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03/02/2021 Remessa Processo enviado Para Ciência do MP, aguardando recebimento para início de contagem de prazo.

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Gerado em: 05/02/2021 09:24

Numeração Única: 13852-68.2012.811.0041 Código: 761390 Processo Nº: 30 / 2012

Tipo: Cível Livro: Feitos Cíveis

Lotação: Vara Especializada Ação Civil Pública e Ação Popular

Juiz(a) atual::

Assunto: POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM RESSARCIMENTO DE DANO E PEDIDO DE LIMINAR.

Tipo de Ação: Ação Civil de Improbidade Administrativa->Procedimentos Regidos por Outros Códigos, Leis Esparsas e Regimentos->Procedimentos Especiais->Procedimento de Conhecimento->Processo de Conhecimento->PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO

Partes

Requerente: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO Requerido(a): ANDRÉ LUIZ PRIETO

Requerido(a): EMANOEL ROSA DE OLIVEIRA Requerido(a): LUCIOMAR ARAUJO BASTOS

Requerido(a): MUNDIAL VIAGENS E TURISMO LTDA

Andamentos

04/02/2021

Certidão de Envio de Matéria para Imprensa

Certifico que remeti para publicação no DIÁRIO DA JUSTIÇA, DJE nº 10912, com previsão de disponibilização em

05/02/2021, o movimento "Com Resolução do Mérito->Procedência em Parte" de 03/02/2021, onde constam como patronos habilitados para receberem intimações: CÉLIO JOUBERT FÚRIO - OAB:PROMOT.DE JUST., CLÓVIS DE ALMEIDA JUNIOR - PROMOTOR - OAB:PROMOTOR DE JUS, MAURO ZAQUE DE JESUS - OAB:PROMOTOR JUSTIÇ, ROBERTO APARECIDO TURIM PROMOTOR DE JUSTIÇA OAB: representando o polo ativo; e ALINNE SANTOS MALHADO -OAB:MT 15140-O, AMAZON SUBTIL RODRIGUES JUNIOR - OAB:9827, ANDRE LUIZ PRIETO - OAB:7360-B/ MT, GALIANA CAMPOS CASTRO - OAB:8858, GUSTAVO ROBERTO CARMINATTI COELHO - OAB:13586, INGRID DE SOUZA EICKHOFF - OAB:10.216/MT, LUIZ ALBERTO DERZE VILLALBA CARNEIRO - OAB:15.074/MT, RICARDO GOMES DA ALMEIDA - OAB:5.985/MT representando o polo passivo.

03/02/2021 Remessa

Processo enviado Para Ciência do MP, aguardando recebimento para início de contagem de prazo. 03/02/2021

Carga

De: Gabinete Juiz de Direito II da Vara Esp. Ação Civil Pública e Ação Popular Para: Vara Especializada Ação Civil Pública e Ação Popular.

03/02/2021

Com Resolução do Mérito->Procedência em Parte Proc. n° 13852-68.2012.811.0041 – Cód. 761390. Ação Civil Pública.

Requerente: Ministério Público do Estado de Mato Grosso Requeridos: André Luiz Prieto; Emanoel Rosa de Oliveira; Luciomar Araújo Bastos e; Mundial Viagens e

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Turismo LTDA – ME.

Vistos etc.

Trata-se de Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa c/c Ressarcimento de Dano e Pedido Liminar ajuizada pelo Ministério Público de Mato Grosso, em face de André Luiz Prieto, Emanoel Rosa de Oliveira e Mundial Viagens e Turismos LTDA, bem como o seu representante legal Luciomar Araújo Bastos.

Relata o requerente que a presente ação se originou nos autos do Procedimento Preparatório (GEAP 000336-023/2012) instaurado para apurar notícias de atos de improbidade administrativa praticados pelos requeridos acima nominados, onde restou apurada e demonstrada a ocorrência de fraude consistente em se pagar por horas de fretamento aéreo que não foram executados, em voos operados para a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso.

Salienta que o Inquérito Civil Público apresenta provas que demonstram a conduta ímproba dos requeridos ao atestarem o recebimento de faturas forjadas, com o objetivo de superfaturar horas de voo, e de faturas que não correspondem a nenhum voo. Diz ainda, que o presente fato só se justifica em razão de auferimento de vantagem indevida, em razão do cargo que ocupam.

O requerente afirma que os eventos relatados no presente caso se iniciaram após o requerido André Prieto ser conduzido à função de Defensor Público Geral do Estado e, na condição de ordenador de despesas da Defensoria Pública deste Estado, determinou a contratação de empresa de turismo, para operar fretamento aéreo, a fim de atender as necessidades do órgão. Para isso, aderiu ao sistema de registro de preço solicitado à Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, tendo como empresa fornecedora do serviço citado a requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA., conforme contrato de n° 04/2011.

Assevera que o objetivo do presente procedimento não é questionar a contratação mencionada ou a necessidade do fretamento de aeronaves, a fim de atender as demandas da Defensoria, mas sim, de se observar que o serviço contratado possui vícios e que foram pagos valores muito superiores ao que seria devido, tendo em vista as horas efetivamente voadas, e que em outras situações foram efetuados pagamentos que não correspondem a nenhuma viagem realizada pela Defensoria Pública.

Na peça inicial, o requerente discrimina os gastos gerados pelo fretamento de aeronaves, através das faturas cobradas e pagas (n° 021/2011; n° 023/2011; n° 024/2011; n° 025/2011; n° 026/201; n° 027/2011 e n° 028/2011), os percursos voados e as horas que teriam sido superfaturadas.

O requerente, por meio de um comparativo entre o orçamento da empresa contratada, e os de mais duas empresas e, ainda, através de dados coletados do diário de bordo das aeronaves que operaram os voos para a Defensoria, demonstra um resultado parcial de cento e quatro horas e trinta minutos (104hs:30min), que não teriam sido voadas, mas que teriam sido integralmente pagas pela Defensoria.

