistas; na produção de vinho comum, grande quantidade é comercializada a granel. A comercialização de vinhos finos é, da mesma forma que de espumantes, vendida engarrafada na sua totalidade.

6. CONCLUSÃO

A atividade vinícola, considerada recente no país, vem se expandindo gradualmente. Como pode-se perceber, tal atividade que antigamente estava restrita aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, hoje atinge estados em que jamais pensou-se vingar tal ocupação: é o caso do Vale de São Francisco e, em parte, Minas Gerais. Todavia, constatou-se que a uva cultivada em cada estado tem destino diversificado: alguns estados produzem uva apenas para consumo in natura, outros destinam a produção totalmente para processamento.

Com base nos dados apresentados neste trabalho, verificou-se que o segmento de espumantes dentro do setor vinícola difere em termos dos demais segmentos e, também, vem mostrando boas perspectivas de mercado. No Brasil, as vinícolas que elaboram tal produto localizam-se no sul do país e representam 6% do total das empresas da atividade vinícola. Ou seja, das 600 vinícolas que produzem vinhos no país, apenas 36 elaboram espumantes.

A elaboração de espumantes difere da elaboração de outro tipo de vinho, pois caracteriza-se por uma segunda vinificação, a qual pode ocorrer dentro da própria garrafa (método tradicional) ou em cubas gigantes (método charmat). A matéria-prima também difere: é produzido a partir de uvas de origem européia. Por ser um tipo não comum de uva, muitas vinícolas optaram em construir seus próprios parreiras – na forma de espaldeira simples, garantindo um insumo com as melhores características. Algumas vinícolas, além de cultivarem parte da produção, adquirem boa parte das uvas junto aos fornecedores. Constatou-se que as agroindústrias não adquirem vinho-base de terceiros, apenas uvas, garantindo assim a qualidade do produto final. A distribuição do produto final geralmente é feita através de representantes comerciais da firma ou junto a redes de supermercado ou varejistas.

As principais diferenças entre a cadeia produtiva do espumante e do vinho comum

estão na aquisição da matéria-prima, assistência técnica e distribuição do produto. Na

produção de vinhos comuns, a aquisição das uvas é totalmente junto aos produtores rurais,

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enquanto que para os espumantes, parte (ou totalidade) é produzida pela agroindústria e parte é adquirida entre os fornecedores, através de contratos ou parceria informal.

Na produção de espumantes, as vinícolas têm seus próprios vinhedos e possuem técnicos que acompanham a uva desde sua maturação até o processamento; quando adquirem de terceiros, os técnicos também acompanham a produção, mas com menos freqüência. Por outro lado, os produtores rurais que fornecem uva para as empresas processadoras, apresentaram queixas sobre a falta de apoio e assistência técnica na produção. No que tange à distribuição, boa parte do vinho comum é vendido a granel e, outra parte é envasado e comercializado pela vinícola. Fato este que não ocorre no vinho espumante, pois toda a produção é engarrafada na própria vinícola e depois repassada a representantes ou redes de supermercado.

Ancorada pela teoria dos custos de transação, percebeu-se que a especificidade do ativo levou as vinícolas a internalizarem a produção, ou adquirirem parte desta através de contratos ou de parceira informal. Assim, a integração vertical mostrou-se a forma mais eficiente de realizar a produção, assegurando a qualidade necessária e permitindo minimizar os custos e conflitos distributivos.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COASE, Ronald. The Nature of the Firm. 1937

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