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A politica ambiental na Amazonia : um estudo sobre as reservas extrativistas

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Academic year: 2021

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UNBCAMP

A POlÍTICA AMBIENTAL NA AMAZÔNIA:

UM ESTUDO SOBRE AS RESERVAS EXTRATIVISTAS

Este exemplar carresponde ao or;ginal da tese defendida por Francisco Carlos da Silveira Cavalcanti em 30/11912002 e orientada pelo Prof. Dr. Ba.,tialln Plrilip Reydo/

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\Jl:::J>e-;j

Francisco Carlos da Silveira Cavalcanti

Tese de Doutoramento apresentada ao Instituto de Economia da UNICAMP para obtenção do título de Doutor em Ciências Econômicas - área de concentração: Política Econômica, sob a orientação do Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon.

Campinas, 2002

UNICAMP

BIBliOTECA CENTRAL

SEÇÃO CIRCULANTE

UNICAMP

(2)

UNiDADE .Ui~ . .,-~-~~·;;:;;":J\ i'Jll CHAMADA ~"L;,.,.,,,., .•..•• v---·-·":;;..,,...,--~:··;::­ TOMBO 8CI ::ç:.:"ê"::J.,-::··•<·-/ PROC. 2"1 .,~:f:..2C.le.!.;:~:---C PHEÇO ;;:t.:..,r.,l;l.~i..~~-DATA N'CPO

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO INSTITUTO DE ECONOMIA

Cavalcanti, Francisco Carlos da Silveira.

C314p A política ambiental na Amazonia: um estudo sobre as reser-vas extratireser-vas I Francisco Carlos da Silveira Cavalcanti. -

Campi-nas, SP : [s.n.], 2002.

Orientador: Bastiaan Philip Reydon.

Tese (Doutorado) -Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia.

1. Política ambientaL 2. Desenvolvimento sustentavel- Amazonia. 3. Proteção ambientaL 4. Recursos naturais renováveis -Amazonia. 5. Produtos florestais- -Amazonia. L Reydon, Bastiaan. li. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Economia. IIL Título.

(3)

RESUMO

O objetivo desta tese é refletir, a partir de uma experiência concreta - no caso a reserva extrativista Chico Mendes -, qual a política ambiental mais adequada à conservação da floresta Amazônica ou, em termos genéricos, à

conservação de uma floresta ..tropical de um país em desenvolvimento.

Trabalha-se com a hipótese de que as reservas extrativistas (RESEX), como fruto de uma luta política e social dos movimentos locais, podem ser consideradas como uma alternativa à criação de reservas de cunho preservacionistas, definindo um novo paradigma de regulação ambiental. Não se pretende afirmar com isto que as RESEX devam ser consideradas como modelo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas como uma experiência que pode ser replicada, visando ao desenvolvimento sustentado do meio rural amazônico ou outras áreas de floresta tropical úmida. Isto, principalmente, tendo em vista as múltiplas dimensões que a constituem, o que consolida este projeto como uma experiência inovadora de conservação da floresta tropical.

Este cenário, por outro lado, reforça o debate suscitado pela importância crescente das Reservas Extrativistas, não só como proposta baseada nos princípios da sustentabilidade mas, sobretudo, pelas suas especificidades: proposta de preservação com a presença do homem e, como fruto de um movimento político dos seringueiros acreanos, em resposta à tentativa de expropriação da terra e ao processo de derrubada da floresta.

(4)

Para:

Meus Pais, Tristão e Nires; Meus filhos Joana e Paulo José;

Meus irmãos Neide, Dedé, Margarida,Tantão e Márcio;

(5)

AGRADECIMENTOS

Ao longo da elaboração deste trabalho tive oportunidade de receber apoio e ajudas das mais diferentes formas, todas elas imprescindíveis para que o projeto chegasse a bom termo. Ao nomeá-los neste espaço, gostaria de expressar e demonstrar meu reconhecimento e gratidão a todos que de certa forma trilharam comigo esta trajetória:

À Universidade Federal do Acre na pessoa do Reitor Jonas Filho agradeço o imprescindível apoio institucional;

Ao Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon que me orientou na elaboração deste trabalho agradeço pela solidez de seus conhecimentos na área ambiental, o que resultou em sugestões e argumentos consistentes, além de sua imensa paciência o que tornou o nosso trabalho numa tarefa agradável e gerou um clima de camaradagem essencial no oficio acadêmico;

Aos professores Adernar Romeiro, Peter May, Guy Henry e José Maria da Silveira, que fizeram parte da banca examinadora meus agradecimentos pelas críticas e sugestões;

Ao Prof. Dr. Otaviano Canuto, inicialmente pela confiança e amizade demonstrada ao longo de mais de uma dezena de anos, além das sugestões apresentadas;

Ao Prof. Dr. Adernar Romeiro, Prof. Dr. José Maria da Silveira e Prof. Dr. Pedro Ramos pelas críticas e sugestões apresentadas por ocasião da elaboração do trabalho;

À

prof" Dulcélia Mota Lopes pela revisão criteriosa dos originais;

À Prof". Ora. Eugenia Leone por me possibilitar acesso ao seu curso de métodos quantitativos, oportunidade em que atualizei meus conhecimentos na área de estatística;

O colega acreano e mestrando da área ambiental, Raimundo Cláudio Maciel, além da "assessoria" na área de informática, me prestou um inestimável apoio no trato das questões relativas aos dados da pesquisa ASPF;

(6)

Na secretaria da pós -graduação do IE contei sempre com a boa vontade de Alberto e Cida, aos quais agradeço o apoio;

Aos colegas do Departamento de Economia da Ufac que solidariamente apoiaram minha proposta de trabalho deixo aqui expresso o meu reconhecimento;

Ao pessoal que trabalha no projeto ASPF, no Acre, Gisele Batista, Edjane Batista e Claudia Saldanha pela ajuda e outros apoios prestados ao trabalho.

Ao casal Cassiano e Socorro Camelo, cuja amizade sempre esteve presente; Ao prof. Aldenor Fernandes de Souza amigo que ocupa a honrosa função de superintendente do INCRA, e a todos de sua equipe como José Maria Esteves, Schubart, Takarrachi, Cristina Benvinda, Manoel, Vicente, os meus agradecimentos;

Ao Prof. Orlando Sabino, Tricolor, colega do departamento e diretor do Sebrae pelo apoio prestado;

À

Profa. Dra .. Silvia Ma.rtins de Souza, historiadora, pelo diálogo constante e proveitoso resultado de seu rigor analítico e seu crescente interesse pelas questões ambientais;

No Conselho Nacional dos Seringueiros contei com a boa vontade de todos. O presidente Juarez Leitão dos Santos, o secretário José Maria (o bóca), Luiz Vasconcelos, Rebouças e as secretarias Erondina e Leda. Todos além de prestar informações me possibilitaram acesso a documentos valiosos;

Meu tio e amigo Elson Martins cuja amizade e apoio estiveram sempre presentes desde os meus primeiros trabalhos;

À

minha prima Vársia, pelo carinho e o esforço para que eu tivesse acesso a documentos importantes;

O secretário de Estado Carlos Vicente teve a bondade de gastar parte de seu valioso tempo para fazer uma exposição sobre a política do Governo Estadual para o setor extrativista, para mim e outros pesquisadores;

O Prof. José Fernandes do Rego, secretário de Estado da Produção que apesar de seus afazeres, me permitiu acesso a informações valiosas;

(7)

À

mestranda Ormifran Cavalcante sou grato pelas informações, documentos

valiosos e entrevistas que ela efetuou no âmbito de sua pesquisa e generosamente me possibilitou acesso;

