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Assunto: Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do PE Torre de Moncorvo

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Academic year: 2021

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Ex.mo Sr. Presidente, Agência Portuguesa do Ambiente

Rua da Murgueira 9/9A Zambujal Apartado 7585- Alfragide 2721-865 Amadora Lisboa, 01 de Setembro de 2015

Assunto: Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do PE Torre de Moncorvo

Ex.mo Sr.

Diretor-Geral da Agência Portuguesa do Ambiente,

A SPEA vem submeter junto das entidades competentes o seu parecer técnico referente ao Estudo de Impacte Ambiental, do Projeto de Parque Eólico de Torre de Moncorvo.

Introdução

Proponente: PARQUE EÓLICO DE MONCORVO, UNIPESSOAL, LDA (Island Renewable Energy)

Autoridade de AIA: Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. EIA elaborado por: Procesl, Lda.

prazo final de consulta pública: 01/09/2015

Para este comentário foi analisado o EIA disponível no site da APA: http://www.participa.pt/consulta.jsp?loadP=563

ANTECEDENTES

O EIA anterior foi considerado desconforme (maio 2014), para um projecto que apresentava apenas um layout dos aerogeradores.

DESCRIÇÃO PROJECTO

O projecto compreende 30 aerogeradores de 2 MW cada, duas linhas de alta tensão (60 kV), com 5,2 km no total, para ligação à rede elétrica existente. Haverá também uma linha elétrica de média tensão (30 kV), com 2,5 km que fará a ligação entre duas cumeadas do PE. As restantes linhas a 30 kV serão enterradas. Para os acessos ao parque prevê-se o alargamento de 23 km de caminhos existentes e cerca de 6 km de caminhos novos.

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O projeto apresenta duas alternativas: o layout A e o layout B. A maior diferença entre os layouts reside em quatro aerogeradores, que se encontram a sul de Lousa, no layout A (v. figura 1) e que foram transferidos para norte de Lousa, no Layout B.

O projeto compreende também um edifício, a subestação e um posto de corte, na interligação com a rede elétricas existente.

ÁREAS CLASSIFICADAS

ADV – Alto Douro Vinhateiro património Mundial pela UNESCO e respectiva Zona Especial de protecção (ZEC)

Não está incluído em nenhuma zona classificada pelo seu valor ecológico (Rede Natura 2000 ou Area Protegida) ou IBA

 CARACTERIZAÇÃO DA AVIFAUNA

No descritor dos aspectos ecologicos, refere “espécies de rapina com estatuto ameaçado ou quase ameaçado e que representam um risco de colisão com aerogeradores, designadamente, águia-calçada, águia-cobreira, tartaranhão-caçador, milhafre-preto, milhafre-real e grifo. Destas cinco espécies, de estatuto de conservação desfavorável, destaca-se o Grifo e a Águia-cobreira com mais de 70% do total das observações, o que atesta bem a utilização desta área por parte destas duas espécies, como territórios de caça/alimentação e repouso, ou mesmo de potencial nidificação”.

Refere ainda a nidificação, a sul da área de estudo de ninhos de águia-perdigueira, a nascente, de águia-real e nas encostas do Douro, de britango (abutre-do-egito). Nos comentários deste parecer aprofunda-se a análise da caracterização da situação de referência.

AVALIAÇÃO DE IMPACTES E MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO RELEVANTES PARA AS AVES:

A análise de impactes para a fase de exploração salienta a utilização da área do parque eólico por aves de rapina e conclui que “Assim os impactes associados à mortalidade directa de avifauna durante a fase de exploração consideram-se como negativos, directos, permanentes, prováveis, irreversíveis, de média magnitude, pouco significativos a muito significativos (dependente do estatuto de conservação das espécies afectadas).” (Pág. 489 do relatório Síntese)

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MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO E PLANO DE MONITORIZAÇÃO:

As medidas de minimização destinadas à avifauna são traduzidas essencialmente pela redução, aos mínimos que a segurança aeronáutica permite, das luzes de sinalização das torres eólicas,

O EIA prevê medidas compensatórias para a avifauna, nomeadamente:

a. melhoria de habitat para as aves de rapina (como por exemplo, construção de morouços e sementeiras para coelhos, plantação de espécies autóctones, entre outros);

b. construção e manutenção de alimentadores para aves necrófagas.

