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Teoria dinâmica da inversão do ônus da prova no novo código de processo civil

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RUBIANE OLINHG SPENGLER KRÜGER

TEORIA DINÂMICA DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Ijuí (RS) 2016

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RUBIANE OLINHG SPENGLER KRÜGER

TEORIA DINÂMICA DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois é dEle que provêm a minha força. Dedico ainda ao meu esposo Felipe, aos meus Pais, Avós e Avôs, irmã, cunhado e a mais nova integrante, minha pequenina sobrinha, a todos que enfim, de alguma forma me auxiliaram durante os anos da minha caminhada acadêmica, a vitória não é minha, é nossa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço incondicionalmente a Deus, acima de tudo, pela vida, orientação, força e coragem em meio as dificuldades.

Agradeço a meu esposo, aos meus pais, irmã, avôs e avós, a todos os familiares que estiveram e estão ao meu lado me apoiando e investindo em minha formação.

Ao brilhante orientador MSc. Joaquim Henrique Gatto, por sua incansável dedicação e disponibilidade.

A todos que em que pese não nominados, estão em meu coração e sem dúvida, colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória da minha graduação.

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“Seja um administrador do seu tempo, ganhe dele a sua herança, viva nele os seus projetos e realize com Ele os seus sonhos, só não esqueça de incluir como recompensa, aqueles que você ama e os que amam você. Faça seu tempo valer a pena.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise acerca do instituto do ônus da prova. Para tanto, aborda o conceito de prova, relacionando-a com as diversas decisões tomadas em nosso dia a dia. Ademais, apresenta a existência de divergência entre os doutrinadores que buscam conceituar o objeto da prova, apresentando os seus variados posicionamentos. Busca ainda, traçar um conceito de ônus da prova e os princípios que o norteiam. Outrossim, apresenta a regra estática da repartição do ônus da prova no Código de Processo Civil de 1973 e suas exceções. E nesse contexto, após essa abordagem minuciosa acerca desses aspectos do ônus da prova, passa a explorar o ônus da prova no Novo Código de Processo Civil, foco principal do estudo. Assim tece algumas considerações gerais, e em seguida apresenta o paradigma proposto pelo Código de Processo Civil de 2015 quanto ao instituto, aos poderes instrutórios do juiz e a prova diabólica. Nessa perspectiva aponta a evolução do sistema processual, questionando por oportuno a sua aplicabilidade prática.

Palavras-Chaves: Direito Processual Civil. Novo Código de Processo Civil. Ônus da prova.

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ABSTRACT

This working monographic research is an analysis of the burden of proof institute. Therefore, it addresses the proof of concept, relating it to the various decisions in our daily lives. In addition, it shows the existence of disagreement among scholars who seek to conceptualize the test object, with its various positions. Search still make a concept of burden of proof and the principles that guide. Moreover, it shows the static rule of the allocation of the burden of proof in the Civil Procedure Code of 1973 and its exceptions. And in this context, after this thorough approach on these aspects of the burden of proof, it goes on to explore the burden of proof in the New Civil Procedure Code, the main focus of the study. Thus it makes some general considerations, and then presents the paradigm proposed by the Civil Procedure Code 2015 as the Institute, the instructive powers of the judge and the diabolical proof. In this perspective shows the evolution of the procedural system, questioning it appropriate to its practical applicability.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………...9

1 O ÔNUS DA PROVA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973...11

1.1 Conceito de prova...11

1.2 Objeto da prova...13

1.3 Ônus da prova...14

1.4 Princípios norteadores do ônus probatório...15

1.4.1 Princípio do contraditório...16

1.4.2 Princípio da isonomia...17

1.5 Repartição do ônus da prova no Código de Processo Civil de 1973...18

1.6 Possibilidades de inversão do ônus da prova no CPC de 1973...20

1.6.1 Convencional...20

1.6.2 Legal...21

1.6.3 Judicial...22

2 TEORIA DA DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA...25

2.1 Considerações gerais...25

2.2 A inversão do ônus da prova no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/15)...26

2.3 Os poderes do juiz...28

2.4 Da prova diabólica...30

CONCLUSÃO...32

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INTRODUÇÃO

Busca-se com este trabalho fazer um estudo aprofundado do instituto do ônus da prova, de modo que seja possível verificar como ele é abordado no Código de Processo Civil de 1973, bem como, analisar os aperfeiçoamentos feitos no Novo Código de Processo Civil quanto assunto, compreendendo quais as mudanças que vieram a ocorrer no texto legal.

Para tanto, objetivando uma melhor compreensão, inicialmente optou-se por apresentar uma abordagem teórica sobre prova, principalmente no que diz respeito ao seu conceito e objeto, elencando as divergências doutrinárias existentes quanto a este último.

Em seguida, apresenta-se outra abordagem teórica, explorando o conceito de ônus da prova e os princípios que norteiam o ônus probatório, tais como, contraditório e isonomia.

Após percorrer todos esses conceitos, foi possível expor e compreender o ônus da prova estático previsto no Código de Processo Civil de 1973, do mesmo modo que, as possibilidades de inversões.

Essas análises são de extrema valia para o desenvolvimento dos acadêmicos de Direito, dos juristas e estudiosos em geral, uma vez que dizem respeito a questões vivenciadas na prática.

Entretanto não é possível que o estudo encerre-se por aqui, uma vez que com a introdução do Novo Código de Processo Civil no ordenamento jurídico brasileiro, esse instituto sumamente importante sofreu algumas alterações.

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Nesse sentido, no segundo capítulo do estudo, retomou-se brevemente o ônus da prova no Código de Processo Civil de 1973 em paralelo com o Código de Processo Civil de 2015, apresentando algumas diferenças e considerações gerais.

