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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL

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0000280-37.2012.8.19.0004 - JJR Página 1

APELAÇÃO N° 0000280-37.2012.8.19.0004

Apelante: UNIMED-RIO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO DO RIO DE JANEIRO

Apelada: ALICE RABELLO BRANDÃO

Origem: Juízo de Direito da 10ª Vara Cível da Comarca de Niterói/RJ

APELAÇÃO – AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER c/c

INDENIZATÓRIA. Plano de saúde. Portabilidade do serviço

subscrito pela autora aceita pela ré UNIMED-RIO. Negativa em

proceder a parto a ser realizado por operação cesariana, sob o

fundamento de que não houve o cumprimento do prazo de

carência previsto no contrato firmado entre as partes.

Descabimento da alegação. Comprovação do cumprimento do

prazo mínimo exigido pela ANS para o exercício da

portabilidade, o que implica na dispensa de cumprimento de

novo prazo de carência. Cobertura obrigatória. Recusa

injustificada. Dano moral caracterizado pela quebra da

confiança depositada pela consumidora. Hipótese que

ultrapassa o mero aborrecimento ou inadimplemento

contratual. Conduta dolosa. Valor indenizatório arbitrado em

R$10.000,00(dez mil reais), que se mostra necessário e

suficiente para reprovação e prevenção do dano moral e para

preservação da boa relação de consumo. Acerto da sentença.

RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO COM FUNDAMENTO

NO ARTIGO 557, CAPUT, DO CPC.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de ação de obrigação de fazer cumulada com pretensão indenizatória na qual a autora se insurge contra a recusa da parte ré em autorizar e arcar com as despesas de parto a ser realizado por operação cesariana, a despeito da correspondente prescrição médica. Ela alega que mesmo após ter aprovado e realizado a portabilidade quanto à prestação do serviço (originalmente a autora era cliente da UNIMED SÃO GONÇALO/NITERÓI) a UNIMED RIO, indevidamente, fundamentou sua negativa na alegação de não cumprimento, pela autora, do prazo mínimo de carência previsto na contratação.

Lastreada nessa narrativa, ela pleiteia a condenação da parte ré a autorizar e arcar com as despesas médicas relativas ao procedimento acima destacado, além do pagamento de compensação pelos danos morais suportados.

A ré UNIMED-RIO apresentou contestação (pasta 00038, do indicador eletrônico) reconhecendo a negativa na autorização para a realização do procedimento cirúrgico, mas defendendo a licitude de sua conduta, eis que fundada em cláusula contratual expressa que estabelece o limite mínimo de carência (no caso descumprido) para a realização do procedimento pretendido, e da qual teve plena ciência a requerente no

CLAUDIO LUIS BRAGA DELL ORTO:000014566

Assinado em 23/03/2014 17:38:16

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0000280-37.2012.8.19.0004 - JJR Página 2 momento da contratação, razão pela qual descabida a alegação de falha na prestação do serviço, inexistindo dano moral a ser indenizado. Por tais razões, pugnou pelo julgamento da lide com o reconhecimento da improcedência dos pedidos formulados.

Regularmente citada, a ré UNIMED SÃO GONÇALO/NITERÓI apresentou contestação (pasta 00099, do indicador eletrônico) suscitando preliminar de ilegitimidade passiva ad causam e, no mérito, sustentando que não pode ser responsabilizada pelos fatos narrados na inicial, uma vez que aceitou o pedido de portabilidade formulado pela autora e efetuou a migração do plano de titularidade da mesma para a UNIMED RIO, sendo esta a operadora responsável pelo gerenciamento dos serviços de saúde prestados à consumidora. Por tais razões, pugnou pelo julgamento da lide com o acolhimento da preliminar suscitada ou, caso ultrapassada a mesma, com o reconhecimento da improcedência dos pedidos formulados.

A sentença (pasta 00259, do indicador eletrônico) julgou procedentes os pedidos formulados, condenando a operadora de saúde (UNIMED RIO) a arcar com as despesas relativas ao procedimento cirúrgico (autorizado pela ré, em cumprimento à decisão que antecipou os efeitos da tutela jurisdicional – pasta 00033, do index), além de indenizar os danos morais suportados no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), acrescidos de correção monetária, a contar da prolação da sentença e juros contados da citação. A ré foi ainda condenada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor total da condenação.