O pessoal do IBAMA/CNPT do Acre foi solidário e prestativo. Meus agradecimentos ao Josemar e sua valorosa equipe que tanto se esforçam pelo êxito das reservas;

No IMAC contei com a ajuda da amiga de longas datas Célia Pedrina, do amigo Ramadam, e da coordenadora do ZEEIAC Janete;

O pessoal da Caex, Capeb e Compaeb foram muito gentis e pacientes ao explicar o funcionamento das instituições e as relações com a produção extrativista das reservas;

A Tininha, cuja companhia, solidariedade e generosidade à flor da pele, foram fundamentais nesta trajetória;

Os colegas Juliano Gonçalves, Karina, Hugo Silimbani, Alex Goulart, Alexandre Gori, Hector Escobar e Estala, pela rica convivência e a certeza que existe uma juventude capaz e, sobretudo, muito determinada para cuidar dos assuntos ambientais;

Á

Joana e Paulo José, meus filhos, pela rica convivência e as alegrias vividas

em conjunto;

Meus irmãos Tantão, Mareio e Dedé constituíram uma retaguarda de apoio imprescindível para providenciar informações necessárias e urgentes para o trabalho;

Os companheiros Odair Garcia e Maria; a amiga Silvia Possas, os baianos Hamilton, Luiz e Guerra; os amigos Otaviano e Rogério Gomes criaram um ambiente de muita camaradagem, alegria e, sobretudo, bom humor;

Por fim, agradeço aos colegas de turma, Teódulo Vasconcelos, Alberto Arcangeli e Miranda, pela rica convivência e os ensinamentos que me passaram ao longo do curso. Esta é uma das lembranças mais bonita que trago guardado.

(8)

"A impressão dominante que tive, e talvez correspondente a uma verdade positiva, é esta: o homem ali, é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido - quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão. E encontrou uma opulenta desordem ... Os mesmos rios ainda não se firmaram nos leitos; parecem tatear uma situação de equilíbrio derivando, divagantes, em meandros instáveis, contorcidos em sacados, cujos istmos a revezes se rompem e se soldam numa desesperadora formação de ilhas e de lagos de seis meses, e até criando formas topográficas novas em que estes dois aspectos se confundem; ou expandindo-se em furos que se anastomosam, reticulados e de todo incaracterísticos, sem que se saiba se tudo aquilo é bem uma bacia fluvial ou um mar profusamente retalhado de estreitos".

(9)

RELAÇÃO DE SIGLAS

ASPF- Pesquisa Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural no Vale do Acre.

BANACRE - Banco do Estado do Acre

BASA- Banco da Amazônia S/ A

BCA- Banco de Crédito da Amazônia

BID- Banco lnteramericano de Desenvolvimento

CAEX- Cooperativa Agroextrativista de Xapuri

CAGEACRE- Companhia de Armazenamento Geral e Entrepostos do Acre

CAPEB -Central de Associações de Pequenos Produtores Rurais de Epitaciolândia e Brasiléia

CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais

CEPA/ACRE- Comissão Estadual de Planejamento Agrícola do Acre

CMMAD - Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Comissão Brundtland)

CNPT- Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações tradicionais

CNS - Conselho Nacional dos Seringueiros

COLONACRE - Companhia de Desenvolvimento Agrário e Colonização do Acre

COMPAEB - Cooperativa Mista de Produção Agropecuária e Extrativista dos Municípios de Epitaciolândia e Brasiléia L TDA

CP ATU- Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido

(10)

EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMA TER- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

FAO- Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação FIBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FNO - Fundo Constitucional do Norte FUNAI - Fundação Nacional do Índio

FUNTAC- Fundação de Tecnologia do Acre

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IMAC - Instituto do Meio Ambiente do Acre

IMAZON - Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia INCRA- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPA- Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia

INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia ITTO - Organização Internacional de Madeira Tropical MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

NASA- National Aeronautics and Space Administration ONG - Organização Não-Governamental

OXFAM- Agência Católica para o Desenvolvimento PAD - Projeto de Assentamento Dirigido

PAE- Projeto Agroextrativista

PESACRE - Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre PIC- Projeto Integrado de Colonização

(11)

PIN - Programa de Integração Nacional

PMACI - Projeto de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades Indígenas

PNRA- Plano Nacional de Reforma Agrária

PNUD- Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento

PNUMA- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PPG-7- Programa Piloto Para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

POLAMAZÕNIA- Programa de Pólos Agro-industriais e Minerais da Amazônia

POLONOROESTE - Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil

PROBOR - Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal

PRODFAO- Programa de Desenvolvimento da Fronteira da Amazônia Ocidental

PROTERRA- Programa de Redistribuição de Terra

REGA - Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado

RDC - Rubber Development Corporation - Companhia de Desenvolvimento da Borracha

SAF - Sistema Agroflorestal

SEBRAE- Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas

SEPRO - Secretaria de Produção

SPVEA- Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia

SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

SUDENE- Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

SUDHEVEA- Superintendência da Borracha

SUFRAMA- Superintendência da Zona Franca de Manaus

(12)

UFAC- Universidade Federal do Acre

UINC- União Internacional para a Conservação da Natureza

U P F - Unidade de Produção Familiar.

ZEEIAC - Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre

(13)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Definição Econômica de Poluição Ótima

Figura 2- Evolução da População Rural e Urbana- Acre (1960-1991)

Figura 3 Percentual de desflorestamento por regional do Acre -1996

Figura 4 - Percentual de área desflorestada por ano - ACRE-1978/1998

Figura 5 Taxa anual média de desflorestamento Acre -1978/1998

Figura 6 - Mapa de um seringal Nativo Figura 7- Mapa da RESEX Chico Mendes

Figura 8 Evolução da população da RESEX Chico Mendes -1994/1998

Figura 9 - Imagem da área desmatada ao redor da RESEX Chico Mendes - 1996

Figura 10- Evolução da produção de Borracha- Acre-1977/2000

Figura 11- Composição do Custo Total de Produção entre Custos Fixos (CF) e Variáveis (CV) RESEX Chico Mendes -1996/1997

Figura 12 - Indicadores de desempenho econômico da RESEX Chico Mendes - 1996/1997

Figura 13- Renda Bruta (RB): Máxima, Mínima e Média- RESEX Chico Mendes -1996/1997

Figura 14- Comparação do impacto do subsídio estadual na Renda Bruta e Líquida da RESEX Chico Mendes - 1996/1997

11 89 104 104 105 120 134 135 137 149 163 164 166 170

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -Exportação de Borracha amazônica e preços internacionais (f) -Período: 1821- 1947 ... 66 Tabela 2 - Estado de São Paulo e Amazônia: exportações de café e de borracha.

