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Diretor Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL

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São Paulo, 24 de Outubro de 2003

Ao Exmo Sr.

Dr. José Mário de Miranda Abdo

Diretor Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL

Assunto: AUDIÊNCIA PÚBLICA 029/03

A PRO TESTE – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 04.591.034/0001-59, com sede na Av. das Américas, 500 – bloco 18, conj. 202 a 204, Rio de Janeiro – RJ e com escritório em São Paulo, na Rua Dr. Bacelar 173, 5º and. – conj. 52,

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vem a Vossa Excelência apresentar CONTRIBUIÇÃO para a Audiência Pública 029/2003 , posto à Consulta Pública, com fundamento nos arts. 4° e 5°, do Código de Defesa do Consumidor, bem como no art. 2°, do Decreto 2.181/97, bem como nas razões abaixo expendidas.

A PRO TESTE foi fundada em 16 de julho de 2001, por iniciativa do IPEG – Instituto Pedra Grande de Preservação Ambiental, de Atibaia (SP), constituído há 20 anos, e da Test Achats – Associação Belga de Defesa do Consumidor, instituição que defende o consumidor há 44 anos.

Nossa associação, que hoje conta com 130.000 associados, é filiada a Euroconsumers - Associação de Consumidores Europeus, a segunda maior organização de defesa do consumidor no mundo e que reúne mais de 1,2 milhão de associados, da qual recebemos apoio técnico e financeiro para iniciarmos nossas atividades. Recentemente passamos a integrar a Consumers International – a maior congregação de entidades de defesa do consumidor do mundo.

Nossa missão, então, é informar, orientar, representar e defender os interesses do consumidor, tendo em vista a legitimidade para atuar junto a empresas privadas e órgãos públicos visando o aperfeiçoamento das normas técnicas e procedimentos relativos aos produtos e serviços, segundo o artigo 4°, “e”, do seu Estatuto Social e legislação consumerista, o que realizamos por intermédio de nossa revista mensal, do atendimento jurídico gratuito aos nossos associados e de nossa atuação junto aos Poderes Públicos, bem como junto ao POder Judiciário por meio de ações civis públicas e coletivas.

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É nesse contexto que passamos a apresentar nossa contribuição.

O conteúdo da Resolução aberta à audiência pública pela Aneel, com o objetivo de obter subsídios para regular os procedimentos relativos ao ressarcimento por prejuízos decorrentes da prestação dos serviços de distribuição de energia elétrica, encontra seus principais fundamentos:

- no art. 37, § 6°, da Constituição Federal, que dispõe sobre a responsabilidade objetiva das concessionárias de serviços públicos;

- no art. 4º, inc. V e VII, que trata dos princípios da Política Nacional das Relações de Consumo e fala claramente a respeito de solução de conflitos de consumo e racionalização dos serviços públicos, bem como no art. 6º, inc. VI, que estabelece como um dos direitos básicos “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”, ambos do Código de Defesa do Consumidor – CDC, e

- no art. 6°, § 1°, da Lei 8.987/95, ao conceituar serviço adequado, determina: “Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, SEGURANÇA, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas”.

Considerando-se que os serviços públicos configuram-se como relação de consumo, a questão do ressarcimento ao dano elétrico deve ser vista pelo foco do art. 14, do CDC, ao dispor especificamente sobre a Responsabilidade pelo Fato do Produto e Serviço. Este dispositivo determina que a concessionária deve responder, “independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços ...”.

O parágrafo primeiro deste mesmo dispositivo determina que “o

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entre as quais: I – o modo de seu fornecimento; II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi fornecido. (...)” .

E o parágrafo terceiro estabelece: “O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I – que tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.

O teor do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, portanto, deverá orientar a interpretação da Resolução que está para ser editada e, principalmente os conceitos de serviço defeituoso, riscos que razoavelmente se podem esperar e culpa exclusiva, deverão ser bem compreendidos, a fim de que não se perpetrem injustiças e ilegalidades contra o direito básico do consumidor de ser ressarcido dos danos que vier a sofrer por defeitos relativos à prestação dos serviços”.

Nossa preocupação quanto à Resolução em pauta, portanto, se dá muito mais pela interpretação que se dará aos dispositivos por ela estabelecidos do que propriamente quanto ao seu conteúdo.

Questões como a derrubada de um poste decorrente de uma batida de carro, com o conseqüente curto circuito na rede e ocorrência de danos em aparelhos elétricos dos consumidores, por exemplo, podem, a princípio, indicar que se trataria de culpa exclusiva de terceiro.

