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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS

O CURRÍCULO E A FORMAÇÃO DOS SUJEITOS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

A (des)construção do currículo na escola e os diferentes olhares sobre ele

Verônica Neves Kröeff Orengo

ORIENTADOR: Prof. Drª Carmen Lucia Bezerra Machado

Porto Alegre 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA

___________________________________________________________________________

O66c Orengo, Verônica Neves Kröeff

O currículo e a formação dos sujeitos na Educação de Jovens e Adultos: a (des) construção do currículo na escola e os diferentes olhares sobre ele / Verônica Neves Kröeff Orengo ; orientadora Carmen Lucia Bezerra Machado. – Porto Alegre, 2009.

19 f.

Trabalho de conclusão (Especialização) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação. Curso de Especialização em Educação Profissional integrada à Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, 2009, Porto Alegre, BR-RS.

1. Educação. 2. Educação de Jovens e Adultos. 3. EJA. 4. EJA – Currículo – Formação dos sujeitos. I. Machado, Carmen Lucia Bezerra. II. Título

CDU 374.7 _____________________________________________________________________________ CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.

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2

Dedico este trabalho a toda a minha

família e amigos. Dedico sobretudo a

meu

marido,

mãe,

pai,

irmãs,

sobrinhos e vó que sempre me deram

força

e

compreenderam

minha

ausência neste um ano e meio de

especialização.

Dedico

carinhosamente ao meu filho Joaquim,

que mesmo não tendo nascido ainda,

serve como ânimo e incentivo para o

término desta tarefa e conclusão

deste estudo.

(4)

Se na verdade o sonho que nos anima é

democrático e solidário, não é falando aos

outros, de cima para baixo, sobretudo,

como se fôssemos os portadores da

verdade a ser transmitida aos demais,

que aprendemos a escutar, mas é

escutando que aprendemos a falar com

eles. (Freire, 1996, p. 113

)

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4

ORENGO, Verônica Neves Kröeff. O currículo e a formação dos sujeitos na educação de jovens e adultos: A (des) construção do currículo na escola e os diferentes olhares sobre ele. Porto Alegre: UFRGS, 2009. Trabalho de conclusão para a especialização em Educação profissional integrada à educação básica na modalidade educação de jovens e adultos. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivos entender o conceito da palavra currículo, as diferentes teorias relacionadas sobre o mesmo e os diferentes olhares, muitas vezes incoerentes, de todos os segmentos da escola sobre ele. Objetiva também demonstrar a importância do professor como pesquisador, da pesquisa para a educação, e da educação na formação dos sujeitos na Educação de Jovens e Adultos. Para alcançar tais objetivos, fez-se leituras da legislação específica em vigor, de autores relacionados ao assunto e da Proposta Político Pedagógica da escola estudada, além de problematizar, em forma de questionário, com professores, alunos, direção, orientação e supervisão da escola. Após leituras, pesquisas e muita reflexão, percebe-se que mesmo o currículo não sendo um assunto novo, ele ainda será estudado e espera-se que, modificado por muitos autores e educadores. Para que o currículo tenha a cara da escola e seja posto em prática pela mesma, é necessário que todos os segmentos da escola aprendam a ouvir. A reciprocidade na educação resolveria várias questões relativas ao currículo. Reciprocidade no sentido de ensinar e aprender por parte de todos os segmentos que constituem e se constituem na escola. O estudo deixa claro a necessidade da coerência de todos os segmentos da escola. Também, a necessidade da pesquisa tornar-se uma inseparável aliada da educação, pois só a partir dela a escola conseguirá buscar as raízes de seus alunos e a partir desta busca, entender a comunidade da qual a escola faz parte e principalmente, construir em conjunto um significativo currículo. O currículo deve ser visto com mais seriedade nas escolas, visto que ele interfere e participa da formação dos sujeitos. Os diferentes olhares sobre o currículo na escola, não devem ser eliminados, mas debatidos e para isso uma (des) construção mostra-se necessária.

Palavras-chave: EJA - currículo - formação de sujeitos - pesquisa – (des)construção

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ORENGO, Verônica Neves Kröeff. O currículo e a formação dos sujeitos na educação de jovens e adultos: A (des) construção do currículo na escola e os diferentes olhares sobre ele. Porto Alegre: UFRGS, 2009. Trabalho de conclusão para a especialização em Educação profissional integrada à educação básica na modalidade educação de jovens e adultos. Faculdade de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.

