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Os acordos de cooperação técnica entre Brasil e Alemanha a partir da década de 60

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Academic year: 2021

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ANA JÚLIA BIESDORF THIESEN

OS ACORDOS DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE BRASIL E ALEMANHA A PARTIR DA DÉCADA DE 60: OS ESFORÇOS PARA A PROMOÇÃO DE AÇÕES DE

INTERCÂMBIO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Florianópolis 2010

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OS ACORDOS DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE BRASIL E ALEMANHA A PARTIR DA DÉCADA DE 60: OS ESFORÇOS PARA A PROMOÇÃO DE AÇÕES DE

INTERCÂMBIO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Orientadora: Prof. Beatrice Maria Zanellato Fonseca Mayer, Msc.

Florianópolis 2010

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

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OS ACORDOS DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE BRASIL E ALEMANHA A PARTIR DA DÉCADA DE 60: OS ESFORÇOS PARA A PROMOÇÃO DE AÇÕES DE

INTERCÂMBIO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

___________________,_______de _____________de 20____. Local dia mês ano

____________________________________

Prof. e orientadora Beatrice Maria Zanellato Fonseca Mayer, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________ Prof. Francine Barcellos Régis, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________ Prof. Marcelo José Cavalcanti, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

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Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional ao longo de toda esta jornada.

(5)

Agradeço à Universidade do Sul de Santa Catarina e à minha orientadora, Professora Beatrice Maria Zanellato Fonseca Mayer, pelo apoio e dedicação ao longo da realização deste trabalho.

Aos demais professores do Curso de Relações Internacionais, pelos ensinamentos e lições que prepararam meu caminho para a vida profissional.

Ao Professor Gustavo Daniel Donatelli e ao Doutor Maurício de Campos Porath, do Centro de Metrologia e Instrumentação da Fundação CERTI, pelas entrevistas concedidas e pela atenção dispensada.

Aos meus colegas, pelas alegrias e amizades construídas durante todo este percurso.

E, em especial, à minha família, pelos conselhos e valores transmitidos, que me guiam e me iluminam na construção da minha vida.

(6)
(7)

O presente trabalho tem por objetivo analisar os Acordos de cooperação técnica firmados entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal da Alemanha, a partir de 1964. A metodologia utilizada na elaboração deste trabalho aborda o tipo de estudo exploratório, com a pesquisa descritiva e abordagem predominantemente qualitativa. Em relação à coleta de dados, os instrumentos utilizados abrangem a pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e a observação direta, na forma de entrevistas realizadas no âmbito da Fundação CERTI. Desde a década de 60, diversos Acordos de cooperação foram celebrados entre os Governos brasileiro e alemão, possibilitando a construção de parcerias entre instituições de ambos os países e a realização de programas e projetos que beneficiaram múltiplos setores da sociedade. As ações de cooperação científica e tecnológica se destacam no âmbito da relação Alemanha, em especial devido à comemoração do “Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação 2010/2011”, que busca intensificar as parcerias técnico-científicas, através da inovação e do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, a Fundação CERTI, localizada na cidade de Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, apresenta um papel fundamental no desenvolvimento de projetos conjuntos entre os países, promovendo a transferência de conhecimento e tecnologia, e construindo soluções, na forma de produtos, processos e serviços técnicos, às empresas catarinenses.

Palavras-chave: Cooperação internacional. Acordos de cooperação Brasil-Alemanha. Cooperação científico-tecnológica.

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This study aims to examine the technical cooperation Agreements signed between the Government of the Federative Republic of Brazil and the Government of the Federal Republic of Germany, since 1964. The methodology used in preparing this work concerns the type of exploratory study, with descriptive and largely qualitative approach. In relation to data collection, the instruments used include documentary research, bibliography research and direct observation in the form of interviews in CERTI Foundation. Since the 60’s decade, several cooperation Agreements were concluded between the Governments of Brazil and Germany, enabling the building of partnerships between institutions of both countries, and the achievement of programs and projects that have benefited many sectors of society. The actions of scientific and technological cooperation are stressed in the context of the Brazil-Germany relation, particularly due to the celebration of the “Brazilian-German Year of Science, Technology and Innovation 2010/2011”, which seeks to strengthen the technical and scientific partnerships, through innovation and sustainable development. In this sense, the CERTI Foundation, located in the city of Florianópolis, in the Santa Catarina State, has a key role in the development of joint projects between the countries, promoting the transfer of knowledge and technology, and building solutions in the form of products, processes and technical services to companies in Santa Catarina.

Key words: International cooperation. Brazil-Germany cooperation agreements. Scientific-technological cooperation.

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ABC - Agência Brasileira de Cooperação

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial AHK - Deutsch-Brasilianische Auslandshandelskammer ATTO - Amazônia Tall Tower Observatory

BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CELTA - Centro de Laboração de Tecnologias Avançadas

CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina CERTI - Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras

CIENCIA - Centro Incubador de Empreendedores, Novos Conhecimentos e Idéias Avançadas CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DCT - Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica DFG - Deutsche Forschungsgemeinschaft

DFID - Department for International Development DWIH - Deutsches Wissenschafts und Innovationshaus FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos

FNUAP - Fundo de População das Nações Unidas

GTZ - Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit INWENT - Internationale Weiterbildung und Entwicklung JICA - Japan International Cooperation Agency

KfW - Entwicklungsbank Kreditanstalt für Wiederaufbau MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia

MIT - Massachusetts Institute of Technology MRE - Ministério das Relações Exteriores OIT - Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial da Saúde OMT - Organização Mundial do Turismo ONG - Organização Não-Governamental ONU - Organização das Nações Unidas

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PTB - Physikalisch-Technische Bundesanstalt

RWTH - Rheinisch-Westfaelische Technische Hochschule SELA - Sistema Econômico Latino-Americano

SUBIN - Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development UNESCO - United Nations Education, Science and Culture Organization UNICEF - United Nations International Children Emergency Fund WZL - Werkzeugmaschinenlabor

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1 INTRODUÇÃO ... 12 1.1 PROBLEMÁTICA ... 13 1.2 OBJETIVOS... 15 1.2.1 Objetivo geral... 15 1.2.2 Objetivos específicos... 15 1.3 JUSTIFICATIVA ... 16 1.4 METODOLOGIA... 17 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ... 20

2 O DIREITO INTERNACIONAL E A NATUREZA DOS ACORDOS ... 22

2.1 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO... 24

2.2 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO ... 25

2.2.1 Tratados... 26

2.2.1.1 Acordos... 29

3 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ... 33

3.1 CONCEITOS E FORMAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL... 34

3.1.1 A cooperação para o desenvolvimento... 37

3.1.2 A cooperação técnica ... 39

3.2 ESTRUTURAS REPRESENTATIVAS DE NEGOCIAÇÃO EM COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ... 42

3.2.1 Organismos de representação de cooperação bilateral Brasil-Alemanha... 44

4 A COOPERAÇÃO ENTRE O GOVERNO DO BRASIL E O GOVERNO DA ALEMANHA ... 47

4.1 OS ACORDOS E PROGRAMAS DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE O BRASIL E A ALEMANHA ... 51

4.2 A COLABORAÇÃO E A PARCERIA ENTRE AS NAÇÕES BRASILEIRA E ALEMÃ ... 54

4.3 OS REFLEXOS DA COOPERAÇÃO TÉCNICA EM SANTA CATARINA: A FUNDAÇÃO CERTI ... 58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66

