Apelação Cível n. 2009.038364-0, de Dionísio Cerqueira Relator: Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior
APELAÇÃO CÍVEL. REGISTRO TARDIO DE NASCIMENTO E ÓBITO. IMPROCEDÊNCIA NA ORIGEM. IRRESIGNAÇÃO DA PARTE AUTORA. NECESSIDADE DE INDÍCIO DE PROVA
QUANTO AO LOCAL E DATA NASCIMENTO DO
REGISTRANDO. EXEGESE DO ARTIGO 54, DA LEI N.
6.015/73. CONJUNTO PROBATÓRIO ABSOLUTAMENTE INCONCLUSIVO. ÔNUS DE PROVAR, NÃO ATENDIDO.
INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 333, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA SOB FUNDAMENTO DIVERSO. RECURSO DESPROVIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2009.038364-0, da comarca de Dionísio Cerqueira (Vara Única), em que é apelante Julieta Kist:
A Câmara Especial Regional de Chapecó decidiu, à unanimidade, conhecer do recurso interposto, e no mérito, negar-lhe provimento, porém, por fundamento diverso, por não estarem comprovados os requisitos do art. 54 da LRP, julga-se extinto o feito, sem resolução do mérito e sem prejuízo de sua renovação a tempo e modo. Custas legais.
Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des.
José Volpato de Souza, presidente com voto, e a Desa. Denise de Souza Luiz Francoski, como revisora.
Chapecó, 12 de novembro de 2012.
Eduardo Mattos Gallo Júnior RELATOR
RELATÓRIO
JULIETA KIST ajuizou "Registro Tardio de Nascimento e Óbito", na vara única da comarca de Dionísio Cerqueria, em razão do falecimento de Janoário Fernandes (inicial de fls. 02-04), juntando os documentos de fls. 05-12.
Após a regular tramitação processual, sobreveio a sentença de fls.
53-55, tendo sido apresentada apelação pela requerente a fls. 58-62.
Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justiça, o Exmo. Sr.
Dr. Mário Gemin (fls. 71-72).
Os autos ascenderam a esta Corte e, após a resolução do conflito negativo de competência (fls. 100-106), vieram-me conclusos.
Este é o relatório.
VOTO
Conheço do recurso, uma vez presentes os pressupostos legais de sua admissibilidade.
Trata-se de recurso interposto em face da sentença que julgou improcedente a presente ação de registro tardio de nascimento e óbito, aos fundamentos de que não restou suficientemente demonstrada a data de nascimento e a filiação de Janoário Fernandes, falecido esposo da autora, resolvendo a questão de mérito, na forma do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil.
A autora pugna pela reforma da sentença para julgar totalmente procedente a demanda proposta, asseverando, para tanto, a necessidade do registro de nascimento e óbito em questão, em razão da sua indispensabilidade para o encaminhamento do benefício previdenciário de pensão por morte.
Estes os fatos.
Ab initio, faz-se mister esclarecer que o pleito de assentamento tardio formulado pela parte autora, encontra guarida na Lei dos Registros Públicos, notadamente em seus artigos 50 e 52, os quais prevêem:
Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório.
[...] Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento: (Renumerado do art. 53, pela Lei nº 6.216, de 1975).
[...] § 2º Tratando-se de registro fora do prazo legal o oficial, em caso de dúvida, poderá requerer ao Juiz as providências que forem cabíveis para esclarecimento do fato.
No caso dos autos, parte autora instruiu sua pretensão com fotocópia de Auto de Levantamento de Local de Crime (fls. 09); Laudo Cadavérico (fls. 10) e;
Termo de Declaração (fls. 11), dos quais depreende-se que o falecido esposo da autora – Janoário Fernandes, residia na cidade de São José do Cedro/SC e foi assassinado em 19.09.1984, na cidade de Barracão/PR.
