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Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO

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Inquérito Civil Ministério Público

DESTINATÁRIO: Vereador Sami Jorge Haddad Abdulmacih

Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pelas 1ª, 2ª e 3ª Promotorias de Tutela Coletiva de Proteção ao Meio Ambiente da Capital, no exercício das atribuições fundadas no art. 6º, inciso XX da lei Complementar nº75/93, combinado com o artigo 80 da Lei 8.625/93, vem pela presente

Considerando que, através do Inquérito Civil MA 2142 em curso na 2° Promotoria de Tutela Coletiva do Meio Ambiente, objetiva-se apurar eventuais irregularidades constantes no processo de revisão do Plano Diretor, consubstanciado no Projeto de Lei Complementar n° 25/2001, encaminhado a esta Casa legislativa;

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Considerando que o texto constitucional, pela primeira vez em nossa história, veio falar em Plano Diretor, e o fez dizendo que toda política de desenvolvimento urbano deve ser executada pelo Poder Público Municipal, com exclusividade, observadas as diretrizes fixadas em lei (art. 182, caput), e que o instrumento dessa política de expansão urbana, para as cidades com mais de vinte mil habitantes, é o Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal;

Considerando que o Plano Diretor, segundo definição do Prof. José Afosnso da Silva, é o instrumento de atuação da função urbanística dos Municípios, constitui um plano geral e global que tem, portanto, por função, sintetizar o desenvolvimento físico, econômico e social do território Municipal, visando o bem-estar da comunidade;

Considerando, que o Plano Diretor é incumbido da tarefa de estabelecer como normas imperativas aos particulares e agentes privados as metas e diretrizes da política urbana, os critérios para verificar se a propriedade atende sua função social, as normas condicionadoras do exercício desse direito, afim de

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de vida urbana, o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e o cumprimento da função social da propriedade;

Considerando que, com base na Lei 10257/2001, denominada Estatuto da Cidade, que regulamentou o disposto no art. 182 e 183 da Constituição Federal, o direito à participação popular se transforma em requisito constitucional para a instituição do Plano Diretor, bem como sua fiscalização e implementação, tanto no âmbito do Executivo Municipal como na Câmara Municipal;

Considerando que, a susomencionada Lei é explícita quanto à exigência de garantia da participação popular no processo de elaboração e/ou revisão e na implementação do Plano Diretor, conforme o parágrafo 4° do artigo 40:

Artigo 40...

Parágrafo 4° - no processo de elaboração do Plano Diretor e

na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo Municipal garantirão:

I- a promoção de audiências públicas e debates com a

participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade;

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II- a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III- o acesso de qualquer interessado aos documentos e

informações produzidos;

Considerando que a Lei Orgânica Municipal e o atual

Plano Diretor corroboram com essa gestão democrática, a primeira dispondo em seus artigos 426 e 452, e a segunda em seu artigo 12, garantindo a participação popular através das entidades representativas da comunidade em todas as etapas do processo de planejamento;

Considerando que, pela concepção de Plano Diretor contida na Lei supracitada, o novo paradigma parte do pressuposto de que a cidade é produzida por uma multiplicidade de agentes que devem ter sua ação coordenada, não em função de um modelo produzido em escritórios e tecnocrático, mas a partir de um pacto – a cidade que queremos- que corresponda ao interesse público da cidade. Logo, a regulação urbanística passa a ser tratada como um processo, com etapas sucessivas, que vão desde sua formulação, aprovação, implementação, fiscalização e revisão periódica, tendo

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em vista uma leitura da realidade local, suas prioridades, particularidades e potencialidades;

Considerando que o artigo 230 do Plano Diretor Decenal, dispõe sobre a necessidade de sua revisão aos cinco anos de vigência, acompanhado por estudos e avaliações anuais de sua aplicação;

Considerando, outrossim, que o já mencionado artigo 40, do Estatuto da Cidade, em seu parágrafo 3°, também corrobora com a revisão do Plano Diretor;

Considerando que, segundo consta da representação feita pelo Fórum de Acompanhamento do Plano Diretor, a chefia do executivo municipal adotou o chamado Plano Estratégico, em substituição ao Plano Diretor, inviabilizando a participação popular em sua elaboração, o que contraria um dos mais importantes princípios insculpidos no Estatuto da Cidade, qual seja a gestão democrática.

Considerando que em 22 de março de 2001, foi editado pelo Executivo Municipal o Decreto 19.677/01 criando a Comissão de Coordenação do Plano Diretor (C-PLAN), cuja função era sistematizar os documentos encaminhados pelos componentes da

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referida Comissão, os quais elaborariam e analisariam as discussões sobre a revisão do Plano Diretor;

Considerando que o Estatuto da Cidade instituído pela Lei

Federal entrou em vigor em 10 de julho de 2001, regulamentando os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estabelecendo as diretrizes gerais de Política Urbana;

Considerando que em razão deste fato, o Executivo

Municipal editou Decreto 20.072, de 19 de junho de 2001, criando “Grupo de Análise do Estatuto da Cidade”, cuja principal função seria a de avaliar todas as possibilidades de aplicação do referido Estatuto na cidade do Rio de Janeiro, inclusive compatibilizando os dispositivos pertinentes ao Plano Diretor e à Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro;

Considerando que os dois grupos constituídos pelo

Executivo Municipal, através dos Decretos acima mencionados, continuaram seus trabalhos de forma independente, porém exatamente sobre a mesma questão: revisão e adequação do Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro aos instrumentos de gestão trazidos pelo Estatuto da Cidade (lei Federal 10.257/01);

