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A produção de soja no Rio Grande do Sul: uma atividade ainda em expansão

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Academic year: 2021

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JÚLIO CAVALHEIRO KOPF

A PRODUÇÃO DE SOJA NO RIO GRANDE DO SUL:

UMA ATIVIDADE AINDA EM EXPANSÃO

Ijuí 2020

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A PRODUÇÃO DE SOJA NO RIO GRANDE DO SUL: UMA

ATIVIDADE AINDA EM EXPANSÃO

Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Regional.

Orientador: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

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Catalogação na Publicação

Ginamara de Oliveira Lima CRB 10/1204 N975p

Kopf, Júlio Cavalheiro.

A produção de soja no Rio Grande do Sul: uma atividade ainda em expansão / Júlio Cavalheiro Kopf. – Ijuí, 2020.

163 f. ; il. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento Regional.

“Orientador Prof. Dr. Argemiro Luís Brum”.

1. Soja. 2. Indicadores. 3. Mesorregiões Gaúchas. 4. Desenvolvimento Regional. I. Brum, Argemiro Luís. II. Título.

CDU: 633.34

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A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Tese

“A PRODUÇÃO DE SOJA NO RIO GRANDE DO SUL: UMA

ATIVIDADE AINDA EM EXPANSÃO”

elaborada por

JÚLIO CAVALHEIRO KOPF

como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Desenvolvimento Regional

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (PPGDR/UNIJUÍ): __________________________________

Prof. Dr. Daniel Knebel Baggio (PPGDR/UNIJUÍ): _________________________________

Prof. Dr. Nelson José Thesing (PPGDR/UNIJUÍ): ___________________________________

Prof. Dr. Nilson Luiz Costa (PPGAGR/UFSM): ____________________________________

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Primeiramente, agradeço a UNIJUI e, juntamente, ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional pelo apoio institucional durante o doutorado. Certamente, o ambiente acadêmico, o contato com os professores, funcionários e colegas foi fundamental importância para a conclusão desta etapa.

Devo agradecer também ao Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, que acreditou desde o princípio nesta pesquisa e orientou a execução de todas as suas etapas, sempre disponível, paciente e bem-humorado. Foi uma honra poder trabalhar sob sua orientação. Agradeço aos demais professores, que aceitaram participar desta banca de qualificação, etapa decisiva no desenvolvimento da pesquisa, e agora na banca de defesa, pelas contribuições.

Aproveito também para agradecer ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, o Sindicato Rural e a EMATER que demonstraram interesse em participar desta pesquisa e se disponibilizaram, através dos seus representantes a me receber, atenciosamente, em suas instalações e colaborando de maneira fundamental para o resultado final deste trabalho de pesquisa.

Agradeço a toda minha família, pelo interesse constante, ainda que por vezes distante, em acompanhar minha trajetória e celebrar minhas conquistas. Mas devo agradecer, especialmente, aos meus pais - João Alberto W Kopf e Eloiza Cavalheiro Kopf - e vó Nelly Fogiatto pelo apoio incondicional e pelos conselhos sempre bem ponderados. Agradeço aos meus sobrinhos e afilhados – Leonardo, Gabriel, Agatha e Gustavo – os quais ainda não sabem ler, tampouco tem noção do quanto me ajudaram durante esta etapa, sempre enchendo minha vida de amor, alegria e leveza: vocês são a minha paz. Não posso deixar de agradecer aqueles que já não estão mais aqui tia Aguida Kopf e vó Anitta Wichrowsky Kopf in memoriam, que indiretamente fizeram parte deste processo de evolução pessoal as quais serei sempre grato.

Por fim, agradeço aos amigos que permanecem na distância, sobrevivem ao dia-a-dia, com quem eu divido as conversas, angústias e risadas, o meu eterno muito obrigado por fazerem parte da minha vida e compartilharem este momento em família.

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2017. Busca-se identificar e descrever quais foram as principais causas para esta expansão neste período, quando se julgava que não haveria mais espaço para tal no Estado gaúcho. Destaca-se as consequências trazidas pelo avanço da produção do grão, que geram mudanças na cadeia produtiva local da oleaginosa, assim como verifica-se quais foram os cultivos e atividades agrícolas atingidas neste processo. Os procedimentos metodológicos caracterizam a pesquisa como exploratória e de natureza quantitativa e qualitativa. Os dados foram coletados junto ao IBGE, EMATER e USDA, sendo utilizados indicadores de especialização Quociente Locacional (QL), de concentração Hirschman Herfindahl Modificado (HHm) e o de Participação Relativa (PR) da área de soja colhida no Estado, onde se selecionou 21 municípios em que houve avanço na produção do grão. Nestes locais foram feitas 45 entrevistas com produtores rurais e engenheiros agrônomos. Constatou-se que no período de estudo a soja avançou em área em seis das sete mesorregiões do Rio Grande do Sul, ocupando espaço da pecuária, arroz, milho, leite e feijão. Verificou-se que a principal razão do avanço é econômica, pois no período a soja apresentou lucratividade maior do que as demais atividades agropecuárias. Os resultados evidenciam a necessidade de políticas públicas para atrair, manter e qualificar a mão de obra nas lavouras de soja, de acordo com a nova realidade da cadeia produtiva da oleaginosa se adaptando a esta nova realidade de expansão do grão e as mudanças geradas no processo de desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

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and 2017. It seeks to identify and describe what were the main causes for this expansion in this period, when it was believed that there would be no more space for such in the State of Rio Grande do Sul. It highlights the consequences brought by the advance of grain production, which generate changes in the local production chain of oilseeds, as well as what were the crops and agricultural activities affected in this process. The methodological procedures characterize the research as exploratory and of a quantitative and qualitative nature. Data were collected from IBGE, EMATER and USDA, using indicators of Locational Quotient (QL) specialization, modified Hirschman Herfindahl (HHm) concentration and Relative Participation (PR) of the soybean area harvested in the State, where it was selected 21 municipalities where there has been progress in grain production. In these locations, 45 interviews were conducted with farmers and agronomists. It was found that during the study period, soy advanced in an area in six of the seven mesoregions of Rio Grande do Sul, occupying space for livestock, rice, corn, milk and beans. It was found that the main reason for the advance is economic, because in the period soybeans showed higher profitability than other agricultural activities. The results show the need for public policies to attract, maintain and qualify the workforce in soybean crops, according to the new reality of the oilseed production chain, adapting to this new reality of grain expansion and the changes generated in the process development of Rio Grande do Sul.

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Figura 1 – Cadeia produtiva do Agronegócio ... 21

Figura 2 – Cadeia Produtiva de Soja no Brasil ... 22

Figura 3 - Grandes produtores mundiais de soja (1960/2017 – Mt) ... 25

Figura 4 – Produção de soja no Brasil por região... 30

Figura 5 – Produção de soja no Brasil – 1970 a 2006 ... 35

Figura 6 - Evolução da área dos principais cultivos do Brasil – 1970 a 2017... 38

Figura 7 – Produção de soja no RS, por mesorregião (toneladas) 1990-2016 ... 41

Figura 8 – Área colhida de Soja no RS, por mesorregião (hectares) 1990-2016 ... 43

Figura 9 – Mesorregiões do Rio Grande do Sul ... 46

Figura 10 – Principais Produtores Mundiais de Soja (2004-2019) ... 57

Figura 11 – Principais Importadores Mundiais de Soja (2004-2019) ... 59

Figura 12 – Principais Exportadores Mundiais de Soja (2004-2019) ... 60

Figura 13 – Porcentagem Produção x Exportação (2004-2019)... 61

Figura 14 – Tamanho médio das propriedades rurais no RS (2004/2017) ... 64

Figura 15 - Movimento das propriedades no Rio Grande do Sul ... 67

Figura 16 – Motivo pela opção do plantio de soja ... 68

Figura 17 – Produtividade média em sacas de soja por hectare ... 71

Figura 18 – Representatividade da soja na renda da propriedade ... 74

Figura 19 –Cenário atual da produção de soja no RS ... 77

Figura 20 – Principais mudanças na produção de soja desde 2000 ... 81

Figura 21 – Área total agropecuária e área cultivada de soja no RS ... 84

Figura 22 - Quociente Locacional da Produção de Soja nos municípios do Rio Grande do Sul: 2004, 2010 e 2017 ... 86

