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A ação rescisória no novo código de processo civil: questões relevantes acerca da sua aplicabilidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ CURSO DE DIREITO

PAOLA WERMELINGER CÂMARA

A AÇÃO RESCISÓRIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: questões relevantes acerca da sua aplicabilidade

Macaé/RJ 2019

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PAOLA WERMELINGER CÂMARA

A AÇÃO RESCISÓRIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: questões relevantes acerca da sua aplicabilidade

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em Direito, do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Fabiano Gosi de Aquino

Macaé/RJ 2019

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PAOLA WERMELINGER CÂMRA

A AÇÃO RESCISÓRIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: questões relevantes acerca da sua aplicabilidade

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação em Direito do Instituto de Ciências da Sociedade de Macaé, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________ Prof. Dr. Benedicto de Vasconcellos Luna Gonçalves Patrão – UFF

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Candido Francisco Duarte Dos Santos e Silva – UFF

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Fabiano Gosi de Aquino – UFF

Macaé/RJ 2019

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus, percussor de tudo e criador de todo conhecimento disponível. À minha mãe, meu exemplo e meu orgulho, que nunca mediu esforços para proporcionar a mim e à minha irmã tudo que temos hoje, sem nunca ter saído do meu lado por um momento sequer, obrigada por tanto. Ao meu pai, que sempre me iluminou do céu, sentindo sua presença em toda a minha caminhada.

À minha irmã, minha metade, que desde quando chegou a minha vida vem me ensinando o verdadeiro significado de amar e cuidar, obrigada por permanecer.

Às minhas tias e minha avó, que sempre celebraram comigo minhas vitórias e ofereceram colo quando necessário.

Aos meus amigos, principalmente Juliana e Vitória, que me deram todo suporte para construir uma segunda família quando se está longe de casa.

Aos meus professores, desde criança, pois sem a aprendizagem passada por eles nada disso seria possível. Que sejam mais e melhores valorizados e reconhecidos.

Aos estágios por onde passei, principalmente à Justiça Federal de Macaé, onde pude absorver toda prática profissional que tenho hoje, sendo certo que me fez uma pessoa e uma profissional melhor.

Por fim, à Universidade Federal Fluminense, que me fez ter a melhor experiência acadêmica/social dentro de uma Faculdade de Direito que levarei para sempre na minha vida.

(6)

À minha mãe, a quem tudo; À minha irmã, por quem tudo.

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RESUMO

O escopo do presente trabalho é analisar a ação rescisória e seu cabimento dentro do Novo Código de Processo Civil. Para tal, partiu-se da abordagem sobre a coisa julgada, ressaltando seus aspectos, conceitos e discussões, para, em seguida, entrar na discussão da ação rescisória em si. Dessa forma, utilizou-se principalmente bases doutrinárias e jurisprudenciais para embasamento da escrita, realizada por pesquisa bibliográfica. O trabalho se divide em 03 partes (aqui chamadas de capítulo): a primeira, onde se discute as questões da coisa julgada, trazendo conceito, espécies, etc; a segunda, que inicia a abordagem da ação rescisória e estuda seus aspectos atuais dentro do Código de Processo Civil; e a terceira, que busca aprofundar determinados incisos do artigo 966 do CPC trazendo problemáticas de linguagem e interpretação.

Palavras-chave: Coisa Julgada. Ação rescisória. Código de Processo Civil. Divergência Doutrinária.

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ABSTRACT

The scope of this paper is to analyze the termination action and its fit within the New Code of Civil Procedure. To do so, it started from the approach to the res judicata, emphasizing its aspects, concepts and discussions, and then entering the discussion of the termination action itself. Thus, we used mainly doctrinal and jurisprudential bases for the basis of writing. The method of approach adopted is deductive and the documentation technique is indirect, performed by bibliographic research. The work is divided into three parts (here called the chapter): the first, where we discuss the issues of the judged, bringing concept, species, etc; the second, which initiates the termination action approach and studies its current aspects within the Code of Civil Procedure; and the third, which seeks to deepen certain sections of article 966 of the CPC, bringing problems of language and interpretation.

Keywords: Judged Thing. Termination action. Code of Civil Procedure. Doctrinal Divergence.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I.ABORDAGEM SOBRE COISA JULGADA Erro! Indicador não definido. 1.1 Coisa Julgada: conceito e efeitos ... 1Erro! Indicador não definido.2 1.2 Constituição e limites da coisa julgada ... 14

1.3 Relativização da coisa julgada ... 19

1.4 A eficácia preclusiva da coisa julgada ...23

CAPÍTULO II. NOÇÕES SOBRE AÇÃO RESCISÓRIA Erro! Indicador não definido.5 2.1 Conceito ... 25

2.2 Cabimento ... 27

2.3 Casos de descabimento da ação rescisória ... 34

2.4 Legitimidade ... 35

2.5 Legitimidade Passiva ... 37

2.6 Competência ... 38

2.7 Prazo ... 39

CAPÍTULO III. AÇÃO RESCISÓRIA POR MANIFESTA VIOLAÇÃO À NORMA JURÍDICA ... 41

3.1 Decisões fundadas em normas posteriormente declaradas inconstitucionais pelo STF ... 42

3.2 Decisões que se fundaram na declaração incidental de inconstitucionalidade de norma que foi posteriormente declarada constitucional pelo STF ... 44

3.3 Decisão baseada em norma jurídica controvertida, pacificada após seu trânsito em julgado ... 44

3.4 Decisão transitada em julgado conforme entendimento dos Tribunais Superiores, que posteriormente alteram seu entendimento ... 46

3.5 A problemática sobre o caráter genérico do inciso V do artigo 966 do CPC ... 47

3.6. A importância dos Princípios da Segurança Jurídica e da Confiança...50

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

(10)

INTRODUÇÃO

O artigo 966 do Código de Processo Civil de 2015 dispõe sobre as hipóteses de cabimento da ação rescisória. Utiliza-se esse tipo de ação para reformar decisões já transitadas em julgado, para, dessa forma, buscar a justiça mais verossímil possível. Porém, sabe-se que as sentenças proferidas pelos juízos podem ser baseadas, muitas vezes, em questões ainda não consolidadas pela doutrina e pela jurisprudência. Dessa forma, pretende-se discutir se seria possível o enquadramento da ação rescisória para essa situação: modificar julgados que, há época, basearam em divergências doutrinárias e que, com o passar do tempo, a questão consolidou-se.

A fim de abordar questões sobre sentença e trânsito em julgado, será feita uma breve abordagem da “coisa julgada”, no primeiro capítulo, levando em consideração seu conceito e seus desdobramentos. Para abordar o tema, serão utilizadas doutrinas de autores processualistas e civilistas renomados, como Fredie Didier, Daniel Amorim Assumpção Neves e Humberto Theodoro Júnior. De forma complementar, busca-se base em jurisprudências e julgados, bem como Súmulas e Enunciados.