Salienta que o voo simulado na fatura de n° 024/2011, foi pago o valor de R$37.500,00 (trinta e sete mil e quinhentos reais), porém, nunca chegou a existir e, que o próprio requerido André Prieto não reconhece o trecho informado nessa fatura e, ainda, nas informações por ele prestadas foi apresentado outro percurso (pago por meio da fatura de n° 023/2011), que teria sido voado entre as mesmas datas que o voo pago na fatura de n° 024/2011.

Ainda, com base nos dados ofertados pelo requerido André Pietro, o requerente concluiu que a fatura de n° 028/2011, que teria sido emitida referente aos voos realizados no período de 01/10/2011 a 31/10/2011 e o pagamento realizado via sistema “FIPLAN”, no valor de R$15.470,00 (quinze mil, quatrocentos e setenta reais), no dia 29/03/2011, não deveriam existir, e afirma que não houve voos no período relativo a esses meses.

O requerente informa, após analisar todas as faturas e o pagamento apontado pelo sistema FIPLAN, que chegou a um valor parcial do prejuízo causado aos cofres públicos, no valor de R$220.00,00 (duzentos e vinte mil reais).

Pontua ainda, que o primeiro voo realizado pela empresa Mundial Viagens e Turismo LTDA., para a Defensoria Pública teria sido para transportar a esposa do requerido André Pietro e uma amiga dela até a cidade de Dourados/MS. Para comprovar tal alegação apresentou declaração do piloto que operou o voo, Sr. José Carriço, bem como o diário de bordo, da aeronave PT-WMV, que teria sido utilizada para a referida viagem.

Aduz que a empresa contratada, por meio de seu representante legal, Luciomar Araújo Bastos, tentou obstruir a justiça, ao apresentar informações falsas referentes às aeronaves fretadas, para operar os voos solicitados pela Defensoria e, quais as

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aeronaves teriam sido utilizadas em tais viagens.

Para que toda a fraude se concretizasse, o requerente afirma que o requerido André Prieto teria determinado que os processos que se referiam à quantidades maiores de recursos ficassem sob o crivo e orientação de seu gabinete particular, enquanto aqueles mais simples e, que envolviam volume menor de dinheiro, continuariam tramitando pelas vias normais. Afirma que, deste modo, o requerido André Pietro, juntamente com o requerido Emerson Rosa de Oliveira, que ocupava o cargo de chefe de gabinete, evitaram a fiscalização pelos setores competentes da Defensoria, sobre as compras e pagamentos efetuados nesses processos.

Por fim, o requerente salienta que, o requerido Luciomar Araújo Bastos, proprietário da empresa Mundial Viagens e Turismo LTDA., emitia as faturas falsificadas e superfaturadas, o que levou ao enriquecimento ilícito de todos os requeridos.

Ao final, pleiteou pela punição do requeridos, com a reparação dos danos ao erário e, liminarmente, pleiteou pelo

deferimento da declaração da indisponibilidade dos bens dos requeridos e que os requeridos André Luiz Prieto e Emanoel Rosa de Oliveira fossem afastados do exercício das suas funções.

Os documentos que acompanham a inicial estão acostados às folhas 115/930.

Pela decisão liminar (fls. 931/941), os pedidos de indisponibilidade de bens e afastamento dos requeridos André Luiz Prieto e Emanoel Rosa de Oliveira foram indeferidos.

O requerente interpôs recurso de agravo de instrumento (fls. 943/951) da decisão supramencionada e, em antecipação de tutela, o Tribunal de Justiça determinou o afastamento dos requeridos André Luiz Prieto e Emanoel Rosa de Oliveira, dos cargos que ocupavam na Defensoria Pública (fls. 955/960). No mérito, o recurso foi provido, sendo decretada a

indisponibilidade de bens dos requeridos (acordão de fls.1095/1105).

Os requeridos Emanoel Rosa de Oliveira, Mundial Viagens e Turismo LTDA. e o seu representante legal, Luciomar Araújo Bastos, foram citados e apresentaram, por meio de seus patronos, defesa preliminar, às fls. 1027/1035 e 1041/1062, respectivamente, as quais foram impugnadas pelo representante ministerial às fls. 1064/1081. O requerido André Luiz Prieto não se manifestou.

Às fls. 1087/1094 foi proferida decisão que recebeu a inicial e determinou a citação dos requeridos.

Citado, o requerido André Luiz Prieto apresentou contestação, por meio de seu advogado, às fls. 1152/1224 e, alegou, preliminarmente, a incompetência do juízo, para julgar a presente ação. No mérito argumentou que não há justa causa para o seu afastamento temporário do cargo e, que os fatos imputados a ele não existiram.

Às fls. 1228/1248, a defesa dos requeridos Luciomar Araújo Bastos e Mundial Viagens e Turismo LTDA., interpôs recurso de agravo de instrumento, em face da decisão de fls. 1087/1084, ao qual foi negado o efeito suspensivo (fls.1247/1250) e, no mérito, o recurso foi desprovido (acórdão de fls. 1381/1385).

Às fls. 1253/1255, a defesa do requerido Emanoel Rosa de Oliveira apresentou um termo de declaração expressa de reponsabilidade civil e penal, em que o requerido André Luiz Prieto “assume toda a reponsabilidade civil e penal relativamente aos fatos objetos da presente ação de improbidade referenciada”.

Em contestação, às fls. 1256/1288, a defesa do requerido Luciomar Araújo Bastos alegou, preliminarmente, a tempestividade da sua manifestação e a nulidade absoluta das provas acostadas aos autos.

No mérito alegou que jamais emitiu notas falsas ou superfaturadas e, ao final, requereu a liberação dos valores que foram bloqueados da sua conta liminarmente, sob o argumento de ser desproporcional.

A contestação da requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA. (fls. 1310/1340), por seu patrono, em sede preliminar, alegou a tempestividade de sua peça e alegou a nulidade absoluta das provas acarretadas ao processo, sob o argumento que foram produzidas a partir de inquérito civil conduzido por promotor carente de atribuição.

No mérito afirmou que jamais emitiu notas adulteradas e superfaturadas e argumentou que a medida liminar foi

desproporcional. Ao final, pleiteou que seja declarada a nulidade do inquérito civil, pelo motivo citado acima, requerendo a rejeição da inicial e a liberação da quantia bloqueada.