O juízo monocrático também acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva suscitada pela ré UNIMED SÃO GONÇALO/NITERÓI, julgando extinto o processo, em relação à essa pessoa jurídica, com fulcro no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil.

A UNIMED RIO interpôs recurso de apelação (pasta 00264, do index eletrônico), insistindo nos mesmos argumentos já deduzidos na tese de defesa e pugnando pela reforma integral do julgado com o reconhecimento da improcedência dos pedidos formulados.

As contrarrazões (pasta 00298, do index) prestigiam a sentença. É o relatório. Passo a decidir.

Não assiste razão à recorrente.

Compulsando o feito, nota-se que restou incontroversa a realização da portabilidade do plano subscrito pela recorrida junto à UNIMED SÃO GONÇALO/NITERÓI para a UNIMED RIO.

Logo, não procede a irresignação da recorrente quanto à obrigação de manter o plano de saúde contratado pela consumidora com respeito aos seus valores e condições originais, não há havendo como acolher a pretensão recursal.

Afinal, nunca é demais frisar que a recorrente, ao aceitar a portabilidade do plano da consumidora, absorveu em sua integralidade o

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0000280-37.2012.8.19.0004 - JJR Página 3 bônus e o ônus, em decorrência da sua condição de sucessora, sendo vedada, portanto, qualquer modificação unilateral do contrato a que aderiu inicialmente a autora.

Além do mais, restou sobejamente demonstrada nos autos a comprovação do cumprimento do prazo mínimo exigido pela ANS para o exercício da portabilidade, o que implica na dispensa de cumprimento de novo prazo de carência, como corretamente destacou o órgão a quo, in verbis:

“Esse fato está provado pela mera comparação de datas: se a portabilidade ocorreu no mês de julho/2011 e a Autora foi submetida a parto Cesáreo, a termo, em 4 de janeiro de 2012, quando foi feita a portabilidade ela já estava grávida de três meses.

Ora, como uma das Rês informa, a partir da RN 186 e a IN nº 19 da ANS, os usuários de planos de saúde ficam dispensados do cumprimento de novos períodos de carência e de cobertura parcial temporária, desde que já tenham sido cumpridos na operadora de origem.

A Autora estava associada à Unimed de São Gonçalo desde o ano de 2006, ou seja, há cinco anos, ultrapassado o prazo mínimo de 2 anos na operadora de origem, exigido pela ANS para o exercício da portabilidade, sem carência, além de estar em dia com as parcelas mensais (fls. 24).

Assim, inexistia razão contratual para a negativa da Ré Unirned-Rio.”

Consagrando tal entendimento, cumpre-se transcrever alguns exemplos da esmagadora maioria de julgados proferidos por este Tribunal, a saber:

“Apelação cível. Direito do consumidor. Rito ordinário. Plano de saúde. Carência. Parto. Injustificada recusa da cobertura. Abusividade. Interpretação sistemática do CDC. Solidariedade entre fornecedores. Compensação por dano material e moral configurado. Sentença de improcedência que merece reforma. Provimento ao recurso na forma do art. 557, § 1°A, do CPC.” (Apelação nº 0031009-89.2011.8.19.0001 – Des. Marcelo Anátocles - Vigésima Terceira Câmara Cível. Julgamento: 27/02/2014)

“Apelação. Direito do Consumidor. Plano de Saúde. Parto cesariana. Período de carência. Recusa da operadora. Cirurgia de alto risco para a Autora e para o nascituro. Caráter emergencial do procedimento. Comprovação documental. Constatação de urgência ou emergência. Obrigatoriedade da cobertura, ultrapassadas as 24 horas iniciais do prazo de carência. Proteção à vida e à saúde da gestante e do feto. Prevalência sobre o vil metal. Negativa de autorização que se mostra indevida. Dano moral caracterizado. Sentença de procedência parcial do pedido. Obrigação de fazer antecipada convertida em definitiva. Quantum indenizatório arbitrado em R$ 5.000,00. Observância dos parâmetros jurisprudenciais e princípios da proporcionalidade e razoabilidade. Precedentes jurisprudenciais. Negado seguimento ao recurso, a teor do art. 557, caput do CPC.” (Apelação nº