Pode-se dizer que o objetivo principal do presente Trabalho é discutir acerca das hipóteses de incidência da ação rescisória, principalmente no que tange a questões de divergência doutrinária e jurisprudencial.

Em questões de metodologia utilizada, buscou-se método científico, que, segundo Cleber Cristiano Prodanov e Ernani Cesar de Freitas, é o conjunto de processos e operações mentais que devemos empregar na investigação (2013. P. 126). Para alcançar as pretensões aqui expostas, utilizar-se-á a metodologia baseada em pesquisas teóricas e jurisprudenciais, como doutrinas e trabalhos pertinentes. Ademais, busca-se a legislação apara análise e discussão.

Para tal, será feita busca em sites oficiais e doutrinas de modo analítico, dividindo-se o presente trabalho em três partes principais.

O primeiro capítulo aborda a questão da coisa julgada dentro do ordenamento jurídico brasileiro, de forma a apresentar suas principais características, como a

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discussão doutrinária acerca dos seus limites subjetivos e objetivos, seus efeitos e eficácia.

Ato contínuo, aborda-se a ação rescisória em si, aprofundando um pouco mais sobre seu cabimento e suas questões específicas, como prazo e legitimados, com o objetivo de introduzir e enquadrar o tema do presente trabalho dentro das lições doutrinárias relevantes.

Por fim, discute-se mais precisamente do inciso V do artigo 966 do CPC, abordando 04 hipóteses controvertidas de incidência e a problemática por volta do seu caráter genérico, com o intuído de, por fim, discutir sobre a importância acerca do cuidado que o jurista deve ter ao aplicar o referido inciso no caso concreto. .

(12)

CAPÍTULO 1

ABORDAGEM SOBRE COISA JULGADA 1.1 Coisa Julgada: conceito e efeitos

Após alguma decisão judicial transitar em julgado, tem-se o que se convencionou a chamar de “coisa julgada”. Nas palavras de Daniel Amorim Assumpção Neves,

“qualquer que seja a espécie de sentença – terminativa ou definitiva – proferida em qualquer espécie de processo – conhecimento, execução ou cautelar – haverá num determinado momento processual o trânsito em julgado e, como consequência, a coisa julgada formal”. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág 878).

Não se pode confundir, porém, a coisa julgada com um dos efeitos da sentença, entendimento já superado pela doutrina1 e pelo próprio Código de Processo Civil ao disciplinar em seu artigo 494 que o efeito da sentença é simplesmente “esgotar o ofício do juiz e acabar a função jurisdicional”.

Dessa forma, no nosso atual CPC, o artigo 502 conceitua explicitamente a coisa julgada, ao disciplinar que “denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.”.

A coisa julgada pode ser vista sob sua dimensão positiva e negativa. No primeiro caso, tem-se que a mesma deve ser obrigatoriamente observada, ou seja, se há uma decisão sobre determinado assunto, ela necessariamente deve ser levada em consideração no mundo fático e jurídico, não podendo ser descartada. Já em sua concepção negativa, a coisa julgada produz o efeito de abster que as partes procurem outro entendimento ou outro julgado para aquela mesma situação, ou seja, impede que a mesma questão seja decidia novamente2.

Outra classificação amplamente utilizada para qualificar a coisa julgada é seu aspecto formal e seu aspecto material. A chamada “coisa julgada formal” ocorre em decisões sem resolução do mérito, simplesmente pelo decurso temporal que ocorreu

1

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1137-1139. “O que a coisa julgada acarreta é uma transformação qualitativa nos efeitos da sentença, efeitos esses que já poderiam estar sendo produzidos antes ou independentemente do trânsito em julgado.”

2

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do momento que o juízo proferiu a decisão para frente. Dá-se, portanto, por razões formais. Já a “coisa julgada material” acoberta as decisões de mérito irrecorríveis, fazendo com que “o conteúdo da decisão se torne imutável e indiscutível”3

. Nas lições de Humberto Theodoro Júnor, pode-se dizer que a diferença entre ambas é apenas de grau de um mesmo fenômeno. Ou seja, enquanto a coisa julgada formal produz efeitos dentro do processo –impedindo que seja rediscutido pelo mesmo juízo, como já demonstrado–, a coisa julgada material produz efeitos fora dele, produzindo lei entre as partes, nos moldes do artigo 5034.

É possível que a parte do processo decida recorrer apenas de algum ou alguns pontos (capítulos) específicos da sentença. A partir disso, surge na doutrina uma discussão acerca se a parte impugnada forma ou não coisa julgada parcial. Majoritariamente5, admite-se que sendo recorrida apenas parte da decisão, a que não fora abordada transitará em julgado e qualificar-se-á como coisa julgada. Por outro lado, Daniel Amorim leciona que em razão do efeito expansivo objetivo externo do recurso, o fenômeno da coisa julgada parcial não existiria6.

Humberto Theodoro especifica melhor a explicação, aduzindo que a possibilidade de haver coisa julgada parcial não ocorrerá quando o capítulo impugnado tiver nexo de prejudicialidade com outros capítulos da sentença. Ou seja, esta só ocorrera quando, além dos capítulos questionados serem autônomos, também serem independentes, podendo, inclusive, serem discutidos até mesmo em ação autônoma7.

Quando o fenômeno da “coisa julgada parcial” ocorre, questiona-se sobre o prazo para o ajuizamento da respectiva ação rescisória. Como bem lecionou Humberto Theodoro acima mencionado e também o Supremo Tribunal Federal, a partir do momento que se tem a coisa julgada parcial, imediatamente inicia-se a contagem de prazo para o questionamento via ação rescisória8. Porém, de acordo

3

CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 269.

4 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1146. 5

JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 527.

6 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág

878.

7

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1144.

8

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com o artigo 975 do CPC9, pode-se dizer que o legislador preferiu uniformizar a contagem do prazo, extinguindo-se, assim, a discussão anteriormente travada. 1.2. Constituição e limites da coisa julgada

1.2.1. Pressuposto de para formação da coisa julgada

O Professor Freddie Diddier leciona que a formação da coisa julgada deve perpassar por dois fatos principais: a) uma decisão jurisdicional fundada em cognição exauriente; e b) o trânsito em julgado10.

Dessa forma, pode-se entender que para que exista o fenômeno estudado, a decisão do juízo deve-se fundamentar em uma decisão exauriente, não havendo coisa julgada de decisões provisórias que não apreciaram o mérito a fundo ou que não abordaram questões probatórias, quando necessário. Assim, não poderíamos dizer que há coisa julgada de decisões que concedam tutela antecipada.