A defesa do requerido Emanoel Rosa de Oliveira, por sua vez, apresentou contestação às fls. 1341/1349, ratificando os argumentos expostos na defesa preliminar. Reiterou a importância do documento de renúncia ao seu sigilo bancário e fiscal, apresentado às fls. 1253/1255, e, ao final, pleiteou pela improcedência da ação.

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afastamento das preliminares suscitadas, diante das suas inconsistências e, no mérito, pleiteou pela improcedência das teses apresentadas.

Em decisão saneadora às fls. 1386/1394 foram rejeitadas as preliminares arguidas pelos requeridos. Também, foi determinada a intimação das partes, para a produção de provas.

Às fls. 1461/1465 foi feita a liberação dos valores bloqueados da conta da requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA., tendo em vista o efeito suspensivo concedido no Recurso Especial interposto pela referida empresa. Às fls. 1481/1491 foi realizada ordem, para averbação da indisponibilidade de bens dos requeridos, no sistema eletrônico da Central Nacional de Indisponibilidade de Bens.

Em decisão de fl. 1503-v°, foi declarada a revelia do requerido Emanoel Rosa de Oliveira.

Durante a instrução processual foram ouvidas as testemunhas Edson Guerra, Hélio Vicente, Walter Arruda Fortes e Ricardo Padilha Bourbon Neves, arroladas pelo Ministério Público, bem como a testemunha Ana Paula Marcondes, arrolada pela defesa dos requeridos Luciomar e Mundial Viagens, conforme CDroom juntado às fls. 1603 e 1643.

O contrato de n° 025/2009, da empresa Abelha Taxi Aéreo com a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso foi juntado aos autos às fls. 1587/1600, relativo ao biênio anterior ao contrato da Mundial Viagens e Turismo LTDA., bem como o termo aditivo deste contrato e a tabela de preços praticados pela empresa Abelha Taxi Aéreo, conforme documentos juntados às fls. 1601/1602.

O representante do Ministério público apesentou memoriais finais às fls. 1644/1653. Afirmou que diante das provas contidas nos autos, o requerido André Prieto ordenou as suas ações, para atuar diretamente no pagamento das faturas e na

simulação de um número de horas de voo exagerado e, que nunca foram realizadas.

Asseverou ainda, que o requerido Emanoel Rosa utilizou do seu cargo, para auferir ganho ilícito em beneficio próprio e de terceiros e, o requerido Luciomar Araújo, utilizou a sua posição de proprietário da empresa Mundial Viagens Ltda., para ajudar a encobrir o superfaturamento de horas voadas pela Defensoria e, por consequência, encobrir o desvio e a apropriação de valores recebidos a maior, pois foram emitidas faturas falsificadas e superfaturadas.

Ao final, ratificou o pedido de integral procedência dos pedidos formulados na petição inicial, com a condenação dos requeridos nas sanções contidas na Lei de Improbidade administrativa.

O requerido André Prieto, às fls. 1662/1670, apresentou os memoriais finais, afirmando que nenhuma das testemunhas foi capaz de comprovar as alegações de aumento de horas nos voos praticados pela Defensoria Púbica e, que as notas fiscais emitidas não expressam a quantidade de voos realizados, mas apenas o intervalo de dias em que estes se deram.

Declarou que as viagens se davam com um intervalo de dias, com idas e vindas e pernoites e, que em cada pernoite, haviam custos elevados de hangar, hospedagem dos pilotos e reabastecimentos, custos estes que foram incorporados às horas cobradas, sob pena de enriquecimento ilícito do Estado.

Alegou que em nenhum momento restou demonstrado apropriação de valores, ofensa à legalidade e aos princípios da administração, manipulação de processos administrativos, ou comportamento doloso do agente público.

Por fim, pleiteou pela improcedência da presente ação, asseverando que não há comprovação de que houve o enriquecimento ilícito, capaz de constituir ato de improbidade administrativa.

É o que merece registro. Decido.

Cuida-se de Ação Civil Pública por atos de improbidade administrativa c/c ressarcimento de dano, com pedido liminar de indisponibilidade de bens e afastamento do exercício da função pública, ajuizada pelo Ministério Público, em face de André Luiz Prieto, Emanoel Rosa de Oliveira, Mundial Viagens e Turismo LTDA. - ME e seu representante legal Luciomar Araújo Bastos, objetivando a condenação dos requeridos nas sanções previstas no art. 12, I da Lei n° 8.429/92, pela prática de atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9, 10 e 11, da mesma lei.

A questão de Incompetência deste Juízo para o processamento e julgamento da presente ação, suscitada pelo requerido André Liz Prieto, já foi analisada e resolvida, conforme decisão de fls. 1386/1394, bem como as preliminares suscitadas pelos requeridos foram devidamente rejeitadas, fls. 1386/1394.

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Não havendo demais questões preliminares ou prejudiciais de mérito a serem examinadas, passo a análise do mérito. Pretende o representante do Ministério Púbico, a condenação dos requeridos pela prática de atos de improbidade administrativa, nos termos da Lei n° 8.429/92.

Atribuiu aos requeridos as condutas previstas nos art. 9°, I, art. 10, XII, art. 11, caput, da Lei 8.429/92. Salienta que embora o requerido Luciomar Araújo Bastos não desempenhe nenhuma função pública, este será alçado pelas sanções previstas na lei de improbidade, pela força do seu art. 3°., que assim dispõe:

“Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.”

A presente ação civil pública possui como objetivo apurar um esquema de fraude, em se pagar por horas de fretamento aéreo que, na verdade, não foram executadas, em voos operados para a defensoria Pública do Estado de Mato Grosso. A controvérsia reside na comprovação ou não, de que as horas de voos contratadas e, pagas pela Defensoria Pública, estariam viciadas; que os valores pagos foram superfaturados, com a apropriação destes valores pelos requeridos; e se referidas condutas configuram atos de improbidade administrativa previstos na lei 8.429/92.

