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A importância da transferência na relação professor e aluno na aprendizagem

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL – UNIJUI

SILVIA CRISTIANE CAMARGO MARTINS

A IMPORTÂNCIA DA TRANSFERÊNCIA NA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA APRENDIZAGEM

Ijuí, 2018

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A IMPORTÂNCIA DA TRANSFERÊNCIA NA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Elisiane Felzke Schonardie Ijuí, 2018

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha gratidão, minha admiração e este trabalho às minhas amigas Dalva e Sandra, que não mediram esforços para comigo, cujo apoio e incentivo foram incondicionais para a realização desta pesquisa. Apesar dessa trajetória exaustiva, em nenhum momento consideraram o tempo como um empecilho para que pudessem, de alguma forma, me auxiliar neste processo. A vocês amigas, o meu eterno agradecimento.

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À minha família, minhas amadas filhas Thavola e Emmanuelye meu esposo Vilson.

Com certeza todas as palavras que aqui pudesse expressar não seriam suficientes para demonstrar o meu amor e a minha gratidão para com a vida de vocês. Mas quero, neste momento, dizer que isso só está sendo possível devido à compreensão de vocês, minhas amadas Thavola e Emmanuely, e dizer que me orgulho muito de ser mãe das duas pessoas maravilhosas que vocês estão se tornando. Obrigada por me apoiarem sempre, mesmo nas minhas ausências, as quais não foram poucas.

Fica aqui o meu mais humilde sentimento de agradecimento e carinho sinceros pela paciência, tolerância e amor incondicional nas horas mais difíceis. Amo vocês.

Às Mestras

Para minhas mestras Elisiane e Sônia, as quais foram fundamentais para a minha caminhada acadêmica. Agradeço pelo tempo que se dispuseram, pelo carinho e pelos ensinamentos que, com certeza, levarei para a vida toda. Faltam-me palavras para expressar a minha gratidão.

A vocês um grande abraço e um muito obrigado. Vocês certamente ficarão nas minhas lembranças, pois posso dizer que a nossa relação foi sim uma relação de transferência, na qual ficaram marcas, especialmente de aprendizagem.

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RESUMO

O objetivo deste estudo é trazer ao leitor uma visão sobre a transferência e a importância do ato transferencial na relação professor e aluno, o qual gera o aprendizado efetivo. Quando se trata de educação, logo vem na mente do professor um aluno ideal, com facilidade de aprender, participativo, curioso, sempre atrás de coisas novas, centrado, aceita com facilidade as atividades propostas e pede licença quando precisa se dirigir a algum lugar. Este poderia ser o ideal de aluno para o professor. Mas quando um aluno vem com todas essas características fragilizadas, o não saber lidar com este aluno pode colocar o professor numa posição de quem nada sabe, causando ao profissional um mal-estar ou angústia. No momento em que o professor se angustia, ele resiste a toda e qualquer intervenção. É neste momento que cabe, então, trabalhar com este aluno e o professor, para que ambos consigam criar uma relação na qual o professor se sinta capaz de ensinar e o aluno, de aprender. A psicanálise chama esta relação de transferência. O psicanalista Sigmund Freud (1911-1913) disse que transferência é amor, repetição de histórias, atualização dos novos encontros de amores, modalidades de afeto, identificações e demandas. Nesse sentido, tanto o professor quanto os alunos só conseguirão desenvolver adequadamente os seus papéis no momento em que a transferência se instalar, pois nesta condição o professor se permite entrar na criação imaginária da criança, que seriam as repetições de suas histórias de amor, a qual coloca o professor em um lugar de confiança e, consequentemente, se sentirá segura e capaz de aprender. A pesquisa é de base bibliográfica e os principais estudiosos que dão suporte a ela são Sigmund Freud, Jacques Lacan, Anny Cordié e Maria Cristina Kupfer.

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This study aims to provide the reader with an insight into the transference and importance of the transference act in the relation between both student and teacher, which generates effective learning. When it comes to education, soon comes into the mind of the teacher an ideal student, with ease of learning, participatory, curious, always looking for new knowledge, centered, easily accepts proposed activities and asks for leave when he needs to go somewhere. This could be the ideal student for the teacher. However, when a student comes with all these fragile characteristics, not knowing how to deal with this student can put the teacher in a position of who knows nothing, causing to the professional a malaise or anguish. At the moment the teacher is distressed, he resists to every intervention. Therefore, it is then necessary to work with this student and the teacher, so that both can create a relationship in which the teacher feels able to teach and the student to learn. Psychoanalysis calls it transference relation. The psychoanalyst Sigmund Freud (1911-1913) said that transference is love, repetition of stories, updating of new encounters of love, modes of affection, identifications and demands. In this sense, both the teacher and the students will only be able to adequately develop their roles when the transference takes place, because in this condition the teacher allows himself to enter into the imaginary creation of the child, which would be the repetitions of his love stories. After that, the student puts the teacher in a place of trust and, consequently, feels safe and able to learn. The research is based on bibliography and the main scholars who support it are Sigmund Freud, Jacques Lacan, Anny Cordié, and Maria Cristina Kupfer.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 CAPÍTULO I – A TRANSFERÊNCIA E SUA HISTORICIDADE...09

1.1 Conhecendo o conceito...09

2 CAPÍTULO II – A TRANSFERÊNCIA NA RELAÇÃO ALUNO E PROFESSOR....22

2.1 A transferência e a sua relação com o desejo...22

2.2 A importância da transferência na relação professor e aluno...27

CONSIDERAÇÕES FINAIS...28

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INTRODUÇÃO

O tema “a importância da transferência na relação professor e aluno na aprendizagem” surge como uma forma de reflexão, para facilitar o entendimento dessa dinâmica. O objetivo deste estudo é trazer ao leitor uma visão sobre a transferência e a importância do ato transferencial na relação aluno e professor, o qual gera o aprendizado efetivo, algo da ordem do desejo que opera. Neste sentido, o trabalho ressalta a importância de realizar pesquisas acerca da utilização deste fenômeno na aprendizagem, abrindo a possibilidade de colocar o professor no lugar de suposto saber, no qual, para o aluno, este profissional é portador do conhecimento e habilidades necessárias para exercer sua função.

Ao abordar a temática sobre a importância da transferência na relação professor e aluno, enfatiza-se a relação professor e aluno, a qual implica numa relação de amor e afeto. Com afeição, a criança se redescobre, se percebe, se valoriza e aprende a se amar. Esse carinho em suas vivências e, consequentemente, na aprendizagem escolar, é fundamental. Assim, entende-se que é válido explorar o tema, porque percebê-lo na prática é compreender que se constitui numa identificação simbólica, que é uma forma de desenvolver na criança sua posição discursiva, constatar suas dificuldades, tendo a sensibilidade de observar as limitações no ato de aprender.

A transferência na relação professor e aluno se faz crucial, especialmente quando o professor constata que a impossibilidade do aprender está acontecendo, o que compromete, de sobremaneira, o desempenho do aluno. Através desta pesquisa se produz conhecimento e reflexões acerca dessa questão, com o propósito de que este estudo seja alcançado pelos professores e psicólogos escolares, como forma de melhor compreensão das dificuldades desse processo pedagógico e, também, auxiliando-os na detecção de carências estudantis.