O outro requisito diz respeito, segundo o autor, ao conhecido “trânsito em julgado” assim conceituado pelo mesmo:

Para que haja coisa julgada, é preciso que contra a decisão não caiba mais recurso, qualquer recurso, ordinário ou extraordinário - "não mais sujeita a recurso", de acordo com o texto do art.502. É importante registrar que a interposição intempestiva de um recurso não impede o trânsito e m julgado”(JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 517).

É o que corrobora, também, o §3º do artigo 6º do Decreto Lei 4.657/42, ao dispor que “§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.”.

9

Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.§ 1º Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense. § 2º Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. § 3º Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão.

10

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1.2.2. Limite Objetivo da Coisa Julgada

Os artigos. 503 e 504 do Código de Processo Civil11 expressam claramente que as questões decididas na sentença tem força de lei nos limites ali firmados. A partir desse entendimento, a doutrina tradicional diz que, do corpo da sentença, apenas o seu dispositivo faz coisa julgada. Dessa forma, o limite objetivo da coisa julgada nada mais é do que o dispositivo da sentença, não abrangendo sua fundamentação e muito menos seu relatório12.

Porém, inovando na discussão da abrangência da coisa julgada em relação à sentença, Humberto Theodoro diz que o entendimento de que apenas o dispositivo possui qualificação de coisa julgada é um mito. Segundo o autor, é necessário que toda a sentença seja considerada como indissolúvel para que se alcance a segurança jurídica, pois não é só no pedido que o juízo decide unicamente, mas sim em todo o motivo pelo qual o mesmo assim entendeu, passando por todo seu fundamento e de todas as questões relevantes para o litígio13.

Com o devido respeito ao autor supracitado, é de ressaltar que não é o melhor entendimento, pois, caso assim o fosse, seria impossível rediscutir qualquer caso que fosse apreciado pelo Judiciário. Além disso, é indiscutível que os fatos narrados na inicial e contestados na contestação podem se modificar por diferentes motivos, o que levaria, necessariamente uma fundamentação diferente pelo magistrado/julgador. Assim, como se pode falar que a coisa julgada abrange a fundamentação se ela está intrinsecamente ligada aos fatos julgados pelo juízo?

Ainda pela leitura do artigo 503, pode-se concluir também que nosso Código de Processo Civil limita a coisa julgada a “questões expressamente decididas”. Ou

11

Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. § 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. § 2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial. Art. 504. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença.

12

CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 270.

13

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1137-1165: “É, por isso, que a doutrina processual mais evoluída de nossos dias vê como alcançada pela segurança jurídica proporcionada pela coisa julgada não esta ou aquela parte da sentença, mas toda a situação jurídica material objeto do acertamento contido no provimento definitivo de mérito.”.

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seja, a sentença citra petita –aquela que decide aquém do pedido– não pode gerar efeitos para os pedidos que não foram apreciados14. Consequentemente, a questão que não foi abordada na sentença não sofre os efeitos da coisa julgada, podendo ser livremente discutida novamente em outra ação.

É relevante, ainda, demonstrar que o §1º do art. 503 do CPC permite que a coisa julgada material atinja questões prejudiciais decidias incidentalmente no processo. Porém, para que isso ocorra, é necessário que se cumpra os requisitos, cumulativos, segundo Alexandre Câmara15, estabelecidos no próprio diploma legal juntamente com o §2º.

A questão incidental será decidida, inclusive, na parte do dispositivo da sentença e não depende de requerimento da parte, pois “trata-se de fenômeno que na linguagem processual costuma ser chamado de “pedido implícito”16

. Não poderia ser diferente, uma vez que não cumprido os requisitos acima mencionados não poderá a questão prejudicial ser abrangida pela coisa julgada, passando a ser meramente um motivo da sentença17.

Vale lembrar o que se entende como questão prejudicial e questão principal. Nas palavras de Freddie Diddier:

O objeto do processo é conjunto do qual o objeto litigioso do processo é ele mento: esse é uma parcela daquele. Enquanto o objeto do processo abrange a totalidade das questões que estão sob apreciação do órgão julgador, o objeto litigioso do processo cinge-se a um único tipo de questão, a questão principal, o mérito da causa, a pretensão processual. Enquanto o primeiro faz parte apenas do objeto da cognição do magistrado, o segundo é o objeto da decisão. (JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 523).

1.2.3. Limite Subjetivo da Coisa Julgada

Passada a discussão sobre o que se tem julgado na coisa julgada, passa-se agora para o estudo das pessoas que se sujeitam a ela, ou seja, de quem deve tanto respeitar o que fora decidido bem como quem será atingido.

14

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1137-1159-1160.

15

CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 270.

16

Op.cit. Pág. 273.

17

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1137-1175.

(17)

O artigo 506 do Código de Processo Civil18 leciona expressamente que a coisa julgada apenas é operada às partes do processo, não prejudicando terceiros. A partir desse final do dispositivo, Alexandre Câmara leciona que “implica dizer que podem eles [os terceiros] se beneficiar de uma coisa julgada formada em processo de que não tenham participado”19

, o que já se distingue do sistema processual antigo, que expressamente proibia que o terceiro não participante do processo fosse até mesmo beneficiado pela coisa julgada.

Porém, sabe-se que a coisa julgada pode ter efeito inter-partes, ultra-partes e

erga omnes. Em breve resumo, a primeira ocorre quando a decisão transitada em

julgado apenas produz efeitos para as partes processuais, ou seja, autor, réu e intervenientes que assim se assemelharem. A coisa julgada ultra-partes ocorre quando não só aquelas partes específicas do processo sofrem seu efeito, mas também um grupo ou pessoas determinadas. Já a terceira se dá quando todos, indistintamente, sofrerão efeito da coisa julgada, o que ocorre, por exemplo, em decisões de constitucionalidade do Supremo Tribunal Federal20.

Dessa forma, pode-se entender que o disposto no artigo 506 do Código de Processo Civil não é qualificado como norma absoluta, podendo também existir exceções em que a coisa julgada atingirá terceiros. Passemos a observar alguns exemplos.

A princípio, pode-se citar a substituição processual, que ocorre quando alguém, em nome próprio, defende direito alheio. Nesse caso, a coisa julgada abrangerá também o substituído, por mais que ele não configure como parte do processo.

Outro exemplo que a coisa julgada irá transcender as partes do processo é no caso de legitimação ad causam concorrentes e nas ações coletivas. Dessa forma, quando uma pessoa demanda algo em nome de um grupo, a sentença nesse processo proferida irá abranger a todos os legitimados concorrentes, e assim, estes não poderão propor ação com o mesmo objeto e causa de pedir, devendo se

18

Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.

19 CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 274. 20

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submeter ao que fora decidido naquele processo em que já se discutiu da lide. É o caso, por exemplo, de Sindicatos.21.

