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Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE. JUROS MORATÓRIOS A citação é o termo inicial dos juros moratórios em caso de obrigações contratuais ilíquidas.

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Márcio André Lopes Cavalcante

Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.430.320-AL; REsp 1.435.077-RS; RMS 45.638-RS; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL INTERVENÇÃO FEDERAL

 Competência para julgar o pedido de intervenção.

DIREITO ADMINISTRATIVO CONCURSO PÚBLICO

 Termo inicial do mandado de segurança envolvendo concurso público. SERVIDORES PÚBLICOS

 Pensão por morte da Lei n. 8.112/90 e surgimento de outro beneficiário. DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA

 Executado que aliena o bem de família pratica fraude à execução? JUROS MORATÓRIOS

 A citação é o termo inicial dos juros moratórios em caso de obrigações contratuais ilíquidas. RESPONSABILIDADE CIVIL

 Condenação ao pagamento de indenização em forma de pensão mensal e necessidade de constituição de capital. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

 As partes possuem o direito de que novo exame de DNA seja feito caso o primeiro tenha sido inconclusivo e exista viabilidade técnica para o seu refazimento.

DIREITO AMBIENTAL RESPONSABILIDADE CIVIL

 Responsabilidade civil por dano ambiental

DIREITO PROCESSUAL PENAL

FUNDAMENTAÇÃO DAS DILIGÊNCIAS INVESTIGATIVAS

 A decisão que defere diligências invasivas de acesso a dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo) precisa ser motivada.

TRIBUNAL DO JÚRI

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DEFENSOR DATIVO

 Honorários advocatícios arbitrados em favor de defensor dativo.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

 Compete à Justiça Militar julgar militar que praticou estelionato para burlar a condenação que havia recebido na Justiça Militar.

DIREITO TRIBUTÁRIO SIMPLES NACIONAL

 Indeferimento da inclusão pela existência de débitos com a Fazenda Pública.

DIREITO CONSTITUCIONAL

INTERVENÇÃO FEDERAL

Competência para julgar o pedido de intervenção

Importante!!!

A União poderá intervir no Estado ou DF para prover (garantir) a execução de ordem ou decisão judicial que esteja sendo desrespeitada (art. 34, VI, da CF/88). Ocorrendo esse descumprimento, o STF, o STJ ou o TSE, a depender de qual ordem/decisão judicial esteja sendo desatendida, irá requisitar do Presidente da República a intervenção federal.

Se o Estado/DF estiver descumprindo uma decisão de juiz ou Tribunal de 2ª instância, o Tribunal local deverá fazer uma representação ao Tribunal Superior competente (STF, STJ ou TSE) solicitando a intervenção. Se o Tribunal Superior concordar, ele irá requisitar ao Presidente da República a intervenção.

Para saber qual o Tribunal Superior será competente deverá ser analisada a matéria discutida e para quem seria dirigido o eventual recurso.

Compete ao STJ julgar pedido de intervenção federal baseado no descumprimento de ordem de reintegração de posse de imóvel rural ocupado pelo MST expedida por Juiz Estadual e fundada exclusivamente na aplicação da legislação infraconstitucional civil possessória. Isso porque a decisão descumprida analisou tema relacionado com direito civil privado, não tendo feito considerações sobre questões constitucionais. Logo, o eventual recurso contra a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão.

Quanto ao mérito, no caso concreto, o STJ julgou improcedente o pedido de intervenção federal. Afirmou-se que, como já se passaram muitos anos desde que a decisão judicial foi descumprida, a remoção das diversas famílias que vivem no local se fosse feita hoje iria causar um enorme conflito social, até mesmo porque não existe lugar para acomodar de imediato, de forma digna, essas pessoas. Logo, apesar de tecnicamente, a situação se enquadrar em uma hipótese de intervenção federal, esta não deveria ser decretada, devendo se considerar que as fazendas ocupadas foram afetadas ao interesse público e que a questão deverá ser resolvida em reparação a ser buscada via ação de indenização (desapropriação indireta) promovida pelo interessado.

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Princípio da autonomia dos entes

A União, os Estados, o DF e os Municípios são autônomos (art. 18 da CF/88). A autonomia dos entes é manifestada pelas seguintes capacidades que possuem:

a) Auto-organização: capacidade de os Estados elaborarem suas próprias Constituições e de o DF e os Municípios elaborarem suas Leis Orgânicas;

b) Autogoverno: prerrogativa que os entes possuem de elegerem os seus respectivos governantes (Governadores, Prefeitos, Deputados, Vereadores);

c) Autoadministração: capacidade que os entes possuem dirigirem os seus próprios órgãos e serviços públicos e de exercerem suas competências, sem interferência de outro ente. Assim, por exemplo, as decisões administrativas do Estado-membro “X” são tomadas exclusivamente por este Estado-membro “X”, sem que possam sofrer a interferência da União, de outros Estados-membros ou de Municípios; d) Autolegislação: prerrogativa dos entes de editarem suas próprias leis, de acordo com as competências

fixadas pela CF.

Equilíbrio federativo (pacto federativo)

Apesar de serem autônomos, os entes da Federação têm que obedecer aos princípios e regras da CF/88 a fim de manter o equilíbrio federativo.

Intervenção: instrumento para manter o equilíbrio federativo

A CF/88 prevê que, se houver risco à manutenção do equilíbrio federativo, é possível a utilização de um mecanismo chamado de “intervenção”.

A finalidade da intervenção é proteger a estrutura constitucional federativa contra atos destrutivos de unidades federadas.

Conceito de intervenção A intervenção é...

- uma medida de natureza política, - excepcional,

- prevista taxativamente na CF/88,

- consistente na incursão (intromissão) de um ente superior em assuntos de um ente inferior - restringindo temporariamente a autonomia deste

- com o objetivo de preservar o pacto federativo

- e fazer cumprir os demais princípios e regras constitucionais. Princípio da não-intervenção

A regra é que um ente não pode intervir em outro. A intervenção de um ente em outro é excepcional. Somente fatos de enorme gravidade justificam essa medida extrema.

Espécies de intervenção:

Há dois tipos de intervenção em nossa Federação:

a) Intervenção da União nos Estados, no Distrito Federal ou nos Municípios localizados em Territórios (intervenção federal) – art. 34 da CF;

b) Intervenção dos Estados nos Municípios (intervenção estadual) – art. 35 da CF.

 Intervenção FEDERAL  União intervém nos Estados.  Intervenção ESTADUAL  Estados intervêm nos Municípios.

(Obs: a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios).

Hipóteses de intervenção federal

As hipóteses excepcionais de intervenção federal estão previstas taxativamente no art. 34 da CF/88. Vejamos cada uma delas, analisando o procedimento adotado:

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HIPÓTESES PROCEDIMENTO

A União poderá intervir nos Estados/DF se essa medida for necessária para:

1) manter a integridade nacional.