1871/1920 ... 67 Tabela 3- Exportação de produtos Coletados -1881-1883 ... 70 Tabela 4- Índice de Gini- Acre/Brasil-1970-1995/96 •••.•••••••.•..•••.•••••.•••••.•.••••.••.••.•••.. 95 Tabela 5 -Distribuição percentual do número de estabelecimentos agropecuários e da sua área total- Acre -1970-1995/96 ••••••••••••..•••••.•.•••.••••••.••.•.••.••••••••.••••.••••••••••••.•• 96 Tabela 6- Destinação das Terras do Acre- 2000 ••••••••••••••••.••••••.•••.•••••••••••.••••..••.•••••••.• 98 Tabela 7- Estrutura fundiária por estratos, n• de imóveis e área das propriedades

-Estado do Acre-1999 ••••••...•••••••••••.••••.•.•••••••••••••••••..•.••••••••.••••••..••••••••.••.•••.•.•••••••.• 100 Tabela 8 - Projetos De Assentamentos Agroextrativista: Localização, Área e

População- Acre/2000 •••••••••••.••.•••••••••••.•••••••••.••••••••••..••••••.••••...••••••••••••.•••••..••••.•. 101 Tabela 9 - Reservas Extrativistas do Acre: área, população e decreto de criação -1999

... 102

Tabela 10 -Índice de desmatamento: diversas unidades- 1999 •••.•••••.•••••••.•.•.••••••.••.• 103 Tabela 11 - Dados Gerais da RESEX Cbico Mendes -1991/1998 .•..•••••••.•.•••••..••....•••.• 136 Tabela 12 - Estimativa da Renda por Familia Média Bruta Anual dos Seringueiros da

Reserva Cbico Mendes - 1991 •••••••.••••••.••••••••.•••.•••.•••••••••••.••.•.•.••••••••••.•.••••.••••••.•• 139 Tabela 13 -Evolução percentual da participação das atividades produtivas na renda

bruta total da RESEX "Chico Mendes" -1991-1997- Acre •••••••••••••••.•••.••••••••••• 140 Tabela 14- Quant. (%) de UPF's por produto explorado na RESEX Cbico

Mendes-1996/1997 •.••.••.••••.••.••.•••••••••.••.•.••.••••••.••••.•.••....••••••••••.•••••••.•••••..•••••••••••.•••.•.•••.••••.• 141 Tabela 15 - Participação na Renda Bruta por produto na RESEX Chico

Mendes-1996/1997 ••••••••••.•••••••••••••••.••••••••••.•••••••••••••••.••••••••••••••.•••••.•••••••••••.•••••••••••••••••••••••• 142 Tabela 16- Produção, Renda Média e Máxima dos Principais Produtos da RESEX

(15)

Tabela 17- Renda Total e por Atividade RESEX Chico Mendes -1996/1997 .••••••.••• 145 Tabela 18 - Evolução da produção de Borracha e Castanha na RESEX Chico Mendes

- 1995/1998 ... 147

Tabela 19 - Composição da Renda e Custo por Atividade Reserva Chico

Mendes-1996/1997 ···-···-···50

Tabela 20- Composição dos Custos Totais, FIXOS e Variáveis na Reserva Chico

Mendes - 1996/1997 ... 151

Tabela 21 - Custo Unitário, Preço Médio e Índice de Eficiência Econômica na RESEX

Chico Mendes - 1996/1997 ... 152

Tabela 22 - Composição da Renda Bruta (RB), Margem Bruta Familiar (MBF) e MBFIRB por atividade na RESEX "Chico Mendes" -1996/1997 ···-···-····155 Tabela 23 - Indicadores de Desempenho Econômico da Reserva Chico

Mendes-1996/1997 ... 157

Tabela 24 - Composição da Renda Bruta por Produto do Estrato 1 - Reserva Chico

Mendes -1996/1997 ... 159

Tabela 25 - Composição da Renda Bruta por Produto do Estrato 2 - Reserva Chico

Mendes -1996/1997 ... 160

Tabela 26 -Composição da Renda Bruta por Produto do Estrato 3- Reserva Chico

Mendes - 1996/1997 ... 161

Tabela 27 Composição da Renda Bruta por Estrato com Base na Renda Líquida -Reserva Chico Mendes -1996/1997 •.••••• ._ ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 165 Tabela 28 - Renda Média por Estabelecimento e por Categorias Familiar-

Acre-1995/1996 ... 166

Tabela 29 - Margem Bruta Familiar, Autoconsumo e Nível de Vida em termos

monetários da RESEX Chico Mendes -Acre- 1996/1997 ••••••••••••••••••••••••••••••.•••• 168 Tabela 30 -Comparação dos resultados econômicos do subsídio estadual na Renda

Bruta e Líquida da RESEX Chico Mendes - Acre-1996/1997 ···-···171 Tabela 31 - Comparação dos resultados econômicos do subsídio estadual na Margem

Bruta, MBFIRB e Nível de Vida em termos monetários da RESEX Chico Mendes

- Acre-1996/1997 ... 172

(16)

Tabela 33 - Projeção da Renda Média Anual em R$ decorrente da Implantação de um SAF na RESEX Chico Mendes ... 184 Tabela 34- Comparação do sistema extrativista tradicional da borracha e as IAP's

(colocação Boa Vista) ... l88

Tabela 35 - Composição da Renda Brota, Produção e Preços Médios por atividade na RESEX Chico Mendes- 1996/1997 ••••••••••••••.•.•••.•••••••••.•••••••••••••••.••.•••••.•••••.•••••.••• 220 Tabela 36 Composição do custo, produção total e índice de desempenho econômico

-RESEX Chico Mendes- 1996/1997 ... 221 Tabela 37 Produção média. preço médio, RB média máxima e mínima - RESEX

Chico Mendes - 1996/1997 ... 222

Tabela 38- Composição da renda total, máxima. mínima. média e mediana- RESEX Chico Mendes - 1996/1997 ... 223

(17)

ÍNDICE

RELAÇÃO DE SIGLAS ... ix

LISTA DE FIGURAS ... xiii

LISTA DE TABELAS ... xiv

ÍNDICE ... xvii

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO 1: CONTRIBUIÇÃO DA ECONOMIA À PROBLEMÁTICA AMAZÔNICA ... 7

1.1 Introdução ... 7

1.2 A Economia e o Meio Ambiente ... 9

1.3 O Conceito de Desenvolvimento Sustentável ... 25

1.4 Políticas Ambientais e as RESEX ... 29

CAPÍTULO 2: AS RESEX E A QUESTÃO AMBIENTAL.. ... 41

2.1 Introdução ... 41

2.2 A Luta Seringueira, a RESEX e a Questão Ambiental ... .44

2.3 A Concepção Naturalista: a Preservação sem a Presença Humana ... 51

CAPÍTULO 3- EXTRATIVISMO DA BORRACHA: A HEGEMONIA DO BARRACÃ0 ... 61

3.1 Introdução ... 61

3 .2 Extrativismo da Borracha no Acre ... 66

3.3 A Propriedade da Terra ... 73

CAPÍTULO 4- A EXPANSÃO DA FRONTEIRA E O MOVIMENTO DE RESISTÊNCIA: OS FUNDAMENTOS DA RESEX ... 83

(18)

· 4.1 Introdução ... 83

4.2 O Processo de Resistência ... 89

4.3 A Forma de Acesso e o Uso da Terra ... 95

CAPÍTULO 5 -FORMAÇÃO E ASPECTOS GERAIS DAS RESEX ... 107

5.1 Introdução: A Formação das Reservas ... ! 07

5.2 A Produção Familiar Extrativista ... ll4 CAPÍTULO 6: A DINÂMICA ECONÔMICA DA RESERVA EXTRATIVISTA CHICO MENDES ... 125

6.1 O Modelo Metodológico ... 125

6.2 Dados Gerais da RESEX Chico Mendes ... l33 6.3 Indicadores Econômicos da RESEX Chico Mendes ... 138

6.4 A Distribuição da Renda na Reserva Chico Mendes: Os Três Estratos ... 156

6.5 Análise do Impacto do Subsídio nos Rendimentos das Familias ... 168

CAPÍTULO 7: TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS ... 175

7.1 Introdução ... 17 5 7.2 O Manejo Florestal ... l76 7.3 Sistemas Agroflorestais ... 182

7.4 Ilhas de Alta Produtividade ... 186

7.5 Serviços Ambientais ... 189

7.6 O Protocolo de Kyoto ... l90 CONCLUSÕES ... 195

BIBLIOGRAFIA ... 201

(19)

ANEXO 2: GLOSSÁRIO ...•...•...•....•..•... 215

ANEXO 3: RELAÇÃO DOS ENTREVISTADOS ...•.•...•....•... 218

ANEXO 4: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL ...•.•.•... 219

(20)

INTRODUÇÃO

O crescimento das preocupações com as questões ambientais e, em particular, o aquecimento do planeta e perda de biodiversidade, colocaram a preservação 1 da floresta Amazônica como uma questão de interesse internacional, ampliando os debates sobre a possibilidade de compatibilização entre crescimento econômico e preservação ambiental. Este quadro de preocupações com a questão ambiental evidencia a importância crescente da Amazônia, pelas suas dimensões e riquezas naturais, mas, principalmente, porque os estudos e pesquisas sobre o meio ambiente estabeleceram um papel crucial desta na resolução/agravamento desses problemas.