Figura 23 – Índice de Hirschman-Herfindahl modificado (HHm) nos municípios do Rio Grande do Sul: 2004, 2010 e 2017 ... 88

Figura 24 –Participação Relativa nos municípios do Rio Grande do Sul: 2004, 2010 e 2017. 90 Figura 25 – Avanço da área plantada de soja (2004/2017) ... 95

Figura 26 – Principais causas para o avanço da soja no RS ... 96

Figura 27 – Principais consequências do avanço da soja em sua região ... 101

Figura 28 – Origem dos produtores de soja (2004/2017) ... 104

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Figura 33 – Principais cultivos/atividade que a soja substituiu (2004/17) ... 115

Figura 34 – Principais mudanças no dia a dia do produtor rural ... 120

Figura 35 – Principais mudanças na economia da cidade ... 123

Figura 36 – Elo mais frágil na cadeia produtiva da soja ... 126

Figura 37 – Uso de sementes transgênicas e defensivos agrícolas ... 127

Figura 38 – Existência de conflitos entre produtores e indígenas ... 128

Figura 39 – Posicionamento sobre a atual política e leis ambientais no país ... 129

Figura 40 – Sugestões de temas para futuras pesquisas ... 131

Figura 41 – Mesorregião Noroeste ... 1131

Figura 42 – Mesorregião Nordeste ... 13133

Figura 43 – Mesorregião Centro-Ocidental ... 134

Figura 44 – Mesorregião Centro-Oriental ... 135

Figura 45 – Mesorregião Metropolitana ... 136

Figura 46 – Mesorregião Sudoeste ... 137

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Tabela 1 – Produção de Soja Mundial e dos Principais País (em milhões de toneladas métricas)

... 24

Tabela 2 - Produção, variação da produção, área colhida, variação da área colhida, rendimento médio e variações do rendimento médio, segundo as principais lavouras Brasil - período 1995-1996 e 2006 ... 36

Tabela 3 - Quociente Locacional dos Municípios (2004-2017) ... 52

Tabela 4 - Índice de Hirschman-Herfindahl modificado (HHm) (2004-2017) ... 53

Tabela 5 - Índice de Participação Relativa (PR) (2004-2017) ... 54

Tabela 6 – Tempo de trabalho ligado à atividade agrícola ... 63

Tabela 7 – Roteiro de pesquisa ... 92

Tabela 8 – Mesorregião Noroeste 2019 ... 132

Tabela 9 – Mesorregião Nordeste 2019 ... 133

Tabela 10 – Mesorregião Centro-Ocidental 2019 ... 134

Tabela 11 – Mesorregião Centro-Oriental 2019 ... 135

Tabela 12 – Mesorregião Metropolitana 2019 ... 136

Tabela 13 – Mesorregião Sudoeste 2019 ... 137

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1 INTRODUÇÃO ... 13 1.1 TEMA ... 13 1.2 PROBLEMA ... 13 1.3 TESE ... 14 1.4 PREMISSAS ... 14 1.5 OBJETIVOS ... 15 1.5.1 Geral ... 15 1.5.2 Específicos ... 15 1.6 JUSTIFICATIVA ... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

2.1 TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO ... 17

2.2 CADEIAS PRODUTIVAS AGROALIMENTARES ... 19

2.3 CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NO BRASIL ... 22

2.4 ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA ... 23

2.4.1 Principais produtores mundiais de soja ... 23

2.4.1.1 Estados Unidos da América (EUA) ... 26

2.4.1.2 China ... 27

2.4.1.3 Brasil ... 29

2.4.1.4 Argentina ... 31

2.5 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA ... 31

2.6 A EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL ... 36

2.6.1 A evolução da produção de soja no Rio Grande do Sul ... 39

3 METODOLOGIA ... 45

3.1 PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS ... 45

3.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 46

3.3 UNIVERSO E AMOSTRA ... 48

3.4 PLANO DE COLETA DE DADOS ... 49

3.5 PLANO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ... 50

3.5.1 Quociente Locacional (QL) ... 50

3.5.2. Índice de Hirschman-Herfindahl modificado (HHm) ... 52

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ESCALA MUNDIAL ... 56

4.2 AS CARACTERISTICAS DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NO RIO GRNADE DO SUL ... 62

4.3 ANÁLISE DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO DA SOJICULTURA NO RIO GRANDE DO SUL ... 84

4.3.1 Quociente Locacional (QL) ... 85

4.3.2 Índice de Hirschman-Herfindahl modificado (HHm) ... 87

4.3.3 Participação Relativa (PR) ... 89

4.4 POSSÍVEIS IMPACTOS DA EXPANSÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO RIO GRANDE DO SUL ... 95

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 141

6 REFERÊNCIAS ... 146

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1 INTRODUÇÃO

A soja é a principal oleaginosa produzida e consumida no mundo, e a sua importância está no fato de, ao ser processada, resultar em outros produtos como o farelo e o óleo se soja. O farelo de soja é rico em proteína e é destinado, na sua maioria, para elaboração das rações de consumo animal, enquanto o óleo de soja se destina, principalmente, para o consumo humano. Após ter sido o principal exportador mundial da oleaginosa por muitos anos, desde a década de 1970 até os anos 2000, o Brasil se consolidou como o segundo maior produtor mundial de soja e, atualmente, é o maior exportador de farelo e grão de soja no mundo. A produção brasileira segue batendo recordes nos últimos anos sendo uma das principais riquezas do Centro-Sul brasileiro, tendo sua origem na região Noroeste do Rio Grande do Sul e, com o passar do tempo, se alastrando para o Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.

1.1 TEMA

Especificamente no Rio Grande do Sul, a produção presente na cadeia produtiva, após um longo período de consolidação e expansão parece dar mostras de esgotamento. Todavia, nos últimos anos (1996-2017) novas áreas de produção, particularmente nas regiões orizícolas do sul e oeste do Estado, assim como um incremento na produtividade nas regiões tradicionais, deixam a entender que este esgotamento não está se concretizando. Nesse contexto, o presente estudo busca verificar, a partir de uma análise da estrutura da produção da oleaginosa, se efetivamente, ou não, o processo econômico da soja está em esgotamento no Estado do Rio Grande do Sul e como isso reflete em seu crescimento e desenvolvimento econômico.

1.2 PROBLEMA

A globalização acentuada da economia internacional nas últimas décadas igualmente atinge o sistema produtivo e comercial das diferentes commodities mundiais. A cadeia produtiva da soja não escapa à regra e se torna uma das mais vulneráveis às constantes mudanças no cenário econômico global. O mesmo afeta diretamente aos produtores e consumidores, com repercussões tanto no comércio interno quanto externo da oleaginosa.

Assim como surgem novos mercados, também se destacam novas formas de comercialização, novos atores no contexto da cadeia produtiva em geral e no processo comercial em particular. Isso exige um estudo aprofundado da evolução atual da produção da

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oleaginosa e quais as consequências que a mesma traz junto às diferentes regiões produtoras brasileiras.

Neste último caso, o crescimento e desenvolvimento econômico de boa parte do Rio Grande do Sul estão ligados a este sistema produtivo, o qual estaria sendo colocado parcialmente em xeque a partir desta nova realidade vivida pela produção da soja.

Afinal, com a aceleração da internacionalização do agronegócio brasileiro, especialmente a partir dos anos de 1990, tanto no sentido patrimonial (importância crescente do capital estrangeiro na propriedade dos ativos das cadeias agroalimentares), quanto no comercial (aumento da inserção da produção brasileira de commodities nos circuitos comerciais e produtivos mundiais), as fronteiras produtivas se transformam, levando a novas formas de relação econômica, processos produtivos e relações sociais, ambientais e tecnológicas.

Neste sentido, o problema que o presente trabalho pretende esclarecer é o seguinte: quais são as causas que estimulam a expansão da produção de soja nas diversas regiões do Rio Grande do Sul e quais são as consequências desta expansão no desenvolvimento regional?

