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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0412057

Relator: SOUSA PEIXOTO Sessão: 03 Maio 2004

Número: RP200405030412057 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: REVOGADA A SENTENÇA.

ACIDENTE IN ITINERE

Sumário

I- Não é acidente de trabalho o acidente ocorrido no logradouro da residência da sinistrada, antes da porta que dá acesso à via pública, quando aquela, depois de ter tirado o carro da garagem para a via pública, veio atrás fechar a porta da garagem e buscar um filho menor e caiu ao descer os degraus da escada que liga a porta de entrada da habitação ao logradouro.

II- Nas circunstâncias referidas, não se pode dizer que a trabalhadora já tinha iniciado a sua deslocação para o local de trabalho e o facto de ter ido atrás fechar a porta da garagem e buscar o filho não pode ser considerado como um desvio do percurso.

Texto Integral

Acordam na secção social do Tribunal da Relação do Porto:

1. A..., participou no tribunal do trabalho da Maia ter sofrido um acidente de trabalho, no dia 18 de Junho de 2001, pelas 8H15, alegando ter escorregado nos degraus de saída de sua casa, quando se deslocava para o trabalho que prestava por conta da empresa B...-..., L.da que tinha a sua responsabilidade por acidentes de trabalho transferida para a

Companhia de Seguros C...

Por falta de acordo, a acção entrou na fase contenciosa que terminou por sentença condenando: a) a referida companhia de seguros e a referida entidade empregadora a pagar à autora a pensão anual, obrigatoriamente remível, de 528,73 euros, com início em 10 de Março de 2002, sendo 314,88

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euros a cargo da seguradora e 213,85 euros a cargo da entidade

empregadora; b) a seguradora a pagar à autora 2,50 euros de deslocações; c) a entidade patronal a pagar à autora a importância de 5.602,05 euros de indemnizações por incapacidade temporária; d) juros de mora vencidos e vincendos desde a data dos seus vencimentos sobre todas as importâncias ora fixadas.

Inconformada com a sentença, a companhia de seguros interpôs recurso, tendo formulado as seguintes conclusões:

1. O acidente dos autos ocorreu dentro de casa da autora, numas escadas que distam cerca de 5 metros do portão que dá acesso à via pública.

2. A autora estava, portanto, dentro de sua casa quando sofreu a queda em que se lesionou.

3. Não podemos, por isso, falar de qualquer interrupção ou desvio no seu percurso normal para o trabalho. A autora estava em casa, não interrompeu o que quer que fosse nem se desviou para lado nenhum. No momento do

acidente, a autora estava ainda no que viria a ser o ponto de partida para a sua deslocação, a qual não pode, por isso, ter-se por iniciada.

4. Ao entender, como entendeu, o Mmo Juiz “a quo” fez uma errada

interpretação do estatuído nos artigos 6.º, n.º 2, al. a) da Lei n.º 100/97 e art.

6.º, n.º 2, al. a) do Dec. Lei 143/99, com o que violou igualmente o art. 9.º do Cód. Civil.

5. Uma vez que a autora estava ainda dentro de casa, não estão preenchidos os requisitos dos preceitos legais supra referidos, pelo que não há qualquer acidente de trabalho.

6. Não havendo acidente de trabalho, tem a apelante que ser absolvida do pedido, por não haver qualquer pressuposto para accionar a sua

responsabilidade contratual.

A autora contra-alegou defendendo a confirmação da decisão recorrida.

Cumpre apreciar e decidir.

2. Os factos

A decisão proferida na 1.ª instância sobre a matéria de facto não foi

impugnada nem enferma dos vícios referidos no n.º 4 do art. 712.º do CPC.

Mantém-se, por isso, nos seus precisos termos que aqui se dão por reproduzidos ao abrigo do disposto no n.º 6 do art. 713.º do CPC.

3. O direito

Como decorre das conclusões do recurso, o objecto do recurso restringe-se à

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questão de saber se o acidente sofrido pela autora deve ser considerado ou não como acidente de trabalho, mais concretamente à questão de saber o acidente ocorreu ou não no trajecto de ida para o local de trabalho.

