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REFORMA AGRÁRIA NA BACIA DO IBICUÍ - RS: UMA ANÁLISE ESPACIAL DO CONTEXTO REGIONAL ATRAVÉS DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

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REFORMA AGRÁRIA NA BACIA DO IBICUÍ - RS:

UMA ANÁLISE ESPACIAL DO CONTEXTO REGIONAL

ATRAVÉS DA CARTOGRAFIA TEMÁTICA

ANDREA LOPES IESCHECK1,2 JULIA SALDANHA AGUIAR2

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Instituto de Geociências, Porto Alegre, RS

1

Departamento de Geodésia

2

Programa de Pós-Graduação em Geografia andrea.iescheck@ufrgs.br

juliasva@gmail.com

RESUMO - O objetivo deste trabalho é obter, através da cartografia temática e da análise espacial das informações mapeadas, elementos que dêem suporte ao entendimento do contexto socioeconômico, técnico e produtivo no qual os assentamentos da reforma agrária vêm sendo implementados na região da Fronteira Oeste do estado do Rio Grande do Sul. Este estudo faz parte de uma pesquisa sobre os impactos dos assentamentos da reforma agrária na região e foi desenvolvido em um ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG). A compreensão desses impactos implica, necessariamente, no reconhecimento do espaço geográfico em suas diversas dimensões. A área de estudo se localiza na bacia hidrográfica do rio Ibicuí, cuja matriz socioeconômica é caracterizada pela tradição pecuarista-latifundiária. A presente pesquisa se apóia em duas abordagens metodológicas que compreendem a análise através dos sistemas agrários e a análise espacial. Essas duas abordagens se complementam sendo que a primeira prioriza a análise temporal e a segunda objetiva a compreensão da distribuição espacial dos fenômenos de interesse.

ABSTRACT - This paper aims at getting some elements through thematic cartography and spatial analysis of charted information by means of which one can understand social, economical, technical and productive situation where land reform in the western border of Rio Grande do Sul is being settled. This is part of a research on land reform settlements impact in that states region and is developed using Geographic Information System (GIS) technology. The understanding of such impacts means, at first glance, to recognize geographic space in its multiple dimensions. The study’s area is at Ibicuí river basin whose social-economical matrix is characterized by cattle raising and land tradition. This research takes two methodological approaches that is, an analysis through agrarian systems and spatial analysis. These two approaches are complementary. The first one highlights temporal analysis and the second the understanding of spatial distribution of phenomena.

1 INTRODUÇÃO

O processo de reterritorialização em larga escala promovido pela reforma agrária produz efeitos e impactos sobre o espaço geográfico em geral e, em particular, sobre as formas espaciais anteriores à instalação dos assentamentos. Entende-se como reterritorialização, no presente contexto, o conjunto de modificações que ocorrem no modo de ocupação, de produção e de delimitação de territórios em decorrência da reforma agrária e da sua política de assentamentos. O conceito de territorialização, de forma geral, pode ser utilizado na descrição de todo e qualquer agenciamento ou ação humana modificadora de características espaciais do

território. No caso deste trabalho, a adoção do prefixo re , reterritorialização, sub-entende que a área de estudo fora objeto de outros processos de territorialização, antes deste processo atual. Compreender os impactos ocasionados pela reforma agrária implica necessariamente, em um primeiro momento, no reconhecimento do espaço geográfico preexistente, em suas diversas dimensões. De acordo com Leite (2003), “um dos temas ainda pouco estudados é o quê os assentamentos representam no espaço econômico, social e político no qual se inserem”.

Desde o início da década de 1990, a Campanha gaúcha tem sido objeto de políticas de reforma agrária que resultara em algumas centenas de projetos de assentamento (PAs) instalados nos municípios da região.

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Em um território onde predominava, e ainda predomina, o modo de vida arraigado na tradição da pecuária extensiva, a chegada de milhares de famílias originárias de outras culturas criou um novo contexto, ou seja, são novos atores vivendo, interagindo, produzindo uma nova organização do espaço e consequentemente, gerando impactos sobre a realidade espacial que lhes antecedeu. Localizada no bioma Pampa, em um ambiente de características morfológicas e climáticas bastante peculiares, a denominada Metade Sul se mantém como área de interesse prioritário para reforma agrária no estado.