Em sequência, passa a indicar o ônus da prova no Novo Código de Processo Civil e o seu paradigma de cooperação. E nesse sentido, listam-se algumas críticas negativas lançadas pelos doutrinadores quanto a essa “nova” regra, ao passo que, também apresentam-se os aspectos positivos.

Outrossim, em ato subsequente denota-se a ampliação do poder instrutório concedido ao juiz no novo CPC (2015), surgindo nesse contexto a reflexão no sentido de que, será que o poder judiciário está realmente preparado para tamanha ampliação de suas responsabilidades? Finda-se o estudo com a explicação do que se trata a denominada prova diabólica.

Por fim, cabe ressaltar que o principal motivo deste estudo, encontra-se no fato de poder propiciar ao leitor, notadamente aos operadores do Direito, as novas diretrizes traçadas pelo Novo Código de Processo Civil no que diz respeito ao ônus da prova, de modo que seja possível ter uma compreensão segura desse instituto.

E será, ainda, a oportunidade de aprofundar-se nesse instituto que é tão importante para o ordenamento jurídico brasileiro (principalmente para a prática jurídica), e ao mesmo tempo preparar os juristas para as mudanças que este instituto provocará (positivas ou não) a partir da vigência do novo Código de Processo Civil.

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1 O ÔNUS DA PROVA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973

No presente capítulo, buscar-se-á discorrer acerca do conceito de prova, bem como, apresentar-se-á a discussão existente sobre o objeto da mesma, ou seja, o que os doutrinadores entendem por objeto da prova.

Ademais, para alcançar de maneira exitosa o objetivo acerca do estudo, analisar-se-á o ônus da prova, seu conceito e significado. Da mesma forma, observar-se-ão os princípios que norteiam o ônus da prova tais como: princípio do contraditório e o princípio da isonomia.

Finalmente, como fechamento do capítulo será apresentada a regra estática de repartição do ônus da prova, prevista do artigo 333 do Código de Processo Civil de 1973 e, a possibilidade de inversão do ônus da prova, de maneira convencional, legal e judicial.

1.1 Conceito de prova

Antes de dedicarmos nossa atenção ao ônus da prova, se faz necessário, para um melhor entendimento e desenvolvimento lógico do estudo, analisar o que se acredita ser a prova no meio jurídico.

Preliminarmente, de maneira geral, o vocábulo prova, provém do Latim probatio, que quer dizer verificação, exame, inspeção.

Nesse sentido, no nosso dia a dia, as mais diversificadas decisões humanas são frutos de um convencimento. Conforme lembram Didier Jr., Braga e Oliveira (2012, p. 17),

qualquer decisão humana, qualquer que seja o ambiente em que tenha sido proferida (em um baile de carnaval, em um shopping center ou em um processo jurisdicional), é resultado de um convencimento produzido a partir do exame de diversas circunstâncias (de fato ou não); é baseada em diversos elementos de prova.

É isso também que nos adverte Luiz Marinoni e Sérgio Arenhart (2009, p. 55), “[...] impõe-se lembrar que o conceito de prova não é nem pode ser encontrado exclusivamente no campo do Direito. Ao contrário, trata-se de noção comum a todos os ramos da ciência, como elemento para validação dos processos empíricos.”

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Mas é no processo jurisdicional que a prova adquire um sentido especial. Isso porque, toda aspiração tem um ponto de fato como fundamento, e extraindo desse fato os seus fundamentos jurídicos é que o autor formula o seu pedido que será analisado pelo juiz na sentença.

Entretanto, meras alegações, ou afirmações de fatos para o juiz são insuficientes, pois elas podem ser verdadeiras ou não. O que se impõe, então, é a demonstração da veracidade ou não dessas alegações, ou ainda da existência ou inexistência desses fatos. Logo, existe a necessidade de provas.

Nesse sentido, assevera Cassio Scapinella Bueno (2011, p. 269):

“prova” é palavra que deve ser compreendida para os fins que aqui interessam como tudo o que puder influenciar, de alguma maneira, na formação da convicção do magistrado pra decidir de uma forma ou de outra, no todo ou em parte, ou rejeitando o pedido do autor e os eventuais demais pedidos de pretensão da tutela jurisdicional que lhe são submetidos para julgamento.

Ou seja, prova é tudo aquilo que possa influenciar na formação da decisão do juiz, sendo que a partir delas ele decidirá de uma forma ou de outra.

Noutras palavras, mas sob essa perspectiva, Luiz Marinoni e Sérgio Arenhart (2009, p. 57), entendem que:

a prova, em direito processual, é todo meio retórico, regulado pela lei, e dirigido, dentro dos parâmetros fixados pelo direito e de critérios racionais, a convencer o Estado – Juiz da validade das proposições, objeto de impugnação, feitas no processo.

De forma exemplificativa, pode-se dizer que, se em um determinado processo há a pretensão de convencer o juiz da propriedade de determinado imóvel, traz-se ao processo o contrato de compra e venda desse imóvel, e esse contrato é considerado uma prova.

Cabe destacar que o estudo da prova pode ser realizado sob dois pontos diversos, que são divididos por João Batista Lopes (2002, p. 26) em “objetivo e subjetivos”.

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E sobre a ótica objetiva, Lopes (2002, p. 26) informa que se trata de “conjunto de meio produtores da certeza jurídica ou o conjunto de meio utilizados para demonstrar a existência dos fatos relevantes para o processo.”

Já a ótica subjetiva, Lopes (2002, p. 26) caracteriza ser “a própria convicção que se forma no espírito do julgador a respeito da existência ou inexistência de fatos alegados no processo.”

Ou seja, de maneira simplória pode-se afirmar que o objetivo é o conjunto de meios utilizados, enquanto a convicção do juiz é o subjetivo.

Diante dessa análise, é possível resumir que para se ter como verdadeiro um fato, esse necessita de prova, que nada mais é, que a demonstração da veracidade dos fatos e/ou afirmações, os quais influenciarão no convencimento do magistrado.

