Profº Rafael Arruda
Distúrbios
de
Hiponatremia
A hiponatremia Constitui um distúrbio muito
frequente na prática clínica, tornando-se muitas vezes um desafio diagnóstico, sendo definida como sódio sérico menor que 135 mEq/L.
Hiponatremia
Achados clínicos
■ Sintomas sistêmicos: fraqueza, adinamia, anorexia, fadiga, vômitos, mal-estar.
■ Manifestações neurológicas: costumam ser progressivas e dependem do valor do sódio sérico e da velocidade de instalação. Incluem:
Hiponatremia
Na avaliação das causas de hiponatremia, uma etapa importante é detalhar todas as medicações que o paciente usa e checar se alguma delas pode causar hiponatremia.
Hiponatremia
Fatores que aumentam o risco de hiponatremia são: idade avançada (> 75 anos), sexo feminino, uso de vários medicamentos, insuficiência renal e presença de comorbidades.
Hiponatremia
Os principais medicamentos que podem causar hiponatremia são: ■ Diuréticos tiazídicos.
■ Antipsicóticos.
■ Antidepressivos.
■ Inibidores da recaptação de serotonina.
■ Estabilizadores do humor e anticonvulsivantes.
■ Benzodiazepínico. ■ Opioides. ■ Clorpropramida. ■ Clofibrato. ■ Ciclofosfamida. ■ Vincristina
Hiponatremia
Deve-se buscar sinais de aumento do volume do espaço extracelular, isto é, se o paciente apresenta algum estado edematoso (ascite, edema de membros inferiores).
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Principais causas Hiponatremias hipotônicas hipervolêmicas : insuficiência cardíaca,
insuficiência hepática,
Hiponatremia
Se o paciente tiver sinais ou sintomas de desidratação ou de hipovolemia, o quadro provavelmente é de hiponatremia hipotônica hipovolêmica.
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■ Rins: diuréticos, hiperglicemia com diurese osmótica, insuficiência adrenal, nefropatia perdedora de sal ou acidose tubular renal.
Hiponatremia
Hiperglicemia: ocasiona uma perda de sódio pela diurese osmótica junto com uma translocação de água do intra para o extracelular na tentativa de diminuir a osmolalidade plasmática.
Hiponatremia
Hiponatremia hipotônica euvolêmica. ■ Pode ser um hipotireoidismo? ■ Pode ser insuficiência adrenal? ■ Pode ser transtorno psiquiátrico?
Hiponatremia
Investigação da causa da hiponatremia Pode ser uma pseudo-hiponatremia? Quais medicamentos o paciente usa? Ele(s) pode(m) causar hiponatremia?
Há sinais de aumento do volume extracelular?
Há sinais de desidratação ou hipovolemia? Se positivo, avaliar o sódio urinário; pode ser renal ou extrarrenal.
Há hiperglicemia?
Pode ser transtorno psiquiátrico?
Sempre pensar em hipotireoidismo e insuficiência adrenal. HIV? Uso de tiazídico?
Tudo acima negativo? Pode ser uma SSIADH. Avaliar pulmão, sistema nervoso central ou câncer.
Hiponatremia
Os princípios do tratamento da hiponatremia são:
■ Suporte clínico: corrigir distúrbios hemodinâmicos, hipoxemia, infecções etc.
■ Tratar a causa de base.
■ Aumento do sódio sérico com muita cautela mediante fórmula de correção do sódio.
RESUMO
■ Hiponatremia é comum na prática clínica e tem múltiplas causas.
■ Não corrigir rapidamente o sódio sérico, para evitar a síndrome de desmielinização.
■ Variação máxima do sódio sérico: 0,5 a 1 mEq/L/h ou 12 mEq em 24 horas.
■ No diagnóstico diferencial das causas de hiponatremia, sempre considerar efeito de medicações.
■ Nas hiponatremias dilucionais (IC, cirrose, síndrome nefrótica, insuficiência renal) sem sintomas
neurológicos, o tratamento é apenas restrição hídrica.
■ Em pacientes com hiponatremias associadas a desidratação e hipovolemia, o tratamento é com soro
fisiológico até estabilização hemodinâmica.
■ Usar soluções hipertônicas (NaCl 3%) apenas quando houver sinais e sintomas do sistema nervoso
central (confusão, rebaixamento do nível de consciência, convulsões).
■ Na SSIADH pode ser necessário associar solução hipertônica com furosemida ou antagonizar o ADH
com lítio ou demeclociclina.
Hiponatremia
Hipernatremia
Hipernatremia é definida como uma concentração sérica de sódio maior que 145 mEq/L.