Pensar a preservação da floresta amazônica, tout court, implica considerar amplamente duas possibilidades. A primeira

é

a "proteção estrita", nos moldes da preservação norte-americana. Apesar das dificuldades de implantação de uma política dessa natureza, devido aos altos custos financeiros e sociais, da necessidade de forte participação do Estado, seja no processo regulatório, seja no aparato de fiscalização, os defensores desta proposta, os preservacionistas, assumem que a manutenção da diversidade biológica só é possível com a exclusão do homem. Estes argumentam que a presença das populações tradicionais é incompatível com o objetivo da preservação das diversidades

biológicas.

No outro extremo, a questão fundamental é pensar a preservação da floresta como parte de uma política de desenvolvimento regional, o que implica não só considerar a presença das populações tradicionais mas, sobretudo, pensar uma política ambiental que seja viável, baseada no conceito de desenvolvimento sustentável. Viabilização neste caso entendida amplamente como criação das condições de sustentabilidade, ou seja, algo que não se confunde com uma análise parcial de custo-benefício. Isto não significa negar a importância deste

' Diegues (2001) chama a atenção para a distinção conceitual entre "conservação de recursos naturais" que significa a exploração de forma sustentável dos recursos, enquanto que "preservação" diz respeito à reverência à natureza, excluindo, portanto, a presença humana para fins exploratórios. Neste trabalho estaremos usando os termos referidos no sentido descrito acima.

(21)

instrumento de análise econômica, mas tão somente considerá-lo parte das condições de sustentabilidade.

A formulação de políticas públicas no âmbito da problemática ambiental expressa, de certa forma, esse tour de force. Assim, as políticas de cunho regulatório, denominadas de Políticas de Comando e Controle (C&C) advogam a regulação direta sobre o uso de recursos naturais através de leis e regulamento, enquanto os economistas de inspiração neoclássica contestam a eficácia desses instrumentos e argumentam no sentido do uso de Política de Instrumentos Econômicos (IE)- cobrança de taxas, incentivos, créditos e a livre negociação-, pressupondo o mercado como o Locus ideal para a resolução dos problemas ambientais. Há ainda uma posição considerada como intermediária, que consiste no uso de regulação com instrumentos econômicos.

Este cenário, por outro lado, reforça o debate suscitado pela importância crescente das Reservas Extrativistas (RESEXf, não só como proposta baseada nos princípios da sustentabilidade mas, sobretudo, pelas suas especificidades: proposta de preservação com a presença do homem e, como fruto de um movimento político dos seringueiros acreanos, em resposta à tentativa de expropriação da terra e ao processo de derrubada da floresta.

O objetivo desta tese é refletir, a partir de uma experiência concreta - no caso a reserva extrativista Chico Mendes -, qual a política ambiental mais adequada à conservação da floresta Amazônica ou, em termos genéricos, à

conservação de uma floresta tropical de um país em desenvolvimento.

Trabalha-se com a hipótese de que as RESEX, como fruto de uma luta política e social dos movimentos locais, podem ser consideradas como uma alternativa à criação de reservas de cunho preservacionistas, definindo um novo paradigma de regulação ambiental. Não se pretende afirmar com isto que as RESEX devam ser consideradas como modelo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas como uma experiência que pode ser replicada, visando ao desenvolvimento sustentado do meio rural amazônico ou outras áreas de floresta tropical úmida. Isto, principalmente, tendo em vista as múltiplas dimensões que a

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constituem, o que consolida este projeto como uma experiência inovadora de conservação da floresta tropical.

Considera-se, então, o pressuposto de que as reservas representam uma forma específica de organização social da produção - isto entendido de uma forma ampla -, que comporta desde o processo de trabalho até a gestão comunitária da produção, conformando uma política ambiental peculiar, misto de uso de instrumentos econômicos e comando e controle .

Para tratar desta questão, parte-se do princípio que as Reservas Extrativistas representam algo mais amplo e complexo, que não se confunde com o extrativismo da borracha, entendido como uma atividade econômica. Está-se a enfatizar, na verdade, a necessidade de estabelecer novos conceitos de forma a dar conta desta complexidade. Afinal, o que são as reservas? Uma forma peculiar de ocupação e uso da terra? Uma forma específica de organização da produção? Uma política ambiental? Ou uma unidade de conservação pura e simples? A Resex, na verdade, como uma política ambiental baseada nos princípios da sustentabilidade, só pode ser compreendida quando vista em seu conjunto de múltiplas determinações. De qualquer forma, é insuficiente, por ser genérico, afirmar que as RESEX representam uma proposta mais ampla envolvendo a forma e o uso da terra e a organização da produção em condições de sustentabilidade, até porque a organização da produção, tamanha a diversidade com que ocorre na realidade da reserva, dificulta uma afirmação ampla, tal como freqüentemente acontece.

Da mesma forma, consideram-se insuficientes as abordagens reducionistas que tratam a reserva a partir de uma disjuntiva, tanto as que a consideram um modelo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, quanto as que a tratam como um obstáculo ao desenvolvimento ou uma proposta economicamente inviável. Assim posto, estas abordagens, de certa forma, reintroduzem o trade-off

entre crescimento e preservação no âmbito da reserva.

Na verdade, convém admitir desde logo que as reservas não são um espaço produtivo homogêneo. Uma reserva são "muitas", poder-se-ia afirmar. Evidenciar esse conjunto de especificidades, sobretudo desvendando os

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mecanismos de dinâmica econômica é fundamental para o entendimento do papel da reserva, principalmente no âmbito da discussão do desenvolvimento sustentável.

Da mesma forma, mais especificamente, admite-se a possibilidade de que o controle da ocupação e a forma de uso da terra, apesar de fundamental, não são suficientes para garantir a conservação e uso sustentável da floresta. Para a compreensão desta trajetória, é necessário entender a dinâmica da economia do extrativismo, no núcleo do processo de produção e, principalmente, a participação e o papel do progresso técnico, a diversificação da produção e a gestão do processo produtivo, os quais, supõe-se, podem vir a constituir as bases da sustentabilidade da reserva extrativista.

Trata-se, em última instância, de "inventar'' uma nova economia - o que chamaremos aqui de "economia da floresta"-, cuja base consiste na superação do

trade-off entre crescimento econômico e preservação e sua transformação em sinergia econômica.

A tese está estruturada em 7 capítulos. Nos dois primeiros, procurou-se mostrar que o entendimento das RESEX conduz à apreensão das determinações complexas entre a economia e o meio ambiente, pela suposição de que não é

possível compreender suas diversas e complexas dimensões, apartadas de uma problemática mais ampla. Isto implica recuperar trajetórias, cujas bases teóricas ficaram mais evidenciadas num movimento que procura analisar teoria e objeto de análise num processo relaciona!. A discussão conceitual, portanto, tornou-se imperativa para que a compreensão das RESEX fugisse aos "lugares-comuns" e permitisse estabelecer nexos entre a proposta - com seu núcleo fundamental, que

é a noção de sustentabilidade - e sua dimensão no espaço do desenvolvimento regional.