Analisando os autos, verifica-se que o requerido André Luiz Prieto, na condição de Defensor Público Geral do Estado, aderindo ao sistema de registro de preços solicitado à assembleia Legislativa, firmou contrato de n° 004/2011 (fls. 202/211) com a requerida Mundial Viagens e Turismo Ltda., para contratação de uma empresa especializada, para futuro e eventual fretamento de aeronaves, buscando atender a demanda do referido órgão.

Após a referida contratação, conforme informações prestadas pelo próprio requerido André Pietro, no inquérito civil de fls. 317/322, bem como pelo representante da empresa requerida (fls. 302/305), foram realizadas viagens nos meses de março, abril, maio, junho, agosto e novembro do ano de 2011.

No total, somando-se os valores encontrados nas faturas apresentadas, teria sido gasta a quantia de RS268.750,00 (duzentos e sessenta e oito mil, setecentos e cinquenta reais), referente ao pagamento das horas de voos realizadas pela Defensoria.

Entretanto, ao verificar os pagamentos realizados, é possível vislumbrar algumas inconsistências.

A fatura de n° 0028/2011 (fl. 494), emitida para o pagamento de viagens realizadas no período do dia 01 até o dia 31 de outubro de 2011, que totalizaram R$29.450,00 (vinte e nove mil, quatrocentos e cinquenta reais), contradiz o que fora afirmado pelos requeridos, de que não foram realizadas viagens no mês de outubro.

Também, em depoimento prestado em sede de Inquérito Civil Público, o Sr. José Ferreira Carriço, a época o comandante da aeronave PT-WMV, afirmou ter realizado alguns voos para a Defensoria Pública, sendo que o primeiro deles teria sido, justamente para levar a esposa do requerido André Prieto até a cidade de Dourados-MS, no dia 04/03/2011 e, retornado no dia 08/03/2011. No extrato do sistema FIPLAN (FL.271), apresentado pela Auditoria Geral da União, consta que a

Defensoria realizou pagamento à empresa requerida, no valor de R$15.470,00 (quinze mil, quatrocentos e setenta reais) no dia 29/03/2011.

O referido pagamento foi realizado na vigência do contrato existente entre a Defensoria e a empresa requerida Mundial Viagens e Turismo Ltda., e engloba o período acima citado, logo, apesar da empresa requerida ter sido contratada para realizar viagens de acordo com a necessidade do mencionado órgão, fora utilizado dinheiro público para o pagamento de viagem, visando beneficiar parentes do requerido André Pietro, o que é inadmissível.

Além da divergência encontrada em relação a estes pagamentos, se comparada a quantidade de horas voos mencionadas nas faturas, com os orçamentos apresentados pelas empresas Abelha Taxi Aéreo e WDA Taxi Aéreo (fls. 775/782 e 866/867 respectivamente), resta evidenciado que houve fraude e o superfaturamento dos valores pagos nas referidas faturas.

Como exemplo, pode-se citar do trecho de: Cuiabá/Juína/Colniza/Apiacás/Nova Monte Verde/Juruena/Juara/Cuiabá, em que o tempo de voo gasto pela empresa requerida, conforme demonstrativo de fls. 25 foi de 36 (trinta e seis) horas, enquanto a empresa WDA Táxi Aéreo levaria 07:05 (sete horas e cinco minutos) e a empresa abelha Táxi Aéreo levaria apenas 07 (sete) horas, conforme tabela apresentada às fls. 12/13 pelas referidas empresas.

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“- foram superfaturadas 104 (cento e quatro) horas de aeronave bimotor, sendo pago a quantia de R$ 1.550,00 (mil quinhentos e cinquenta reais) por cada hora e, assim, compondo prejuízo parcial na ordem de R$ 161.200,00 (cento e sessenta e um mil e duzentos reais).

- Foram superfaturadas 30 (trinta) horas de aeronave monomotor, sendo pago a quantia de R$ 1.190,00 (um mil cento e noventa reais) por cada hora e, assim, compondo prejuízo parcial na ordem de R$ 35.700,00 (trinta e cinco mil e setecentos reais).

- Fora constatado pagamento no sistema FIPLAN na ordem de R$ 15.479,00 (quinze mil quatrocentos e setenta e nove reais) sem qualquer correspondente em fatura, nota de empenho ou outro documento que o justifique.

- Chegamos a um valor parcial na ordem de R$ 212.373,00 (duzentos e doze mil trezentos e setenta e três reais). (...).”

Na audiência de instrução, conforme CD acostado às fls. 1583/1603, o representante da empresa WDA Táxi Aéreo, Sr. Edson Guerra, esclareceu alguns pontos acerca do orçamento (fls. 866/867), que apresentou ao Ministério Público durante o inquérito civil e afirmou que a aeronave utilizada nas viagens da Defensoria seria mais veloz e, por isso, conseguiria percorrer os trechos voados, acima referidos, em um menor tempo:

“Promotor de Justiça: O senhor chegou então a ser procurado pelo promotor?

Edson Guerra: Sim [...], a indagação foi do ponto a para b, quanto tempo você cobraria de voo? [...].

Promotor de Justiça: com base em que aeronave que o senhor prestou essas informações ao Dr. Mauro Zaque? Edson Guerra: Sêneca, aeronave bimotor para 5 lugares.

Promotor de Justiça: Ela tem correspondência com a aeronave modelo E55 baron de 600 cavalos?

Edson Guerra: Não senhor, essa aeronave baron, se é que o senhor esta me perguntando, é uma aeronave mais rápida e com o espaço interno menor, a capacidade e o conforto é menor. Mas ela é bem mais rápida que o seneca.

Promotor de Justiça: Então seria mais rápida do que a que o senhor usa? Edson Guerra: Sim.

Promotor de Justiça: Ela teria condições, em tese, de fazer em menos tempo? Edson Guerra: Ela teria condição de fazer em menos tempo!

[...].

Promotor de justiça: pelas investigações que foram realizadas pelo Ministério Público a aeronave que teria prestado serviços em nome da Mundial, em favor da Defensoria, seria a PT-WMV. O senhor saberia informar o modelo dela? Edson Guerra: É um baron bere55.

