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Sistemas de produção em áreas de reforma agrária: o caso do Assentamento Vida Nova em CanindéCE

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Academic year: 2018

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Sistemas de Produção em Áreas de Reforma Agrária: O caso do

Assentamento Vida Nova em Canindé - CE

Nome Autor:Geraldo Soares de Oliveira Filho

Aluno concludente em Agronomia pela UFC e bolsista do Projeto Residência Agrária

CPF: 795.262.413-04

Endereço: Rua Papi Júnior , 2017; Bairro Bela Vista; Cep: 60441-690;

Fortaleza-CE

e-mail: engenheirogeraldo@yahoo.com.br

Nome Autor: José César Vieira Pinheiro

Professor Adjunto IV do Departamento de Economia Agrícola do CCA-UFC

CPF: 015.461.982-53

Endereço: Rua Dr. Zamenhof, 400, Apto 1102; Bairro: Papicu; Cep: 60176-060;

Fortaleza -CE

e-mail:jcvpinhe@ufc.br

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Sistemas de Produção em Áreas de Reforma Agrária: O caso do

Assentamento Vida Nova em Canindé - CE

Resumo

Esse trabalho faz parte do processo de capacitação do projeto Residência Agrária patrocinado pelo MDA / INCRA/ Banco do Brasil/UFC. O objetivo foi identificar e analisar os sistemas de produção prevalecentes no assentamento Vida Nova situado em Canindé - CE. O método utilizado foi o de diagnóstico de sistemas agrários desenvolvido pela escola francesa que tem uma abordagem sistêmica. Foram identificados e analisados cinco sistemas de produção típicos do assentamento, evidenciando que as tecnologias de produção e de processo são difundidas com muito mais ênfase do que as tecnologias de gestão, o que causa a inadequação e perdas de eficiência nas políticas públicas voltadas para os assentados.

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Sistemas de Produção em Áreas de Reforma Agrária: O caso do

Assentamento Vida Nova em Canindé - CE

1. INTRODUÇÃO

Uma das principais reivindicações dos que atuam na agricultura familiar é a presença de um efetivo serviço público de assistência técnica e extensão rural (ATER), que nos últimos anos tem sofrido um generalizado desmonte em todo o País. Apenas pequena parte das unidades familiares é atendida pela ATER pública, cerca de 791.000 estabelecimentos assistidos pela rede oficial (EMATER'S) e 222.462, através de editais de capacitação (SAF/MDA, 2003). Estes números estão dentro de um universo de 4,1 milhões de unidades de agricultura familiar no Brasil (dados de 1995), incluindo assentamentos de Reforma Agrária.

Quanto ao aspecto qualitativo, a grande maioria dos técnicos foram formados dentro de um modelo classificado como ortodoxo, que valoriza pouco os saberes locais e em sua maioria preconizam tecnologias de cunho meramente produtivista e as vezes incompatíveis com a realidade destes agricultores. Assim, prevalece uma concepção de campo excludente e a-histórica, e desconsidera a construção do conhecimento dos povos do campo, segrega a mulher e impede a geração de um conhecimento prático-esclarecido, fruto da interação dos saberes acadêmicos e populares.

Para iniciar uma mudança nesta situação, o Governo Federal, através do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) lançou em julho de 2004 o programa

Residência Agrária, envolvendo 15 Universidades brasileiras, dentre estas a Universidade

Federal do Ceará (UFC). Inicialmente foram selecionados estudantes do último semestre da área das Ciências Agrárias1, orientados por professores do Centro de Ciências Agrárias da UFC. Os alunos estão sendo submetidos a um apurado processo de capacitação, envolvendo oficinas, encontros, seminários e todos tiveram uma vivência em campo em assentamento de reforma agrária (15 dias ininterruptos), cujo resultado será a elaboração de uma monografia de conclusão do curso. Ressalte-se que os alunos recebem uma bolsa mensal financiada pela Fundação Banco do Brasil, com as despesas de locomoção e estadia no campo custeadas pelo INCRA. Após a colação de grau, os alunos aprovados participarão de um curso de especialização com duração de até 2 anos, com enfoque voltado para a agricultura familiar e camponesa.