REFERÊNCIAS ... 69

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CERTI ... 77 ANEXOS ... 79 ANEXO A - Atos em vigor assinados entre a República Federativa do Brasil e a

República Federal da Alemanha ... 80 ANEXO B - Fluxograma simplificado do ciclo de projetos de cooperação técnica... 94

(13)

1 INTRODUÇÃO

A relação Brasil-Alemanha está presente na agenda internacional brasileira desde a década de 60, com a assinatura do Acordo Básico de Cooperação Técnica e a visita ao Brasil do presidente da República Federal da Alemanha, Heinrich Lübke, em 1963.

A partir desta data, diversos projetos e acordos foram firmados entre as nações, assim como programas de intercâmbio e de capacitação, promovendo o desenvolvimento mútuo e a cooperação bilateral.

Ao longo de mais de quarenta anos, tais projetos e programas beneficiaram praticamente todas as macrorregiões brasileiras, além de abranger os mais diversos setores, como a agricultura, saúde, educação, geologia, extração mineral, assim como a micro, pequena e média indústria nacional. Além disso, uma característica fundamental da cooperação ao longo dos anos foi a forma institucional com que os projetos foram realizados, através de parcerias das instituições brasileiras atuantes em cada setor.1

A cooperação entre Brasil e Alemanha promoveu um enfoque à questão de atendimento às necessidades básicas, com combate à pobreza, assim como ao meio ambiente e à sustentabilidade.

A pesquisa em ciência e tecnologia também se destaca na pauta internacional, sendo uma das áreas prioritárias da política externa alemã. No período de 2010/2011 celebra-se o “Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação”, cujo principal objetivo é divulgar a cooperação existente entre os países, assim como realizar intercâmbios de conhecimento e sistemas de inovação.2 Este intercâmbio tecnológico e científico favorece ambos os países, devido à transferência de conhecimento e know-how entre especialistas e profissionais de diversos setores, com objetivos comuns.

Apesar de ser um país em desenvolvimento, o Brasil aparentemente apresenta uma condição de igualdade no âmbito da cooperação científica, promovendo troca de informações e um excelente ambiente de pesquisa, demonstrando atrativos para os investimentos realizados no país.

1 BRASIL. Embaixada da República Federal da Alemanha. 40 anos de cooperação para o desenvolvimento

Brasil-Alemanha. Brasília: 2003.

2

BRASIL. Embaixada da República Federal da Alemanha em Brasília. Ano Brasil-Alemanha da Ciência,

(14)

Sendo assim, o tema deste Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais é a análise dos Acordos de Cooperação Técnica entre o Brasil e a Alemanha, com ênfase no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

1.1 PROBLEMÁTICA

Desde o início do século XXI, o Brasil é o principal parceiro comercial da Alemanha na América Latina. Em 2009, o volume das transações bilaterais alcançou cerca de US$ 15,9 bilhões3, demonstrando a importância do Brasil na pauta das relações internacionais alemãs. Com a presença de cerca de 1.200 empresas alemãs atuando diretamente no país, com um total de 250.000 empregados, calcula-se que tal impacto seja de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial brasileiro, onde os investimentos diretos alemães no Brasil, incluindo reinvestimentos, alcançam 25 bilhões de euros.4

As oportunidades visualizadas no Brasil pelo governo alemão estreitam ainda mais os laços entre estes dois países, cuja relação histórica envolve processos migratórios, investimentos e acordos ao longo do tempo. No ano de 2010, tais acordos de cooperação técnica internacional celebram 47 anos de existência, com destaque para as áreas de proteção ambiental e gerenciamento de recursos naturais; combate à pobreza; além de ciência e tecnologia.

Um destes acordos foi firmado na Ecogerma, um evento germano-brasileiro de produtos e tecnologias sustentáveis da América Latina, que ocorreu em março de 2009 em São Paulo. O documento, intitulado ATTO (Amazônia Tall Tower Observatory), compreende a intenção bilateral para a construção de cinco torres, sendo a maior com 300 metros de altura, com a finalidade de monitorar a relação entre o clima, a atmosfera e os ecossistemas da floresta amazônica. O valor dos custos de construção das torres e da manutenção do projeto será financiado tanto pelo governo brasileiro quanto alemão.5

3 ALEMANHA. Auswärtiges Amt. Beziehungen zwischen Brasilien und Deutschland. Disponível em:

<http://www.auswaertiges-amt.de/diplo/de/Laenderinformationen/Brasilien/Bilateral.html >. Acesso em: 11 mar. 2010.

4 Ibid.

5 RICCÓ, Luciana. Diplomacia: Ecogerma 2009. Revista Brasil-Alemanha. São Paulo, v. abril. 2009.

Disponível em: <http://www.ahk.org.br/extranet/revista/2004/mat_capa_abril_2009.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2010.

(15)

Outro projeto de cooperação em execução, no âmbito Brasil-Alemanha, é o programa PRORENDA (Programa de Viabilização de Espaços Econômicos para Populações de Baixa Renda), que promove o desenvolvimento social e econômico da população de baixa renda rural, constituída por pequenos agricultores, assim como da população urbana. Tal programa, que teve início no ano de 1987, mesmo ano de criação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores, foi um importante marco no processo de cooperação técnica internacional brasileira, que promove esforços para investir em parcerias com envolvimento de governos federais, estaduais e municipais, focando no desenvolvimento do país.6

Inicialmente, o programa PRORENDA foi implantado nos Estados do Rio Grande do Sul, Ceará, e Pernambuco. O número total de beneficiados neste programa, desde sua implantação, não é possível ser calculado, porém estima-se que inúmeras famílias e comunidades tenham sido influenciadas pelo programa, resultando na melhoria das condições de vida e na criação de oportunidades para pessoas de baixa renda.

No ano de 2010 e 2011, comemora-se também o “Ano Brasil-Alemanha da Ciência, Tecnologia e Inovação”, celebrado entre a Chanceler federal alemã Angela Merkel e o Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em 2009. Tal diálogo entre as duas nações reforça o Acordo-Quadro Brasil-Alemanha sobre Cooperação em Pesquisa Científica e Desenvolvimento Tecnológico, firmado em 1996.7 Esta parceria no âmbito tecnológico apresenta um papel fundamental na atual conjuntura brasileira, que reconhece a importância do progresso científico e tecnológico como forma de promover o desenvolvimento sustentável e o uso eficiente de recursos. O apoio à pesquisa, à transferência e à disseminação de tecnologias deve focar na construção de iniciativas conjuntas e de redes para cooperação em pesquisa em sustentabilidade científica, tecnológica e inovadora.