Já nos capítulos 3 e 4, o movimento efetuado objetivou a construção do conceito de RESEX a partir da formação da economia extrativista da borracha. Para tanto, se procurou apreender as especificidades do processo de ocupação do espaço territorial acreano, em que a forma de acesso e o uso da terra são os elementos que fundam as bases dos atuais processos produtivos da região. É a

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partir desse estudo que é possível compreender os determinantes que possibilitam as RESEX se estruturarem como uma ruptura às práticas sociais do seringalismo tradicional. Portanto, é na economia gumífera que são criadas as condições fundamentais para a criação das RESEX.

Ao buscar os fundamentos da RESEX, na forma e dinâmica da estruturação dos processos produtivos, visando a entender esta proposta como decorrência de um particular processo de ocupação, o que se pretende é redimensionar este conceito, de forma a evitar o equívoco de considerá-la uma proposta de desenvolvimento sustentável, capaz de, por si só, alavancar o desenvolvimento regional. Com isto, recupera-se a proposta original, cujo núcleo consistia da articulação da dimensão conservacionista com a melhoria das condições de vida das populações extrativistas.

Nos capítulos 5 e 6 tratou-se de entender a dinâmica econômica do extrativismo, a partir da análise de alguns indicadores, principalmente renda e custos de produção. Para tanto, considerou-se a RESEX Chico Mendes como um estudo de caso que possibilitasse apreender a estrutura econômica das RESEX como um todo. Para esta análise, considerou-se como básico o conceito de sistema de produção, pois o mesmo permite entender a organização da produção das diversas famílias e suas estratégias de utilização e combinação dos recursos e tecnologia disponíveis nos seus processos produtivos. O seu uso permite, ainda, perceber como se organiza o processo de trabalho para a extração de produtos e a formação dos rendimentos.

As fontes de dados para a elaboração destes capítulos foram, além dos dados bibliográficos, a pesquisa de campo efetuada pelo Departamento de Economia da Universidade Federal do Acre para a elaboração de um banco de dados denominada de "Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural no Vale do Acre" realizada entre maio 1996 e abril de 1997 e uma coleta de dados efetuada em julho de 2001, através de entrevistas com produtores, dirigentes sindicais, membros do Conselho Nacional dos Seringueiros e técnicos dos diversos órgãos que atuam na área tais como EMA TER, INCRA e IBAMA.

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A utilização da base de dados referentes aos anos de 1996/97, não implica prejuízo às conclusões e inferências decorrentes da análise dos dados. O extrativismo sofreu poucas modificações nos seus elementos estruturadores ao longo dos últimos cem anos. Por outro lado, a profundidade e abrangência das informações representam um avanço, em face da precariedade ou inexistência das informações, principalmente as referentes à estruturação da renda e dos custos das atividades produtivas do meio rural acreano.

O capítulo 7 retoma algumas das questões fundamentais tratadas ao longo do trabalho e discute outras, até então não abordadas. Tem-se nele, a pretensão de discutir um conjunto de propostas, notadamente as que se relacionam às incorporações tecnológicas visando ao incremento de produtividade, apontando para aquilo que, no início do trabalho, denominou-se de "invenção" de uma "economia da floresta", ou seja, a da ampliação das possibilidades em termos de viabilização e consolidação das RESEX. Nesta linha, encontram-se as propostas das "Ilhas de Alta Produtividade", manejo florestal, e criação de mercados para novos produtos, que conformam um conjunto de possibilidades e perspectivas para as reservas e, sobretudo, para o conjunto da economia acreana.

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CAPÍTULO

1:

CONTRIBUIÇÃO

DA

ECONOMIA

À

PROBLEMÁTICA AMAZÔNICA

1.1 Introdução

As últimas décadas podem ser consideradas como decisivas para a consolidação de um pensamento de cunho preservacionista. Em que pese à

complexidade dos temas ambientais não há como negar a existência de um relativo consenso em torno de uma idéia: as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da Amazônia não podem mais ignorar o desafio ambiental, expresso no aproveitamento das riquezas naturais baseado nos princípios da sustentabilidade.

Neste quadro, a criação das Reservas Extrativistas assume relevância como proposta dos seringueiros acreanos, visando à conservação ambiental do espaço amazônico, definindo uma forma de uso da terra e regulação fundiária, isto principalmente pela repercussão que alcançou, seja no âmbito nacional ou internacional, ensejando um amplo debate cujo núcleo central é a definição de uma política ambiental que seja capaz de, ao mesmo tempo, conservar a floresta, possibilitar a equidade social e gerar renda.

Num primeiro momento, é necessário contextualizar as RESEX no interior da discussão ambiental, na perspectiva analítica das diferentes formas interpretativas, pois sem este movimento, não ficam claros, pela impossibilidade de se estabelecer os nexos teóricos, as diferentes visões interpretativas, seja da questão ambiental ou mesmo pontualmente de urna política de conservação tipo RESEX. Esta contextualização permite apreender as diversas dimensões das reservas e seus nexos sociais para, então, conformar o quadro contendo os argumentos e interesses dos diversos atores que participam do embate ambiental. As RESEX possuem múltiplas dimensões, sendo que uma das mais importantes, por caracterizar a proposta, é a dimensão política. Neste sentido,

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representou uma resposta específica das populações da floresta a uma ordem instaurada e estabelecida que se mostrava anacrônica. Decididamente, nem o velho extrativismo nem a nova ordem que o governo federal tentara implantar como um modelo de desenvolvimento regional baseado na pecuária, correspondiam aos anseios e perspectivas desse agrupamento sócio-cultural. Não é de estranhar, portanto, o encaminhamento ocorrido como a estruturação de um movimento de resistência a esta ordem implantada, cujos reflexos sobre as populações que habitavam a floresta incidiam muito diretamente na posse da terra.

Ao se recompor a trajetória das RESEX, vê-se que, num primeiro momento, os seringueiros tratavam de garantir direitos sobre a terra, o que não impediu a inclusão de outros elementos à luta política, para então conformar o quadro que se consolidou com a incorporação das lutas ambientais e o contato, como seria natural, com o movimento ambientalista internacional.

A RESEX não foi construída apenas como urna resposta política alternativa a um determinado modelo de desenvolvimento regional mas, sobretudo, constituiu-se num movimento de resistência, em que a luta pela posse da terra era o elemento nuclear e unificador do movimento. Por outro lado, ao redefinir as relações sociais e culturais estabelecidas pela hegemonia do antigo seringalismo, estruturou uma dimensão social, que permite afirmar que esta proposta em geral, é uma reinvenção que supera os limites estreitos de uma simples atividade econômica, para se colocar como uma nova realidade cultural, um modo de vida, estabelecendo e redefinindo formas de apropriação e relação homem-natureza.

Convém ressaltar, porém, que todas essas complexas relações que dão unicidade à proposta RESEX adquirem um outro sentido, mais amplo e colado às diversas propostas de desenvolvimento regional, quando vistas como parte da questão ambiental. Vê-se, então, não se tratar de uma questão pontual, nem tampouco simplista, mas sim de uma questão controversa dada a sua importância, notadamente no que se refere aos diversos e múltiplos interesses em jogo.

