Tribunal de Justiça da Paraíba
Processo Judicial Eletrônico
O documento a seguir foi juntado ao autos do processo de número 0801629-09.2013.8.15.0751 em 20/09/2013 11:41:57 e assinado por:
- CRISTINA DE ALMEIDA CORREIA
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E ST ADO DA PARAÍB A PO DE R JUDICIÁRIO JU I Z A D O ES P E C I A L CÍ V E L E CR I M I N A L
C o m a r c a d e B a y e u x
PROC ESSO : 0801629-09.2013.8.15.0751. AUTOR : GEOVANA FERREI RA DA SIL VA. RÉ(U) : TNL PC S S/A.
S
ENTENÇACONSUMI DOR. TEL EFONI A MÓVEL .
INOPERÂNC I A. FAL HA NA
PRESTAÇ ÃO DO SERVI Ç O. DANOS
MORAI S. C ONFIGURADOS.
FIXAÇ ÃO. CRI TÉRI OS.
PROC EDÊNC I A.
- Sendo inconteste a essencialidade do serviço de telefonia móvel, constitui falha na prestação do serviço a reiterada inoperância do sistema.
- Por sua vez, o dano moral é aquele reputado como sendo a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo da normalidade, interfere no comportamento psicológico do indivíduo, causando aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. No caso, tal situação se verifica. Acentuo que o dano moral em debate é o puro (in re ipsa). Ou seja, é aquele que prescinde da realização de provas para sua caracterização. É inconteste a dor e o sofrimento experimentados pelo Promovente ante a falha na prestação do serviço demonstrada nos autos.
- “o "quantum" fixado na indenização por dano moral, sem gerar enriquecimento da causa (art. 884, do CCB/02), deve buscar a efetividade da decisão que, ao constatar o ato ilícito e o abuso do direito, para que sirva à efetiva alteração de conduta do infrator, atentando para as circunstâncias específicas do evento, para a situação patrimonial das partes (condição econômico-financeira), para a gravidade da repercussão da ofensa, atendendo ao caráter compensatório, pedagógico e punitivo da condenação em
sintonia com os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade”.
Vistos, etc.
Dispensado o relatório (Lei n. 9.099/95, art. 38).
Cuida-se de ação de indenização na qual, pretende a Promovente, ser ressarcida pelos danos morais suportados em face da inoperância do serviço de telefonia móvel contratado.
DA PRELIMINAR
Sustenta a empresa Demandada a Incompetência deste Juízo em face da complexidade da matéria. Aduz, em suma, a necessidade de realização de prova pericial técnica.
Impende frisar, todavia, que o deslinde do mérito independe da realização da referida prova, senão vejamos.
A inoperância do sistema, que impede a realização e recebimento de chamadas, é notório no período informado pelo consumidor.
Rejeito, portanto, a preliminar ventilada. DO MÉRITO
Na busca desenfreada para captar clientela, as operadoras disponibilizam elevado número de terminais. A obtenção do lucro exerce primazia em relação ao investimento para a operacionalidade dos serviços prestados. E o resultado? Serviço indisponível.
A Jurisprudência pátria é uníssona no que se refere à essencialidade do serviço de telefonia, notadamente o móvel. Assim, a reiterada inoperância do sistema, impossibilitando a realização e recebimento de chamadas, constitui falha da prestação do serviço.
No que tange à reparação dos danos, dispõe o artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor que “são direitos básicos do consumidor a efetiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais (...)”.
Quanto à responsabilidade da empresa Ré, tenho que o fornecedor de serviços de telefonia móvel responde, objetivamente, pelos defeitos no serviço, como tal considerado quando a linha telefônica não realiza ou recebe chamadas.
Embora a doutrina não seja uniforme na conceituação da responsabilidade civil, é unânime na afirmação de que este instituto jurídico firma-se no dever de “reparar o dano”, explicando-o por meio de seu resultado, já que a idéia de reparação tem maior amplitude do que a de ato ilícito, por conter hipóteses de ressarcimento de prejuízo sem que se cogite da ilicitude da ação.1 Na atualidade, a teoria da responsabilidade civil, mesmo que conserve
seu nomen juris, transcendeu os limites da culpa e “trata-se, com efeito, de reparação do dano”.
O dano moral é aquele reputado como sendo a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo da normalidade, interfere no comportamento psicológico do indivíduo, causando aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. No caso, tal situação se verifica. Acentuo que o dano moral em debate é o puro (in re ipsa). Ou seja, é aquele que prescinde da realização de provas para sua caracterização.
É inconteste a dor e o sofrimento experimentados pela Promovente ante reiterada inoperância do sistema de telefonia da empresa Ré,
impossibilitando que o consumidor usufrua do serviço contratado.
Nesse sentido:
DIREITO DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. TELEFONIA MÓVEL. DANOS MORAIS. FALHA NO SISTEMA OPERACIONAL.