Ex: um determinado Estado-membro inicia um forte movimento para se separar do restante do Brasil.

O Presidente da República, ao perceber que está ocorrendo alguma dessas hipóteses, deverá decretar a intervenção, mesmo que não tenha sido solicitada por ninguém. Em outras palavras, a intervenção será decretada de ofício (de forma espontânea).

O Presidente decreta a intervenção por meio de um Decreto Presidencial deverá trazer as regras sobre a intervenção (amplitude, prazo, condições). No Decreto, o Presidente poderá nomear um interventor para administrar o Estado, caso entenda necessário.

O Decreto deverá ser submetido à apreciação do Congresso Nacional, no prazo de 24 horas. A doutrina chama isso de “controle político” da intervenção. Se o Congresso não estiver funcionando, o Presidente do Senado deverá fazer uma convocação extraordinária.

Antes de decretar a intervenção, o Presidente consultará o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, sendo tais manifestações apenas opinativas (não vinculantes).

2) repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra.

Ex: a Colômbia decide conquistar Tabatinga (AM).

3) pôr termo (acabar) a grave comprometimento da ordem pública.

Ex: o Estado-membro não está conseguindo controlar o crime organizado.

4) reorganizar as finanças do Estado/DF caso ele tenha:

a) suspendido o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;

b) deixado de entregar aos Municípios as receitas tributárias, dentro dos prazos estabelecidos em lei.

5) A União poderá intervir no Estado/DF para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação.

Se o Poder Executivo ou Legislativo estadual que estiver sendo coagido/impedido, deverá solicitar (“pedir”) ao Presidente da República que intervenha no Estado.

Se o Poder Judiciário estiver sendo coagido/impedido, deve solicitar providências ao STF. Se o STF concordar com o pedido, irá requisitar do Presidente da República a intervenção (a requisição é vinculante).

O Decreto de intervenção também será submetido à apreciação do CN, no prazo de 24 horas.

6) A União poderá intervir no Estado/DF para prover (garantir) a execução de ordem ou decisão judicial que esteja sendo desrespeitada.

A decretação da intervenção dependerá de requisição do STF, do STJ ou do TSE.

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Assim, o STF, o STJ ou o TSE, a depender de qual ordem/decisão judicial esteja sendo descumprida, irá requisitar do Presidente da República a intervenção federal. Assim, p. ex., se a decisão do TSE é que foi descumprida, o Presidente desta Corte irá requisitar a intervenção ao Presidente da República.

E se o Estado/DF estiver descumprindo uma decisão de juiz ou Tribunal de 2ª instância?

Nesse caso, o Tribunal local deverá fazer uma representação ao Tribunal Superior competente (STF, STJ ou TSE) solicitando a intervenção. Se o Tribunal Superior concordar, ele irá requisitar ao Presidente da República a intervenção.

Para saber qual o Tribunal Superior será competente deverá ser analisada a matéria discutida e para quem seria dirigido o eventual recurso. Ex1: caberá ao STJ o exame da intervenção federal nos casos em que a matéria é infraconstitucional (legislação federal) e o possível recurso deva ser encaminhado ao STJ. Ex2: se a questão for constitucional, o pedido de intervenção será julgado pelo STF.

Obs: NÃO é necessária a apreciação pelo CN tendo em vista que a intervenção foi determinada pelo Poder Judiciário em julgamento de ação judicial.

7) A União poderá intervir no Estado/DF para prover (garantir) a execução de lei federal que esteja sendo desrespeitada.

A decretação da intervenção dependerá de provimento (decisão julgando procedente), pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República.

Assim, verificando a ocorrência de uma dessas duas hipóteses, o PGR deverá propor uma representação de inconstitucionalidade interventiva (ação direta de inconstitucionalidade interventiva) junto ao STF.

Se o STF julgar a ação procedente, deverá levar ao conhecimento do Presidente da República para que este, no prazo improrrogável de até 15 dias, tome as seguintes providências:

a) Expeça decreto de intervenção;

b) Nomeie, nesse mesmo decreto, o interventor (se couber). Vale ressaltar que nem sempre haverá a nomeação de interventor.

O procedimento está previsto na Lei 12.562/2011. 8) A União poderá intervir no Estado/DF para

assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis, que são os seguintes: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;

b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal;

d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.

e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino (25%) e nas ações e

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serviços públicos de saúde.

Obs1: a decretação da intervenção é vinculada, cabendo ao Presidente a mera formalização da decisão tomada pelo STF.

Obs2: o decreto deve limitar-se a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida for suficiente para o restabelecimento da normalidade.

Obs3: NÃO é necessário que a intervenção seja apreciada pelo Congresso Nacional.

O não-pagamento de precatório pode, em tese, ensejar intervenção federal?

SIM. O fato do Estado-membro deixar de pagar precatório configura descumprimento de decisão judicial transitada em julgado e, portanto, pode, em tese, autorizar a intervenção federal com base no art. 34, VI, 2ª parte, da CF/88.

O simples não-pagamento de precatório já enseja a intervenção federal?

NÃO. Segundo a jurisprudência consolidada do STF, é pressuposto indispensável ao acolhimento da intervenção federal que reste demonstrada a atuação estatal voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão judicial transitada em julgado.

Em outras palavras, é necessário que tenha havido, por parte do Estado, descumprimento voluntário e intencional da decisão judicial. A ausência de conduta dolosa do ente estatal em descumprir a ordem judicial não autoriza o deferimento do pedido de intervenção.

Se ficar demonstrado que o Estado-membro não pagou os precatórios por conta de dificuldades financeiras, tal circunstância revela, segundo o STF, que não houve intenção estatal de se esquivar ao pagamento.

STF. Plenário. IF 5101/RS, IF 5105/RS, IF 5106/RS, IF 5114/RS, rel. Min. Cezar Peluso, 28/3/2012.

Intervenção federal como limitação circunstancial ao poder de reforma constitucional

A Constituição Federal não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (art. 60, § 1º).

Hipóteses de intervenção estadual

As hipóteses excepcionais de intervenção nos Municípios estão previstas taxativamente no art. 35 da CF/88. Vale ressaltar que a Constituição estadual não pode trazer outras situações de intervenção estadual diferentes daquilo que foi insculpido na CF/88 (STF. Plenário. ADI 336, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 10/02/2010).

É o Estado-membro quem tem a possibilidade constitucional de intervir nos Municípios. Em regra, a União não intervém em Municípios, a não ser que estejam em Territórios.

Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:

I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;

III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; (Redação dada pela EC nº 29/2000)

IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.

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CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ

A situação fática foi a seguinte (com adaptações):

Determinado sítio foi invadido por membros do MST.

O proprietário ajuizou ação de reintegração de posse, tendo o juiz de direito concedido a liminar para desocupação da área, requisitando, para tanto, força policial.