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1.2 A Economia e o Meio Ambiente

De uma perspectiva ampla, pode-se afirmar que existem duas grandes correntes na economia que abordam a questão ambiental: A primeira, denominada economia ambiental, tem seus fundamentos na teoria neoclássica e, portanto, constitui o mainstream por ocupar a posição hegemônica no pensamento econômico contemporâneo. Já a segunda, conhecida como economia ecológica, tem seus fundamentos teóricos e metodológicos baseados nas leis da termodinâmica. A relevância destas duas correntes reflete-se no conjunto de políticas públicas ambientais, sejam as definidas pelos diversos países e governos ou as definidas pelas diversas agências internacionais e nacionais, governamentais ou não.

O que se pretende neste tópico é delinear o conjunto de aspectos fundamentais das duas escolas e com isto destacar os elementos estruturadores de ambas, de sorte que se possa perceber as diferentes apropriações do conceito de desenvolvimento sustentável e, portanto, da questão ambiental e, a partir daí, tratar da política ambiental, tentando apresentá-la de forma a contextualizar as Reservas Extrativistas.

A inserção da problemática ambiental pelos neoclássicos ocorre a partir de alguns fundamentos cujos princípios gerais podem ser resumidos na concepção do mercado como um instrumento mais adequado para uma ótima alocação de recursos, na medida em que os agentes econômicos- firmas e consumidores-procuram maximizar suas utilidades, tendo o preço como um indicador do grau de escassez relativa dos bens e serviços. O equilíbrio de todos os mercados leva a que se atinja o "ótimo de Pareto", situação em que os mercados, em condições perfeitamente competitivas, atingem o máximo de bem-estar sociaL

Neste modelo, o meio ambiente apesar de participar do sistema econômico

é considerado externo ao mercado. Daí que os bens e serviços ambientais, dependendo de sua forma de inserção ao processo produtivo, sejam considerados externalidades. Neste sentido, os problemas ambientais considerados externalidades negativas, são vistos como falha de mercado que exigem correção,

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o que implica precíficar os danos garantindo que os processos ocorram no âmbito do mercado.

A especificidade dos problemas ambientais, considerados a partir da interação da natureza com o sistema econômico, define duas abordagens distintas ainda no âmbito da economia ambiental dividindo-a em economia da poluição e economia dos recursos naturais. A primeira, neste sentido, é decorrente da constatação de que a economia despeja os dejetos, de forma geral, no meio ambiente, enquanto que o uso dos recursos naturais, ou bens ambientais define a abordagem da economia dos recursos naturais, também conhecida como economia dos inputs. Estes processos ficam mais claros se evidenciarmos como centrais os conceitos de exterioridade e temporalídade como propõe Amazonas (1994). É possível, então, entender o mecanismo lógico de inserção dos danos ambientais aos marcos da economia neoclássíca. Os bens ambientais, por serem públicos, não são passíveis de terem seus preços determinados pelas preferências individuais e, dessa forma, o mercado desses bens não se constitui. Isto é possível e lógico por se considerar o meio ambiente como externo ao mercado (Norgaard, 1997). As externalidades, assim, se configuram no conceito básico para a valoração dos bens ambientais, isto na medida em que "surgem quando o consumo ou a produção de um bem gera efeitos adversos (ou benéficos) a outros consumidores e/ou firmas e estas não são compensadas efetivamente no mercado via sistema de preços" (Motta, 1990, p. 113).

A degradação ambiental, qualquer que seja a forma assumida, constituí caso típico de externalídade negativa, embora o caso clássico seja mesmo a poluição. A compensação representaria a ínternalização dos danos. O fato é que a insatisfação decorrente do dano ambiental é considerada como falha do mercado, porque o mecanismo de preço não terá sido capaz de restabelecer o nível de otimização. Visto assim, fica evidente que a solução para o problema é criar mercado, via atribuição de valor à queda de satisfação recompondo as premissas da maximização da utilidade e maximização dos lucros.

Uma vez recomposto o equilíbrio, através da correção da falha de mercado, cessa a preocupação com o ambiente. Neste caso, por suposto, é irrelevante o

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nível de poluição desde que os agentes envolvidos, através do mercado, expressem sua satisfação. Seguindo esta linha de raciocínio, a poluição, como externalidade negativa, é internalizada quando os custos marginais de controle são iguais ao custo marginal de degradação ambiental, caracterizando o ótimo de poluição como o ponto em que, mesmo existindo poluição, esta é socialmente aceita.

A figura 1, permite vislumbrar melhor a base analítica exposta de correção das externalidades negativas. O ponto y corresponde ao ponto ótimo de poluição, ou seja, ao novo nível de equilíbrio, considerado onde LPML (lucro privado marginal liquido) é igual ao CEM (custo externo marginal) este agora acrescido do valor atribuído ao dano ambiental na margem. Considera-se que neste ponto ainda ocorre poluição, só que em níveis socialmente aceitáveis, enquanto o poluidor maximiza seus lucros nas novas condições.

Figura 1 - Definição Econômica de Poluição Ótima

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Na abordagem da economia dos recursos naturais ou exploração das matérias primas - ao contrário da economia da poluição em que as externalidades ocupam posição mais evidente, porque imediata ao processo produtivo -, estas não são detectadas de imediato ou sequer dimensionadas face ao desconhecimento científico. Em decorrência, os custos sociais resultantes dos danos ambientais, são distribuídos no tempo e no espaço como legados às gerações futuras.

A questão fundamental da economia dos recursos naturais, seguindo a ótica microeconômica, reside na especificidade dos recursos naturais: como o agente econômico aufere lucros a partir de sua extração e o aumento progressivo da escassez acarreta aumento dos preços, o agente se depara com o dilema de extrai-lo hoje ou em um momento futuro. Assim, a quantidade ótima a ser extraída ao longo do tempo, deve ser calculada a partir de dois conceitos básicos: o custo de oportunidade, visto como a segunda melhor opção de utilização alternativa de um capital e a taxa de desconto para o cálculo do valor presente do uso do capital. No caso dos recursos renováveis, estes dois conceitos em conjunto e comparativamente permitem o cálculo do "nível ótimo de extração", que corresponde às quantidades ótimas a serem extraídas ao longo do tempo. Quanto aos recursos exauríveis, o preço do produto deverá ser igual à soma do seu custo marginal de extração e seu custo de oportunidade. É este o processo de inserção e resolução do problema ambiental, no qual prevalece a lógica de mercado e o preço expressa a vontade coletiva e regula a alocação ótima dos fatores de produção.

A respeito dessa questão há que se assinalar que isto, na verdade, representa um movimento mais amplo de releitura e incorporação dessas questões aos marcos analíticos de corte neoclássico. Um exemplo que bem ilustra essa forma de apropriação é a maneira como é abordado o conceito de desenvolvimento sustentável.

Este conceito elaborado no âmbito das discussões ambientais, mais especificamente nas discussões sobre o modelo de desenvolvimento vis a vis à degradação ambiental, estruturou-se baseado em três preceitos normativos - na

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eficiência econômica, equidade social e prudência ecológica -, que devem ser vistos como um todo. Contudo, sob o argumento de que o conceito como um conjunto de princípios que visa em última instância, o bem estar da sociedade, para a economia convencional repõe a idéia de otimização de Pareto, principalmente através das duas primeiras condições.

A este respeito, pode-se afirmar que há um alto grau de concordância entre diversos autores neoclássicos ao considerar semelhantes o princípio de eficiência econômica - tal como formulado no conceito de desenvolvimento sustentável - e a idéia paretiana de que seja assegurada a manutenção do bem-estar social (Mueller, 1999). Posto desta forma, tem razão Beckerman3 (1993), que não vê sentido neste conceito, uma vez que supostamente o aparato conceitual neoclássico daria conta das questões propostas.

