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Processo

5523/05.2TVLSB.L1-8

Data do documento 4 de outubro de 2012

Relator Carla Mendes

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Responsabilidade pré-contratual > Boa-fé > Interesse contratual negativo > Negociações preliminares > Fundamentação de facto

SUMÁRIO

1 – Nas negociações preliminares e preparatórias do contrato, as partes devem comportar-se como pessoas de bem, com lealdade e correcção, com boa fé – art. 227 CC.

2 – O interesse protegido pela norma do art. 227 CC é a confiança (boa-fé).

3 – Quem inicia e prossegue negociações, criando na outra parte expectativas legítimas de celebração de negócio, rompendo as mesmas de forma arbitrária, defraudando a confiança que a outra parte tinha formado, incorre em responsabilidade pré-contratual.

4 – A indemnização pelo dano negativo cobre apenas a diferença entre a situação patrimonial actual do lesado e a situação que existiria se o contrato, válido ou inválido, não tivesse sido celebrado ou se as negociações não tivessem existido.

(CM)

TEXTO INTEGRAL

Acordam na 8ª secção cível do Tribunal da Relação de Lisboa

Companhia (…) S.A. e D demandaram A, I, B S.A. e O, S.A., pedindo a condenação solidária dos réus no pagamento:

- à 1ª e 2º autores uma indemnização pelos danos negativos ou de confiança no valor de € 445.448,00 e de

€ 459,029,50, respectivamente;

- ainda ao 2º autor uma indemnização pelos danos positivos no valor de € 11.375.000,00.

Alegaram, em suma, que em Março de 2003, o 1º réu – A – contactou formalmente o 2º autor apresentando-lhe um projecto de investimento que consistia numa proposta de constituição de uma

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sociedade, em Portugal, cujo objecto seria o da produção, transformação, comercialização, exportação, compra e venda com ou sem compromisso de recompra por preço certo ou aleatório e distribuição de produtos florestais, agrícolas ou pecuários, bem como de, qualquer um dos seus derivados ou transformados.

O objectivo da parceria proposta seria o lançamento, em fase ulterior, do primeiro fundo florestal português, constituído exclusivamente por activos do sector florestal.

O Fundo seria constituído por propriedades rústicas em Portugal, compradas ou arrendadas a terceiros, que seriam geridas por aquela nova sociedade a constituir em parceria com a B, S.A.

No decurso das negociações, das várias reuniões havidas entre as partes, dos protocolos de intenções e da minuta de parceria elaborados, os autores convenceram-se justificadamente de que o projecto seria concluído.

Acontece que os réus, não obstante a expectativa e confiança geradas, não avançaram com o negócio e à revelia do dever de conclusão que sobre eles impendia, optaram por fazer uma parceria com outras entidades, nomeadamente, o grupo O.

Ao romperem arbitraria e unilateralmente as negociações violaram os elementares princípios da boa-fé na formação dos contratos – art. 227 CC (responsabilidade pré-contratual), constituindo-se na obrigação de ressarcir os danos negativos e positivos causados – fls. 1 a 73 (I vol.)

Na contestação a ré O, excepcionou a ineptidão da p.i e impugnou o alegado pelos autores, concluindo pela sua absolvição da instância e do pedido – fls. 339 a 346 (II vol.).

Na contestação os réus A, I, B, S.A., excepcionaram a ilegitimidade da 1ª autora e dos 1º, 2º e 4º réus, impugnaram o alegado pelos autores e concluíram pela absolvição da instância dos 1º, 2º e 4º réus e do pedido e pela condenação dos autores como litigantes de má-fé em indemnização no valor de € 122.795,00 e em multa condigna - fls. 352 a 414 (II vol.).

Replicaram os autores e treplicou a ré O, S.A.

Em sede de despacho saneador decidiu-se pela improcedência das excepções dilatórias de ineptidão da p.i.

e ilegitimidade arguidas, declarando a 1ª autora e os réus partes legítimas, à excepção da 4ª ré – O, S.A. – que foi absolvida da instância (procedência da excepção de ilegitimidade) - fls. 532 a 549 (III vol.).

Após julgamento foi prolatada sentença que julgando a acção improcedente, bem como o pedido de condenação dos autores como litigantes de má-fé, absolveu os réus do pedido.

Inconformados apelaram os autores formulando as conclusões que se transcrevem:

1ª. (…)

173ª. Assim se mostrando solidamente fundada a legítima confiança depositada pelos autores no processo negocial e na sua evolução exitosa e, em particular pelo 2º autor cujas iniciativas de actuação e decisões

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patrimoniais que tomou têm uma relação directa com o estágio das negociações ao longo do período de um ano e com o especial factor de confiança nelas introduzido pelas condutas e documentos dos réus, os quais alicerçaram uma crença legítima, fundada e reflectida na iminente conclusão do negócio.

174ª. Tendo ficado ainda demonstrado que a conclusão do acordo de investimento com o 2º autor se mostrava imposta pelos acordos preparatórios anteriores, e não tendo os réus logrado demonstrar qualquer facto que a tanto obstaculizasse, mas tendo ao invés ficado demonstrada a participação pessoal dos dois primeiros réus, numa sociedade idêntica àquela cuja constituição com o 2º autor era efeito necessário da conclusão daquele acordo, e que esses réus se associaram nessa sociedade com uma instituição financeira especializada no lançamento de fundos de investimento, em detrimento do lançamento do fundo de investimento florestal com o 2º autor, que era igualmente efeito necessário da conclusão daquele acordo, actuaram os réus ilicitamente por ofensa dos limites impostos pelo art. 227/1 CC, configurando conduta grave e iníqua. Senhora Juiz onera os autores com a falta de prova do facto alegado pelos réus e impugnado pelos autores, de que o 2º autor é que desistiu do negócio, com o que violou o art. 342/2 CC.

175ª. Em consequência, são assim os réus responsáveis pela reparação de todo os danos sofridos pelos autores em consequência da ilícita não conclusão do acordo de investimento com o 2º autor, os quais incluem não só as despesas e tempo despendidos pelo 2º autor como também os montantes correspondentes aos lucros perdidos pela não conclusão do contrato, perda essa determinada pelo comportamento ilícito dos réus que arbitrariamente frustraram a formalização do acordo de investimento com o 2º autor, e prosseguiram com o projecto com terceiros.

176ª. Considerando que ficou demonstrado que a 1ª autora deixou de arrendar, pelo período de dois anos, as parcelas de terra de sua propriedade sitas em Catapereiro supra identificadas no art. 101 desta p.i., porque se comprometeu com o seu arrendamento à sociedade proposta constituir pelos réus com o 2º autor, em consequência da alteração da decisão da matéria de facto deverá ser atribuída à 1ª autora a quantia de 445.448,00 €, a título de indemnização pelos danos futuros.

177ª. Considerando que ficou demonstrado que o 2º autor é administrador de 7 sociedades anónimas e despendeu inúmeras horas do seu tempo útil no estudo e preparação do projecto de investimento ilicitamente frustrado pelos réus, incluindo as viagens a I..., a O... (junto de Madrid), e à Companhia das Lezírias, e reuniões várias com estes, com terceiras entidades ou com os seus colaboradores, e realizou despesas de viagem, comunicações e outros serviços de terceiros, em consequência da alteração da decisão da matéria de facto deverão ser atribuídas ao 2º autor as quantias de 157.500 €, 15.000 €, 5.000€.

178ª. Considerando que ficou ainda demonstrado que o 2º autor deixou de arrendar as duas herdades de sua propriedade Herdade Vale ... com cerca de 420 hectares e Herdade da T... com 110 hectares, o que totaliza 530 hectares, sitas na ... por as haver reservado para serem arrendadas à sociedade a constituir como efeito necessário da conclusão do acordo de investimento, em consequência da alteração da decisão da matéria de facto deverá ser atribuída ao 2º autor a quantia de 281.529,50 €, a título de indemnização pelos danos futuros.

