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Estud. av. vol.6 número15

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Academic year: 2018

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Ecos da Eco 92

na reunião da SBPC

UMBERTO G. CORDANI

O

workshop "Ecos da Eco 92" promovido pela SBPC — Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em sua reunião anual de julho de 1992, contou com a colaboração do Instituto de Estu-dos AvançaEstu-dos da USP, e da Sociedade Brasileira de Meteorologia. Seus objetivos foram os de produzir uma avaliação dos resultados da Confe-rência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, logo após a sua realização, através do exame cuidadoso dos do-cumentos resultantes, de depoimentos de quem participou do evento, e de discussões generalizadas por parte de componentes de diversos seg-mentos da sociedade, que acompanharam o desenvolvimento do pro-cesso.

Foram disponíveis para o exame deste workshop os textos iniciais da Conferência do Rio, e também as modificações introduzidas, durante os debates no Riocentro. Os produtos da Conferência incluíram a De-claração do Rio, contendo os princípios básicos do ecodesenvolvimento, a Agenda 21, que representa um enorme programa de ações para pre-parar a humanidade a "sobreviver", no próximo século, duas convenções a respeito das mudanças climáticas, e da biodiversidade, e uma declaração sobre florestas. Estes foram os elementos básicos em discussão durante o workshop.

Por que o "Ecos da Eco 92"? E por que a SBPC, em sua reunião anual deste ano quis dar um destaque especial a este workshop?

Porque a Rio-92 representou uma inflexão na história da huma-nidade, com a redefinição do direcionamento do desenvolvimento hu-mano. Novos caminhos, em busca de um novo equilíbrio, que envolva uma situação de desenvolvimento "sustentável", em bases eqüitativas para a humanidade.

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(agora e nos próximos anos), como inter-gerações, incluindo-se aqui o planejamento para o bem estar da humanidade, a longo prazo. Sua meta final é uma situação de estabilidade para o planeta, com o crescimento populacional contido, e a utilização de tecnologias sadias para o ambien-te, dentro dos princípios do desenvolvimento sustentável, socialmente equilibrado, responsável, e em harmonia com a natureza.

Presentemente nos encontramos muito distantes de tal situação ideal. Nossos padrões existenciais, nossas atitudes sócio-econômicas, são claramente não-sustentáveis, e a situação piora continuamente com a explosão populacional. O consumo anual de cada habitante do planeta atinge cerca de 20 toneladas de material, cerca de 1,5 Kw de energia, e cerca de 800 m3 de água. Com isto são produzidas cerca de 2 toneladas de produtos finais, acompanhadas de inúmeras transformações químicas, e enorme quantidade de rejeitos diversos. O homem tornou-se um agen-te geológico dos maiores, e o fluxo de maagen-terial que ele movimenta na superfície da Terra é da mesma ordem de grandeza que aquele provocado pelo conjunto de processos naturais originários da dinâmica interna do planeta.

As pressões sobre os ecossistemas do planeta são insustentáveis. Antes da revolução industrial, a utilização de recursos da biosfera pelo homem não excedia a 1% da produção primária de material, numa si-tuação aceitável. Atualmente a exploração é uma ordem de grandeza maior, 10% da produção primária o que, se continuar, pode levar em poucas décadas à destruição da própria biosfera.

E mais ainda, os padrões econômicos vigentes são perversos, no sentido de que os pobres financiam os ricos. Há dez anos, a somatória da dívida externa do Terceiro Mundo atingia cerca de 600 bilhões de dólares. Até o ano passado, foram pagos mais de 700, mas a dívida atual permanece e aumentou, passando agora de 1.000 bilhões, um trilhão de dólares!

Na transição para o desenvolvimento sustentável, muitas soluções foram propostas, algumas delas já testadas e comprovadas. Fontes de energia renováveis, reciclagem de rejeitos, agricultura regenerativa, flo-restas sociais, tecnologias sadias para o ambiente, etc., etc.

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ou-tros "ismos" acabam fazendo prevalecer interesses pequenos, de indiví-duos, grupos, regiões, países, acima dos interesses comunitários, públi-cos, supra-nacionais, globais.

Os problemas de ambiente e desenvolvimento já são conhecidos de há muito tempo. Sem esquecer Malthus, em seu ensaio sobre popula-ções, de 1798, escrito quando a população mundial apenas beirava o primeiro bilhão, vários documentos globais importantes apareceram, especialmente, nas últimas duas décadas:

— O 1° relatório do Clube de Roma, em 71, sobre os limites do crescimento.

— A conferência de Estocolmo e o ecodesenvolvimento, em 72. — O 3º relatório do Clube de Roma, em 76, para uma nova ordem internacional.

— O Relatório Willy Brandt, para as Nações Unidas, em 1980. — O Relatório Brundtland, em 1987, nosso futuro comum, com a caracterização do desenvolvimento sustentável.

Muitos dos problemas levantados naqueles documentos são agora retomados na Agenda 21, mais ou menos nos mesmos termos. Ou seja, os problemas já eram conhecidos, ninguém discordava de sua importân-cia, de sua urgência. E entretanto, quais foram as ações resultantes? Pra-ticamente, muito poucas, ou nenhuma que tenha sido relevante, em ter-mos globais. Acelerou-se a exploração predatória dos recursos naturais, a degradação ambiental, o crescimento populacional, e aumentou a já enorme diferença que separa os países desenvolvidos daqueles em desen-volvimento. Em conclusão: muitas palavras, concordância total, pouca ou nenhuma ação.