Desta forma, percebe-se a atuação dos governos brasileiros, ao longo das últimas quatro décadas, em fomentar e incentivar as parcerias e acordos de cooperação técnica bilateral entre Brasil e Alemanha, com destaque ao atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O maior desafio, portanto, é a continuidade destes programas e projetos nos futuros governos do Brasil, e a manutenção do interesse nas relações políticas e econômicas teuto-brasileiras.

6

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Atos Internacionais. Ajuste Complementar, por

troca de notas, ao Acordo de Cooperação Técnica, de 30/11/1963, sobre o Projeto Prorenda:

Desenvolvimento da pequena produção rural e implantação do centro de capacitação. Brasília: 1992. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/b_rfa_366_435.htm>. Acesso em: 12 mar. 2010.

7

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Ciência e Tecnologia. Ano da Ciência

(16)

Diante dos esforços de aproximação entre Brasil e Alemanha, os acordos firmados entre as nações também promovem e fortalecem parcerias no âmbito privado, neste caso, especialmente no contexto científico e tecnológico. Assim, questiona-se: como se traduzem em ações de intercâmbio científico e tecnológico no âmbito privado do Estado de Santa Catarina os Acordos de Cooperação Técnica estabelecidos entre Brasil e Alemanha?

1.2 OBJETIVOS

Para responder a problemática de pesquisa, o estudo está estruturado de forma seqüencial em objetivos, gerais e específicos.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a relação bilateral entre Brasil e Alemanha, através dos Programas e Acordos de Cooperação Técnica, que se traduzem em ações de intercâmbio científico e tecnológico no âmbito privado do Estado de Santa Catarina.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Descrever os Acordos de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha ao longo das últimas quatro décadas;

b) Verificar a atuação da política externa brasileira no cenário internacional, em especial do governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao fomentar o diálogo e promover a parceria técnica entre as nações brasileira e alemã.

c) Apontar as ações de cooperação científica e tecnológica estabelecidas entre o Estado de Santa Catarina e a Alemanha no âmbito privado, com enfoque na Fundação CERTI.

(17)

1.3 JUSTIFICATIVA

A análise da relação Brasil-Alemanha, por meio dos acordos de cooperação desenvolvidos a partir de 1964, é relevante no que diz respeito à formação acadêmica no âmbito das Relações Internacionais. A pesquisa e história das relações políticas e econômicas brasileiras no cenário internacional são fundamentais para a compreensão do posicionamento do Brasil na esfera global, e sua atuação perante outros Estados.

A base teórica adquirida ao longo do curso de Relações Internacionais serve como fundamento para o estudo prático da descrição e verificação das variáveis externas que influenciaram e influenciam a parceria entre o Brasil e a Alemanha, principalmente na área de ciência e tecnologia. O desenvolvimento do estudo apresenta relevância acadêmica no contexto econômico regional, nacional e internacional, ampliando as chances de inserção profissional neste ambiente.

A Universidade do Sul de Santa Catarina também se beneficia com um estudo que relaciona a política e a economia na esfera governamental, e avalia suas implicações para o desenvolvimento na área de ciência e tecnologia brasileiras. O presente estudo também possibilita a realização de consultas, por parte da sociedade, à pesquisa elaborada neste trabalho, atuando como ferramenta de propagação da ciência.

No âmbito político, a Alemanha desempenhou um papel de destaque no paradigma globalista brasileiro ao longo da história, ao encorajar a política externa independente que ampliou as relações externas do Brasil, principalmente no eixo Norte-Sul. 8

Ao buscar maior autonomia no cenário internacional, o Brasil assume uma posição de liderança na América do Sul, com o respaldo da diplomacia brasileira, que encontra na Alemanha um parceiro potencial e um importante ator de suas relações internacionais.

O impacto econômico da presença de empresas e investimentos alemães no Brasil, a partir dos anos 20, também contribui para a convergência de interesses entre as duas nações. A estrutura nacional dos primeiros meios de transporte aéreos, em 1927, teve a participação de capital alemão e brasileiro, como a fundação de filiais das empresas Lufthansa e Condor, além da Varig e Vasp. O intercâmbio comercial também pauta nas importações de produtos brasileiros, pois “o mercado sul-americano representava para a Alemanha fonte de suprimento de matérias-primas e de produtos agrícolas suplementar às importações provenientes dos

8

LOHBAUER, Christian. Brasil-Alemanha: fases de uma parceria (1964-1999). São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.

(18)

países do Leste Europeu.”9 Da mesma forma, o Brasil reconhecia na Alemanha uma alternativa européia para a crescente dependência econômica dos Estados Unidos, favorecendo o aumento do comércio entre o Brasil e a Alemanha.

A instalação de empresas como Mercedes-Benz e Volkswagen, através de incentivos do governo Vargas e do governo Kubitschek, promoveu o crescimento da indústria brasileira no setor, além de criar milhares de empregos. Posteriormente, a presença de outras empresas alemãs no país, como as fabricantes de cosméticos Wella e Nivea; a Siemens, do setor eletro-eletrônico; assim como a Bayer, do setor farmacêutico, entre outras, possibilitaram o desenvolvimento industrial e econômico do país, com investimentos diretos e utilização de mão-de-obra local.

Desta forma, a partir de 1964, com a entrada em vigor do Acordo Básico de Cooperação Técnica firmado entre Brasil e Alemanha, com o objetivo de promover e estimular o progresso técnico-científico entre as nações, além do desenvolvimento econômico e social, o Brasil e a Alemanha iniciam uma relação de cooperação bilateral.

Ao longo das últimas quatro décadas, o Brasil vivenciou períodos de aproximação e distanciamento em relação à Alemanha, determinados principalmente por fatores políticos e econômicos internos e externos de cada país. Apesar disso, a relação Brasil-Alemanha consolidou-se por meio dos esforços de ambas as nações em firmar parcerias e acordos, ao longo dos anos, resultando numa aliança presente e duradoura, que envolve não somente os Estados, mas também outros atores como fundações políticas, organizações não-governamentais, e instituições de diversos setores brasileiros.

Sendo assim, este trabalho justifica-se academicamente pela promoção à pesquisa e à ciência; economicamente, pela participação de empresas e organismos alemães no Brasil; e politicamente, pela atuação pró-ativa de ambas as nações, brasileira e alemã, em fomentar o diálogo visando o desenvolvimento e a cooperação bilateral.

1.4 METODOLOGIA

9 SOARES, Frederico Lamego de Teixeira. Análise econômica da parceria Brasil-Alemanha no contexto das

relações entre o Mercosul e a União Européia. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, vol. 43, n. 2, jul./dez. 2000.

(19)

A pesquisa pode ser entendida como uma indagação ou um exame minucioso na busca de fatos, de respostas para questões propostas, através da utilização de métodos científicos. Desta forma, considerando que a pesquisa é “um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”10, a caracterização da metodologia utilizada neste Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais aborda o tipo de estudo exploratório, como forma de abranger o conhecimento acerca das relações bilaterais Brasil-Alemanha, seus significados e contextos.