Este trabalho está organizado em dois capítulos. No primeiro capítulo será verificado o conceito de transferência bem como a sua historicidade. Já no segundo capítulo, o qual está dividido em duas partes, analisar-se-á a transferência e a sua relação com o desejo e, logo após, a importância da transferência na relação

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professor e aluno. Este estudo é de base bibliográfica e os principais estudiosos que servem de embasamento teórico são Sigmund Freud, Jacques Lacan, Anny Cordié e Maria Cristina Kupfer.

A TRANSFERÊNCIA E A SUA HISTORICIDADE

1.1 Conhecendo o conceito: seu surgimento na psicologia

Este primeiro capítulo inicia pelo conceito de transferência, o qual abordará a sua historicidade, de forma que serão colocadas as ideias de Sigmund Freud e as contribuições de Jacques Lacan como eixo principal, no intuito de que contribuam ao tema da importância da transferência na relação aluno e professor. Visto que, entender este universo, torna capaz a elaboração de várias questões pertinentes ao processo de aprendizagem.

Freud (1901-1905), ao discorrer sobre o conceito transferência, já trazia essa problemática, porém sem que ele mesmo soubesse de tal implicação, o que já ocorria desde 1882. Neste mesmo ano, seu amigo Joseph Breuer lhe fala de sua ilustre paciente Anna O. (FREUD, 1893-1895). Breuer e Freud trabalharam juntos durante os primórdios da psicanálise. Entretanto, é possível afirmar que Breuer foi um grande influenciador para Freud. Apesar de Breuer ser um médico conceituado, de vida social considerável, enquanto Freud era recém-formado em medicina, Breuer somente ficou conhecido através das publicações realizadas com Freud.

Dentre tais publicações, podemos citar o “Estudo sobre Histeria” 1, de 1895. Breuer

costumava compartilhar seus interesses científicos com Freud, que por sua vez falava que nesta relação quem saía ganhando era sempre ele. Freud afirmava aprender muito com o amigo.

1 Nos estudos sobre histeria quando fala de “este estado singular em que o sujeito sabe tudo sem

saber desta cegueira que nos espanta ao constatar nas mães quando se trata se sua filha, nos maridos quando é questão de sua mulher, nos soberanos a respeito de seu favorito.” (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan, 1997, p. 261).

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A célebre paciente de Breuer e Freud, conhecida como Anna O.2, foi quem permitiu descobrir e aplicar o Método Catártico, sendo este caso extremamente importante à psicanálise. Foi a partir deste caso que se possibilitou os estudos sobre este Método, o qual vai proceder através da cura pela fala, que se dá a partir da transferência. Assim, é a partir deste caso de histeria que se deu início ao estudo do conceito de transferência (FREUD, 1893-1895). Freud achou o caso de Anna O. muito interessante, devido a proporção que o caso tomou, pois se tratava de uma histeria. O interesse foi tanto que, três anos após, Freud foi à Paris estudar sob a

orientação do neurologista Jean Martin Charcot3, o qual já tratava de pacientes

histéricas dando grandes contribuições ao caso (FREUD, 1893-1895).

Observar o que ocorria entre Breuer e Anna O, em um primeiro momento, soou estranho a Freud, pois seu amigo se sentia seduzido por Anna O., não encontrando outras vias nas quais conseguisse lidar com tal enamoramento, posição essa colocada pela paciente e que Breuer respondia sem entender. Ao comunicar a sua paciente sobre o final do tratamento, ela já havia feito grandes progressos e os seus estados também, pois a paciente era acometida de um quadro bastante relevante, no qual sentia grande repugnância em beber água no copo, distúrbios na fala, se alimentava pouco e apenas sob pressão. Porém, na mesma noite, Anna O. é encontrada mais debilitada do que nunca, pois era acometida de grandes dores abdominais, em meio a dores de um parto histérico. Isso causou estranhamento em Breuer, pois em nenhum momento de seu tratamento ela havia falado que tivesse

2 “A paciente que marca o conhecimento da histeria conhecida como célebre paciente de Breuer e de

Freud, a qual permite descobrir e utilizar o método catártico. A este procedimento, ela havia dado nome “bem apropriado e sério de talking cure” e o nome humorístico de “chimney sweeping”. Eis que como isso se passou de acordo com Jones em seu livro A vida e Obra de S. Freud: “Um belo dia, ela lhe narra os detalhes da primeira aparição de um certo sintoma e esta narrativa, para grande espanto de Breuer, provocada a total desaparição do sintoma em questão. Consciente da importância do fato, a doente continua a falar assim de cada um de seus sintomas e dá a esta forma de proceder o nome de “cura pela fala” ou de “limpeza de chaminé”. Não omitamos dizer que a esta época, tendo esquecido sua língua materna, o alemão, ela podia se exprimir apenas em inglês”. (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan, 1997, p. 260).

3 “Sua curiosidade científica, dizia, cedo fora despertada, quando ele era ainda um jovem interne, pelo

abundante material apresentado pelos fatos da neuropatologia, material sequer compreendido àquele tempo. Nessa época, sempre que fazia a ronda com o médico-assistente num dos departamentos do Salpêtrière (instituição hospitalar encarregada de mulheres), em meio a toda a profusão de paralisia, espasmos e convulsões para as quais, há quarenta anos, não havia nome nem compreensão, ele dizia; “Faudrait y retourner et y rester” (seria preciso voltar aqui e aqui permanecer), e manteve sua palavra.” (Freud Sigmund, 1893-1899, p. 21).

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vida sexual ativa, pois lhe parecia um assunto proibido. Tal situação desconcerta Breuer, o qual abandona o caso, passando-o para Freud (FREUD, 1893-1895).

Freud (1901-1905) percebe as primeiras manifestações de transferência, notando que Anna O., só consegue grandes evoluções em seu tratamento porque havia colocado Breuer em um lugar no qual o psicanalista, neste primeiro momento, não soube fazer tal leitura. Em frente a esses acontecimentos, Breuer se coloca uma grande culpa, não contando a Freud o final dos acontecimentos. Mas Freud, ao reconstruir o caso de Ana O., descobriu que ela já havia se tomado de câimbras abdominais (criadas a partir de uma fantasia de parto) e lembrou, mais tarde, de que Breuer havia lhe falado algumas palavras na quais a paciente lhe havia dito, porém não soube interpretar no momento. Breuer disse não ter entendido o que ela queria dizer com “[a]gora é a criança de Breuer que chega” Freud relatou que Breuer teve em mãos a chave que abre a “porta das mães”, em toda a questão de Anna O., e a deixou cair, no momento em que se toma de um horror, fugindo e abandonando sua paciente para seu colega. Esta interpretação da “chave” Freud só descobre tempos depois, com a contribuição de Charcot e de Chronbak (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan, 1997, p. 261).

Nesse sentido:

[...] quando por qualquer motivo não pode haver reação a um trauma psíquico, ele retém seu afeto original, e quando a pessoa não consegue livrar-se do acréscimo de estimulo através de sua “ab-reação”, deparamos com a possibilidade de que o evento em questão permaneça como um trauma psíquico. A propósito, um mecanismo psíquico sadio tem outros métodos de lidar com o afeto de um trauma psíquico mesmo que lhe sejam negadas a reação motora e a reação por palavras. (Freud Sigmund, 1893-1899, p. 45).