O magistrado determinou por várias vezes a intimação dos agentes públicos estaduais responsáveis (Governador do Estado, Secretário de Segurança, Comandante da PM etc.) para que encaminhassem ao local força policial, no entanto, as seguidas ordens judiciais foram descumpridas.

Diante da inexecução da ordem judicial por mais de 6 anos, o proprietário do imóvel apresentou ao Presidente do Tribunal de Justiça pedido de intervenção federal.

O TJ concordou com o autor e determinou a remessa do pedido de intervenção ao STJ.

O STJ era competente para julgar esse pedido de intervenção?

SIM. Cabe ao STJ o exame da Intervenção Federal nos casos em que a matéria é infraconstitucional (envolvendo legislação federal) e o possível recurso deva ser encaminhado ao STJ.

No presente caso, a decisão descumprida é uma sentença em ação de reintegração de posse na qual se discutiram temas relacionados com direito civil privado, não tendo feito considerações sobre questões constitucionais. Logo, o eventual recurso contra a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão.

A parte autora (no caso, o proprietário) poderia ter representado ao STJ pedindo a intervenção? Isso seria correto?

NÃO. A representação ou requisição de Intervenção Federal constituem providências que cabem aos Tribunais e não à parte interessada. Isso porque a intervenção federal, no caso de descumprimento de decisão judicial, não é um instrumento de realização do direito do particular vitorioso no caso. Trata-se de um mecanismo de afirmação da autoridade do órgão judiciário cuja ordem ou decisão esteja sendo descumprida. Em outras palavras, não é um instrumento de defesa do direito da parte, mas sim de garantia da independência do Poder Judiciário.

No caso concreto, a parte autora fez o correto. Provocou o Tribunal de Justiça e este representou ao STJ pedindo a intervenção federal. Vale ressaltar que o autor não cometeu nenhuma irregularidade ao formular o pedido ao TJ porque este Tribunal local poderia até mesmo de ofício pedir a intervenção ao STJ. Ora, se ele poderia fazê-lo de ofício, nada impede que a parte o provoque.

E se a decisão descumprida fosse do STJ ou do STF?

Então, nesse caso, a parte poderia dirigir-se ao próprio STJ ou STF pedindo a intervenção.

No mérito, o que decidiu o STJ? O pedido de intervenção foi aceito?

NÃO. O STJ julgou improcedente o pedido de intervenção federal.

Como já se passaram muitos anos desde que prolatada a decisão judicial descumprida, a remoção das diversas famílias que vivem no local se fosse feita hoje iria causar um enorme conflito social, até mesmo porque não existe lugar para acomodar de imediato, de forma digna, essas pessoas.

O Ministro salientou que, tecnicamente, a recusa do Estado em fornecer força policial para a desocupação ordenada pelo Poder Judiciário caracteriza a situação prevista no art. 36, II, da CF, pois há desobediência à ordem “judiciária”, o que justificaria a intervenção (art. 34, VI) para “prover a execução da ordem ou decisão judicial”. Entretanto, a situação em análise revela quadro de inviável atuação judicial, assim como não recomenda a intervenção federal para compelir a autoridade administrativa a praticar ato do qual vai resultar conflito social muito maior que o suposto prejuízo do particular.

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Pelo princípio da proporcionalidade, não deve o Poder Judiciário promover medidas que causem coerção ou sofrimento maior que sua justificação institucional e, assim, a recusa pelo Estado não é ilícita.

Para o Ministro houve a afetação do bem por razões de interesse público, razão pela qual a questão deverá ser resolvida em reparação a ser buscada via ação de indenização (desapropriação indireta) promovida pelo interessado.

Assim, o STJ negou o pedido de intervenção federal contra o Estado, considerando que houve a perda da propriedade por ato lícito da administração, não remanescendo outra alternativa que respeitar a ocupação dos ora possuidores como corolário dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, de construção de sociedade livre, justa e solidária com direito à reforma agrária e acesso à terra e com erradicação da pobreza, marginalização e desigualdade social.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO

Termo inicial do mandado de segurança envolvendo concurso público

Importante!!!

O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discuta regra editalícia que tenha fundamentado eliminação em concurso público é a data em que o candidato toma ciência do ato administrativo que determina sua exclusão do certame, e não a da publicação do edital do certame.

STJ. Corte Especial. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014 (Info 545). EXEMPLO 1:

Imagine a seguinte situação adaptada:

Determinado Estado abriu concurso público para policial militar.

O edital do certame, publicado no dia 02/02/2012, previa que o candidato deveria ter o mínimo de 18 e o máximo de 30 anos de idade até a data do curso de formação.

João foi aprovado em todas as etapas do concurso e convocado para apresentar seus documentos a fim de ingressar no curso de formação.

Ocorre que João possuía 31 anos de idade e, por isso, foi eliminado, tendo sido intimado dessa decisão em 03/03/2013.

Inconformado, o candidato, uma semana depois, impetra mandado de segurança questionando essa regra. A autoridade coatora, ao prestar informações, suscita que houve decadência tendo em vista que o impetrante teria 120 dias para propor o MS e que esse prazo seria contado da data da publicação do edital, ocasião em que a restrição tornou-se conhecida e deveria ser por ele impugnada.

A alegação da autoridade coatora está correta? O prazo para o MS começou a ser contado da data da publicação do edital de abertura do concurso?

NÃO. Segundo decidiu o STJ, o prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra limitação de idade em concurso público conta-se da ciência do ato administrativo que determina a eliminação do candidato pela idade, e não da publicação do edital que prevê a regra da limitação.

O STJ possui diversos precedentes afirmando que a norma editalícia, genérica e abstrata, que prevê a apresentação de documentos que comprovem a idade limite, somente terá eficácia para alterar a posição jurídica do candidato quando for materializada e individualizada, afastando-o do certame. Assim, o termo a quo para a fluência do prazo decadencial é o ato administrativo que determina a eliminação do candidato, e não a publicação do edital (STJ 2ª Turma. AgRg no AREsp 258950/BA, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 07/03/2013) (Info 533).

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EXEMPLO 2:

Imagine que determinado candidato foi eliminado do concurso público no exame psicotécnico, razão pela qual deseja impetrar mandado de segurança questionando o resultado dessa prova. Considerando que o MS possui prazo decadencial de 120 dias, indaga-se: o prazo para o MS começou a contar do dia em que foi publicado o Edital do concurso (no qual estavam previstos os critérios do exame) ou da data em que foi divulgado o resultado do teste psicotécnico?

Conta-se da data da publicação do resultado do exame psicotécnico (data em que o candidato toma ciência do ato administrativo que determina sua exclusão do certame).

Se um candidato é eliminado no exame psicotécnico, o termo inicial do prazo decadencial para que ele impetre mandado de segurança é a data da publicação do resultado do teste e não a data da publicação do edital do certame.

STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 202.442-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/10/2012 (Info 506).