Neste trabalho, aplicam-se os conceitos e as técnicas da análise dos sistemas agrários e da análise espacial, com o uso de Sistema de Informações Geográficas (SIG), para caracterizar e visualizar a forma de organização deste espaço. Sistema agrário é um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade de toda a forma de agricultura real através da análise metódica da sua organização e do seu funcionamento (MAZOYER e ROUDART, 1997). Os sistemas agrários se metamorfoseiam em formas e modos de produção que se sucedem e que funcionam com lógicas internas próprias, esboçando assim um processo dinâmico de transformação e convivência entre práticas e técnicas vindas de diversos tempos e idades históricas. Assim, cada sistema agrário é a expressão teórica de um tipo de agricultura, historicamente constituído e geograficamente localizado, composto de um ecossistema cultivado característico e de um sistema social produtivo definido (MAZOYER e ROUDART, 1997).

Segundo Bailey e Gattrel (1995), a análise espacial tem por objetivo aprofundar a compreensão do processo, avaliar evidências de hipóteses a ele relacionadas, ou tentar estimar valores em áreas onde as observações não estão disponíveis. Neste tipo de análise, seja por métodos gráficos (visualização cartográfica) ou estatísticos, busca-se compreender a distribuição espacial de dados representativos de fenômenos. Além da percepção visual da distribuição espacial, esta permite identificar padrões existentes e obter informações específicas sobre localizações particulares.

A visualização do espaço agrário regional, por meio de mapas temáticos, possibilita a compreensão tanto do contexto onde a reforma agrária se insere, como dos impactos desta política na região. Objetiva-se portanto, produzir descrições geográficas através de mapas para subsidiar a análise da questão agrária na região da fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, a partir das relações entre a leitura do espaço proposto pela abordagem dos sistemas agrários e a leitura desse espaço pela análise espacial. Essas duas abordagens são complementares na medida que a primeira prioriza a análise temporal e a segunda objetiva a compreensão da distribuição espacial dos fenômenos de interesse.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área escolhida para o desenvolvimento desta pesquisa é a bacia hidrografia do rio Ibicuí, na região

sudoeste do estado do Rio Grande do Sul, a qual abrange, total ou parcialmente, 24 municípios (figura 1). Fazem parte desta bacia os municípios de Alegrete, Barra do Quaraí, Cacequi, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguari, Jari, Lavras do Sul, Manoel Viana, Mata, Nova Esperança do Sul, Quaraí, Quevedos, Rosário do Sul, Santana do Livramento, Santiago, São Francisco de Assis, São Gabriel, São Martinho da Serra, São Vicente do Sul, São Pedro do Sul, Toropi, Tupanciretã e Uruguaiana. O rio Ibicuí é um afluente do rio Uruguai e drena uma área de 45.694 Km² (LETURCQ et al, 2008).

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo A bacia do Ibicuí faz parte do bioma Pampa e é constituída por três unidades morfológicas distintas. A significativa diferença na morfologia e na constituição de solo nestas três regiões influencia diretamente tanto o tipo de uso da terra quanto a produtividade de cada atividade. Além disso, esta bacia está localizada sobre as partes de recargas direta, indireta e de confinamento do aqüífero guarani. Para a manutenção da boa qualidade dessa água subterrânea é necessário um uso agrícola adequado, que leve em conta a importância desse imenso reservatório natural de água (LETURCQ et al, 2008). Também, devido às suas características bastante particulares, praticamente todo o município de Santana do Livramento foi enquadrado como área prioritária para conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade brasileira (Portaria MMA Nº 09, de 23 de janeiro de 2007).

Diante dessa situação ambiental, ao mesmo tempo estratégica e complexa, o recorte da bacia hidrográfica aparece como um espaço de planejamento prioritário, especialmente no que diz respeito à gestão dos recursos hídricos (BOTELHO e SILVA, 2007). Ao considerar tal situação, a elaboração de um quadro socioeconômico, produtivo e técnico é fundamental à compreensão da forma de uso e de apropriação, tanto da terra como dos

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neste espaço agrário. 3 METODOLOGIA

O desenvolvimento das etapas operacionais para caracterização, análise e visualização do espaço agrário regional contempla as fases de levantamento de dados, avaliação da confiabilidade destes dados, seleção das variáveis (atributos) de interesse, montagem do banco de dados geográficos, realização das operações de cruzamento e análise dos dados espaciais e confecção dos mapas temáticos.