Os métodos de estudo são instrumentos fundamentais para a elaboração e desenvolvimento da investigação científica, pois embasam os procedimentos realizados a fim de se alcançar os objetivos e descobertas da pesquisa. Assim, o método de abordagem utilizado, ou seja, “o conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar determinado fim”11 caracteriza-se como dedutivo, visto que parte de uma concepção geral, de dados universais, para a construção de uma análise específica e detalhada.

A caracterização do tipo de pesquisa utilizada é tida como descritiva, pois descreve as características de determinadas variáveis, através de técnicas padronizadas de coletas de dados, visando a elaboração do estudo acerca dos Acordos de Cooperação Técnica firmados entre o Brasil e a Alemanha. A delimitação do campo e da dimensão do trabalho pode ser definida pelo corte temporal-espacial, presente nos estudos qualitativos. Assim, o presente trabalho limita-se ao período que compreende a década de 60 até o presente momento, ano de 2010, verificando as diferentes etapas da evolução da cooperação técnica entre o Brasil e a Alemanha.

O universo de pesquisa, como sendo o conjunto dos fatos e fenômenos que apresentam uma característica comum12, neste Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais, caracteriza-se nas relações bilaterais entre Brasil e Alemanha no atual governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já a população da pesquisa, de acordo com a autora Odília Fachin, representa os números obtidos, conforme a medição de certos atributos dos fenômenos e fatos que compõe o universo que se deseja estudar.13 Desta forma, a população

10

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 15.

11 GALLIANO, A. G. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. p. 6. 12

HEERDT, Mauri Luiz. Metodologia da pesquisa. 5. ed. rev. Palhoça: UnisulVirtual, 2007.

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da pesquisa classifica-se como os órgãos de representatividade dos governos brasileiro e alemão, em ambos os países.

Em relação à coleta de dados, três procedimentos foram abordados no Trabalho de Conclusão de Curso de Relações Internacionais, sendo estes a pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e observação direta. A pesquisa documental é realizada a partir de documentos com fontes primárias, ou seja, “dados históricos, bibliográficos e estatísticos; informações, pesquisas e material cartográfico; arquivos oficiais e particulares; e registros em geral.”14 Os documentos escritos utilizados constituem-se em editoriais, leis, atas, relatórios e ofícios, além de outros documentos oficiais como Acordos firmados entre os governos do Brasil e Alemanha nos últimos quarenta anos.

A pesquisa bibliográfica constitui como base para as demais pesquisas efetuadas, tendo como finalidade fundamental “conduzir o leitor a determinado assunto e proporcionar a produção, coleção, armazenamento, reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para o desempenho da pesquisa.”15 A técnica de coleta utilizada constituiu-se a partir de fontes secundárias, atuando como importante fonte de informação, a partir de livros relacionados ao tema de Acordos de Cooperação entre Brasil e Alemanha; enciclopédias gerais; periódicos científicos, disponíveis em fontes de papel e internet; teses e dissertações a respeito da parceria entre os governos brasileiro e alemão no âmbito da cooperação técnica; sites especializados dos governos de ambos os países; e anais e documentos específicos relacionados à cooperação Brasil-Alemanha ao longo das últimas quatro décadas.

Outro instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho é a observação direta, que atua como fonte de dados primários, tendo como forma de coleta a entrevista, caracterizada como “um elenco de questões que são apreciadas e submetidas a certo número de pessoas com o intuito de se obter respostas para a coleta de informações.”16

As entrevistas realizadas foram do tipo despadronizada ou não-estruturada, de modalidade focalizada, onde há a presença de tópicos relacionados ao tema estudado, porém não há a necessidade de uma estrutura formal, podendo-se explorar de forma ampla as questões relativas ao tema.17 As entrevistas foram realizadas no âmbito da Fundação CERTI, com o Diretor Executivo do Centro de Metrologia e Instrumentação, Professor e Doutor em

14 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed.

São Paulo: Atlas, 2003. p. 159.

15 FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 125. 16 Ibid., p. 147.

17 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de

pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

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Engenharia Mecânica Gustavo Daniel Donatelli; e com o metrologista pesquisador do Centro de Metrologia e Instrumentação, Doutor Maurício de Campos Porath.

A análise e interpretação dos dados obtidos constituem outro importante passo para a construção do Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais, visto que evidenciam “as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores.”18 A análise também auxilia o pesquisador na obtenção de respostas às suas indagações, estabelecendo as relações entre os dados obtidos e os problemas de pesquisa formulados, sendo assim comprovados ou refutados.

Diante disso, a abordagem de pesquisa utilizada é predominantemente qualitativa, visto que aborda significados e características situacionais, em contrapartida a produção de medidas quantitativas de comportamentos. Com base nas descrições e interpretações do material de pesquisa, a análise compreende a classificação e categorização dos dados, de forma a fornecer um sentido ao conjunto de dados coletados, relacionando-os aos objetivos propostos e ao tema do trabalho.

A análise descritiva também foi abordada ao elencar a relação dos Acordos de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha, pois estabelece “uma apreciação com juízos de valor sobre as relações entre as variáveis, tendo em vista o problema investigado e o marco teórico que serviu de referência.”19

Tais abordagens de análise e interpretação dos dados obtidos foram fundamentais para a elaboração das conclusões e relatório final do Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais, mantendo-se a objetividade e a expressão impessoal na inferência sobre os resultados da pesquisa elaborada.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso de Relações Internacionais está estruturado em 5 (cinco) capítulos: Introdução; o Direito Internacional e a natureza dos Acordos; a Cooperação Internacional; a Cooperação entre o Governo do Brasil e o Governo da Alemanha; e as Considerações Finais.

18 MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed.

São Paulo: Atlas, 2003. p. 167.

19

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e iniciação à pesquisa. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. p. 135.

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Na Introdução, o tema do Trabalho é abordado de forma inicial, apresentando-se um panorama geral da cooperação bilateral Brasil-Alemanha, representado pelos diversos Acordos e Programas firmados entre os governos. A problemática; a justificativa; os objetivos, gerais e específicos; assim como a metodologia e a estrutura utilizada no trabalho são itens integrantes deste primeiro capítulo.

No segundo capítulo, o Direito Internacional e a natureza dos Acordos, realiza-se, com base em diversos autores, uma descrição dos conceitos de Direito Internacional e suas ramificações: o Direito Internacional Privado e o Direito Internacional Público. Os conceitos de Tratados e Acordos também são revelados, como partes integrantes do Direito Internacional Público.

O terceiro capítulo, a Cooperação Internacional, é construído a partir das noções de cooperação internacional, verificadas ao longo de relatos históricos desde a antiguidade. Os conceitos e formas de cooperação internacional são abordados, assim como o seu detalhamento em Cooperação para o Desenvolvimento e Cooperação Técnica. Os órgãos internacionais relativos à cooperação entre países, assim como os organismos que representam a cooperação bilateral entre o Brasil e a Alemanha também são descritos ao longo deste capítulo.