Com interesse para resolver aquela questão, ficou provado o seguinte:

- A autora presta os seus serviços de empregada de escritório, sob as ordens, direcção e fiscalização da ré B...-..., L.da, praticando o horário das 9 às 12H30 e das 14H30 às 18H00.

- A autora reside na Rua ...., ..., Maia e habitualmente desloca-se para o seu local de trabalho que se situa na cidade do Porto, utilizando veículo automóvel próprio, demorando, habitualmente, cerca de uma hora para chegar às instalações da sua entidade patronal.

- A autora recolhe o seu veículo automóvel na garagem integrada no rés-do- chão da sua habitação.

- No dia 18 de Junho de 2001, cerca das 8h00 da manhã, quando se preparava para efectuar no referido veículo o trajecto entre a sua residência e o seu local de trabalho, a autora, como habitualmente, abriu o portão, retirou o veículo da garagem e avançou com ele até ao exterior do portão que veda o logradouro existente em frente à sua habitação.

- E, deixando o veículo no local atrás referido, em ponto morto, saiu do mesmo e voltou atrás para fechar a porta da garagem, o que habitualmente fazia todos os dias quando se dirigia para o seu local de trabalho.

- Quando se encontrava a descer dois degraus de acesso entre a porta do edifício da sua residência e o logradouro da habitação, a autora, com um filho menor ao colo, escorregou e caiu estatelada no chão, sofrendo, por via disso, as lesões descritas no parecer médico de fls. 23, as quais lhe determinaram incapacidade temporária absoluta para o trabalho desde 18 de Junho de 2001 até 11 de Março de 2002 e incapacidade permanente de 7% para o trabalho a partir de 11.3.2002.

- A queda ocorreu quando a autora ainda não tinha transposto a porta que dá acesso do logradouro à via pública.

- A porta da garagem da autora situa-se a cerca de 5 metros do portão de acesso para a via pública.

Nos termos da alínea a) do n.º 2 do art. 6.º da Lei n.º 100/97, conjugado com o disposto na alínea a) do n.º 2 do art. 6.º do DL n.º 143/99, os acidentes

ocorridos no trajecto de ida e de regresso para e do local de trabalho só são considerados de trabalho quando ocorram no trajecto normalmente utilizado e durante o período de tempo ininterrupto habitualmente gasto pelo

trabalhador, entre a sua residência habitual ou ocasional, desde a porta de

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acesso para as áreas comuns do edifício (no caso de a residência ter natureza condominial) ou para a via pública (no caso de se tratar de uma residência isolada ou com saída directa para a via pública) até às instalações que constituem o seu local de trabalho.

Ora, como se constata da factualidade supra referida, o acidente ocorreu quando a autora descia os dois degraus que se situam na parte exterior da porta de entrada da sua residência e que dão acesso ao logradouro da mesma.

Isto é, o acidente não ocorreu na via pública, mas sim no logradouro da

residência da autora, antes do porta que dá acesso à via pública, não podendo, por isso, ser considerado como acidente de percurso. Com efeito, iniciando-se o percurso, in casu, desde a porta que dá acesso do logradouro da residência à via pública, uma vez que da factualidade provada e da fotografia de fls. 40 se depreende que a residência da autora é uma habitação unifamiliar, com acesso directo à via pública e tendo o acidente ocorrido antes de aquela porta ter sido transposta, parece por demais evidente que a queda da autora ocorreu antes dela ter iniciado o trajecto de ida para o seu local de trabalho.

Na sentença recorrida entendeu-se que o acidente era de considerar como de trabalho, com o fundamento de que a autora já tinha iniciado o trajecto normal para o local de trabalho e que o acidente tinha ocorrido num desvio desse trajecto.

A tal respeito, o Mmo Juiz escreveu o seguinte:

«Entende a Ré seguradora que o acidente participado nos autos não integra o conceito definido pela referida alínea, porquanto o ponto onde se verificou o sinistro se situava em logradouro que pertence exclusivamente à habitação da sinistrada, em escadas que dão acesso á habitação, situadas entre o portão de acesso à via pública e ao edifício de habitação propriamente dita. A sequência cronológica e causal de eventos que conduziram ao sinistro participado é a seguinte: No dia 18 de Junho de 2001, cerda das 8.00 horas, a Autora preparava-se para efectuar em viatura própria o trajecto entre a sua

residência e o local de trabalho; como habitualmente, abriu o portão de acesso á via pública, retirou o veículo da garagem e avançou com ele até ao exterior do portão que veda o logradouro da habitação; deixou o veículo no exterior do logradouro (via pública) em ponto morto, saiu do mesmo e voltou atrás para fechar a porta da garagem, como habitualmente fazia; e quando saía da

habitação, transportando um filho menor ao colo, teve uma queda nos degraus de acesso entre a porta do edifício e o logradouro da habitação - factos 16.º a 18.º, 25.º e 26.º.