O mesmo raciocínio é aplicado no caso de reprovação em teste físico:

O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discute a eliminação de candidato em concurso público em razão de reprovação em teste de aptidão física é a data da publicação da eliminação, e não a da publicação do edital do certame.

É a partir da efetiva produção de efeitos concretos da regra editalícia – materializada no ato de eliminação do candidato – que deve ser observado o prazo de 120 dias para a impetração do writ. STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 36.798-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 9/10/2012 (Info 507).

SERVIDORES PÚBLICOS

Pensão por morte da Lei n.

8.112/90 e surgimento de outro beneficiário

Importante!!!

A viúva do servidor público federal tem direito à pensão vitalícia por morte, nos termos do art. 217, I, “a”, da Lei n. 8.112/90.

O filho menor de 21 anos do servidor falecido também tem direito à pensão temporária por morte (art. 217, II, “a”).

Se o servidor deixou viúva e filho menor, o valor da pensão por morte será dividido entre eles. No caso concreto, o servidor faleceu deixando viúva e, até então, nenhum filho conhecido. A esposa supérstite passou a receber a pensão quando foi surpreendida por uma citação a respeito de ação de investigação de paternidade na qual se alegava que seu marido tinha um filho não reconhecido.

Após algum tempo, a ação é julgada procedente, reconhecendo-se que realmente o menor é filho do falecido. A partir daí, a viúva terá que dividir o valor da pensão por morte com o outro herdeiro. No entanto, a viúva, que vinha recebendo a totalidade do benefício, não terá que pagar ao filho posteriormente reconhecido a quota das parcelas recebidas antes da sentença de reconhecimento da paternidade. Os valores que ela já recebeu e que pertenciam ao filho reconhecido não poderão ser exigidas porque são verbas alimentares, recebidas de boa-fé, sendo, portanto, irrepetíveis.

STJ. 3ª Turma. REsp 990.549-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/6/2014 (Info 545).

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Imagine a seguinte situação adaptada:

João, servidor público federal, faleceu e deixou uma esposa com quem não tinha filhos. Diante disso, a viúva de João terá direito à pensão por morte, a ser paga pela União.

Pensão por morte

O Estatuto dos Servidores Públicos federais (Lei n. 8.112/90) prevê uma pensão por morte paga aos dependentes dos agentes públicos falecidos. Veja:

Art. 215. Por morte do servidor, os dependentes fazem jus a uma pensão mensal de valor correspondente ao da respectiva remuneração ou provento, a partir da data do óbito, observado o limite estabelecido no art. 42.

O art. 217, I, “a”, da Lei n. 8.112/90 prevê que essa pensão pode ser paga à esposa do servidor falecido. Confira a redação legal:

Art. 217. São beneficiários das pensões: I - vitalícia:

a) o cônjuge;

O que aconteceria se João tivesse deixado um filho menor de 21 anos?

Nesse caso, o seu filho também teria direito à pensão por morte, conforme prevê o art. 217, II, “a”: Art. 217. São beneficiários das pensões:

II - temporária:

a) os filhos, ou enteados, até 21 (vinte e um) anos de idade, ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez;

A viúva de João continuaria tendo direito à pensão?

SIM, mas o valor da pensão teria que ser dividido entre ela e o filho do falecido. Confira o que diz a lei: Art. 218. A pensão será concedida integralmente ao titular da pensão vitalícia (em nosso exemplo, a

esposa), exceto se existirem beneficiários da pensão temporária (no caso, o filho menor).

(...)

§ 2º Ocorrendo habilitação às pensões vitalícia e temporária, metade do valor caberá ao titular ou titulares da pensão vitalícia, sendo a outra metade rateada em partes iguais, entre os titulares da pensão temporária.

Feitos os devidos esclarecimentos, vejamos o caso concreto decidido pelo STJ (com adaptações):

Pedro, servidor público federal, faleceu, deixando uma esposa com quem não teve filhos.

Viviane, a viúva de Pedro, começou a receber a pensão por morte (suponhamos que fosse de 4 mil reais). No dia 10/10/2010, Viviane recebe um mandado de citação a respeito de uma ação de investigação de paternidade post mortem ajuizada por Fábio, criança de 1 ano de idade, contra ela. Na ação, Fábio, representado pela genitora, afirma que é filho de Pedro, mas que este não o registrou.

Em 10/10/2012, o juiz julga procedente a ação de investigação de paternidade declarando que Pedro era pai biológico de Fábio, tendo a sentença transitado em julgado.

Fábio será incluído como dependente do servidor público e passará a receber pensão por morte?

SIM. Fábio, sendo filho do servidor, tem direito à pensão temporária por morte, que irá durar até que complete 21 anos. Nesse caso, ele terá que dividir o valor da pensão com a viúva do servidor. Logo, Fábio e Viviane receberão 2 mil reais cada um.

Ocorre que Fábio queria receber os valores atrasados. Assim, ajuizou ação de cobrança contra Viviane pedindo que ela fosse condenada a pagar a metade da pensão que ela recebeu e que ele teria direito no período de 10/10/2010 até 10/10/2012 (24 meses multiplicados por 2 mil reais = 48 mil reais). Na petição inicial, o autor afirmou que a sentença declaratória de paternidade possui efeitos ex tunc e que

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Viviane agiu de má-fé, pois sabia da existência da ação de investigação e, mesmo assim, ficou recebendo o valor inteiro mensalmente (4 mil reais). O STJ concordou com o pedido?

NÃO. O STJ decidiu que a viúva que vinha recebendo a totalidade da pensão por morte de seu marido não deve pagar ao filho posteriormente reconhecido em ação de investigação de paternidade a quota das parcelas recebidas antes da sentença de reconhecimento da paternidade.

Efeitos ex tunc da sentença

A sentença declaratória de paternidade realmente possui efeitos ex tunc, retroagindo à data de nascimento do investigante. Entretanto, segundo afirmou o STJ, tais efeitos não possuem caráter absoluto, encontrando um limite intransponível: o respeito às situações jurídicas definitivamente constituídas. No caso concreto, a retroatividade da sentença esbarra em um obstáculo: o fato de que as verbas previdenciárias recebidas pelo beneficiário ostentam caráter alimentar e mostram-se irrepetíveis já que têm por objetivo garantir a subsistência.

Ausência de má-fé

A jurisprudência admite que o princípio da irrepetibilidade das verbas previdenciárias seja excepcionado em um caso: quando o beneficiário recebeu as verbas de má-fé.

No entanto, no caso concreto, o STJ entendeu que não houve má-fé.

Ao tomar conhecimento da ação de investigação de paternidade, a viúva apenas obtém a notícia da possibilidade de haver outro beneficiário da pensão. Trata-se, portanto, de mera possibilidade e nada mais do que isso, porquanto incerto o resultado da demanda, que poderia ser pela improcedência.

Assim, não é razoável exigir da beneficiária, já devidamente habilitada nos termos da lei, que abrisse mão de sua pensão apenas por existir uma ação em curso que pudesse vir a reconhecer a existência de outro beneficiário.