Este trabalho é uma versão preliminar da monografia e tem como objetivo identificar e analisar os sistemas de produção adotados num assentamento de reforma agrária e as razões de suas explorações, a luz do modelo de gestão utilizado pelos assentados, tanto nos aspectos de produção quanto de comercialização. Considerando que no decorrer do processo de capacitação serão experimentadas novas vivências e reflexões, haverá naturalmente o aprofundamento das análises tendo como fundamentação teórica o enfoque sistêmico, onde se espera, numa outra etapa, obter propostas de intervenção adequadas e adaptadas às reais necessidades dos agricultores.

1 . A UFC selecionou 12 estudantes sendo 5 do curso de Agronomia, 1 da Engenharia de Pesca, 5 da

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2. METODOLOGIA 2.1 Área de ação

O Estado do Ceará possui 150 assentamentos de Reforma Agrária com 9 250 famílias recenseadas, correspondendo a 6% do país (INCRA / CRUB / UNB, 2003). O estudo será feito no município de Canindé com coordenadas 4°21’ S e 39°18’ W e área total de 3.205,4 Km2 e sua importância deve-se ao fato de ser o município com a maior concentração de assentamentos numa mesma área no Brasil.

Especificamente, a unidade de referência é o assentamento Vida Nova, localizado a 13 Km do centro da cidade de Canindé. Possui 77 famílias assentadas e distribuídas em 3 agrovilas: a Vila Canindé (26 famílias), a Agrovila (27 famílias) e a Vila Serrana (24 famílias), numa área de aproximadamente 2.990 ha.

A área foi indicada para reforma agrária por ter sido caracterizada como improdutiva conforme consta em laudo de vistoria do INCRA de 1994 e somente em julho de 1996 as famílias se instalaram no local, organizaram a distribuição dos lotes e começaram a produzir.

Antes da ocupação, os moradores da fazenda e futuros assentados permaneciam distribuídos ao longo da propriedade com o direito de plantar roçados em pequenas áreas com regime de negociação de meia parte na produção com o patrão. A principal atividade da fazenda era a pecuária. A exploração dessa potencialidade permitiu a construção de uma infra-estrutura concentrada e compatível com esta atividade.

A assistência técnica existe desde 1998. Atualmente é dada por uma equipe composta por três técnicos do MST, que também assistem outros assentamentos no município de Canindé.

Os dados foram obtidos através de registros com entrevistas com pessoas mais idosas, grupos de mulheres e de jovens por ocasião de visitas informais no assentamento Vida Nova em um período de vivência de 15 dias onde o estudante se estabeleceu nas residências dos assentados, com o objetivo de conhecer o local, o processo de ocupação, o histórico da área e das famílias. Nesse período o estudante vivenciou aspectos econômicos, culturais e sociais relacionados com o cotidiano dos assentados.

2.2 Aspectos Teóricos-Metodológicos

O trabalho voltado para o assentamento Vida Nova seguirá um roteiro adaptado do método conhecido como análise diagnóstico de sistemas agrários.

Nesta primeira fase, o modelo disponível atende aos objetivos requeridos e será constituído pela leitura de paisagem e resgate da história do assentamento. A sua base teórica é a agricultura comparada da escola francesa e é um referencial que permite conhecer cada evolução da agricultura, comparativamente à outras.

Este modelo foi adotado e vem sendo aplicado pelo INCRA através de convênio com a FAO que disponibilizou um manual de orientação para aplicar a metodologia em projetos de assentamento (Garcia Filho, 1999). Considera que as pequenas unidades rurais de produção podem ser identificadas através de três perfis de produtores, estando num extremo, as unidades capitalistas e no outro as unidades familiares.

Dufumier (1990) admite que para determinar os critérios de gestão que os produtores utilizam no manejo de suas explorações devem ser considerados três postulados teóricos:

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b) Os produtores se mostram desejosos de maximizar a esperança matemática de sua produção ou renda só quando as condições de produção não são nem precárias nem aleatórias. Caso contrário, seu interesse é minimizar os riscos;

c) Os produtores têm interesse em economizar o máximo possível, os recursos de que dispõem em quantidades relativamente limitadas. Isto significa que buscam maximizar o emprego dos recursos relativamente abundantes, com baixos ou inexistentes custos de oportunidade, em suas atividades produtivas.

Estas hipóteses de racionalidade só excluem no interior de cada grupo alguns indivíduos que manifestam comportamentos atípicos ou suicidas e estes comportamentos os fazem desaparecer rapidamente dos grupos.