No capítulo seguinte, a Cooperação entre o Governo do Brasil e o Governo da Alemanha, verifica-se, a partir da década de 1960, a atuação da política externa brasileira em relação ao tema da cooperação bilateral, com enfoque na parceria Brasil-Alemanha. Os Acordos e Programas de Cooperação Técnica entre Brasil e Alemanha, a partir de 1963, são relatados com maior profundidade, assim como as ações dos governos de ambos os países em promover a parceria e a colaboração internacional. Os reflexos da cooperação técnica Brasil-Alemanha em Santa Catarina também são verificados, com base nas parcerias firmadas entre a Fundação CERTI, localizada em Florianópolis, Santa Catarina, e instituições alemãs, nas áreas de ciência e tecnologia.

Por fim, nas Considerações Finais, é realizada uma análise da cooperação bilateral entre o Brasil e a Alemanha, destacando-se os benefícios advindos destas ações de aproximação política, econômica e social entre os países, assim como suas limitações e dificuldades.

(23)

2 O DIREITO INTERNACIONAL E A NATUREZA DOS ACORDOS

De acordo com o autor Valerio de Oliveira Mazzuoli, o direito internacional já era presente na Antiguidade, porém se aplicava somente às relações entre cidades próximas, de língua comum, mesma raça e com a mesma religião, sendo que além destes casos não havia uma concepção de direito internacional como conhecemos hoje, existente entre nações ou cidades estrangeiras, visto que não havia uma lei comum, ou mesmo reconhecimento de igualdade jurídica entre as raças e nações.

Na Roma antiga, os romanos utilizavam os conceitos de jus gentium e jus fetiale, sendo que o primeiro refere-se às normas do Direito romano relacionadas aos estrangeiros, e às suas relações com os romanos; enquanto que o segundo refere-se às relações com outras nações, de forma tanto religiosa quanto jurídica. Em ambos os casos, demonstram-se a presença da noção de direito internacional, ainda que distante dos conceitos concebidos atualmente.

Neste sentido, citando o autor Pedro Baptista Martins, “o direito internacional resultou de uma série de fatores religiosos, políticos, econômicos e sociais da Idade Média, notadamente a partir da expansão da moral universalista do cristianismo.”20 A partir do século XVII, principalmente após o Tratado de Westfália, de 1648, o direito internacional torna-se uma ciência autônoma, aproximando-se dos conceitos dos dias atuais. O Tratado de Westfália, que findou a Guerra dos Trinta Anos entre religiosos católicos e protestantes, possibilitou o surgimento do Estado moderno, que desde então configura-se como o mais importante ator do direito internacional.

Conforme Valerio de Oliveira Mazzuoli, “o direito internacional ou direito das

gentes, é definido como sendo aquele direito capaz de regular as relações interestatais. Ou

seja, um complexo de normas que regulam a conduta recíproca dos Estados, sujeitos de direito internacional.”21 Assim, o direito internacional, em sua concepção mais ampla, é caracterizado pelo conjunto de princípios que regem os direitos e as obrigações das nações entre si, na comunidade internacional.

20 MARTINS apud MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Tratados Internacionais. 2. ed. São Paulo: Ed. Juarez de

Oliveira, 2004. p. 3.

21

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Tratados Internacionais. 2. ed. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2004. p. 5.

(24)

De acordo com os autores Nguyen Quoc Dinh, Patrick Daillier e Alain Pellet, o direito internacional é tido “como o direito aplicável à sociedade internacional.”22 A sociedade internacional, neste caso, caracteriza-se como distinta da sociedade nacional ou interna, ou mesmo estatal, delimitando, ao mesmo tempo, os campos de aplicação do direito internacional e do direito interno.

Os autores caracterizam Grócio, ou Hugo de Groot, um poeta, filósofo e jurista holandês, que viveu de 1583 a 1645, como o “pai” do direito internacional, visto que ele constituiu de forma definitiva a Escola do Direito natural e das gentes. A partir de suas obras, Grócio e outros pensadores afins contribuíram para a formação e afirmação de um direito internacional interestatal, ao proporem,

Um quadro conceitual que permite levar a cabo a necessária unificação das regras fragmentárias nascidas da prática. Colocada na perspectiva histórica, esta sistematização representa, além disso, uma tentativa de substituição do poder universal, desaparecido com o fracasso do papado e do Sacro-Império, por uma espécie de superlegalidade universal que se impõe aos Estados e que é, na falta de uma unidade orgânica, suscetível de os unir.23

Atualmente, o direito internacional apresenta diversas ramificações como conseqüência de desvios ou complementos, com base nas preocupações que afetam a sociedade internacional, como o direito do mar, direito fluvial internacional, direito econômico internacional, entre outros. Ao mesmo tempo, os objetivos do direito internacional se diversificaram, tendo em vista a relativa pacificação da sociedade internacional contemporânea, observada pela busca dos Estados da paz, conciliada com a descolonização, a luta contra o racismo e o desarmamento, a proteção dos direitos humanos e ambientais, além das exigências de um desenvolvimento rápido, a fim de equilibrar a concorrência comercial internacional.

Assim, os conceitos tradicionais de Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público serão apresentados a seguir, como forma de compreender os princípios que regulam as relações entre os Estados e demais sujeitos do direito internacional.

22 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 37.

(25)

2.1 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Conforme os autores Nguyen Quoc Dinh, Patrick Daillier e Alain Pellet, o termo “Direito Internacional Privado” surgiu em 1843, na França, a partir da obra de Foelix, autor do primeiro Traité de Droit International Privé, sendo então a partir desta data que ocorre a distinção entre o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado.

Ainda conforme os autores, o Direito Internacional Privado “regula as relações entre particulares e pessoas morais privadas.”24 Estas relações são caracterizadas pelo elemento de extraneidade que decorre da diferença de nacionalidade entre os sujeitos das relações em questão, ou mesmo do lugar, fora do território nacional, onde estas relações são desenvolvidas.

De acordo com Beat Walter Rechsteiner, o Direito Internacional Privado refere-se às relações jurídicas de direito privado com conexão internacional, e busca a resolução de conflitos de leis no espaço vinculadas ao território de diferentes Estados soberanos.25 O Direito Internacional Privado indica o direito aplicável às causas com conexão internacional, que podem variar conforme a ordem jurídica do país em que se decide o conflito.

Neste sentido, o Direito Internacional Privado verifica o vínculo mais significativo para uma relação jurídica internacional, indicando o direito aplicável a esta, seja o direito doméstico ou determinado direito estrangeiro, não levando em consideração, a princípio, o seu conteúdo. Porém, os princípios básicos da ordem jurídica interna, assim como do direito internacional, baseados em tratados internacionais, no costume internacional, em princípios gerais de direito, além de outras fontes supranacionais, serão considerados pelo juiz, pois caso a aplicação de determinado direito estrangeiro violar princípios fundamentais do direito interno de um Estado, este não será aplicado.

