Relatório de visita ao mercado de gado em São Pedro de Rates, Portugal, 07.03.2011
Endereço: Rua Fonte da Cabra nº 1140, 4570-430 Rates, Póvoa de Varzim, Portugal Entidade gestora: LEICAR – “Associação de Produtores de Leite e Carne do Baixo Minho”
Equipa Animals’ Angels: Nuno Oliveira Data e hora da visita: Terça-feira 07.03.11
Objetivo da visita: Verificar se as medidas de melhoria alcançadas, especialmente relacionadas com a condição física dos animais, foram subsequentemente desenvolvidas.
I. Informações gerais:
• Detalhes do mercado: Mercado semanal: Segundas-feiras e terças-feiras; o mercado decorre durante todo o dia
• Espécies: A maior parte dos animais são vacas “leiteiras” Holstein/ Frísias. Existem igualmente bois, vitelos de diferentes idades e vacas de raças regionais
• Número de vacas: Aprox. 250
• Número de vitelos: Aprrox. 90
• Destinos: Portugal, Espanha (regiões Galiza e Castela Leão).
• Condições atmosféricas: Manhã, sol, 9 ºC / Tarde, sol 20 ºC . II. Observações/Acontecimentos:
1. Instalações:
Mercado de interior. A maior parte dos animais é colocada em filas. As filas estão equipadas com bebedouros automáticos. Existem igualmente redis para vitelos e redis para o gado adulto. Os redis possuem bebedouros.
É utilizado material de cama (serrim). Um funcionário do mercado recolhe e distribui continuadamente serrim. Esta ação melhora a qualidade do chão mas não resolve o problema de escorregamento dos animais. Os vitelos têm palha em quantidade suficiente.
O mercado possui uma máquina de ordenha automática.
Lateralmente encontram-se a rampas estacionárias de carregamento e descarregamento.
2. Condições dos animais:
As condições gerais das vacas “leiteiras” (Holstein/Frísias) continuam alarmantes. A maior parte das vacas “leiteiras” encontra-se em estado miserável, o que significa o seguinte.
Exemplos:
¾ Daniela, marca auricular PT 61380 2599, tem os úberes extremamente inchados, o leite goteia para o chão.
¾ Dora, marca auricular PT 03402 3442, o mesmo caso.
¾ Dária, marca auricular PT 21371 2326, apresenta úberes inchados, provavelmente mastite.
¾ Os úberes da Diana, marca auricular PT 83227 6030, estão vermelhos e inchados.
¾ Cristiana, marca auricular PT 41330 6283, está muito magra e apresenta úberes inchados.
¾ Dánia, marca auricular PT 04064 6409 tem uma ferida aberta junto ao chifre direito. A veterinária do mercado aplica spray desinfetante.
¾ Dáfne, marca auricular PT 413 68 6690, está muito magra, tem o dorso arqueado e os membros traseiros escanchados. Nunca deveria ter sido transportada para o mercado.
A despeito da existência de uma máquina de ordenha automática muitas vacas têm os úberes inchados.
No mercado são levados a cabo controlos de entrada: Cada operação de descarregamento é supervisionada pela veterinária particular e por um funcionário do mercado. Animais considerados em estado problemático – desde que apresentem sintomas de problemas de saúde – são separados em dois redis hospitalares isolados. Todos os animais problemáticos ou inaptos são registados num livro de incidentes, o qual é atualizado pela veterinária do mercado. O procedimento subsequente é o seguinte: Animais em estado severo, que ainda conseguem mover-se pelos próprios meios, são transportados para o matadouro nas proximidades (a aproximadamente 20 a 40 km do mercado).
Animais incapazes de se levantarem são eutanasiados no mercado e animais sem anomalias severas são transportados para Espanha.
Á tarde, antes de carregar os animais, chega o veterinário oficial e controla todos os animais com destino aos matadouros em Espanha.
Porém, apesar dos controlos individuais de entrada continuam a chegar ao mercado animais que nitidamente não estão aptos para permanecerem no mercado e para o posterior transporte.
A vaca Dina:
Pelas 12 horas chega um camião com matrícula portuguesa 44-BG-59. O camião abre a plataforma de descarga e surge uma vaca deitada no interior. Dina, marca auricular PT 42119 1280, está deitada e tiritando ligeiramente. É ajudada a levantar-se e caminha 10 metros e cai novamente. Passa um utilizador do mercado e dá-lhe um pontapé nas costelas. A veterinária do mercado declara que a vaca deve ir para o próximo matadouro. Alguns utilizadores do mercado reclamam. Minutos mais tarde a Dina levanta-se sozinha e é levada para um redil individual. Ela está muito magra; é quase incapaz de manter a cabeça levantada. Á tarde é levada para o matadouro.
3. Manuseamento
3.1. Atos de violência aos animais
Devido ao dia feriado na terça-feira, hoje estão mais animais no mercado comparado com a semana passada. Na parte da manhã os camiões chegam em intervalos de minutos. Em 90 minutos são descarregadas mais de 100 vacas. Às 11.30 a estimativa do número de animais alcança os 340 (vacas e vitelos).
Devido à elevada quantidade de animais os utilizadores do mercado apresentam sinais de agitação, o que, infelizmente, se manifesta em agressões exageradas e sem sentido face aos animais.