Gabinete Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior
Durante a instrução processual, foram arroladas e inquiridas duas testemunhas, as quais, nada souberam informar a respeito da data de nascimento do
"de cujus", tampouco quaisquer outros elementos que conduzissem a tal elucidação, limitando a informar que conheciam o Sr. Janoário.
De mais a mais, verifica-se que sequer as certidões de nascimento das supostas filhas do casal acostadas aos autos, indicam o nome do pai, impossibilitando qualquer tentativa de esclarecimento quanto a sua origem.
Assim, como bem pontuado pelo magistrado singular, aliado ao parecer da lavra do Douto Procurador de Justiça, os documentos acostados não demonstram de forma clara a data de nascimento de Janoário Fernandes, nem mesmo de que já não tenha sido registrado anteriormente, pois as certidões negativas juntadas a fls.
41-46 somente fazem prova de que seu registro civil não se encontra nos respectivos cartórios de registro civil de São José do Cedro/SC, Dionísio Cerqueira/SC e Barracão/PR, não podendo se afirmar, sequer, onde Janoário nasceu.
Desta feita, impossível o acolhimento da irresignação apresentada pela autora neste grau de jurisdição, mormente porque é cediço que o assento de nascimento, a teor do parágrafo 1º, artigo 54, da Lei n. 6.015/73, deverá conter, indispensavelmente, ao menos, o dia, mês, ano e lugar de nascimento e a hora certa, sendo possível determiná-la, ou aproximada.
Neste sentido:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - PLEITO DE MODIFICAÇÃO DE DATA DE NASCIMENTO - CONJUNTO PROBATÓRIO DESARMÔNICO - CONFLITO ENTRE TESTEMUNHOS COLHIDOS - REGISTRO TARDIO DE NASCIMENTO ANTERIOR, EFETUADO PELA PRÓPRIA APELANTE, QUE APRESENTA DATA DIVERSA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS FATOS ALEGADOS NA INICIAL - APLICAÇÃO DO ART. 333, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. Nas ações de retificação de registro civil, todo o ônus probatório recai sobre a parte autora que, quando dele não se desincumbe a contento, não pode ter seu pleito acolhido.
(Apelação Cível n. 2007.007819-0, de Abelardo Luz, rel. Des. Sérgio Izidoro Heil) Forte nestes argumentos, diante das inconclusões acerca da data, ao menos aproximada, do nascimento do "de cujus", conclui-se que a autora, ao seu turno, não cumpriu o dever probatório que lhe cabia, a teor do que dispõe o artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil, não havendo como se acolher o apelo interposto, a fim de efetuar o registro de nascimento e óbito tardio de Janoário Fernandes.
A respeito, é o entendimento desta Corte:
[...] para o deferimento do registro tardio de nascimento, não cabe ao magistrado simplesmente presumir verdadeiras as alegações da parte autora e acolher, sem maiores questionamentos, seu pedido (Apelação Cível n.
2008.028811-0, de Chapecó, rel. Des. Luiz Carlos Freyesleben) Ainda:
Nas ações de retificação de registro civil, todo o ônus probatório recai sobre a parte autora que, quando dele não se desincumbe a contento, não pode ter seu pleito acolhido. (Apelação Cível n. 2007.007819-0, de Abelardo Luz, rel. Sérgio Izidoro Heil).
Gabinete Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior
Sob tais circunstâncias, vota-se no sentido de conhecer do recurso interposto, e no mérito, negar-lhe provimento, mantendo a sentença de primeiro grau, porém, sob fundamento diverso, uma vez não estarem comprovados os requisitos do art. 54 da LRP, julgando-se extinto o feito, com fulcro no art. 267, inc. IV, do Código de Processo Civil, sem resolução do mérito e sem prejuízo de sua renovação a tempo e modo.
Este é o voto que se encaminha à apreciação do julgamento deste Órgão Colegiado.
Gabinete Des. Eduardo Mattos Gallo Júnior