Segundo Dufumier (1990), seria um erro considerar todos os produtores de uma determinada região como um conjunto homogêneo aos quais se pode propor “pacotes tecnológicos” uniformes. Aliás, este foi o grande equívoco incorrido pela revolução verde, que não conseguiu melhorar a produtividade e a renda do pequeno produtor dos países do terceiro mundo, através da tentativa de introduzir técnicas modernas fora do contexto dos produtores. O autor compreendeu que era necessário romper com o esquema normativista de muitos agrônomos que pretendem impor técnicas melhoradas aos produtores, como se estas pudessem existir independentemente das condições de produção e dos interesses dos produtores.

Identificando e compreendendo a lógica dos produtores que fazem com que adotem um dado sistema de produção e não outro, as intervenções tornam-se naturalmente mais adequadas. Por outro lado, a interação que se estabelece entre os tipos sociais de produção (definidos pela relação de mão de obra familiar e assalariada), os sistemas de produção e a tecnologia aplicada em cada caso pode resultar na identificação de unidades homogêneas de interesse para a análise científica e para o ordenamento de medidas orientadas para o desenvolvimento agrário. Estas unidades homogêneas podem ser consideradas como agrupamentos específicos que permitem ordenar e orientar o trabalho de pesquisa e extensão, tanto por terem condições socioeconômicas similares, como requerimentos tecnológicos também similares2.

Esta concepção significa a necessidade de uma abordagem sistêmica que passa a ser operacional através do que é conceituado como diagnóstico de sistemas agrários (DSA).

Tem como base o conceito de sistema de produção, representado por uma combinação dos recursos disponíveis para a obtenção das produções vegetais e animais. E uma combinação mais ou menos coerente de diversos subsistemas produtivos, por exemplo: i) culturas das parcelas tratadas de maneira homogênea, com os mesmos itinerários técnicos e as mesmas sucessões culturais; ii) sistema de processamento de produtos agrícolas no estabelecimento; iii) Seqüência lógica no uso de atividades complementares que caracterizam as atividades não agrícolas.

Segundo Groppo (1991), o DSA é a possibilidade de perceber as coisas de modo holístico, dando especial atenção às interações, suas origens e efeitos, para alcançar um patamar de estratégia de ação, com objetivos e metas claramente identificadas. Esta concepção requer uma ação metodológica voltada e identificar as causas e efeitos das transformações. O DSA possui dois princípios fundamentais:

2 Um produtor familiar e um empresário médio podem ter sistemas de produção similares, ou seja, embora

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2.2.1) Progressividade

Parte-se do geral para o particular. É impossível fazer a tipificação se a região não tenha sido previamente dividida em zonas relativamente homogêneas.

Nesta fase deve-se fazer a coleta e o tratamento de dados secundários existentes, superposição de mapas temáticos na mesma escala e estudos de documentos antigos. Tem por objetivo identificar os elementos ecológicos, econômicos e sociais que determinaram a sua evolução recente e sua localização atual. A idéia é se obter uma síntese cada vez mais refinada até chegar aos sistemas de produção.

2.2.2) Amostra Não-Aleatória

A amostragem será dirigida para pessoas chave que tenham um profundo conhecimento da área de estudo. Isto permite perceber de forma clara e rápida, evitando questionários longos e com perguntas fechadas, a diversidade dos fenômenos mais interessantes. O tamanho da amostra é determinado pela complexidade e diversidade da realidade estudada. Não interessa, pelo menos neste primeiro momento, a representatividade estatística da zona estudada, mas a diversidade dos produtores e sistemas de produção existentes.

Alguns sistemas podem ser pouco representativos do ponto de vista estatístico, sejam por estarem em declínio avançado ou noutro extremo, estarem emergindo. No entanto, eles fornecerão informações importantes sobre os fatores que os levaram a esta situação e não seleciona-los para investigação, o que seria altamente provável com amostras aleatórias, representa prejuízos para a análise.

2.3. Procedimentos Metodológicos. 2.3.1 Leitura da Paisagem

O objetivo mais importante é verificar se a região é homogênea e identificar e caracterizar as heterogeneidades, caso existam. Observar os diferentes tipos de agricultura existentes, os seus condicionamentos ecológicos, as relações entre o homem e o ecossistema. Seria proveitoso, antes de visitar a área, fazer a coleta e o tratamento de dados secundários existentes, superposição de mapas temáticos na mesma escala e estudos de documentos antigos.

