Alfenas-MG, 3 a 6 de Setembro de 2012
Universidade Federal de Alfenas-MG
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OS POSSÍVEIS IMPACTOS CAUSADOS PELAS MUDANÇAS DO
CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO NA COBERTURA VEGETAL:
EXEMPLO DE CASO NO MUNICÍPIO DE VARGINHA, MG.
LENNON MAZZEU DE OLIVEIRA¹ e FERNANDO SHINJI KAWAKUBO²
lennonoliveira@hotmail.com, fskgeo@gmail.com
¹ Discente do curso de Geografia – Unifal-MG ² Professor do curso de Geografia – Unifal-MG
Palavras-chave: impacto; mudança; código florestal
Introdução
A primeira conferência mundial para se tratar da questão ambiental foi realizada em 1972 em Estocolmo. Vinte anos depois ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92.
Evidentemente, antes de tais iniciativas já havia leis ambientais que impediam de certa forma a degradação dos recursos naturais. O primeiro código florestal no Brasil, decretado em 23 de Janeiro de 1934, classificou as florestas em quatro categorias; protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento, porém passou por modificações. Em 1965, então, chega-se a definição de APP, Área de Preservação Permanente, onde, de acordo com a resolução CONAMA 302 de 20/03/2002 estabeleceu que a APP tem a “função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”.
Outras modificações foram realizadas nos anos de 1989 (alteração da Lei nº 4.771/1965, aumentando o tamanho das APP’s ao longo dos cursos d’água), 1996 (nova redação ao art. 44 da Lei nº 4.771/65; amplia a área de Reserva Legal para 80% na região norte e centro-oeste do país), 1998 (lei nº 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente), 2000 (Medida Provisória nº 1.956-50), 2001 (Medida Provisória nº 2.166-65), 2002 (resoluções CONAMA 302 e 303, dispõem sobre parâmetros, definições e
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2 limites de APP), 2008 (Decreto 6.514, Art. 55. Multa em caso de deixar de averbar a RL) e finalmente em 2011 o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) propôs um novo código federal florestal que causou muita discussão entre as comunidades política, científica, acadêmica, ruralista e popular. O embate da nova proposta concerne principalmente em três pontos chave: a largura da mata ciliar, a dimensão das APP’s e anistia aos produtores rurais.
O novo código colocaria uma quantidade imensa de terras à mercê da expansão agrícola. Assim, segundo Metzger et al. (2010), as emissões de CO2 aumentariam substancialmente, além do risco de extinção de mais de 100.000 espécies. Esta expansão agrícola sobre as áreas de preservação, de acordo com Sparovek et al. (2010), é desnecessária, já que a agricultura pode se desenvolver nas terras onde hoje se pratica a pecuária extensiva com ínfima lotação média de 1,1 cabeças por hectare. Com isto, a pecuária se intensificaria, demandando menos área, aumentando a qualidade do produto e contribuindo, ainda, para uma equalização nos preços da carne.
Diante do que foi dito, o geoprocessamento vem como uma importante ferramenta. Os avanços crescentes dos sistemas computacionais e o barateamento de hardwares e softwares destinados ao mapeamento e análise espacial são cada vez maiores, e com isso o sensoriamento remoto está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e no mercado de trabalho. “São bastante significativos o número e a variedade de satélites orbitando e imageando a Terra, disponibilizando imagens de diversas resoluções, em atendimento a diferentes aplicações.” (Barros, et al).
Quando se pretende efetuar um monitoramento ou análise acerca de objetos ou eventos do setor ambiental tais como o desmatamento, é imprescindível o uso de sensoriamento remoto, pois este permite obter informações sinóticas do ambiente com periodicidade. O Brasil tem grande tradição em estudos deste tipo. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) conta com importantes programas de monitoramento da terra como o PRODES, DETER e DEGRAD. O PRODES, por exemplo, realiza as estimativas anuais de desflorestamento de corte raso na Amazônia Legal identificando as cicatrizes maiores que 6 hectares.
As informações geradas por meio do sensoriamento remoto são normalmente integradas com outras informações espaciais dentro de um sistema computacional SIG (Sistema de Informação Geográfica). Através dele é possível gerenciar uma
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3 enorme quantidade de informação, gerar produtos derivados de combinações algébricas de mapas e entre mapas, além de realizar simulações.