Perante tais factos, impõe-se, desde logo, concluir que o trajecto entre a

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residência habitual da Autora e as instalações do seu local de trabalho já havia tido início em momento anterior ao do acidente, a saber, a partir do momento em que a Autora, conduzindo o veículo, transpôs o portão de acesso à via pública e nessa mesma via, em frente à sua residência, imobilizou o veículo.

Após essa imobilização, a Autora regressou ao espaço físico da sua habitação para executar duas tarefas - fechar as portas da garagem e portão de acesso à via pública e transportar pata a viatura um filho menor, presumivelmente para consigo o conduzir para o local em que deveria ser assegurada a sua guarda durante a jornada de trabalho. Ora, dispõe o n.º 3 do referido art.º 6.º do RAT que “Não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o trajecto normal tenha sofrido interrupções ou desvios determinados pela

satisfação de necessidades atendíveis do trabalhador, bem como por motivo de força maior ou por caso fortuito.” E parece inquestionável que as duas

referidas tarefas que a Autora veio executar quando regressou ao espaço físico da sua habitação correspondem à satisfação de necessidades atendíveis e mesmo incontornáveis, quais sejam as de deixar a habitação em segurança e de prover pela guarda de filhos menores em idade escolar ou pré-escolar (em audiência foi feita menção a um menor em idade pré-escolar) durante a

jornada de trabalho.»

Tal fundamentação, salvo, naturalmente, o devido respeito, não merece o nosso apoio. É verdade que, nos termos do n.º 3 do art. 6.º do DL n.º 143/99,

“não deixa de se considerar acidente de trabalho o que ocorrer quando o trajecto normal tenha sofrido interrupções ou desvios determinados pela

satisfação de necessidades atendíveis do trabalhador, bem como por motivo de força maior ou por caso fortuito.” Todavia, no caso em apreço, não podemos falar em desvios nem interrupções do percurso, uma vez que a autora ainda o não tinha havia. Tirar o carro da garagem para a via pública mais não é do que colocar o veículo no ponto de partida do percurso que iria ser feito, mas a autora só começaria a efectuar o trajecto para o trabalho quando entrasse dentro do carro e o pusesse em movimento com destino o seu local de

trabalho. Tirar o carro da garagem, deixá-lo na rua em ponto morto e ir atrás fechar as portas e buscar o filho não passam, em nossa opinião, de meros preparativos para a viagem que iria efectuar. Ora, não se tendo iniciado ainda a viagem, não faz sentido falar em desvios nem em interrupções do percurso.

Deste modo, não podendo o acidente em questão ser considerado como

acidente de trabalho, a autora não tem direito à reparação prevista na lei dos acidentes de trabalho e não tendo esse direito, é óbvio que a seguradora tem de ser absolvida, tal como teria sido a ré entidade patronal se tivesse

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recorrido ou tivesse aderido ao recurso interposto pela companhia de seguros, nos termos do art. 683.º, n.º 1, al. a), do CPC. Não tendo procedido dessa maneira, a decisão recorrida terá de ser mantida em relação à ré entidade patronal, uma vez que, in casu, não se verifica quer a situação prevista no n.º 1, quer as situações previstas nas alíneas b) e c) do n.º 2 do mesmo artigo.

4. Decisão

Nos termos expostos, decide-se julgar procedente o recurso e revogar a douta sentença recorrida na parte relativa à ré companhia de seguros, absolvendo esta do pedido.

Sem custas, por delas estar isenta a autora.

PORTO, 3.5.2004

Manuel Joaquim Sousa Peixoto João Cipriano Silva

José Carlos Dinis Machado da Silva

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