Ao desenrolar do tratamento, Freud e Anna O. foram desenvolvendo os fundamentos da talking cure, isto é, a cura pela fala. Nesse sentido, parte é a sexualidade e a outra parte é a transferência. Mas antes da transferência, Freud, sem saber, estabelece a causa dos fenômenos e o estatuto do saber. Saber este que o sujeito sabe sem ter conhecimento que saiba sobre algo que é seu. Deparando-se com tal acontecimento, Freud ficou impressionado e, ao mesmo tempo, imobilizado por ver as pacientes saberem o porquê, mas nunca falarem (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan. 1997). Segundo o psicanalista,

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Essa deficiência tem os seguintes fundamentos: em primeiro lugar, os pacientes retêm consciente e intencionalmente parte do que lhe é perfeitamente conhecido e que deveria contar, por não terem ainda superado seus sentimentos de timidez e vergonha. Em segundo lugar, parte do conhecimento amnésico do que o paciente dispõe em outras ocasiões não lhe ocorre enquanto ele narra sua história, sem que ele tenha nenhuma intenção de retê-la: é a contribuição da insinceridade inconsciente. (Freud Sigmund (1902-1905) p.28).

Charcot sabia quais as causas de toda histeria. Na histeria a questão é sexual, a coisa genital, diria Charcot, pois aparece cedo demais, causando um excesso de excitação, recalcando e retornando para o corpo em forma de sintoma. Quando os casos atendidos eram semelhantes, a coisa genital aparecia sempre. Percebia-se, também, que as grandes manifestações vinham da infância, o não saber lidar com o que invade seu corpo, causando traumas infantis e eliminando-os

de sua memória. Outro caso que é muito famoso nas obras de Freud é o caso Dora4.

Este caso também traz significantes contribuições para os estudos sobre a importância da transferência no tratamento (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan, 1997).

Dora é uma jovem de dezoito anos que é levada a Freud com sintomas como dispneia, tussis nervosa, afonia e possíveis enxaquecas, depressão e insociabilidade histérica. Todos esses sintomas, Freud relaciona a questão sexual, a qual se apresenta muito cedo e, por se apresentar muito cedo, acaba recalcando e retornando do lugar recalcado como sintomas. Consequentemente, causam danos no psiquismo, conflitos dos afetos e comoção na esfera sexual (FREUD, 1902-1905). Nessa perspectiva, Freud afirma que

4 “Dora traz pra Freud um elemento suplementar para sua conceitualização de transferência. Em sua

análise ela transfere um X, como nas matemáticas Dora transfere uma incógnita, este X que faz que ela assimile Freud ao Sr. K (Sr. K próprio substituindo a Sra. K). Face a esse X, Freud esta estupefato. Ele escreve: “Assim eu fui surpreendido pela transferência e é por causa deste fator desconhecido pelo qual recordo o Sr. K..., que ela se vinga de mim, como ela queira se vingar dele; ela me abandona como ela se acreditava enganada e abandonada por ele. Assim, ela põe em ação uma importante parte de suas lembranças e de suas fantasias, em lugar de reproduzi-la em tratamento. Eu não posso naturalmente saber qual era este fator desconhecido; eu suponho que ele se relacionava ao dinheiro; ou bem era dos ciúmes a propósito de uma paciente que mantinha relação com minha família após sua cura. Ali onde se chega em boa hora a englobar a transferência na análise, esta se desenrola mais lentamente e torna-se menos clara, mas ela esta melhor assegurada contra súbitas e invencíveis resistências. A transferência está representada, no segundo sonho de Dora, por muitas alusões claras”. (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan. XXXX, p, 268).

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Desde então tenho visto inúmeros casos de histeria, ocupando meus dias, semanas ou anos, e em nenhum deles deixei de descobrir as condições psíquicas postuladas nos estudos, ou seja, o trauma psíquico, o conflito dos afetos e, como acrescentei em publicações posteriores, a comoção na esfera sexual. Quando se trata de coisas que se tornaram patogênicas por seu afã de ocultar-se, decerto não se deve esperar que o doente vá ao encontro do medico exibi-las, nem tão pouco deve este contentar-se com o primeiro não que se imponha às investigações. (FREUD SIGMUND (1902-1905) p34).

A partir dessas experiências, Freud diz que a fala só se fez possível no momento em que o paciente vê no analista um saber, ou seja, o paciente atribui um saber que ele desconhece. Ao construir esse saber, o paciente vai lançar todas as suas questões com o pensamento de que o seu analista irá “resolver” todos seus problemas. Abrindo um parêntese, pode-se perceber como Freud influenciou Lacan em sua concepção da dialética sobre a relação do sujeito ao saber do inconsciente, no qual Lacan, a partir disso, vai sustentar o conceito de sujeito suposto saber (S.s.S). Esta ideia será desenvolvida posteriormente neste capítulo. (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan. 1997).

A transferência sexual não é provocada por uma ou outra parte que acompanha, não sendo algo agressivo ao analisante ou ao analista, pois é um processo inconsciente que atualiza o saber inconsciente. Assim, Freud aponta várias características da transferência.

A concepção da transferência “sexual” (terma hostil) que se observa sempre no curso do tratamento das neuroses (lembrem a paciente de Chrobak e de Breuer). Freud observa que está transferência “sexual” não é provocada por uma das partes em presença. Em outro, ela não é imputável à pessoa, ao ego do analisante ou do analista. Esta emergência da transferência representa para Freud ”uma prova irrefutável da origem sexual das forças impulsivas dos neuróticos” e permite constatar que é um processo inconsciente que atualiza o saber inconsciente. Freud nos dá a entender já várias característica da transferência. (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan. 1997. p.263).

Visto que a transferência é um processo que se constitui a partir da fala que se endereça ao analista, essa capacidade é construída ao longo da formação da sua vida. Isso se dá mais necessariamente nos primeiros anos de vida, conforme o investimento durante esse período, criando formas de conduzir sua vida erótica com precondições de se enamorar, o que facilitará esta precondição ou não, pois é a partir desse investimento que o sujeito se organiza, possibilitando ou não o processo

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de enamoramento. Processo esse que irá se repetir no decorrer de toda a sua vida, de maneira que tal cena não cessará de se repetir (FREUD, 1911-1913).

Freud (1911-1913), no texto “Amor de transferência”, aborda sobre essa

repetição5, trazendo como exemplo o enamorando de uma paciente para com seu

terapeuta, colocando ainda que, em nenhum momento, o terapeuta deverá levar isso como forma de achar que é mérito seu, e sim uma repetição de seu paciente em relação a suas vivências amorosas infantis, o qual não cessa de repeti-las.

Após a paciente ter-se enamorado de seu médico, eles se separam; o tratamento é abandonado. Mas logo o estado da paciente obriga-a a fazer uma segunda tentativa de análise, com outro médico. O que acontece a seguir é que ela sente ter-se enamorado deste segundo médico também; e, se romper com ele e recomeçar outra vez, o mesmo acontecerá com o terceiro médico, e assim por diante. (Freud Sigmund (1911-1913) p.178).

