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Fichamento Vigiar e Punir Michel Foucault Primeira Parte Suplício Capítulo I O corpo dos condenados O livro inicia com exemplos de como mudou a forma

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Academic year: 2021

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Fichamento “Vigiar e Punir – Michel Foucault”

Primeira Parte – Suplício

Capítulo I – O corpo dos condenados

O livro inicia com exemplos de como mudou a forma de punir o condenado, passando do espetáculo e da extrema violência contra o condenado para detenção vigiada e controlada, destacando o pequeno lapso temporal entre ambos. Traz uma introdução ao processo de transformação da punição do século XVIII ao XIX, realçando o fim dos suplícios. “A execução pública é vista então como uma fornalha em que se acende a violência”. O fim dos suplícios não demonstrava somente o fim do espetáculo, mas também do domínio sobre o corpo.

Por mais que o corpo ainda esteja presente na punição, não é mais atingido diretamente, passa a ser um instrumento intermediário sem sofrimento físico e marcações simbólicas.

No século XIX entra-se na época da “sobriedade punitiva” e o ato de punir não vê mais o suplício como demonstração de poder e sim como um ato de tirania.

Houve afrouxamento da severidade penal junto com o deslocamento do objeto da ação punitiva, do corpo passa a ser a alma.

Princípio de Mably: “Que o castigo, se assim posso exprimir, fira mais a alma que o corpo”

Substituição de objetos: o “objeto” crime foi alterado, além dos delitos expostos nos códigos também julgam-se “paixões, os instintos, as anomalias, as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente ou de hereditariedade”. Não se julga mais a pessoa do criminoso em si, julga-se até que ponto sua vontade estava envolvida no crime. Utilização das “circunstâncias atenuantes”. Julgar passou a ser a procura pela verdade bem fundada e dependia de três condições, “conhecimento da infração”,

“conhecimento do responsável” e “conhecimento da lei”.

Os juízes não julgam mais sozinho, está acompanhado de “pequenas justiças e juízes paralelos”, como “peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da aplicação das penas, educadores, funcionários da administração penitenciaria”.

Traz a linha de pensamento de Rusche e Kirchheimer: A penalidade não é uma maneira de reprimir os delitos, antes de tudo. As medidas punitivas não são simplesmente mecanismos negativos. Eles estabeleceram a relação entre os sistemas de produção e os regimes punitivos.

Capítulo II – A ostentação dos suplícios

Na época dos suplícios a penas variavam de acordo com “costumes, a natureza do crime, o status dos condenados”, entre outros.

Estabelece os critérios seguidos para realizar o suplício: a quantidade de sofrimento deve poder ser apreciada, comparada e hierarquizada, “repousa na arte quantitativa do sofrimento”; há uma correlação entre o suplício e o criminoso, é calculada por regras detalhadas que vão desde o número de golpes a se receber, a localização de onde ocorrerá o suplício ou o tempo de exposição. O suplício faz parte de um ritual, deve ser

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marcante em relação à vítima e deve ser ostentoso, “a justiça persegue o corpo além de qualquer sofrimento possível”.

A execução pública tem como função de fazer o “culpado o arauto de sua própria condenação” proclamando-a e atestando sua veracidade. Confessar publicamente para um “reconhecimento espontâneo”, ou seja, um momento para a exposição da verdade mesmo que forçada. Remontar o crime no suplício, seja a realização na cena do crime ou qualquer valor simbólico que remeta ao delito. Muitas vezes realiza-se uma

reprodução quase que teatral do delito pela forma do suplício. Por fim, era um momento também visto como do arrependimento e de ligação do homem com a religião, “o que morre com os sentimentos mais cristãos, e demonstra mais sincero arrependimento”.

O suplício também deve ser visto como um ritual político, de exibição do poder do soberano (“o crime, além de sua vítima imediata, ataca o soberano”), ou seja, o castigo também deveria reparar os prejuízos trazidos ao reino além de representar a vingança do mesmo contra o infrator. “O suplício não restabelecia a justiça; reativava o poder”.

No suplício o povo exerce um papel ambíguo, são ao mesmo tempo espectadores para que o suplício tenha sentido; e testemunhas do suplício por direito, ao mesmo tempo em que reivindicam sua participação no espetáculo do suplício para ter certeza de que foi realizado, também são utilizados de modo a criar o medo.

Muitas vezes o suplício era capaz de inverter os papéis, “o condenado se tornava herói pela enormidade de seus crimes largamente propalados, e às vezes pela afirmação de seu arrependimento tardio”.