A definição dos conceitos de Direito Internacional Público e Privado, em muitos sistemas jurídicos, são de difícil delimitação, visto que grande parte da doutrina e da jurisprudência, atualmente, não mais exclui o direito público da aplicação do direito estrangeiro, quando este é o aplicável, nas causas com conexão internacional. Desta forma, os

24 DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 39.

25

RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado: teoria e prática. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.

(26)

limites entre o direito privado e o direito público tornam-se cada vez mais vagos, cabendo ao juiz determinar a aplicação de um ou de outro nas relações jurídicas internacionais.26

2.2 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Segundo Valerio de Oliveira Mazzuoli, o Direito Internacional Público “disciplina e rege prioritariamente a sociedade internacional, formada por Estados e Organizações Internacionais intergovernamentais, com reflexos voltados também para a atuação dos indivíduos no plano internacional.”27

O Direito Internacional Público ainda pode ser conceituado, de acordo com o mesmo autor,

Como o conjunto de princípios e regras jurídicas (costumeiras e convencionais) que disciplinam e regem a atuação e a conduta da sociedade internacional (formada pelos Estados, pelas organizações internacionais intergovernamentais e também pelos indivíduos), visando alcançar as metas comuns da humanidade e, em última análise, a paz, a segurança e a estabilidade das relações internacionais.28

Em relação à ordem jurídica internacional, a subordinação, presente na ordem interna, é substituída pela coordenação na ordem internacional, “motivo pelo qual a vontade (ou consentimento) dos Estados ainda é o motor da sociedade internacional contemporânea.”29 Assim,

A ordem jurídica da sociedade internacional difere da ordem interna estatal por estar estruturada de forma horizontal, sem conhecer poder central autônomo com capacidade de criação de suas normas jurídicas e que garanta a sua efetiva aplicação, a exemplo do que ocorre no âmbito do ordenamento jurídico interno.30

De acordo com os autores Nguyen Quoc Dinh, Patrick Daillier e Alain Pellet, o Direito Internacional Público “regula as relações entre Estados”31, que apresentam assim

26

RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado: teoria e prática. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.

27 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 30.

28

Ibid., p. 43.

29 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 33.

30 Ibid., p. 33. 31

DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 39.

(27)

caráter eminentemente público. É importante citar que são consideradas fontes do Direito Internacional Público os tratados, o costume internacional, e os princípios gerais do direito, sendo também consideradas fontes por alguns doutrinadores os atos unilaterais e as decisões das organizações internacionais.32

O autor Celso D. de Albuquerque Mello ainda define o Direito Internacional Público como “o conjunto de normas que regula as relações externas dos atores que compõem a sociedade internacional.”33 Neste sentido, o autor afirma que a existência do Direito Internacional Público pressupõe que haja os seguintes fatores, tidos como bases sociológicas: a pluralidade de Estados soberanos, visto que o Direito Internacional Público rege as relações entre Estados; o comércio internacional, pois desde a Antiguidade os povos e as organizações comercializavam entre si, e “uma relação de comércio provoca imediatamente o aparecimento de normas para regulá-la”34; e os princípios jurídicos coincidentes, pois o Direito Internacional Público não poderia existir caso não houvesse valores comuns.

Desta forma, pode-se afirmar que o Direito Internacional Público é um instrumento de política, sendo um mecanismo utilizado pelos juristas, mas que serve aos propósitos de caráter político no âmbito internacional. Assim, o cumprimento das normas internacionais está diretamente correlacionado ao desejo dos Estados em manter a estabilidade de suas relações entre si, sendo, portanto, essencial para a diplomacia. Neste caso, o princípio da boa-fé é fundamental para guiar os Estados ao desenvolvimento da confiança mútua no cenário internacional, com vistas a promover a cooperação entre nações.

Neste sentido, os tratados representam uma importante fonte do Direito Internacional Público, sendo elaborados com a direta participação dos Estados e capazes de regular sobre as mais diversas matérias e assuntos da comunidade internacional.

2.2.1 Tratados

Conforme os autores DINH, DAILLIER e PELLET, o tratado “designa qualquer acordo concluído entre dois ou mais sujeitos de direito internacional, destinado a produzir

32 SCHUELTER, Cibele Cristiane. Tratados Internacionais e a lei interna brasileira: o problema da

hierarquia das normas. Florianópolis: Ed. OAB/SC, 2003.

33 MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 15. ed. Rio de Janeiro:

Renovar, 2004. p. 77.

(28)

efeitos de direito e regulado pelo direito internacional.”35 Um tratado pode surgir de uma declaração unilateral de vontade de uma parte, seguida da aceitação de outra, ou mesmo de uma declaração coletiva, sendo esta objeto de aceitações unilaterais posteriores.

Os tratados, segundo Valerio de Oliveira Mazzuoli, são considerados a fonte mais concreta e importante do Direito Internacional Público, sendo valorizado cada vez mais a pesquisa e o entendimento dos atos internacionais celebrados entre Estados, ou mesmo entre estes e certas organizações internacionais. Ainda com base no autor, a atuação dos tratados no Direito Internacional é semelhante à atuação das leis no Direito interno, ao regulamentar as situações jurídicas na esfera internacional.

Os antecedentes históricos dos tratados datam de mais de doze séculos antes de Cristo, sendo a disciplina jurídica do jus tractuum elaborada gradativamente ao longo dos séculos. Neste sentido,

O primeiro marco seguro da celebração de um tratado internacional, de natureza bilateral, diz respeito àquele instrumento firmado entre o Rei dos Hititas, Hattusil III, e o Faraó egípcio da XIX dinastia, Ramsés II, por volta de 1280 e 1272 a.C, e que pôs fim à guerra nas terras sírias.36

Desta forma, verifica-se que, desde a Antiguidade, os tratados foram regidos pelos princípios universalmente reconhecidos do livre consentimento, da boa-fé dos contraentes e da norma pacta sunt servanda.

Porém, é a partir do século XIX, devido à crescente interdependência entre os Estados e ao desenvolvimento das relações internacionais, que verifica-se uma ampliação do número de tratados internacionais. O período após a Segunda Guerra Mundial representa um marco na consolidação dos tratados como mecanismo de aproximação entre países, e como um instrumento para a construção de bases jurídicas internacionais.

Conforme a autora Cibele Schuelter, o Direito dos Tratados consiste “no conjunto do ordenamento jurídico internacional que sedimenta as bases jurídicas sobre as quais se operam as normas internacionais, desempenhando, pois, importante papel no âmbito interno dos Estados.”37 O processo de codificação do Direito dos Tratados iniciou-se em 1950, por meio da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas, que resultou na Convenção de

35

DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 120.

36 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 129.

37

SCHUELTER, Cibele Cristiane. Tratados Internacionais e a lei interna brasileira: o problema da hierarquia das normas. Florianópolis: Ed. OAB/SC, 2003. p. 65.