Principais causas de hipernatremia
■ Medicamentos: diuréticos de alça, lítio, anfotericina B, foscarnet e demeclociclina. ■ Alterações eletrolíticas: hipercalcemia ou hipocalemia (causando diabetes insípidus nefrogênico adquirido).
■ Hiperglicemia com diurese osmótica e perda de água. ■ Doença renal intrínseca (perda de água livre).
■ Fase poliúrica de necrose tubular aguda (inclui pós-alívio de obstrução de vias urinárias).
■ Perdas pelo trato gastrintestinal (vômitos, diarreia, fístulas, sonda nasogástrica). ■ Perdas pela pele (queimadura ou sudorese excessiva).
■ Diabetes insípidus (central e nefrogênico).
Hipernatremia
A hipernatremia ocasiona sede intensa, fraqueza muscular, confusão, déficit neurológico focal, convulsões e coma.
Hipernatremia
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Entretanto, muito cuidado ao atribuir déficits neurológicos localizatórios à hipernatremia. Nessa situação, uma
tomografia de crânio é mandatória.
A hipernatremia costuma ocorrer em indivíduos que não têm ou não conseguem ter acesso à água, seja por uma doença neurológica prévia, seja porque o quadro atual é uma doença grave ou uma doença
neurológica ativa.
Hipernatremia
O tratamento da hipernatremia tem três objetivos:
§ Hidratação do paciente; manter a volemia e corrigir instabilidade hemodinâmica é a mais importante etapa no manejo inicial da hipernatremia.
§ Não permitir a redução rápida e brusca do sódio para evitar lesões adicionais no SNC.
§ Tratar a causa de base (doença desencadeante).
Hipernatremia
Hipernatremia
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Príncipios do tratamento da Hipernatremia
Paciente hipovolêmico: a prioridade é soro fisiológico, até conseguir estabilização hemodinâmica (pressão arterial e pulso adequados).
Após a estabilização hemodinâmica, deve-se trocar a reposição volêmica para soro hipotônico (0,45% ou 0,22%).
Taxa máxima de redução do sódio sérico para evitar edema cerebral iatrogênico: Máximo de 12 mEq em 24 horas.
RESUMO
■ Os três grandes grupos de hipernatremia são:
pacientes que não têm acesso a água (sequelas neurológicas), pacientes com uma doença aguda grave,
diabetes insípidus.
■ A prioridade inicial é restaurar a volemia:
soro fisiológico até conseguir uma boa pressão de perfusão tecidual. ■ Corrigir o sódio lentamente.
■ A variação máxima de sódio em 24 horas é de 12 mEq/L, uma correção mais rápida leva a edema cerebral
Hipernatremia
Distúrbios do
Potássio
Hipocalemia é definida como uma concentração sérica de potássio menor que 3,5 mEq/L.
■ Diminuição da ingestão
■ Translocação do extracelular para o intracellular ■ Perdas pelo trato gastrointestinal
■ Perdas renais
Causas de Hipocalemia
Alcalose metabólica
Anfotericina B e Altas doses de penicilina ß agonistas
Diarréia Vômito
Diuréticos de alça e tiazídicos Insulinoterapia
Nefropatias Tireoxicose
Reposição de folato e ou Vitamina B12 Sudorese excessiva
Diminuição de ingestão
Achados clínicos
As alterações eletrocardiográficas podem ser sutis, e incluem:
■ Ondas U (concavidade para baixo ao final da onda T). ■ Achatamento da onda T.
■ Depressão do segmento ST.
■ Arritmias (principalmente em cardiopatas e em usuários de digitálicos).
■ Atividade elétrica sem pulso ou assistolia.
O tratamento da hipocalemia pode ser dividido em:
■ Suporte clínico: tratar desidratação, vômitos, estabilização hemodinâmica e respiratória.
■ Tratamento da doença de base.
■ Reposição do potássio.
Hipocalemia
Prof. Rafael ArrudaTratamento da Hipocalemia
A via oral é a prioridade, pois é mais segura.
Evite usar potássio intravenoso quando a concentração sérica estiver acima de 3 mEq/L. Soluções de potássio muito concentradas devem ser evitadas, pois podem causar flebite. Concentração máxima em veia periférica = 40 mEq/L.
Concentração máxima em veia central = 60 mEq/L.
Velocidade ideal para reposição de potássio = 5 a 10 mEq/hora.
Em situações de hipocalemia, evite repor potássio em soluções com glicose ( paradoxalmente pode piorar a hipocalemia).