Segunda Parte – Punição

Capítulo I – Punição Generalizada

No séc. XVIII inicia-se o protesto contra os suplícios, pois revelava a tirania do rei enquanto a vítima era exposta a vergonha.

A humanidade era vista como medida para que se possa punir.

Houve também uma diminuição da violência dos crimes, que passaram a se focar mais contra a bens e propriedades, da mesma maneira que as punições parecem perder sua intensidade.

Modifica-se a organização interna da delinquência, começam a forma grupos menores.

Os reformadores no entanto criticam a “má economia do poder”, ou seja, havia um poder excessivo nas jurisdições inferiores dando o poder de executar sentenças de maneira descontrolada. Era dado o poder excessivo para acusação enquanto a defesa se mantia desarmada diante desses juízes.

Os reformadores foram legistas que idearam os princípios gerais da reforma, visando o controle do poder de julgar e punir.

Muitas ilegalidades passaram a fazer parte da sociedade, principalmente aquelas que se dirigiam contra os bens, conforme se elevava a riqueza e acumulação da burguesia.

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Essas ilegalidades que atingiam produtos e mercadorias precisavam agora ser controladas e codificadas.

Com o de desenvolvimento da sociedade capitalista também houve a transformação da

“economia das ilegalidades”.

Com isso há a transferência do poder de punir da vingança do soberano para defesa da sociedade.

Vê-se necessário também mudar a concepção da função exemplar do castigo, a pena não deveria ser calculada em função do crime mas na sua possível repetição e nos efeitos futuros que poderá causar a sociedade.

Estabelecem-se seis regras sobre “a semiotécnica com que se procura armar o poder de punir”:

Regra da quantidade mínima: A punição deve trazer mais desvantagens do que as vantagens que o crime traz.

Regra da idealidade suficiente: A representação da pena deve ser maximizada, e não sua intensidade no corpo do punido.

Regra dos efeitos laterais: A pena deve surtir mais efeito nas pessoas que não

cometeram a falta para evitar que elas pensem em fazê-la. Deve ser uma pena que aos olhos do povo seja eficaz e durável mas ao mesmo tempo “menos cruel sobre o corpo do culpado”.

Regrada certeza perfeita: A leis e a penas devem ser claras de modo que cada membro da sociedade saiba “distinguir ações criminosas das ações virtuosas”. Todos devem ter acesso e conhecimento das leis. Nenhum crime deve sair impune para não criar a esperança de impunidade.

Regra da verdade comum: Todos devem ser considerados inocentes até que se prove inteiramente a verdade do crime, cabendo ao juiz utilizar instrumentos comuns para atingir tal verdade.

Regra da especificação ideal: Todas as infrações têm que ser qualificadas e reunidas em um código que defina os crimes e fixe as penas. Também é necessária uma

individualização das penas de acordo com as individualidades de cada criminoso.

A criminalidade começa a ser o objeto da intervenção penal, surgindo então a oposição entre o primário e o reincidente, dessa maneira começa a surgir a noção de crime passional.

Capítulo II – A mitigação das penas

A pena deve ser menos arbitraria possível, “não vindo mais as penas da vontade do legislador, mas da natureza das coisas”, deve decorrer do crime.

Tornar a pena mais temível a ponto de diminuir a atração do crime. Aqui traz a situação de combater a fonte do crime: “Atrás dos delitos de vadiagem, há a preguiça; é esta que se deve combater”.

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A penas devem ter um tempo máximo para não se transformarem em suplícios e haver a possibilidade do criminoso de se tornar virtuoso. “O tempo, operador da pena”. Ainda tinha os que defendiam a ideia de “intensidade regressiva” da pena.

Necessidade de fazer a punição ser vista como útil para o interesse social. “Agora, ele será antes um bem social, objeto de uma apropriação coletiva e útil”.

Transferência do terror como suporte do exemplo para “a lição, o discurso, o sinal decifrável, a encenação e a exposição da moralidade pública”.

A publicidade das penas e visibilidade dos castigos era considerado fundamental para inibir o crime na população. O criminoso é visto como um elemento de instrução.

A prisão é um castigo específico para alguns delitos, “os que atentam à liberdade dos indivíduos” ou “que resultam do abuso da liberdade”. Era criticada por muitos

reformadores por ser “desprovida de efeito sobre o público”, “inútil a sociedade”, “cara”

e “multiplica-lhe os vícios”. Era visto como tirania e incompatível com a técnica pena- efeito.

No século XIX a lei de detenção acabou se generalizando e as penas específicas e o teatro punitivo do séc XVIII foi “substituído pelo grande aparelho uniforme das prisões”.