ABSTRACT

This work aims to understand the concept of the word curriculum, the different theories related to the same and different looks, often inconsistent, of all segments of the school about it. Also aims to demonstrate the importance of teacher as a researcher, the search for education, training and education in the subjects on the adult and youth education. To achieve these goals, there were specific readings of the legislation in force, of authors related to the subject and the school's Policy Proposals Pedagogic studied, beyond problematize it, in form of a questionnaire, with teachers, students, direction, guidance and supervision of school. After reading, with researches and much reflection, we find that even the curriculum is not something new, it will still be studied and it is expected that modified by many authors and educators.

For the curriculum has the face of school and it will be put into practice for the same, it is necessary that all segments of the school learn to listen. The reciprocity in education solves various issues related to curriculum. The reciprocity, in order to teach and learn from all the segments that constitute and are constituted in school. The study makes clear the all needed for consistency in all segments of the school. Also, the needed for a research become an inseparable combination of education, because only through the school it will seek the roots of their students and from this search, will understand the community which the school belongs and, foremost, will build together a significant curriculum. The curriculum should be viewed more seriously in schools, since it interferes and participates in the training of subjects. The different views on the curriculum in schools should not be eliminated, but for this happened, should have a discussion and a (des) construction is necessary.

Keywords: adult and youth education - curriculum - training of subjects - search - (des) construction.

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6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 07 2 DESENVOLVIMENTO...08 3 CONCLUSÃO... 16 4 REFERÊNCIAS ... 18

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1 INTRODUÇÃO

Mesmo não sendo o currículo escolar um assunto considerado novo, sempre despertou e desperta curiosidade, reflexão e até mesmo, polêmica. Em meados de 1920, a partir do livro ”O currículo” de Bobbitt, iniciou-se a discussão em torno do currículo escolar, onde se pensava no currículo como uma lista de conteúdos obrigatórios a serem transmitidos para os alunos, elencados, obviamente, por professores.

Hoje, a situação do currículo não é muito diferente, pois na maioria das escolas, o currículo é apresentado a cada professor no primeiro dia de aula ou na primeira reunião. Este currículo é, na maioria das vezes, construído pelos professores e equipe diretiva, ou somente pela equipe diretiva, que geralmente traz uma lista de conteúdos a serem estudados. Os conteúdos são inseridos na Proposta Político Pedagógica e raramente são modificados, de forma significativa, ao longo dos anos.

É sabido que o currículo necessário, na sociedade atual, e sobretudo na Educação de Jovens e Adultos (EJA), é aquele que contempla mais do que os conteúdos ditos mínimos. É o que leva em consideração questões como cultura, etnias, ética, valores e todo e qualquer tema que valorize os interesses do jovem ou adulto, mas principalmente que faça com que o mesmo tenha prazer em retornar à escola.

Entenda-se a palavra currículo como tudo o que produz o espaço da escola (citação de aula, professora Sandra Andrade 2008).

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2 DESENVOLVIMENTO

A escola que serviu como objeto do estudo a ser apresentado, faz parte da rede municipal de ensino da cidade de Charqueadas e localiza-se em uma vila carente, do ponto de vista econômico. A escola oferece a comunidade ensino fundamental, séries iniciais, finais e Educação de Jovens e Adultos, a qual possui em torno de 800 alunos, sendo que destes 19% são alunos da EJA.

A Proposta Político Pedagógica da escola estudada, ao menos na teoria, tem a intenção de ser a visão global que orienta o processo educativo, dando coerência a todos os elementos que nela intervém a todos os momentos e a todos os passos desse processo. Adota uma concepção que permite articular o particular com o geral, responder ao dinamismo e as condições da realidade e orientar-nos para transformá-la.

Parte das situações imediatas que são produtos da ação ou experiência e, também, de toda uma prática social e histórica, para que apropriados de conceitos teóricos, seja possível conhecer as dimensões da realidade imediata e global, descobrindo suas contradições, com o objetivo de aplicar esses conhecimentos teóricos como referenciais para a realização de ações transformadoras. Tais ações visam orientar a prática educacional, sendo base referencial para a elaboração do Regimento Escolar e Plano de Estudos, contemplando de forma abrangente os fundamentos, as metas, os objetivos e as ações do processo de ensinar e aprender e da administração de todo o contexto educacional.