1.2.4. Limite Temporal da Coisa Julgada e as Sentenças de Trato Continuado Por fim, é importante mencionar por quanto tempo a coisa julgada torna-se indiscutível. No Código de Processo Civil, o artigo 50522 leciona que a coisa julgada poderá ser revista em casos de modificação superveniente do fato e nos demais casos previstos em lei.

No primeiro caso –modificação superveniente do fato–, é comum que se diga23 que não há literalmente a revisão de uma coisa julgada, pois, se há algum fato novo, há também algo que nunca foi apreciado, muito menos no momento de pronunciamento daquela decisão. Dessa forma, não se trata de anular ou rever a sentença anterior, pois, diante a um novo fato, deve-se notoriamente proferir nova sentença24. É o caso das sentenças determinativas de trato continuado, que são “sentenças que recaiam sobre situações futuras que estejam vinculadas a situações presentes” (JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág. 551). É corriqueiro que se exemplifique tal situação com a sentença de alimentos, que se configura um trato continuado, mas que, necessariamente, com o decorrer do tempo, transita em julgado.

Sobre a discussão pela possibilidade ou não de mudança do que fora decidido, Daniel Amorim25 traz três correntes doutrinárias.

A primeira, minoritária, leciona que seria impossível a modificação da coisa julgada, ainda que fatos supervenientes ocorram ou que situações jurídicas se alterem. A segunda corrente defende que a coisa julgada de trato sucessivo seria uma “coisa julgada especial”, só podendo ser modificada se a situação de fato e de

21

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1184.

22

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei.

23

JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 551.

CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 276-277.

24

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1137-1190

25 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág

(19)

direito também se modificarem. Por fim, um terceiro entendimento, majoritário, diz que a coisa julgada em trato sucessivo só pode sofrer alteração quando mudar a causa de pedir da ação, Alexandre Câmara, por exemplo, corrobora com essa interpretação, ao dizer que

Causas de pedir e pedidos completamente diferentes, que jamais foram apreciados em juízo anteriormente. Nada há, pois, capaz de impedir o exame, agora, desta nova demanda. Como se pode ver, então, a coisa julgada que se forma sobre as sentenças determinativas é igual a qualquer outra coisa julgada. (CÂMARA. Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. Ed. 2017. Pág. 276).

Vale a pena ressaltar que a modificação em comento não diz respeito à ação rescisória, mas sim a uma “ação de revisão” ou “ação de modificação”26

, por motivos bem claros. Primeiro que, como já amplamente explicitado, trata-se de uma situação jurídica nova, e segundo que não se encontra, explicitamente, tal previsão no artigo 966 do Código de Processo Civil, que será estudado adiante.

Em sede de discussão doutrinária, o STJ entende que essa revisão deve ser necessariamente feita através de ação judicial, não podendo a Administração Pública, por ofício, proceder modificação em, por exemplo, benefícios de trato continuado caso a situação de fato se modifique27.

Quanto aos efeitos, indiscutivelmente serão ex nunc, pois a nova decisão apenas se adequa às modificações de fato e de direito que ocorreram, não sendo, portanto, um caso de relativização ou desconstituição da coisa julgada, apenas uma revisão.

1.3. Relativização da coisa julgada

Visando melhor abordar o tema do presente trabalho, não se pode deixar de comentar do fenômeno conhecido pela doutrina como “relativização da coisa julgada”. Segundo Daniel Amorim e boa parte da doutrina, a mesma se dá em basicamente duas grandes situações: quando a decisão judicial se mostrar

inconstitucional ou injusta28, as quais faremos uma breve abordagem.

26

JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 553.

27

5ª Turma, AgRg REsp 1.221.394/RS, Rel Min. Jorge Mussi, ac. 15/10/2013, DJe 24/10/2013.

28 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág

(20)

Sendo uma parte importante do Estado Democrático de Direito e derivando diretamente do Princípio da Segurança Jurídica, a coisa julgada deve ser desconstituída por vias próprias que, no ordenamento jurídico pátrio, constitui a ação rescisória.

Porém, no decorrer da jurisprudência e de estudos doutrinários, foi possível constatar alguns casos em que a coisa julgada fora revista não diretamente através de ação rescisória – que seria o meio legalmente constituído para tal –, mas por outros meios.

Não podemos deixar de citar o caso emblemático e amplamente exemplificado na doutrina, que foi quando o Supremo Tribunal de Justiça relativizou a coisa julgada em investigação de paternidade por falta de exame de DNA. No caso, seguiu-se o entendimento do STF, segundo o qual “o fato de não ter sido feito exame de DNA por conta de omissão que não seja atribuída ao suposto pai já é motivo suficiente para a admissão da ação.”29

. 1.3.1. Coisa julgada inconstitucional

A fim de relembrar as maneiras segundo as quais o Supremo Tribunal Federal pode declarar uma norma inconstitucional, faremos um breve resumo. A primeira delas é através da redução de texto, que ocorre quando a norma em questão é “banida” do ordenamento jurídico, por ser totalmente contrária à Constituição. A segunda diz respeito à aplicação da norma, ou seja, a nossa Corte Maior determina em quais situações a mesma será válida ou não. Por fim, temos a chamada “interpretação conforme a Constituição”, que será verificada quando o Supremo Tribunal Federal, dentre as possíveis interpretações da norma, considerará uma de acordo com a Constituição, com ela compatível30.

Dessa forma, caso uma decisão judicial tenha como base a norma declarada inconstitucional posteriormente, teremos a chamada “coisa julgada inconstitucional”.

29

Revista Consultor Jurídico, 13 de fevereiro de 2014, 20h14. Disponível em

<https://www.conjur.com.br/2014-fev-13/falta-dna-stj-relativiza-coisa-julgada-investigacao-paternidade>

30 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág

(21)

A partir dela, abre-se a possibilidade de, segundo o Superior Tribunal de Justiça31, rever a decisão através de querela nullitatis a fim de que se tenha a declaração de nulidade da sentença baseada na norma inconstitucional.

Em interessante artigo sobre o tema, Heleno Taveira Torres32 defende, ainda, que se deve observar o momento em que a decisão do STF é proferida, uma vez que ela deve ser anterior o trânsito em julgado da decisão exequenda, nos termos do §7º do artigo 53533 do Código de Processo Civil. Dessa forma, segundo ele, quando o autor pretende executar a sentença transitada em julgado que esteja em desacordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal, poderá esta ser impugnada na fase de execução com fundamento na inexequibilidade. Porém, se a decisão da Suprema Corte for decidida após o transito em julgado, sua modificação ocorrerá por meio de ação rescisória, cujo prazo e características peculiares serão abordadas em capítulo próprio.