(29)

Viena de 1969, que entrou em vigor somente em 27 de janeiro de 1980 e cujo principal objetivo é reger as relações entre Estados.

A Convenção de Viena de 1969 sobre os Direitos dos Tratados preocupou-se em definir o conceito de tratado internacional, sendo assim descrito no seu art.2°, par. 1º, alínea a:

Para os fins da presente Convenção:

a) “tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.38

Tal definição concebida na Convenção de Viena de 1969 exprime os elementos essenciais que constituem os tratados internacionais, sendo estes: o princípio do livre consentimento; a celebração por escrito; ser concluído entre Estados; ser regido pelo Direito Internacional; ser celebrado em instrumento único ou em dois ou mais instrumentos conexos; assim como a ausência de denominação específica.

Pode-se verificar, na prática convencional, que os tratados recebem um vasto número de denominações, conforme o assunto e temas que abordam, assim como sua finalidade, qualidade das partes, número de contratantes, entre outros. Entre estas acepções, encontra-se o tratado propriamente dito, a convenção, o pacto, a carta, o ato ou ata, a declaração, os arranjos, e os acordos.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, estas diversas denominações dos atos internacionais, apesar de não influenciarem no caráter do instrumento de política internacional, demonstram diferenciações no exercício da diplomacia, sobretudo no que diz respeito ao conteúdo do ato internacional, e não à sua forma.

Neste sentido, o Ministério das Relações Exteriores define a convenção como um ato multilateral, proveniente de conferências internacionais a respeito de assuntos de interesse geral, como as relações diplomáticas e relações consulares, os direitos trabalhistas, e as questões de segurança internacional, buscando o estabelecimento de normas internacionais nos mais diversos setores.39

O termo protocolo é utilizado para atos bilaterais ou multilaterais, representando acordos menos formais que os tratados, ou mesmo designando a ata final de uma conferência internacional. O protocolo pode também ser encontrado sob a denominação “protocolo de

38 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 133.

39

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Atos Internacionais. Denominações dos atos

(30)

intenções”, comumente utilizado pela diplomacia brasileira para demonstrar o início de compromisso entre dois ou mais Estados.

O memorando de entendimento representa um ato semelhante ao acordo, porém redigido de forma simplificada, com a função de registrar os princípios gerais que devem orientar as relações entre as Partes envolvidas, sejam estas políticas, econômicas, sociais ou culturais. Já a denominação convênio está relacionada aos atos internacionais referentes à cooperação multilateral e bilateral de natureza econômica, comercial, jurídica, cultural, científica ou técnica.40

Em relação aos acordos propriamente ditos, que integram o rol de atos internacionais, a sua crescente incidência na prática internacional é demonstrada pelo amplo uso em negociações bilaterais e multilaterais, manifestando as vontades das Partes, sejam estas Estados ou organizações internacionais, nas mais variadas matérias e contextos.

2.2.1.1 Acordos

Conforme Valerio de Oliveira Mazzuoli, o termo “acordo” é comumente empregado para “designar tratados de natureza econômica, financeira, comercial ou cultural, podendo, contudo, dispor sobre segurança recíproca, projetos de desarmamento, questões sobre fronteiras, questões de ordem política, etc.”41 Os acordos são atos bilaterais ou multilaterais, e sua natureza pode ser política, econômica, comercial, cultural ou científica.

De acordo com os autores Nguyen Quoc Dinh, Patrick Daillier e Alain Pellet, a classificação formal dos tratados distingue-se conforme a qualidade das partes, conforme o número de partes, e conforme a sua forma.

Segundo a qualidade das partes, os tratados são distintos entre os tratados concluídos somente entre Estados, os tratados concluídos entre Estados e organizações internacionais, e os tratados concluídos exclusivamente entre organizações internacionais.

Segundo a classificação com base no número de partes dos tratados, estes podem ser bilaterais e multilaterais, sendo que certos autores consideram ainda uma categoria intermediária constituída por “tratados plurilaterais que designariam os tratados em que o

40 BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Atos Internacionais. Denominações dos atos

internacionais. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/003.html>. Acesso em: 5 set. 2010.

41

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2007. p. 142.

(31)

número das partes, superior a dois, é limitado, enquanto, em princípio, os tratados multilaterais são suscetíveis de virem a ser tratados universais.”42 Porém, a classificação formal do número das partes, a summa divisio, continua a ser a divisão entre tratados bilaterais e multilaterais.

Com base na sua forma, os tratados podem ser classificados como “tratados em forma solene” e “acordos em forma simplificada”, sendo assim aplicadas diferentes modalidades de expressão de consentimento das partes.

Conforme a autora Cibele Schuelter, a classificação dos tratados apresenta-se com base nos critérios formais e critérios materiais. Os critérios formais são representados pelo número de contratantes e o procedimento de conclusão; já os critérios materiais relacionam-se à natureza das normas, à execução do tratado no tempo, e à execução do tratado no espaço.43

Em relação ao número de pactuantes nos tratados, “é bilateral o tratado que tiver duas partes envolvidas e multilateral ou coletivo aquele em que é igual ou superior a três o número de pactuantes.”44 Quanto ao procedimento de conclusão, os tratados são classificados em acordo solene, que apresenta fases distintas e identificadas pela negociação, assinatura ou adoção, aprovação pelo Estado e ratificação; e acordo executivo, ou executive agreement, caracterizado pelos tratados que prescindem de ratificação.

De acordo com os critérios materiais, a natureza das normas distingue os tratados em tratados-contratos, relacionados a operações jurídicas, e tratados-lei, que criam uma regra de direito. Esta classificação em tratados-contratos e tratados-lei vem perdendo prestígio entre os juristas, visto que um mesmo tratado pode conter elementos contratuais e elementos normativos.45

Quanto à execução dos tratados no tempo, estes podem ser considerados estáticos ou dinâmicos, sendo o primeiro classificado conforme o estabelecimento de situação jurídica definitiva, e o segundo conforme a obrigação das partes por período de tempo definido ou indeterminado.

Por fim, quanto à execução dos tratados no espaço, a autora Cibele Schuelter classifica-os com base na aplicação em todo o território do pactuante, ou em apenas parte

42DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. p. 125.

43 SCHUELTER, Cibele Cristiane. Tratados Internacionais e a lei interna brasileira: o problema da

hierarquia das normas. Florianópolis: Ed. OAB/SC, 2003.

44 Ibid., p. 73. 45

SCHUELTER, Cibele Cristiane. Tratados Internacionais e a lei interna brasileira: o problema da hierarquia das normas. Florianópolis: Ed. OAB/SC, 2003.

(32)

dele. Com base nesta classificação, os tratados também podem ser abertos ou fechados, conforme a presença ou ausência de cláusula de adesão.46

O autor Valerio de Oliveira Mazzuoli, baseando-se na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969, define em quatro as fases para a conclusão dos tratados solenes, conforme a exigência de um vasto número de formalidades: as negociações preliminares; a assinatura ou adoção pelo Executivo; a aprovação parlamentar por cada Estado pactuante do tratado; e a ratificação ou adesão do texto convencional, vinculando juridicamente os signatários do tratado.47 No Brasil, são adotadas fases complementares após a ratificação dos tratados, como a promulgação por decreto do Presidente da República e a sua publicação no Diário Oficial da União, com a função de possibilitar a aplicação e a execução interna dos tratados.