1.3 TESE

A tese que move o presente estudo se concentra na premissa de que as novas estruturas produtivas e comerciais, inerentes à cadeia da soja gaúcha, permitem pensar que a expansão econômica desta oleaginosa ainda não estaria esgotada no Estado do Rio Grande do Sul, fato que explica sua importância no crescimento e desenvolvimento econômico das diferentes regiões do Estado.

1.4 PREMISSAS

1) A produção de soja no Brasil continua em expansão e, contrariamente ao que se imagina, em regiões pioneiras de sua implantação, caso do Rio Grande do Sul, o processo econômico da mesma mantém-se ainda em crescimento, influenciando positivamente o desenvolvimento regional.

2) Alterações na configuração no sistema de produção devido à crise do arroz, a baixa rentabilidade na pecuária e o aumento na competitividade da soja possibilitaram a sua expansão em regiões gaúchas tradicionalmente voltadas para outros tipos de culturas, caso do

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3) Além da expansão da soja sobre novas áreas gaúchas, anteriormente cultivadas com outras culturas tradicionais, caso do arroz, seu ciclo não se esgota no Rio Grande do Sul porque nas regiões produtoras pioneiras, particularmente o Noroeste, há ganhos constantes de rentabilidade econômica.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Geral

Analisar o processo de expansão da produção de soja nas diversas mesorregiões do Rio Grande do Sul, identificando as principais causas que sustentam o crescimento da atividade e as possíveis consequências para o desenvolvimento regional nas últimas duas décadas (2004-2017).

1.5.2 Específicos

- Analisar a dinâmica de desenvolvimento da cadeia produtiva da soja em escala mundial;

- Caracterizar a cadeia produtiva de soja no Rio Grande do Sul;

- Analisar a evolução da área colhida, da produção física de soja nas diversas mesorregiões do Rio Grande do Sul;

- Identificar possíveis impactos da expansão da produção de soja no desenvolvimento regional do Rio Grande do Sul.

1.6 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho tem relevância em termos gerais e para as regiões gaúchas estudadas (pioneira e novas regiões) em particular, na medida em que buscará detectar, além de fatores positivos e negativos na produção de soja e nas relações existentes na sua cadeia produtiva, as eventuais necessidades de mudanças para que as organizações e produtores, de cada região estudada, possam se manter inseridos na produção deste grão, auxiliando na geração de condições de desenvolvimento econômico regional.

De maneira convergente, assume igualmente importância acadêmica uma vez que a Unijuí, como Instituição Regional de Ensino Superior, mantém o programa de Doutorado em

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Desenvolvimento Regional, sendo que uma das ênfases (linha de pesquisa) é a do Desenvolvimento Territorial e Sistemas Produtivos. Através deste instrumento, a universidade busca atuar em pesquisa visando melhorar a qualidade de vida dos cidadãos da região. Os resultados destas pesquisas servem de base para novos estudos acadêmicos, com enfoques semelhantes ou complementares.

Destaca-se que, até o presente momento, os estudos científicos em torno do enfoque que move esta tese, nestas regiões específicas, são poucos, o que torna o presente objeto de pesquisa oportuno. O estudo contribui para uma melhor compreensão da economia regional da soja, sendo possível associá-la ao contexto nacional e internacional, com sugestões de mudanças que estejam de acordo com a realidade existente. Ao mesmo tempo, permite evidenciar os gargalos existentes no funcionamento da cadeia produtiva da oleaginosa, incluindo os processos de comercialização do grão, em busca de suas superações para melhorar as potencialidades dos agentes econômicos em geral e dos produtores rurais em particular, ligados a este setor. Enfim, permite um aprofundando na formação acadêmica e pessoal do pesquisador.

Quanto a sua viabilidade, o estudo apresenta boas condições para que seja desenvolvido e concluído com êxito, uma vez que os fatores e condições externas necessárias encontram-se presentes no cenário regional. A implantação dos resultados dessa pesquisa, depois de concretizado, é viável, pois pode levar a uma melhor compreensão da expansão da produção de soja e seus efeitos sobre o funcionamento da cadeia produtiva da oleaginosa e sobre o desenvolvimento regional, podendo servir de ponto de partida para os agentes econômicos, públicos e privados, que dela participam, anteciparem decisões e estratégias de ação.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na fundamentação teórica, primeiramente é abordada a teoria da Base Exportadora, a qual busca explicar como a escolha por uma especialização produtiva é decisiva para as características do desenvolvimento de uma região. A seguir, são destacados os principais aspectos sobre sistema produtivos agroalimentares, assim como a cadeia produtiva da soja no Brasil. Na terceira parte se traça um breve panorama da economia mundial da soja, destacando o processo histórico do desenvolvimento da produção da oleaginosa no Brasil. Por fim, são identificadas e caracterizadas as principais mesorregiões produtoras de soja no Rio Grande do Sul na atualidade, assim como o uso dos três indicadores escolhidos para o estudo: de especialização (QL), de concentração (HHm) e de Participação Relativa (PR).

2.1 TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO

A Teoria da Base de Exportação surge em 1955, quando Douglas North publicou os resultados do seu estudo com o título “Teoria da Localização e Crescimento Econômico Regional”, no qual é feita uma análise das correlações entre crescimento econômico de uma determinada região, tendo como fundamento, explicar como o processo de desenvolvimento regional pode ter origem a partir de um impulso externo (exógeno) à região, ou seja, pela demanda de seus produtos por outras regiões e países, através das exportações de bens e serviços.

Em conformidade com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a exportação é, basicamente, a saída da mercadoria do território aduaneiro, decorrente de um contrato de compra e venda internacional, que pode ou não resultar na entrada de divisas. A atividade de exportar pressupõe uma boa postura profissional, conhecimento das normas e versatilidade (MDIC, 2014).

Sendo assim, as exportações de bens e serviços são um fator determinante na taxa de crescimento econômico das regiões. Em paralelo, as operações de importação no aumento da amplitude e oportunidade de escolha dos consumidores e bens e serviços.

Segundo North (1977) as exportações apresentam um papel fundamental na determinação do nível de renda absoluta e per capita de uma região, ou seja, seriam, portanto, o próprio motor que inicia o crescimento local e/ou regional, determinando seu alcance através do efeito multiplicador que as exportações produziriam sobre as outras atividades (não-básicas).

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Esta lógica de desenvolvimento proposta por Douglas North evidencia a importância do papel das exportações, principalmente no último estágio, como peça-chave no processo de desenvolvimento econômico de uma região que possua empresas que atuem no comércio exterior.

North (1977) observa que o processo de desenvolvimento europeu é explicado a partir de certas fases pelas quais passaram algumas regiões do continente, tais como: em estágio de subsistência, rápido processo industrial, depois graças ao comércio inter-regional observa-se uma maior produção “forçando” a região a se industrializar, e por fim uma região se especializa em produtos para a exportação.

Segundo a linha de pensamento ao notar-se que a procura por um determinado produto ou serviço característico e abundante a uma região é feita por entidades externas a essa região, pode-se dizer que esta região é ou pode se tornar exportadora deste produto ou serviço. A comercialização se dá então, pela exploração e exportação destes produtos e serviços abundantes, viabilizados por impulsos exógenos, sendo que as receitas provenientes, podem estimular o processo de crescimento econômico na região (MENDES, 2008).

Segundo North (1977), tanto a teoria da localização como a teoria do crescimento regional descrevem uma sequência dos estágios que as regiões percorrem no curso de seu desenvolvimento, da seguinte forma:

1- A primeira etapa é de subsistência, na qual existe pouco investimento ou comércio. A camada principal da população, agrícola, localiza-se de acordo com a distribuição de recursos naturais.

2- Na segunda etapa, à medida em ocorrem melhorias nos transportes, a região passa a desenvolver algum comércio e especialização. Surge uma segunda camada da população, que passa a gerar modestas indústrias locais para os agricultores.

3- Na terceira etapa, com o aumento do comércio inter-regional, a região tende a se deslocar através de uma sucessão de culturas agrícolas, que vão da pecuária extensiva à produção de cereais, a fruticultura, à produção de lacticínios (nesta etapa iniciam-se as exportações).