Na primeira etapa do trabalho, procedeu-se ao estudo preliminar para definição das informações necessárias ao conhecimento do cenário agrário regional, principalmente no que tange à sua estrutura fundiária e à sua matriz produtiva, de forma a subsidiar as análises propostas. Após consultas aos bancos de dados de diferentes órgãos ligados direta ou indiretamente às questões agrárias, foram detectadas algumas discrepâncias que poderiam conduzir a descrições equivocadas. Como forma de garantir a qualidade e a confiabilidade da base de dados, utilizou-se como fonte principal o Censo Agropecuário de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE, 2006) e, complementarmente, alguns dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA (INCRA, 2009). As variáveis adotadas foram: número de estabelecimentos rurais, área ocupada por estes estabelecimentos, população urbana e rural, taxa de urbanização, PIB per capita, uso da terra, PIB agropecuário, quantidade e valor da produção, tipo de atividade produtiva, produtividade, uso de agrotóxicos, tipo de tração e número de famílias assentadas.

A partir da seleção das variáveis de interesse, definiu-se a base cartográfica para referenciar espacialmente as análises realizadas. Como os dados de interesse são disponibilizados por município, as feições que compõem a base cartográfica são os limites municipais e o limite da área de estudo. Adotou-se como base a Malha Municipal Digital 2005 do IBGE, que apresenta a representação vetorial das divisas estaduais e municipais, referente ao ano base de 2005, compatível com a escala de 1:2.500.000 e gerada a partir do arquivo-fonte na escala original 1:250.000 (disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/default_prod. shtm#TOPO>). Após identificação dos 24 municípios que fazem parte da bacia hidrográfica do Ibicuí, o arquivo digital foi editado para remoção dos demais municípios e associação ao banco de dados.

Os procedimentos de entrada e modelagem de dados, bem como os cruzamentos, as análises e a visualização das informações espaciais, foram realizados no programa ArcGIS, versão 9.3. O ArcGIS é um pacote de aplicativos para Sistemas de Informações Geográficas, de propriedade formal da ESRI.

A seguir são apresentados os resultados obtidos nas análises temporal e espacial, dentro das abordagens

propostas, representativas do cenário agrário regional. Este cenário é apresentado na forma de mapas, cujos temas subsidiam o conhecimento da estrutura fundiária e da matriz produtiva na bacia do Jacuí.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Estrutura Fundiária

A partir da análise temporal da estrutura fundiária da região, herdada em boa parte das sesmarias, percebe-se ainda a existência de grandes áreas com um número reduzido de proprietários, apesar da notada mudança no padrão de posse, qual seja, a de fracionamento da terra que dá origem a uma grande quantidade de pequenas e médias propriedades. Na Tabela 1, apresenta-se a classificação dos estabelecimentos rurais de acordo com sua área, a quantidade de estabelecimentos por classe e o percentual de área ocupada por estes estabelecimentos.

Tabela 1 - Estrutura fundiária da bacia do Ibicuí

Ao analisar os dados da Tabela 1, percebe-se a existência de uma grande quantidade de pequenos estabelecimentos na área de estudo, ou seja, 40% das propriedades possuem áreas de até 20 ha, porém ocupam apenas 2% da área total da bacia. Já os estabelecimentos com áreas entre 20 e 100 ha totalizam 34,3% e ocupam 8,8% das terras desta bacia. Portanto, embora os pequenos estabelecimentos representem 74,3% do total, ocupam apenas 10,8% do território. Os 9,1% dos estabelecimentos com áreas superiores a 500 ha, ocupam 66,6% das terras. E as propriedades com áreas superiores a 2.500 ha correspondem a 0,8% do total e ocupam 16,4% da bacia.

Observando-se as médias brasileiras, fica evidente que a estrutura fundiária da região acompanha a situação nacional histórica de concentração de grandes áreas pertencentes a poucos proprietários. No Brasil, a classe de estabelecimentos rurais com áreas de até 20 ha, constitui 65,3% dos estabelecimentos e ocupa apenas 5,5% do território. Já as classes de estabelecimentos maiores que 500 ha, constituem uma minoria de 2% que, de modo contrastante ocupam 56% da área agrícola do País (IBGE, 2006).