Diversos protestos surgiram contra o encarceramento, principalmente pela “utilização fora da lei da detenção arbitrária e indeterminada”. As prisões ficavam a mercê dos abusos de poder e eram utilizadas de maneira diferente da especificada pelos princípios jurídicos clássicos “não sendo destinadas a punir mas a garantir a presença das pessoas”.

A importância da detenção como pena foi tida a partir de estudos que a tratavam como um lugar capaz de recuperar os indivíduos e retorna-los a sociedade, capaz de mostrar ao criminoso que o trabalho é o caminho correto a se seguir, “a prisão constituirá um

‘espaço entre dois mundos’”. Princípios defendidos por Howard e Blackstone em 1779, colocados em prática durante a independência dos EUA. Os detentos eram obrigados a trabalhar, o custeio da prisão adivinha do trabalho deles junto com uma retribuição individual, além de assegurar a reinserção moral e material no “mundo estrito da

economia”. Colocava-se fim a publicidade da pena, não havia participação do povo e os espetáculos se extinguiram, a “certeza de que, atrás dos muros, o detento compre sua pena deve ser suficiente para constituir um exemplo”. A prisão também serviria como transformadora dos espíritos, para ter uma transformação do comportamento. Eram estes os “reformatórios” que tinha basicamente a função de observatório para analisar o desenvolvimento moral do criminoso.

O livro estabelece convergências e disparidades entre os “reformatórios” e os castigos dos reformadores:

Convergências:

Ambos visam bloquear a possível repetição do delito. A punição não vem para apagar um crime mas para transformar o culpado. Caráter individual da pena.

Divergência. Publicidade das penas.

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Terceira parte - DISCIPLINA Capítulo I – Os corpos dóceis

Descoberta durante a época clássica do corpo como “objeto e alvo de poder”. A

disciplina sobre o corpo gera uma política das coerções, “manipulação calculada de seus elementos, de seus gestos, de seus comportamentos”, fabricando corpos submissos, tornando-os mais uteis economicamente e obedientes.

Técnicas da disciplina na distribuição dos indivíduos no espaço:

Criar um local heterogêneo e fechado, dá como exemplo quartéis, colégios e o

encarceramento. Feito para concentrar as forças de produção, neutralizar inconvenientes e dominar as forças.

Regra das “localizações funcionais”, lugares determinados para romper comunicações perigosas e aumentar o poder de vigia.

“São espaços que realizam a fixação e permitem a circulação; recortam segmentos individuais e estabelecem ligações operatórias; marcam lugares e indicam valores;

garantem a obediência dos indivíduos, mas também uma melhor economia do tempo e dos gestos."

Técnicas da disciplina sobre o controle da atividade

Rigor do horário com intuito de “construir um tempo integralmente útil”. Há controle sobre os gestos e movimentos de modo a ter um corpo disciplinado.

As disciplinas também devem “ser compreendidas como aparelhos para adicionar e capitalizar o tempo”, o livro mostra isso através de quatro processos:

Dividir a sucessão em segmentos, não havendo mistura entre iniciantes e os que já tem mais conhecimento. Organizar de acordo com um esquema analítico, do mais simples ao mais complexo. Aplicação de provas para comprovar que o indivíduo atingiu um nível superior e de “garantir que sua aprendizagem está em conformidade com a dos outros, e diferenciar as capacidades de cada indivíduo”.

Na disciplina também passa a ser necessário meios para “compor forças e obter um aparelho eficiente”. Os corpos constituíam uma peça de uma máquina multissegmentar.

Capítulo II – Os recursos para o bom adestramento

“A disciplina ‘fabrica’ indivíduos”, adestra o indivíduo de modo a administrar a

“multiplicidade de elementos individuais” que se encontram no determinado grupo. O livro traz três instrumentos simples que levam ao sucesso do poder de disciplinar:

A vigilância hierárquica: “O exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar, um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”. Da como um modelo quase ideal os acampamentos militares, por considerar “um diagrama” que age pelo poder da visibilidade geral. E esse modelo acabou sendo utilizado em várias outras construções, como hospitais, asilos ou prisões.

As construções deveriam se tornar aparelhos para vigiar. Na segunda metade do século

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XVIII surgem as arquiteturas circulares. Vigiar torna-se uma função definida com pessoal especializado.

A sanção normalizadora: “As disciplinas estabelecem um ‘infra-penalidade’;

quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um conjunto de comportamentos que escapava aos grandes sistemas de castigo”. Penalizava-se o tempo e a maneira de ser com castigos leves. Pune-se o “campo indefinido do não-conforme”.