1.2 Objeto da prova

Quanto ao objeto da prova, ou seja, sobre o que a prova deve recair, os doutrinadores brasileiros possuem opiniões divergentes. E apesar de o presente estudo não ter o intuito de realizar longas discussões sobre o assunto, a título de melhor esclarecimento e desenvolvimento do estudo serão apresentadas as posições diversificadas.

Para doutrinadores como Cassio Scarpinella (2011) e Moacyr Amaral Santos (2011), de maneira geral o objeto da prova recai sobre fatos, de modo que, se devidamente reconhecido o fato, este dá ensejo ao acolhimento ou à rejeição do pleito da tutela jurisdicional.

Apesar disso, para Moacyr Amaral Santos (2011) “não raramente, entretanto, surge a necessidade de prova não de um fato, mas do direito. Tal acontece quando a parte invoca direito estadual, municipal, estrangeiro ou consuetudinário.” Ou seja, para ele, a regra é provar fatos, mas excepcionalmente prova-se também direito.

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De outro modo, para Didier Jr; Braga e Oliveira (2012) é equivocado afirmar que o objeto da prova recai sobre fatos, pois para ele o objeto da prova recai sobre demonstrar que uma alegação é boa, correta e portanto, condizente com a verdade.

Isso porque, para Didier Jr; Braga e Oliveira (2012, p. 44)

o fato existe ou inexiste, aconteceu ou não aconteceu, sendo portanto insuscetível dessas adjetivações ou qualificações. As alegações, sim, é o que podem ser verazes ou mentirosas – e daí a pertinência de prova-las, ou seja, demonstrar que são boas e verazes

Assim, é possível verificar que a doutrina diverge quando tenta definir o objeto da prova, isso porque, alguns afirmam serem os fatos, outros, além dos fatos também o direito, e ainda, há os que creem ser objeto da prova as alegações.

1.3 Ônus da prova

Por prova num sentido comum, conforme já referido, se entende a demonstração da verdade de um fato e/ou alegação. Outrossim, pela palavra ônus, derivada do latim ônus, se entende por carga, fardo, peso.

O conceito de ônus foi objeto de calorosos debates entre os mais diversos estudiosos, sendo que a conclusão que se chegou é que ônus não se trata de uma obrigação, mas sim de um encargo atribuído à parte.

Isso porque, conforme lembra Haroldo Lourenço (2015), obrigação abrange a necessidade de, por exemplo, pagar uma dívida. Desse modo, como se percebe, com o cumprimento da obrigação ocorreu a satisfação do interesse de pessoa distinta do obrigado.

Enquanto por encargo atribuído à parte, se entende que é a subordinação de interesse próprio a outro interesse próprio, ou seja, se trata do interesse da própria parte em relação a si mesma, pois se vier a cumprir o ônus, o benefício será revertido a si mesmo.

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Nesse sentido, resume Lopes (2002, p. 38) que, “entende-se por ônus a subordinação de um interesse próprio a outro interesse próprio; obrigação é a subordinação de um interesse próprio a outro, alheio.”

Por oportuno, para aclarar ainda mais a ideia do ônus Haroldo (2015, p. 29), lembra que,

o ônus da prova indica que a parte que não produzir se sujeitará ao risco de um resultado desfavorável. Provar não é um dever jurídico. No caso do dever e da obrigação não há uma sujeição jurídica, sim uma ordem, que descumprida importará em sanções. O ônus, por outro lado, traz apenas possíveis prejuízos a quem tem o ônus e não o faz.

Além do mais, cabe destacar que, quando o sujeito deixa de cumprir com seu ônus de provar determinado fato e/ou alegação, ele não está sujeito automaticamente a um julgamento contrário ao seu interesse, haja vista que o juiz levará em consideração todos os documentos acostados aos autos, mas o risco de isso vir a acontecer terá se aproximado.

Nesse sentido, o ônus da prova é tido como de grande importância para o desenvolvimento do processo, sendo considerado por alguns doutrinadores como Artur Carpes (2010), a “espinha dorsal do processo civil”.

Assim, como desfecho deste ponto, é possível concluir que o ônus da prova possui um papel determinante para o desenvolvimento do processo, pois além de contribuir para o deslinde do feito, também é a forma de as partes darem suporte às afirmações, deixando de serem, meras alegações infundadas.

1.4 Princípios norteadores do ônus probatório

O ônus da prova é envolto por diversos princípios, sejam eles Constitucionais ou oriundos de lei infraconstitucional. A seguir serão analisados com mais afinco aqueles considerados primordiais.

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1.4.1 Princípio do contraditório

O princípio do contraditório é uma proteção para pessoas físicas e jurídicas, e está previsto expressamente na Constituição Federal de 1988 em seu inciso LV, com a seguinte redação: “Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”

Assim, o contraditório deve ser assegurado a todos os litigantes, seja autor, seja réu, seja processo judicial, seja mero processo administrativo.

Ele consiste basicamente do direito de manifestação, pois é considerado pelo direito brasileiro

uma atividade dialogal ampla dentro do processo. O contraditório não se implementa com a oitiva da parte contrária simplesmente (aspecto formal), exige-se a participação, com a possibilidade de influenciar no conteúdo decisório (aspecto material). (LOURENÇO, 2015, p. 66)

Acredita-se que o contraditório vai além da mera intimação da parte contrária nos autos do processo (aspecto formal), pois, além disso, o contraditório deve ser capaz de abrir à parte adversa a possibilidade de influenciar na construção do provimento jurisdicional, ou melhor, da sentença (aspecto material).

Ademais, ele é considerado indispensável ao processo, e sua ausência pode vir a torná-lo completamente inviabilizado e injusto. Segundo doutrinadores como Haroldo Lourenço (2015), o contraditório é tido como parte integrante do conceito de processo, como “mola” propulsora da relação.