Com algum conhecimento prévio, as paisagens agrárias oferecem as primeiras informações importantes para o diagnóstico e oferece condições de se questionar sobre as razões históricas das diferenças.

A leitura é realizada pelo cumprimento de percurso sistemáticos de campo que permitam verificar, interrogar e interpretar as diferentes heterogeneidades dos ecossistemas. Deve-se identificar os ecossistemas (relevo, unidades morfológicas, cobertura vegetal), os tipos de agricultura, a disposição no espaço destas culturas, a estrutura fundiária, as técnicas, o grau de intensificação das culturas e as formas peculiares de uso dos diferentes recursos naturais.

Os resultados podem ser representados por mapas superpostos, croquis ou blocos-diagrama.

2.3.2 Entrevistas históricas

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relações socioeconômicas que levaram ao desenvolvimento de atividades não agrícolas (Escobar e Berdegué, 1990).

A história das transformações ecológicas, das relações sociais e das técnicas agrícolas conferem as diferentes zonas observadas uma certa unidade, em contraste com os vizinhos.

O método sugere ouvir os moradores mais antigos, que conheçam e possuam liderança nas comunidades e mais importante, que se reportem às zonas tipificadas. Devem ser objeto de maior averiguação os seguintes pontos, dentro de uma cronologia:

a) as mudanças ou incidentes relevantes relativos às condições ecológicas, tais como, secas, enchentes, construção de barragens, desmatamentos;

b) as mudanças nas técnicas agrícolas – mudanças de culturas, criações ou outras atividades, introdução ou abandono de técnicas, novas ferramentas e utensílios;

c) fatores socioeconômicos que impliquem na diferenciação de territórios;

d) História da comercialização na área (compra de insumos e venda dos produtos).

2.3.3 Conceito de Sistema de Produção

Segundo DUFUMIER (1996), na escala de um estabelecimento agrícola , o sistema de produção pode ser definido como uma combinação (no tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a obtenção das produções vegetais e animais. Ele pode também ser concebido como uma combinação mais ou menos coerente de diversos subsistemas produtivos:

o Os sistemas de cultura das parcelas ou de grupos de parcerias de terrra, tratados de

maneira homogênea, com os mesmos itinerários técnicos e com as mesmas sucessões culturais;

o Os sistemas de criação de grupos de animais (plantéis) ou de fragmentos de grupos

de animais;

o Os sistemas de processamento dos produtos agrícolas no estabelecimento;

Analisar um sistema de produção na escala dos estabelecimentos agrícolas não se resume somente ao estudo de cada um de seus elementos constitutivos, mas consiste, sobretudo, em examinar com cuidado as interações e as interferências que se estabelecem entre eles:

o As relações de concorrência entre as espécies vegetais e animais pelos recursos

naturais disponíveis ( água, luz, minerais, matérias orgânicas etc.);

o As relações de sinergia ou de complementaridade relativas a utilização dos

recursos;

o A distribuição e a repartição (no tempo e no espaço) da força de trabalho e dos

meios de produção entre os diferentes subsistemas de cultura e de criação: itinerários técnicos, sucessões e rodízios de cultura, distribuição da área disponível entre as culturas, calendários forrageiros, deslocamentos dos rebanhos etc.

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2.4 Modelo de Gestão

O modelo agrícola do agronegócio, predominante no Brasil, tem criado uma série de limitações para sua aplicação no contexto da agricultura familiar, dadas suas características e peculiaridades, principalmente no âmbito de geração de tecnologias e de ATER. Pode-se citar outras incompatibilidades, principalmente no âmbito institucional, como por exemplo, a legislação ambiental, sanitária e trabalhista, padronização de produtos, sementes fiscalizadas híbridas e normas de crédito rural.

Para identificar algumas destas limitações no trato com os sistemas de produção identificados utilizou-se a classificação de Pedroso (1999), segundo o qual a tecnologia pode ser enquadrada em cinco categorias: (1) tecnologia de processos; (2) tecnologia de materiais; (3) tecnologia de produtos e serviços; (4) tecnologia da informação; (5) tecnologia de gestão. Todas as categorias são relevantes e interagem entre si. O problema é que o sentido mais imediato atribuído ao termo tecnologia é aquele vinculado às tecnologias de produto e processo. A agenda de pesquisa e de extensão está sempre direcionada para a agropecuária em geral e para a agricultura familiar em específico, preocupa-se com aspectos ligados a processos de produção. Como afirma Batalha( 2003), “ a tecnologia de gestão, que deveria formar ao lado das tecnologias de produto e processo um tripé fundamental para a sustentabilidade da agricultura familiar é muitas vezes mal compreendida e negligenciada quanto a sua importância”..