No mesmo trabalho, Heleno Taveira Torres aduz, ainda, o caráter extremamente perigoso da relativização da coisa julgada, uma vez que, segundo o próprio autor:

“A garantia constitucional da coisa julgada é o principal meio do ordenamento jurídico para a realização da segurança jurídica no Estado Constitucional de Direito no âmbito da tutela

31

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. QUERELA NULLITATIS INSANABILIS. DESCABIMENTO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. RECURSO IMPROVIDO. [...] 2. O cabimento da querela nullitatis insanabilis é indiscutivelmente reconhecido em caso de defeito ou ausência de citação, se o processo correu à revelia (v.g., CPC, arts. 475-L, I, e 741, I). Todavia, a moderna doutrina e jurisprudência, considerando a possibilidade de relativização da coisa julgada quando o decisum transitado em julgado estiver eivado de vício insanável, capaz de torná-lo juridicamente inexistente, tem ampliado o rol de cabimento da querela nullitatis insanabilis. Assim, em hipóteses excepcionais vem sendo reconhecida a viabilidade de ajuizamento dessa ação, para além da tradicional ausência ou defeito de citação, por exemplo: (i) quando é proferida sentença de mérito a despeito de faltar condições da ação; (ii) a sentença de mérito é proferida em desconformidade com a coisa julgada anterior; (iii) a decisão está embasada em lei posteriormente declarada inconstitucional pelo eg. Supremo Tribunal Federal. [...]. (BRASIL, STJ, REsp 1252902/SP, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 04/10/2011, DJe 24/10/2011)

32

Limites à revisão de coisa julgada após decisão do Supremo Tribunal Federal. Heleno Taveira Torres. Revista Consultor Jurídico, 3 de abril de 2019, 9h00. Disponível em < https://www.conjur.com.br/2019-abr-03/consultor-tributario-limites-revisao-coisa-julgada-decisao-supremo>

33

§ 7º A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5º deve ter sido proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. § 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal , em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

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jurisdicional. Ora, onde se relativiza uma garantia constitucional sobranceira como a da coisa julgada, corre-se o risco do arbítrio e da discriminação.”(Limites à revisão de coisa julgada após decisão do Supremo Tribunal Federal. Heleno Taveira Torres. Revista Consultor Jurídico, 3 de abril de 2019, 9h00. Disponível em < https://www.conjur.com.br/2019-abr- 03/consultor-tributario-limites-revisao-coisa-julgada-decisao-supremo>).

1.3.2. Coisa julgada injusta inconstitucional

Derivada de uma construção doutrinária, a possibilidade de se modificar a “coisa injusta inconstitucional” é um dos pontos mais discutidos quando se fala em coisa julgada. Porém, primeiramente, deve-se entender do que se trata. Nas palavras de Daniel Amorim, “trata-se da possibilidade de sentença de mérito transitada em julgado causar uma extrema injustiça, com ofensa clara e direta a preceitos e valores constitucionais fundamentais”. (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág 902).

A partir disso, leciona o referido doutrinador que a parcela da literatura nacional que defende a relativização da coisa julgada se divide em dois grandes grupos. De um lado, exemplificando com Tereza Arruda Alvim Wambier, estão aqueles que dizem que a sentença transitada em julgado que possui caráter injusto sequer existem, ou seja, lidam com o plano da existência da mesma. De outro, também defendendo a possibilidade da relativização da coisa julgada injusta, como Humberto Theodoro Jr, é afirmado que as mesmas existem sim, porém, caracteriza-se como uma caracteriza-sentença inválida34.

Por outro lado, pode-se verificar também a defesa de que a chamada “coisa julgada inconstitucional” não pode relativizar a coisa julgada. Para essa corrente que, em momento oportuno, será novamente abordada, a coisa julgada caracteriza-se como uma função primordial do Estado Democrático de Direito. Assim, a segurança jurídica por ela proporcionada deve ser preservada, no sentido de que “aberta uma exceção, será incontrolável a busca pela relativização da coisa julgada, chegado até mesmo a se falar em vírus do relativismo a contaminar todo o sistema jurídico”35

. Há, inclusive, jurisprudência nesse sentido36.

34 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017 – pág

903.

35

(23)

Além do mais, não podemos deixar de citar que o termo “(in)justiça” é considerado amplamente subjetivo e mutável, o que pode tornar ainda mais inseguro o nosso sistema jurídico. Nas palavras de Freddie Diddier:

“Enfim, as concepções de relativização atípica da coisa julgada são perigosas. Defendem a prevalência do "justo", mas não definem o que seja o "justo". Partem de uma noção de justiça, como senso comum captado por qualquer cidadão médio.”. (JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 559).

Por fim, faz um apanhado geral sobre a relativização da coisa julgada, demonstrando seu posicionamento:

Permitir a revisão da coisa julgada por um critério atípico é perigosíssimo. Esquecem os adeptos desta corrente que, exatamente por essa especial característica do direito litigioso, àquele que pretende rediscutir a coisa julgada bastará alegar que ela é injusta/desproporcional/inconstitucional. E, uma vez instaurado o processo, o resultado é incerto: pode o demandante ganhar ou perder. Ignora-se esse fato. O resultado do processo não se sabe antes do processo; a solução é, como disse, construída. É por isso que a ação rescisória (instituto que é a síntese de vários meios de impugnação das sentenças desenvolvido sem anos de história da civilização contemporânea) é típica e tem um prazo para ser ajuizada. (JÚNIOR, Freddie Diddier. Código de Processo Civil. Vol. 2. Pág 559).

1.4. A eficácia preclusiva da coisa julgada

Com as dimensões objetivas e subjetivas já explicitadas, cabe entender, por fim, o caráter preclusivo que elas trazem à coisa julgada. Os artigos 505 e 508 do Código de Processo Civil37 expressam esse efeito de forma clara, pois aduzem que

36

PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. QUERELA NULLITATIS INSANABLE. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CUMULAÇÃO. SENTENÇA. TRÂNSITO EM JULGADO. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. DESCONSTITUIÇÃO. NÃO CABIMENTO. AÇÃO RESCISÓRIA. VIA ADEQUADA. TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. INCOMPETÊNCIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. AFASTADA.

1. A querela nullitatis insanable somente tem por finalidade corrigir vícios formais que se apresentam no processo, relacionados especificamente à ausência dos pressupostos processuais de existência, sobretudo no que diz com a citação. Afora essas situações, que, pela sua gravidade, tornam a própria sentença inexistente, não tem lugar a querela nullitatis.2. A ação rescisória é a via adequada para

desconstituição de sentença com trânsito em julgado, desde que tenha ocorrido alguma das hipóteses de seu cabimento, devendo prevalecer a segurança jurídica em face da suposta justiça da decisão.

3. Inexistindo vinculação jurisdicional entre os Juizados Especiais Federais e a Justiça Federal comum, a competência para a revisão, desconstituição ou anulação das decisões judiciais, independentemente do meio processual eleito (via recursal, rescisória, ação anulatória ou mesmo querela nullitatis), é do próprio sistema que a proferiu.