4- Na quarta etapa a região é forçada a se industrializar (já exportando), devido ao crescimento da população, dos rendimentos decrescentes da agricultura e das outras indústrias extrativistas. Em um primeiro momento se direciona à industrialização de produtos agrícolas e florestais, passando posteriormente pela industrialização de produtos minerais, e finalmente, chegando à indústria de fundição, indústrias químicas, de vidros e cerâmicas. Esta etapa é

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5- Na quinta etapa atinge-se o estágio final do desenvolvimento regional, quando a região se especializa em atividades terciárias, produzindo para exportação. Neste estágio a região exporta capital, mão de obra qualificada e serviços especiais para as regiões menos desenvolvidas (NORTH, 1977).

Esta lógica de desenvolvimento proposta por Douglas North evidencia a importância do papel das exportações, principalmente no último estágio, como peça-chave no processo de desenvolvimento econômico de uma região que possua empresas que atuem no comércio exterior.

A base de exportação também possui fatores que levam ao seu crescimento, entre estes pode-se destacar: o desenvolvimento dos transportes, viabilizando a produção de artigos antes economicamente inviável devido ao alto custo de transferência; crescimento da renda e da demanda em outras regiões; desenvolvimento de novas tecnologias redutoras de custo de produção; participação do governo estadual e federal na criação de benefícios sociais básicos, entre outros.

Em conformidade a isso Mendes (2008) destaca que desta maneira North aponta a relevância das exportações como fator determinante na taxa de crescimento das regiões e explica que este processo se inicia pelas vantagens locais especiais, que diminuem os custos de transferências e processamento dos artigos exportados. Os centros se tornam centros comerciais, através dos quais produtos saem (exportados) da região e produtos entram (importados) na região, para a distribuição em toda área (MENDES, 2008)

2.2 CADEIAS PRODUTIVAS AGROALIMENTARES

O estudo de Sistemas Agroindustriais (SAG), tem ampla aplicação que vai desde o desempenho de políticas públicas até arquitetura de organização e formulação de estratégias corporativas. As relações de interdependência entre as indústrias de insumos, produção agropecuária, indústria de alimentos e o sistema de distribuição não mais podem ser ignorados. Neste sentido, Zylberstajn (2000) destaca que, um destes enfoques teóricos foi desenvolvido na França, gerando o conceito de cadeia (filière) aplicada ao estudo da organização agroindustrial, e exemplificando, tendo no Brasil influenciado alguns autores. Uma rica literatura foi desenvolvida no Brasil focalizando as cadeias ou sistemas produtivos, utilizando enfoques distintos, que culminam no final dos anos 90 com o surgimento do conceito de coordenação e gestão de sistemas agroindustriais.

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O conceito de cadeia (filière) é um produto da escola de economia industrial francesa que se aplica à sequência de atividades que transformam uma commodity em um produto pronto para o consumidor final. Tal conceito pretende aproximar as visões da organização industrial das necessidades da gestão pública (MORVAN, 1985).

A definição de cadeias, ou filières, não privilegia a variável preço no processo de coordenação do sistema e focaliza especialmente aspectos distributivos do produto industrial. Morvan (1985, p.17) define como:

Cadeia (filière) é uma sequência de operações que conduzem à produção de bens. Sua articulação é amplamente influenciada pela fronteira de possibilidades ditadas pela tecnologia e é definida pelas estratégias dos agentes que buscam a maximização dos seus lucros. As relações entre os agentes são de interdependência ou complementariedade e são determinadas por forças hierárquicas. Em diferentes níveis de análise a cadeia é um sistema, mais ou menos capaz de assegurar sua própria transformação.

O enfoque tradicional de cadeias considera três subsistemas: de produção, de transferência e de consumo. O primeiro, engloba o estudo da indústria de insumos e produção agropastoril; o segundo focaliza a transformação industrial, estocagem e transporte; o terceiro permite o estudo das forças de mercado. O sistema de commodities tende a focar o último subsistema como a força central que dá forma ao sistema do Agronegócio (Agribusiness).

Segundo os autores Davis e Goldberg (1957), o agronegócio não tem centro de controle ou direção, não tem presidente, conselho de administração e nenhum escritório central. Em vez disso, consiste em alguns milhões de unidades agrícolas e alguns milhares de unidades de negócios – cada uma delas uma entidade independente, livre para tomar as suas próprias decisões.

Além disso, existem centenas de associações comerciais, organizações de commodities, organizações agrícolas, organizações de pesquisas, órgãos de conferências e comitês, cada uma destas entidades concentrando-se amplamente em seus próprios interesses (DAVIS; GOLDBERG, 1957).

Estes diferentes agentes inerentes a cadeia produtiva do Agronegócio, estão interligados pela commodity que dá nome, caracteriza e é a razão de existência de todo sistema produtivo em questão, a soja, os mesmos podem ser vistos em destaque na figura a seguir.

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Figura 1 – Cadeia produtiva do Agronegócio

Fonte: Zylberstajn (1995).

Segundo Zylberstajn (2000) os agentes atuantes da geração de matéria-prima para a indústria de alimentos representam um dos elos mais conflituosos nos agronegócios. Por um lado, eles estão distantes do mercado final, portanto, em geral tem informações assimétricas, sendo ainda dispersos geograficamente e bastante heterogêneos.

A produção agrícola pode ser caracterizada como uma atividade de crescente complexidade, o que leva o agricultor a lidar com aspectos técnicos, mercadológicos, de recursos humanos, financeiros e ambientais. Essa complexidade vem induzindo a mudanças no perfil do agricultor brasileiro na atualidade, com muita rapidez em todo o mundo.

Atualmente, o agricultor brasileiro nas regiões mais desenvolvidas tecnicamente e voltadas para o mercado globalizado, é um agente produtivo que toma decisões e obtém informações, de modo muito similar ao dos empresários urbanos (ZYLBERSTAJN, 2000).

Em conformidade, Batalha (2009), destaca que a utilização do conceito de cadeia de produção como instrumento de formulação e análise de políticas públicas e privadas busca fundamentalmente identificar os elos fracos de uma cadeia de produção e incentivá-los através de uma política adequada.

Segundo esta visão, o sucesso de uma cadeia de produção agroalimentar é o resultado do desenvolvimento harmonioso de todos os agentes que atuam neste sistema produtivo.

Sendo assim, é importante o estabelecimento de políticas desenvolvimentistas regionais, um dos trabalhos do analista seria identificar os elos da cadeia complementares as atividades já existentes na região e estimular seu desenvolvimento através de mecanismos governamentais pertinentes (BATALHA, 2009).

Tal visão contraria aquela de promover o surgimento de grandes firmas que, poderiam atuar como impulsionadoras do desenvolvimento do conjunto da cadeia agroalimentar como um todo.

Ainda, de acordo com Batalha (2009), uma análise em termos de cadeia de produção agroindustrial, permite uma visão global do sistema que evidencia a importância de uma melhor

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articulação entre os agentes econômicos privados, o poder público e os desejos e necessidades dos consumidores dos produtos finais da cadeia. Além disso, ela permite uma melhor coordenação entre os agentes envolvidos diretamente com as atividades da cadeia de produção e os agentes de apoio, entre os quais destaca-se o Governo.

2.3 CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NO BRASIL

Uma cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformações dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico. Cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes (BATALHA, 2009).

Conforme já mencionado anteriormente, os grãos de soja podem ser usados para diferentes fins, como por exemplo: o farelo pode ser usado na fabricação de ração para alimentação de animais; o óleo pode ser usado no preparado de alimentos; e também na fabricação de cosméticos, remédios, revestimentos, adubos, tintas e plásticos.

A cadeia produtiva da soja no Brasil envolve as atividades de produção agrícola, propriamente dita (lavoura e extração de óleo vegetal), e aquelas relacionadas ao fornecimento de insumos (sementes, adubos e máquinas), como pode-se visualizar na Figura a seguir.

Figura 2 – Cadeia Produtiva de Soja no Brasil

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O setor produtivo da soja é o elo essencial nesta cadeia agroindustrial, pois é ele que movimenta e interliga os demais segmentos. Primeiramente, a partir das fazendas, a soja em grão segue por ferrovia, rodovias ou hidrovias, com destino a armazenagem, ou para sofrer algum tipo de processamento industrial, sendo por vezes destinada à exportação. Uma vez que o produto esteja acabado, segue para ser distribuído por diferentes modos de transporte até o cliente final.