O Problema central é a restrição de escala imposta pela pequena área.e isto passa pela formação de redes de pequenos agricultores que organizados de forma associativa, sempre tendo-se em mente que comprar bem e vender bem” é tão importante quanto “produzir bem. (Batalha, 2003)

Segundo este autor, não é suficiente lograr resultados expressivos isoladamente. A elevação da produtividade pode ser facilmente anulada pelo manuseio inadequado do produto por parte do empacotador, reduzindo seu preço. Não é suficiente alguns produtores vacinarem o gado contra aftosa, combater as pragas e doenças, se outros não fazem o mesmo, pois isto vai prejudicar toda a coletividade. Os ganhos de produtividade originados em anos de investimentos em tecnologias de produto e de processo podem ser perdidos se o agricultor não conseguir acessar mercados que remunerem adequadamente os seus produtos.

A agricultura familiar – somente poderá ser construída, em bases sustentáveis, por meio da adoção de práticas que estimulem a cooperação entre os agentes e, complementarmente, entre estes e os poderes governamentais.

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3. ANÁLISE E DISCUSSÃO 3.1 Leitura da paisagem

A área do assentamento Vida Nova possui aproximadamente 2990 ha cujos ecossistemas são formados por áreas de serras e de planícies.

As áreas de serras são ambientes estáveis e selecionados pelo IBAMA como sendo áreas de proteção ambiental (APA) correspondendo aproximadamente a 80 % do total da área do assentamento. Essa APA é constituída por uma cobertura vegetal com mata nativa (marmeleiro, sabiá, mucuna preta, jurema etc), solos humificados com coloração escurecida e não agricultáveis por lei federal.

As áreas de planícies são constituídas por áreas com matas nativas e áreas agricultáveis, compondo 20 % do restante da área do assentamento. Nas áreas com mata nativa denominadas “mangas”, seu uso é exclusivo para pastagem com regime extensivo para os animais de forma coletiva. São caracterizadas por possuírem solos com predominância de areia quartzosa e vegetação herbácea e rasteira.

As áreas agricultáveis da região plana do assentamento são compostas por 3 subáreas: 1) áreas de vazantes, solos bastantes férteis e usado por somente alguns assentados; 2) áreas de grotas, com solos arenosos e limitados pela APA; 3) áreas de agricultura intensiva, composta por solos arenosos avermelhados que por seu próprio uso estão sendo sujeitos a um processo erosivo bastante ativo servindo para todas as famílias do assentamento;

3.2 Entrevistas Históricas

A fazenda Vida Nova possui cerca de 2990 hectares. Além disso, quase toda a estrutura da propriedade é voltada para a pecuária sendo a infra-estrutura composta por: 3 silos trincheiras com capacidade de armazenar 100 toneladas de capim cada um, 2 açudes, estábulo para o gado, bretes, currais, cocheiras, aprisco para caprinos e ovinos, e várias dependências como a casa sede, casa de moradores, garagens e as grandes extensões de terras historicamente estruturadas para pastagens.

Por terem sempre atuado na pecuária, por determinação do antigo proprietário, alguns assentados (antigos moradores da fazenda) tem naturalmente uma inclinação por esta atividade e uma certa resistência para adotar outros sistemas preconizados nos dias atuais, tais como, piscicultura, apicultura, mamona e fruticultura. Geralmente, os ex-moradores plantavam milho e feijão em pequenas áreas localizadas próximas aos açudes para a sua subsistência.

O sistema antigo fez com que se desenvolvessem áreas com capineiras, canaviais e áreas para pastoreio extensivo denominadas “mangas” e locais que atualmente são utilizados para agricultura pelos assentados.

Ressalte-se que as pessoas oriundas da serra de Aratuba, trabalhavam em hortas para latifundiários com o direito de plantar pequenas áreas com milho, feijão, hortaliças para o próprio consumo (jerimum, pimentão, folhosos etc) e algumas fruteiras (cajá, graviola, manga, caju, ata etc). Por residirem em serras não possuíam o costume de criar animais e atualmente estão com dificuldade de desenvolver melhor esta atividade.