É importante observar, no entanto, algumas exceções a esse padrão. Os municípios Nova Esperança do Sul, Mata, Toropi, Jarí e Jaguari, localizados na porção nordeste da bacia, não possuem latifúndios. Nestes

Área Quantidade de estabelecimentos (%) % de área ocupada < 20 ha 40 2 20 a 100 ha 34,3 8,8 100 a 500 ha 16,3 22,6 500 a 1000 ha 5,0 21,2 1000 a 2500 ha 3,3 29 2500 ha > 0,8 16,4

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municípios, as maiores propriedades não ultrapassam 500 ha. Em Nova Esperança do Sul, 40% dos estabelecimentos rurais estão na classe dos minifúndios, com área inferior a 20 ha e os outros 52,4% são estabelecimentos com área entre 20 e 100 ha. Esta predominância de propriedades de pequeno porte se repete em outros municípios situados da porção nordeste da bacia do Ibicuí, o que evidencia um processo de colonização diferente daquele predominante na maior parte da Campanha gaúcha e que acontece desde a chegada dos primeiros colonizadores.

Outra tendência nacional que é acompanhada pelos municípios da bacia do Ibicuí, é a alta taxa de urbanização. A região possui uma população de 1.269.240 habitantes, sendo 84% em área urbana (IBGE, 2006). Ao comparar a população atual com a de 1970, observa-se que naquele ano a região abrigava uma população de 1.029.669 pessoas, sendo que 41% deste total viviam no campo.

Complementando esse quadro descritivo, é oportuno lembrar que a Metade Sul do estado, região onde se encontra área de estudo deste trabalho, é hoje considerada uma microrregião estagnada onde, apesar da renda domiciliar se posicionar em um patamar médio, o crescimento econômico é considerado baixo (BRASIL, 2007). Essas áreas, no entanto, mantêm-se apoiadas na prosperidade de um passado distante.

4.2 PIB e Uso da Terra

A composição do PIB, segundo o IBGE, abrange as categorias de Agropecuária, Indústria e Serviços. Na agropecuária, os produtos selecionados por sua relevância econômica nas Contas Trimestrais são: arroz em casca, milho em grão, trigo em grão e outros cereais, cana-de-açúcar, soja em grão, mandioca, fumo em folha, algodão herbáceo, frutas cítricas, café em grão, bovinos e outros animais vivos, leite de vaca e de outros animais, suínos vivos, aves vivas, ovos de galinha e de outras aves, pesca e aqüicultura. A categoria Indústria abrange: indústria extrativa e de transformação, construção civil, produção e distribuição de eletricidade, gás e água esgoto e limpeza urbana. E, na categoria serviços, estão as seguintes atividades: comércio; transporte, armazenagem e correio; serviços de informação; intermediação financeira, seguros e previdência complementar e serviços relacionados; atividades imobiliárias e aluguéis; administração, saúde e educação públicas; seguridade social; e outros serviços.

Ao analisar o mapa do PIB per capita e da composição do PIB na bacia do Ibicuí (figura 2), percebe-se a predominância dos menores PIB’s (de R$ 4.387,00 a R$ 6.517,00). Isto ratifica a situação econômica estagnada de boa parte da Metade Sul. São 14 municípios nessa situação, localizados em uma grande faixa que se estende na direção norte-sul, inclusive Santana do Livramento e Alegrete que são os de maior área do estado. Na classe intermediária (PIB de R$ 6.518,00 a R$ 9.937,00) aparecem 8 municípios e, na classe com PIB per capita mais alto (de R$ 9.938,00 a R$ 18.500,00), os

municípios de Tupanciretã, Barra do Quaraí e Nova Esperança do Sul.

Por outro lado, ao verificar os dados de composição do PIB, nota-se que a geração de riqueza na maioria dos municípios está associada ao setor de serviços e não ao setor agropecuário, o que é mais característico de áreas urbanas. Este resultado é aparentemente inesperado pois os municípios da região possuem centros urbanos de pequeno a médio porte, porém com grandes extensões territoriais. Diante desse quadro de predomínio da riqueza gerada pelo setor de serviços no PIB regional, é oportuno avaliar o uso da terra na bacia do Ibicuí. Observa-se daí que boa parte do espaço agrário da região vem sendo territorializado por lavouras temporárias. Áreas que tradicionalmente eram destinadas à categoria ‘pecuária e criação de outros animais’, deram lugar a cultivos temporários como o arroz e a soja. De acordo com o IBGE (2006), cerca de 37% da área da bacia do Ibicuí, está ocupada com cultivos anuais. Apesar dessa tendência, municípios de grande extensão como Santana do Livramento, Rosário do Sul, Dom Pedrito, Lavras do Sul, Alegrete, Uruguaiana e São Gabriel, ainda mantêm atividade pecuária, a qual ocupa 61% da área da bacia. Este fato indica a existência de pastagens remanescentes.