Ficando clara a capacidade dessa paciente em relação a amar, há a diferença de que este amor não será possível analisar, pois permanecerá oculto e não analisado, sendo que este amor vem como forma de contratransferência. No momento em que a paciente está enamorada, ela não conseguirá fazer a compreensão necessária do tratamento, e todo seu interesse será direcionando ao seu amor, exigindo retribuição. Consequentemente, ela abandona o seu sintoma, alegando que está curada (FREUD,1911-1913). Este amor que é remetido ao terapeuta cria resistência, tirando o foco do tratamento e se dirigindo com totalidade ao seu amor, o qual destitui totalmente o lugar do terapeuta, colocando-o no lugar de amante. Assim, estimula o seu estado amoroso, aumentando sua condição de se render sexualmente (FREUD, 1911-1913).

Em tal circunstância, o analista deve negar à paciente qualquer possibilidade de responder a este amor, dirigindo a esta mulher que o ama todas as exigências da moralidade social, tentando fazê-la abandonar os seus desejos, para que seja possível dar prosseguimento ao tratamento. No entanto, instigar a paciente a anular ou apagar os seus instintos no momento em que ela admitiu a transferência erótica,

5 Este conceito é difícil e complexo. Digamos simplesmente isto: seria necessário por a concepção de

Freud sobre a transferência como repetição em relação ao automatismo de repetição e, igualmente, articular transferência e repetição em relação ao automatismo de repetição demostrando o que Lacan dizer no Seminário XI: Digo que o conceito de repetição não tem nada a ver com aquele da transferência. (Dicionário de Psicanalise: Freud e Lacan, 1997, p, 268).

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seria insensato da parte do analista, uma vez que só teria trazido à consciência para que ela reprimisse novamente (FREUD,1911-1913).

Freud (1911-1913) diz que se deve aceitar esse amor, mas, de forma que não, ao mesmo tempo, evitando-se aproximação física. O psicanalista explica que isso

Consistiria em declarar que se retribuem os amorosos sentimentos da paciente, mas, ao mesmo tempo, em evitar qualquer complementação física desta afeição, até que se possa orientar o relacionamento para canais mais calmos e elevá-lo a um nível mais alto. (Freud Sigmund (1911-1913) p.181).

Fica claro, então, que a técnica analítica exige que o analista negue todo e qualquer desejo de amor do paciente, conduzindo o tratamento em abstinência. Nesse sentido, o fundamental da análise é não responder a essa demanda ou, até mesmo, apaziguá-la. Deste modo, o que é oferecido em análise não seria mais do que um substituto, pois até que as repressões da paciente sejam removidas, ela se torna incapaz de alcançar satisfação real (FREUD,1911-1913).

Ao responder esse amor ela teria alcançado o sucesso, pois teria novamente repetido no real o que apenas deveria ter lembrado e reproduzido como material psíquico e mantido dentro de suas lembranças psíquicas. No decorrer de um relacionamento, ela expressaria todas as suas inibições e reação patológica de vida erótica, sem nenhuma possibilidade de correção, sendo penoso e fortalecendo sua propensão a repreensão. O relacionamento amoroso destrói as possibilidades de influência do tratamento (FREUD,1911-1913).

Portanto, o analista deve ter muito cuidado para não afastar-se do amor transferencial ou se tornar desagradável para o paciente, mas deve recusar-se a dar qualquer retribuição, mantendo firme o amor transferencial, mas tratando de maneira irreal. Desta forma, o paciente se colocará a disposição do tratamento, remontando suas origens inconscientes e trazendo o que tem de mais oculto de sua vida erótica para a consciência e, com isso, começará a ter o controle (FREUD,1911-1913).

Freud (1911-1913) explica que quanto mais claro o analista for, fará com que a paciente perceba que ele está a prova de qualquer tentação e, também, ele conseguirá tirar da situação mais conteúdos para o tratamento. A paciente, cuja repressão sexual não foi removida naturalmente e sim empurrada para um segundo

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plano, sentir-se-á segura o bastante para permitir que todas as suas precondições de amar, as fantasias que surgem de seus desejos sexuais e o seu estado amoroso venham à luz. A partir disto, então, ela própria abrirá o caminho para as raízes infantis de seu amor.

Ao transformar ou moderar esse amor que foi direcionado para o terapeuta, o trabalho, a partir daí, começa a desvendar a escolha objetal infantil da paciente e as fantasias tecidas ao redor dela. Ao desvendar a escolha objetal infantil, pode-se, então, perceber que a história de amor consiste em novas adições de antigas características e que ela repete reações infantis, sendo essa a essência de todo caráter amoroso. Desse modo, não existe estado que não reproduza protótipos infantis (FREUD,1911-1913).

O amor transferencial talvez possua um grau menor que o amor que aparece na vida comum, nomeado como normal, o qual exige uma dependência do padrão infantil, menos adaptável e capaz de modificações, não sendo algo essencial. As características do amor transferencial são os aspectos que seguram esta posição especial (FREUD,1911-1913). Nessa perspectiva,

Em primeiro lugar é provocado pela situação analítica; em segundo, é grandemente intensificado pela resistência, que domina a situação; e, em terceiro, falta-lhe em alto grau consideração pela realidade, é menos sensato, menos interessado nas consequências e mais ego em sua avalição da pessoa amada do estamos preparados para admitir no caso do amor normal. Não podemos esquecer, contudo, que esse afastamento da norma constitui precisamente aquilo que é essencial a respeito de ser enamorado. (Freud Sigmund (1911-1913) p.186).

Esse amor de transferência é fundamental no tratamento, pois é a partir dele que se torna possível a análise, pois é neste momento que o paciente se sente à vontade em comunicar o seu segredo vital. Evidentemente, o profissional não poderá tirar nenhum proveito ou vantagem pessoal, uma vez que a disposição do paciente não faz nenhuma diferença, pois toda a responsabilidade fica agora a cargo do analista. Já é de conhecimento do analista que o paciente não se prepara para nenhum outro mecanismo de cura. Então, depois de todas as dificuldades superadas, ele confessará ter tido uma fantasia antecipatória (FREUD,1911-1913).

Por esses motivos éticos e técnicos, ao analista fica vedada a possibilidade de responder ao amor demandado pelo paciente. Para aqueles que ainda são

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jovens e não estão ligados à fortes laços será uma tarefa árdua, pois o amor sexual é inquestionavelmente uma das principais coisas da vida, fazendo a união de satisfação mental e física no gozo do amor que se constitui seu ponto mais elevado (FREUD,1911-1913).

Entretanto, fica inteiramente impossível para o analista ceder, pois seu paciente depende dele para que possa passar em seu estádio decisivo da vida. Assim, ela tem que aprender a superar seu princípio de prazer, abandonando as suas satisfações, que para o social são inaceitáveis. Mas para ela conseguir esta superação, vai depender do desenvolvimento mental dos seus primeiros anos de vida (FREUD, 1911-1913).

Por isso, Freud (1911-1913) vai dizer que a transferência é amor, repetições de nossas histórias, atualizações de novos encontros de amores, modalidade de afeto, identificações e demandas. Visto que, é a partir desses investimentos, os quais são feitos ao sujeito nos primeiros anos de sua vida, que o sujeito vai ordenar as suas capacidades de colocar o outro em um lugar de identificação e transferência. Nesse sentido, quanto mais investimento este sujeito receber, mais facilidade ele terá nas relações em se identificar e colocar o outro nesses lugares.