Já as pessoas provindas de Canindé moravam em lugares diferentes. Trabalhavam em latifúndios com a pecuária e plantavam milho e feijão em regime de meia com o patrão, tendo apresentado uma melhor performance no manejo dos seus rebanhos em relação a uma boa parcela dos seus vizinhos oriundos da região serrana.

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com o patrão, o que tem dificultado o trabalho com a renda coletiva e ser um fator inibidor de iniciativas de cunho associativista.

Os sistemas de produção identificados durante o período da vivência no campo encontram-se dispostos no quadro 1 bem como o número de produtores de cada vila do assentamento e o número total de produtores.

Com base nesses sistemas de produção observados no assentamento, o quadro 1 mostra que as culturas do milho e do feijão estão em todos os sistemas identificados por sua importância na subsistência da família. O feijão faz parte da base protéica do grupo familiar, por ser consumido diariamente juntamente com ovos ou carne de frango3. A cultura do milho tem sua importância na freqüência de uso na alimentação animal, em torno de 50%, e o excedente é vendido no mercado. Quase todos os produtores cultivam o milho e o feijão consorciados em plantio do tipo cruzado, que se constitui numa técnica utilizada pelo camponês para a marcação dos pontos de covas através do cruzamento de linhas ao longo da área a ser plantada, facilitando o trabalho no plantio e a limpa entre as plantas.

Os raros produtores que não fazem o consórcio4 tem pouca disponibilidade de mão de obra familiar. O consórcio, com a presença do feijão nas entrelinhas, impede o uso do cultivador e portanto e aumenta os requerimentos de mão-de-obra para as capinas. O técnico que atua de forma burocrática e não possui uma visão sistêmica, jamais vai perceber peculiaridades desta natureza.

Ressalta-se que a atividade pecuária voltada para a criação de bovinos encontra-se na maioria dos sistemas de produção (A, B, C e D) repreencontra-sentando 80 % dos produtores mostrando a sua importância para o assentamento, sendo justificada para o pagamento de dívidas anuais junto aos agentes financeiros, servindo como uma espécie de poupança de alta liquidez. Em adição, a criação de bovinos complementa a fonte de proteína (leite) para as famílias.

A criação de bovinos no assentamento Vida Nova foi uma iniciativa das famílias provenientes do sertão (Canindé), que tinham experiência nesse tipo de criação e influenciaram na escolha da atividade, e pela própria aptidão (estrutura) da fazenda que facilitou inicialmente uma criação coletiva de gado no assentamento. Atualmente essa atividade é individual por decisão dos próprios assentados.

Salienta-se que a maioria dos produtores identificados no sistema de produção E eram criadores de gado e negociaram sua criação para a aquisição de bens de consumo. No entanto, o sistema E possui 18,42 % dos produtores (14 assentados) que praticam somente a policultura no assentamento, por não terem gerenciamento dentro da produção animal ou mesmo por serem agregados5 no assentamento, não podendo participar de projetos que financiam animais.

A criação de ovinos e caprinos é outra importante atividade no assentamento uma vez que se faz presente em dois sistemas de produção (B e D) identificados. Essa atividade reflete a preocupação dos assentados para o pagamentos de pequenas dívidas, de curto prazo, ou mesmo uma forma de captação de recursos para complementar a renda familiar e poder adquirir bens de consumo. Atualmente, a questão do comércio informal dentro dos assentamentos (caminhões carregados de móveis, roupas, utensílios domésticos etc) é uma prática livre de negócio com opções de pagamento (à vista ou à prazo)

3 O consumo de proteína animal, alem de ovos ou frango, ocorre em média 3 vezes por semana sendo

constituído pelo peixe, carne de caprinos e ovinos.

4 São 4 produtores da Vila Serrana

5 Agregados são assentados não sócios por estarem há menos de dois anos no assentamento e só tem direito

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promovendo o endividamento de muitos assentados, o que justifica o grande interesse dos produtores na criação de pequenos animais para o pagamento de dívidas, dada a sua grande liquidez.

Apenas 2 sistemas exploram o plantio de hortas e residem na vila Serrana, por trazerem esta experiência da serra de Aratuba, onde residiam. Em contrapartida, a maioria das famílias do sertão relatam a falta de experiência com a atividade hortícola, e não tem o hábito salutar do consumo de frutas e verduras. Observou-se que a produção hortícola, com exceção do jerimum, é totalmente distribuída no assentamento em razão dos produtores não terem conseguido sincronizar o tempo de produção com a necessidade do mercado. Essa restrição limita a aceitação de grande parte dos assentados na atividade.