A configuração da má-fé requer a intenção maliciosa de causar lesão ou prejuízo a terceiro, o que não ocorreu no caso.

O interessado poderia ter pleiteado uma medida judicial (cautelar ou antecipatória) no bojo da ação de investigação de paternidade para que lhe fosse assegurada a reserva de parte da pensão. Se assim não o fez, não se pode exigir de terceira pessoa (a viúva), que não era parte naquela ação investigativa, a adoção de providência voltada a assegurar efeito semelhante.

DIREITO CIVIL

BEM DE FAMÍLIA

Executado que aliena o bem de família pratica fraude à execução?

Existe fraude à execução quando o devedor, ciente de que existe execução contra si proposta, aliena o bem de família?

O tema é polêmico, havendo decisões do STJ nos dois sentidos:

SIM NÃO

O devedor que aliena, gratuita ou onerosamente, o único imóvel, onde reside com a família, está abrindo mão da proteção legal conferida ao bem de família, na medida em que seu comportamento demonstra que o bem não lhe serve mais à moradia ou subsistência.

Não há fraude à execução na alienação de bem impenhorável nos termos da Lei n.º 8.009/90, tendo em vista que o bem de família jamais será expropriado para satisfazer a execução, não tendo o exequente nenhum interesse jurídico em ver essa alienação considerada ineficaz.

(12)

Se o bem de família é doado a seu filho menor impúbere dias após serem intimados para a execução tal circunstância revela que os devedores tentam ocultar o bem e proteger o seu patrimônio, sacrificando o direito do credor.

Assim, com fundamento no abuso de direito, é possível reconhecer que houve fraude à execução e afastar a proteção conferida pela Lei n. 8.009/90.

STJ. 3ª Turma. REsp 1364509/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/06/2014 (Info 545).

Precedentes:

STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 255.799/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/09/2013.

STJ. 4ª Turma. REsp 976.566/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/04/2010.

Espécies de bem de família

No Brasil, atualmente, existem duas espécies de bem de família:

a) Bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil) b) Bem de família legal (Lei n. 8.009/90).

Bem de família legal

O bem de família legal consiste no imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar.

Considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.

Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem de família convencional).

Proteção conferida ao bem de família legal

O bem de família legal é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei n. 8.009/90.

Veja o que diz o art. 3º da Lei:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;

III - pelo credor de pensão alimentícia;

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.

(13)

Caso concreto

Relembrados os conceitos acima, veja a seguinte situação adaptada:

João e Maria, casados, moravam uma casa própria juntamente com seu filho Gabriel (de 5 anos). O casal tinha uma dívida de 500 mil reais com Pedro.

Ressalte-se que esse débito não se enquadrava em nenhuma das hipóteses excepcionais listadas nos incisos do art. 3º acima transcrito. Em outras palavras, a residência do casal não poderia ser penhorada para pagar essa dívida.

Pedro propôs uma execução e no dia 24/04, João e Maria foram citados.

No dia 27/04, João e Maria fizeram a doação da casa em que moravam para o filho Gabriel.

Pedro ficou sabendo do fato e alegou ao juiz que houve fraude à execução nos termos do art. 593, II, do CPC: Art. 593. Considera-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens:

(...)

II - quando, ao tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência;

Os devedores se defenderam argumentando que não praticaram nenhum ato jurídico que pudesse coloca-los em insolvência, mesmo antes da doação já não havia bens penhoráveis, uma vez que a referida casa era bem de família e não poderia ser penhorada. Logo, o fato de a casa ter sido doada não mudou em nada a situação do credor.

Houve fraude à execução? Existe fraude à execução quando o devedor, ciente de que existe execução contra si proposta, aliena o bem de família?

O tema é polêmico, havendo decisões do STJ nos dois sentidos:

SIM NÃO

Em regra, o devedor que aliena, gratuita ou onerosamente, o único imóvel, onde reside com a família, está abrindo mão da proteção legal conferida ao bem de família, na medida em que seu comportamento demonstra que o bem não lhe serve mais à moradia ou subsistência.

Se o bem de família é doado a seu filho menor impúbere dias após serem intimados para a execução tal circunstância revela que os devedores tentam ocultar o bem e proteger o seu patrimônio, sacrificando o direito do credor. Assim, com fundamento no abuso de direito, é possível reconhecer que houve fraude à execução e afastar a proteção conferida pela Lei n. 8.009/90. STJ. 3ª Turma. REsp 1364509/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/06/2014 (Info 545).

Não há fraude à execução na alienação de bem impenhorável nos termos da Lei n.º 8.009/90, tendo em vista que o bem de família jamais será expropriado para satisfazer a execução, não tendo o exequente nenhum interesse jurídico em ver essa alienação considerada ineficaz.

STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 255.799/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/09/2013.

STJ. 4ª Turma. REsp 976.566/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/04/2010.

O que fazer nos concursos públicos?

Se a questão for discursiva, explicar a existência das duas posições.

Se a questão for objetiva, não deveria ser cobrada em prova, no entanto, acontecendo isso o recomendável seria adotar o julgado mais recente, divulgado neste Informativo 545.

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JUROS MORATÓRIOS

A citação é o termo inicial dos juros moratórios em caso de obrigações contratuais ilíquidas

Em regra, o termo inicial dos juros moratórios em caso de responsabilidade civil contratual é a data da citação.

Quando não houver, na sentença condenatória, a definição do termo inicial para a contabilização dos juros moratórios decorrentes do inadimplemento de obrigação contratual, dever-se-á adotar na liquidação, como marco inicial, a citação válida do réu no processo de conhecimento.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.735-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).

Início da fluência de juros moratórios e correção monetária em caso de danos morais e materiais

Termo inicial dos JUROS MORATÓRIOS (em caso de danos morais ou materiais)

Responsabilidade EXTRACONTRATUAL Responsabilidade CONTRATUAL

Os juros fluem a partir do EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).

Obrigação líquida: os juros são contados a partir do VENCIMENTO da obrigação (art. 397). É o caso das obrigações com mora ex

re.

Obrigação ilíquida: os juros fluem a partir da CITAÇÃO (art. 405 do CC). É o caso das obrigações com mora ex persona.

Termo inicial da CORREÇÃO MONETÁRIA Danos MATERIAIS

(Responsabilidade contratual ou extracontratual)

Danos MORAIS

(Responsabilidade contratual ou extracontratual)

Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito (contratual ou extracontratual) a partir da

data do efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ)

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).

Se preferir, você pode visualizar a mesma situação acima descrita de outra maneira:

DANOS MATERIAIS Juros MORATÓRIOS

1) Responsabilidade extracontratual: os juros fluem a partir do EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).

2) Responsabilidade contratual:

2.1) Obrigação líquida (mora ex re): contados a partir do VENCIMENTO.