K<2,5 mEq/L KCL19,1%20ml + SF0,9% 480ml Correr em 2h K entre 2,6 a 3,0 mEq/L KCL19,1%20ml + SF0,9% 480ml Correr em 4h K entre 3,1 a 3,5 mEq/L KCL19,1%10ml + SF0,9% 240ml Correr em 2h
CONCENTRAÇÕES PARA REPOSIÇÃO
RESUMO
■ Os achados eletrocardiográficos incluem presença de onda U, achatamento de ondas T e depressão do segmento ST.
■ Hipocalemia pode causar alterações na excitabilidade nervosa e muscular. ■ As causas de hipocalemia são variadas e incluem: uso excessivo de diuréticos, diarreia, vômitos, hiperaldosteronismo, estenose de artéria renal etc.
■ O tratamento da hipocalemia deve ser feito preferêncialmente por via oral. ■ Ao repor potássio intravenoso, evite soluções muito concentradas e infusão rápida.
■ A reposição de potássio deve durar algumas semanas, com o intuito de se repor o potássio intracellular.
■ As complicações de hipocalemia incluem arritmias, tetraparesia flácida, hipoventilação e PCR.
Definida pela concentração sérica de potássio > 5 mEq/L, especialmente acima de 5,5 mEq/L.
Causas de Hipercalemia
Acidose metabólica.
Medicamentos: anti-inflamatórios não esteroidais, antagonistas dos receptores da angiotensina II, b-bloqueadores, diuréticos poupadores de potássio, IECA, intoxicação digitálica, succinilcolina, heparina, trimetoprim, ciclosporina, pentamidina.
Hemólise.
Hipoaldosteronismo hiporreninêmico (acidose tubular renal tipo IV). Iatrogenia: pacientes internados com potássio endovenoso.
Insuficiência adrenal.
Insuficiência renal: aguda ou crônica avançada Rabdomiólise.
As manifestações clínicas são inespecíficas e podem se confundir com a própria doença de base:
Hipercalemia
Prof. Rafael ArrudaExames Complementares
ECG alterações de ondas T e P, arritmias
Função renal, gasometria e urina tipo I: podem sugerir uma causa renal para hipercalemia. Glicemia, cetonúria: descompensação diabética.
Creatinafosfoquinase: quando muito aumentada, sugere rabdomiólise. Exames de função adrenal: suspeita de Addison.
5 a 6 mEq/l 6,1 a 7 mEq/l > 7 mEq/l Furosemida 1mg/kg IV de 4/4h Sorcal 30g em 100ml de mannitol 20% de 4/4h Inalação com ß2 de 4/4h Solução polarizante: 1O UI de insulina regular + 100ml de Glicose hipertônica 50%
Diálise Deve ser avaliado Deve ser avaliado
Hipercalemia
Prof. Rafael ArrudaGluconato de cálcio a 10% é indicado quando houver qualquer alteração
eletrocardiográfica compatível com hipercalemia, independentemente do nível sérico do potássio, entretanto, ele não deve ser usado de forma profilatica.
■ Dilui-se 10 a 20 mL do gluconato de cálcio em 100 mL de cloreto de sódio 0,9% ou em soro glicosado e infunde-se em dois a cinco minutos.
■ Repetir o ECG após a infusão.
■ Se persistirem as alterações no eletrocardiograma, pode-se repetir o gluconato de cálcio.
Complicações
Associadas ao tratamento da hipercalemia: ■ Hipoglicemia ou hiperglicemia.
■ Sobrecarga de volume e edema agudo de pulmão. ■ Diarreia (sorcal).
Associadas ao alto nível sérico de potássio: ■ Hipoventilação e fraqueza muscular. ■ Arritmias.
■ Parada cardiorrespiratória.
RESUMO
■ Hipercalemia é frequente e pode gerar consequências graves.
■ O diagnóstico é feito pela dosagem sérica, embora alterações de ECG possam sugerir hipercalemia e indicar início de tratamento antes do resultado dos exames laboratoriais. ■ Cálcio intravenoso é indicado para estabilizar eletricamente o miocárdio, quando
houver alterações de ECG sugestivas de hipercalemia.
■ O tratamento da hipercalemia inclui medidas que translocam o potássio do extracelular para o intracelular, e medidas que reduzem a concentração corporal de potássio (resinas e diálise).
■ A via preferida para o uso das resinas de troca é a via oral, com uso de manitol ou sorbitol associados.
■ O bicarbonato de sódio só está indicado em paciente com condições que podem levar a acidose.
Hipercalemia
Prof. Rafael ArrudaØGluconato de Ca10% 10ml IV
Se ECG alterado:
ØFurosemida 1mg/kg IV ØSorcal + Manitol ( Via oral )
ØDiálise ( Quando necessário)
Remover Potássio
ØGlicose 50% 100ml+ 10UI insulina regular IV ØSalbutamol via inalatória
ØBicarbonato em caso de acidose
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