4. Litigância de má-fé não reconhecida. (Tribunal Regional Federal da 4ª Região TRF-4 - APELAÇÃO CIVEL : AC 5005461-70.2011.4.04.7003). Grifou-se.

37

Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou

(24)

além de o objeto da lide não poder ser revisto pelo mesmo juízo, as alegações de defesas utilizadas pelas partes também transitam em julgado.

Note-se, em primeira mão, que os artigos em comento podem ter efeitos diferentes para o autor e réu na lide. A partir do momento que o artigo 508 CPC aduz que todas as alegações de defesa também transitam em julgado, devemos lembrar que é de atribuição do réu aduzir toda e qualquer matéria de defesa para impugnar o pedido do autor (art. 33638). Dessa forma, caso o réu não venha arguir alguma defesa cabível e as sentença tenha transitado em julgado, não poderá ele propor uma nova ação visando alegar o que deveria ter alegado em momento oportuno, pois suas matérias de defesa também formam coisa julgada39.

Essa proibição vem, exatamente, da eficácia preclusiva da coisa julgada, pois abrangerá tudo que se discutiu no processo, bem como o que deixou de ser discutido, apesar de poder ser alegado. A partir dessa premissa, podemos concluir que a eficácia preclusiva da coisa julgada ocorre ao impedir que seja rediscutido, no mesmo ou em outro processo, algo que possa prejudicar o caráter indiscutível e imutável da sentença proferida40.

de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei. Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido.

38

Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.

39

JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. Ed 59. 2018. Pág.1181.

40

(25)

CAPÍTULO 2: NOÇÕES SOBRE AÇÃO RESCISÓRIA

2.1. Conceito

A ação rescisória é uma ação autônoma que possui objetivo específico, o da desconstituição da decisão transitada em julgado, seja para reformá-la ou não. De pronto, deve-se diferenciá-la do recurso, uma vez que este possui trâmite dentro do mesmo processo e com as mesmas partes e não possui o requisito intrínseco de que a decisão tenha transitado em julgado – inclusive, o contrário, pois é necessário que se verifique a tempestividade do mesmo–, enquanto que a ação rescisória é uma ação autônoma, ou seja, “nasce” uma nova ação para, especificamente, discutir a decisão que, em outro processo, transitou em julgado.

É importante ressaltar que a decisão rescindenda –aquela que a parte autora deseja modificar–, não precisa necessariamente estar composta por vício ou nulidade, pois, nas palavras de Humberto Theodoro Jr:

“Na verdade, porém, não se trata nem de sentença nula nem de sentença anulável, mas de sentença que, embora válida e plenamente eficaz, porque recoberta da coisa julgada, pode ser rescindida. Rescindir, em técnica jurídica, não pressupõe defeito invalidante.” (Curso de Direito Processual Civil – vol.3 – edição 2016 – pág 848).

Dessa forma, o referido autor alerta sobre a importância de termos em mente que a antiga visão de “reformar sentença nula” não é em si o objetivo da ação rescisória, pois, como já explicitado, a decisão que transitou em julgado produz, sim, seus efeitos, até que se utilize o remédio aqui discutido como alicerce para sua desconstituição.

Além disso, estar “transitada em julgado” não significa necessariamente o esgotamento de todos os recursos cabíveis contra a decisão, uma vez que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que “admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não se tenha esgotado todos os recursos” (Súmula 514 – STF).

Por fim, antes de abordarmos questões processuais e hipóteses de incidência, é interessante deixar claro que o Código de Processo Civil deixa incontroverso que mesmo com a propositura da ação em comento, é possível que se

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dê cumprimento á decisão rescindenda41 e, uma vez acolhida, possui, em regra, efeito ex tunc, retroagindo a data da decisão questionada. Porém, é possível que o órgão julgador, em nome da segurança jurídica, module os efeitos da decisão preferida em sede de Ação Rescisória42.

2.1.1. Pressupostos

A parte, ao propor uma ação rescisória, deve observar todos os requisitos indispensáveis a qualquer tipo de ação. Porém, por ser uma ação com características peculiares, a doutrina costuma dispor que, além destes, é necessário que haja: a) uma decisão judicial de mérito transitada em julgado; e b) algum motivo previsto expressamente no Código de Processo Civil que caiba a ação em questão.43

A decisão judicial de mérito transitada em julgado: percebe-se que a abrangência de “decisão judicial” é tamanha no sentido de abarcar sentenças, decisões interlocutórias, decisão unipessoal ou acórdão, contando que sejam de mérito. (DIDDIER, Freddie. Curso de Direito Processual Civil. 13ª ed. 2016. P 423).

Porém, o §2º do art. 966 do CPC prevê duas hipóteses que caberá ação rescisória contra sentenças que não são de mérito: decisões de inadmissibilidade que impedem a repropositura da demanda, que estão previstas no §1º do art.486 do CPC44; e decisões de inadmissibilidade que impedem o conhecimento do recurso.

Vale ressaltar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que “é cabível ação rescisória contra despacho do relator que, no STF, nega seguimento a agravo de instrumento, apreciando o mérito da causa discutido no recurso extraordinário” (STF, Tribunal Pleno, AR 1.352 AgR, Rel. Min. Paulo Brossard, ac. 1º.04.1993, DJU 07.05.1993).

41

Art. 969. A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória.

42

DIDDIER, Freddie. Curso de Direito Processual Civil. 13ª ed. 2016. P 420.

43

(DIDDIER, Freddie. Curso de Direito Processual Civil. 13ª ed. 2016. P 422).

44

Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. § 1º No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485 , a propositura da nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito.

(27)

Ressalta-se que, quanto ao pressuposto de cabimento expresso da ação rescisória previsto no Código de Processo Civil, será abordado em tópico próprio uma vez que destrinchar-se-á expressamente as hipóteses previstas.

Antes de adentrarmos, portanto, nos cabimentos, é importante mencionar que o CPC prevê expressamente a possibilidade de rescisão parcial, ou seja, permite que apenas parte da decisão seja impugnada pela rescisória, como um capítulo por exemplo.

2.2. Cabimento

O artigo 966 do CPC prevê expressamente e taxativamente os casos em que caberá o ajuizamento da ação rescisória, sendo eles: a) quando se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz (inciso I); b) se for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente (inciso II); c) se resultar a decisão de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei (inciso III); d) quando ofender a coisa julgada (inciso IV); e) se violar manifestamente norma jurídica (inciso V); f) se for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória (inciso VI); g) quando, depois do trânsito em julgado, o autor obtiver prova nova cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável (inciso VII); h) se for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos (inciso VIII).