A transferência vai ocorrer de forma variada e muitas causarão estranhamento, pois, por vezes, o sujeito se depara com imagens e situação já experienciadas, bem como catexias de séries já vivenciadas. Se o lugar no qual o outro será colocado for na “imago materna” ou na “imago paterna”, isso quem decidirá é o próprio sujeito, pois serão as suas vivências e as suas marcas, as quais são inconscientes. A propósito, marcas essas constituídas a partir dos investimentos recebidos dessas imagens, que não necessariamente seja de pai e mãe, e sim de quem tenha investido nele (FREUD,1911-1913).

Percebe-se, então, que a transferência é uma repetição de fragmentos, parte de cenas já vivenciadas. Portanto, uma transferência é uma repetição do passado vivido e esquecido. Essa vivência terá grande importância na vida do sujeito, pois quando não investida, ele ficará fragilizado e poderá apresentar dificuldade em vivenciar algo, visto que se lhe foi “negado” parte desse processo, ficará vulnerável (FREUD,1911-1913).

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São nas vivências em que o sujeito está inserido que ele vai se submeter a compulsão e a repetição com uma catexia. Essa catexia, para Freud, era forma de como o sujeito investe em um objeto, como forma de energia do instinto. Esses investimentos ocorreram em todas suas vivências cotidianas, inclusive em suas relações amorosas. Freud, no texto “Recordar, Repetir e Elaborar”, disse que “[a] transferência é ela própria, apenas fragmento da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido, não apenas para o médico, mas também para todos os aspectos da situação atual.” (Freud Sigmund (1911-1913) p.166).

Esse conceito, sobre o qual trata-se aqui, se manifesta de forma inconsciente sem que o sujeito tenha controle dele, pois acontece naturalmente, sem perceber, percebendo à posteriori, dado que, ao repetir, o sujeito estará vivenciando algo do real, um sentimento real (FREUD,1911-1913). Por conta disso, as suas relações serão baseadas em suas vivências, porquanto nesse momento o sujeito começa a lidar com o outro, o qual lhe foi apresentado lá em seus primeiros anos. Seria como se ocorresse de o sujeito pensar que, ao ver-se impossibilitado de alguém amá-lo no real, criaria configurações para se aproximar das pessoas de forma que o consciente daria conta das atitudes inconscientes (FREUD,1911-1913).

Com isso, as representações criadas, sejam elas insatisfeitas ou satisfeitas, nas formas de identificar-se, seja na clínica, no lugar do analista, ou qualquer outra forma pessoal com a qual é possível relacionar-se, poderão ser as mais primitivas possíveis. Desse modo, tais identificações estarão ligadas aos famosos clichês estereotípicos, pois são identificações na qual todo o sujeito, em suas relações, usará desse reconhecimento. Serão elas que possibilitarão as convivências e os

relacionamentos (FREUD,1911-1913). Nesses comportamentos, as transferências

também estarão relacionadas a resistência. Freud (1911-1913) afirma que:

Em segundo, permanece sendo um enigma a razão por que, na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento, enquanto que, fora dela, deve ser encarada como veículo de cura e condição de sucesso. (Freud Sigmund (1911-1913) p.112).

São formas de criar vínculo com o outro e Freud deixa claro que isso precisará acontecer no âmbito clínico para que o tratamento tenha um andamento no qual o sujeito se questione em suas questões. Essas associações estarão

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sempre ligadas às suas vivências infantis, como já mencionado. Tais frequências retornarão de maneira que, por mais que não as acesse, estarão mais presentes do que se deseja. Nesse sentido, relacionam-se estas figuras, as quais não cessam de retornar inconscientemente, ao terapeuta ou qualquer outrem que faça parte dos relacionamentos do sujeito. Pensando nesta forma de amar, há um amor tão grande direcionado ao outro que Freud traz o conceito de resistência como via de impossibilidade. Sendo assim, a transferência aparece desde o início como a arma mais forte da resistência (FREUD,1911-1913).

Ocupamo-nos do mecanismo da transferência, é verdade, quando remontamos ao estado de prontidão da libido, que conservou imagos infantis, mas o papel que a transferência desempenha no tratamento só pode ser explicado se entrarmos na consideração de suas relações com a resistência. (Freud Sigmund (1911-1913) p.116).

Ao compreender qual seria o papel da resistência juntamente com a transferência, Freud disse que seria uma forma de dificultar os desejos, algo do imaginário, visto no real como algo impossível. Seria uma relação de dependência afetuosa e dedicada, podendo ajudar a superar todas as dificuldades, conseguindo falar de si sem ter medo de julgamentos ou repreensões (FREUD,1911-1913).

Assim, não se pode compreender o emprego da transferência como resistência, uma vez que se pensa somente em transferência. É preciso distinguir sim a transferência positiva e a transferência negativa, sendo que a transferência positiva ficará a encargo dos sentimentos afetuosos, transferência de sentimentos que são admissíveis à consciência. A transferência de prolongamento ficará a encargo do inconsciente. Os estudos mostram que as relações emocionais de simpatia e amizade estão vinculadas a sexualidade. Por sua vez, as pessoas com as quais um sujeito se relaciona, admira-as e respeita-as, são puramente objetos sexuais para o inconsciente (FREUD,1911-1913). Portanto,

[...] somos assim levados à descoberta de que todas as relações emocionais de simpatia, amizade, confiança e similares, das quais podemos tirar bom proveito em nossas vidas, acham-se geneticamente vinculadas a sexualidade se de desenvolveram a partir de desejos puramente sexuais, através da suavização de seu objetivo sexual, por mais puro e não sensuais, que possam aparecer a nossa auto percepção consciente. (Freud Sigmund (1911-1913) p. 117).

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É importante ressaltar que a transferência negativa e a transferência positiva caminham juntas, lado a lado, como uma ambivalência de amor e ódio (FREUD,1911-1913).

Ambivalência nas tendências emocionais dos neuróticos é a melhor explicação para sua habilidade em colocar as transferências a serviço da resistência. Onde a capacidade de transferência tornou-se essencialmente limitada a uma transferência negativa (Freud Sigmund (1911-1913) pp118). Quanto ao referido conceito em relação ao atendimento clínico, Freud (1911-1913) vai trazer um fenômeno extremamente necessário para que o sujeito fale ao terapeuta tudo o que lhe venha à cabeça, uma vez que tudo que será comunicado não lhe será criticado ou censurado. Assim como nas relações, o sujeito sentirá a vontade de se colocar diante do outro.

O momento mencionado, em que o sujeito, então, se sente a vontade em falar de si, está relacionado à posição no qual esse sujeito coloca o terapeuta. Essa libido, porém, foge do consciente indo para o campo do inconsciente, provocando inúmeras manifestações, como os sonhos, pois, muitas vezes, esses impulsos inconscientes não desejam recordar, trabalhando isso de forma atemporal. É interessante que Freud (1911-1913) vai trabalhar isso como algo que vem de modo necessário, mas também como algo que mais a diante surge como dificuldade. Ele também deixa claro que somente a partir dela se tem acesso aos impulsos eróticos ocultos e esquecidos pelo sujeito, tornando-os imediatos ao terapeuta. E, evidentemente, aprender a lidar com a transferência e manejar é algo que precisa ser praticado.