2.2) Obrigação ilíquida (mora ex persona): contados a partir da CITAÇÃO.

CORREÇÃO MONETÁRIA

Incide correção monetária a partir da data do efetivo PREJUÍZO (Súmula 43 do STJ).

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DANOS MORAIS Juros MORATÓRIOS

1) Responsabilidade extracontratual: os juros fluem a partir do EVENTO DANOSO (art. 398 do CC e Súmula 54 do STJ).

2) Responsabilidade contratual:

2.1) Obrigação líquida (mora ex re): contados a partir do VENCIMENTO.

2.2) Obrigação ilíquida (mora ex persona): contados a partir da CITAÇÃO.

CORREÇÃO MONETÁRIA

A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do ARBITRAMENTO (Súmula 362 do STJ).

RESPONSABILIDADE CIVIL

Condenação ao pagamento de indenização em forma de pensão mensal e necessidade de

constituição de capital

O magistrado, ao julgar procedente ação de indenização condenando o réu a pagar prestação de alimentos (pensão) deverá também, em regra, independentemente da situação financeira do devedor, determinar que ele faça a constituição de capital ou preste caução fidejussória a fim de oferecer garantia de que a pensão será paga (Súmula 313-STJ).

No entanto, o STJ entende que, em face do art. 475-Q do CPC, a constituição do capital poderá ser substituída pela inclusão do beneficiário na folha de pagamentos da empresa condenada, desde que, a critério do juiz, fique demonstrada a capacidade econômica (solvabilidade) do devedor.

Assim, a Súmula 313-STJ ainda é válida hoje em dia, mas a sua interpretação deverá ser feita de acordo com o art. 475-Q do CPC, que foi inserido pela Lei n. 11.232/2005, após a edição do enunciado.

No caso concreto, o STJ entendeu que a empresa devedora da pensão era idônea e detentora de considerável fortuna, de forma que poderia ser dispensada a constituição de capital, admitindo-se a inclusão do nome do trabalhador acidentado na folha de pagamento da condenada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.292.240-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/6/2014 (Info 545).

Imagine a seguinte situação adaptada:

João sofreu um acidente causado pela construtora Camargo Corrêa®, uma das maiores do país, tendo ficado com sequelas que diminuíram sua capacidade de trabalho.

O lesado ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais, tendo sido julgada procedente condenando a ré a pagar:

a) compensação por danos morais no valor de 100 salários mínimos;

b) pensão mensal vitalícia de 1 salário mínimo, em razão da perda parcial da capacidade laborativa, com a determinação de constituição de capital;

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Fundamento legal no Código Civil de 2002 para essa condenação:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

Na letra “b” acima, repare que o juiz determinou que a empresa faça a constituição de capital para o pagamento da pensão mensal. O que é isso?

O art. 602 do CPC, antes de ser revogado pela Lei n. 11.232/2005 previa que toda vez que o magistrado, ao julgar uma ação de indenização por ato ilícito, condenasse o réu a pagar prestação de alimentos (pensão) deveria também condenar o devedor a constituir um capital, cuja renda fosse utilizada para o cumprimento dessa obrigação.

Em outras palavras, o juiz determinava que o condenado separasse um bem imóvel ou títulos da dívida pública para que fosse o bem alugado ou os títulos gerassem rendimentos financeiros e esses valores servissem para o pagamento da pensão fixada. Era uma espécie de garantia ao lesado de que iria sempre receber o valor da condenação por meio dos juros gerados por esse capital.

O juiz poderia deixar de exigir a constituição de capital se o condenado apresentasse uma caução fidejussória (§ 2º o art. 602).

Em suma, era obrigatório que o condenado fizesse a constituição do capital ou apresentasse a caução fidejussória. Essas eram suas duas únicas opções.

O STJ editou um enunciado explicitando tal exigência:

Súmula 313-STJ: Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado.

Ocorre que a Lei n. 11.232/2005 revogou o art. 602 do CPC e passou a tratar desse assunto no art. 475-Q. Veja o que diz o dispositivo:

Art. 475-Q. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, poderá ordenar ao devedor constituição de capital, cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.

§ 1º Este capital, representado por imóveis, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável e impenhorável enquanto durar a obrigação do devedor.

§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do beneficiário da prestação em folha de pagamento de entidade de direito público ou de empresa de direito privado de notória capacidade econômica, ou, a requerimento do devedor, por fiança bancária ou garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.

§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as circunstâncias, redução ou aumento da prestação.

§ 4º Os alimentos podem ser fixados tomando por base o salário-mínimo.

§ 5º Cessada a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou cancelar as garantias prestadas.

Repare, portanto, que a lei ampliou as opções e a constituição do capital poderá ser substituída:  pela inclusão do beneficiário em folha de pagamento de entidade de direito público;

 pela inclusão do beneficiário em folha de pagamento de empresa privada que apresente notória capacidade econômica; ou

 por fiança bancária ou garantia real (nesse terceiro caso, deverá haver requerimento do devedor pedindo tal providência).

(17)

Diante disso, a Súmula 313-STJ ainda é válida hoje em dia?

SIM, mas a interpretação desse enunciado deverá ser feita de acordo com o art. 475-Q do CPC, que foi inserido pela Lei n. 11.232/2005 após a edição do enunciado.

Nesse sentido, veja o que disse o STJ: “(...) a Súmula 313/STJ, embora não tenha ficado superada, deve ser interpretada de forma consentânea ao texto legal em vigor, que estabelece ser faculdade do juiz que, excepcionalmente, determine a substituição da constituição de capital pela inclusão dos beneficiários na folha de pagamento de sociedade empresária, contanto que a condenada apresente clara higidez econômica, podendo a questão ser examinada na fase de cumprimento da sentença.” (REsp 1308438/RJ, julgado em 27/08/2013).

Em outro julgado, o STJ ressaltou novamente a necessidade de a Súmula 313 ser lida conforme o novo regramento trazido pelo CPC: “o artigo 475-Q, § 2º, do Código de Processo Civil, que veio a lume por lei editada em momento posterior ao da publicação de referida súmula, autorizou a dispensa de constituição do referido capital quando o demandado for pessoa de direito público ou pessoa de direito privado de notória solvabilidade.” (AgRg no AREsp 150.378/SP, julgado em 16/10/2012).

Em suma, é importante conhecer a Súmula 313, mas principalmente as peculiaridades trazidas pelo art. 475-Q do CPC.

Voltando ao nosso caso concreto. Para a construtora ter que constituir capital é oneroso porque ela fica com muito dinheiro “preso”, indisponível. Diante disso, ela poderá pedir que, em vez de ter que constituir capital, a vítima seja incluída em sua folha de pagamento?

SIM. Em regra, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado (Súmula 313-STJ). No entanto, o STJ entende que, em face do art. 475-Q do CPC, a constituição de capital possa ser substituída pela inclusão do beneficiário na folha de pagamentos da empresa, desde que, a critério do juiz, fique demonstrada a solvabilidade (capacidade econômica) do devedor.