O EIA prevê, entre outros, a monitorização da avifauna durante 3 anos, para avaliação dos impactes directos dos aerogeradores, linhas de média e alta tensão (mortalidade) (pág. 538 do relatório Síntese).

COMENTÁRIOS (NOTAS):

O EIA demonstra algumas omissões entre a informação apresentada nos Anexos e o texto do relatório síntese. Seguidamente apresentam-se as lacunas detetadas na situação de referência do EIA, no que respeita à avifauna.

O Relatório Síntese (datado de janeiro 2015) refere a existência de 3 casais de águia- perdigueira (Aquila fasciata) nas encostas do rio Douro, imediatamente a Sul da área de estudo, e a nidificação confirmada da espécie na área envolvente até 2010.

Contudo, apenas é descrito um casal de águias-perdigueiras que nidificou na Fraga da Ola em 2004 (Fráguas et al. 2006), junto a Pinhal do Douro. Este ninho é referido no EIA como “ninho 4” e situa-se a menos de 1,5km do local de implantação do aerogerador mais próximo (AG24). Os trabalhos de campo para o EIA (março a dezembro de 2014) indicaram que o ninho ainda se encontrava no local mas não foi ocupado para reprodução, tendo apenas sido recuperado/preparado por espécie indeterminada nesse ano, sendo ainda salvaguardado que poderá tratar-se de “um ninho secundário que não foi escolhido para nidificação” e “que o facto de não ter sido utilizado este ano, não implica que não o venha a ser novamente no futuro, pois sabe- se que nesta espécie cada casal possui, em geral, vários ninhos que utilizam de forma alternada”.

A presença de águia-perdigueira na área de estudo do projeto foi confirmada durante os trabalhos de campo do EIA na época de invernada de 2014 (dezembro) com uma observação de um indivíduo adulto na área do Parque Eólico, na proximidade do local de implantação do aerogerador 24 (entre este e o “ninho 4”).

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Para além do ninho 4 “Fraga da Ola”, o EIA refere que foram localizados mais 3 ninhos referenciados pelo ICNF para a área de estudo (ninho 1 “Meandro do Douro”, ninho 2

“Cabeça Boa” e ninho 3 “Lousa”), os quais pertencem a espécie indeterminada e não foram igualmente ocupados durante os trabalhos de campo. O EIA refere ainda que não foram detetados novos ninhos na área do projeto.

Porém, o ICNF identifica em imagem de satélite no “Anexo III – Entidades Contactadas” do EIA mais 5 ninhos ativos na área de estudo do projeto (para além do ninho 4 “Fraga da Ola” e aparentemente do ninho 1 “Meandro do Douro”) que não foram prospetados e monitorizados durante os trabalhos de campo.

Um destes ninhos localiza-se junto ao ninho 1 “Meandro do Douro” e ambos são referenciados como pertencente a águia-perdigueira pelo ICNF. Esta área de nidificação com 2 ninhos, a mais de 7km do ninho conhecido do casal da Fraga da Ola, identifica provavelmente o local de nidificação de um dos outros 2 casais da espécie nas imediações da área de implantação do Parque Eólico.

Os restantes 4 ninhos referenciados pelo ICNF neste Anexo III – não prospetados ou monitorizados durante o EIA – pertencem a espécies com semelhante estatuto de conservação “Em Perigo” como a águia-real (Aquila chrysaetos) e o britango (Neophron percnopterus), sendo que o ninho de águia-real se localiza a pouco mais de 2km do aerogerador mais próximo.

Neste sentido, destaca-se que os trabalhos de campo descritos no EIA são insuficientes no que se refere aos métodos utilizados e áreas amostradas durante a monitorização e prospeção de locais de nidificação, em particular quanto ao esforço de amostragem (número de horas) efetuado nos pontos de observação dos ninhos referenciados pelo ICNF e na prospeção de novos ninhos.