Tem a função principal de reduzir os desvios, ou seja, caráter corretivo. Há também aplicação do sistema de punição e recompensa, utilizando-se principalmente da hierarquia como mérito do comportamento.

O exame: combina as outras duas técnicas. “É um controle normatizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir”. O exame além de expor a vigilância do superior, também transpõem suas qualidades e defeitos em documentos, cada indivíduo passava a fazer parte de um registro para então haver um maior controle.

Capítulo III – O Panoptismo

Usa de exemplo os meios utilizados quando declarava-se que em uma determinada cidade encontrava-se a peste, todo o processo rígido de controle e toda hierarquia; como um modelo compacto do dispositivo disciplinar. Diz que a peste “é a utopia da cidade perfeitamente governada”.

Fala do Panóptico de Bentham que se tratava da arquitetura composta pela “construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel”, era colocado um vigia na torre centra e a parte do anel era composto por diversas celas com janela para o interior e exterior de modo a entrar a luz. Deste modo aquele que estivesse dentro da sala estaria em constante vigilância. Evitava-se o contato entre celas e ao mesmo tempo inibia-se a visualização daquele que estava na torre a vigiar, “está é a garantia da ordem”. O Panóptico produz como efeito no detendo

“um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder”, como era necessário que o detento tenha a consciência de estar sempre sendo visto Bentham colocou o princípio de que o poder deveria ser “visível e inverificável”, o primeiro era representado pela torre central por onde era espionado e o segundo por nunca saber se estava definitivamente sobre constante vigia.

Faz comparação do Panóptico com um zoológico, “o animal é substituído pelo homem, a distribuição individual pelo agrupamento específico e o rei pela maquinaria de um poder furtivo”. Traz uma ideia de Deus para aquele que estivesse na torre de controle, podendo observar e controlar a todos que estivessem numa hierarquia abaixo da sua e aqueles que encontravam-se nas celas. “O Panóptico funciona como uma espécie de laboratório do poder”. A possibilidade do acesso de qualquer um a torre central é dada como um meio de evitar a tirania.

Trata também da “extensão das instituições disciplinares”, que eram caracterizados principalmente pelo “papel positivo de aumentar a utilidade possível dos indivíduos”, ou seja, era capaz de melhorar a habilidade de cada um e combiná-las a ponto de promover o crescimento de aptidões, velocidades, rendimentos e lucros, “modela os comportamentos e faz os corpos entrar numa máquina”. Há também a “ramificação dos mecanismos disciplinares” que se refere ao fato do poder de disciplinar das instituições

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muitas vezes irem além das “fortalezas fechadas” a partir de “focos de controle disseminados na sociedade”.

“O crescimento de uma economia capitalista fez apelo à modalidade específica do poder disciplinar”, com o aumento do número de pessoas e a acumulação de capital se fez necessário aumentar a “utilidade” de cada indivíduo da maneira menos custosa possível, sendo portanto de extrema importância a aplicação do poder disciplinar.

Quarta Parte – Prisão

Capítulo I – Instituições Completas e Austeras

“A forma geral de uma aparelhagem para tornar os indivíduos dóceis e úteis, através de um trabalho preciso sobre seu corpo, criou a instituição-prisão, antes que a lei a

definisse como a pena por excelência”. No fim do ´século XVIII e início do XIX começa a se utilizar a detenção.

O duplo fundamento, jurídico-econômico e técnico-disciplinar, transformou a prisão na forma mais imediata e civilizada das penas, a que mais se adaptava a sociedade

industrial. O encarceramento não é só uma privação de liberdade, mas também uma transformação técnica dos indivíduos. A prisão deve ser “onidsiciplinar”, de ação ininterrupta e disciplina exaustiva.

Primeiro princípio: o isolamento. “Isolamento do condenado em relação ao mundo exterior, a tudo o que motivou a infração, às cumplicidades que a facilitaram”. A prisão não deve formar uma “população homogênea e solidária”. O isolamento levaria a reflexão e ao remorso. Também é a “condição primeira da submissão total”, meio capaz de exercer total poder sobre o condenado.

Segundo princípio: o trabalho obrigatório. Definido como “agente da transformação carcerária”. O trabalho requalificaria o ladrão em operário dócil através da imposição do salário como forma “moral” de sua existência, dando sentido de propriedade a eles.