179ª. Considerando que ficou igualmente demonstrado que o 2º autor deixou de auferir uma rentabilidade assegurada de pelo menos 14% ao ano, a uma valorização média anual da madeira de 3%, e descontando

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já o pagamento inicial pelo 2º autor à 3ª ré de uma participação social de 25% na sociedade a constituir como efeito necessário do acordo de investimento, correspondente à capitalização de 5.000.000, €, (…), ou seja, o 2º autor deixou de auferir pelo menos a quantia de 11.375.000 € correspondente à rentabilidade líquida deste capital ao fim de 20 anos, correspondente ao tempo mínimo exigido para o crescimento pleno das árvores, deverá ser atribuída ao 2º autor a referida quantia de 281.529,50 €, a título de indemnização pelo dano positivo.

180ª. Assim, deverá ser alterada a decisão sobre a matéria de facto e, em consequência, deverá ser revogada a sentença recorrida e os réus condenados a pagar aos autores as quantias acima indicadas, para ressarcimento dos danos sofridos pelos autores, quantia que deverá ser acrescida de juros de mora até efectivo e integral pagamento, sem prejuízo, de requerer seja anulado o julgamento por todos os vícios geradores de nulidade supra expendidos.

Os réus contra-alegaram pugnando pela confirmação da sentença.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

Factos que a 1ª instância considerou assentes:

4.1.1. – A 1ª autora, "Companhia, S.A.", é uma sociedade que desenvolve a actividade de exploração agrícola, pecuária e florestal do seu património, bem como a industrialização e comercialização dos respectivos produtos (A).

4.1.2. - Em Março de 2003, A contactou o 2º autor e propôs-lhe a constituição de uma sociedade em Portugal (B).

4.1.3. - Fundos de investimento florestal são fundos que investem em floresta com objectivos de rentabilidade superiores à taxa de juro, sem risco. São tipicamente fundos fechados por prazos longos (no mínimo dez anos) que apenas geram receitas na sua liquidação. A sua rentabilidade é predominantemente influenciada pelo factor natural de crescimento da madeira e não tanto pelo factor preço de mercado (C).

4.1.4. - O primeiro contacto entre o 2º autor e A foi estabelecido através do advogado comum de ambos, (…), o qual contactou o 2º autor e lhe colocou a questão do interesse do mesmo no projecto de investimento, ao que este respondeu afirmativamente, dadas as características de rentabilidade certa do mesmo (D).

4.1.5. - O 2º autor reuniu-se pela primeira vez com A conjuntamente com o Dr. (…), em 7 de Março de 2003, na Herdade (…) e na Herdade (…), sitas em ... (E).

4.1.6. - Nessa reunião estiveram também presentes L e P, irmãos do 2º autor, e o Sr. C (F).

4.1.7. - Na reunião acima referida não ficaram acertadas quais as fases de desenvolvimento do projecto, nem o plano de negócios do mesmo, nem quaisquer pormenores (G).

4.1.8. - Em 6 de Outubro de 2003 o 2º autor recebeu um e-mail do Sr. I, com o texto que consta de fls. 205 dos autos (H).

4.1.9. - Em 8 de Outubro de 2003 o 2º autor teve uma reunião com I, o qual apresentou o projecto escrito de investimento junto como documento nº 20 com a p.i. (I).

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4.1.10. - Nesta reunião de 8/10/2003, I convidou o 2º autor a visitar uma plantação da "B, SA", em Espanha, bem como os escritórios da mesma, em Madrid, a fim de o 2º autor constatar no local a actividade por esta desenvolvida (J).

4.1.11. - Em 28 de Novembro de 2003, o 2º autor, acompanhado de L e P, deslocou-se às propriedades da

"B, SA", onde se reuniu com A e outros seus colaboradores, tendo-lhe sido mostradas várias plantações (K).

4.1.12. - Nesse encontro de 28/11/2003, A entregou ao 2º autor o documento junto aos autos como documento nº 30 da p.i. (L).

4.1.13. - A Companhia, SA tem actividade na área agrícola, florestal, pecuária e no agro-turismo; situa-se a cerca de 40 Km de Lisboa, tem cerca de 22.000 hectares distribuídos pela Charneca do ... e pela Lezíria de ... (M).

4.1.14. - Em 21 de Janeiro de 2004 realizou-se uma reunião no escritório do 2º autor onde estiveram presentes, para além deste, o Dr. (…), A e I (N).

4.1.15. - Nesse mesmo dia, à tarde, realizou-se uma reunião na sede da 1ª autora na qual estiveram presentes o 2º autor, A, o Dr. (…), o Presidente do Conselho de Administração da 1ª autora, Dr. (…) e um outro Administrador desta, Dr. (…) (O).

4.116. - O 2º autor contratou o Dr. (…) para fazer o estudo económico-financeiro deste projecto e para acompanhar a formação da nova empresa, conjuntamente com a Dra. (…), colaboradora do 2º autor para os assuntos jurídicos (P).

4.1.17. - Em 11 de Fevereiro de 2004 A enviou ao 2º autor, que o recebeu, o e-mail junto como documento nº 38 da p.i. (Q).

4.1.18. - Em 11 de Julho de 2005 realizou-se uma conferência em Coimbra com o tema "Investir nas Florestas Portuguesas", na qual o Dr. (…) proferiu uma palestra, na qual anunciou o lançamento por uma empresa do Grupo (…), , do primeiro Fundo Florestal Português, em parceria com a "B, SA" (R).

4.1.19. - Na 4ª Secção da Conservatória do Registo Comercial de Lisboa foi matriculada em 26 de Agosto de 2005, sob o número ... a sociedade "P — Exploração e Comércio de Produtos Florestais, S.A.", cujo objecto social é "produção, transformação, comercialização, exportação, compra e venda com ou sem compromisso de recompra por preço certo ou aleatório e distribuição de produtos florestais, agrícolas ou pecuários, bem como, de qualquer um dos seus derivados ou transformados", com um capital social de € 150.000,00 subscrito por um único accionista, e cujo conselho de administração para o quadriénio de 2005/2008 é composto por Duarte (…), Pedro (…), Francisco (…), A (…) e I (…), conforme documento junto a fls. 262 a 265 e que aqui se dá por integralmente reproduzido (S).

4.1.20. — A "B, SA" apresenta-se, no relatório de contas de 2002, como uma empresa que transforma plantações de sequeiro e regadio em plantações agro-florestais sustentáveis, onde se produz madeira de elevada procura e valor económico (1º).

4.1.21. - A "B, S.A." publicita, no relatório de contas de 2002, que essas plantações agro-florestais se vendem depois a terceiros, ficando aquela ré como gestora económica e responsável pelo desenvolvimento das mesmas durante todo o ciclo de cultivo e produção (2º).

4.1.22. - A "B, S.A." publicita também, no relatório de contas de 2002, que uma das formas de comercialização dessas plantações consiste em aquela ré constituir com terceiros investidores, que

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participam com o capital, uma sociedade comercial, que comprará um ou mais prédios rústicos e encomendará os projectos de desenvolvimento e os trabalhos de execução para realizar a plantação das árvores e a instalação das infra-estruturas de engenharia (3º).

4.1.23. - A sociedade proposta referida em 4.1.2. teria como objecto a produção, transformação, comercialização, exportação, compra e venda com ou sem compromisso de recompra por preço certo ou aleatório e distribuição de produtos florestais, agrícolas ou pecuários, bem como de qualquer um dos seus derivados ou transformados (4º).

4.1.24. - Na ocasião referida em 4.1.4. o 2º autor e os seus irmãos afirmaram poder disponibilizar cerca de 530 hectares no perímetro de rega, para fazer a plantação (8º).

4.1.25. A. manifestou, nessa reunião, o seu agrado pelas qualidades e características daqueles solos (9º).

4.1.26. - Devido à expectativa na realização deste investimento, desde 2003 que não voltou a ser plantado tabaco na Herdade (…) e na Herdade (…), como se fazia de há vários anos até então (12º).

4.1.27. – As propriedades da "B, SA" referidas em 4.1.11. situam-se em O..., a cerca de 1 hora de Madrid (28º).

4.1.28. – Nessa visita ao local, A explicou detalhadamente as técnicas inovadoras utilizadas pela "B, SA"

nas suas plantações, na área da genética (30º).

4.1.29. – O 2º autor era portador, aquando da propositura da acção, de cópia de um levantamento e classificação das albufeiras de Portugal publicado pela Direcção de Serviços de Utilização do Domínio Hídrico e de um relatório sobre "Caracterização da Rega e Drenagem em Portugal" publicado pelo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (39º).