Esta talvez configure uma posição mais extremada, na medida em que se nega a perceber as especificidades e as necessidades do mainstream economics dar conta das novas questões derivadas das restrições ambientais. Ainda no seio da economia convencional, uma postura menos radical tende a considerar a sustentabilidade como uma restrição ao crescimento econômico. Nesta abordagem, em que se abstrai o ambiente, o sistema econômico pode ser representado como um sistema linear

P-7C-7U

..._K

em que P, implica a produção de bens de consumo C e bens de capital K, por seu lado, bens de capital implica em consumo futuro que é responsável pela criação de utilidades ou bem estar.

Ao considerar a incorporação do ambiente no sistema econômico, em que R passa desempenhar as funções de supridor de inputs para o funcionamento do sistema econômico, a nova representação passa a ser a seguinte:

R-7P-7C-7U

3

Para este autor o conceito de desenvolvimento sustentável não apresenta nenhuma novidade analítica, pois o conceito neoclássico de otimização é suficiente para abordar e resolver os problemas econômicos e ambientais.

(33)

O novo fator R ao ser incorporado, resulta em uma restrição para se atingir o "ótimo de Pareto". Como bem assinala Solow (1974), a hipótese de otimização requer que U não seja declinante, ou seja, que ele se mantenha constante.

A perspectiva de crescimento sustentável - o que implica em estoques de capital não declinantes, ou mesmo substituição suficiente entre o capital "ambiental" e capital "fabricado" -, fica mais claro se representado por uma outra função: W

=

W (K,E)4, em que o bem estar futuro (W) em cada período de tempo é função do estoque de capital fabricado (K) e capital ambiental (E). Para que ocorra o desenvolvimento sustentável a primeira condição, como já referido, é que o valor de W não possa declinar, o que implica em que os estoques de ambos capitais (K) e (E), não sejam declinantes ou haja substituição de capital ambiental por capital fabricado na mesma proporção. Esta condição pode ser representada por: -qôE !>

.iK onde q é o preço sombra do capital ambiental - o preço que existiria se estas funções se realizassem de forma ótima no mercado -, e .iE e .iK expressam as modificações ao longo do tempo. Dessa forma, isto significa que, o valor da exaustão ambiental não pode exceder o valor do investimento liquido em capital fabricado. De qualquer forma, a equação mostra que se E declina haveria perda de bem estar. Para que isto não ocorra, o preço sombra q deverá crescer para expressar os custos sociais dos danos ambientais no mercado que por sua vez devem também crescer, significando que os preços refletem o grau de escassez relativa dos bens ambientais.

A substituição de capital ambiental por capital fabricado se põe, assim, como a questão fundamental. Para alguns neoclássicos é possível um elevado grau de substituição entre os capitais, ocasionado pela elevação da eficiência decorrente do progresso tecnológico.

Diante do exposto, resta concluir que o crescimento econômico na perspectiva do desenvolvimento sustentável, para o mainstream depende de um alto grau de substitubilidade entre os capitais ambientais e fabricados. Uma outra alternativa seria o incremento dos custos dos danos ambientais, devidamente

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internalizados e crescentes para refletir o custo - sombra dos danos ambientais. Ainda assim, na lógica do mainstream isto resultaria no desenvolvimento e difusão de tecnologias capazes de induzir um crescimento sustentável.

Os principais problemas da economia convencional, cujos fundamentos estão baseados na microeconomia, para dar conta da problemática ambiental ocorrem, em grande medida, devido às limitações teóricas e epistemológica, o que contribui para a incapacidade da mesma em oferecer respostas adequadas aos problemas ambientais.

Apesar de sua hegemonia, principalmente na questão ambiental, a abordagem, já de início, ao considerar a economia um sistema total, define um espaço restrito de análise por desconsiderar a relação entre economia e meio ambiente em sua complexidade. Esta restrição terá implicações em toda estrutura teórica do mainstream e será objeto de muitas críticas, entre elas a que considera a economia um subsistema do meio ambiente "e depende dele tanto como fonte de insumos de materiais como depósito para o lançamento da produção de resíduos" formulada por Daly (1996, p. 6).

Duas implicações imediatas devem ser consideradas. A primeira é que, ao incorporar o meio ambiente na análise econômica desta maneira, reconhece-se que este interage de forma positiva com a economia ao regenerar os insumos e absorver os resíduos dentro dos limites da capacidade de suporte da natureza. Nesta perspectiva, a questão é remetida à discussão quanto à escala de uso dos bens ambientais, ao contrário da economia convencional que ignora, por considerar irrelevante, os limites naturais à exploração econômica. Por outro lado, isso reforça a idéia que a economia convencional tem da questão ambiental como um problema de alocação intertemporal de recursos entre consumo e investimento (Romeiro, 2001 e Amazonas, 1994).

A questão ambiental para a economia convencional pode ser resolvida da seguinte maneira. Para os casos de poluição ou uso dos serviços ambientais, como recursos hídricos e ar, que não possuem mercados por serem bens públicos e, portanto, não há a definição clara de propriedade, a política ambiental, refletindo

4 Esta parte

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ação coletiva, deve ser direcionada no sentido da correção das falhas de mercado. Para a extração de recursos naturais, cujo problema é de outra natureza, supõe-se que o preço como índice do grau de escassupõe-sez relativa sinalizaria para a proximidade do esgotamento destes bens, com o seu aumento. A economia ambiental, na verdade, supõe que a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais é improvável por dois motivos. Primeiro, pelo alto grau de substitubilidade dos fatores de produção. Capital, trabalho e recursos naturais tenderiam a ser usados em magnitude adequada de forma que a escassez de um implicaria maior uso de outro. E, em não havendo limites nem escala para o processo de substituição, tampouco, a base analítica exposta de correção das externalidades negativas considerar-se-ia a possibilidade de irreversibilidades na exaustão ambiental dos bens. Em segundo lugar, há o pressuposto de que a tecnologia é

capaz de não apenas resolver o problema de declínio da produtividade dos fatores como de ajustar a escala de uso dos recursos.

A crítica de que o cálculo do valor das perdas com base na preferência dos consumidores é improvável, na medida em que se requer um amplo conhecimento da importância dos bens em questão, pode ser estendida à abordagem da economia dos recursos naturais, cujo problema de geração de externalidades negativas não ocorre de imediato, pois os custos "são dispersos no tempo e no espaço às gerações futuras" (Amazonas, 1994, p. 58).

Isto traz à tona a discussão. da finitude dos recursos naturais e, concomitantemente, uma questão de suma importância: os danos ambientais em sua maioria são processos irreversíveis. Uma vez ocorrido não mais é possível retroceder no tempo para evita-los. O tempo, ao ser relevado pelos neoclássicos, acaba por fragilizar o conteúdo teórico desta escola, pelo desconhecimento presumível da degradação irreversível de certos recursos naturais. A perspectiva de escassez que, na lógica da economia ambiental, aponta para a criação de mercados para os bens exauríveis e, em decorrência, resultaria em um uso comedido do produto, mostra-se irreal pois nada garante o surgimento dos mercados antes que o recurso seja extinto ou esgotado, o que ressalta a

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inexistência de um comportamento altruístico de solidariedade com as gerações futuras.

Por outro lado, isto impacta fortemente a hipótese já referida, que é a perfeita substituição dos recursos (Romeiro, 2001 ). Os recursos ambientais não são substitutos perfeitos, como quer o mainstream. Todas estas considerações assinalam que as tentativas de internalização dos danos ambientais, via mecanismos econômicos, ressaltam a incompatibilidade entre a fundamentação teórica e a complexidade dos processos ambientais.

A Economia Ecológica e outras abordagens alternativas, como as evolucionistas e institucionalistas, apesar de suas especificidades, guardam pelo menos um aspecto em comum: a insatisfação com a abordagem neoclássica dos problemas ambientais.