Após a produção, a comercialização da soja é o próximo elo da cadeia. A expansão da produção de soja foi acompanhada pela expansão de plantas industriais esmagadoras (transformação de soja em grão em óleo bruto e farelo).

Além disso, a demanda externa pelo grão e pelos subprodutos da soja também acompanhou a evolução da soja no Brasil A produção da soja deve ser avaliada desde a aquisição dos insumos até a venda do produto saindo da lavoura.

Em concordância, Mendes (2008) salienta que, essa forma de pensar a agricultura é a visão sistêmica, segundo a qual o todo é maior do que a soma das suas partes. Essa visão se contrapõe à tradicional, que se concentra nos elementos do sistema como segmentos independentes de um todo, desconsiderando o que há de mais importante nele: o mecanismo de interação dos vários elementos que o compõe e, mais do que isso, os efeitos que as mudanças de um elemento podem trazer a todo sistema.

2.4 ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA

De acordo com Brum (2013), o mercado mundial da soja, nas décadas de 80 e 90, representou em volume, uma produção de grãos da ordem de 107 milhões de toneladas, sendo esse volume o máximo atingido na produção naquele momento. Já para 2018/19, segundo o Ministério da Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção mundial de oleaginosas está projetada em 594 milhões de toneladas, tendo a soja na liderança, com 355 milhões de toneladas esperadas.

2.4.1 Principais produtores mundiais de soja

As duas principais regiões produtoras de soja no mundo são a América do Sul, com um total de 172 milhões de toneladas em 2017/18, e a América do Norte, com um total de 119,5 milhões de toneladas no mesmo ano. Na América do Sul, os dois principais produtores são o Brasil e a Argentina, os quais representaram 90,7% do total produzido na região no ano

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indicado. Na América do Norte, a totalidade da produção está concentrada nos Estados Unidos da América (EUA), como pode se verificar na Tabela a seguir.

Tabela 1 – Produção de Soja Mundial e dos Principais País (em milhões de toneladas métricas)

Ano Estados Unidos Brasil Argentina Mundo

2005-2006 83.507 57.000 40.500 220.809 2006-2007 87.001 59.000 48.800 236.241 2007-2008 72.859 61.000 46.200 218.963 2008-2009 80.749 57.800 32.000 212.026 2009-2010 91.470 69.000 54.500 260.486 2010-2011 90.663 75.300 49.000 264.286 2011-2012 84.291 66.500 40.100 240.559 2012-2013 82.791 82.000 49.300 268.571 2013-2014 91.389 86.700 53.400 282.462 2014-2015 106.878 97.200 61.400 319.776 2015-2016 106.857 96.500 56.800 313.012 2016-2017 116.920 114.600 55.000 348.120 2017-2018 119.520 119.500 37.000 336.700 Fonte: USDA (2018).

O comércio mundial de soja, em 2017/18 somou 152 milhões de toneladas. O maior exportador da oleaginosa é o Brasil, com 73,3 milhões de toneladas, seguido dos EUA com 56,2 milhões em 2017/18. Juntos, os dois países representaram 85,2% do total exportado no mundo no ano indicado. Já o maior exportador de farelo de soja é a Argentina, com 29 milhões de toneladas em 2017/18, ou seja, 45% do total mundial neste ano. Em segundo lugar vem o Brasil, com 15,6 milhões, e os EUA com 11,5 milhões de toneladas. Em óleo de soja, a Argentina igualmente assume o primeiro lugar, com 4,7 milhões de toneladas exportadas em 2017/18, ou seja, 44% do total mundial. Na sequência tem-se o Brasil, com 1,5 milhão, e os EUA, com 1,04 milhão de toneladas no mesmo ano.

Por sua vez, o maior importador mundial do grão de soja é a China, com 97 milhões de toneladas compradas em 2017/18, ou seja, 64% das importações mundiais da oleaginosa. Longe, atrás, vem a União Europeia com 14,1 milhões de toneladas importadas no ano em questão, representando 9,3% do total mundial. Quanto às importações de farelo e óleo de soja, no primeiro caso o maior comprador mundial é a União Europeia, com 18,5 milhões de toneladas, seguida da Sudeste Asiático com 16,3 milhões em 2017/18. Estas duas regiões representaram 57% do total mundial importado. No caso do óleo de soja, o maior importador individual é a Índia, com 3,4 milhões de toneladas no ano em questão, seguida da África do Norte com 1,7 milhão. As duas regiões perfazendo 50% do total mundial importado deste

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Em conformidade, Brum (2002) destaca que no mercado mundial das proteínas existem dois tipos de demanda. A primeira emana da alimentação humana e é essencialmente satisfeita por algumas grandes famílias de matérias-primas, vegetais e animais (cereais, oleaginosas, leguminosas, raízes, tubérculos, frutas, legumes, carne, leite, ovos e peixes). A segunda emana da alimentação animal, e esta é satisfeita pelas forragens, rações com base em milho, trigo, soja, oleaginosas em geral, etc.

As previsões são de que os desequilíbrios nos mercados mundiais de proteínas devem se acentuar no futuro caso não seja feita nenhuma mudança de grande amplitude. Isso se deve ao fato do crescimento demográfico, ao desengajamento de certos Estados, às pressões internacionais para se obter uma abertura nos diferentes mercados, e ao aceite geral de uma certa dependência em relação as ofertas internacionais para a alimentação.

Em um período mais longo, conforme a figura a seguir, os seis maiores produtores de soja representam mais de 92% dos grãos produzidos mundialmente, na ordem, são: Estados Unidos, Brasil, Argentina, China, Índia e Paraguai.

Figura 3 - Grandes produtores mundiais de soja (1960/2017 – Mt)

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No ano 2000, a América do Sul (Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai) ultrapassou pela primeira vez, e de forma definitiva, a produção anual dos EUA. Em 2018/19 projeta-se que, pela primeira vez na história, o Brasil, sozinho, venha a superar os EUA. Por outro lado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), no ano de 2013 o Brasil se tornou o maior exportador do grão de soja, exportando 42 milhões de toneladas, posição que vem mantendo até hoje.

2.4.1.1 Estados Unidos da América (EUA)

Somente a partir de 1919, com a criação da American Soybean Association (ASA), que este grão passou a ser desenvolvido nos EUA. Este país começou a produzir de fato em 1923 (data em que as primeiras estatísticas aparecem), sendo que nos EUA a produção de soja começa efetivamente, apenas no ano de 1923.

A partir dos anos de 1940, em especial após o fim da Segunda Guerra Mundial, ocorrem mudanças profundas na economia mundial da soja e das demais oleaginosas. Os EUA avançam ainda mais na produção, se constituindo no maior produtor mundial de soja daquela época, e passam a “exportar” o seu modelo agroalimentar para o mundo. O mesmo dará origem a Revolução Verde que, por sua vez, irá provocar o processo de modernização da agricultura no Noroeste do Rio Grande do Sul (BRUM, 2002).

Além da produção de soja, os EUA têm forte presença na produção de milho, trigo e algodão. De acordo com os dados publicados pela National Agricultural Statistics Service

(NASS), ou seja, o Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas dos EUA, espera-se que os

agricultores dos EUA produzam uma safra de soja recorde em 2017, de acordo com o relatório da Produção de Cultivos, emitido em agosto. Com um aumento acima de 2% comparado ao ano de 2016, a produção de soja é prevista em 120 milhões de toneladas métricas, enquanto os produtores de milho deverão diminuir sua produção em 7% em relação ao ano passado, preveem 1,5 bilhão de toneladas métricas.