4.1.30. - À data da propositura da acção, o 2º autor era portador de um "relatório e contas" do exercício de 2004 da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia (41º).

4.1.31. – O 2º autor era portador, aquando da propositura da acção, de um estudo do Engenheiro Agrónomo (…), publicado pelo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (43º).

4.1.32. – O 2º autor reuniu mais do que uma vez com o Presidente da Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de ... e com o seu Director Executivo, Engº. (…) (44º).

4.1.33. – A 1ª autora mostrou disponibilidade para destinar terrenos à plantação de árvores no âmbito do negócio perspectivado (47º).

4.1.34. – O 2º autor apresentou à administração da 1ª autora o projecto de investimento da 3a ré e mostrou documentação (49º).

4.135. – A 1ª autora mostrou disponibilidade para destinar 400 hectares de regadio para efectuar uma plantação (52º).

4.1.36. – A qualidade do solo seria um factor importante para a rentabilidade do projecto, pois determina o crescimento e a qualidade das árvores a plantar, o que terá implicações na valorização anual da madeira (57º).

4.1.37. — Nessa reunião a 1ª autora demonstrou o seu interesse no projecto, pois seria uma forma de prossecução do seu objecto social (58º).

4.1.38. – O 2º autor deu entrada no Registo Nacional de Pessoas Colectivas de um pedido de certificado de admissibilidade de firma (59º).

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4.1.39. – Em 29 de Janeiro de 2004 foi aprovada a firma da sociedade a constituir "B... N... – Florestação, Actividades Agrícolas e Imobiliário, SA" (60º)..

4.1.40. – O qual foi revalidado por 180 dias em 23/7/2004, 19/1/2005 e 18/7/2005 (70º).

4.1.41. – Em 23 de Março de 2005, o 2º autor diligenciou pelo registo do logótipo da "B... N... e desenho" no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (71º).

4.1.42. – Pelo menos, em 15 de Julho de 2005 o 2º autor tomou conhecimento de que a "B, S.A." ia fazer uma parceria com uma empresa do Grupo D'... (72º).

4.1.43. – Após contactos com o Grupo D'..., o 2º autor foi informado que os réus tinham celebrado entre si um acordo de parceria (73º).

4.144. – O 2º autor despendeu um número de horas não concretamente apurado em reuniões com a Associação de Regantes de ..., com a Associação de Regantes da Lezíria de ..., com o Conselho de Administração da 1ª autora, com os réus, e com o seu colaborador Dr. (…) (79º).

4.1.45. – A Herdade (…), com cerca de 110 hectares, e a Herdade (…), com cerca de 420 hectares, não voltaram a ser arrendadas, para a eventualidade de serem arrendadas à sociedade a constituir pelo 2º autor e pela 3a ré (83º).

4.1.46. — O 1º réu agiu sempre na qualidade de Presidente da "B, SA" e em representação desta (87º).

4.1.47. — O 3º réu é um consultor independente (88º).

Atentas as conclusões dos apelantes que delimitam, como é regra, o objecto do recurso – arts. 684/3 e 690 CPC – as questões a decidir consistem em saber se:

a) No despacho de 2/3/2007 é nula a decisão relativa à reclamação dos réus contra a selecção da matéria de facto – arts. 158/2 e 668/1 b) CPC – (as alíneas B) e G) devem ter a redacção original .

b) No despacho de 2/3/2007 (fls. 756/758) que determinou que ficassem nos autos as certidões e traduções certificadas notarialmente, juntas pelos autores a convite do tribunal - conforme despacho saneador (fls.

532/549 vol. III) - é nula a decisão que não ordenou a anotação em local próprio da referida matéria assente sob as alíneas AA) e DD), ex vi art. 668/1 d) CPC (devem ser aditadas à matéria de facto as alíneas AA) e DD) –

c) Errada representação do objecto da acção e inversão dos termos do iter cognoscitivo - arts. 668/1 b), 653/2 e 655/1 CPC.

d) Alteração da matéria de facto – aditada à matéria de facto assente as alíneas AA e DD; as alíneas B e G devem manter a redacção original; arts. 1,2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 31, 32, 33, 34, 35, 37, 38, 42, 48, 51, 53, 54, 56, 57, 59, 61, 64, 65, 73, 74, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 84, 86 e 88; erro de escrita – fundamentação resposta arts. 1 a 3 – doc. nº 13 e não nº 12.

e) Responsabilidade pré-contratual – art. 227 CC

Vejamos, então:

a) Questão da nulidade da decisão relativa à reclamação dos réus contra a selecção da matéria de facto proferida no despacho de 2/3/2007 – arts. 158/2 e 668/1 b) CPC.

(…)

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Defendem os autores a nulidade do despacho no segmento da decisão no qual a Sra. Juiz justificou a sua decisão por simples adesão aos fundamentos alegados pelos réus, ex vi arts. 158/2 e 668/1 b) CPC.

(…)

As decisões sobre qualquer pedido controvertido ou sobre alguma dúvida suscitada no processo são sempre fundamentadas; a justificação não pode consistir na simples adesão aos fundamentos alegados no requerimento ou na oposição – art. 158/1 e 2 CPC.

É nula a sentença: b) quando não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão - art. 668/1 CPC.

Este art. aplica-se até, onde seja possível, aos próprios despachos - art. 666/3 CPC.

A nulidade da alínea b) tem lugar quando haja falta de motivação, ou seja, julgador não especifica os fundamentos, de facto e de direito, que justificam a decisão.

Uma decisão sem fundamentos equivale a uma conclusão sem premissas.

A razão substancial reside no facto de que a sentença/despacho deve representar a adaptação da vontade abstracta da lei ao caso particular submetido à apreciação do juiz; ao comando abstracto e geral da lei, o juiz substitui um comando particular e concreto.

No entanto, este comando não se pode gerar arbitrariamente, uma vez que o juiz, não tem, o poder de ditar normas de conduta, de impor a sua vontade às vontades individuais que estão em conflito, porque a sua atribuição é unicamente a de extrair da norma formulada pelo legislador a disciplina que se ajusta ao caso sujeito à sua decisão, cumpre-lhe demonstrar que a solução dada ao caso é legal e justa, é a emanação correcta da lei.

As razões práticas residem no facto de que as partes precisam de ser elucidadas a respeito dos motivos da decisão. Sobretudo a parte vencida tem o direito de saber por que razão a sentença lhe foi desfavorável; e tem mesmo necessidade de o saber, quando a sentença admita recurso, para poder impugnar o fundamento ou fundamentos perante o tribunal superior. Este carece também de conhecer as razões determinantes da decisão, para as poder apreciar no julgamento do recurso.

Não basta que o juiz decida a questão posta, é necessário e indispensável que produza as razões em que se apoia o seu veredicto. O valor doutrinal da sentença, valor como elemento de convicção, vale o que valerem os seus fundamentos.

Acresce ainda que existe uma distinção entre a falta total de motivação da motivação deficiente, medíocre ou errada.

O que a lei considera nulidade é a falta absoluta de motivação; a insuficiente ou deficiente motivação, afecta o valor doutrinal da sentença, sujeita-a ao risco de ser revogada ou alterada em recurso, mas não acarreta nulidade – cfr. A. Reis CPC Anotado, vol. V – 138 segs., Coimbra Editora, ano 1981.

No caso em apreço, constata-se que a Sra. Juiz ao justificar/fundamentar a sua decisão, no que à reclamação concerne, limitou-se a aderir aos fundamentos alegados pelos réus/apelados, dando-os por reproduzidos.

Assim, atento o supra extractado e as normas citadas, concluiu-se que o segmento do despacho proferido em 2/3/2007, objecto de recurso, é nulo.

(…)

(9)

b) Nulidade da decisão que não ordenou a anotação em local próprio da referida matéria assente sob as alíneas AA) e DD), ex vi art. 668/1 d) CPC – despacho de 2/3/2007.

(…)

Assim, no que a esta matéria concerne, atento os documentos juntos, aditam-se as alíneas AA) e DD) aos factos assentes, com a redacção supra exarada.

c) Errada representação do objecto da acção e inversão dos termos do iter cognoscitivo - arts. 668/1 b), 653/2 e 655/1 CPC.