Figura 2 – Mapa do PIB per capita e da composição do PIB

4.3 Matriz Produtiva

A Figura 3 mostra o mapa do percentual da área de pastagem em relação à área produtiva total dos municípios, e os diferentes tipos de rebanho. Nesta figura, verifica-se que os municípios localizados na porção sul da bacia apresentam maior proporção de áreas de pastagens (65% a 89%) em relação à área produtiva total. Nota-se, também, que nos municípios da porção nordeste da bacia a maior parte da pastagem nativa foi substituída por outras atividades agrárias, o que indica um uso mais

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p. 005 - 007 diversificado da terra. Isto pode decorrer do fato destes

municípios terem área bem menor, em comparação com os municípios vizinhos, e se situarem nas bordas de uma região colonizada por alemães e por italianos. Estes povos têm tradição de policultura, a qual se baseia em uma estrutura fundiária constituída, em geral, por lotes menores.

Quanto aos rebanhos, predomina o gado bovino. Os maiores municípios, Alegrete e Santana do Livramento, são também aqueles que concentram maior número de cabeças de gado bovino e apresentam, além disso, um significativo rebanho ovino. Apesar do expressivo contingente de bovinos e ovinos na bacia do Ibicuí, a diferenciação do sistema agrário regional é evidente. Esse processo, iniciado por volta de 1900 com o uso das várzeas para o cultivo do arroz, intensificou-se na década de 1970 com a generalização das técnicas de produção e conduziu ao declínio da atividade pecuária. Ao longo de quase 40 anos, o número de rebanho efetivo no estado se manteve mais ou menos constante (IBGE, 2006). Constata-se, portanto, a modificação da paisagem e da estrutura socioeconômica na região.

Figura 3 – Mapa do percentual de área de pastagem e dos tipos de rebanho

A Figura 4 mostra a composição da riqueza gerada pelo setor agropecuário na área de estudo. Nesta figura são apresentados o PIB agropecuário e o valor da produção gerada por seis atividades: plantações de soja, de arroz e de trigo, e produções de leite, de bovinos e de ovinos. Quanto à produção de bovinos e ovinos foram considerados apenas os animais abatidos, para o ano de 2006, sem agregar o valor de compra e de venda dentro do universo de pecuaristas. Esta parte do ciclo produtivo da carne, anterior à fase de industrialização, faz parte da composição do PIB agropecuário.

Ao analisar a representação do PIB agropecuário, percebe-se a relação entre a totalidade da riqueza gerada e a produção das lavouras temporárias, o que evidencia os impulsos à diversificação do espaço agrário promovida pela presença do capital. Ainda, na composição do valor da produção por atividade, a renda gerada pela venda de animais para o abate não aparece de forma significativa o que, por sua vez, pode ser um indicativo da estagnação das atividades ligadas ao gado na região.

Figura 4 – Mapa do PIB agropecuário e do valor da produção

Figura 5 – Mapa do tamanho médio das propriedades e da diversidade da produção

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Na Figura 5, nota-se a presença generalizada da produção leiteira na bacia do Ibicuí. Apesar de ser uma atividade associada, geralmente, à pequena e à média produção, a pecuária leiteira está bastante presente também nos municípios onde a concentração de grandes propriedades é maior. Neste mapa, considera-se o número de estabelecimentos envolvidos com a produção de arroz, de soja, de trigo e de leite, e não o volume de produção dos municípios.

Na Figura 6, observa-se que muitos municípios da bacia destinam extensas áreas ao cultivo da soja, sendo que Tupanciretã, no limite nordeste da região, é o maior produtor de soja da bacia e chama a atenção por sua configuração produtiva e socioeconômica. Este município, que na safra de 2006 produziu mais de 240 mil toneladas de soja, apresenta uma estrutura fundiária onde predominam os estabelecimentos rurais de pequeno porte (56% de estabelecimentos com menos de 20ha e 23% com área entre 20 e 100ha). Depreende-se daí, que uma parte expressiva dessa produção advém das pequenas propriedades da agricultura familiar.

Ao analisar os dados de produtividade, nota-se que a porção nordeste da bacia apresenta alta produtividade. Esta região também apresenta o uso mais intensivo de agrotóxico nas lavouras o que sugere, neste caso, uma relação direta do uso de agrotóxicos com a produtividade.