Ainda segunda a NASS, deve haver um amento de 7% em relação ao ano passado, com relação a área de colheita de soja, prevendo novo recorde de 35,9 milhões de hectares com área plantada para a nação estimada em 36,22 milhões de hectares. Espera-se que os rendimentos da soja sejam de 1,34 toneladas por hectare, ou seja, 0,07 toneladas a menos do que no ano passado. Os rendimentos de soja recordes são esperados nos estados de Delaware, Geórgia, Kentucky,

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Comparativamente, a produção de milho registrou aumento, segundo o USDA da safra 2017 de milho dos EUA para 60,2 milhões de toneladas, contra 58,3 milhões de junho. As expectativas do mercado para esse número variavam de 57,79 a 60,84 milhões de toneladas, com média de 56,8 milhões. E essa foi a única mudança no quadro norte-americano. Se realizado, este é o terceiro maior rendimento e produção registrada para os Estados Unidos. A NASS prevê rendimentos recordes em Alabama, Louisiana, Michigan, Mississippi, Nova York, Pensilvânia e Carolina do Sul. Quanto aos hectares plantados em milho, somam em 36,79 milhões, permanecem inalterados a partir da estimativa anterior da NASS. A partir de 30 de julho, 61% da safra de milho deste ano foi relatada em boas ou excelentes condições, 15 pontos percentuais abaixo do mesmo período do ano passado.

No caso da safra dos Estados Unidos, o órgão manteve em 47,37 milhões de toneladas a safra de trigo. Os estoques finais subiram de 26,92 milhões para 27,47 milhões de toneladas. Já os estoques finais norte-americanos caíram de 26,54 milhões para 25,86 milhões de toneladas. O volume ficou ligeiramente acima do indicado no último boletim, de 757,01 milhões de toneladas. Em contrapartida, os estoques finais mundiais registraram uma queda mais significativa e recuaram de 268,02 milhões para 266,10 milhões de toneladas.

2.4.1.2 China

No início do século XX o grande produtor e exportador mundial de soja era a China, sua produção chegava em torno de 2,5 milhões de toneladas e o comércio era bastante reduzido em volume, haja vista que este país consumia boa parte da soja que produzia.

Em conformidade, Brum (2002) destacada que, por um longo tempo a China foi o principal produtor e exportador de soja do mundo, perdendo a sua posição de liderança para os EUA em meados da década de 1950, embora a produção de soja tenha duplicado na China nos últimos 25 anos. No entanto, as necessidades do país, especialmente para a ração animal, progridem mais rapidamente que a produção de soja.

No interior do seu território os sistemas de produção são diferentes, segundo as regiões, e a superfície semeada com soja varia muito em função do seu preço relativo com o milho. A partir da desestatização da cadeia de soja no país, e a liberação do comércio exterior, se verifica hoje uma modernização da indústria de trituração de grãos, cujos efeitos, em termos de competitividade, poderão influenciar a produção dos outros países.

Nos últimos anos, os mercados de soja têm sido muito impulsionados pela demanda. O rápido aumento da China no cenário mundial, fez com que o país seja responsável por 60% de

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todas as importações de soja em todo o mundo. Enquanto o país é o maior importador, é responsável por apenas 4% da produção mundial de soja (ou 12,5 milhões de toneladas). Isso faz com que a China continue sendo o quarto maior produtor de commodities em todo o mundo. Outro grande importador é a União Europeia (até 2002 o maior importador). O bloco de países é responsável por 15% das importações mundiais. Do lado da demanda, a área que é mais importante para os preços da soja mudou para o leste (USDA, 2017).

A China investiu fortemente em instalações de esmagamento nos grandes portos com a ideia de ganhar dinheiro com o esmagamento de soja. Por isso, o país importa principalmente soja e menos farelo de soja e óleo. Para indicar a importância da soja; quase metade de todos os produtos agrícolas importados para a China são soja.

Neste sentido, Severo (1998) salienta que, o aumento continuado da atividade industrial da soja na China elevou o esmagamento dos grãos, nos últimos anos ultrapassando a marca simbólica de 100 milhões de toneladas métricas anuais. O resultado deste crescimento estupendo não se limita apenas à atividade soja. O crescimento social e econômico teve desempenhos simultâneos, o que acrescentou um conteúdo de consumo por alimentos ainda desconhecidos da maioria do mundo ocidental. Não podemos desprezar o fato de que, na esteira do desempenho chinês, muitos países asiáticos aumentaram significativamente suas importações de soja e outros grãos do Brasil.

A soja representa, no nível mundial, o papel de principal oleaginosa produzida e consumida. Os produtos do complexo soja responderam por 67% dos US$ 4,6 bilhões exportados para a China em 2011. O crescimento da população, a urbanização, o crescimento da renda e a maior abertura comercial são fatores que explicam o forte crescimento da demanda de alimentos na China, impulsionando as importações e abrindo oportunidades para a ampliação e diversificação das exportações brasileiras (MDIC, 2014).

Em conformidade com a USDA (2017), a China responde por 4% da produção de soja no mundo e grande parte da soja do país é cultivada na província do norte de Heilongjiang, perto da fronteira russa, onde existem mais de 235 milhões de hectares usados como fazendas de soja na província. Ainda assim, a China tem que importar grandes quantidades de soja para atender a demanda doméstica.

A China responde por 60 por cento das importações mundiais de soja, de acordo com a

Commodity Basis, tornando-se o maior importador de soja, seguido pelos membros coletivos

da União Europeia. Muitos dos preços no mercado mundial de soja são ditados pela demanda da China. Para as últimas seis estações de plantio até 2014-15, a produção anual variou entre

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Segundo Brum (2002), a demanda chinesa por soja como bem alimentar deverá continuar a crescer, acompanhando o ritmo do crescimento populacional deste país. Nota-se um aumento no interesse recente pela soja brasileira por parte do setor público e dos operadores econômicos, criando um contexto de rápida evolução do meio ambiente e das condições de funcionamento desta economia, com base em três eixos:

a) Liberalização da cadeia soja – os preços garantidos pelo Estado foram suprimidos na maior parte das províncias e as cotas de fornecimento diminuíram. Com isto, os preços são cada vez mais determinados pelo mercado;

b) Abertura do mercado à concorrência externa, que revelou a fraca competitividade da soja chinesa diante dos produtos de outros países;

c) Aumento do consumo da carne, desenvolvimento da criação animal e demanda crescente de ração a base de farelo de soja. Até 1998 a taxa de crescimento anual da produção de carne foi de 9%.

Considerando isto, pode-se dizer que este contexto é favorável a uma evolução das condições de produção de soja brasileira que é exportada para a China.

2.4.1.3 Brasil

Nas últimas décadas, o país passou por grandes processos de transformações tanto na sociedade, quanto na economia brasileira fazendo com que, a importância do agronegócio aumentasse através do crescimento da urbanização e da renda dos cidadãos brasileiros.

De acordo com as previsões da USDA, a produção da safra de soja brasileira para 2016/17 é de 102 milhões de toneladas, ficando acima do total produzido no ano anterior de 96,5 milhões de toneladas. A previsão de área plantada é de 33,8 milhões de hectares, representando 0,7 milhão de hectares a mais do que o ano anterior, e acréscimo de 14% na média dos últimos 5 anos. O rendimento está previsto em 3,02 toneladas por hectare, 3% acima do ano passado, e 4 % acima da média de 5 anos.

O progresso na plantação tem sido muito rápido na região norte e central do país. A região central, teve chuvas moderadas espalhadas, que mantiveram a umidade do solo favorável e que permitiu o rápido progresso da plantação. A plantação na região sul está progredindo, mas tem recebido mais chuvas, o que tem mantido o progresso de plantação apenas abaixo dos níveis normais dos últimos anos (USDA, 2016).

No entanto, segundo dados do CONAB, a produção da safra de soja brasileira no ano de 2017 foi de 238 milhões de toneladas de grãos, o que representa um aumento de

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produtividade em 27,9% (51 milhões de toneladas) enquanto a área plantada cresceu 4,4% (60,9 milhões de hectares), em relação à safra 2016.

Considerando a figura a seguir, durante o período correspondente entre os anos de 1990 até 2008, é possível destacar que houve um aumento significativo da produção de soja na região Centro-Oeste brasileira, passando de pouco mais de 5 milhões de toneladas métricas em 1990, para quase 30 milhões de toneladas de grãos no final deste mesmo período analisado, ou seja, no decorrer de 18 anos a produção de soja nesta região aumentou quase em 6 vezes.

Figura 4 – Produção de soja no Brasil por região

Fonte: IBGE (2016).