Assim, não pode uma das partes sofrer uma punição sem que tenha sido proporcionada a possibilidade de defender-se, de apresentar a sua “versão da história”, de modo que, não pode ser realizada a condenação sem que a parte tenha tido a oportunidade de defesa.

Por fim, ressalta-se que, como melhor será analisado adiante, no Novo Código de Processo Civil foi adotada a Teoria Dinâmica da Distribuição do Ônus da Prova (art. 373, §

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1º, do CPC/2015), segundo a qual, analisando o caso concreto será facultado ao juiz, por meio de decisão fundamentada, distribuir de modo diverso o ônus da prova, caso em que deverá ser oportunizada à parte a possibilidade de desincumbir do ônus que lhe fora atribuído (presença do princípio do contraditório).

1.4.2 Princípio da isonomia

O princípio da isonomia também é tido como direito fundamental, previsto na Constituição Federal em seu artigo 5º, ao dispor que, “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.”

Ademais, encontrava previsão no Código de Processo Civil de 1973, no artigo 125, inciso I, que prescreve o seguinte: “Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, competindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; [...]”

E não é demais lembrar e esclarecer, que tal princípio foi mantido pelo Novo Código de Processo Civil (2015), haja vista que a sua redação do artigo supra permaneceu intacta, inalterada, mudando-se apenas o número do artigo, que agora passou a ser o artigo 139, I do CPC/2015.

Do que se depreende da leitura desses artigos é que deve buscar-se a igualdade, mas não uma igualdade pura e simples, isso porque a igualdade pode ser dividida em duas, a formal e a substancial/material.

Sobre o assunto Artur Carpes (2010, p. 80) lembra que:

Na igualdade formal há a aplicação uniforme da lei, sem qualquer distinção, pressupondo a uniformidade da sua aplicação. [...] Na igualdade substancial, por outro lado, há a consideração das particularidades entre os sujeitos que são comparados, que os diferencia à luz de uma finalidade. Considerando que tais particularidades configuram, substancialmente, desigualdades, procura-se, mediante a consideração de tais particularidades in concreto, ajustar uma relação isonômica em prol de determinado fim.

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Assim, a aplicação do princípio da isonomia pode ser resumida na máxima: "tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades", objetivando o equilibrio entre todos.

Relacionando o princípio com o instituto do ônus da prova, é possível concluir que, quando o juiz analisa o caso concreto e fundamentadamente indica a parte que tem melhores condições de produzir determinada prova, fato esse autorizado e legislado no Novo Código de Processo Civil, está fazendo nada mais que aplicar o princípio da isonomia.

1.5 Repartição do ônus da prova no Código de Processo Civil de 1973

Antes de apresentar o ônus da Prova no atual CPC (2015) previsto no artigo 373, para que seja possível compreender suas alterações é imprescindível a explicação de como ele estava estabelecido no CPC de 1973.

No Código de Processo Civil de 1973, o ônus de provar estava determinado em um único dispositivo, que era o artigo 333 do CPC/1973 do qual se lê, em seu inciso I, que o “autor deve provar o fato constitutivo do seu direito”.

Por fato constitutivo Alexandre Freitas Câmara (2009, p. 378) entende ser

Aquele que deu origem à relação jurídica deduzida em juízo (res in iudicium deducta). Exemplificando: numa demanda em que se pretenda a condenação do réu ao pagamento de dívida decorrente de contrato de mútuo, este contrato é o fato constitutivo do direito do autor, e a este incumbe o ônus de prova-lo.

Nesse sentido, de maneira resumida, o fato constitutivo do direito do autor é considerado o suporte da tutela jurisdicional por ele pretendida.

Já o inciso II do artigo 333 do CPC/73, determinava que ao réu cabia provar os “fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor”, que consistem nos fatos novos que o réu pode alegar em sua defesa.

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Sobre fatos impeditivos, Alexandre Freitas Câmara (2009, p. 379), explica ser

um fato de conteúdo negativo, a ausência de algum dos requisitos genéricos de validade do ato jurídico (agente capaz, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei). Assim, incumbe ao réu demonstrar ao juiz que, e.g., o agente era menor de dezoito anos – e, por conseguinte, relativamente incapaz -, ou que o contrato de depósito foi celebrado oralmente.

Por outro lado, quanto ao fato extintivo, Alexandre Freitas Câmara (2009, p. 378) lembra que “[...] é aquele que põe fim à relação jurídica deduzida no processo, como, e.g., o pagamento.”

Finalmente, pelo fato extintivo, Didier Jr., Braga e Oliveira (2012, p. 81) enfatizam ser “[...] aquele que retira a eficácia do fato constitutivo, fulminando o direito do autor e a pretensão de vê-lo satisfeito – tal como o pagamento, a compensação, [...] a decadência legal.”

Trata-se da regra estática do artigo 333 do CPC/73, que por muito tempo foi alvo de críticas pelos doutrinadores e operadores do direito. Isso porque, segundo Haroldo Lourenço (2015, p. 76) essa regra transparece a ideia de que, “[...] o intérprete deveria observar somente a posição da parte em juízo, ou seja, se autor e réu e a espécie de fato (constitutivo, impeditivo etc.), mais nada, não sendo analisado se tal circunstância prejudicaria ou não o acesso à justiça.”

De mais a mais, Francisco Emilio Baleotti (2014, p. 18), também vem nos advertir nesse sentido, lembrando que a regra estática do ônus da prova do Código de Processo Civil de 1973

pode sim configurar-se em sério obstáculo ao acesso à justiça, pois, ao não se relativizar a regra estática de sua distribuição, posta em lei, as partes, em face de sua impotência de ordem social, econômica e mesmo técnica, podem ver-se privadas da tutela jurisdicional merecida por mera questão de "inexistência de prova" suficiente a embasar um decreto de mérito que lhes seja favorável.