A equipa AA observa quatro utilizadores do mercado tratando os seus animais de forma brutal e inadequada, tal como bater com um pau. Um utilizador atua de forma particularmente violenta: Bate as suas quatro vacas com violência na zona lombar e na cabeça. Logo, prende-as com as cordas demasiado curtas.
As vacas em questão:
Belmira, marca auricular PT 31414 7082 Belinda, marca auricular PT 13198 6535 Carlota, marca auricular PT 33220 3173 Carla
É chocante observar como o dono destes animais espanca as vacas na presença de duas crianças (8 a 10 anos), as quais a seguir trataram os animais da mesma forma.
3.2. Instalação dos animais:
Um redil (2 x 2 m2) está sobrelotado com 10 a 12 vitelos.
Alguns animais são presos de forma que 1) são incapazes de se deitarem, 2) não conseguem alcançar os bebedouros. Além do mais, existem 3 animais presos pelos cornos.
Exemplos:
Emília, marca auricular PT 51364 2266, está presa pelos cornos. Duas vacas da mesma forma, Elvira e Elsa.
O jovem boi Emanuel, marca auricular PT 51489 4060, está preso de forma muito tensa, não consegue mover a cabeça. Mais tarde o proprietário afrouxa a corda.
4. Serviço veterinário:
Serviço de veterinária competente:
Divisão de Intervenção Veterinária do Porto Estrada Exterior da Circunvalação, 11846 4460 – 281 Senhora da Hora – Matosinhos
Os veterinários oficiais controlam principalmente os animais com destino a Espanha. Não observamos que os veterinários oficiais monitorizem as operações de carregamento e que intervenham em casos de maltrato ou de animais presos pelos cornos ou presos de forma demasiado tensa.
5. Entidade gestora do mercado/Organização do mercado:
A veterinária e os funcionários do mercado efetuam controlos a cada transporte que entra no mercado. Durante o controlo os utentes do mercado estão no interior da área do mercado.
Os funcionários supervisionam os redis com os animais. A veterinária está quase permanentemente presente e supervisiona os acontecimentos, intervindo quando observa infrações contra a legislação de proteção de animais.
A veterinária regista todas as irregularidades que observa. Igualmente preenche e arquiva um formulário referente a cada dia de mercado sobre o bem-estar animal.
III. Infrações da legislação EU relativa à proteção dos animais observada no mercado:
De acordo com o artigo 2 (b) do Regulamento (CE) 1/2005 os mercados são definidos como centros de agrupamento. De acordo como artigo 9, alínea 1 os operadores dos centros de agrupamento devem garantir que os animais sejam tratados de acordo com as normas técnicas estabelecidas no capítulo I e III, secção I do anexo I.
1. Chão escorregadio
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que as instalações tenham sido concebidas, construídas, mantidas e geridas por forma a prevenir a lesão e o sofrimento e a minimizar a agitação e o stress. O chão do mercado é escorregadio em várias áreas, especialmente nas zonas de carregamento e descarregamento. A situação melhorou devido ao uso de serrim em maior quantidade, mas o problema ainda não está resolvido.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo III, Secção I, n.º 1.3 do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado
2. Animais são batidos e pontapeados
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que os animais não sejam batidos e pontapeados. Observámos que animais foram agredidos em partes sensíveis dos seus corpos.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo III, Secção 1, n.º 1.8 (a) do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado 3. Bovinos presos pelos cornos
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que os bovinos não sejam presos pelos cornos.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo III, Secção 1, n.º 1.11 do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado
4. Animais presos de modo que são incapazes de se deitarem ou acederem à água
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que os bovinos não sejam presos pelos cornos de modo que são incapazes de se deitarem ou acederem à água e, nalguns casos, de mover a cabeça.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo III, Secção 1, n.º 1.11 do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado
5. Vacas “leiteiras” em período de lactação não ordenhadas
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que as vacas no mercado sejam ordenhadas cada 12 horas.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo I, n.º 6 do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado
6. Animais inaptos aceites no mercado
A entidade gestora do mercado de gado em São Pedro de Rates não garantiu que todos os animais no mercado estejam aptos para o transporte.
A entidade gestora do mercado de São Pedro de Rates infringiu o art. 9, alínea 1, juntamente com o Anexo 1, Capítulo I, ponto 1 e 2, Artigo 3 do Regulamento CE 1/2005.
→ já foi observado nas últimas visitas de Animals’ Angels ao mercado
IV. Conclusões
A utilização de material de cama (neste caso serrim) em quantidade suficiente parece melhorar o problema do escorregamento e quedas de animais, especialmente nas zonas de carga e descarga.
O número de 340 animais parece representar o limite de capacidade para o mercado. Na parte da tarde da inspeção a qualidade do ar era bastante má.
As condições das vacas “leiteiras” e os abusivos atos de agressão aos animais são alarmantes.
A administração do mercado tenta resolver estes problemas, constata-se, contudo, a falta de rigor.
Acresce do facto que as autoridade veterinárias, representando a Autoridade Portuguesa, continua a não tomar as medidas adequadas para garantir que todos os animais transportados estejam
suficientemente aptos para serem transportados e não intervêm em casos de maus-tratos nas instalações do mercado.
Nuno Oliveira 30.03.11