Sendo assim, pode-se considerar as regiões Centro-Oeste e Sul as principais regiões produtoras de soja no Brasil. Sendo que, na região Centro-Oeste o principal estado produtor de soja é o Mato Grosso, e na região Sul destacam-se o Paraná e o Rio Grande do Sul, nesta ordem, como os principais estados produtores de soja.

Em conformidade com Matzenauer et al., (2002), em média, a produção de soja tem sido crescente nos últimos anos em consequência da aplicação de tecnologia, uso de materiais genéticos de maior potencial produtivo e da crescente profissionalização dos produtores rurais.

No entanto, em parte dos anos, a frequência e a intensidade das chuvas no período do desenvolvimento da soja, que ocorre entre novembro e março no Rio Grande do Sul, são insuficientes para que a cultura manifeste seu potencial produtivo.

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2.4.1.4 Argentina

Desde as suas origens coloniais, a propriedade da terra se constituiu em um patrimônio restringido a alguns poucos donos, assim como no Brasil colonial, as compras, vendas e transferências de terras com centenas de milhares de hectares, sempre estiveram reservadas e destinadas a aqueles que prestavam serviço para a coroa, e portanto, dispunham de dinheiro e influências, criando assim condições favoráveis que a maior parte da população não usufruía como os pobres, negros, índios e mestiços (AMEGHINO, 1995).

Sendo assim, desde o começo do século XIX, a grande propriedade e o latifúndio correspondiam a maior parte das terras que, garantiam o sustento para os seus proprietários, que eram subordinados ao poder da coroa. Foi este o paradigma que regeu e consolidou a apropriação do espaço rural argentino, de tal modo que a grande propriedade constituiu um dos principais fundamentos econômicos e sociais das oligarquias governantes desta época.

Durante os anos 90 o setor agrário argentino incorporou extensivamente uma série de produtos e processos tecnológicos que reconfigurou o papel da produção de grãos e o conhecimento tácito dos produtores. Pressionados pelos preços baixos das commodities no meio dos anos 90, os produtores tiveram a disposição tecnologias que permitiram reduzir drasticamente os custos e as adotaram na quase sua totalidade. Estas tecnologias incluíram a utilização de sementes transgênicas e a utilização do plantio direto (BISANG, 2003).

Atualmente, de acordo com os dados da USDA, na safra 2016/17, os produtores argentinos colheram 57,8 milhões de toneladas de soja. Porém, na safra atual 2017/18, sofreu uma forte estiagem durante o período de desenvolvimento afetou seriamente a produtividade das lavouras.

Ainda, segundo o USDA, foi reduzida em 7 milhões de toneladas sua estimativa para a safra argentina de soja. Em seu relatório mensal de oferta e demanda, divulgado abril de 2018, houve um corte na sua projeção para 40 milhões de toneladas, de 47 milhões de toneladas previstas em março (mês anterior), devidos as condições climáticas adversas mencionadas anteriormente.

2.5 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

Historicamente, o período em que o Brasil era colônia de Portugal (1500-1822), o sistema de produção agrícola possuía grandes latifundiários e era caracterizado por atender ao mercado externo (via Pacto Colonial). A partir do final século XIX, após o Brasil se tornar um

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país independente, a produção agrícola brasileira começa a enfrentar concorrência internacional, o que gerou a necessidade de aumentar a área plantada e a produtividade, através da modernização da agricultura.

Segundo Trennepohl (2011), nas primeiras décadas do século 20 ocorreram algumas dificuldades, como: 1) a ampliação dos minifúndios – devido à partilha de herança; 2) o esgotamento da fertilidade natural do solo; 3) a migração, principalmente de famílias recém-constituídas, rumo às novas fronteiras agrícolas ainda disponíveis, fundando novas colônias, nas quais se reproduzia mais ou menos o mesmo processo.

A partir dos anos de 1950 o Brasil implantou um processo de modernização agrícola, baseado na chamada Revolução Verde difundida pelos EUA, com o objetivo de contribuir para aumentar a produção e a produtividade agrícola.

Conforme Brum (1988), o processo de modernização da agricultura no Rio Grande do Sul e no Brasil teve início na região do Planalto Gaúcho, depois da II Guerra Mundial. Enquadra-se ele na nova estratégia do capitalismo internacional, no pós-guerra.

Portanto, pode-se compreender que a modernização da agricultura é entendida como adoção de novas técnicas e tecnologias no processo produtivo, deixando assim, ocorrer alterações na estrutura fundiária (OLIVEIRA, 2010).

Este fenômeno da modernização, ocorre a partir da década de 50, quando país instaura a Revolução Verde, quando grandes corporações internacionais começaram a se estabelecer em diversos campos experimentais na produção de sementes em países com grande potencial agrícola, como o Brasil, através desta substituição da agricultura tradicional por outra mais moderna.

A primeira fase teve caráter pioneiro e experimental e estendeu-se de 1943 a 1965, quando o Brasil, juntamente com EUA, México, as Filipinas foram os países selecionados onde realizaram pesquisas e experiências com produtos agrícolas.

Neste sentido, destaca Brum (1988) ocorreu uma intervenção controlada no processo de produção agrícola, criteriosamente planejada e habilmente executada. A ação desenvolveu-se em duas dimensões convergentes:

a) Infraestrutura de produção, sobretudo, em relação ao uso de sementes (certificadas), adubos e equipamentos;

b) Controle de articulação dos produtores, através da assistência técnica e orientação do crédito rural.

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No final da década de 1960, dois fatores internos fizeram o Brasil começar a investir na soja como um produto comercial, fato que mais tarde influenciaria no cenário mundial de produção do grão. Nesta época, o trigo era a principal cultura do Sul do Brasil e a soja surgia como uma opção de verão, em sucessão ao trigo. O País, também, iniciava um esforço para produção de suínos e aves, gerando demanda por farelo de soja.

A partir de 1965 foi dado um novo impulso à “Revolução Verde” por meio da internacionalização da pesquisa agrícola. Foram criados centros internacionais de pesquisa (EUA, México, Colômbia), o que desarticulou os centros nacionais, tanto no setor privado como no setor público. Os patrocinadores das pesquisas agrícolas introduziram novas variedades de trigo, arroz, milho e outros produtos, subordinando os países em desenvolvimento aos interesses das corporações transnacionais, que ficaram dependentes dessas inovações tecnológicas (TRENNEPOHL, 2011).

Em conformidade, Brum (1988) salienta que neste período ocorreu tal rearticulação da estratégia da produção de alimentos no mundo, sob influência das corporações transnacionais. Três fatores principais se combinaram nessa nova fase:

1) A difusão da Revolução Verde a nível mundial;

2) A mudança na política de exportação de cereais do governo norte-americano; 3) A internacionalização da pesquisa agrícola.

O avanço da modernização, no Brasil, na década seguinte exigiu instrumentos mais eficientes e uma articulação mais eficaz, sendo assim o governo brasileiro criou, em 1971 a Empresa Brasileira de Pesquisas Agrícolas (EMBRAPA).

O aumento do preço da soja no mercado mundial, em meados de 1970, despertou ainda mais o interesse dos agricultores e do próprio governo brasileiro. A produção brasileira de soja era realizada com cultivares e técnicas importadas dos Estados Unidos. Assim, a cultura só produzia bem, em escala comercial, nos estados do Sul, onde as cultivares americanas encontravam condições semelhantes a seu país de origem. Com os investimentos em pesquisas, novas cultivares foram criadas, permitindo que o grão fosse plantado com sucesso, em regiões de baixas latitudes.

A partir dos últimos anos da década de 70 e na década de 80, no caso do Brasil, com o avanço do processo de modernização, num segundo momento, também passam a ser atingidos os médios agricultores, a começar pelos que estão menos bem estruturados. Somente os “mais eficientes” e organizados provavelmente poderão conseguir sobreviver e manter-se na atividade agrícola como proprietários (BRUM, 1988).

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Paralelamente, neste mesmo período nota-se uma presença e atuação maior de agentes do Governo brasileiro envolvidos com a fiscalização, determinação de preços, comercialização e estocagem da produção agrícola.