Entretanto, é indiscutível que as redes subterrâneas não estão sujeitas a esses tipos de interferência e, mais, que em outros países, quando se trata de redes aéreas, as concessionárias instalam sistemas de proteção que impedem que, em casos de acidentes na rede, os curtos não se propaguem pela fiação, evitando riscos para os consumidores.

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Sendo assim, será necessária muita atenção para a análise dos casos e orientações às concessionárias e aos consumidores, posto que grande discussão a respeito da culpa de terceiros já vem se desenvolvendo por conta de ocorrências atribuídas a terceiros, como no exemplo da batida no poste.

Em São Paulo, a CSPE – Comissão de Serviços Públicos de Energia - compactua com nosso entendimento e tem atuado em casos semelhantes no sentido obrigar as distribuidoras a ressarcirem o consumidor.

Esse entendimento é o que está de acordo com o art. 170 e inc. V, da Constituição Federal, na medida em que um dos fundamentos da Ordem Econômica é o da livre iniciativa, que implica na assunção de riscos por parte do agente econômico.

Ou seja, se a empresa opta por manter a rede aérea ao invés de assumir os custos de embutir a rede por motivos de economia ou, ainda, opta por se omitir e não investir em equipamentos de segurança para a rede aérea, esse risco deve ser suportado por si e não pelo consumidor – parte vulnerável nesta relação de consumo, que tem do outro lado empresa beneficiando-se pela atuação num mercado de monopólio natural.

Marçal Justen Filho, a respeito do tema ensina que:

“Já nos atos omissivos, a questão é distinta. É que não há, propriamente, ato omissivo ilícito. Ao menos, não se pode afirmar que a mera e simples inação produzirá a responsabilidade civil do Estado.

A omissão juridicamente reprovável consiste na ausência de adoção de providência apta a evitar um certo resultado. Ou seja, a omissão é qualificada pela existência de um dever de agir de modo determinado. Há omissão, mas omissão de conduta específica. Reprova-se não a mera ausência de ação,

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determinado modo é que a omissão será juridicamente reprovável. (...) A responsabilização civil dependerá da infração a um dever jurídico de diligência”1.

E, no caso, o dever de diligência está estabelecido pelo artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, ao determinar que o “serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar”.

Nesse sentido, é razoável esperar que uma rotineira batida de automóvel, ou a queda de um raio na rede aérea não venha a causar danos nos aparelhos ou equipamento dos consumidores ligados na rede elétrica.

Sendo assim, se a concessionária opta por manter a rede aérea e, além disso, não investir em equipamentos para evitar a propagação de curtos circuitos, o risco desta opção deve ser arcado por ela.

A doutrina relativa à responsabilidade civil trata bem deste tema ao enfocar a questão do risco. Veja-se, nesse sentido, a lição de Carlos Roberto Gonçalves:

“Responsabilidade extracontratual por atos ilícitos e lícitos (fundada no risco e decorrente de fatos permitidos por lei)

Via de regra a obrigação de indenizar assenta-se na prática de um fato ilícito. É o caso, por exemplo, do motorista, que tem de pagar as despesas médico-hospitalares e os lucros cessantes da vítima que atropelou, por ter agido de forma imprudente, praticando um ato ilícito.

Outras vezes, porém, essa obrigação pode decorrer, como vimos, do exercício de uma atividade perigosa. O dono da máquina que, em atividade, tenha causado dano a alguém (acidente de trabalho, p.ex.) responde pela indenização não porque tenha cometido propriamente um ato ilícito ao utiliza-

1 . Concessões de Serviços Públicos, Dialética, 1997, p. 139.

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la, mas por ser quem, utilizando-a em seu proveito, suporta o risco (princípio em que se funda a responsabilidade objetiva)”2.

A lição acima se aplica perfeitamente à matéria em questão, pois ainda que as normas editadas pela Aneel não obriguem que a rede seja subterrânea ou que nas redes aéreas haja instrumentos de proteção, havendo risco de ocorrer dano, esse deve ser suportado por quem aufere ganhos com a atividade, que, no caso, sem dúvida nenhuma é a concessionária.

Enfim, nossa principal contribuição para a Resolução a ser editada vai muito mais no sentido de como interpretá-la do que propriamente a emendas no seu texto e direitos que vem introduzir.

Finalmente, reafirmamos nosso interesse no sentido de que as contribuições da PRO TESTE sejam consideradas, acolhidas e respondidas.

Colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.

Atenciosamente

Flávia Lefèvre Guimarães Diretora

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