O sistema de produção mais explorado (“B”, mais de 1/3 dos assentado), tem como principal característica à diversificação, mais acentuada que os demais sistemas identificados, o que demonstra a aversão ao risco da atividade agrícola do assentamento. Merece uma maior investigação, identificar as causas da menor tendência a diversificação, dos assentados da Vila Serrana nesse sistema.

Dentre os sistemas de produção identificados, o sistema menos explorado é o F correspondente a policultura de mandioca + milho + feijão, sendo a mandioca a principal atividade, e na pecuária a criação de suínos. Nesse sistema, a mandioca apresenta inúmeras vantagens para o assentado como a sua alta produção por hectare, o interesse dos compradores pelo produto, a facilidade de venda e a sua utilização diversificada no arraçoamento dos suínos. Existe facilidade no trato cultural uma vez que o consórcio com as outras culturas é uma alternativa vantajosa para o produtor. A suinocultura tem sua importância decido ao investimento realizado nas matrizes e no reprodutor utilizados no sistema. Geralmente a negociação nessa atividade se baseia na produção de leitões para o abate e na produção de futuras matrizes e reprodutores para a venda em criatórios. Trata-se também de uma estratégia de comercialização que tem tudo para ser bem sucedida no curto prazo, por falta de concorrentes no assentamento. Com os ganhos daí decorrentes deverá estimular a entrada de outros produtores o que poderá comprometer sua posição vantajosa no longo prazo.

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Quadro 1 - Sistemas de produção, número de produtores do assentamento Vida

Nova em Canindé - Fevereiro/2005.

Sistema de produção

AGROVILA VILA CANINDÉ

VILA SERRANA

TOTAL

A 7 5 4 17

B 15 11 0 26

C 2 4 4 10

D 0 5 4 9

E 5 5 4 14

F 0 0 1 1

TOTAL 27 26 24 77

Fonte: Dados da Pesquisa

A – BOVINO + MILHO + FEIJÃO

B - BOVINO+MILHO+FEIJÃO+OVINO/CAPRINO C – BOVINO+MILHO+FEIJÃO+HORTA

D – BOVINO+MILHO+FEIJÃO+HORTA+OVINO/CAPRINO E – MILHO+FEIJÃO

F - SUINO+MANDIOCA+MILHO+FEIJÃO

3.3 Sazonalidade

Os produtos comercializados pelos assentados no mercado são representados pelos excedentes de milho (cerca de 50%), a abóbora e eventualmente uma parcela do estoque de animais disponíveis. A abóbora, por ser cultivada em áreas de vazante produz praticamente o ano todo, o que poderia se traduzir numa certa estabilidade de renda, embora pequena. A produção global do assentamento é de 3 t/mês e os produtores recebem R$ 300,00/t de abóbora, sendo o transporte efetuado mensalmente por caminhão e custeado pelo comerciante. Como não existe nenhum tipo de contrato entre o comerciante e os assentados, estes não possuem salvaguardas e são sujeitos a todo tipo de atitudes oportunistas (Zylbersztajn, 2000). A solução encontrada é o transporte em ônibus com horário pré-definido ao custo de R$ 10,00 por frete de 8 volumes (sacos de nylon com 60kg). O milho é sujeito ao regime de safra e entressafra, sendo esta última, a época ideal para comercializar o produto por vigorar sempre melhores preços. Como produzem em volumes baixos, dispõem de pouco capital de giro e têm dificuldades para obtenção de crédito, os produtores enfrentam enorme dificuldades para lidar com o problema da sazonalidade. Cerca de 10% são induzidos a vender a produção na “folha6”, por R$ 10,00/saco. Os menos descapitalizados, numa situação um "pouquinho" melhor, vendem no período imediato após a colheita, quando conseguem o preço de R$ 13,00/saco de 60 kg. A venda na entressafra é justificada por uma necessidade de negociação da produção de subsistência a um preço de R$ 18,00 e isto se deve a venda de animais nos momentos críticos e que permitem a retenção de uma parcela da produção agrícola para ser vendida na época de melhores preços. Ressalte-se que quem faz praticamente toda a intermediação é um produtor-comerciante que reside no assentamento.

