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Dawkins, um delírio. Escrito por César Kyn Ter, 26 de Fevereiro de :41

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Academic year: 2021

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Eu estava em Porto Alegre, a trabalho, quando em um dos Shopping Centers da cidade me deparei com “Deus, um delírio”, de Richard Dawkins. Já havia visto o livro exposto com destaque em outros lugares, mas nunca me animei em comprá-lo. Tinha comigo uma convicção de que seria uma perda de tempo, afinal as discussões sobre ateísmo versus religião geralmente terminam do mesmo jeito: ateus e religiosos convictos de suas posições iniciais. É raro o debate que não vira pura provocação, onde todo mundo perde, mas um dos lados acha que ganhou porque deixou o outro mais nervoso. Sinceramente, o que eu esperava do livro de Dawkins era o discurso chato de um ateu desfilando seus preconceitos. Dawkins nunca se mostrou realmente aberto a discussões sérias sobre o assunto. Mas tenho amigos que o respeitam e acreditam que ele tem pontos que devem ser levados em consideração e, naquele dia, de frente às prateleiras da livraria, eu me dei conta que estava sem o que ler e com algum tempo livre. Fiz a besteira. Comprei o livro.

“Deus, um delírio” é incrivelmente pior do que eu pensava. Porém, antes de começar a discutir os seus pontos principais, gostaria de mostrar um pouco do pensamento e atitude de Dawkins quando trata de religião em seu livro: “Não farei ofensas gratuitas, mas tampouco usarei luvas de pelica para tratar da religião [...]“. Esta frase está no último parágrafo do Capítulo 1. Na seqüência desta frase, no primeiro parágrafo do capítulo 2, Dawkins diz: “O Deus do antigo testamento é [...]: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente, genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógeno, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo“. Realmente de uma elegância ímpar e de uma coerência comparável apenas à do governo Lula. Mas as ofensas gratuitas não param aí. Dá para encher páginas de maledicências sem base ou explicação dirigidas às religiões em geral, líderes religiosos em específico, crentes e teólogos. Mas esse é só o começo. A coisa piora bastante.

Algo marcante no livro, até o capítulo 4, é como o seu autor é pretensioso. Dawkins atribui a si,

“a responsabilidade de descartar os argumentos positivos para crença, que foram sendo apresentados durante a história” [1]. É até engraçado que ele se proponha a fazer isso de sopetão, listando uma série de argumentos em prol da existência de Deus, sendo que grande parte da lista, nunca foi sequer objeto de discussão séria. Obviamente que entorpecido pela própria vaidade, ele se enrola todo. Fica muito claro que desconhece vários conceitos filosóficos básicos, fazendo ironias tontas, que só mostram a sua inépcia para o assunto.

Dentre as inúmeras demonstrações de ignorância, estão a sua confissão que não sabe o que é substância [2], de achar que Deus é um ser no tempo, de mentir que todos os teólogos afirmam que Deus é um ser simples [3] e de “refutar” uma das vias de Sto. Tomás através da sua

preferência pessoal pela singularidade do big bang [4], o que de forma alguma exclui a regressão proposta pelo Doutor Angélico [4].

Mas Dawkins vai além. Diz ter um super-argumento, que nas suas próprias palavras é um

“argumento muito sério contra existência de Deus, e para o qual ainda não vi[u] nenhum

teólogo dar uma resposta convincente [...]” [5]. Ele diz que esse argumento é o ponto central de seu livro e por isso concentrarei meus esforços nele.