Apesar do EIA considerar como significativos a muito significativos os impactes negativos da fase de exploração do Parque Eólico e linhas elétricas associadas nas aves de rapina e planadoras, a situação de referência e os impactes são descritos superficialmente, sem enquadrar devidamente os efeitos e consequências nas espécies com estatuto de conservação desfavorável que ocorrem na área de estudo (confirmadas ou não durante os trabalhos de campo), apresentando por vezes lacunas, imprecisões ou incongruências, como por exemplo:

 A presença de 3 casais de águia-perdigueira a sul da área de implantação do Parque Eólico e da sua nidificação até 2010 não está patente no capítulo

“Caracterização actual do estado do ambiente – Sistemas Ecológicos”, sendo apenas referido numa única ocasião no capítulo “Identificação e Avaliação de Impactes – Sistemas Ecológicos” (página 334).

 Na avaliação dos impactes na avifauna relativos à fase de construção do Parque Eólico, apenas é dada relevância à proximidade dos ninhos 2 “Cabeça Boa” e 3 “Lousa” aos aerogeradores (página 348), sendo que os restantes (monitorizados ou não) se encontram igualmente próximo de aerogeradores. Refere-se novamente que o ninho 4 “Fraga da Ola”, com indícios de recuperação em 2014, se localiza a menos de 1,5km do aerogerador 24.

 Na descrição do elenco avifaunístico detetado durante os trabalhos de campo do EIA (página 171) é referida a observação de um exemplar de águia-

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relativa à mortalidade direta associada aos aerogeradores (página 334), é referido que não se confirmou a presença desta espécie na área de estudo ou na área envolvente.

 O Resumo Não Técnico (datado de julho 2015) refere que a águia-real, o britango e o tartaranhão-azulado também foram detetados no campo mas em nenhum momento do EIA é referida a observação destas espécies no terreno, tendo até sido ressalvado o contrário para as primeiras (páginas 172 e 334). Considerando:

1. Que são conhecidos 3 casais de águia–perdigueira na envolvente da área de estudo;

2. Que a presença de águia-perdigueira foi confirmada relativamente próximo de um local de implantação de um aerogerador (AG24);

3. Que o ninho na Fraga da Ola foi recuperado/preparado durante o período de amostragem do EIA, podendo constituir um ninho alternativo do casal de águia- perdigueira conhecido na área;

4. A existência de mais ninhos referenciados pelo ICNF e casais de águia- perdigueira (para além do casal da Fraga da Ola) que não foram prospetados ou monitorizados durante o período de amostragem do EIA;

5. A inexistência de monitorização regular dos casais de águia-perdigueira da bacia do rio Douro, que permitiria obter informação atual de base sobre a sua ocorrência, locais de nidificação, áreas mais utilizadas e limites territoriais; 6. A falta de clareza nos métodos e esforço de amostragem aplicados na

prospeção e monitorização de ninhos de aves de rapina e outras planadoras rupícolas com estatuto de conservação;

7. A importância das fragas do rio Douro, onde a área de estudo se insere, para aves com estatuto de conservação desfavorável;

8. A descrição e análise pouco cuidada da situação de referência – sendo até imprudente e negligente no que se refere aos locais críticos de nidificação – e dos potenciais impactes da infraestrutura no que se refere às espécies avifaunísticas com estatuto de conservação desfavorável, que culminam na afirmação “considera-se que, para a elaboração do presente relatório, foram obtidos os dados necessários para o estabelecimento da situação de referência, bem como os elementos do projecto essenciais para a determinação dos principais impactes, considerando-se portanto que as lacunas referidas não interferem com a validade das conclusões alcançadas, pelo que se assume o presente estudo como um instrumento válido de apoio à tomada de decisão sobre o projecto do Parque Eólico de Torre de Moncorvo.”; A SPEA considera que existem graves lacunas de conhecimento no que se refere à ocorrência e nidificação a águia-perdigueira e de outras espécies com estatuto de conservação desfavorável na área de estudo do Parque Eólico de Torre de Moncorvo. A degradação do habitat e a potencial mortalidade por colisão com aerogeradores associadas à instalação de parques eólicos constituem ameaças não negligenciáveis à população de águia-perdigueira em Portugal, em particular para a população rupícola do Nordeste Transmontano que se encontra em regressão.