Figura 6 – Mapa da área plantada de soja

O arroz é o cultivo temporário mais expressivo dos municípios da bacia do Ibicuí (figura 7). De acordo com o censo agropecuário, 2.352 estabelecimentos rurais da bacia têm pelo menos uma parte de suas terras dedicada a orizicultura, totalizando 318.579 ha (IBGE, 2006). É oportuno observar, no entanto, que a área média destinada a esse plantio não é muito alta (135 ha por estabelecimento). No município de Itaqui, maior produtor de arroz do estado, o tamanho médio das áreas de plantio deste grão é de 429 ha por estabelecimento.

Figura 7 – Mapa da área plantada de arroz Os mapas e as análises apresentadas propiciam uma visão geral do cenário produtivo e do uso da terra na bacia do Ibicuí. A Figura 8 mostra a situação da reforma agrária na bacia do Ibicuí, a partir da relação entre o número de famílias assentadas e a densidade demográfica. Nesta representação, optou-se por utilizar os dados do INCRA, por ser o órgão oficial dedicado a este objeto.

O resultado mostra que os municípios de Santana do Livramento, São Gabriel e Tupanciretã são aqueles com a quantidade mais significativa de assentamentos da reforma agrária. Percebe-se, também, a distribuição desses assentamentos na região e, pela reforma agrária se caracterizar por pequenos lotes, configura-se como um elemento a mais para a diversificação no uso da terra na bacia do Ibicuí.

Figura 8 – Mapa da densidade demográfica e do número de famílias assentadas

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p. 007 - 007 5 CONCLUSÕES

A produção de descrições geográficas por meio de mapas temáticos, gerados com as ferramentas de um SIG, permite caracterizar e visualizar a forma de organização do espaço proposto pela abordagem dos sistemas agrários e a leitura desse espaço pela análise espacial. Servem, portanto, para subsidiar a análise da questão agrária na região da fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, e possibilitam a compreensão do contexto onde a reforma agrária se insere e os impactos desta política na região.

A análise espacial realizada utilizando os recursos da cartografia temática fornece um recorte no espaço e no tempo. Isto possibilita visualizar a distribuição espacial das variáveis relacionadas à estrutura fundiária e à matriz produtiva e, conseqüentemente, compreender os universos socioeconômico, técnico e produtivo da área de estudo.

Trata-se de um espaço heterogêneo e com uma multiplicidade de situações. Ocupada há centenas de anos pelos sistemas produtivos ligados à pecuária extensiva, a bacia do Ibicuí tem, desde a década de 70, evidenciado significativas mudanças no uso da terra, na ocupação do território e, como decorrência, na sua estrutura socioeconômica.

Os mapas mostram que com a introdução de cultivos como o arroz e a soja, a região passa a contar com os denominados focos de dinamismo e alta produtividade. Estes focos contrastam de modo radical com a grande extensão de terras ainda hoje trabalhadas em um ritmo produtivo arraigado na tradição pecuarista e nas necessidades do núcleo familiar.

REFERÊNCIAS

BAILEY, T.; GATTREL, A. Spatial data analysis by example. London: Longman, 1995.

BOTELHO, R.G.M.; SILVA, A. S. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 280p.

BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Política Nacional de Desenvolvimento Regional. 2007. Disponível em: <http://www.mi.gov.br/desenvolvimento regional/pndr>. Acesso: 16 outubro 2009.

IBGE. Censo Agropecuário, 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home>. Acesso: 20 setembro 2009.

INCRA. Relatórios ambientais dos Projetos de Assentamento de Santana do Livramento-RS. Porto Alegre, 2004 - 2009. Cedido pelo INCRA.

LEITE, S. Impactos regionais da reforma agrária no Brasil: aspectos políticos, econômicos e sociais. Seminário sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Fortaleza, 2003. Disponível em:

<www.nead.org.br/download.php?form=.pdf&id=27>. Acesso: 18 julho 2009.

LETURCQ, G.; LAURENT, F.; VIEIRA MEDEIROS, R. Perception et gestion de l’érosion et des ressources en eau par les agriculteurs et les éleveurs du bassin versant de l’ibicuí (RS, Brésil). Confins [Online], 4 | 2008. Disponível em: < http://confins.revues.org/index4793. html>. Acesso: 5 novembro 2009.

MAZOYER, M.; ROUDART, L. História das agriculturas do mundo: do neolítico à crise contemporânea. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

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