E porque seríamos levados a acreditar que será diferente agora, após a Rio-92?

Cada um pode julgar como quiser, entretanto parece-nos que a consciência mundial para os problemas de ambiente e desenvolvimento foi despertada de modo irreversível, no mundo todo e de uma maneira que não mais pode ser ignorada pelos políticos, em geral, e pelos deten-tores de poder, em particular. As discussões foram encaminhadas seria-mente, com a participação ampla de muitos setores da sociedade, e a pressão de entidades não governamentais foi aceita e até reconhecida pelas Nações Unidas, de modo sem precedentes.

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em novos avanços do conhecimento, e nas adaptações que permitirão descobrir novos caminhos para o desenvolvimento, sustentável e ambien-talmente sadio.

Na conferência do Rio, foi dado grande destaque ao ICSU, o Conselho Internacional das Uniões Científicas, a organização não go-vernamental que coordena as principais atividades científicas internacio-nais. Seu presidente, o físico indiano M. G. K. Menon pôde dirigir-se ao plenário do Riocentro durante 7 minutos, mais do que foi concedido a muitos chefes de Estado. Em seu pronunciamento, transcrito na íntegra e traduzido neste volume, Menon assegurou que os cientistas estão pre-parados para assumir o papel que lhes cabe para encontrar os novos caminhos, e que inclusive muitos dos programas científicos necessários para tal já se encontram em pleno andamento.

Cabe aos cientistas a observação e o monitoramento dos proble-mas globais que afligem a humanidade, como os decorrentes do efeito estufa, do empobrecimento da camada de ozônio na alta atmosfera, a perda de solo arável, o crescimento da desertificação, etc, etc. As pes-quisas mais e mais exigirão esforços de colaboração internacional, e mais e mais o enfoque deverá ser interdisciplinar. Neste sentido, a atitude futura dos homens da ciência deverá evoluir para adaptar-se ao equacio-namento dos problemas globais. Com efeito, a formação e o treiequacio-namento atual dos cientistas, educados para desenvolver ao máximo uma experiên-cia em espeexperiên-cialidades de campo de atuação reduzido, não são adequados. Por exemplo, seria viável a um físico nuclear com experiência em radio-isótopos tratar com propriedade problemas de oncologia, ou de epide-miologia? Ou a um geoquímico especialista em elementos traços de ro-chas vulcânicas, opinar sobre nutrientes no solo, para algum tipo de cultura agrícola? Ou seja, em casos similares, os cientistas deverão desen-volver a humildade necessária para reconhecer que nenhuma experiência individual é suficiente para respostas satisfatórias, no plano global.

Em se tratando da sobrevivência da humanidade no próximo sé-culo, Rio tem que ser considerado como ponto de partida, como ponto inicial de um processo contínuo de transição, que pode levar diversas décadas, até atingir o estágio pretendido de desenvolvimento sustentável, em equilíbrio com a natureza.

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referentes às convenções, e às diferentes seções da Agenda 21. Tais de-poimentos foram complementados por discussões generalizadas em cin-co mesas redondas, todas elas muito cin-concin-corridas, em que houve parti-cipação direta e entusiasmada não só dos cientistas, mas também de re-presentantes dos mais diversos segmentos sociais. O quadro a seguir resume os coordenadores, relatores e autores dos documentos básicos de referência para cada uma das mesas redondas realizadas. Em adição, neste volume encontram-se transcritos os depoimentos principais ocor-ridos durante as sessões plenárias, e apresentados pelos respeitados pes-quisadores Ennio Candotti, Jacques Marcovitch e Paulo Nogueira-Netto.

Mesas Redondas Realizadas durante o Workshop Ecos da Eco-92

Convenção Climática

Coordenador: Pedro Leite da Silva Dias (IAG/USP)

Relator e Autor Documento Básico: Antonio Divino Moura (INPE)

Convenção sobre Biodiversidade e Declaração sobre Florestas

Coordenador: Mauro A. M. Moraes Victor (Instituto Florestal-SP) Relator: Antonio C. Cavalli (Instituto Florestal-SP)

Autor Documento Básico: Otto Solbrig (Harvard University-USA)

Dimensões Social e econômica da Agenda 21

Coordenadora: Elza S. Berquó (CEBRAP e UNICAMP) Relator: Eduardo Viola (UF Santa Catarina)

Autor Documento Básico: Harold Jacobson (Michigan University-USA)

Agenda 21 — Conservação e Gerenciamento de Recursos para o Desenvolvimento

Coordenador: Washington Novaes (Secr. Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia-DF)

Relator: Aldo Rebouças (IG/USP)

Autor Documento Básico: David Norse (Overseas Development Inst. London-UK)

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Agenda 21 — Mecanismos e Implementação

Coordenador: Henrique Rattner (FEA-USP) Relator: Maria Hanai (CNPq)

Autor Documento Básico: Kilaparti Ramakrishna (Woods Hole Re-search Center-USA)

A avaliação da Conferência do Rio, e do próprio processo deslan-chado pelas Nações Unidas, continua, e o "Ecos da Eco-92" foi apenas uma de suas etapas. Somente o futuro revelará se, finalmente, os bons propósitos acordados pelas Nações e pelos governos durante a Rio-92 serão seguidos de ações diretas, relevantes, convergentes, possibilitando à humanidade vislumbrar afinal a tão almejada luz no fim do tenebroso túnel em que se encontra.

Umberto G. Cordani é professor do Instituto de Geociências da USP e membro

Referências

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