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A SPEA considera, assim, que são necessários estudos rigorosos e aprofundados, com maior esforço de amostragem de campo e metodologias direcionadas a esta espécie de hábitos discretos, que identifiquem o tipo de ocorrência da águia- perdigueira (e de outras espécies com estatuto de conservação) na área de estudo do projeto, as suas áreas mais utilizadas e que permitam avaliar corretamente os impactes desta infraestrutura, sendo que a sua instalação deve ser interdita em áreas sensíveis – como as áreas de caça dos casais e a área envolvente aos ninhos num raio de pelo menos 2 km.

Relembra-se ainda que a águia-perdigueira é uma espécie do Anexo I da Diretiva Aves, com estatuto de conservação prioritário. A degradação do local de nidificação e de outros locais de dependência desta espécie está interdita à luz daquela diretiva e da legislação nacional.

A avaliação de impactes estabelece uma variação de impactes demasiado vasta e subjectiva para poder ser útil a uma análise de impactes objetiva (v. pág. 2 deste parecer), embora não omita que o impacte direto, derivado das estruturas e instalar no PE, pode ser muito significativo sobre espécies com elevado valor conservacionista. Por outro lado, ignora totalmente os impactes derivados do efeito de exclusão das eólicas sobre os territórios de rapinas, nomeadamente de espécies protegidas como são a águia-perdigueira e a águia-real.

A gravidade deste impacte também não transparece nas medidas de minimização, já que a única medida com alguma incidência sobre as aves é a redução da intensidade da sinalização luminosa, o que é inútil para aves diurnas, como as águias.

As medidas de compensação, destinadas à promoção de habitat de substituição e promoção de população-presa (marouços para coelhos) para as espécies de aves de rapina e alimentadores para abutres, também são ineficazes para os impactes diretos, pois não é isso que irá compensar os acidentes mortais com espécies protegidas.

O plano de monitorização, por seu turno, destina-se apenas a avaliar os impactes diretos na mortalidade e esquece-se de avaliar o efeito de exclusão e consequente perda de habitat nos casais conhecidos de grandes águias, que suportaria o cálculo das quantidade necessárias de espécie-presa para compensar a redução de alimento, nos territórios alternativos para as águias.

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CONCLUSÃO

O projeto apresenta infra-estruturas muito próximas de vários ninhos de aves ameaçadas e protegidas, e não apresenta, alternativas que se diferenciem em relação aos principais impactes, não apresenta medidas específicas para evitar o impactes significativos e chega mesmo a incluir o plano de monitorização como parte integrante das medidas de minimização, o que é evidentemente errado.

Assim, deveriam ser apresentadas alternativas que realmente minimizem os impactes previstos sobre as espécies protegidas, o que não acontece com o presente projeto. As linhas elétricas, dado situarem-se em áreas críticas para aves de rapina, devem seguir as indicações do ICNF sobre projetos de estruturas lineares e integrar desde logo medidas minimização que são eficazes, tais como a sinalização da linha contra colisão e a proteção da linha MT contra eletrocussão.

Desta forma, a SPEA considera que este EIA e o projeto são insuficientes para a identificação cabal dos impactes sobre a biodiversidade e a sua minimização. Defende uma reformulação do projeto, que estude de forma exaustiva e precisa a situação de referência em termos de biodiversidade e que contemple alternativas verdadeiras de localização das componente do projeto, para a proteção da avifauna.

Figura 1 – Localização dos aerogeradores do Parque eólico de Torre de Moncorvo, sobreposta com as áreas críticas (padrão quadriculado) e muito críticas (círculos delimitados a vermelho) para as aves de rapina (informação on-line do ICNF).

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A SPEA está disponível para reunir com quaisquer intervenientes neste processo, e reserva-se o direito de adicionar ou alterar esta resposta à luz de novos dados que possam surgir,

Com os melhores cumprimentos,

Domingos Leitão

Coordenador do Programa Terrestre

CC:

Diretor -Geral da APA

Secretário de Estado do Ambiente

Presidente do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade DG Ambiente da Comissão Europeia

Referências

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