Quanto ao currículo, segundo a Proposta Político Pedagógica, a escola o entende como um ponto central de referência da qualidade de ensino, um espaço para a vivência da cidadania, onde se oportunizará atividades diversificadas, respeitando as fases de desenvolvimento do aluno, garantindo o lúdico, a imaginação, a criação e a curiosidade. Onde cada componente curricular respeitará o conhecimento prévio do educando e sua diversidade cultural.

Com o objetivo de repensar o currículo na Educação de Jovens e Adultos, faz-se necessário perceber, compreender e integrar-se na realidade

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da comunidade onde está inserida a escola. Integrar-se no sentido de inserir-se, participar da comunidade em questão.

Para isso, a pesquisa torna-se imprescindível, pois “devemos partir dos elementos que compõem a realidade autêntica do educando, seu mundo de trabalho, suas relações sociais, suas crenças, valores, gostos artísticos, gíria, etc”. (Pinto, 1994, p. 86)

Repensar também os incoerentes e, muitas vezes, incompreensíveis, diferentes olhares e concepções de currículo por parte dos alunos, professores, direção, orientação, supervisão e Proposta Político Pedagógica de uma mesma escola. Incoerência que se torna gritante, quando se compara teoria e prática.

Ora, se o currículo em uma escola é um só, como podem existir concepções tão diversas sobre o mesmo em uma mesma escola?

Para que o currículo vá ao encontro, e não de encontro aos conhecimentos que despertam o interesse e são buscados pelos alunos, surge à necessidade de ouvi-los. Um dos instrumentos que torna isto possível é a pesquisa, isto é, antes de construir o currículo em uma escola, deve-se ouvir não só os alunos, mas também os demais segmentos da escola, para a partir daí, construir em conjunto um novo e significativo currículo.

O professor precisa pesquisar o pensamento do seu aluno.

A pesquisa sobre o pensamento do aluno pode ocorrer por meio de diferentes formas e de diferentes recursos. Alguns desses recursos são a fala espontânea do aluno, as suas perguntas, as respostas às perguntas do professor, os trabalhos escritos, o resultado das provas que servem, sobretudo, para mostrar o que o aluno está compreendendo, ou seja, o conteúdo, e o processo pelo qual compreende. (Marques in Becker, 2007,p. 60)

Este novo currículo deve visar identificar que conhecimentos o jovem ou adulto busca na escola. Através da pesquisa pode-se discutir e construir um currículo ideal, utilizando os temas sugeridos pelos diversos segmentos da escola. Interessante mesmo seria se após a pesquisa e posterior leitura da mesma, fosse feita uma reunião com a participação de todos os segmentos, ou representações destes para construir o currículo apropriado para o momento.

Interessante também é lembrar que o currículo de uma escola deve ser flexível e dinâmico, ou seja, terá que ser modificado assim que houver necessidade. Isso é o que me leva a procurar conhecer, nesta escola, em

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particular, que teorias e práticas, construções e (des)construções se materializam no fazer “o currículo”. O que tem de peculiar nesta escola? É diferente das outras?

Para que o estudo do currículo seja completo e compreensível, torna-se necessário conhecer ao menos algumas teorias sobre o mesmo, a fim de que possamos nos situar e identificar que tipo de currículo a escola em questão adota na prática.

As teorias de currículo mais conhecidas são a tradicional, a crítica, e a pós-crítica, sendo que o que separa as três é a questão do poder, assim como a forma que cada uma delas o vê. As teorias tradicionais são teorias ditas neutras, científicas desinteressadas. Já as teorias críticas e pós-críticas de currículo defendem a idéia de que nenhuma teoria é neutra, científica ou desinteressada, as quais estão preocupadas com as relações entre saber, identidade e poder.