2.2.1. Prevaricação, concussão, corrupção passiva do juiz

O primeiro inciso do artigo 966 prevê três crimes que podem ser cometidos pelo juiz: a prevaricação, a concussão e a corrupção passiva. Por se tratarem de crime, é necessário que se recorra ao Código Penal para qualificá-los, estando respectivamente nos artigos 319, 316 e 317 do CP45.

45

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem

(28)

Dessa forma, pode-se dizer que diante de quaisquer atos mencionados nos referidos artigos, a decisão proferida pelo “juiz criminoso” é passível de questionamento via ação rescisória. Inclusive, há de se ressaltar que a vantagem obtida não necessariamente deve ser em dinheiro, mas em relação à qualquer tipo de favorecimento.

Primeiramente, deve-se atentar que a condenação criminal não é requisito para o ajuizamento da rescisória na presente hipótese, uma vez que a apuração de enquadramento ou não do juiz em um desses casos pode ser feita na própria ação rescisória. (JÚNIOR, HUMBERTO. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 856).

Caso haja, porém, uma ação criminal tramitando concomitantemente à rescisória no juízo cível, é possível que haja suspensão desta a fim de que se aguarde o julgamento daquela, com base no artigo 315 do CPC.

No tocante às decisões colegiadas, há de se ressaltar que o cabimento da ação rescisória não é descartado, porém, a mesma só será possível quando o voto do juiz considerado criminoso tenha influenciado a unanimidade ou a maioria do acórdão.

Por fim, a eventual procedência nesse caso, gera anulação de todo o processo desde a instrução da causa, uma vez que, nas palavras de Humberto Theodoro Jr, “porquanto toda a fase de busca e apuração da verdade estará irremediavelmente contaminada da nódoa de suspeita de irregularidade ou parcialidade.” (JÚNIOR, HUMBERTO. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 856).

2.2.2. Impedimento do juiz e incompetência absoluta do juízo

É indiscutível que no direito brasileiro a imparcialidade do juiz é essencial para solução de qualquer tipo de lide judicial. Dessa forma, o Código de Processo Civil, bem como a Constituição Federal de 1988, visam proteger esse direito fundamental da parte, o que não é diferente em casos de ação rescisória.

indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa

(29)

Em primeira mão, nota-se que apenas o impedimento (art. 144 e 147 do CPC46), e não suspeição acarreta a possibilidade de ação rescisória. Dessa forma, o Código de Processo Civil mostra-se preocupado com o Princípio do Juiz Natural, uma vez que permite que, caso o juízo seja impedido de atuar num determinado processo e assim o fez, suas decisões serão rescindíveis mesmo após o trânsito em julgao.

Assim como dito no tópico anterior, em questões de julgamento de colegiado, o Supremo Tribunal de Justiça, em seu Informativo 46247 já decidiu que não há nulidade se o voto do juiz impedido não fora decisivo para o resultado final.

Quanto à questão da competência, deve-se lembrar a diferença entre competência absoluta e relativa antes de adentrar-se em qual delas caberia a rescisão da decisão judicial. A primeira diz respeito a questões de interesse público, não sendo passíveis de ajustamento entre as partes, diferentemente da segunda, que pode, inclusive, sofrer o chamado efeito da “Prorrogação de Competência”.

Assim, apenas a competência absoluta poderá ser questionada posteriormente via ação rescisória. Daniel Amorim Assumpção Neves ainda ressalta que: “uma sentença proferida por juízo absolutamente incompetente, sendo substituía por um acórdão proferido em apelação julgada por Tribunal competente,

46

Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 1º Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. § 2º É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. § 3º O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.

Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo impede que o outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos ao seu substituto legal.

47

(30)

não enseja a propositura de ação rescisória” (NEVES, DANIEL. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017. Pág 1469).

Nesse caso, há de se ressaltar que o Tribunal, estando a causa madura, irá proceder o seu julgamento, não remetendo ao juízo a quo, pois, como será disposto adiante, a ação rescisória é uma ação de competência originária dos Tribunais. 2.2.3. Dolo ou coação da parte vencedora

O inciso III do art. 966 do CPC inclui nas hipóteses de cabimento da ação rescisória a decisão que “resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei”.

O dolo ou coação disposta no diploma legal faz referência à ofensa ao princípio da boa-fé objetiva. Assim, a parte que agiu dessa forma induz a outra a agir de uma maneira que lhe seja nociva. É importante lembrar, ainda, que o dolo da parte vencedora abrange também seu advogado e seu representante legal. Ainda, para que seja configurado, é indispensável a existência de nexo de causalidade entre a conduta dolosa da parte e o resultado da decisão.

A caracterização do dolo que permite o ajuizamento da rescisória é explicado por Humberto Theodoro Jr da seguinte forma:

“dolo autorizador da rescisória não pode se limitar à não revelação de fato ou prova favorável ao adversário, mas terá de se dar por meio de comportamento que o leve a não diligenciar a descoberta e utilização do meio de convencimento que lhe propiciaria a vitória processual”. (JÚNIOR, HUMBERTO. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 858).

A colusão e a simulação, também previstas no art. 966 inciso III, possuem a característica de querer fraudar a lei, sendo um objetivo de ambas as partes ou só uma delas. Diante dessa situação, o juízo, de acordo com o art. 14248 do diploma legal, deverá proferir decisão que impeça a concretização do objetivo das partes.

Porém, se o juízo não constatar ou não conseguir perceber a fraude consubstanciada nas atitudes das partes e proferir decisão no processo, a parte

48

Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé.

(31)

prejudicada, o terceiro prejudicado ou até mesmo o Ministério Público poderá propor a ação rescisória objetivando a desconstituição da coisa julgada bem como a condenação do litigante de má-fé.

2.2.4. Ofensa à coisa julgada

Como se sabe, a decisão de mérito transitada em julgado produz coisa julgada material, impassível de qualquer tipo de recurso e de decisão diferente sobre a mesma questão envolvendo as mesmas partes.

Dessa forma, se um determinado juízo proferir decisão contrária à coisa julgada, caberá ação rescisória com base no artigo 966, inciso IV. Inclusive, é importante destacar que a rescisória será admitida ainda que no curso daquele processo tenha se discutido a existência da coisa julgada.

Em sede de discussão doutrinária, Humberto Theodoro ressalta que há quem diga que a decisão que ofende a coisa julgada caracteriza-se como juridicamente

inexistente, e dessa forma, não abarcaria nem mesmo a possibilidade de se

rescisão, já que para o campo jurídico, ela não existiria. O autor traz como exemplos de defensores dessa corrente os seguintes doutrinadores: Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro, Rogério Mello e Licastro Torres. Porém, o próprio autor se posiciona de forma distinta, dizendo que o legislador expressamente previu a possibilidade de rescisão nesse caso, sendo portanto, um fiel cumprimento à lei o entendimento que é cabível ação rescisória em face de decisão que ofende a coisa julgada.49

2.2.5. Violação Manifesta de Norma jurídica

O art. 966, inciso V do CPC traz a possibilidade de ajuizamento de ação rescisória face da manifesta violação à norma jurídica. Deve-se, primeiramente, atentar ao termo “norma”, uma vez que caracteriza uma das mudanças ocorridas no Código de Processo Civil de 2015, uma vez que no dispositivo revogado, lia-se o termo “lei”.