Promotor de Justiça: Qual que é a característica dele? Edson Guerra: Bimotor, pra até cinco passageiros e um piloto.

Promotor de Justiça: E ela é tão ‘ligeira’ quanto as aeronaves do senhor? Edson Guerra: Ela é mais ‘ligeira’. Ela é 10 a 15% mais rápida”.

Constata-se assim, que a Defensoria pública, mesmo possuindo à sua disposição uma aeronave mais veloz, pagou à empresa requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA., por mais horas, do que realmente deveria ter gasto para a referida viagem. É certo que a empresa requerida atestou ter gasto mais tempo do que gastariam as demais empresas do mesmo

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ramo e, que foram consultadas, para fins de comprovação do alegado.

Constata-se que, em alguns trechos, o número de horas é duplicado ou até mesmo triplicado. Além disso, em seu depoimento judicial (CD

às fls. 1583/1603) o Sr. Hélio Vicente, proprietário da empresa Abelha Táxi Aéreo afirma:

“Promotor de Justiça: colocando na situação do poder publico, do governo... Qual a desvantagem em se cobrar por horas de voo em vez de distancia.

Hélio Vicente: a desvantagem é porque na hora de voo possibilita que tenha a malandragem então a gente tem que falar que existe as maneiras de ludibriar o contribuinte, no caso o estado [...] Quando que na quilometragem não existe essa vantagem.

[...].

Promotor de justiça: Existe alguma explicação razoável para que exista essa diferença? Isso aqui consta nos autos, na petição inicial na folha 12. Foi feito então uma comparação entre as horas de voo da mundial com base na fatura que ela apresentou para o estado, e as horas de voo que o senhor informou ao promotor e as horas de voo que a concorrente do senhor informou que é a WDA. Há alguma explicação razoável pra esse disparate de horas, considerando esses

percursos?

Hélio Vicente: Tanto o meu valor de horas quanto o da WDA tá mais ou menos coerente, não tem uma diferença muito grande. Agora o que foi cobrado pela Mundial tá totalmente... Aquilo que eu falei esse trecho aqui que dá 33 horas, um trecho que não tem como dar mais que, no caso eu coloquei quatro horas, mas da no máximo seis horas de voo.

Promotor de justiça: Esse trecho também: Cuiabá/Vila Rica/Confresa/Porto Alegre Do Norte/São Felix do Araguaia/Cuiabá. O senhor disse que faria em 6h45, a WDS em 7h e a Mundial em 23 horas, ou seja, quase quatro vezes mais.

Hélio Vicente: É absurdo.

Promotor de justiça: Cuiabá/ Água Boa/ Xavantina/ Barra Do Garças/ General Carneiro/ Poxoréo/Primavera Do Leste/ Cuiabá, o senhor falou que faria em quatro horas e quarenta...

Hélio Vicente: É... Inclusive General Carneiro nem pista não possui, tem mais esse agravante. Promotor de justiça: Naquela época não tinha? Não tem nem lugar pra descer?

Hélio Vicente: Não. Desce em Barra do Garças e vai de carro.

Promotor de justiça: Cuiabá/ Juína/ Colniza/ Apiacás/ Nova Monteverde/ Juruena/ Juara/ Cuiabá, o senhor disse que faria em sete horas e cinco minutos, a sua concorrente WDA em sete horas e a fatura apresentada ao estado foi de como se eles tivessem levado 36 horas.

Hélio Vicente: Também absurdo.”

Desse modo, não resta dúvidas sobre a veracidade das alegações do Ministério Público, estando devidamente comprovado que as faturas apresentadas pela requerida Mundial Viagens e Turismo Ltda. foram notoriamente superfaturadas, fazendo com que os requeridos André Prieto e Emanoel se enquadrem na conduta tipificada no art. 11, caput e I, e art. 10, XII da Lei n° 8.429/92, e os requeridos Luciomar Araújo e Mundial Viagens e Turismo LTDA. se enquadrem na conduta tipificada no art. 9°, caput, da mesma lei, quais sejam:

“Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei. (...).”

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das

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entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...).

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente; (...).”

”Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; (...).

O agente público ou terceiro incide na prática de atos de improbidade administrativa, se houver agido com dolo ou culpa de natureza grave, por ação ou omissão, que impliquem no desrespeito aos princípios da administração pública e causam dano efetivo à coletividade.

A lei de improbidade administrativa (Lei n° 8.429/92) tutela o dever dos agentes públicos de velar pela observância dos princípios norteadores da administração pública no trato dos assuntos que lhe são afetos, conforme art. 4°, da referida lei:

“Art. 4° - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

No presente caso, o conteúdo probatório dos autos aponta que os requeridos André Prieto e Emanoel Rosa não agiram com transparência em relação aos processos que envolviam grandes somas de dinheiro, e mantiveram o seu trâmite dentro do gabinete do Defensor geral, afastando-os, assim, do setor competente e evitando qualquer fiscalização acerca dos pagamentos efetuados.

Em oitiva ao Ministério Público (fls. 637/639), o Sr. Walter de arruda Fortes, que à época era responsável pela execução orçamentária, contábil e financeira da Defensoria Pública do Estado, esclareceu que chegavam faturas de fretamento de aeronaves para pagamento, sem que houvesse conhecimento de qualquer viagem realizada ou pagamento de diárias. Também, afirmou que ao procurar o requerido Emanoel Rosa, para que fosse esclarecido acerca desses pagamentos, o mesmo teria sido orientado a ficar quieto e informado que esse assunto era sigiloso.

Em juízo, o então coordenador financeiro, Walter de Arruda Fortes, ratificou as informações prestadas ao Ministério Público, e acrescentou às fls. 1639/1643:

Depoimento de Walter de Arruda Fortes:

“Walter de Arruda Fortes: em todos os pagamentos tinha um trâmite legal. O que que era o tramite legal? Aquela função: entra no protocolo, vai pro setor administrativo, tem aquela analise... É precedida de várias formalidades administrativas, e não havia nesses pagamentos essa formalidade. Eu como coordenador financeiro devo ter comentado com alguém e isso criou ema certa... “alguma coisa está errada”.