- Defendem os apelantes que a Sra. Juiz ao invés de fazer a análise crítica das provas e especificando os fundamentos que foram decisivos para a sua convicção teceu previamente um conjunto genérico de impressões revelando uma pré-decisão quanto ao resultado da produção de prova violando o preceituado nos arts. 653/2 e 655/1 CPC.

Esta afirmação é sustentada na declaração efectuada pela Sra. Juiz, logo a seguir às respostas dadas aos quesitos: “A antecedente decisão quanto à matéria de facto assentou na análise crítica e global da prova produzida. Antes de proceder a uma análise quesito a quesito, importa efectuar alguma análise globalizante, para não perder a visão de conjunto da versão dos factos controvertida”.

A seguir a Sra. Juiz tece um conjunto genérico de impressões que sistematiza em 4 partes, subordinadas às seguintes epígrafes: (i) Havia um acordo? (ii) O vazio posterior a 11/2/2004; (iii) O estudo efectuado pelo autor, as reuniões e as horas de trabalho; e (iv) A manifesta falta de prova directa.

Ora, este conjunto genérico de impressões é apriorístico relativamente à especificação dos fundamentos decisivos para a convicção da Sra. Juiz e ao precedê-la revela uma pré-decisão quanto ao resultado da produção de prova.

- A resposta aos quesitos que devem ser ou não considerados provados não pode constituir mero produto derivado do espírito, sem suporte nos elementos probatórios carreados para o processo.

A Sra. Juiz ao não ter indicado quais os meios probatórios na qual se alicerçou a sua convicção em relação a cada facto, cometeu a nulidade prevista no art. 668/1 b) CPC.

Tal pode constatar-se a fls. 1388 da decisão sobre a matéria de facto na qual a Sra. Juiz assume que é pressuposto para a ruptura de negociações a prévia existência de um acordo quanto a questões essenciais do negócio perspectivado, cuja violação representaria o acto ilícito que constitui o objecto da acção.

“Havia algum acordo? Analisando globalmente todos os meios de prova produzidos, concatenados uns com os outros é forçoso concluir que não havia ainda um acordo, verbal sequer, quanto a questões essenciais do negócio perspectivado, quando as negociações hibernaram ou quebraram”.

Daqui decorre que a Sra. Juiz colocou o cerne da questão discutida nos autos na violação de deveres contratuais quando o que está em causa é a violação dos deveres “ex lege” que tutelam os legítimos interesses dos autores atentos os contactos pré-negociais estabelecidos com a 3ª ré para a formalização do acordo, ou seja, a responsabilidade pré-contratual prevista no art. 227/1 CC (boa-fé pré-contratual).

Esta errada percepção repercutiu-se na forma como a Sra. Juiz conduziu o julgamento nomeadamente, nas questões colocadas às testemunhas, na falta de relevância que deu aos seus depoimentos e na resposta aos factos quesitados.

Apreciando a nulidade arguida – art. 688/1 b) CPC – no que concerne à não indicação pela Sra. Juiz dos

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meios probatórios na qual alicerçou a sua convicção em relação a cada facto, diremos que esta não tem lugar.

Na verdade, tal como referido aquando da apreciação da questão sob a alínea a) - nulidade do despacho de 2/3/2007-, esta nulidade traduz-se na falta absoluta/total de motivação e não já, na motivação insuficiente e ou deficiente.

In casu, atenta a resposta à matéria de facto constante de fls. 1383 a 1404 – IV vol., constata-se que a Sra.

Juiz fundamentou as respostas indicando as razões na qual apoiou o seu veredicto – testemunhal, documental e ausência de qualquer prova – pelo que não assiste razão aos apelantes.

O art. 655/1 consagra o princípio da prova livre – O tribunal colectivo aprecia livremente as provas, decidindo os juízes segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto.

A decisão proferida sobre a matéria de facto declarará quais os factos que o tribunal julga provados e quais os que julga não provados, analisando criticamente as provas e especificando os fundamentos que foram decisivos para a convicção do julgador – art. 653/2 CPC.

Chamando à colacção a decisão da matéria de facto constata-se que a Sra. Juiz apesar de ter efectuado a análise globalizante, contra a qual se insurgem os apelantes, apreciou livremente a prova segundo a sua convicção, declarou quais os factos que julgou provados e não provados analisando criticamente as provas e especificou quais os fundamentos que foram decisivos para a sua convicção.

Tendo em conta a decisão proferida, não se pode extrair a conclusão, conforme pretendem os apelantes, que a análise globalizante, ainda que efectuada em momento anterior ao da fundamentação e apreciação dos arts. da base instrutória, contenha um juízo prévio, ou melhor, uma pré-decisão quanto ao resultado da produção de prova, nem que tenha colocado o cerne da questão colocada nos autos na violação dos deveres contratuais e que tal se tenha repercutido na forma como conduziu o julgamento, falecendo a sua conclusão.

Acresce ainda que a questão suscitada pelos apelantes não constitui nulidade da sentença.

Na verdade, se a decisão proferida sobre algum facto essencial para o julgamento da causa não estiver devidamente fundamentado, pode a Relação, a requerimento da parte, determinar que o tribunal de 1ª instância a fundamente, tendo em conta os depoimentos gravados ou registados ou repetindo a produção de prova, quando necessário, de acordo com o preceituado no art. 712/5 CPC.

In casu, os apelantes nada requereram, olvidando este preceito.

Assim, improcede a nulidade arguida.

d) Alteração da matéria de facto (…)

Atento o explanado supra (apreciação das questões colocadas nas alíneas a), b) e d), consideram-se assentes os seguintes factos:

1 – A 1ª autora, "Companhia (…), S.A.", é uma sociedade que desenvolve a actividade de exploração agrícola, pecuária e florestal do seu património, bem como a industrialização e comercialização dos respectivos produtos (A).

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2 - Em Março de 2003, A contactou o 2 autor e propôs-lhe a constituição de uma sociedade em Portugal (B).

3 - Fundos de investimento Florestal são fundos que investem em floresta com objectivos de rentabilidade superiores à taxa de juro, sem risco. São tipicamente fundos fechados por prazos longos (no mínimo dez anos) que apenas geram receitas na sua liquidação. A sua rentabilidade é predominantemente influenciada pelo factor natural de crescimento da madeira e não tanto pelo factor preço de mercado (C).

4 - O primeiro contacto entre o 2º autor e A foi estabelecido através do advogado comum de ambos, Dr.

(…), o qual contactou o 2º autor e lhe colocou a questão do interesse do mesmo no projecto de investimento, ao que este respondeu afirmativamente, dadas as características de rentabilidade certa do mesmo (D).

5 - O 2º autor reuniu-se pela primeira vez com A conjuntamente com o Dr. (…), em 7 de Março de 2003, na Herdade da T... e na Herdade do Vale ..., sitas em ... (E).

6 - Nessa reunião estiveram também presentes L e P, irmãos do 2º autor, e o Sr. César (…) (F).

7 - Na reunião acima referida não ficaram acertadas quais as fases de desenvolvimento do projecto, nem o plano de negócios do mesmo, nem quaisquer pormenores (G).

8 - Em 6 de Outubro de 2003 o 2º autor recebeu um e-mail do Sr. I, com o texto que consta de fls. 205 dos autos (H).

9 - Em 8 de Outubro de 2003 o 2º autor teve uma reunião com I, o qual apresentou o projecto escrito de investimento junto como documento nº 20 com a p.i. (I e art. 17 da BI).

10 - Nesta reunião de 8/10/2003, I convidou o 2º autor a visitar uma plantação da "B, SA", em Espanha, bem como os escritórios da mesma, em Madrid, a fim de o 2º autor constatar no local a actividade por esta desenvolvida (J).

11 - Em 28 de Novembro de 2003, o 2º autor, acompanhado de L e P, deslocou-se às propriedades da "B, SA", onde se reuniu com A e outros seus colaboradores, tendo-lhe sido mostradas várias plantações (K).

12 - Nesse encontro de 28/11/2003, A entregou ao 2º autor o documento junto aos autos como documento nº 30 da p.i. (L e art. 17 da BI).