E é nessa mesma linha de pensamento e argumento que segue a posição de Didier Jr., Braga e Oliveira (2012, p. 95), onde afirmam que: “é por isso que se diz que a distribuição rígida do ônus de prova atrofia nosso sistema, e sua aplicação inflexível pode conduzir a julgamentos injustos.”

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Assim, pelo que afirmam os doutrinadores, podemos perceber que a regra estática prevista no antigo CPC de 1973 não estava em consonância com o mundo dinamizado que é apresentado no meio jurídico. E como tal ela vinha sendo demasiadamente criticada pelos doutrinadores, os quais acreditavam que a regra estática poderia acarretar julgamentos injustos.

Por fim, cabe referir que com o desenvolvimento da doutrina, passou-se a admitir no direito brasileiro a inversão do ônus da prova em três casos específicos, listados por Haroldo Lourenço (2015, p. 76) como inversão: “[...] convencional, a legal e a judicial.”, as quais a seguir serão analisadas de maneira mais profundada.

1.6 Possibilidades de inversão do ônus da prova no CPC de 1973

Conforme já referido, existem algumas possiblidades de inversão do ônus da prova, a saber: a inversão convencional, legal e judicial, conforme se demonstrará a seguir.

1.6.1 Convencional

A inversão convencional do ônus da prova era operada quando as próprias partes convencionavam sobre quem iria realizar a prova, é o ônus assumido pelas partes em um determinado contrato, por exemplo.

Tal possibilidade de inversão, entretanto, encontrava limite no que está previsto no artigo 333, parágrafo único do Código de Processo Civil de 1973, que determinava o seguinte:

CPC/73. Art. 333. O ônus da prova incumbe: [...]

Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando:

I - recair sobre direito indisponível da parte;

II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.

Nesse sentido, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2009, p. 199), nos esclarecem que “se apenas nestas situações é proibida a convenção que distribua de forma diversa o ônus da prova entre as partes, em todas as demais ele é admitida [...]”

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De mais a mais, Luiz e Sérgio (2009, p. 200) também nos lembra que:

[...] em relação à forma da modificação convencional, a lei não impõe modo determinado. Admite-se que essa modificação seja veiculada por qualquer forma. Poderá essa convenção ser realizada dentro do processo ou fora dele; poderá constar de contrato, como cláusula específica [...], ou poderá ser objeto de pacto específico; poderá versar sobre várias afirmações de fato ou de apenas sobre alguns pontos do processo. Não há, enfim, limite formal para tal convenção.

Assim, a inversão do ônus da prova pelas próprias partes no Código de Processo Civil de 1973 era admitida mediante convenção, mas tal distribuição de maneira diversa não poderia recair sobre direito indisponível da parte, ou ainda, tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito, sob pena, de tornar nula tal convenção.

1.6.2 Legal

A inversão legal é aquela que a própria lei determina, independentemente do caso concreto e da atuação do Juiz. Assim, é aquela que, numa dada situação, a inversão se opera automaticamente de forma diferente do regramento comum estático, previsto no Código de Processo Civil de 1973, no artigo 333, o qual foi abordado de forma minunciosa no item 1.5 deste estudo.

Exemplo de tal inversão está previsto no artigo 38 do Código do Consumidor, vejamos, “Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.”

A própria lei determinou que quando se trata de provar a veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária, o ônus é de quem as patrocina, ou seja, independe do caso e não há a atuação do juiz.

Sobre essa inversão Didier Jr.; Braga e Oliveira (2012, p. 82) apresentam crítica no sentido de que,

visível é que não há aí qualquer inversão, mas tão somente uma exceção normativa à regra genérica do ônus da prova. É, pois, igualmente, uma norma que trata do ônus da prova, porquanto o regule abstratamente, excepcionando a regra contida no artigo 333 do Código de Processo Civil.

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Ou seja, para Didier Jr.; Braga e Oliveira (2012), a inversão legal nada mais é do que mais uma regra sobre ônus da prova, sendo apenas uma regra diversa da prevista no Código de 1973, pois não se opera uma inversão.

Nesse cenário, pode-se afirmar que a inversão legal é aquela que está prevista na lei, e que não deixa margem para interpretação ou aplicação diversa da que nela está elencada, o que para alguns doutrinadores acaba não sendo uma inversão propriamente dita, tratando-se tão somente de mais uma regra sobre ônus da prova.

1.6.3 Judicial

Por último, mas não menos importante, temos a inversão dita como “judicial”, que o próprio nome nos revela ser aquela feita pelo próprio juiz, observado o bom senso e os limites legais, bem como analisando o amadurecimento da causa.

Essa inversão judicial é tida por Didier Jr., Braga e Oliveira (2012, p. 83-84) como a verdadeira inversão, pois “abre a oportunidade para que o magistrado, no caso concreto, constatando a presença dos requisitos exigíveis para tanto, o inverta.”

Como exemplo pode-se citar o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor, que a seguir passamos a transcrever:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Desse modo, depreende-se do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor que o magistrado poderá inverter o ônus da prova nos litígios de relação de consumo em duas hipóteses, quais sejam: a) quando for verossímil a alegação; b) quando o consumidor for hipossuficiente.

Nessa senda, alegação verossímil é aquela que aparentemente é verdadeira, de modo que, “com base nas regras de experiência, o magistrado deve presumi-las verdadeiras

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(presunção iuris tantum), para, redistribuindo o onus probandi, impor ao fornecedor o encargo de prova contrária.” (DIDIER JR., BRAGA, OLIVEIRA 2012, p. 84)

Já quanto ao quesito consumidor hipossuficiente, Didier Jr.; Braga e Oliveira (2012, p.84-85) enfatizam que

verificado o juiz que o consumidor se encontra em situação de fragilidade e hipossuficiência probatória – sem dispor de condições materiais, técnicas, sociais ou financeiras de produzir prova do quanto alegado -, deve supor serem suas alegações verdadeiras, determinando que a contraparte atente para o encargo da prova contrária.