As contribuições de Lacan (1960-1961) em relação a transferência são em torno de que ela não seria fenomenológica, mas sim algo estrutural, do âmbito da linguagem, do simbólico, que se inicia a partir da castração, encontrando como fundadora deste sujeito um modo de se relacionar com o laço social. Destarte, é dada à transferência uma referência estrutural, a qual liga a uma experiência dialética, algo incessante, progressivo, movido por oposições violentas e que avança por rupturas, sendo substituída por algo de um discurso que resiste. Por essa perspectiva, a transferência vem como resistência, tomando outro sentido. Não é a transferência que se faz resistência, mas algo do discurso que resiste em falar, e isso faz com que o paciente sofra, reproduzindo os sintomas.

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Nesse sentido, é permitido pensar que uma neurose de transferência seria um sintoma, o qual será reproduzido em análise, uma vez que a transferência se estrutura pela fala e essa é uma demanda atualizada em análise. Isso se dá a partir do matema criado por Lacan “S.s.S”6, isto é, “sujeito, suposto, saber”, significante este dado a partir da transferência. No momento em que o paciente coloca o analista no lugar em que tudo sabe, ele sente-se à vontade para trazer as suas questões no intuito de resolvê-las, afinal, ele supõe que o analista tudo sabe. Desse modo, a transferência é inconsciente, tomada de desejos e produzida a partir da transferência do sintoma da fala (LACAN, 1960-1961).

Ao atualizar o discurso na análise, Lacan (1960-1961) vai tornar possível a reatualização da historicidade do sujeito, pois ao direcionar a fala a alguém, a saber, o analista, ele toma um lugar específico. Essa reflexão permite pensar que a transferência é uma substituição do discurso que resiste. Sendo a transferência da fala, da demanda, o que possibilita o analisante colocar o analista no lugar de S.s.S (LACAN, 1960-1961).

Lacan (1960-1961) apresenta como contribuição sobre a transferência, a questão de que a transferência é uma experiência dialética, experiência que deve ter mais valor quando colocada em transferência. Tal experiência é algo inconsciente, constituída por um discurso dado ao analista, sendo necessária antes de qualquer intervenção da parte do analista, pois está numa dimensão simbólica, dimensão da demanda. Já com presença do analista do campo do real, o ato se faz no real, sendo o analista um significante real. E é esse significante que suporta o inconsciente.

Ao falar em transferência, Lacan (1960-1961) afirma que ela é automatismo de repetição, o qual se ocupa de amor, é o próprio paciente na posição de fala. A presença do passado vem à tona, algo que se impõe permitindo uma formulação, vindo como reprodução. A transferência é uma repetição necessária, pois é nesse momento que o sujeito constrói algo. Não é o analista a quem dirige suas demandas e suas questões, pois tudo o que se sabe é que o fenômeno psíquico se produz para

6 “Aquele a quem o sujeito endereça sua demanda de amor tem um lugar específico aquele

designado pelo fato de que ele supostamente detém a chave, o saber sobre as formações do inconsciente. Esse lugar é o que ocupa o significante da transferência que é o sujeito suposto saber.” (Dicionário de Psicanálise: Freud e Lacan. 1997, p, 299).

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este outro que está ali, e que ali permanece na posição de outro ouvinte. O outro é criado pelo sujeito através do fenômeno da transferência, manifestado na relação à quem fala (LACAN, 1960-1961). Nesse sentido, Lacan declara que

É que diante de todos, é desvelado em seu traço o segredo mais chocante, a última mola do desejo, que sempre obriga, no amor, a dissimulá-lo um pouco: seu objetivo é a queda do outro, A, em outro, a. (Lacan Jacques,1901-1981, p.178).

Essas repetições são cadeias de significantes, nas quais se desliza através da transferência, mesmo sendo por via de erro, pois é no lugar daquilo que se manifesta, no fantasmático, que se procura a verdade do real. Acreditando na verdade do sujeito, então o saber e o desejo são cúmplices, pois o desejo é do outro, sendo essa a mola do nascimento do amor, pois é nesse objeto que se tem direção o próprio desejo (LACAN, 1960-1961). Esse desejo que está escondido e que ninguém vê, aparece como algo misterioso, manifestando-se mesmo sem se ver. É nessa medida em que o amor de transferência se coloca, sendo o desejo outro, pois será remetido como o seu verdadeiro desejo (LACAN, 1960-1961).

2 A TRANSFERÊNCIA NA RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO

2.1 A transferência e a sua relação com o desejo

Ao tratar sobre aprendizagem, não seria possível deixar de falar, primeiramente, no ato de desejar saber. Ao observar as obras de Freud, em nenhum momento ele traz o fenômeno de aprendizagem, pois suas preocupações eram aliviar os sintomas das pessoas (KUPFER, 2004). Maria Cristina Kupfer (2004) afirma que Freud se posiciona frente ao conhecimento de forma que, ao pensar em conhecimento, preferia pensar que há determinantes psíquicos que levam alguém a ser “desejante de saber”.

Freud declara que o momento em que o sujeito se torna desejante é o momento em que acontece o próprio reconhecimento da criança. Por exemplo, os meninos, ao pensarem que são diferentes das meninas, implicaria em uma

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descoberta que acarreta entender que alguma coisa lhe falta (KUPFER.2004). Ao descobrir essas diferenças, a criança se angustia. A partir dessas angústias que se faz querer saber. Os instrumentos que a criança dispõe para aprender, de acordo com Freud, são as “investigações sexuais infantis”. Segundo Kupfer,

Para Freud, as primeiras investigações são sempre sexuais e não podem deixar de sê-lo: o que está em jogo é a necessidade que tem a criança de definir, antes de mais nada, seu lugar no mundo. E esse lugar é, a princípio, um lugar sexual (Kupfer Maria Cristina,2004, p.81).

Esse lugar sexual é situado pelos pais no início da vida, pois é na relação entre a criança e os pais que se cria o que os pais esperam do filho. Trata-se, aqui, de algo que diz respeito ao desejo dos pais (KUPFER.2004). O importante a ser destacado é a filiação da curiosidade intelectual à curiosidade sexual, à imagem fantasiada da cena primária. Kupfer aponta que, para Freud, o que impulsiona o desenvolvimento intelectual é sexual. O sexual é a matéria que alimenta a inteligência, sendo a inteligência os “restos sexuais” (KUPFER, 2004). O sexual, aqui, sofrerá o efeito da sublimação. Nessa significação,

Uma pulsão é dita sublimada quando deriva para alvo não sexual. Além disso, visa a objeto socialmente valorizado. Nesse movimento errático da pulsão em busca de um objeto, pode acontecer uma dessexualização desse objeto. A energia que empurra a pulsão continua a ser sexual (seu nome já consagrado, é a libido), mas o objeto não o é mais. (Kupfer Maria Cristina, 2004, p.42)

De acordo com a psicanálise, esses são os determinantes que levam a criança querer aprender. Entretanto, a criança não aprende sozinha. É necessário que haja um professor para que o ato de aprender se realize. Para a psicanálise, a presença desse professor deve ser colocada em uma determinada posição, na qual propicie a aprendizagem.