A forma de análise dos institucionalistas é fundada no papel que as instituições, entendidas amplamente como organizações, sistema institucional e relações de poder, desempenham nos processos econômicos. Ao adotar a concepção filosófica holística para dimensionar os problemas em sua totalidade, estes ampliam sobremaneira seu campo de análise incluindo as trajetórias tecnológicas, os processos históricos, a organização social e a cultura. Neste sentido, ao tratarem a questão ambiental, dispõem de uma interpretação mais realista, na medida em que não reduzem a questão ao âmbito do mercado, por considerarem os problemas ambientais de uma complexidade que envolve aspectos físicos, sociais, políticos, econômicos e culturais, exigindo uma visão multidimensional e multidisciplinar. No contexto da complexidade, consideram ainda relevantes os custos de transação, as incertezas do futuro e, principalmente, a possibilidade de irreversibilidade das perdas dos bens ambientais na exploração econômica de determinados produtos ou espécies.

A crítica mais pertinente à visão institucionalista decorre exatamente da amplitude com que abordam os problemas, o que impede a consolidação de um corpo teórico amplo capaz de estabelecer leis gerais. Como resultado os institucionalistas são levados a tratar cada caso como um caso específico. A base conceitual dos evolucionistas é a crítica à forma como os neoclássicos tratam a

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-tecnologia no sistema econômico. Esta é considerada um conjunto de conhecimentos sobre o processo produtivo que ocorre no contexto das firmas em diferentes proporções, conforme a combinação de fatores. Para Schumpeter (1984), a dinâmica econômica decorrente do processo concorrencial determina como crucial a busca por lucros extraordinários, o que ocorre pela introdução de inovações tecnológicas que, por sua vez, serão responsáveis por desequilíbrios e incertezas no mercado. Por outro lado, os evolucionistas consideram as inovações tecnológicas o conceito chave para os problemas ambientais, na medida em que acreditam que o progresso técnico promove a elevação da eficiência produtiva, contribuindo para a superação de limites da natureza substituindo produtos que dependem de recursos em vias de exaustão.

Como decorrência desses fundamentos teóricos, os evolucionistas propõem que a política ambiental seja exercida através de incentivos econômicos e/ou políticas do tipo comando e controle. Isto pressupõe a presença do Estado, que deve se responsabilizar por uma política de inovações tecnológicas de produtos e processos e, com isso, superar as restrições ambientais.

Já a economia ecológica surge no bojo da questão ambiental e sua importância como temática presente na agenda do debate mundial nasce nos anos 1970, a partir da convicção de que era viável e necessário pensar na compatibilidade entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Inicialmente esta concepção se expressa através do conceito de Ecodesenvolvimento. Esta visão cuja base é o desenvolvimento econômico com preservação ambiental adquire sua forma mais acabada no conceito de desenvolvimento sustentável consolidado no relatório Brundtland de 1987 (Nosso Futuro Comum, 1991).

A economia ecológica procura se distinguir da economia convencional através da percepção do problema ambiental estabelecendo importância a inter-relações entre a economia e o ambiente. Neste sentido, constitui um campo transdisciplinar relacionando as diversas questões entre sistema econômico e ecossistemas (Costanza,1996, p. 3).

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Esta particular visão de mundo, ao contrário da anterior, entende a relação entre o meio ambiente e a economia, como uma relação em que a economia constitui um subsistema do meio ambiente, interagindo e dependendo dele em dois sentidos: como fonte de matérias primas (insumos) ou como depósito para os resíduos, conforme já enfatizado (Daly, 1996).

Esta visão da economia como um subsistema do meio ambiente constitui a pedra angular nas formulações da economia ecológica sobretudo por ser ponto de partida e base para a crítica à economia convencional que considera a economia um sistema fechado ou total. Outro fundamento da economia ecológica é resultado, em grande medida, de considerar a economia um sistema aberto em que são incorporados valores éticos e a solidariedade. Não é sem motivos que o conceito de desenvolvimento sustentável é solidamente apoiado nesses princípios inexistentes na economia ambiental.

Dessa forma, o princípio da sustentabilidade - eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica - impôs-se como princípio norteador de uma nova forma de relação do homem com a natureza e passou a estar presente em todos os fóruns e debates a respeito do desenvolvimento econômico.

As raízes da economia ecológica podem ser determinadas na obra seminal de Georgescu-Roegen5, que incorpora no debate as leis da termodinâmica como

relevante para edificar a base conceitual. A primeira lei da termodinâmica, que trata da conservação da matéria, estabelece o princípio de que o homem não pode criar nem destruir a matéria ou a energia, tão somente transformá-la. Já a segunda lei, visto de uma forma simplificada, assinala que nos processos de uso da energia ocorre uma transformação da energia livre, portanto disponível, em energia presa ou não - disponível. A partir da observação deste processo em que há perda de qualidade na utilização da energia, Roegen conclui ser este evento a mais econômica das leis físicas, haja vista tratar-se de um fenômeno de escassez.

5 Refiro-me a "The Entropy /aw and the Economia ProcesS', obra em que Roegen elabora sua

teoria de que os processo econômicos deveriam levar em conta os fluxos de energia, ao invés de se restringir ao fluxo circular de mercadorias entre firmas e consumidores. Assim, a partir da lei da entropia, incorpora-se as idéias de irreversibilidades e limites, considerando a economia como sub-sistema da natureza. Isto abala os alicerces analíticos da economia convencional, notadamente a idéia de substituição perfeita entre fatores de produção.

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Ao perceber que a economia convencional limitava seus estudos aos fluxos de matérias, Georgescu-Roegen argumenta que é necessário incorporar o estudo dos fluxos de energia, principalmente a segunda lei da termodinâmica. Para o autor, é contraditório que mesmo após estes dogmas mecanicistas terem perdido a sua supremacia na física e seu domínio na filosofia, continuem servindo como paradigmas para as teorias econômicas (Georgescu-Roegen, 1989, p. 61). Como decorrência, assinala Roegen, os livros-textos de economia continuam representando os processos econômicos como um movimento pendular entre a produção e o consumo em um sistema fechado.

Em verdade, o funcionamento do ciclo econômico baseado nos supostos do mercado, como melhor alocador de recursos em concorrência perfeita, configurando o ótimo de bem estar social, parece confirmar a idéia de que em concorrência perfeita todos os agentes ganham e, com isto, a complexa relação entre a economia e o meio ambiente, principalmente os danos decorrentes dos processos produtivos, ficam negligenciados.

Ao sugerir que a economia considere os processos econômicos como fluxos de matéria-energia, o que concretamente Georgescu-Roegen faz é romper com a idéia de que a economia é um sistema fechado e auto-sustentado. Na perspectiva de considerar os fluxos de energia, ou mais apropriadamente entropia, passa a ser relevante a interação do meio ambiente com a economia, notadamente os danos ambientais decorrentes do uso de recursos naturais e a absorção de dejetos e resíduos pela natureza.

Propõe que os economistas considerem como relevante a segunda lei da termodinâmica "que especifica que a entropia (isto é, a quantidade de energia não disponível) de um sistema fechado acusa incrementos contínuos de forma que um sistema mais ordenado se transforma progressivamente em um sistema mais desordenado" (Georgescu-Roegen, 1989, p. 61). O relevante no processo de utilização de energia, conforme ressalta Roegen, é que há uma perda na qualidade desta ao passar de um estado de baixa entropia para alta entropia.

A lei da entropia ampliou a possibilidade de incorporação de novas interpretações, por considerar que num sistema fechado ocorre incremento

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