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ProPosições vol.19 número2

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Academic year: 2018

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Pro-Posições, v. 19, n. 2 (56) - maio/ago. 2008

Apresentação

Joaquim Brasil Fontes*

A inclusão do debate sobre diversidade sexual e de gênero no espaço acadêmico ocorreu, em meados dos anos 1970, em grande parte por pressão de grupos politicamente atuantes de feministas, de lésbicas e gays; assistimos, então, no plano internacional, à criação dos departamentos de Estudos da Mulher e, posteriormente, à dos Estudos de Gênero e dos Estudos Gays e Lésbicos em universidades americanas: tratava-se, na origem, de criar alternativas e formas de resistência aos sintomas de sexismo, machismo e homofobia que ainda hoje atuam de forma profunda ou invisível nas mais democráticas das nossas sociedades. Dessa forma, temas de teor “trangressivo” – se nos permitem as aspas – penetraram discretamente, mas com insistência, no território rarefeito da pesquisa acadêmica, onde fincaram suas âncoras.

Cumpre também destacar, no mesmo horizonte, a presença das Teorias Queer que, na década de 90, colocaram em questão as próprias categorias identitárias das práticas sexuais e de gênero, levando a educação a rever suas formas binárias e excludentes de pensar tais categorias, mesmo quando propõe políticas de tolerância: pensar a produção histórica de conceitos como gênero e sexualidade pode constituir-se em estratégia de resistência às tentativas de demarcar fronteiras rígidas entre as práticas sexuais e as experimentações de gênero, permitindo a construção, no horizonte da escola, de uma extensa variação temática. É assim que, ao apontar para a construção histórico-social das identidades sexuais e de gênero, o professor ou a professora – mas talvez não seja necessário insistir num binarismo que a própria língua pode também facilmente dissolver – vem ajudar o educando ou a educanda a descobrir os limites e as possibilidades impostas ao indivíduo enredado nas malhas de uma cultura na qual o masculino e o feminino não passam de estereótipos estabelecidos por preconceitos milenares. Incluir os estudos de gênero nos cursos de formação docente, divulgar as principais produções bibliográficas sobre o assunto, incentivar novas pesquisas, exigir critérios mais rigorosos na publicação de textos didáticos e científicos são alguns dos procedimentos que envolveriam uma mudança curricular que hoje

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se impõe, se considerarmos que a educação dever ser sobretudo um espaço de cidadania e de respeito aos direitos humanos. A Universidade é, portanto, chamada à responsabilidade da discussão do tema da alteridade e da inclusão das minorias, o que a levará inevitavelmente a repensar sua posição frente aos novos sujeitos escolares que reinvidicam seu espaço no currículo escolar, entre eles as minorias sexuais e de gênero.

É nesta perspectiva que se inserem os desafios propostos pelos diversos trabalhos apresentados neste dossiê: trata-se de provocar o discurso educacional e de convidá-lo a ensaiar a produção de formas curriculares e de práticas educacionais que levem à produção de novas formas de subjetividades e a uma desconstrução e reinvenção das categorias sexuais e de gênero no mundo contemporâneo.

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Guacira Lopes Louro sublinha, no texto que abre este dossiê - “Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas” – no aspecto sempre inacabado da construção de gênero e sexualidade, apreendidos por intermédio de aprendizagens e práticas empreendidas, de modo explícito ou dissimulado, por um conjunto inesgotável de instâncias sociais e culturais que se multiplicam no mundo contemporâneo. A autora insiste no fato de que se torna necessário observar atentamente, neste embate cultural, os modos como se constrói e reconstrói a posição da normalidade e a da diferença, assim como os significados que lhes são atribuídos.

No artigo subseqüente – “¿Quien teme a la psicología feminista?” : Reflexiones sobre las construcciones discursivas de profesores, estudiantes y profesionales de psicología para que cuando el género entre en el aula, el feminismo no salga por la ventana” – a pesquisadora espanhola Teresa Cabruja parte de uma pesquisa qualitativa que envolve estudantes, docentes e profissionais da área para problematizar a inclusão do tema “gênero” no campo da psicologia, mostrando o quanto com sua pretensa neutralidade, objetividade e cientificidade, assim como a permanência, no mundo contemporâneo, de um imaginário androcêntrico e etnocêntrico contribuem para travar um verdadeiro questionamento de uma psicologia pouco sensível às relações de poder.

Em “Pequena Miss Sunshine: na contramão de uma subjetividade exterior”, Rosa Maria Bueno Fisher, elege uma narrativa cinematográfica – Pequena Miss Sunshine – para discutir as relações entre cultura do sucesso e sexualidade: enfocando a infância, a autora desafia o leitor a descobrir novos modos de pensar as relações entre entre mídia, infância e as questões de gênero e de sexualidade.

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sexuais de risco”, Conceição Nogueira, Luisa Saavedra e Cecília Costa sublinham a importância das discussões sobre gênero nos programas voltados para a Educação Sexual de jovens adolescentes, criticando alguns dos seus discursos normatizantes e apontando para a necessida de programas emancipatórios que debatam também as questões de gênero e a assimetria entre os sexos na vivência da sexualidade.

A seguir, e como que prolongando essa discussão, Araci Asinelli-Luz e Nelson Fernandes Júnior apontam em “Gênero, adolescências e prevenção HIV/Aids”, estudo que é fruto de pesquisa realizada entre adolescentes de ambos os sexos, com idades de 17 e 19 anos, na cidade de Curitiba, para a importância das questões de gênero quando se trata de pensar o sucesso da prevenção frente a epidemia da Aids, indicando em que situações os jovens vivenciam comportamentos de prevenção e quando os negligenciam frente “à sua condição peculiar de vulnerabilidade”.

No artigo “Discursos sobre homossexualidade e gênero na formação em Pedagogia”, Nilson Fernandes Dinis e Roberta Ferreira Cavalcanti mapeiam algumas das concepções sobre o tema gênero e homossexualidade, produzidas por estudantes de um curso de Pedagogia, e mostram que, apesar de alguns avanços nesta área, ainda persistem concepções binaristas e excludentes no entendimentos das identidades sexuais e de gênero. .

Por fim, em “Mulheres só fazem amor com homens? - A Educação Sexual e os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo”, Jimena Furlani problematiza processos de produção das diferenças sexuais a partir de coleções de livros paradidáticos de educação sexual, tendo como principal foco o debate sobre os sujeitos que estabelecem relacionamentos sexuais e afetivos com pessoas do mesmo sexo. A análise da autora visa provocar novas práticas pedagógicas de Educação Sexual que possam fugir de paradigmas heteronormativos.

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