No caso concreto, tendo em vista que a empresa condenada é idônea e detentora de considerável fortuna, mostra-se razoável a substituição da constituição de capital pela inclusão da vítima na folha de pagamentos da devedora.

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

As partes possuem o direito de que novo exame de DNA seja feito caso o primeiro tenha sido

inconclusivo e exista viabilidade técnica para o seu refazimento

Em uma ação de investigação de paternidade post mortem, o juiz autorizou que fosse feito o exame de DNA com os restos mortais do suposto pai. O laudo foi inconclusivo em razão da degradação do material genético.

As partes pediram, então, que fosse feito um novo exame, desta vez utilizando-se como parâmetro para o teste o material genético da filha do morto (suposta irmã do autor).

O juiz indeferiu a nova perícia dizendo que seria desnecessária e, com base na prova testemunhal, julgou procedente o pedido.

Segundo o STJ, a decisão do magistrado não foi correta.

A primeira perícia somente não foi exitosa por causa da insuficiência dos restos mortais, sendo, no entanto, perfeitamente possível chegar a um resultado conclusivo se um novo exame for feito com materiais genéticos coletados de descendentes ou colaterais do falecido. Isso cria expectativa e confiança no jurisdicionado de que outro exame de DNA será realizado, em razão da segurança jurídica e da devida prestação jurisdicional.

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O magistrado, ao negar a nova perícia, não foi coerente com a sua conduta processual anterior, já que, ao deferir a produção do primeiro exame, ele reconheceu que a prova técnica era pertinente e necessária para a solução da lide. É possível falarmos até mesmo que houve a preclusão para o juiz, isto é, ele já se manifestou sobre a pertinência da prova técnica.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.229.905-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/8/2014 (Info 545).

Imagine a seguinte situação adaptada:

João faleceu deixando uma única herdeira, sua filha Mônica.

Alguns meses após a morte, Mônica recebe uma mandado de citação a respeito de uma ação de investigação de paternidade post mortem ajuizada por Ricardo, menor impúbere, contra ela.

Na ação, Ricardo, representado pela genitora, afirma que é filho de João, mas que este morreu sem registrá-lo.

O juiz determinou a realização de exame de DNA utilizando-se como material genético comparativo os restos mortais de João, cuja exumação foi autorizada.

O laudo pericial foi inconclusivo.

Diante disso, o autor pediu que fosse realizado novo exame de DNA utilizando-se agora o material genético de Mônica, que seria sua irmã. A requerida concordou com o pleito e se dispôs a participar da perícia.

Apesar disso, o juiz indeferiu a nova perícia dizendo que seria desnecessária e, com base na prova testemunhal, julgou procedente o pedido.

Agiu corretamente o magistrado?

NÃO. O STJ decidiu que, uma vez deferida a produção de prova pericial pelo magistrado (exame de DNA sobre os restos mortais daquele apontado como o suposto pai do autor da ação), caso o laudo tenha sido inconclusivo, ante a inaptidão dos elementos materiais periciados, não pode o juiz indeferir o refazimento da perícia requerida por ambas as partes, quando posteriormente houver sido disponibilizado os requisitos necessários à realização da prova técnica – materiais biológicos dos descendentes ou colaterais do suposto pai.

O resultado inconclusivo do laudo ocorreu devido ao fato de que o material biológico do morto já tinha sofrido degradação. No entanto, o perito ressalvou que a conclusão sobre a paternidade poderia ser conseguida se um novo exame fosse feito com materiais genéticos coletados de descendentes ou colaterais do falecido. Isso cria expectativa e confiança no jurisdicionado de que outro exame de DNA será realizado, em razão da segurança jurídica e da devida prestação jurisdicional.

O processo civil moderno vem reconhecendo, dentro da cláusula geral do devido processo legal, diversos outros princípios que o regem, como a boa-fé processual, efetividade, o contraditório, cooperação e a confiança, postulados que são aplicáveis não apenas para as partes, mas também para o magistrado que deverá fazer parte do diálogo processual.

Segundo o STJ, o magistrado, ao negar a nova perícia, não foi coerente com a sua conduta processual anterior já que, ao deferir a produção do primeiro exame de DNA, ele reconheceu que a prova técnica era pertinente e necessária para a solução da lide.

Para o Min. Luis Felipe Salomão, é possível falarmos até mesmo que houve a preclusão para o juiz sobre a pertinência da prova já que deferiu, ao deferir a realização do exame de DNA, conferiu aos demandantes um direito à produção daquela prova específica, não podendo agora voltar atrás e desconsiderar a sua importância.

Portanto, uma vez deferida a produção da prova genética, seria mais razoável que o magistrado determinasse o seu refazimento com o novo material fornecido pela filha do falecido.

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DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade civil por dano ambiental

Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis. O STJ, ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou as seguintes teses em sede de recurso repetitivo:

a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar;

b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e

c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014 (Info 545).

A situação fática foi a seguinte:

Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis.

As pessoas afetadas pelo acidente deverão ser indenizadas? Qual é o tipo de responsabilidade?

A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL, nos termos do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, recepcionado pelo art. 225, §§ 2º, e 3º, da CF/88:

Art. 14 (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

É possível que a empresa invoque alguma excludente de responsabilidade?

NÃO. Como se trata de responsabilidade objetiva, na modalidade do risco integral, não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima.

A empresa que explora a atividade econômica se coloca na posição de garantidor da preservação ambiental, e os danos que digam respeito à atividade estarão sempre vinculados a ela. Por isso, é descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar a sua obrigação de indenizar.

Para que haja responsabilidade basta que se prove a ocorrência de resultado prejudicial ao homem e ao ambiente advinda de uma ação ou omissão do responsável.

(20)

Quais os critérios que o juiz deverá adotar para fixação dos danos morais?

Na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.

DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A HONRA

Diferença entre a injúria comum (art. 140 do CP) e a injúria prevista no art. 326 do CE

Compete à Justiça Comum Estadual, e não à Eleitoral, processar e julgar injúria cometida no âmbito doméstico e desvinculada, direta ou indiretamente, de propaganda eleitoral, embora motivada por divergência política às vésperas da eleição.

STJ. 3ª Seção. CC 134.005-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/6/2014 (Infos 543 e 545).

Imagine a seguinte situação adaptada:

João e Pedro eram adversários políticos por apoiarem candidatos diferentes nas eleições.

Poucos dias antes do pleito, João foi até a porta da casa de Pedro e gritando, passou a ofender seu desafeto, na frente de várias pessoas, chamando-o de “ladrão, corno, vagabundo”.

Diante disso, Pedro ajuizou queixa-crime, perante o juiz eleitoral, contra João acusando-o da prática do crime de injúria, previsto no art. 326 do Código Eleitoral:

Art. 326. Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decôro:

Pena - detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.