Magistrada: Quando o senhor começou a fazer esses comentários logo em seguida o senhor foi exonerado? Walter de Arruda Fortes: fui exonerado!

(...).

Promotor de justiça: eu queria que o senhor fizesse a gentileza de esclarecer de forma um pouco mais detalhada de que forma que o senhor tomou conhecimento dessa irregularidade? Dessas situações que fugiam da normalidade?

Walter de Arruda Fortes: Eu sou contador a 30 anos, vim da auditoria geral do estado, então quando a gente vê algum documento que chega fora da norma da empresa a gente fica desconfiado.

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Walter de Arruda Fortes: o documento vinha direto do gabinete dele. Era só uma CI, a autorização pra pagar e a fatura, não tinha trâmite legal. E os pagamentos eram um atrás do outro...

(...).

Advogado de defesa: quando o defensor geral ou outros servidores da defensoria pública iam viajar era comum o senhor saber?

Walter de Arruda Fortes: logico! A primeira coisa que chega lá é o cara querendo diária... acho que em qualquer órgão que funciona o cara tem tantos dias pra pedir a diária. Então agenda a diária e automaticamente era depositada ela pro cara poder viajar. Se não, como que vai viajar? (...).”

Dessa forma, pelas provas produzidas nos autos, ficou comprovado que os requeridos agiram de forma que viola o dever de honestidade e transparência do serviço público, causando prejuízo ao erário.

A má-fé e dolo dos requeridos André Prieto e Emanoel Rosa ficaram demonstrados diante do fato de serem,

respectivamente, o Defensor Geral e o Chefe de Gabinete e, ambos eram os responsáveis pelo trâmite processual dos pagamentos feitos à empresa requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA.

E ainda, restou comprovada a má-fé e o dolo do requerido Luciomar Araújo Bastos pelo fato deste ter emitido faturas superfaturadas, visando o seu enriquecimento, bem como o de sua empresa, ora requerida, Mundial Viagens e Turismo LTDA.

Diante das provas acarreadas nos autos, não resta dúvida da ilicitude dos atos praticados pelos requeridos, pois estes causaram prejuízo ao erário e atentaram contra os princípios da Administração Pública.

Assinala-se que os elementos probatórios colhidos no decorrer do processo são suficientes para revelar a prática de conduta ilícita pelos requeridos, resultando na dilapidação do patrimônio público e, por consequência, amoldam-se ao disposto no art. 9°, caput, art. 10, caput e XII e art. 11, caput I, da lei n°8.429/92.

Nesse sentido:

“ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SERVIDOR PÚBLICO. CONTRATAÇÃO. IRREGULARIDADE. PRINCÍPIOS. OFENSA. DOLO GENÉRICO. CONFIGURAÇÃO. IMPROBIDADE.

RECONHECIMENTO. SENTENÇA. MANUTENÇÃO. I A teor do disposto no artigo 11 da Lei nº 8.249/92 constitui ato de improbidade qualquer ação ou omissão que viole os princípios que regem a Administração Pública. II O elemento subjetivo, necessário à configuração de improbidade administrativa censurada no referido dispositivo legal, é o dolo genérico de realizar conduta que atente contra os princípios da Administração Pública, sendo despiciendo perquirir acerca de

finalidades específicas do agente público. III O ato de improbidade que atenta contra os princípios da administração Pública dispensa a demonstração da ocorrência de dano ao erário ou o enriquecimento ilícito do agente. IV O provimento de cargo público sem prévio concurso ou processo seletivo simplificado, quando cabível, configura ato atentatório aos princípios da legalidade, impessoalidade e moralidade, que regem a Administração Pública, razão da manutenção da sentença que reconheceu a improbidade administrativa. RECURSO NÃO PROVIDO.”

(TJ-BA - APL: 00023912620048050113, Relator: HELOISA PINTO DE FREITAS VIEIRA GRADDI, QUARTA CAMARA CÍVEL, Data de Publicação: 01/09/2020).

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA. PAGAMENTO, PELA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE CAMAQUÃ DE SERVIÇO NÃO REALIZADO. CONSTRUÇÃO DE ABRIGOS EM PARADAS DE ÔNIBUS EM VIAS PÚBLICAS. ATO ÍMPROBO CARACTERIZADO. DANO AO ERÁRIO. ART. 10, II, DA LEI Nº 8.429/92. Age, infringindo disposições da Lei de Improbidade Administrativa, quem, sendo agente público ou não, induza ou concorra para a prática de ato tipificado como ímprobo administrativamente ou dele se beneficie sob qualquer forma ou modo, direta ou indiretamente. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ato, ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º, da Lei nº 8.429/92, notadamente permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie. Inteligência do disposto nos arts. 1º, 3º, 10º, II e 12º, II, da Lei nº 8.429/92. Ato ímprobo caracterizado pelo pagamento de serviço não realizado, consistente na construção de quatro abrigos em paradas de ônibus em vias públicas. Aplicação do critério da proporcionalidade e suficiência, observada a necessidade e

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pagamento de multa civil, ressarcimento dos danos impostos, suspensão dos direitos políticos que se impõem na forma Constitucional (quanto ao Prefeito) e proibição de contratar com o Poder Público (quanto à Empreiteira). Procedência dos pedidos levados a efeito nos autos de ação civil pública, diante da comprovada prática de ato ímprobo, que veio a causar dano ao erário. Apelo provido, por maioria.”

(TJ/RS. Apelação Cível Nº 70023817562, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Roberto Lofego Canibal, Julgado em 14/05/2008).