13 - A Companhia (…), SA tem actividade na área agrícola, florestal, pecuária e no agro-turismo; situa-se a cerca de 40 Km de Lisboa, tem cerca de 22.000 hectares distribuídos pela Charneca do ... e pela Lezíria de ... (M).

14 - Em 21 de Janeiro de 2004 realizou-se uma reunião no escritório do 2º autor onde estiveram presentes, para além deste, o Dr. (…), A e I (N).

15 - Nesse mesmo dia, à tarde, realizou-se uma reunião na sede da 1ª autora na qual estiveram presentes o 2º autor, A, o Dr. (…), o Presidente do Conselho de Administração da 1ª autora, Dr. (…) e um outro Administrador desta, Dr. (…) (O).

16 - O 2º autor contratou o Dr. (…) para fazer o estudo económico-financeiro deste projecto e para acompanhar a formação da nova empresa, conjuntamente com a Dra. (…), colaboradora do 2º autor para os assuntos jurídicos (P).

17 - Em 11 de Fevereiro de 2004 A enviou ao 2º autor, que o recebeu, o e-mail junto como documento nº 38 da p.i. (Q).

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18 - Em 11 de Julho de 2005 realizou-se uma conferência em Coimbra com o tema "Investir nas Florestas Portuguesas", na qual o Dr. Duarte proferiu uma palestra, na qual anunciou o lançamento por uma empresa do Grupo D'..., a "... Financial — Sociedade Gestora de Participações Sociais, SA", do primeiro Fundo Florestal Português, em parceria com a "B, SA" (R).

19 - Na 4ª Secção da Conservatória do Registo Comercial de Lisboa foi matriculada em 26 de Agosto de 2005, sob o número ... a sociedade "P... ... — Exploração e Comércio de Produtos Florestais, S.A.", cujo objecto social é "produção, transformação, comercialização, exportação, compra e venda com o sem compromisso de recompra por preço certo ou aleatório e distribuição de produtos florestais, agrícolas ou pecuários, bem como, de qualquer um dos seus derivados ou transformados", com um capital social de € 150.000,00 subscrito por um único accionista, e cujo conselho de administração para o quadriénio de 2005/2008 é composto por Duarte (…), Pedro (…), Francisco (…), Angel (…) e Ignacio (…), conforme documento junto a fls. 262 a 265 e que aqui se dá por integralmente reproduzido (S).

20 – “O 2º autor é administrador das seguintes sociedades:

a) Presidente do Conselho de Administração da sociedade G.P.D.G. – Gestão e Participações, S.A., no período de 1998/2001 (certidão de fls. 635/638).

b) Presidente do Conselho Presidente do de Administração da sociedade I... – Investimentos Imobiliários, S.

A. no quadriénio de 2003-2006 (certidão de fls. 743-746).

c) Presidente do Conselho de Administração da sociedade Casa Agrícola ..., S.A. no quadriénio de 2004/2007 (certidão de fls. 597/599).

d) Membro do Conselho de Administração da sociedade B... – Sociedade Imobiliária, S.A., no quadriénio de 2002/2005 (certidão de fls. 639/647).

e) Vogal do Conselho de Administração da sociedade ... – Sociedade Imobiliária, S.A. no quadriénio de 2002/2005 (certidão de fls. 606/611).

f) Membro do conselho de Administração da sociedade Companhia Imobiliária da Herdade da ..., S.A. nos períodos de 2002/2005 e 2006/2009 (certidão de fls. 648/652).

g) Vogal do conselho de administração da sociedade ... – Gestão e Participações, S.A. no quadriénio de 2002/2005 certidão de fls. 600/605).

h) Vogal do Conselho de Administração da sociedade Casa da ... – Sociedade Imobiliária, S.A. no quadriénio de 2001/2005 (certidão de fls. 653/655) - (AA).

21 - O 2º autor é comproprietário em conjunto com Manuel (…), Luís (…), Pedro (…), Sofia (…) e Maria (…) dos seguintes prédios:

a) Prédio rústico Herdade da T..., com a área de 109,0225 ha, freguesia e concelho de ... – certidão de fls.

656/658.

b) Prédio misto Monte do Vale ..., com a área de 418,2750 ha, freguesia e concelho de ... – certidão de fls.

659/660 – (DD).

22 — A "B, SA" apresenta-se, no relatório de contas de 2002, como uma empresa que transforma plantações de sequeiro e regadio em plantações agro-florestais sustentáveis, onde se produz madeira de elevada procura e valor económico (1º).

23 - A "B, S.A." publicita, no relatório de contas de 2002, que essas plantações agro-florestais se vendem

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depois a terceiros, ficando aquela ré como gestora económica e responsável pelo desenvolvimento das mesmas durante todo o ciclo de cultivo e produção (2º).

24 - A "B, S A" publicita também, no relatório de contas de 2002, que uma das formas de comercialização dessas plantações consiste em aquela ré constituir com terceiros investidores, que participam com o capital, uma sociedade comercial, que comprará um ou mais prédios rústicos e encomendará os projectos de desenvolvimento e os trabalhos de execução para realizar a plantação das árvores e a instalação das infra-estruturas de engenharia (3º).

25 - A sociedade proposta referida em 2 (alínea B) teria como objecto a produção, transformação, comercialização, exportação, compra e venda com ou sem compromisso de recompra por preço certo ou aleatório e distribuição de produtos florestais, agrícolas ou pecuários, bem como de qualquer um dos seus derivados ou transformados (4º).

26 - Na ocasião referida em 5 e 6 (alíneas E e F) o 2º autor e os seus irmãos afirmaram poder disponibilizar cerca de 530 hectares no perímetro de rega, para fazer a plantação (8º).

27 – A manifestou, nessa reunião, o seu agrado pelas qualidades e características daqueles solos (9º).

28 - Devido à expectativa na realização deste investimento, desde 2003 que não voltou a ser plantado tabaco na Herdade da T... e na Herdade de Vale ..., como se fazia de há vários anos até então (12º).

29 - A conduta de A e a da B, S.A. foi de tal modo convincente, regular e contínua na revelação do interesse na criação da parceria com o 2º autor e do primeiro Fundo Florestal português que criou neste a confiança de que tal projecto seria concluído (art. 20º).

30 – Depois de 8/10/2003, houve reuniões entre I e o 2º autor no escritório deste, em Lisboa (art. 24º).

31 – A qualidade e o detalhe da documentação fornecida por A, I e pela B, SA, ajudou a reforçar a confiança do 2º autor (art. 27º).

32 - As propriedades da "B, SA" referidas em 11 (K) situam-se em O..., a cerca de 1 hora de Madrid (28º) . 33 – Nessa visita ao local, A... ... explicou detalhadamente as técnicas inovadoras utilizadas pela "B, SA"

nas suas plantações, na área da genética (30º).

34 – Após o encontro havido em 28/11/2003, tiveram lugar as reuniões mencionadas em 14 e 15 (alíneas N) e O) - (art. 37º).

35 – O 2º autor dedicou tempo e disponibilidade a encontrar terras de regadio (art. 38º).

36 – O 2º autor era portador, aquando da propositura da acção, de cópia de um levantamento e classificação das albufeiras de Portugal publicado pela Direcção de Serviços de Utilização do Domínio Hídrico e de um relatório sobre "Caracterização da Rega e Drenagem em Portugal" publicado pelo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (39º).

37 - À data da propositura da acção, o 2º autor era portador de um "relatório e contas" do exercício de 2004 da Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia (41º).

38 – O 2º autor era portador, aquando da propositura da acção, de um estudo do Engenheiro Agrónomo ..., publicado pelo Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (43º).

39 – O 2º autor reuniu mais do que uma vez com o Presidente da Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de ... e com o seu Director Executivo, Engº. (…) (44º).

40 – A 1ª autora mostrou disponibilidade para destinar terrenos à plantação de árvores no âmbito do

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negócio perspectivado (47º).

41 – Após a reunião em Espanha houve uma reunião mencionada em 15 (alínea O) – (48º).

42 – O 2º autor apresentou à administração da 1ª autora o projecto de investimento da 3a ré e mostrou documentação (49º).