49 “Acontece que, no direito positivo atual, não foi essa a opção do legislador. Cremos, por isso, que

não se pode descartar tão sumariamente a regra legal, que não é nova, e que assegura expressamente a submissão de decisão da espécie ao regime da ação rescisória”. (JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 860).

(32)

Dessa forma, é evidente que o legislador buscou ampliar o cabimento da ação rescisória quando o juízo manifestamente viola o ordenamento jurídico. Porém, o Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de restringir o termo “norma” em seu Informativo 51050,aduzindo que não se admite a ação rescisória por ofensa à sumula de direito material e processual, constitucionais e infraconstitucionais e nacionais e estrangeiras. Porém, em relação à súmula vinculante, caberá a ação rescisória.

Nessa esteira, Daniel Amorim defende que a “norma” a qual o inciso se refere abrange até mesmo os princípios não escritos51, já Humberto Theodoro vai além, ressaltando que a ofensa à jurisprudência também poderá abranger o cabimento da ação rescisória52. Essa questão será melhor abordada em capítulo próprio, visto ser o tema principal do presente trabalho.

Outro termo presente no referido inciso que salta aos olhos é “manifesta”. Ou seja, não é qualquer tipo de interpretação que o juízo atribua à norma que ensejará o cabimento da ação rescisória, e sim quando cabalmente, visivelmente e indiscutivelmente deixa de cumpri-la.

2.2.6. Prova Falsa

Como o próprio inciso já leciona, é cabível ação rescisória em caso de prova falsa no decorrer do processo. Assim como visto no tópico 1.2.2, o ajuizamento da presente não depende de prévia instrução criminal, uma vez que o próprio dispositivo dispõe "prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória.”.

É crível ressaltar que não é qualquer prova produzida no processo em que a ação rescisória poderá se fundar, uma vez que o inciso VI do artigo 966 do CPC é claro ao se referir à necessidade da característica de falsidade atribuída à prova. Nas palavras de Freddie Diddier: “Se a decisão rescindenda funda-se em outra prova, além daquela que se reputa falsa, não há o direito à rescisão, pois, afinal, a decisão pode manter-se com base em outro lastro probatório.”. (DIDDIER, Freddie. Curso de Direito Processual Civil. 13ª ed. 2016. P 498).

50

: REsp 154.924-DF, DJ 29/10/2001, AR 2.777-SP, DJe 3/2/2010.

51

NEVES, DANIEL. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017. Pág 1471.

52

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A doutrina traz à tona a discussão sobre a possibilidade de ajuizamento de ação rescisória em face de prova obtida por meio ilícito, mas que não seja falsa. Pode-se considerar majoritário o posicionamento do Professor Freddie Diddier ao defender que a decisão fundada em prova ilícita é “decisão sem motivação idônea”, e por isso, pode ser considerada invalida por recurso ou por ação rescisória. Porém, nesse ultimo caso, o autor considera que o ajuizamento da mesma teria como fundamento o inciso V do art. 966, uma vez que a consideração de uma prova obtida por meio ilícito pode ser considerado uma violação manifesta à norma jurídica, e assim, enquadrando-se melhor no inciso anterior.

2.2.7. Obtenção de prova nova

Diferentemente do Código de Processo Civil anterior, o CPC de 2015 consagrou a possibilidade de ajuizamento de ação rescisória quando a parte obtiver qualquer tipo de prova nova e não mais restrita à prova documental.

Em primeiro lugar, a doutrina majoritária, como Daniel Amorim e Humberto Theodoro53, ressalta claramente que, para o enquadramento da situação fática nesse artigo, a prova deve necessariamente já existir no momento da decisão rescindenda, não sendo possível a sua produção posteriormente. Ou seja, a parte não a utilizou no processo anterior por motivos alheios à sua vontade, mas a prova em si já existia. Caberá, portanto, ao autor da ação comprovar indiscutivelmente sua impossibilidade de obtenção da prova à época que corria o processo.

De certo pode-se considerar um raciocínio amplamente válido, pois como já se explicitou no primeiro tópico do presente trabalho, a ação rescisória não se presta para produção de provas novas, mas sim para desconstituir a decisão que, nesse caso, fora proferida sem a análise de provas influentes ao processo.

Por outro lado, Humberto Theodoro Júnior defende que nada impede o ajuizamento da ação rescisória fundada em prova produzida posteriormente à coisa julgada. Em suas palavras:

“Não condiz, portanto, com o conceito de processo justo e tutela efetiva, prevalente no acesso à justiça assegurado pelo Estado Democrático de Direito, a tese antiga de que o documento formado

53

JÚNIOR, HUMBERTO. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 867. NEVES, DANIEL. Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único. Ed. 2017. Pág 1471

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após a sentença não poderia ser considerado documento novo para efeito de autorizar a rescisória.” (JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Vol 3. Ed. 2016, pag 867).

Por fim, vale ressaltar a discussão doutrinária trazida por Freddie Diddier no sentido da (im)possibilidade de ajuizamento de ação rescisória fundada em prova nova pelo revel no processo originário. O renomado autor sustenta que, pela necessidade alarmante de que a prova seja sobre fato alegado ou controvertido no processo, o réu revel não teria interesse de agir para propor a ação, uma vez que não alegou qualquer fato no processo originário.

2.2.8. Erro de fato

Por fim, no inciso VIII do art. 966 do CPC está disposto que se admitirá ação rescisória no caso de erro de fato. No mesmo dispositivo, em seu §1º, qualifica-se o “erro de fato”, dispondo que só haverá erro autorizativo da rescisória “quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado”.

Assim, didaticamente, Daniel Amorim elenca alguns requisitos54 para que a ação rescisória seja ajuizada com fundamento no presente dispositivo: a) primeiramente, que o erro de fato seja de tamanha importância que tenha influenciado a sentença ou a decisão recorrível; b) impossibilidade de produção de prova no curso da ação rescisória, sendo necessário que as provas contidas no processo originário sejam suficientes para comprovar a existência ou não do fato; c) o fato não poderia ser ponto controvertido no processo originário; d) inexistência de pronunciamento do juízo a respeito do fato, pois a existência de apreciação da prova não enseja ação rescisória.

2.3. Casos de descabimento da ação rescisória

O §4º do artigo 966 do CPC dispõe que

“os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei.”

54

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Volume único. Ed. 2017. Pag. 1477.

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