O argumento da improbabilidade

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O tal argumento é batizado como “da improbabilidade”. Dawkins desconfia que ele é irrespondível [6], mas vamos fazer um esforço para mostrar o contrário. O argumento é apresentado espalhado no texto, o que dificulta o trabalho de refutação. Creio que extraindo algumas frases, a compreensão melhore:

“Qualquer entidade capaz de projetar de forma inteligente uma coisa tão improvável quanto o angelicó (ou o universo) teria de ser mais improvável que um angelicó.” [7]

“[...] embora saibamos pouquíssimo sobre Deus, a única coisa que podemos ter certeza é que ele teria de ser complexíssimo, e de complexidade supostamente irredutível!”. [8]

“[...] um Deus capaz de projetar um universo, ou qualquer outra coisa, teria de ser complexo e estatisticamente improvável” [9].

Com essas frases podemos ver que o autor faz uma associação entre probabilidade e complexidade ou seja, seres mais complexos são mais improváveis, e que um criador é necessariamente mais complexo que a criatura. Dito de outra forma:

“Qualquer entidade capaz de criar (ou projetar) algo complexo de forma inteligente é necessariamente mais complexa que sua criação (ou seu projeto). A complexidade é

inversamente proporcional à probabilidade de existência. Deus é o mais complexo de todos os seres, afinal é criador de todas as coisas. Logo, Deus é improvável”.

De onde ele tira isso? Como e quando é válida a relação entre probabilidade e complexidade?

Realmente esta é uma relação para lá de discutível. Mas Dawkins tira esta conclusão através da seleção natural. No processo gradativo da seleção natural, um número enorme de eventos com probabilidades até razoáveis formam um caminho para a geração de um ser complexo.

Imagina-se que um ser mais complexo tenha um maior número de passos dentro do processo;

logo, é mais improvável. Mesmo dentro da seleção natural esta é uma afirmação fraca, mas não é esse o ponto que me chamou a atenção. O que me pareceu muito estranho é o seguinte:

Dawkins considera que Deus está submetido à seleção natural?

Ele mesmo responde: “qualquer inteligência criativa, de complexidade suficiente para projetar qualquer coisa, só existe como produto final de um processo extenso de evolução gradativa“.

Ou seja, o autor postula que se Deus existe e criou alguma coisa, Ele está submetido ao processo de seleção natural. E se está submetido, é o mais improvável dos seres. Por que ele postula isso? Porque decidiu que Deus é assim e pronto, e quem não tem fé na palavra de Dawkins é porque é obscurantista e acredita em bruxas. Mas um deus submetido à seleção natural? Que deus é esse, pelo amor de Deus?

O deus de Dawkins

Até o capítulo 3 do livro, Dawkins fica preparando o clima para o argumento da improbabilidade

e o apresenta. Se já não bastasse esperar cerca de 150 páginas para ler essa besteira, o leitor

é ainda premiado com outras 300 com delírios e idéias francamente imbecis. Não mostrarei

(3)

todas neste artigo por motivo óbvio: o livro é um compêndio de erros tão grande que tratar de todos exigiria outro livro, certamente maior. Porém não deixarei de tratar do que achei mais bizarro. Vamos aos multiversos.

No capítulo 4, Dawkins desfila uma das “teorias” mais loucas que já vi na minha vida, a dos multiversos. Ele fica nitidamente excitado com a suposição de que o nosso universo possui leis e constantes que só valem localmente e que existe uma série paralela ou seriada de universos que estão submetidos à seleção natural [10]. Em suma, “os universos que têm o necessário para “sobreviver” e “reproduzir-se” acabam predominando no multiverso” [11]. E a grande defesa que Dawkins faz desta “teoria” é de que “o multiverso, com toda a sua extravagância, é simples” [12]. Sem comentários.