43 – A 1ª autora mostrou disponibilidade para destinar 400 hectares de regadio para efectuar uma plantação (52º).

44 - A qualidade do solo seria um factor importante para a rentabilidade do projecto, pois determina o crescimento e a qualidade das árvores a plantar, o que terá implicações na valorização anual da madeira e, consequentemente na valorização dos fundos de investimento florestais (57º).

45 — Nessa reunião a 1ª autora demonstrou o seu interesse no projecto, pois seria uma forma de prossecução do seu objecto social (58º).

46 – O 2º autor, após a reunião de 21/1/2004 (factos 14 e 15), deu entrada no Registo Nacional de Pessoas Colectivas de um pedido de certificado de admissibilidade de firma, em 23/1/2004 (59º).

47 – Em 29 de Janeiro de 2004 foi aprovada a firma da sociedade a constituir "B... N... – Florestação, Actividades Agrícolas e Imobiliário, SA" (60º)..

48 – O qual foi revalidado por 180 dias em 23/7/2004, 19/1/2005 e 18/7/2005 (70º).

49 – Em 23 de Março de 2005, o 2º autor diligenciou pelo registo do logótipo da "B... N... e desenho" no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (71º).

50 – Pelo menos, em 15 de Julho de 2005 o 2º autor tomou conhecimento de que a "B, S.A." ia fazer uma parceria com uma empresa do Grupo D'... (72º).

51 – Após contactos com o Grupo D'..., o 2º autor foi informado que os réus tinham celebrado entre si um acordo de parceria (73º).

52 – O 2º autor despendeu um número de horas não concretamente apurado em reuniões com a Associação de Regantes de ..., com a Associação de Regantes da Lezíria de ..., com o Conselho de Administração da 1ª autora, com os réus, e com o seu colaborador Dr. (…)(79º).

53 – A Herdade da T..., com cerca de 110 hectares, e a Herdade de Vale ..., com cerca de 420 hectares, não voltaram a ser arrendadas, para a eventualidade de serem arrendadas à sociedade a constituir pelo 2º autor e pela 3a ré (83º).

54 — O 1º réu agiu sempre na qualidade de Presidente da "B, SA" e em representação desta (87º).

55 - O 3º réu é um consultor independente (88º).

e) Questão da responsabilidade pré-contratual – art. 227º do Código Civil

Intentaram os apelantes a presente acção contra os apelados com fundamento na responsabilidade pré- contratual sustentando que estes, ao romperem arbitrária e unilateralmente as negociações, violaram os elementares princípios de boa-fé na formação dos contratos, constituindo-se na obrigação de ressarcir os danos positivos e negativos causado, tendo concluído pela condenação dos réus a pagar ao 1º e 2º autores uma indemnização pelos danos negativos ou de confiança no valor de € 445.448,00 e de € 459,029,50, respectivamente, e ainda ao 2º autor uma indemnização pelos danos positivos no valor de € 11.375.000,00.

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Quem negoceia com outrem para a conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares, como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente causou à outra parte – art. 227 CC.

Daqui decorre que todo o processo genético do acordo em que se consubstancia o contrato, i.é, os preliminares e a formação do contrato pode ser analisada em duas fases distintas, a saber: a fase das negociações (na qual se prepara o conteúdo do acordo) e a fase decisória (na qual são emitidas as declarações de vontade: proposta e aceitação).

Contratar bem/correctamente pressupõe um ónus, na medida em que salvaguarda e é colocado no interesse de cada uma das partes, mas pressupõe também um dever, salvaguarda do interesse da outra parte.

E é justamente na violação deste dever que surge a denominada culpa na formação dos contratos ou responsabilidade pré-contratual fundada no pressuposto que nas negociações preliminares e preparatórias de um contrato, as partes devem comportar-se como pessoas de bem, com correcção, lealdade, informação e esclarecimento.

O dever geral da boa-fé na formação dos contratos desdobra-se em vários deveres de actuação, a saber, o dever de comunicação, informação e de esclarecimento, os deveres de guarda e restituição, o dever de segredo, o dever de clareza, o dever de lealdade, de protecção e conservação – cfr. Ana Prata, in Notas sobre a Responsabilidade Pré-Contratual, in Revista da Banca nº 16, Outubro/Dezembro de 1990 e nº 17, Janeiro e Março de 1991 – págs. 40 e sgs.

Para Rui Alarcão, a culpa in contrahendo ancora-se no princípio da boa fé entendido este como princípio normativo que exige a valoração das partes como honesta, correcta e leal, que se concretiza em dois sentidos básicos: um sentido negativo, em que se visa impedir a ocorrência de comportamentos desleais (obrigação de lealdade), e um sentido positivo, em que se intenta promover a cooperação entre os contraentes (obrigação de cooperação) – cfr. Rui de Alarcão, Direito das Obrigações, ed. policopiada, Coimbra, 1983, págs. 110 e 115.

Para Mário Júlio de Almeida Costa, o princípio da boa fé, enquanto critério formador da vontade das partes na negociação impõe-lhes um dever de clareza, de esclarecimento, de informação e de lealdade – cfr.

Almeida Costa in Responsabilidade Civil pela Ruptura de Negociações Preparatórias de Um Contrato, in Separata da RLJ, reimpressão, Coimbra editora, 1994 – 57 e sgs.

Para Menezes Cordeiro a concepção da culpa in contrahendo encerra os deveres de protecção, de informação e de lealdade – cfr. Da Boa Fé no Direito Civil, Colecção Teses.

Assim, se alguém inicia e prossegue negociações, criando na outra parte expectativas de negócio, mas com o propósito de as romper ou de não fechar o contrato, ou formando no decurso dessas negociações tal propósito de forma arbitrária, defraudando assim, a confiança que a outra parte tenha formado na celebração deste, deve indemnizar os prejuízos que causa.

A ordem jurídica pretende conciliar e salvaguardar na fase pré-contratual, dois interesses – por um lado, o da liberdade negocial/contratual, que impõe às partes, até ao último momento, seja reconhecida a liberdade de optar entre contratar ou não e por outro, o interesse criado pela confiança no projecto do contrato, i.é., a legítima expectativa de contratar que as próprias negociações vão consolidando porquanto,

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normalmente tal expectativa vai aumentando à medida que as negociações avançam e as partes vão chegando a acordos parcelares ou suportando despesas e encargos relacionados com essas negociações.

Na fase preliminar/negociatória que se desenrola durante um período de duração variável no decurso da qual se prepara, discute e até se celebram acordos parcelares que, por vezes, de per si, originam ou podem originar obrigações contratuais, as partes têm uma liberdade muito maior que na fase posterior à conclusão do negócio, uma vez que naquela podem sempre fazer reajustamentos ou reformulações, mais difíceis, senão impossíveis na fase ulterior.

No entanto, a margem de liberdade concedida, atenta a clara intenção do legislador no sentido da protecção da confiança formada na outra parte no decurso das negociações, não é total, nem discricionária, nela não se incluiu o simples capricho ou arbítrio inesperado e imprevisível dos negociadores.

Se bem que qualquer das partes, ao iniciar negociações, tenha forçosamente de efectuar estudos preparatórios que lhe apontem para a probabilidade de sucesso e de assumir o risco de não conduzirem a bom termo, também há que ter em conta que as próprias negociações e a conduta da outra parte a podem ter levado a proceder a novos estudos de mercado, consultas, elaboração de orçamentos, contratos de prestação de serviço com outrem, seguros e demais danos integrantes do interesse contratual positivo quando, pelo encontro da proposta e da aceitação, já tenha sido obtido acordo, com a chegada a bom termo da fase decisória da negociação e faltando apenas a formalização do contrato.

Neste caso, é de entender que existe um verdadeiro dever de conclusão cuja violação implica a indemnização do interesse do cumprimento, i. é, considerando-se como indemnizável o ganho que derivaria da celebração do contrato e que não se obteve.

No entanto, para que haja obrigação de indemnizar em caso de não conclusão do contrato negociado, é necessário que se verifique o rompimento arbitrário e culposo, por uma das partes, das negociações, acarretando danos para a outra parte, e o facto específico da criação nesta, por força da conduta daquela, da expectativa ou da confiança na celebração do contrato – cfr. Ac. STJ de 16/12/2010, relator Silva Salazar, in www.dgsi.pt.