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Considerando que uma das conclusões do Grupo de

Análise do Estatuto da Cidade criado pelo Decreto Municipal nº19 de junho de 2001, foi no sentido de recomendar a :

“Prorrogação do processo de revisão do Plano Diretor para que sejam elaborados os estudos necessários para adaptá-lo ao Estatuto da Cidade. O prazo de validade do Plano Diretor Decenal do Rio de Janeiro deve ser prorrogado pelo tempo necessário para realização de estudos, elaboração de projeto de lei com a participação popular e discussão, modificação e aprovação na Câmara Municipal, num período estimado de 02 a 03 anos”;

Considerando que pelas atas de reuniões

acostadas aos autos, a Comissão de Revisão do Plano DiretorC -PLAN não considera as conclusões do Grupo de Análise do Estatuto da Cidade, concluindo seu trabalho em agosto de 2001, sem considerar as recomendações feitas por aquele grupo;

Considerando, ainda, pela leitura das referidas

atas constatamos que:

1) Não houve qualquer participação de entidades da sociedade civil nos trabalhos desenvolvidos pela C-PLAN;

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2) Foram ignoradas todas as advertências quanto à necessidade de um prazo maior que permitisse o desenvolvimento dos estudos necessários e possibilitasse a discussão das propostas com as entidades da sociedade civil;

3) Como resultado da metodologia adotada e do prazo exíguo, a proposta final que resultou do trabalho da C-PLAN não tem a consistência, na medida em que é constituída de propostas pontuais, que não apresentam qualquer relação entre si, não estando fundamentadas por quaisquer estudos e não estão acompanhadas das devidas justificativas. Assim sendo, do ponto de vista do seu conteúdo, a proposta da C-PLAN não pode ser considerada e avaliada enquanto uma proposta de revisão do Plano Diretor, conclusão compartilhada pela própria C-PLAN que alertou ao Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro sobre todas as pendências legais e urbanísticas contidas no processo definido, reconhecendo a necessidade

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da realização de estudos complementares antes da remessa do projeto de Lei à Câmara Municipal.

Considerando que tais pendências não foram

solucionadas e assim mesmo o Projeto de Lei Complementar nº 25/2001 foi encaminhado em 05 de outubro de 2001 ao Legislativo Municipal, em confronto direto com o art. 452 da Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro, Estatuto da Cidade e Constituição Federal (arts. 182, caput e §§ 1º e 2º);

Considerando o teor da carta enviada pelo

Secretário Municipal de Urbanismo ‘a Comissão de Coordenação do Plano Diretor- C-Plan, constante dos autos do Inquérito, afirmando a necessidade de prazo maior para elaborar a proposta de revisão;

Considerando que a Secretaria Municipal de

Urbanismo, órgão responsável pelo planejamento urbano, não participou dos trabalhos da Comissão de Coordenação do Plano Diretor- C-Plan,;

Considerando que a eventual aprovação do referido

projeto de lei pela Câmara Municipal representará um retrocesso no Planejamento Urbano da cidade do Rio de Janeiro, pois contraria flagrantemente as normas inseridas nos diplomas legais

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acima citados, notadamente, no que concerne a participação popular;

Considerando que a adequação do projeto de lei

complementar nº 25/2001 ao sistema legal aplicável ao Planejamento Urbano, deverá ser realizada pelo Executivo Municipal, que após o encaminhará a essa casa Legislativa;

Considerando que o projeto de lei de revisão do

Plano Diretor está incompleto, de acordo com o que estabelece o artigo 42 do Estatuto da Cidade, que trata do conteúdo mínimo, devendo ser salientado ainda o documento, que consta dos autos do Inquérito, enviado pelo Sub Secretário para assuntos especiais / Assessoria legislativa e parlamentar, apontando essa falha;

Considerando que a eventual votação, aprovação e

promulgação do projeto de lei, na forma como foi encaminhado pelo Poder Executivo, resultará em norma ilegal, inconstitucional e defasada, cuja eficácia e execução poderá ser suspensa pela via judicial;

Considerando tudo mais que constam dos autos do Inquérito Civil acima epigrafado,

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RECOMENDAR a

o Exmo. Presidente da Câmara Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, para que se abstenha de colocar em votação pelo Plenário desta Casa Legislativa, o Projeto de Lei Complementar nº25/2001 que dispõe sobre a Política Urbana do Município do Rio de Janeiro, até que o Executivo Municipal promova a adequação do mesmo ao Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/01).

Para tanto, concedemos o prazo de 20 dias, para devolução do referido Projeto de Lei ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, para as devidas adequações, informando-se ao Ministério Público no mesmo prazo.

Alertamos, ainda, que o não atendimento a presente recomendação poderá resultar na adoção das medidas judiciais cabíveis, inclusive com vistas a declaração direta de inconstitucionalidade da lei oriunda do Projeto de Lei Complementar 25/2001, além das medidas pertinentes para apurar eventual prática de improbidade urbano-ambiental;

Por fim, é oportuno consignar que estão sendo encaminhadas, para a devida ciência, cópia da presente Recomendação a todos os parlamentares, membros da Câmara

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Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, bem como ao Prefeito Municipal desta cidade e ao Secretário Municipal de Urbanismo.

Rio de Janeiro,.. 19 de agosto de 2004

CARLOS F. SATURNINO ROSANI C GOMES KARINE S. GOMES PROMOTORES DE JUSTIÇA

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