Ao compararmos as três teorias citadas anteriormente, veremos que a pós-crítica é a única que leva em consideração aspectos como identidade, multiculturalismo, gênero, raça, etnia e sexualidade. A crítica traz uma questão bastante presente ainda hoje, a qual deve ser debatida e exige cuidado nas escolas, o currículo oculto. “O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos do ambiente escolar que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma implícita, para aprendizagens sociais relevantes”. (Silva, 2007, p. 78)

Mas apesar das teorias críticas terem, vários aspectos negativos, foi através delas que se aprendeu que o currículo é uma construção social.

“Em suma, depois das teorias críticas e pós-críticas, não podemos mais olhar o currículo com a mesma inocência de antes. O currículo tem significados que vão além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram”. (Silva, 2007, p. 150)

Em se falando de teorias de currículo, não podemos esquecer dos Estudos Culturais, que trazem uma abordagem bastante positiva, na qual valoriza tanto os conhecimentos ditos escolares quanto os cotidianos.

Para o levantamento de dados deste estudo, fez-se, além da leitura da Proposta Político Pedagógica da escola, Regimento e Plano de Estudos, um questionário com alunos, escolhidos aleatoriamente, das Totalidades 1, 2, 3, 4,

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5 e 6, assim como com professores, supervisão, orientação e direção de uma escola situada no município de Charqueadas.

Neste questionário havia perguntas diferentes para professores e alunos, além de preenchimento de dados de identificação. São elas:

Aos professores:

1- Nome (opcional); 2- Idade;

3- Tempo de serviço no magistério; 4- Tempo de serviço na EJA; 5- Formação;

6- Por que optou por trabalhar na Educação de Jovens e Adultos? 7- Como você pensa que deve ser construído o currículo para a Educação de Jovens e Adultos?

Aos alunos:

1- Nome (opcional); 2- Idade;

3- Totalidade;

4- Que conhecimentos você veio buscar na escola?

5- Os conteúdos trabalhados na escola têm alguma relação com a sua realidade?

Com base no questionário analisou-se e refletiu-se sobre respostas de todos os segmentos da escola como, por exemplo, a de uma professora em uma crítica aos livros didáticos atuais: “... os livros didáticos ainda são feitos para crianças em idade escolar correta”. Como se o aluno da EJA estivesse no lugar errado, em idade errada. Penso que a professora ao utilizar equivocadamente idade escolar correta, quis dizer idade própria conforme o Artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que diz: “A educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”.

Após leitura e reflexão do questionário buscaram-se também informações no documento base do PROEJA, na legislação específica em

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vigor, assim como em livros relacionados ao tema da pesquisa, para que se possa chegar a uma conclusão coerente e que contribua para a construção do currículo, não só na escola em questão, mas em toda escola que deseja ser um local democrático e que proporcione um bom convívio e respeito entre as diferentes pessoas que ela constitui ou nela se constituem.

Quanto aos professores que participaram da pesquisa, seus tempos de serviço no magistério variam de 11 a 34 anos. Com relação às respostas para as duas perguntas feitas, foram das mais diversas. Sendo que quando questionados sobre a opção de trabalhar na EJA, dos oito professores, quatro responderam que trabalhar com jovens e adultos não foi questão de opção, mas sim de necessidade, e quatro responderam que foi uma escolha, da qual não se arrependem.

Vejamos algumas falas dos professores que trabalham na EJA por opção:

- “... percebi que esta modalidade de ensino nos traz muitas alegrias e é muito gratificante”.

- “Os alunos são mais maduros, trabalham, vêm para a escola com mais objetivo”.

- “A EJA é uma modalidade de ensino onde a aprendizagem parte do interesse do aluno, valorizando experiências adquiridas ao longo de sua existência”.

- “... é uma modalidade de educação extremamente desafiadora”.

Agora, algumas falas dos professores que estão na EJA sem terem optado:

- “Na verdade não optei por trabalhar na EJA. Já trabalhava no noturno nesta escola quando passou a ser EJA e juntamente com os outros professores tivemos que nos adaptar.”

- “Trabalho na EJA porque faltavam professores na escola e precisei completar a carga horária”.

- “Na verdade comecei a trabalhar na EJA, não por opção, mas por necessidade da escola na qual trabalho”.

Já no que diz respeito à segunda pergunta feita, sobre como o professor pensa que deve ser construído o currículo na e para a EJA, a maioria dos professores concordam que o currículo deve atender as necessidades do aluno e deve também valorizar o conhecimento prévio do mesmo. Destacam-se alguns trechos das respostas que mais me chamaram a atenção, são eles:

- “O currículo precisa atender as necessidades desta clientela, procurando conhecer suas histórias de vida”.