A ilicitude na fase pré-contratual traduz-se na violação das regras de boa-fé subjacente aos deveres de protecção (impõem às partes a obrigação de abstenção de actuações susceptíveis de causar danos à outra parte), aos deveres de informação verdadeira (sobre todas as circunstâncias relevantes para a decisão da outra parte) e os deveres de lealdade (prevenindo comportamentos desleais para a outra parte, a título de exemplo a ruptura unilateral e injustificada de negociações quando a outra parte já adquirira plena confiança na conclusão do negócio).

Discute-se na doutrina e jurisprudência a questão de saber se a responsabilidade pré-contratual se reconduz a uma situação de responsabilidade contratual, de uma responsabilidade aquiliana ou mista.

Vaz Serra, Menezes Cordeiro, Mário de Brito, defendem que a responsabilidade pré-contratual insere-se na responsabilidade contratual, enquanto que Mota Pinto, Almeida Costa e Ana Prata defendem a sua inserção na responsabilidade aquiliana/extra-contratual, enquanto outros defendem o seu enquadramento num instituto de regime híbrido (Meneses Leitão), situado a meio caminho entre responsabilidade contratual e extra-contratual – cfr. Mário Júlio Almeida Costa in Responsabilidade ob. cit. – págs. 86 a 98), Mota Pinto in

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Cessão da Posição Contratual, Atlântida edit., Coimbra, 1970 – págs. 350 a 353; António Menezes Cordeiro, Tratado de Direito civil Português – I - Parte Geral: Tomo I, Almedina, 3ª ed., 2005 – págs. 517 a 519, Ana Prata, in ob. cit., Menezes Leitão in Direito das Obrigações, vol. I, Livraria Almedina, 7ª ed., 2008 – págs.

362 e 363, Acs. STJ de 21/12/2005, de 18/11/2004 e de 4/4/2006, sob o nº 06A222, in www.dgsi.pt, entre outros.

Acompanhamos quem sustenta que a responsabilidade pré-contratual insere-se na responsabilidade aquiliana.

Para que haja lugar à responsabilidade pré-contratual, conforme supra referido, necessário é a verificação de todos os pressupostos da responsabilidade civil (contratual ou delitual) – facto voluntário (acção ou omissão), ilícito, nexo de imputação do facto ao lesante (culpa), dano, nexo causal entre o facto e o dano.

Os pressupostos de facto desta obrigação de reparação (responsabilidade) traduzem-se na criação de uma razoável confiança na conclusão do contrato; o carácter injustificado da ruptura das conversações ou negociações; a produção de um dano no património de uma das partes e a relação de causalidade entre o dano e esta confiança suscitada.

Os danos a indemnizar na responsabilidade pré-contratual, tal como resulta do art. 227 CC são aqueles que decorrem da violação das regras de boa-fé “só responderá pelos danos se não proceder segundo as regras de boa-fé”.

A boa fé, tal como referido supra, significa uma actuação reflectida que implica não apenas e tão só as próprias vantagens, mas também as da contraparte, devendo uma e outra conduzir-se leal, honesta e correctamente, respeitando as expectativas recíprocas razoáveis, prevenindo lesões ou desvantagens recíprocas, em suma, observar na relação aqueles deveres especiais de conduta subjacentes à boa fé e da qual decorre, que todos devem guardar fidelidade à palavra dada e não frustrar ou abusar da confiança que constitui a base imprescindível das relações humanas e do tráfico jurídico.

A boa-fé e a confiança entre as partes dependem de dois elementos, um elemento objectivo que se traduz na adequação e idoneidade das actuações e comportamentos do declarante para gerarem confiança segundo um padrão médio e um elemento subjectivo que se traduz na criação de confiança efectiva numa das partes pela actuação e comportamento da parte contrária.

Assim, incorre em responsabilidade pré-contratual a parte, que tendo criado na outra a convicção razoável, de que o contrato seria concluído (confiança), rompe intempestivamente as negociações ou recusa injustificadamente a conclusão do contrato, ferindo os interesses da contraparte.

Face ao preceituado no art. 562 CC – quem estiver obrigado a reparar um dano, deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação – e tendo em conta que a obrigação de indemnização decorre da violação da confiança e da boa-fé ou da recusa da conclusão do contrato negociado, se tal facto ou evento for constituído pela confiança criada na contraparte de que as negociações chegariam a bom termo e o contrato seria concluído, a parte lesada só pode pretender ser colocada na situação em que estaria se não lhe tivesse sido criada essa confiança, i. é, apenas pode pretender um ressarcimento correspondente ao interesse negativo, ou seja, na situação sem quaisquer negociações.

Se, ao invés, se entender que o evento que obriga à reparação for constituído pela recusa na conclusão do

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contrato – o que pressupõe o reconhecimento de um (controverso) dever de concluir o contrato apenas por haverem entrado em negociações independentemente do ponto de vista a que estas chegaram - a consequência seria a colocação da parte lesada na situação em que estaria se, hipoteticamente, o contrato tivesse sido celebrado, logo a indemnização devida seria a correspondente ao interesse positivo de cumprimento do contrato – cfr. Mota Pinto in Interesse Contratual Positivo e Interesse Contratual Negativo, vol. II – 1341 e Ac STJ de 31/3/2011, relator Fernando Bento, in www.dgsi.pt.

A indemnização pelo dano positivo destina-se a colocar o lesado na situação em que se encontraria se o contrato fosse cumprido, ou in casu, no que ao 2º autor concerne, se o contrato tivesse sido concluído - reconduzindo-se aos prejuízos que decorrem da não conclusão do contrato.

Por sua vez a indemnização pelo dano negativo tende a repor o lesado na situação em que estaria se, por não haver confiado, não houvesse iniciado as negociações com vista à conclusão do contrato, i. é, encara- se o prejuízo que o lesado evitaria se não tivesse, sem culpa sua, confiado em que, durante as negociações, o responsável cumpriria os específicos deveres a elas inerentes e derivados da boa-fé, maxime convencendo-se que a manifestação da vontade deste entraria no mundo jurídico tal como esperava, ou que havia entrado válida e correctamente - cfr. Almeida Costa in Direito das Obrigações, 10ª ed., 598 – 599.

Daqui decorre que a indemnização pelo dano negativo deve cobrir apenas a diferença entre a situação patrimonial actual do lesado e a situação patrimonial que existiria se o contrato, válido ou inválido, não tivesse sido celebrado ou se as negociações não tivessem ocorrido.

Esta indemnização pelo interesse contratual negativo pode cobrir tanto os danos emergentes (despesas realizadas) como lucros cessantes, incluindo outras efectivas possibilidades negociais em especial aquelas que tenham sido rejeitadas por causa das negociações, mas não a oportunidade frustrada com o próprio contrato, inválido ou não concluído - cfr. Carlos Ferreira de Almeida in Contratos I, 4ª ed., 2008, 224/225.

O STJ tem entendido que o dano indemnizável no caso de responsabilidade pré-contratual por culpa in contrahendo é o interesse contratual negativo, ou dano de confiança, devendo o lesado ser colocado na posição em que estaria se não tivesse encetado as negociações, tendo direito a haver aquilo que prestou na expectativa da consumação daquelas, mas se a culpa in contrahendo estiver na violação do dever de conclusão de um contrato, a responsabilidade em causa pode tender para a cobertura do dano positivo – cfr. Acs. STJ de 14/10/2010, de 16/12/2010, in www.dgsi.pt, e Mota Pinto in ob. cit. – págs. 1347/1348.

Destes arestos concluiu-se que, em princípio, apenas são objecto da obrigação de indemnizar os danos que constituam lesão do chamado interesse contratual negativo ou interesse de confiança, ou seja, os danos que o lesado não teria sofrido se não tivesse confiado na expectativa negocial criada pela parte contrária;

no entanto, podem ser objecto de indemnização por culpa in contrahendo os danos integrantes do interesse contratual positivo, quando, pelo encontro da proposta e da aceitação, já tenha sido obtido acordo, faltando apenas a formalização do contrato, pois, nesse caso, é de entender que existe um verdadeiro dever de conclusão, cuja violação implica a indemnização do interesse do cumprimento, i. é, considerando-se como indemnizável o ganho que derivaria da celebração (formalização) do contrato e que não se obteve”.