No capítulo 5, revive a “teoria” dos memes para explicar que a idéia de religião é uma espécie de vírus pernicioso que precisa ser eliminado. A teoria dos memes é tão extravagante quanto a do multiverso. Dawkins cria uma analogia entre evolução biológica e evolução cultural, onde o meme é uma entidade abstrata que faz o papel de “replicador cultural” equivalente ao gene, replicador biológico. Novamente a seleção natural é conjurada para explicar o que quer que seja. As idéias pulam de mente em mente na tentativa de sobreviver. Se você já achou isso estranho, Dawkins sempre dá mais um passo. Deus é algo como um meme complexo,

altamente adaptado para sobreviver nas nossas mentes. Deus é um memeplex (sic). É o caso mais patente de paralaxe cognitiva que eu já vi na minha vida. Só me resta ironizar dizendo que o meme de Dawkins é um memeplex que só sobreviveu na cabeça dele, e está em luta de vida ou morte para passar para outras mentes. Cuidado para não se contaminar!

Fica nítido em certo ponto que Dawkins se apega a qualquer “teoria” que utilize a idéia da seleção natural como base. Se eu disser que os átomos da tabela periódica disputam entre si pela sua sobrevivência no universo através de um processo semelhante à seleção natural, ganho uma citação na próxima edição de “Deus, um delírio”. Se eu falar que as cores disputam entre si pela preferência dos humanos para sobreviverem dentro da realidade, serei

mencionado na próxima palestra.

Tudo para Dawkins é explicado pela seleção natural. A seleção natural é a própria estrutura da realidade. A seleção natural é a responsável por tudo, inclusive Deus. A seleção natural é o deus de Dawkins.

O novo argumento da improbabilidade

A partir do capítulo 7, Dawkins continua na sua cruzada de tentar denegrir as religiões

utilizando toda e qualquer alusão, suposição, ironia e mentira para tal. Apenas para resumir: o livro é um insulto ao leitor inteligente. Qualquer um que elogie o livro em sentido amplo e não veja nada de anormal no conteúdo e na forma de argumentação de Dawkins deve estar fora de si.

Já que o livro é tão baixo, me dou o direito de inventar qualquer coisa também. Vou criar o

novo argumento da improbabilidade. Tudo dentro do maior rigor científico de Dawkins, com

paralaxe cognitiva e tudo mais.

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Eu tenho um amigo que quando presencia alguém falar alguma besteira, pergunta: “Você pensou isso sozinho?”

Em geral o outro lado retruca: “Sim, mas porque?”

E daí ele fecha: “É que é uma besteira tão grande que precisaria, sei lá, de uma meia dúzia de pessoas para pensá-la. É muita merda para um só”.

Disto podemos tirar um novo argumento da improbabilidade: “Quanto mais absurdo ou idiota um argumento, mais improvável que tenha sido criado por uma pessoa e mais provável que seja resultado do “trabalho” coletivo”.

Se Dawkins é o autor do argumento da improbabilidade apresentado no livro, é muito

improvável que ele seja um indivíduo. Como o argumento de Dawkins é enormemente absurdo e idiota, é razoável supor que o autor do livro seja resultado do esforço coletivo. Logo, Dawkins não deve existir como indivíduo, e para aqueles que ainda acreditam na sua existência, o novo argumento da improbabilidade diz: Dawkins é um delírio.

Autor: César Kyn d´Ávila

[1] Página 110.

[2] Página 59.

[3] Página 207.

[4] Página 113.

[5] Por sinal, Sto. Tomás nem chama as suas vias de provas no sentido dedutivo, pois é antes de tudo uma demonstração indutiva da coerência interna da fé em Deus. Richard Dawkins não entendeu ou não leu Sto. Tomás.

[6] Página 212.

[7] Página 154 [8] Página 164 [9] Página 170 [10] Página 207

[11] Existe o chamado argumento antrópico que apresenta diversas constantes do universo,

que se minimamente alteradas, impossibilitariam a vida no universo. Esse argumento defende

a necessidade de um “arquiteto”, dado o “ajuste fino” necessário para que tudo exista. Dawkins

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invoca essa loucura do multiverso e a considera uma alternativa tentadora. O multiverso é um conjunto de universos, cada qual com seu ajuste fino, onde apenas o ajuste fino mais adaptado

“sobrevive”.

[12] Página 198

[13] Página 199

Referências

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