Com a modernização, a agricultura se internacionalizou, integrando-se ao projeto de desenvolvimento do complexo agroindustrial, sob o comando das corporações transnacionais e dos países centrais, principalmente os Estados Unidos. Nesse contexto, o comércio exterior de produtos primários cresceu significativamente a partir dos anos de 1970, sendo um elemento vital para a balança comercial do país na atualidade.

Outro ponto interessante que Silva (1999), destaca diante desse estudo, é nos atentarmos que a modernização na agricultura, além de proporcionar uma transformação na base técnica das fases da produção agrícola, provoca em consequência disso, uma passagem da agricultura natural para uma estrutura de uso de agrotóxico ou insumos industrialmente fabricados, como as rações para animais, tomamos como exemplo, o centro -sul e agreste sergipanos, com a plantação e colheita do milho, voltados para a alimentação humana e em grande parte para a alimentação animal.

O Brasil optou pela estratégia de modernização conservadora, que tem por objetivo o aumento da produção e da produtividade agropecuária mediante a renovação tecnológica, isto é, a utilização de métodos, técnicas, equipamentos e insumos modernos, sem que seja alterada a estrutura agrária.

Sendo assim Brum (1988), salienta que esta opção se enquadra perfeitamente no chamado “modelo econômico brasileiro”, capitalista, associado, dependente, concentrador, exportador e excludente. O mais grave da opção por este caminho é o fato de que agora ela se ajusta também a estratégia agrícola mundial, liderada pelo complexo agroindustrial.

A formação dos Complexos Agroindustriais nos anos de 1970 se deu a partir da integração entre os setores de três elementos básicos: as indústrias que produzem para a agricultura, a agricultura (moderna) propriamente dita e as agroindústrias processadoras, todas beneficiadas por fortes incentivos governamentais (SILVA, 1999).

A modernização trouxe um considerável aumento na produção agrícola, aumentando as exportações e desta maneira contribuindo para o crescimento da econômica nacional através do ingresso de moeda estrangeira. Todavia tal fenômeno trouxe consigo também grandes impactos ambientais, efeitos colaterais a saúde dos trabalhadores do campo e desemprego. São os dois

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Como pode ser observado no gráfico abaixo, até a última década foi a afirmação da cultura no Brasil, que passou a ser o segundo maior produtor mundial, e, a soja, o principal produto agrícola na pauta das exportações brasileiras.

Figura 5 – Produção de soja no Brasil – 1970 a 2006

Fonte: Censo Agropecuário (2016).

Analisando o último período intercensitário, verifica-se que a soja apresentou um aumento de 114% na produção, alcançando 46,19 milhões de toneladas em 17,88 milhões de hectares, um aumento de 93,5% na área colhida (Tabela 13). Em termos absolutos, representa um aumento de 8,64 milhões de hectares, caracterizando a soja como a cultura que mais se expandiu na última década.

A cultura foi cultivada em 217.015 estabelecimentos, gerando 19,5 bilhões de reais para a economia brasileira. Grande parte desta área pertence à Região Centro-Oeste, cujo crescimento se intensificou nos últimos dez anos, com o avanço da fronteira agrícola, e com o deslocamento de uma grande quantidade de produtores rurais que vieram, principalmente, da Região Sul do País em busca de terras com preços mais acessíveis. Este movimento transformou o Estado de Mato Grosso no maior produtor nacional de soja, com uma produção de 11,7 milhões de toneladas, o que representou 25,4% da produção nacional em 2006.

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Tabela 2 - Produção, variação da produção, área colhida, variação da área colhida, rendimento médio e variações do rendimento médio, segundo as principais lavouras Brasil - período

1995-1996 e 2006

Fonte: Censo Agropecuário (2016).

Com o objetivo de reduzir os custos de produção, os produtores brasileiros optaram pelo cultivo da soja transgênica no Brasil, tanto que dos 217.015 estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006, 46,7% utilizaram sementes geneticamente modificadas, que foram cultivadas em cerca de 4,1 milhões de hectares. Também foi utilizada uma grande quantidade de semente certificada (44,8%) e em 96,7% da área a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada. A grande maioria das áreas cultivadas também fizeram uso de agrotóxicos (94,6%) e adubação química (92,8%).

2.6 A EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL

A soja chegou ao Brasil via Bahia, procedente dos EUA, em 1882. Mas foi no Rio Grande do Sul (RS), sessenta anos depois, que o seu cultivo encontrou condições favoráveis para se estabelecer e expandir como uma cultura de importância comercial. Os primeiros registros datam de 1941, quando foram cultivados 640 hectares que produziram 450 toneladas.

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toneladas de grãos de soja. A seguir na década de 1970 a produção era de 15 milhões de toneladas, sendo mais de 80% na região Sul na época (EMBRAPA, 2002).

Este desempenho favorável no resultado das colheitas e soja, só foi possível pois o Brasil é um país que dispões de recursos hídricos e terras férteis, que juntos são capazes atender as demandas de consumo interno e de externa também. Os fatores limitantes dessa produção no campo são a falta de terras férteis e a grande expansão demográfica.

Os efeitos desta evolução sobre a produção nacional e regional da soja são inúmeros, em especial na última década do século XX. A produção brasileira continua crescendo constantemente, tendo confirmado um volume de 41 milhões de toneladas na safra 2001/02.

De acordo com Severo (1998), o Brasil possuí grande extensões de áreas cultiváveis ainda não utilizadas para expandir o cultivo da soja, esse potencial caracteriza o país como o maior detentor de terras agriculturáveis disponíveis no mundo. Os grandes produtores agrícolas do mundo como EUA e Europa já não tem essa disponibilidade de áreas.

Como consequências, BRUM (2002) destaca algumas novas características:

- A produção de soja se desloca para a região Centro-Oeste, onde o estado do Mato Grosso (MT) já é o principal produtor nacional da oleaginosa, com 10,3 milhões de toneladas no ano de 2001/02. O Rio Grande do Sul ocupa hoje a terceira posição nacional;

- O país, pela primeira vez na história de produtor e exportador da soja e derivados, no ano 2000 exporta mais o grão do que o farelo, deixando de agregar valor ao produto e forçando uma redução de preço aos produtores na entressafra (2º semestre);

- A preferência pela exportação de grãos de soja tem sua origem na Lei Kandir, de 1996/97, e nas dificuldades encontradas junto ao consumo de óleo e farelo no mercado mundial. - Colocou-se em xeque a sobrevivência das indústrias moageiras instaladas no país, fato que leva a um forte movimento de concentração neste setor;

- No Rio Grande do Sul, não há mais espaço para produtores com até 50 hectares de terra buscarem a sobrevivência econômica da propriedade unicamente com soja e trigo ou milho);

- O aumento da rentabilidade de forma horizontal se tornou impossível no Rio Grande do Sul, havendo espaço apenas para um crescimento vertical, ou seja, via aumento de produtividade com menores custos de produção;

- O aumento da rentabilidade exige um forte investimento em tecnologia, fato que não está ao alcance da maioria dos produtores gaúchos que possuem até 50 hectares;

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- Neste contexto, a soja passa a compor um modelo diversificado de produção na economia gaúcham participando da renda da propriedade rural dentro de uma visão sistêmica de produção e não mais como fonte geradora de renda isolada;

- Certas atividades da cadeia produtiva da soja caminham para uma forte concentração e quase extinção, como é o caso do corretor de produto físico, que intermediava o contato comercial dos produtores e suas cooperativas para com as indústrias moageiras e as empresas exportadoras;

- Os produtores de soja do Noroeste gaúcho, que ficam apenas com o tradicional modelo trigo e soja, já não repõem mais seu capital produtivo e empobrecem, saindo da atividade e do meio rural.

Os dados do Censo Agropecuário 2006, sobre as principais lavouras, refletem o vigoroso crescimento da agricultura brasileira na última década. A oferta de terras favoráveis ao cultivo, e os ganhos de produtividade alcançados com a utilização de novas tecnologias, apontados pelo censo revelam as condições que propiciaram uma maior participação do Brasil no mercado internacional e um melhor abastecimento do mercado interno, ao longo da década.

Figura 6 - Evolução da área dos principais cultivos do Brasil – 1970 a 2017

Fonte: USDA (2017).

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