Em ambos os casos acima referidos, a inversão sempre será a critério do juiz, havendo nesse sentido, “inquestionavelmente, uma carga de subjetividade nesses conceitos, mas é claro que o juiz não poderá afastar-se da razoabilidade, do bom senso e das regras de experiência” (JOÃO BATISTA LOPES, 2002, p. 50), conforme frisa a parte final do artigo 6, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor.

Para corroborar, segue abaixo decisão do Egrégio Tribunal do Estado do Rio Grande do Sul, que estampa a inversão judicial:

Ementa: AGRAVO INTERNO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. AÇÃO DE COBRANÇA. RELAÇÃO DO CONSUMO CONFIGURADA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Inversão do ônus da prova. Previdência Privada. Cabimento. A

viabilidade da inversão do ônus probatório fica a critério do juiz, o qual deverá analisar a verossimilhança da alegação do consumidor ou a situação de hipossuficiência, segundo as regras ordinárias de experiências. Presença dos

requisitos precitados no caso em exame, Observância do disposto no artigo 6º, inciso VIII, da Lei n.º 8078/90. Negado provimento ao agravo interno. (RIO GRANDE DO SUL, 2015, grifo nosso).

Outro aspecto importantíssimo a ser tratado acerca do tema, é sobre em que momento a regra de inversão deve ser aplicada: até o saneamento ou na sentença?

Sobre esse aspecto a doutrina encontra-se dividida. Para doutrinadores como João Batista Lopes (2002, p. 51), “o ônus da prova constitui regra de julgamento e, como tal, se reveste de relevância apenas no momento da sentença, quando não houve prova do fato ou for ele insuficiente.”

(24)

A contrário sensu, Didier Jr.,Braga e Oliveira (2012, p. 85) frisam que

[...] a regra de inversão do ônus da prova é regra de processo, que autoriza o desvio de rota; não se trata de regra de julgamento, como a que distribui o ônus da prova. Assim, deve o magistrado anunciar a inversão antes de sentenciar e em tempo do sujeito onerado se desincumbir do encargo probatório, não se justificando o posicionamento que defende a possibilidade de a inversão se dar no momento do julgamento.

Sem pormenores, apenas se esclarece a existência dessa divergência, de modo que alguns doutrinadores acreditam ser a inversão do ônus da prova, regra de julgamento, devendo operar-se somente na sentença e para outros, a inversão é regra de processo, sendo que ela deve ser operada no momento que a parte que assumiu o encargo possa dele desincumbir-se.

Diante de todo o exposto, a inversão judicial é aquela que não se opera de forma automática, mas sim a critério do juiz, que deverá analisar o caso concreto para os fins de determinar sua viabilidade.

(25)

2 TEORIA DA DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA

Neste capítulo, de plano retoma-se brevemente o ônus da prova do Código de Processo Civil de 1973 em paralelo com o Código de Processo Civil de 2015, apresentando algumas diferenças que foram introduzidas, as quais posteriormente serão analisadas com mais vagar e em tópicos específicos.

Adentrando na questão propriamente dita, apresenta-se o ônus da prova no Novo Código de Processo Civil e suas principais mudanças. Em ato contínuo analisa-se o poder instrutório do juiz no sistema apresentado pelo CPC/15 e indagando sobre sua aplicação prática. Por fim, verifica-se do que se trata a prova diabólica.

2.1 Considerações gerais

Pelo já narrado nos tópicos acima, conclui-se que a distribuição do ônus da prova no Código de Processo Civil de 1973 possui uma regra estática, e que em casos específicos ela é excepcionada possibilitando a inversão convencional, legal e judicial, além da jurisprudência estar aceitando a inversão em determinados casos. Isso porque, segundo José Antônio Ocampo Bernárdez (2006, p. 70):

O tema já vem sendo explorado por alguns tribunais do País [...]. E, assim ocorre, porque os magistrados em sua árdua missão de julgar, perceberam que nem sempre podem se pautar por regras estáticas, fixas, quando o próprio direito é dinâmico, e as provas também precisam ser assim reconhecidas.

Nesse sentido, Lourenço (2015) acredita que essa regra estática representa nada mais que doutrina seguida na época da criação do CPC/73, em que o legislador não se ateve em ver o direito à prova como direito fundamental, fato esse justificado em razão de que esta ideia veio construída posteriormente com o advento da Constituição Federal.

Assim, com o advento a edição da CF/88 o contraditório e o acesso à justiça são considerados direitos fundamentais, fazendo com que a intepretação do ônus da prova não possa se dar de forma embrionária, ou melhor, não possa dar-se como na década de 70.

(26)

Diante dessa realidade, no dia 17 de dezembro de 2014, foi finalizada a votação acerca do Novo Código de Processo Civil, e após a sanção presidencial adentrou-se no período de vacância equivalente a um ano para adaptação e diluição de seu conteúdo pelos cidadãos.

Quanto ao assunto objeto da pesquisa, o NCPC introduz no texto legal a carga dinâmica da prova, que, segundo o advogado Eduardo Arnon Eloy Mendonça da Cruz (s.d, s.p):

Trata-se de instituto que tem o condão de legitimar a construção jurisprudencial acerca deste tema, ou seja, a carga dinâmica da prova não é exatamente uma novidade, visto que já era reconhecida em diversas decisões judiciais, mas com a inserção no Novo Código a legitimidade deste instituto se torna incontestável.

O novo código passou a legislar a carga dinâmica da prova, matéria essa que já era admitida pela jurisprudência dos Tribunais em alguns casos, mas que agora passa a ser indiscutível.

Outrossim, o NCPC apresenta também a ideia de que as partes devem cooperar entre si, o que é verdadeiramente utópico podendo até mesmo causar embaraços. Mas apresenta também a ideia de cooperação do magistrado dando-lhe uma maior liberdade instrutória.