Para Kupfer (2004) o ato de aprender se dá a partir da relação com o outro que ensina. São figuras que supõem que lhe transmitam algo, e esse lugar é colocado a partir do imaginário da criança, dessa capacidade de imaginar que o outro lhe transmita, que o outro possa ou não propiciar a aprendizagem. A questão que fica é “o que é aprender?”, visto que o aprender vem da relação com o outro, sendo o outro o professor, onde o aprender é aprender com alguém (KUPFER, 2004).

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É nesse espaço de relação professor e aluno que o presente trabalho se detém. O que acontece a partir dessa relação, quais são as marcas, o que fica para o aluno a partir dessa vivência? Não se trata de conteúdos ensinados, mas sim da credibilidade que o aluno deposita no professor, de modo que tudo o que ele lhe ensinar, seja colocado como uma verdade suprema (KUPFER, 2004).

Kupfer (2004) traz as contribuições nas quais Freud faz menção ao professor, que só pode se fazer ouvido no momento em que o aluno o colocar em um lugar especial. Dessa forma, o professor conseguirá influenciar e ser para o aluno alguém que possua um suposto saber. Isso ocorre - ou deveria acontecer - no tempo de latência, pois a responsabilidade sai da parte dos pais, passando para os professores, que ficam incumbidos da tarefa de educar. O lugar que antes era dos pais, passa ser dos professores, juntamente com os sentimentos que a criança direcionava.

Kupfer (2004) percebe que Freud deu mais ênfase à relação entre professor e aluno do que o real valor cognitivo que transitam entre eles. A relação da qual Freud fala, é a relação afetiva entre aluno e professor. Essa relação afetiva são afetos primitivos, antes já mencionados, pois eles são primeiramente direcionados aos pais, passando, então, a ser direcionada para o professor, o qual é determinante para que ocorra a aprendizagem.

Essa relação afetiva entre aluno e professor é a que é possível encontrar expressão na teoria freudiana no conceito de transferência, que são sentimentos de vivências afetivas do passado que o sujeito transfere para outras pessoas. Assim, o aluno em determinado momento coloca o professor no lugar do pai ou da mãe, sendo isso manifestações inconscientes, repetições de protótipos infantis (KUPFER, 2004).

Portanto, o professor passa a ser uma figura a quem o aluno endereça esses afetos, direcionando a ele um objeto de transferência. O que se transfere são as experiências vividas primitivamente com os pais. Fazendo um deslocamento do desejo, no qual utiliza as mais variadas formas para suas significações e, a partir desses deslocamentos, surge o desejo de aprender (KUPFER, 2004).

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É na relação professor-aluno que a transferência quando ativada vai desenvolver um desejo de saber no aluno, que vai de encontro com algo no qual o faz vivenciar alguma cena do passado. O que se transfere são os estereótipos dos pais, sendo importante fixar ideias de que o desejo é inconsciente e que se busca formas de esvaziá-las, colocando sentido no que interessa. O que se transfere é o sentido que se dá a figura determinada pelo desejo (KUPFER.2004).

Freud vai dizer que, assim como os sonhos são formas de realização de desejos ocultos, a transferência vem como deslocamento no qual o desejo opera, utilizando várias formas de apoderar-se, dando novas formas de significações. Assim, a transferência vem ser como um sonho, de forma que esse desejo se realize. Logo, a transferência vem a ser algo que se desloca de um lugar para outro (KUPFER, 2004). Kupfer explica que,

Talvez um exemplo ajude a entender melhor do que fala Freud em A interpretação dos sonhos. Torna-se, entre o número vastíssimo de sonhos analisados por Freud, um exemplo ao acaso, muito simples: Um homem sonha que vê, num determinado lugar, uma mulher, envolvida por um halo de luz branca, que veste uma blusa branca. A explicação do sonho é a de que esse homem tivera, nesse mesmo lugar, sua primeira cena de amor com uma mulher chamada Branca. Portanto, a cor Branca é “tomada de empréstimo” apenas para que o desejo signifique o que lhe interessa: o nome da amada. (Kupfer Maria Cristina, FREUD E A EDUCAÇÃO, O Mestre do Impossível, p. 89).

Uma vez que os sonhos são manifestações inconscientes, Freud vai dizer que a transferência ocorre no mesmo sentido e os elementos dos sonhos vão ocorrer, igualmente, em relação ao professor da maneira inconsciente. Sendo assim, a transferência produz no aluno um desejo de saber que se aferra a algo particular do professor (KUPFER, 2004).

A partir desse entendimento, a transferência é tomada de algo que Freud amplia da noção de clichê, de modo que o que se transfere ao professor são estereótipos dos pais. Esses desejos inconscientes que buscam agarrar-se a formas que possam esvaziar e colocar novas significações e sentidos que lhe interessem, nesse caso, será direcionado ao aprender (KUPFER, 2004). Através desses efeitos, o professor fica inevitavelmente carregado de importância, tornando-se uma figura especial para o aluno. Desse modo, a transferência operada pelo desejo passa a ser também a transferência de poder (KUPFER, 2004).

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Desta maneira, o aluno dirige-se ao professor atribuindo-lhe um sentido conferido pelo desejo, passando a fazer parte do cenário inconsciente. A partir desse lugar o professor não será mais meramente alguém que lhe fala, mas sim alguém que ocupa um lugar especial no inconsciente do sujeito que se faz ser escutado. (KUPFER, 2004). Para a autora,

Isso explica, em parte, o fato de haver professores que nada parecem ter de especial, mas que, na realidade, marcaram o percurso intelectual de alguns alunos. Quantas vezes não ouvimos dizer que alguém optou por ser Geógrafo porque teve, no ginásio, um professor que despertou seu gosto pela matéria! Não era nenhum grande teórico do assunto, tanto que só aquele aluno se interessou pela Geografia. A ideia de transferência mostra que aquele professor em especial foi “investido” pelo desejo daquele aluno. E foi desse “investimento” que a palavra do professor ganhou poder passando a ser escutada (Kupfer, 2004, p. 92).

Sendo, então, transferido para o professor o desejo que opera como um mero suporte de esvaziamento, esse desejo será como uma mola precursora do aprender. Ocupar-se deste lugar no qual é designado ao professor na transferência não é tarefa fácil, pois precisará se esvaziar como pessoa para dar lugar a outro desconhecido (KUPFER, 2004). Desse lugar, cabe ao professor saber lidar com tal posição, para que não caia na tentação de impor ao aluno as suas próprias ideias e valores, instituindo-lhe o seu próprio desejo. Mas, evidencia-se sim a importância de permitir a esse aluno aprender a superar e conduzir seu percurso, assim como fizera com relação aos seus pais (KUPFER, 2004).

Fica, então, para o professor, o desafio de não responder a essa tentação, pois precisará, assim como fizeram os pais, deixar este aluno livre, para que ele fique na posição de aluno desejante. Dessa forma, o professor contribui para a

formação de um ideal (KUPFER, 2004). Ao ser submetido a figura do mestre, o

aluno fica na posição de quem aprende com alguém, possibilitando que alguém o fale, pois ele o escuta. Nessa perspectiva, o aluno grava as informações que lhe são passadas, pois o professor serve de espelho do conhecimento, não saindo da relação de sujeito pensante (KUPFER, 2004).