A responsabilidade decorre do facto, conforme extractado supra, do facto de uma das partes ter gerado na

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outra a confiança e a expectativa legítima de que o contrato seria concluído.

In casu, atentos os factos apurados, concluiu-se que o réu A, Presidente da B, SA, e actuando sempre como representante desta empresa, B, S.A., criou e gerou no autor a confiança e expectativa legítimas de que iriam formalizar o contrato – reuniões, discussões, entrega de documentos, projectos, e-mails, brochuras – sendo certo que quer o autor, administrador de várias sociedades, quer o réu, A, Presidente da B, SA, são pessoas habituadas ao mundo dos negócios, com perfeita consciência dos riscos inerentes aos mesmos.

É a confiança, assim violada por inobservância das regras de boa-fé que, com vista à reconstituição anterior, constitui o evento que obriga à reparação.

O dano a indemnizar é o dano causado pela violação da confiança na conclusão e celebração do negócio, pelo que não são ressarcíveis, ainda que a ruptura de negociações seja injustificada, os gastos que constituem um risco implícito em todo o negócio, como a título de exemplo, gastos que sempre teriam de ocorrer/realizar para iniciar as negociações, ou seja, gastos que sempre se teriam efectuado com o simples facto de se iniciar a negociação, despesas realizadas entre o início dos contactos e a formalização da proposta negocial a discutir (in casu, a título de exemplo, as deslocações à I... e O..., estudos efectuados tendo em conta o eventual negócio, a sua viabilidade/ganhos).

Assim, apenas estão cobertos pelo interesse negativo do contrato, os danos que não teriam sido sofridos se o lesado não tivesse confiado na conclusão do contrato pelo que se impõe a reconstituição da situação que existiria anteriormente à criação da confiança, designadamente reembolsando o lesado das despesas que efectuou na perspectiva da conclusão do contrato, i. é, na situação em que ele se encontraria se nunca tivesse havido negociações.

Este critério de indemnização pelo interesse negativo do contrato em caso de ruptura de negociações e de celebração do contrato é a solução imposta pela coerência sistemática do CC – art. 9 CC.

Paulo Mota Pinto, in Interesse Contratual Positivo e Interesse Contratual Negativo – fls. 1340 – refere que,

“pode, a nosso ver, tirar-se um argumento do regime dos arts. 898, 899, 908 e 909 CC, para a obrigação de indemnização em caso de não conclusão dos contratos: se, na compra e venda, a obrigação de indemnização a cargo do devedor (mesmo doloso) se reporta apenas ao interesse negativo, tendo o negócio sido celebrado mas sendo inválido (nulo ou anulado), não pareceria facilmente explicável uma responsabilidade mais ampla (que inclua os lucros cessantes do contrato) quando o negócio (por exemplo, também uma compra e venda), não chegou sequer a ser concluído.

Destarte, afastada está, in casu, a indemnização peticionada pelo 2º autor, pelo interesse positivo, ou seja, não há lugar à mesma, sendo certo, que nada se apurou quanto a esta matéria.

No que à indemnização pelo interesse negativo concerne, constata-se que, in casu, apesar de se verificarem alguns dos requisitos determinantes da responsabilidade pré-contratual dos réus (A e B, S A) para com o 2º autor, nomeadamente, o facto voluntário, consistente na criação, no 2º autor, da expectativa ou confiança na conclusão do contrato negociado e no rompimento das negociações; a ilicitude, traduzida na arbitrariedade do rompimento e violação do dever de lealdade nos termos referidos supra e indicados em infracção do art. 227 CC; a culpa, consistente no juízo de censura e reprovação que a demonstrada conduta negocial dos réus merece e que, atentos os factos apurados, seria de presumir face às negociações encetadas; não se verifica quer o dano, traduzido nos prejuízos que o 2º autor sofreu em

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consequência do rompimento das negociações, bem como o nexo causal entre a conduta dos réus e o dano sofrido pelo 2º autor.

Na verdade, a medida de indemnização devida ao 2º autor pressupõe o conhecimento do valor das despesas e gastos por ele efectuados durante as negociações com os réus, tendo em vista a formalização do contrato, na sequência e com base na confiança depositada na actuação dos réus.

Não obstante os factos apurados em 35 a 39, 46, 47 a 49, 54 e 55, não logrou o 2º autor provar, de tal tendo o ónus, art. 342/1 CC, que tenha efectivamente pago e desembolsado dinheiro na obtenção dos relatórios de que era portador aquando da propositura da acção, desconhece-se qual o valor despendido pelo 2º autor na procura das terras de regadio, bem como nas reuniões efectuadas, bem o quantum ou melhor, valor/hora que o autor despendeu na recolha destes elementos; desconhece-se qual o valor do arrendamento das terras do 2º autor e se iriam ser ou não arrendadas ou se 2º autor e sua família costumam arrendar essas terras.

Assim, não tendo o 2º autor logrado provar os factos constitutivos do seu direito, a acção soçobra.

No que concerne ao pedido formulado pela 1ª ré, atento o supra explanado e os factos provados entende- se inexistir qualquer responsabilidade pré-contratual por parte dos réus (A, B, S.A) para com aquela.

In casu, entre ambas as partes não foram emitidas quaisquer declarações de vontade tendo em vista a celebração do contrato.

Analisando a actuação dos réus nada resulta, nem aponta, nem se apurou, atento o seu comportamento negocial, que não tenham agido segundo os ditames de boa-fé.

A reunião que teve lugar na Companhia das Lezírias situa-se no âmbito de negociações, prospecções – ver as terras, discutir a sua viabilidade e fertilidade, arrendamento ou compra – nunca se chegou sequer à fase de formulação de propostas concretas com manifestações de vontade; tudo decorreu no âmbito de negociações para estabelecer as condições de um eventual acordo a celebrar.

Inexistem quaisquer declarações de vontade e aceitação das mesmas.

Acresce ainda que desconhece-se, em absoluto, se a 1ª autora sofreu prejuízos porquanto prova alguma foi feita nesse sentido.

Assim, não há lugar a atribuição da indemnização peticionada, pela 1ª falecendo nesta parte o pedido.

Demandaram os autores a ré O pedindo a sua condenação solidária nas indemnizações peticionadas, uma vez que esta sociedade havia celebrado com a B, S. A., também ré neste processo, um acordo visando o mesmo projecto da criação de um fundo florestal português.

Apurado ficou que em Julho de 2005, foi anunciado numa conferência, que o grupo D’... iria lançar uma empresa do primeiro fundo florestal português em parceria com a B, S.A, tendo sido registada a sociedade P... .... – factos 18 e 19.

Ora, in casu, nenhuma responsabilidade pode ser assacada a esta ré.

Na verdade, esta sociedade é completamente alheia às relações estabelecidas entre os autores, em particular, 2º autor com os réus A e B, SA.

É de todo desconhecido qual o motivo que levou a B, SA a fazer a parceria com a ré O, bem como se esta sociedade contribuiu para a não realização do acordo entre aqueles réus e o 2º autor, se esta sociedade sabia da existência das negociações havidas entre o 2º autor e os réus.

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Inexiste qualquer relação entre esta sociedade e os autores.

Assim, a conclusão é a da absolvição do pedido no que a esta ré O concerne.

No respeitante ao réu I também demandado pelos autores nesta acção, apurado ficou que este réu era um consultor independente da B, SA.

Apesar de ter participado em algumas reuniões, enviado e-mails, este réu não agiu por sua conta e risco, a sua actuação foi pautada e conforme com o solicitado/ordenado por A enquanto Presidente da B, SA.

Assim, nenhuma responsabilidade lhe pode ser assada concluindo-se pela sua absolvição do pedido.

Pelo exposto, acorda-se em julgar a apelação improcedente e, consequentemente, confirma-se a sentença, ainda que com fundamento diverso.

Custas pelos apelantes.

Lisboa, 4 de Outubro de 2012

Carla Mendes Octávia Viegas

Rui da Ponte Gomes | | |

Fonte: http://www.dgsi.pt

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