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0000280-37.2012.8.19.0004 - JJR Página 4 0345792-13.2011.8.19.0001 – Des. Joaquim Domingos de Almeida Neto - Vigésima Quarta Câmara Cível. Julgamento: 05/02/2014)

A recorrente, em sua defesa, restringe-se a afirmar que não autorizou a realização da cirurgia por entender que não tinham sido cumpridos os prazos de carência estabelecidos na lei e no contrato firmado entre as partes.

Contudo, como acima já destacado, era imprescindível a realização da operação cesariana, tendo em vista o estado de saúde da paciente e a recomendação médica.

Diante de tal contexto, a interpretação dada pela recorrente à cláusula exonerativa da qual se valeu para negar suporte ao atendimento necessitado pela autora se mostra abusiva, não servindo, portanto, de base para a negativa, seja de internação, seja de realização do procedimento cirúrgico.

Dessa forma, não seria razoável submeter-se a apelada à espera de 300 (trezentos) dias prevista na cláusula de carência do contrato de prestação de serviços, seja pelo cumprimento anterior do prazo, seja pelo evidente risco de lesão irreparável não só à integridade física da recorrida, mas do próprio nascituro.

Ante tais considerações, não se pode admitir a arbitrária recusa da apelante em autorizar a realização da cirurgia daquela que é beneficiária, sob o frágil argumento de que não havia sido cumprido o prazo de carência contratual, ciente da efetivação da portabilidade e do cumprimento dos requisitos legais para tanto.

Tampouco merece reforma a sentença, no que tange ao reconhecimento da configuração de lesão a direito imaterial, uma vez que a indevida negativa de autorização de realização do procedimento configura ato ilícito passível de indenização, nem no que se refere à fixação do quantum indenizatório.

De acordo com o caráter punitivo-pedagógico do dano moral, cabe o pagamento de indenização por parte da ré, pois entendimento diverso redundaria em novos e indesejados desrespeitos com os pacientes. Ademais, a autora viu-se obrigada a recorrer ao Poder Judiciário para compensar seu sofrimento. Isso, por certo, não pode ser considerado como mero dissabor ou simples aborrecimento.

Em relação ao valor da indenização, quando se trata de dano moral, orienta também, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça que o Magistrado atue com ponderação, vez que não há critérios fixos para a quantificação dos referidos danos no Direito Brasileiro.

“... não havendo critérios determinados e fixos para a quantificação do dano moral, sendo, portanto, recomendável que o arbitramento seja feito com moderação e atendendo às peculiaridades do caso concreto.” (in RESP 435119; Relator Min.Sálvio de Figueiredo Teixeira; DJ 29/10/2002).

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0000280-37.2012.8.19.0004 - JJR Página 5 A fixação do quantum debeatur, conforme a orientação supracitada, deve se dar de forma que o valor arbitrado seja suficiente para reparar o dano sofrido, sem jamais se constituir em fonte de lucro indevido para aquele que sofreu a ofensa.

À luz dos Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade, e levando-se em consideração as características do caso concreto, sobretudo em atenção à inegável reprovabilidade da conduta da ré, sem deixar de considerar, ainda, o caráter punitivo e a natureza preventiva da indenização, confirma-se o valor arbitrado em primeiro grau em R$ 10.000,00 (dez mil reais), cabendo ainda ressaltar que a atitude da ré, ora apelante, colocou em risco não só a saúde da apelada, mas também do nascituro.

A bem lançada sentença se fundamentou, como já se demonstrou acima, na análise de todas as provas produzidas nos autos, não merecendo qualquer reparo.

Por estas razões, e com base no artigo 557, caput, do CPC, nego seguimento ao recurso, mantendo a sentença por seus próprios fundamentos.

Rio de Janeiro, 21 de março de 2014. CLÁUDIO DELL´ORTO

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