Conforme a Convenção de Viena, os requisitos para a conclusão e entrada em vigor dos tratados, ou seja, para que um tratado seja considerado válido,

Requer-se que as partes contratantes (Estados ou organizações internacionais) tenham capacidade para tal, que os seus agentes signatários estejam legalmente

habilitados (por meio de carta de plenos-poderes, assinada pelo Chefe do Executivo

e referendada pelo Ministro das Relações Exteriores), que haja mútuo consentimento (que se revela no livre direito de opção do Estado, manifestado em documentação expressa), e que o seu objeto seja lícito e possível.48

De acordo com as definições concebidas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Acordo por Troca de Notas é empregado, principalmente, no que se refere às questões de natureza administrativa, assim como para a alteração ou interpretação de cláusulas de atos internacionais previamente concluídos. O conteúdo do Acordo por Troca de Notas estará sujeito à aprovação do Congresso Nacional quando incorrer nos casos determinados pelo Artigo 49, inciso I, da Constituição Federal, ou seja, nos casos “que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.”49

Já o Acordo ou Ajuste Complementar representa o ato internacional que se refere à outro ato, anterior, devidamente concluído e em vigor, sendo este geralmente um Acordo

46 SCHUELTER, Cibele Cristiane. Tratados Internacionais e a lei interna brasileira: o problema da

hierarquia das normas. Florianópolis: Ed. OAB/SC, 2003.

47

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Tratados Internacionais. 2. ed. São Paulo: Ed. Juarez de Oliveira, 2004.

48 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2. ed. São Paulo: Ed. Revista dos

Tribunais, 2007. p. 73.

49 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de

outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº 1/92 a 53/2006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, 2007. p. 52.

(33)

Básico ou Acordo-Quadro, a fim de detalhar áreas de entendimento específicas que orientarão a execução da cooperação internacional.

(34)

3 A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

A noção de cooperação internacional permeia a história da humanidade desde a Antiguidade, com os ensaios de escritores gregos a respeito do tema Política. A natureza do Estado, então discutida por Platão, era tida como envolvida numa constante luta entre os Estados, uns contra os outros, havendo sempre o predomínio de um sobre o outro. A idéia de cooperação abordada, seja de forma explícita ou implícita, era aquela que seria capaz de impedir a guerra, quando os Estados, ou Cidades-Estados, estivessem sob ameaça externa e na iminência de um conflito.50

Ao longo dos séculos, as noções de cooperação foram modificadas pelos filósofos modernos, como Maquiavel e Hobbes, que desfizeram a noção do Estado universal e instituíram os fundamentos do Estado moderno.

Porém é a partir das grandes guerras mundiais, em especial da Segunda Guerra, que o conceito de cooperação internacional ultrapassa a esfera teórica e torna-se um instrumento prático nas relações internacionais. A cooperação entre países configura-se como tema de debates globais, visto o novo panorama internacional da relação entre Estados.

É interessante citar que a cooperação internacional é definida de acordo com as prioridades e estratégias políticas dos países, indicando tanto uma relação entre Estados, com base em interesses e alianças bilaterais e multilaterais, como a relação entre atores de diferentes países, englobando, assim, os empréstimos, doações, ajudas humanitárias, intercâmbio de técnicas e conhecimento, além de parcerias que promovem a realização de atividades e pesquisas internacionais.51

Assim, através de diversos acordos, projetos e programas, os países transferem experiências, recursos, assistência técnica e conhecimentos tecnológicos ou científicos a outros atores internacionais, por meio de organismos, empresas, ou instituições governamentais e não-governamentais que atuam na esfera global.

50 AZI, Íris Célia Azevedo. Cooperação internacional para o desenvolvimento: aspectos gerais da teoria e a

experiência do Programa Ribeira Azul. 2009. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano)-Universidade Salvador - UNIFACS, Salvador, 2009.

(35)

3.1 CONCEITOS E FORMAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Conforme Celso Luiz Nunes Amorim, a cooperação internacional “tem um dos seus primeiros pressupostos a idéia da ‘alteridade’, isto é: o respeito de um Estado pela existência de outros Estados, cujos objetivos podem e devem ser por eles próprios traçados.”52

O autor Guido F. S. Soares também aborda o tema da cooperação, ao afirmar que as políticas e as preocupações dos Estados no cenário internacional sofreram grandes mudanças a partir do final da Segunda Guerra Mundial, com o estabelecimento do sistema de segurança coletiva da Organização das Nações Unidas, e o crescente interesse no nível de desenvolvimento econômico e social dos países menos favorecidos da esfera internacional. Conforme cita o autor,

Se em séculos anteriores a preocupação era estabelecer regras negativas nas relações internacionais (ou seja, regras de conduta dos Estados, que assegurassem a paz através de normas proibitivas de ações perturbadoras da mesma e, portanto, um Direito Internacional que assegurasse o statu quo), particularmente a partir do sistema das Nações Unidas, a ênfase atual recai no estabelecimento de regras de construção de comportamentos, no incentivo de condutas de cooperação.53

De acordo com o autor Luiz Olavo Baptista, a cooperação internacional é entendida como “o instrumento institucional através do qual conciliam-se interesses individuais dos Estados, o interesse coletivo e as exigências comuns, no âmbito da qual se concluem acordos setoriais e regionais.”54 Neste sentido, a cooperação é tida como um direito individual de cada Estado, baseando-se nos princípios de igualdade e reciprocidade dos benefícios que envolvem a cooperação internacional.

Ao longo das décadas de 60 e 70, os conceitos de cooperação internacional se afastam dos modelos de desenvolvimento predominantes neste período da história, e evoluem ao vincularem-se a outros temas fundamentais do panorama global, como a economia, segurança, ecologia e pobreza. Desta forma, a cooperação internacional configura-se como um mecanismo de solução de problemas de caráter social, econômico, cultural ou humanitário, além de estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

52

AMORIM, Celso Luiz Nunes. Perspectivas da cooperação internacional. In: MARCOVITCH, Jacques (Org.)

Cooperação Internacional: estratégia e gestão. São Paulo: Edusp, 1994. cap. 7. p. 151.

53 SOARES, Guido F. S. A cooperação técnica internacional. In: MARCOVITCH, Jacques (Org.). Cooperação

Internacional: estratégia e gestão. São Paulo: Edusp, 1994. cap. 8. p. 165.

54

BAPTISTA, Luiz Olavo. Negociação de contratos internacionais de cooperação. In: MARCOVITCH, Jacques (Org.). Cooperação Internacional: estratégia e gestão. São Paulo: Edusp, 1994. cap. 17. p. 543.

Referências

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