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PROPOSTA APENAS CONTRA PARTICULAR. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. AUSÊNCIA DE AGENTE PÚBLICO NO POLO PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO. PRECEDENTES. I - A abrangência do conceito de agente público estabelecido pela Lei de Improbidade Administrativa encontra-se em perfeita sintonia com o construído pela doutrina e jurisprudência, estando em conformidade com o art. 37 da Constituição da República. II - Nos termos da Lei n. 8.429/92, podem responder pela prática de ato de improbidade administrativa o agente público (arts. 1º e 2º), ou terceiro que induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta (art. 3º). III - A responsabilização pela prática de ato de improbidade pode alcançar terceiro ou particular, que não seja agente público, apenas em três hipóteses: a) quando tenha induzido o agente público a praticar o ato ímprobo; b) quando haja concorrido com o agente público para a prática do ato ímprobo; ou c) tenha se beneficiado com o ato ímprobo praticado pelo agente público. IV - Inviável a propositura de ação de improbidade administrativa contra o particular, sem a presença de um agente público no polo passivo, o que não impede eventual responsabilização penal ou ressarcimento ao Erário, pelas vias adequadas. Precedentes. V - Recurso especial improvido.”

(REsp 1.405.748/RJ, Rel. p/ Acórdão Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 21.5.2015).

Desta forma, restando definida a condenação dos requeridos pela prática de ato improbo, na modalidade prevista no art.9°, caput, art. 10, caput e XII e art. 11, caput e I, da Lei de Improbidade Administrativa, diante das provas produzidas nos autos, conclui-se que a responsabilização dos requeridos é medida inafastável, uma vez que a ilegalidade administrativa apontada demonstra a caracterização de lesão ao interesse público.

Desse modo, resta definir qual ou quais penalidades, entre as previstas na lei 8.429/92, são adequadas ao ato praticado pelos requeridos no presente caso, levando-se em consideração a gravidade de seus atos.

O requerido André Luiz Prieto, como comprovado nos autos, ao manter o trâmite dos processos que envolviam grandes somas de dinheiro dentro de seu gabinete, evitando o controle que deveria ser realizado pelos setores competentes, faltou com a transparência. Tal conduta causou dano ao erário e feriu os princípios da honestidade e legalidade, se enquadrando, assim, na conduta descrita nos artigos 10, caput e XII e art. 11, caput da lei nº 8.429/92.

O requerido Emanoel Rosa de Oliveira, como Chefe de Gabinete do Defensor Geral, agiu de forma concorrente com o requerido André Luiz Prieto e, ainda, o ajudou a manter o trâmite irregular dos referidos processos, se enquadrando, assim, na conduta descrita nos artigos 10, caput e XII e art. 11, caput da lei nº 8.429/92, pois causou dano ao erário e não agiu conforme os princípios da legalidade e honestidade.

Por fim, os requeridos Luciomar Araújo Bastos e Mundial Viagens e Turismo LTDA – ME agiram com dolo ao emitirem faturas superfaturadas, causando prejuízo ao erário e aos cofres públicos, pois receberam valores muito superiores ao que lhes seria devido pelos serviços prestados. Assim, se enquadram na conduta tipificada no art. 9, caput da lei nº 8.429/92. Nesse sentido, a jurisprudência:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ATO ÍMPROBO CONFIGURADO. USO DO CARGO PARA OBTENÇÃO DE VANTAGEM INDEVIDA A CIVIL, CORRÉU. CONTRADIÇÃO NO TOCANTE AO USO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE NA FIXAÇÃO DA PENALIDADE AO CIVIL. PARCIAL ACOLHIMENTO. Recurso 70081678856. Da leitura do recurso denota-se que a pretensão da parte embargante não é de sanar omissão no acórdão embargado, mas, sim, de rediscutir a matéria. Não havendo omissão, contradição ou obscuridade quanto aos pontos destacados pelo embargante, conforme exigido pelo art. 1.022 do CPC/2015, cumprem ser desacolhidos os mencionados embargos de declaração. Recurso 70081746380. Impõe-se afastar a alegação de omissão quanto à verificação dos fatos pelo acórdão embargado, tendo sido enfrentadas todas as questões atinentes à prova carreada nos autos, não cabendo à Corte, como acima destacado, enfrentar todos os

argumentos deduzidos no processo se não possuíam o condão de infirmar a conclusão adotada pelos julgadores. De outra feita, dispõe o parágrafo único do Art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa que, “na fixação das penas previstas nesta

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lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente”. A legislação prevê certa dosimetria da sanção, possibilitando ao julgador, observados os elementos fáticos, adequar, de forma exemplar, a reprimenda a ser aplicada ao agente ímprobo aos fins da norma sancionadora, baseado nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, podendo-se afirmar, à luz do art. 12 da Lei nº 8.429/92 e seu parágrafo único, que desatender aos mencionados princípios quando da fixação da sanção, poderia, inclusive, infirmar a sua legalidade. Caso em que presente a contradição e erro material no decisum, visto que, ao mesmo tempo em que se fundamenta na aplicação da

proporcionalidade e razoabilidade, as penas previstas no Art. 12, III, da lei de regência foram aplicadas cumulativamente. Assim, deve ocorrer a interpretação da Lei de Improbidade na estrita legalidade e na proporcionalidade, de modo a ajustar o conteúdo das sanções ao objeto das infrações correspondentes, o que já foi admitido, inclusive, em sede de embargos declaratórios perante o STJ (EDcl no REsp n.º 1.021.851-SP, relatora Ministra ELIANA CALMON, Segunda Turma, j. em 23.6.2009, DJe de 6.8.2009). Segundo doutrina sobre o assunto, “a sanção de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios somente pode ser imposta à pessoa jurídica de direito privado da qual o responsável seja sócio majoritário, mas que tenha algum vínculo com os fatos, sob pena de manifesta desproporção [...]. A sanção também não se aplica para vedar acesso aos serviços públicos essenciais [...]”. Dos fatos ímprobos ocorridos, nenhum deles teve direta ligação às atividades exercidas pela empresa da qual é sócio majoritário o ora embargante Roberto, ou foi praticado pela pessoa jurídica, não tendo ocorrido enriquecimento ilícito desta ou do particular, nem mesmo dano ao erário. Além disso, o próprio acórdão embargado destacou que não houve outro ato ímprobo atribuído ao demandado, não se tendo notícias de que assim agiu posteriormente. Dessa feita, deve-se ter cautela para que a decisão não acabe por produzir efeitos negativos diretos, inclusive podendo decretar sentença de morte à pessoa jurídica ou causar prejuízos a terceiros e à coletividade em geral, indo de encontro aos mais diferentes interesses sociais. Peculiaridades do caso em concreto que impõe afastar a condenação, pelo prazo de três anos, de proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário. Prequestionamento. Eventual matéria reivindicada pelos embargantes, a título de prequestionamento, com relação aos dispositivos legais que entendem aplicáveis ao caso em tela, independe de declaração expressa no presente decisório, na medida em que passam a integrá-lo, caso no Tribunal Superior haja posicionamento consolidado no sentido de que houve a ocorrência de quaisquer das hipóteses que justifiquem o manejo dos presentes embargos, possibilitando apreciação de plano, na forma do art. 1.025, caput, do CPC/2015. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Nº 70081678856 DESACOLHIDOS, À UNANIMIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO Nº 70081746380 PARCIALMENTE ACOLHIDOS, COM ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS INFRINGENTES, POR MAIORIA.”