A tipificação feita por Pedro foi correta? A competência é da Justiça Eleitoral para apurar o fato?

NÃO. Segundo decidiu o STJ em um caso parecido, tal conduta configura a injúria prevista no art. 140 do Código Penal (e não no art. 326 do CE).

A caracterização do crime de injúria previsto no Código Eleitoral exige, como elementar do tipo, que a ofensa seja perpetrada na propaganda eleitoral ou vise fins de propaganda (TSE, HC 187.635-MG, DJe de 16/2/2011), sob pena de incorrer-se no crime de injúria comum. No caso concreto, a injúria foi praticada no ambiente doméstico e desvinculada, direta ou indiretamente, de propaganda eleitoral, embora motivada por divergência política às vésperas da eleição.

Na injúria comum, tutela-se a honra subjetiva, sob o viés da dignidade ou decoro individual e, na injúria eleitoral, protegem-se esses atributos ante o interesse social que se extrai do direito subjetivo dos eleitores à lisura da competição eleitoral.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

FUNDAMENTAÇÃO DAS DILIGÊNCIAS INVESTIGATIVAS

A decisão que defere diligências invasivas de acesso a dados (bancários, telefônicos e de

empresa de transporte aéreo) precisa ser motivada

A requerimento do MP, o juiz deferiu que fossem oficiadas às companhias aéreas, telefônicas e instituições bancárias requisitando informações sobre viagens feitas pelo réu e sobre os locais onde foram utilizados os seus cartões de crédito e telefones celulares.

O magistrado autorizou tais medidas sem qualquer fundamentação.

O STJ reconheceu que a decisão foi nula por ausência de motivação. Embora não sejam absolutas as restrições de acesso à privacidade e aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer decisão judicial explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF). As diligências invasivas de acesso a dados (bancários, telefônicos e de empresa de transporte aéreo), para serem deferidas, precisam ser motivadas com a menção à necessidade e proporcionalidade das diligências.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.133.877-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/8/2014 (Info 545).

Imagine a seguinte situação adaptada:

João foi condenado e estava cumprindo pena restritiva de direitos consistente na prestação de serviços à comunidade.

Chegou ao conhecimento do MP, no entanto, que João fazia constantes viagens e que não estaria cumprindo regularmente a prestação de serviços.

Diante disso, o Parquet requereu ao juiz que expedisse ofícios requisitando as seguintes informações:  às companhias aéreas para que informassem as viagens realizadas pelo condenado no período de

cumprimento da pena;

 às companhias de telefonia móvel nas quais o reeducando tivesse contas para que remetessem os relatórios 'ERBs' onde seria possível identificar onde o condenado estava utilizando o aparelho em cada dia específico.

 ao Banco Central para que requeira de todas as administradoras de cartão de crédito as compras efetuadas pelo réu, com indicação do local, dia e horário em que foram feitas.

O juiz proferiu a seguinte decisão: “Defiro o pedido formulado pelo Parquet às fls. 186-188.”

Diante disso, a defesa do condenado recorreu afirmando que a decisão do magistrado foi nula por ausência de fundamentação.

O STJ concordou com a defesa? A decisão foi nula?

SIM. É nula a decisão que, sem fundamentação, determina o acesso a dados bancários, telefônicos e de empresas de transporte aéreo, ainda que as diligências tenham sido solicitadas com o objetivo de verificar o regular cumprimento de pena restritiva de direitos.

Os dados requeridos pelo magistrado não eram tão invasivos nem exigiam tantos requisitos como se fosse uma interceptação telefônica. No entanto, mesmo assim, era indispensável que a decisão judicial fosse fundamentada.

Não se justificou a quebra de dados cadastrais de uso de linhas telefônicas, providência necessária mesmo sem os rigores da medida propriamente de interceptação telefônica, mas ainda assim inafastável. Igualmente seria necessária motivação para ser deferida a diligência sobre a emissão de bilhetes por

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companhias aéreas e de compras efetuadas com cartões de crédito, pois isso devassa a privacidade (art. 5º, X e XII, da CF/88).

Embora não sejam absolutas as restrições de acesso à privacidade e aos dados pessoais do cidadão, é imprescindível que qualquer decisão judicial explicite os seus motivos (art. 93, IX, da CF), ainda que considerado o interesse público no acompanhamento da execução penal.

TRIBUNAL DO JÚRI

Votação no Tribunal do Júri e inexistência de quesito sobre excesso doloso

Importante!!!

Em determinado Júri, o advogado do réu alegou que este agiu em legítima defesa (art. 23, III, do CP). A acusação, por sua vez, sustentou que o acusado atuou com excesso doloso (art. 23, parágrafo único, do CP), devendo ser condenado.

Nos dois primeiros quesitos, os jurados afirmaram que “SIM” para as perguntas sobre materialidade e autoria.

No terceiro quesito, foi perguntado: “O jurado absolve o acusado?”. Os jurados também responderam que “SIM”.

Diante disso, o juiz deveria ter encerrado a votação e proferido sentença absolutória.

Ocorre que o magistrado formulou mais uma pergunta aos jurados: “O acusado excedeu dolosamente os limites da legítima defesa?”

Não agiu corretamente o juiz.

Se os jurados responderem “SIM” para a tese defensiva, o juiz não pode mais elaborar quesito sobre excesso doloso da legítima defesa. Se essa tese for suscitada pelo MP em Plenário e os jurados quiserem concordar com a acusação, basta que eles respondam “NÃO” para o quesito defensivo (“O jurado absolve o acusado?”). Se responderam “SIM”, é porque não concordaram com os argumentos do MP, sendo ilegal formular um quesito específico para a tese de acusação.

STJ. 5ª Turma. HC 190.264-PB, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/8/2014 (Info 545).

Tribunal do Júri

O julgado aqui comentado envolve o procedimento no Tribunal do Júri.

Concluídos os debates

Concluídos os debates entre acusação e defesa, o juiz-presidente do Júri (Juiz de Direito ou Juiz Federal) perguntará aos sete jurados se eles se sentem prontos para julgar ou se ainda precisam de mais algum esclarecimento sobre alguma questão de fato (§ 1º do art. 480 do CPP).

Na prática, em 90% dos casos, os jurados respondem que estão habilitados para julgar, até porque não veem a hora de ir para casa.

De qualquer forma, se houver dúvida sobre questão de fato, o juiz-presidente prestará esclarecimentos à vista dos autos, ou seja, com base no que tem no processo (§ 2º do art. 480). Os jurados, nesta fase do procedimento, podem ter acesso aos autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao magistrado (§ 3º). É importante o juiz ter especial cuidado com as perguntas que serão feitas pelos jurados, explicando previamente a eles que, ao expressarem sua dúvida, não poderão “adiantar” ou “sinalizar” como irão votar, sob pena de o Conselho de Sentença ter que ser dissolvido, prejudicando todo o dia de trabalho.

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