Terceiro princípio: a duração da pena. A duração do castigo “permite quantificar exatamente as penas, graduá-las segundo as circunstâncias, e dar ao castigo legal a forma mais ou menos explícita de um salário; mas corre o riso de não ter valor

corretivo, se for fixada em caráter definitivo”. Era necessário também desenvolver um regime de “punições e de recompensas” de maneira a incentivar a melhora.

O panóptico se tornou um modelo mais adaptado a prisão, pois “é preciso que o

prisioneiro passa ser mantido sob um olhar permanente; é preciso que sejam registradas e contabilizadas todas as anotações que se possa tomar sobre eles”. Tornou-se por volta de 1830-1840 a arquitetura da maior parte dos projetos de prisões. Além de tudo era um modelo capaz de individualizar os condenados e assim coletar informações que

poderiam melhorar e transformar a medida penal em uma operação penitenciária.

Deste modo, começava-se a estudar o delinquente no lugar do infrator. “P delinquente se distingue do infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais caracteriza”. Aprofundava-se na vida e nos fatores influenciantes que poderiam gerar a delinquência. A distinção se faz também pelo fato do delinquente “estar amarrado a seu delito por um feixe de fios complexos (instintos, pulsões, tendências, temperamento)”.

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Classificação de Ferrus: Tipologia sistemática dos delinquentes, uma análise rápida mas capaz de mostrar o funcionamento claro do “princípio de que a delinquência deve ser especificada menos em função da lei que da norma”.

“O correlativo da justiça penal é o próprio infrator, mas o do aparelho penitenciário é outra pessoa; é o delinquente, unidade biográfica, núcleo de ‘periculosidade’,

representante de um tipo de anomalia”.

Capítulo II – Ilegalidade e delinquência

Surgem críticas a prisão durante 1802-1845: Elas não diminuem a taxa de

criminalidade; a detenção provoca a reincidência; a prisão também fabrica delinquentes;

tem seu funcionamento a base do abuso de poder; o trabalho penal exploratório não tem nenhum caráter educativo; favorece a formação de organização dos delinquentes; há educação do jovem delinquente que se encontra na primeira condenação; a

impossibilidade de encontrar trabalho e o preconceito conta presidiários levavam a reincidência; fabrica indiretamente delinquentes por levar a miséria a família do detento.

Como resposta as críticas procurou-se melhorar a técnica penitenciária.

Reforma penal aplicada no fim do século XVIII na luta contra as ilegalidades: “uma lei, duplamente ideal, pois perfeita em seus cálculos e presente na representação de cada cidadão, bloquearia, desde a origem, quaisquer práticas de ilegalidade”. As diversas ilegalidades surgiam contra os abusos no trabalho e contra a concentração das terras, contra o novo sistema que era imposto sobre operários e camponeses, contra a pobreza e a exploração. A partir desse momento o crime passo a se concentrar nessas classes, a

“classe degradada pela miséria cujos vícios se opõem como um obstáculo invencível às generosas intenções que querem combate-la”. A lei então não era mais aplicada

igualmente, era “uma categoria social encarregada da ordem sanciona outra fardada à desordem”.

“O sucesso da prisão: nas lutas em torno da lei e das ilegalidades, especificar uma

‘delinquência’”.

As prisões, o estudo da delinquência e o desenvolvimento de controles policiais permitiu o entendimento da formação de uma ilegalidade isolada. “A delinquência funciona como um observatório político”. Toda essa vigilância só teve real

funcionalidade quando conjugada com a prisão pois “esta facilita o controle dos indivíduos quando são libertados” e permite a “organização de um meio delinquente fechado em si mesmo”. Ou seja:

“A vigilância policial fornece à prisão os infratores que esta transforma em

delinquentes, alvo e auxiliares dos controles policiais que regularmente mandam alguns deles de volta a prisão”.

Capítulo III – O carcerário

O modelo carcerário tem cinco modelos de referência: a família, o modelo do exército, o modelo da oficina, o modelo da escola e o modelo judiciário. A união desses modelos permite determinar sua função de “adestramento”, esse que é acompanhado pela vigia

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constante. “A rede carcerária acopla, segundo múltiplas relações, as duas séries, longas e múltiplas, do punitivo e do anormal”. O principal efeito do sistema carcerário é o fato de “tornar natural e legítimo o poder de punir, baixar pelo menos o limite de tolerância à penalidade”. O poder legal de punir é naturalizado e o poder técnico de disciplinar é legalizado. Também encareceu a norma, que é “um misto de legalidade e natureza, de prescrição e constituição”, uma nova modalidade de “lei”, tornando-se o grande apoio do poder normatizador.

Referências

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