Os agricultores familiares, que produzem em volume mais baixo e portanto, sem economia de escalas tem como uma das saídas, a construção e utilização de armazéns de forma associativa. O papel da assistência técnica seria estimular e promover um certo grau de organização e coordenação a partir de uma demonstração simples e clara dos

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resultados econômicos que poderiam ser obtidos pelos assentados mediante análise benefício-custo da infra-estrutura básica de armazenamento comunitário. Isto ocorre através da introdução de tecnologia de gestão.

3.4. Perecibilidade da Matéria - Prima

Observou-se no assentamento durante o período de vivência que a principal matéria – prima produzida (milho) é conservada de uma maneira bastante artesanal. Com o término da colheita da safra, as sementes são separadas e acondicionadas em garrafas de plástico (refrigerantes) hermeticamente fechadas para o próximo plantio. Parte da produção (50%) é armazenada em tambores ou tubos (ambos de 200 litros) e alocados, por falta de armazens, na própria residência. A outra parte da produção (50%) é negociada dentro do assentamento logo após o término da colheita, embalados em sacos de nylon de 60Kg, devido a falta de estrutura das residências para alocar uma grande produção e pela necessidade de complementar a renda familiar.

Por não existir abatedouro no local, e frigoríficos, os animais são vendido em pé, e os benefícios econômicos decorrentes da utilidade de tempo e de transformação do produto pecuário são apropriados por terceiros, dado que as funções de comercialização devem ser feitas por alguém. Se houvesse agregação de valor da produção animal no próprio assentamento, a retenção do excedente de milho para venda na entressafra seria maior, conforme mencionado anteriormente, evidenciando que o sistema de produção é totalmente interdependente.

A perecibilidade é um fator importante no caso da agricultura familiar em termos gerais e do assentamento Vida Nova em particular por não haver produção em escala suficiente para justificar a aquisição e manutenção de infra-estrutura que permita a conservação da produção. Por isso é importante introduzir técnicas e meios para o desenvolvimento da pequena indústria rural. Neste caso, tecnologia de gestão de redes poderia gerar forte sinergia e contribuir para a articulação de todos os assentados do município de Canindé, que tem o potencial favorável de possuir uma classe numerosa e permitir produzir com escala adequada.

3.5. Qualidade e Vigilância

O acentuado processo de urbanização e a crescente necessidade de assegurar à população alimentos em quantidade e qualidade aceitáveis faz com que este setor seja objeto de uma vigilância cada vez maior por parte do governo. É cada vez maior e complexo o número de normas para controlar o processo de produção e a qualidade do produto levado ao mercado e/ou utilizado como insumo.

Essas exigências afastam e inibem os produtores familiares de produtos e processos que requeiram a submissão e observância da intricada malha que envolve a legislação brasileira. Os assentados que residem no projeto Vida Nova não fogem a regra e relutam em percorrer caminhos desconhecidos apontados pelo governo e preferem permanecer no nada "burocrático" milho e feijão, que pelo menos tem garantido o seu sustento e reprodução da força de trabalho.

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conhecer e aplicar tecnologias de gestão em seus sistemas de produção para melhorar suas qualidades de vidas, o que vai depender basicamente de um adequado serviço de ATER.

4 CONCLUSÕES

O estudo identificou 5 sistemas de produção e em todos prevalecem as culturas de milho e feijão. O objetivo da produção é o auto-consumo sendo os excedentes destinados ao mercado e a renda obtida permite a aquisição de bens de consumo.

Existe algumas estratégias adotadas pelos assentados para a redução dos riscos da atividade agropecuária, destacando-se o esforço para diversificação. A difusão de tecnologias de produto e de processo predomina sobre as tecnologias de gestão, fato que contribui para aumentar a vulnerabilidade dos assentados na comercialização dos seus produtos.

Um dos problemas mais sérios que envolvem os assentados é a ausência de ações cooperativas que impedem uma maior participação, organização e coordenação em torno de infra-estruturas associativistas que poderiam contribuir para neutralizar ou amenizar os reflexos da falta de escala de produção. O serviço de ATER e outras ações públicas não encontram-se devidamente sintonizados com o contexto da agricultura familiar, em parte não respeitando os seus valores socioculturais e a sua lógica produtiva, com reflexos profundamente negativos e resultados pífios.

A identificação da discrepância entre um modelo mercadológico moderno e a realidade da agricultura familiar e campesina servem de subsídios para uma melhor percepção e entendimento de um processo que favorece a subsistência da própria família e a garantia da segurança alimentar.

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