- “... o currículo deve ser construído através das realidades vivenciadas na comunidade onde a escola está inserida”.

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- “O currículo deve ser comparado à realidade do aluno. Há necessidade de atividades práticas onde o aluno possa ser um agente transformador. Participativo”.

- “... a construção de um currículo deve partir de uma pesquisa que mostre o interesse do jovem e do adulto. Deve contemplar a realidade, a leitura de mundo deste estudante. Deve buscar formar cidadãos conscientes para que atuem na sociedade de maneira justa e fraterna”.

Quanto à minoria, destacam-se duas falas:

- “Construir o currículo dentro da realidade do educando é muito complicado, pois a EJA comporta todo tipo de aluno. Até porque falta material de apoio para esse tipo de educação, pois os livros didáticos são feitos para crianças em idade escolar correta”.

- “O currículo na EJA deve ter como meta única facilitar o acesso ao trabalho”.

Como podemos perceber a maioria dos professores entende, ao menos na teoria, a importância da pesquisa para a elaboração do currículo, pois este deve compreender a realidade do aluno e valorizar os saberes já construídos pelos mesmos ao longo da vida. Entendem também que o currículo não se trata apenas de uma lista de conteúdos, mas sim de saberes necessários para a formação de sujeitos críticos e capazes de intervir de forma positiva em sua comunidade. Concordando com a maioria dos professores entrevistados quanto à construção do currículo, o Documento Base do PROEJA nos diz que “...permite-se que o aluno se aproprie de informações, desenvolva habilidades e posturas que lhe possibilitem melhor qualidade de vida e inserção positiva na sociedade”. (MEC, 2007, p. 35)

Já nas perguntas feitas aos alunos, cujas idades variam entre 18 e 50 anos, as respostas foram bem semelhantes entre si. Quando questionados sobre que conhecimentos eles vieram buscar na escola, destacam-se as seguintes falas:

- “Eu busco na escola um aprendizado melhor para ter uma educação melhor e ter bastante estudo para ter um emprego melhor, para ser alguém na vida”.

- “... quero ter conhecimento para ter um emprego melhor”.

- “Quero aprimorar meus estudos e buscar uma colocação melhor no mercado de trabalho”.

Gadotti posiciona-se, sobre a questão dos jovens e adultos retornarem a escola, diz que “os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego etc.) que estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego, os

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baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização dos jovens e dos adultos” [e como foi demonstrado nas respostas acima, uma das formas encontradas por estes alunos para superarem suas condições precárias de vida, é através do retorno a escola]. (Gadotti, 2007, p. 31)

Na segunda pergunta feita, sobre se os conteúdos trabalhados na escola têm alguma relação com suas realidades, todos os alunos entrevistados responderam que os conteúdos estudados têm relação com sua realidade e completaram:

- “Como sou pedreiro, a matemática tem relação com meu trabalho”.

- “Os conteúdos aprimoram minha escrita e melhoram meu relacionamento com colegas e amigos”.

- “Os conteúdos de Ciências têm relação com minha realidade, pois o conteúdo fala sobre higiene nas vilas, cidades, pois fala sobre a poluição, o desmatamento e isso é a realidade que todos nós estamos vivendo”.

Outra questão para pensar e para um próximo estudo, mesmo que os alunos tenham respondido que os conteúdos trabalhados na escola têm relação com sua realidade é: Por que a evasão é tão alta nesta escola? Esta evasão tem relação com o currículo ou com a avaliação praticados?

A pesquisa para elaboração dos planos de estudo da escola em questão, nunca foi um instrumento de grande valor, ao menos até este ano, onde a supervisora da EJA é pós-graduanda na área, pois nos raros anos em que foi aplicada, não foi feita análise e muito menos reflexão sobre a mesma. A pesquisa simplesmente era aplicada e engavetada, ou era analisada por uma professora e a supervisora, sendo que os resultados nunca chegaram até os demais professores, isto é, sua aplicabilidade foi anulada.