1 - Preliminar de incompetência. Complexidade. Não há necessidade de prova pericial para demonstrar o defeito na prestação de serviços de
1 Caio Mário da Silva Pereira, Responsabilidade civil, 9. ed., Rio de Janeiro, Forense,
telefonia móvel, que pode ser avaliado à luz de laudos (art. 35 da Lei 9.099/1995) ou outros elementos (art. 6º da Lei). Preliminar que se rejeita.
2 - Responsabilidade objetiva. Telefonia móvel. Linha telefônica que passou a não mais funcionar, e, após solicitação de assistência da ré, passa a funcionar, mas sem contato com outras operadoras. Responsabilidade objetiva do fornecedor que se reconhece (art. 14 do CDC). 3 - Danos morais. Em face da necessidade e relevância dos serviços de comunicação no cotidiano dos pequenos prestadores de serviços, a falta do serviço representa angustia, intranqüilidade e dissabor que ultrapassa os meros aborrecimentos do cotidiano para resvalar para a violação dos direitos da personalidade em face da violação da dignidade que o descaso representa. Precedente na Turma (Acórdão n.699034, 20111310011347ACJ, Relator: JOÃO FISCHER, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 27/03/2012, Publicado no DJE: 11/04/2012. Pág.: 267). No caso, a situação é agravada pela exagerada demora que ultrapassa 10 dias, que, mesmo assim restou não solvido o problema.
3 - Recurso conhecido e provido, em parte. Sem custas processuais e sem honorários advocatícios. (Acórdão n.699034, 20130110165916ACJ, Relator: AISTON HENRIQUE DE SOUSA, 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do DF, Data de Julgamento: 30/07/2013, Publicado no DJE: 05/08/2013. Pág.: 301). Grifo nosso.
No que se refere ao valor da indenização, observo que é consagrado o entendimento de que “cabe ao juiz, de acordo com o seu prudente
arbítrio, atentando para a repercussão do dano e a possibilidade econômica do ofensor, estimar uma quantia a título de reparação pelo dano moral” (in
Programa de Responsabilidade Civil, 2ª ed., Malheiros, 2000, p. 80).
Ademais, a teor da jurisprudência das Turmas Recursais do Distrito Federal2:
“o "quantum" fixado na indenização por dano moral, sem gerar enriquecimento da causa (art. 884, do CCB/02), deve buscar a efetividade da decisão que, ao constatar o ato ilícito e o abuso do direito, para que sirva à efetiva alteração de conduta do infrator, atentando para as circunstâncias específicas do evento, para a situação patrimonial das partes (condição econômico-financeira), para a gravidade da repercussão da ofensa, atendendo ao caráter compensatório, pedagógico e punitivo da condenação em sintonia com os Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade”.
Analisando tais critérios, arbitro o dano moral no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais).
ANTE O EXPOSTO , JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO , para condenar a Promovida ao pagamento, a título de danos morais, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) , acrescidos de correção monetária
2(20070710133884ACJ, Relator ALFEU MACHADO, Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais
a partir desta data3 e juros de mora calculados a partir da data do
evento danoso (Súmula 54, do STJ)4.
Sem custas e sem honorários (Lei n. 9.099/95, art. 55).
Tão logo transite em julgado esta decisão, pague-se o valor da condenação, no prazo de 15 (quinze) dias, independentemente de nova intimação, sob pena de aplicação da multa de 10% (dez por cento) prevista no art. 475-J, caput, do CPC, c/c o art. 52, III, da LJE (Enunciados 97 e 105 do FONAJE).
Decorrido o prazo supracitado sem comprovação de que os promovidos tenham cumprido a decisão, intime-se a autora para requerer o cumprimento da sentença, no prazo de 48 horas, sob pena de arquivamento provisório. Passados seis meses sem manifestação da autora, arquive-se definitivamente o feito (CPC, art. 475-J, § 5º).
Decisão sujeita ao crivo do Juiz Togado (Lei n. 9.099/95, art. 40).
Bayeux(PB), 20 de Setembro de 2013.
Cristina de Almeida Correia Juíza Leiga
3 Prevalece na Corte Superior de Justiça o entendimento no sentido de que o arbitramento da indenização
já resulta na atualização do valor, daí não caber correção monetária considerando o período pretérito. Sobre o tema, merecem registro os seguintes precedentes: "Determinada a indenização por dano moral em valor certo, o termo inicial da correção monetária é a data em que esse valor foi fixado, sob pena de enriquecimento indevido caso admitida a retroação da correção monetária" (ED-REsp n. 295.175⁄RJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 29.10.2001) No mesmo sentido: A correção monetária da indenização do dano moral inicia a partir da data do respectivo arbitramento; a retroação à data do ajuizamento da demanda implicaria corrigir o que já está atualizado. Embargos de declaração rejeitados." (EDREsp 194.625⁄SP, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 05.08.2002)
4 O STJ tem afirmado que a Súmula 54 incide nos casos de indenização por danos morais. Precedentes:
REsp 281511/RJ, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 01.07.2004, p. 200; EDREsp nº 297.443⁄DF, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 09⁄09⁄2002