(Embargos de Declaração Cível, Nº 70081746380, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Afif Jorge Simões Neto, Julgado em: 26-09-2019).

Diante do grau de seriedade dos atos praticados pelos requeridos, e atenta aos princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, levando-se em conta a extensão do dano causado, entendo que a adequação de algumas das sanções previstas no art. 12, I, II e III, da lei n° 8.429/92, será suficiente para reprovação e responsabilização dos requeridos. Assim, as sanções serão aplicadas de modo cumulativo.

Diante do exposto, considerando que os requeridos incorreram nas condutas previstas no art. 9°, caput, art. 10, XII e art. 11, I, da Lei de Improbidade Administrativa, julgo parcialmente procedentes os pedidos, em relação aos requeridos André Luiz Prieto, Emanoel Rosa de Oliveira, Mundial Viagens LTDA e Luciomar Araújo Bastos, os quais se sujeitarão as sanções previstas nos incisos I, II e III do art. 12, da Lei n° 8.426/92, da seguinte forma:

a) Ressarcimento do dano causado aos cofres públicos, de forma solidária, cujo valor à época foi de R$212.379,00 (duzentos e doze mil trezentos e setenta e nove reais), devendo ser acrescido juros de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária, pelo INPC, com incidência a partir do dano efetivo;

b) Pagamento de multa civil, no valor correspondente a 50% do valor do dano causado, acrescido de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária pelo INPC/IBGE, a partir da data da sentença.

Ainda, com relação a requerida Mundial Viagens e Turismo LTDA., condeno-a:

a) Proibição de contratar com o poder público ou receber incentivos fiscais, pelo prazo de cinco (05) anos.

Também, condeno os requeridos dos André Luiz Prieto e Emanoel Rosa de Oliveira: a) Perda da função pública;

(12)

b) Suspensão dos direitos políticos, pelo período de 05 (cinco) anos.

Condeno os requeridos ao pagamento das custas processuais a ser divididas pro rata.

No tocante aos honorários advocatícios, deixo de fixá-los, pois incabíveis em ação civil pública movida pelo Ministério Público, seja ele vencedor ou vencido.

Julgo, por consequência, extinto o presente feito, com julgamento do mérito, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil.

Transitada em julgado, expeça-se o necessário e, não havendo pendências, arquivem-se os autos, observadas as formalidades legais.

Publique-se. Intimem-se. Cumpra-se.

Cuiabá/MT, 03 de fevereiro de 2021.

Celia Regina Vidotti Juíza de Direito 17/09/2020

Concluso p/Despacho/Decisão

De: Vara Especializada Ação Civil Pública e Ação Popular Para: Gabinete Juiz de Direito II da Vara Esp. Ação Civil Pública e Ação Popular

16/09/2020

Certidão de Traslado de Documentos

Certifico e dou fé que, em cumprimento a determinação judicial trasladei para este feito o acórdão proferido nos autos de Exceção de Suspeição oposta por André Luis Prieto.

22/06/2020

Certidão de Publicação de Expediente

Certifico que o movimento "Certidão de conversão de tipo de tramitação (Hibrido)", de 09/06/2020, foi disponibilizado no DJE nº 10758, de 22/06/2020 e publicado no dia 23/06/2020, onde constam como patronos habilitados para receberem intimações: CÉLIO JOUBERT FÚRIO OAB:PROMOT.DE JUST., CLÓVIS DE ALMEIDA JUNIOR PROMOTOR OAB:PROMOTOR DE JUS, MAURO ZAQUE DE JESUS OAB:PROMOTOR JUSTIÇ, ROBERTO APARECIDO TURIM -PROMOTOR DE JUSTIÇA - OAB:, representando o polo ativo; e ALINNE SANTOS MALHADO - OAB:MT 15140-O, AMAZON SUBTIL RODRIGUES JUNIOR - OAB:9827, ANDRE LUIZ PRIETO - OAB:7360-B/ MT, GALIANA CAMPOS CASTRO OAB:8858, GUSTAVO ROBERTO CARMINATTI COELHO OAB:13586, INGRID DE SOUZA EICKHOFF OAB:10.216/MT, LUIZ ALBERTO DERZE VILLALBA CARNEIRO OAB:15.074/MT, RICARDO GOMES DA ALMEIDA -OAB:5.985/MT, representando o polo passivo.

19/06/2020

Certidão de Envio de Matéria para Imprensa

Certifico que remeti para publicação no DIÁRIO DA JUSTIÇA, DJE nº 10758, com previsão de disponibilização em 22/06/2020, o movimento "Certidão de conversão de tipo de tramitação (Hibrido)" de 09/06/2020, onde constam como patronos habilitados para receberem intimações: CÉLIO JOUBERT FÚRIO - OAB:PROMOT.DE JUST., CLÓVIS DE ALMEIDA JUNIOR - PROMOTOR - OAB:PROMOTOR DE JUS, MAURO ZAQUE DE JESUS - OAB:PROMOTOR JUSTIÇ, ROBERTO APARECIDO TURIM - PROMOTOR DE JUSTIÇA - OAB: representando o polo ativo; e ALINNE SANTOS MALHADO - OAB:MT 15140-O, AMAZON SUBTIL RODRIGUES JUNIOR - OAB:9827, ANDRE LUIZ PRIETO -

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