O educador, ao colocar esse aluno no lugar de sujeito e não somente de aprendiz, renunciando todo e qualquer excesso de métodos de ensino e adestramentos, estará dando um lugar para o desejo do aluno. Quando isso acontece, o educador está sendo norteado pela ideia de que está marcado por

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inscrições primordiais, que dará sempre o norte para o percurso do seu aluno (KUPFER 2004).

2.2 A importância da transferência na relação professor e aluno

Segundo Freud (1913-1914), é a partir da possibilidade de desligamento dos pais que abre espaço para um terceiro, sendo este o professor. Quando este desligamento não acontece, fica fragilizada a possibilidade de este terceiro sujeito entrar. De modo que a transferência só se torna possível quando este aluno coloca o professor inconscientemente no lugar da imago paterna ou materna, e é fundamental os pais terem feito este desligamento para que possam ser substituídos.

Para Anny Cordié (1996), o desejo de saber na criança e suas necessidades de aprender estarão, de alguma forma, na curiosidade, no prazer de descobrir o conhecimento e, pode-se acrescentar, que isto se dá na relação com o outro. A curiosidade se dá a partir deste desligamento. E é justamente a curiosidade de saber, se dar conta deste desligamento, que Freud (1913-1914) apresenta, que abre espaço para o novo, para a relação com o outro. Entretanto, a partir da não possibilidade deste outro entrar é que se há de pensar, então, em um possível fracasso na aprendizagem. Uma vez que se trata de transferência na relação professor e aluno, quando a transferência não opera, o que fica fragilizado é a aprendizagem, podendo gerar para o aluno uma situação de fracasso.

Conforme Cordié (1996), não se obriga uma criança a aprender, pois é necessário que ela deseje. Não acabe a alguém obrigar o outro desejar. Muitos pais acreditam que sim, precisam motivar seus filhos, fazendo de um tudo para que a escola lhe pareça algo maravilhoso. Porém, o que é imposto vindo do desejo dos pais se torna impossível à criança sustentar, anulando tal conhecimento. Assim, a pulsão do saber fica impedida e o desejo fica esquecido.

Kupfer (2000) aponta, ainda, que são os pais que possibilitam o registrodas

marcas de desejos nos filhos, através da educação. Por esse viés, “[é] pela educação que um adulto marca seu filho com marcas de desejo; assim o ato

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educativo pode ser ampliado a todo ato de um adulto dirigido a uma criança” (Kupfer, 2000, p. 35).

Portanto, ao finalizar esse capítulo, entende-se que as formas que a criança usa para dar conta do universo escolar são trazidas de suas vivências familiares, sendo elas positivas ou negativas. A partir desses decorrentes, pode-se pensar em formas que a criança cria para colocar o professor neste lugar de suposto saber. E quando isso não acontece, da mesma forma que a possibilidade de colocar o professor neste lugar, estará também em jogo o não aprender. O fracasso causa um mal-estar no professor, dando um olhar, muitas vezes, discriminativo e, consequentemente, dificultando ainda mais a possibilidade de transferência e, com isso, o aprendizado. Segundo Kupfer (2004),

Instalada a transferência, tanto o analista como o professor tornam-se depositório de algo que pertence ao analisando ou ao aluno. Em decorrência dessa “posse”, tais figuras ficam inevitavelmente carregadas de importância especial. E é dessa importância que emana o poder que inegavelmente tem sobre o indivíduo. Assim, a razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também a transferência de poder. (Kupfer, 2004, p. 91).

De fato, o não colocar o professor no lugar de alguém em quem se possa confiar, torná-lo-ia também estranho a esse aluno, sendo assim impossível de se colocar à disposição do aprender. O estar à disposição se torna fundamental e indispensável para que o aprender opere. Tanto para o professor quanto para o aluno não é fácil se deparar com a não transferência. O não estar nesse processo de transferência causa angustia e sofrimento para ambos, pois o resultado disso é o não aprender.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicanálise traz grandes contribuições em relação ao funcionamento psíquico do sujeito, e isto está implicado em sua formação educacional. A educação, desde os primórdios, nos traz muitas questões, sendo o aprender a maior delas. Portanto, pensar a relação do sujeito com a aprendizagem remete à transferência,

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tão presente, segundo a psicanálise, nas relações. Esse foi o propósito deste trabalho.

Para pensar a transferência na relação professor e aluno, parte-se da construção do conceito na obra de Freud. Ao conhecer a historicidade em relação ao fenômeno da transferência, torna-se possível entender as suas vicissitudes e os seus desdobramentos, demostrando o quanto se tornam sensíveis a tal relação. Como são inúmeras as possibilidades com as quais um sujeito se depara no ato de aprender, ao explorar o tema da transferência é possível aferir a sua relevância no processo educativo, ponto do qual se ocupou o segundo capítulo.

A partir deste trabalho, tais contribuições fazem refletir sobre o papel do educador na vida do aprendiz e vice e versa, sendo que foi decorrente de estudos sobre a transferência que se tornou possível analisar esta relação professor e aluno. Com isso, atualmente, se pode afirmar que através do conceito de transferência é possível trazer uma grande contribuição para educação, uma vez que todo o grupo de educadores deveria se fazer compreender sobre este fenômeno.

Infelizmente, nas escolas ainda não percebemos o uso deste significativo instrumento. Isso se dá devido a simples razão dos professores estarem desprovidos de tal conhecimento, visto que já possuem um encargo enorme com planejamentos e cartilhas aplicadas, uma vez que são professores formados para tal e assim o fazem, sem conceber a lacuna que se apresenta como um espaço a ser explorado, viabilizando novas formas de relação com o aprender.

Assim, cabe ao psicólogo, profissional que, se inserido no ambiente escolar, poderá aferir das necessidades e orientar sobre a utilidade da transferência, demostrar o quão relevante é este fenômeno na relação professor e aluno, uma vez que o presente trabalho traz evidências de que a partir da transferência se desenvolve o desejo em aprender.

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REFERÊNCIAS

CORDIÉ, Anny. Os atrasados não existem: psicanalise de crianças com fracasso escolar. Trad. Sônia Flach e Marta D´Agord. Porto Alegre: Artes, 1996. DICIONÁRIO DE PSICANALISE: FREUD & LACAN. 1 prefácio de Claude Dorgeuille. Tradutora: Leda Mariza Ficher Bernardino. Salvador/BA: Algama, 1997.

FREUD, Sigmund. Conferencias Introdutória sobre Psicanalise. Parte III. Vol. 13. Rio de Janeiro- RJ. Imago 1996.

FREUD, Sigmund. Estudos sobre a Histeria. Rio de Janeiro/RJ. Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Novas recomendações sobre a técnica da psicanalise III. Vol. XII. Rio de Janeiro- RJ. Imago. 1996

FREUD, Sigmund. Primeiras Publicações Psicanalíticas. Rio de Janeiro- RJ. Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Um Caso de Histeria, Três Ensaios sobre Sexualidade e outros trabalhos. O Quadro Clínico. Vol. VII. Rio de Janeiro/RJ. Imago, 1996. KUPFER, Maria Cristina Machado. Educação para ofuturo: psicanalise e educação. São Paulo: Escuta, 2000.

LACAN, Jacques (1901-1981). O seminário: a transferência. Texto estabelecido por Jacques Alain Miller. Versão brasileira: Dulce Duque Estrada. Revisão do texto: Romildo do Rego Barros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992.

Referências

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