Nesse sentido Lourenço (2015, p. 121) afirma que: “A participação cooperativa, realmente mostra-se essencial. O interesse das partes é vencer a demanda, diferente do magistrado que é parcial, contudo, sem ser neutro.”

Nos próximos tópicos analisaremos essas características do Novo Código de Processo Civil com mais vagar.

2.2 A inversão do ônus da prova no Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/15)

Com o advento no Novo Código de Processo Civil, o artigo 333 do CPC/73 passou a ter nova redação, artigo este que consagrava a regra estática do ônus da prova, observe-se:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

(27)

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

§ 2º A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

Do teor deste dispositivo, percebe-se que permanece estabelecida a regra de que o autor deve provar o fato constitutivo de seu direito, ao passo que o réu deve provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Entretanto, a grande diferença está no sentido que essa regra é não mais absoluta, ou seja, ela pode ser alterada pelo magistrado na medida em que pelo amadurecimento da causa, ele entender conveniente.

E, conforme afirma Lourenço (2015, p.122), “a regra é a distribuição legal e prévia do ônus da prova. A dinamização excepcional (art. 373, §1º, do CPC/2015), dependendo de decisão judicial, de ofício ou a requerimento.”

Assim, a regra continua a ser a mesma do CPC de 1973 adotando a antiga teoria de Carnelutti e Chiovenda, mas agora, há a possibilidade de alterar-se a regra tornando-a moldável ao caso concreto.

Lourenço (2015, p.122) informa que há doutrinadores que não ficaram satisfeitos com a manutenção dessa regra, para os quais:

A manutenção da regra sobre distribuição do ônus da prova já foi objeto de críticas pela doutrina especializada, pois o legislador não deveria partir de uma atribuição inicial, pelo contrário, deveria partir do pressuposto de que o ônus da prova deve ser desempenhado por aquela parte que, à vista do caso concreto, tem melhores condições de provar.

Entretanto, o próprio doutrinador Lourenço (2015, p.122) apresenta crítica a esse posicionamento pessimista enfatizando que

Não concordamos com tal pensamento, as regras de distribuição sobre o ônus da prova são necessárias, ou seja, quem alega um determinado fato tem melhores condições de provar, contudo, tal regra não pode ser absoluta, tampouco estática, eis que a parte contrária a que alegou pode ter melhores condições de provar.

(28)

Assim, alguns doutrinadores acreditam que deveria inexistir a regra pré estabelecida de que “autor prova isso, réu prova aquilo”, já outros entendem ser necessária a existência dessa regra, contudo ela não deve ser estática, mas sim dinâmica assim como o processo é.

Deve ser ressaltado que se, no decorrer do curso do processo houver “uma modificação de fato ou de direito relevante para o julgamento da causa, poderá o juiz rever a distribuição da ônus da prova [...]” (LOURENÇO, 2015, p. 124) anteriormente fixada.

Ademais, a decisão que dinamiza o ônus provatório é atacável por agravo de instrumento (art. 1.015, XI, CPC/151), ao passo que a decisão que não distribui o ônus é irrecorrível de imediato, de tal modo que a parte interessada deverá impugnar a decisão em sede de apelação ou contrarrazões (art. 1.009, §1º, CPC/152).

Por fim, convém registrar que Lourenço (2015), lembra que o CPC/15 passa a exigir mais do poder Judiciário, e para que a proposta nele apresentada não fracasse é imprescindível uma boa e correta compreensão da teoria, o que ainda não será suficiente se o profissional do direito não for reeducado, e se o judiciário não gozar de melhor estrutura física.

2.3 Os poderes do juiz

Conforme já referido, o NCPC introduziu uma nova redação ao artigo que estabelece o ônus da prova no processo, vale ressaltar ainda que, foram acrescidos o §1º e o §2º que são de grande importância, senão vejamos:

[...]

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do

1

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

[...]

XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;

2 Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.

§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

(29)

caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

§ 2º A decisão prevista no § 1o deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil.

Nessa linha, objetiva-se nesse tópico dar uma atenção especial para esses parágrafos, nos quais é possível constatar foi concedida ao juiz a possibilidade de inversão da regra estática do ônus da prova.

Tal inversão poderá ser determinada, observados alguns pressupostos, tais como: a) caso haja excessiva dificuldade para cumprir o encargo, somada com maior facilidade da parte adversa; b) essa distribuição não pode gerar prova diabólica (prova extremamente difícil) para a outra parte; c) a decisão de dinamização deve ser fundamentada, indicando que fatos terão os encargos probatórios alterados e permitir à parte a desincumbência desse ônus.

Lourenço (2015) entende que tal mudança atende ao paradigma cooperativo do processo civil, bem como ao modelo de Estado Constitucional. Isso porque,

observe-se que tal dispositivo permite que se extraia toda a potencialidade para a justa solução do caso concreto, afastando normas frias e estáticas, construindo o Direito em conformidade com suas peculiaridades, sempre respeitando o contraditório. (LOURENÇO, 2015, p. 92)

Nesse sentido, é possível perceber que tal poder é concedido objetivando atender ao interesse das partes, e apresentar a melhor solução ao litígio. Assim, não se pode incorrer em pensamentos pessimistas e até mesmo acreditar no retorno ao autoritarismo, haja vista que tal construção deu-se em um regime democrático.

Nesse sentido, José Carlos Barbosa Moreira (2003, p.68) afirma que:

Ordenamento processual de nosso país vem evoluindo constantemente no sentido de reforçar os poderes do órgão judicial - e o fato de que a evolução se esteja processando à sombra de instituições politicamente democráticas só faz trazer mais um desmentido à tese da vinculação entre semelhante reforço e o caráter autoritário do regime vigente.