Objetivos
Delimitar as áreas de APP no município de Varginha, MG, com intuito de averiguar a situação atual delas com relação à legislação ambiental vigente, e posteriormente efetuar uma simulação de como ficarão delimitadas as mesmas áreas seguindo a nova proposta de código florestal.
Este trabalho é importante para dimensionar com exemplo de casos os possíveis impactos causados pela mudança no código florestal.
Fundamentação Teórica e Metodologia
O ensaio será dividido assim como ilustrado na figura a seguir.
Figura 1. Fluxograma das etapas do projeto.
Base cartográfica:
-Carta topográfica na escala 1: 50 000 do IBGE referente a folha Varginha.
-Imagens do satélite CBERS-2B bandas CCD com 20 metros de resolução no terreno. -Software de processamento de imagens ILWIS do ITC da Holanda.
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4 Digitalização:
Haverá a possibilidade de uma análise combinada dos dados oferecendo uma melhor interpretação da distribuição dos elementos do território.
Modelagem Digital do Terreno:
O MDT consiste numa representação continua do terreno. Este será adquirido através das curvas de nível da carta topográfica e um interpolador linear. O processo de interpolação consiste em estimar os valores de áreas não contempladas pela amostragem (no caso, curvas de nível) utilizando uma função matemática bivariada. Com ele será possível gerar produtos como cartas hipsométricas, clinográficas (declividade), de orientação das vertentes e os modelos sombreado e 3D do terreno.
APP (terrenos):
As APP’s referentes à distância dos rios, córregos e corpos d’agua serão delimitadas por meio da técnica de buffer. Com isso, serão destacadas também as áreas de floresta situadas em ambientes frágeis, tais como topos de morros, de acordo com o Art. 2° do Código Florestal vigente.
Processamento digital de imagens:
As imagens serão corrigidas geometricamente utilizando pontos de controle identificados na imagem. Em seguida, será aplicada técnica de realce como forma de melhorar a visualização. Composições coloridas com filtros RGB (de Red, Green e Blue) serão elaboradas utilizando diferentes arranjos de bandas e filtros. O objetivo desta etapa consiste em testar as composições coloridas como forma de discriminar visualmente os diferentes tipos de uso e cobertura vegetal preservada. O mapa será confeccionado por meio de técnicas de interpretação visual, ou seja, os limites de cada classe serão digitalizados em tela. Em seguida, as classes delimitadas serão poligonizadas a fim de obter o cálculo de área.
Integração do MDT com Imagens de Satélite:
Serão gerados modelos 3D da área de estudo. Vários ângulos de visada serão testados como forma de se encontrar as melhores visualizações. A técnica denominada de Drape também será explorada para integrar as informações
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5 registradas na imagem de satélite com o modelado do terreno. O Drape consiste em gerar o modelo 3D em um “aramado”, definir o melhor ângulo de visada e posteriormente sobrepor a imagem ao modelo aramado. O resultado é a imagem de satélite em 3D, podendo ainda ser sobreposto sob uma carta topográfica dando ainda mais detalhes ao resultado final.
Simulação:
Finalmente, será efetuada uma simulação das áreas de APP utilizando as novas demarcações previstas na proposta do novo código florestal.
Resultados Esperados
Com o projeto espera-se evidenciar os prováveis impactos ambientais que decorrerão com a mudança do código florestal e suas dimensões.
Referências Bibliográficas
BARROS, R. S. de, et al. Geração de Mosaico e Blocos Diagramas através do uso
de imagens CBERS e DEM SRTM – Estudo de caso na Bacia da Baía de
Guanabara, RJ. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, disponível em: http://www.obt.inpe.br/cbers/cbers_XIISBSR/475_Mosaico_CBERS2b.pdf, acessado em 04 de Agosto 2011.
METZGER, J. P., et al. Brazilian Law: Full Speed in Reverse? Science, AAAS, vol. 329, p. 276-277, 16 de Julho de 2010.
MORATO, R. G..; KAWAKUBO, F. S.; MACHADO, R. P. P. Sistema de Informação
Geográfica: teoria e prática na Geografia com software livre. 2011. Disponível em: www.praticandogeografia.com.br, acessado em 11 de Abril 2012.
SPAROVEK et al., Considerações sobre o Código Florestal brasileiro (“Luiz de Queiroz” College of Agriculture, University of São Paulo, Piracicaba, Brazil, 2010); Disponível em: http://eco.ib.usp.br/lepac/codigo_florestal/Sparovek_etal_2010.pdf, acessado em 05 de Abril 2012.