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (Freire, 1996, p. 29)

Outro ponto importante a ser repensado e espera-se que (des) construído nas escolas em geral, é o comodismo e pouca vontade de mudar, de transformar, de boa parte dos professores. Pois nos poucos anos que estou

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lecionando, tornou-se visível um triste fato, o de que os professores sempre se sentiram injustiçados e até mesmo agredidos nos anos em que a Proposta Político Pedagógica e com ela os Planos de Estudos vinham prontos, seja da Secretaria Estadual ou Municipal de Educação. Mas hoje, quando têm toda a liberdade de elaborar estes documentos conforme a realidade e necessidade da comunidade a qual a escola pertence, sentem-se igualmente injustiçados e agredidos com tamanho trabalho. Quando se faz referência aos professores, não se pretende generalizar, mas falar de boa parte deles, que muitas vezes na teoria são mestres, mas na prática deixam a desejar.

A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo. (Freire, 1996, p. 22)

É exatamente neste sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. (Freire, 1996, p. 26)

Concordo novamente com Paulo Freire quando ele cita que “minha posição tem de ser a de respeito à pessoa que queira mudar ou recuse mudar. Não posso negar-lhe ou esconder-lhe minha postura, mas não posso desconhecer o seu direito de rejeitá-la”. (Freire, 1996, p. 70)

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3 CONCLUSÃO

Após leituras, reflexões, pesquisas e muita discussão, observa-se que mesmo o currículo não sendo um assunto novo, ele ainda será estudado e espera-se que modificado por muitos autores e educadores.

Para que o currículo torne-se a cara da escola e praticado pela mesma, é necessário que todos os segmentos da escola aprendam a ouvir. Para que aprendamos a ouvir uns aos outros, torna-se igualmente necessária uma árdua tarefa, a de sermos humildes. Mestres como Paulo Freire e Álvaro Pinto, já traziam a tona conceitos como humildade e o educador como sabedor-ignorante, que a meu ver são sinônimos.

A reciprocidade na educação resolveria várias questões relativas ao currículo. Quando utiliza-se reciprocidade, faz-se referência a ensinar e aprender por parte de todos os segmentos que constituem e se constituem na escola.

Tal pesquisa e estudo não objetivaram mostrar que somente o educador está agindo de forma errada, pois alguns aspectos que não competem somente aos mesmos modificar, em relação à EJA devem ser levados em consideração, como a falta de material didático apropriado. Material didático que não infantilize o jovem e o adulto, que não tragam uma concepção ingênua sobre os mesmos, isto é, que não os trate como ignorantes.

Por outro lado, o estudo deixa claro a necessidade de haver coerência entre todos os segmentos da escola, não só da escola estudada, mas da instituição escola, permitindo-me aqui generalizar. Coerência que nada mais é do que teoria e prática caminharem juntas, é imprescindível que exista nexo entre o que digo o que escrevo e o que faço. O que digo aos alunos, o que escrevo na Proposta Político Pedagógica e o que faço na sala de aula e espaço escolar como um todo.

Fica claro também, a necessidade da pesquisa tornar-se uma inseparável aliada a educação, pois só a partir dela a escola conseguirá buscar as raízes de seus alunos e por meio desta busca, entender a comunidade da qual a escola faz parte. Para que possa construir em conjunto um significativo currículo.

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Outro aspecto que ficou óbvio é a falta de professores qualificados para trabalharem nesta modalidade de ensino. Problema este que somente com mais interesse do governo e principalmente dos professores será sanado. O currículo deve ser visto com mais seriedade nas escolas, visto que ele interfere e participa da formação dos sujeitos. Os diferentes olhares sobre o currículo na escola, não devem ser eliminados, mas debatidos e uma (des) construção faz-se necessária.

Para concluir acredito que devemos pensar o currículo da seguinte forma: O currículo é lugar, é espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (Silva, 2007, p. 150)

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4 REFERÊNCIAS

BECKER, Fernando; MARQUES, Tânia. Ser professore é ser pesquisador. Porto Alegre: Mediação, 2007.

BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional de integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de educação de jovens e adultos- Documento base. Brasília: MEC, 2007.

BRASIL,Ministério da Educação. Lei de diretrizes e bases da educação. Brasília: MEC, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36ªed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José (Orgs.). Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e proposta. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.

PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

Referências

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