Lourenço (2015, p.93) também segue essa linha de pensamento ao enfatizar assunto com os seguintes termos:

(30)

Essa ampliação de poderes, longe de repercutir negativamente por receio e eventuais arbitrariedades, tem o objetivo de tornar o processo mais eficiente, mudando um pouco a imagem do juiz inerte e alheio à realidade dos fatos e da sua inserção social enquanto agente estatal.

Assim, os doutrinadores acreditam que, conforme acima referido, a ampliação dos poderes do juiz não pode ser vista de forma negativa por ter sido propagada em um regime democrático. Além disso, com tal mudança, há possibilidade do processo tornar-se mais efetivo, na medida em que produzirá um resultado justo.

É possível olhar a questão sob o ponto de vista positivo, pois o que se teme na verdade é a concreta aplicação prática desses preceitos, uma vez que não houve uma preparação efetiva da estrutura do judiciário para atender preceitos.

Assim, como desfecho, pode-se dizer que o Novo Código de Processo Civil concedeu ao juiz o poder de dinamizar o ônus da prova, analisando o caso concreto e observando algumas peculiaridades. Tal poder lhe foi dado objetivando trazer uma solução mais justa para a lide, e não como uma forma de estimular o poder arbitrário.

Se esse poder será utilizado na prática pelos magistrados é algo que não se pode afirmar, haja vista que, antes de mais nada seria necessária uma preparação destes juízes para o cargo de verdadeiros comandantes do processo.

2.4 Da prova diabólica

Conforme narrado no tópico acima, para que a inversão do ônus da prova seja operada no Novo Código de Processo Civil é necessário o preenchimento de alguns pressupostos, dentre os quais destacam-se: a) a excessiva dificuldade de cumprir o encargo somada com a facilidade da parte adversa; b) essa distribuição não pode gerar prova diabólica.

Neste tópico pretende-se esclarecer esses requisitos especificando o que os doutrinadores entendem pela denominada “prova diabólica”.

(31)

Doutrinariamente, prova diabólica é aquela “que a prova da veracidade da alegação a respeito de um fato é extremamente difícil, nenhum meio sendo capaz de permitir tal demonstração” (LOURENÇO, 2015, p. 108)

Assim a prova diabólica é aquela que, em face da distribuição estática do ônus cabe à determinada parte fazer prova de um fato, entretanto, prová-lo é extremamente difícil ou até mesmo impossível.

Por oportuno, cabe ressaltar que tal problema é antigo, nos remetendo ao período formular do direto romano, onde surge a máxima “probatio diabolica”.

Tal dificuldade também vinha sendo enfrentada no Código de Processo Civil de 1973, sendo que apenas com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor, dispondo sobre a possibilidade de inversão do ônus da prova no seu artigo 6º, inciso VIII, é que começaram a surgir soluções.

Agora, diante da vigência do Novo Código de Processo Civil, a necessidade de provar algo excessivamente difícil para uma das partes (prova diabólica), mas fácil para a parte adversa, dá espaço para a inversão do ônus da prova a critério do magistrado, pois há previsão expressa nesse sentido.

(32)

CONCLUSÃO

Primeiramente conclui-se pela importância da prova em um processo judicial, pois a sua realização resulta na decisão da lide.

É por isso que também houve muitas críticas à regra estática do ônus da prova estabelecida pelo Código de Processo Civil de 1973, uma vez que, quem vai produzir a prova e a possibilidade de produzi-la é tão importante quanto a prova em si, de tal sorte que, a regra estática de ônus podia acarretar grandes injustiças.

Assim, o Novo Código de Processo Civil veio normatizar e disciplinar a possibilidade de inversão do ônus da prova quando esta for excessivamente difícil à parte que está incumbida, a critério do Magistrado, que se debruçará na causa.

Tal possibilidade certamente é um avanço no direito processual brasileiro, pois agora, uma prática que era aceita pela doutrina, mas que poderia ainda ser discutida está prevista expressamente em lei.

A distribuição dinâmica do ônus da prova dá ao caso um viés mais humanístico e justo, visto que todos passam a cooperar (dentro de suas limitações) para o bom andamento e deslinde do processo.

Ademais, observa-se que, pelo teor dos artigos do NCPC, é concedido ao judiciário maior poder no processo, podendo o juiz agir com maior intervenção e não de forma completamente neutra e pacífica.

(33)

Isso não significa que o juiz poderá agir conforme seu bel prazer, e que consequentemente retornamos ao autoritarismo, muito pelo contrário, significa na verdade que o juiz deverá agir de tal maneira que traga à lide a melhor solução, a mais justa possível.

A dúvida, contudo, reside no fato de que se realmente esse poder será utilizado na prática pelos magistrados, haja vista que, para que a proposta não passe de mero texto legal, seria indispensável a preparação de todos os operadores do direito e também uma melhor estrutura física do Judiciário.

Nesse sentido, tem-se que a introdução da teoria dinâmica do ônus da prova no Novo Código de Processo Civil visa refletir o processo civil idealizado pela Constituição Federal, elevando o contraditório e a ampla defesa à direito fundamental, não obstante espera-se que tal prerrogativa não passe de mero texto legal.

(34)

REFERÊNCIAS

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de acesso à justiça e efetividade da tutela jurisdicional. Rio de Janeiro: Universidade

Estácio de Sá. 143 p. Dissertação (Mestrado em direito) - Vice-reitoria de pós-graduação e pesquisa mestrado em direito, Rio de Janeiro. 2006.

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil:

procedimento comum: procedimento ordinário e sumário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

CARPES, Artur. Ônus dinâmico da prova. Porto Alegre: Libraria do Advogado Editora, 2010.

CRUZ. Eduardo Arnon Eloy Mendonça da. O ônus da prova no Novo Código de Processo

Civil. Disponível em:

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LOPES, João Batista. A prova no direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

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MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Prova. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.

(35)

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RIO GRANDE DO SUL. Agravo nº 70067061648, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luiz Lopes do Canto, Julgado em 11/11/2015.

SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 2.

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