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Variação sazonal dos parâmetros parasitológicos e hematológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA. VARIAÇÃO SAZONAL DOS PARÂMETROS PARASITOLÓGICOS E HEMATOLÓGICOS DA GAROUPA VERDADEIRA Epinephelus marginatus (LOWE, 1834) (TELEOSTEI: SERRANIDAE) SELVAGEM E CULTIVADA EM UBATUBA, SÃO PAULO, BRASIL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Aquicultura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Aquicultura. Orientador: Maurício Laterça Martins Co-orientadora: Mônica Yumi Tsuzuki. KATINA ROUMBEDAKIS RAMOS. FLORIANÓPOLIS/SC 2011.

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(3) Variação sazonal dos parâmetros parasitológicos e hematológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe,1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil Por KATINA ROUMBEDAKIS RAMOS Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM AQUICULTURA e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura.. _____________________________________ Prof. Evoy Zaniboni Filho, Dr. Coordenador do Curso. Banca Examinadora: __________________________________________ Dr. Maurício Laterça Martins – Orientador __________________________________________ Dr. José Luis Fernando Luque Alejos __________________________________________ Dr. José Luiz Pedreira Mouriño.

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(5) Dedico esse trabalho à minha família, Iolita, Alexandros (in memorian) e Juliana e ao meu marido Cassio que sempre me incentivaram, por todo o amor e dedicação. Amo vocês!.

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(7) AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Maurício Laterça Martins pela orientação, por todo empenho, sabedoria, compreensão e, amizade. Por ser um orientador sempre presente (mesmo passando um ano fora!), pelo auxílio em todas as etapas desta dissertação, desde as coletas até a finalização, por todos os churrascos de abobrinha e quiabo e pela companhia até na cervejinha. À Profa. Dra. Mônica Yumi Tsuzuki pela co-orientação no trabalho. Ao Dr. José Luiz Fernando Luque Alejos pela participação na banca examinadora e no artigo científico, além da colaboração juntamente com Patrícia Barizon Cepeda na identificação de parasitos monogenóideos. Ao Dr. José Luiz Pedreira Mouriño pela participação na banca examinadora. A Natalia Marchiori, minha companheira de muitas horas no lab, um agradecimento especial, pelo apoio em muitas etapas deste trabalho, pelo auxílio na identificação de parasitos, pelas caronas, pela participação nos artigos científicos e discussão dos resultados e, acima de tudo, por ser uma grande amiga. Ao Eduardo Luiz Tavares Gonçalves pela agilidade na realização das análises estatísticas deste trabalho e pela amizade. Valeu Duduzinho! Ao Dr. Eduardo Gomes Sanches pelo apoio deste projeto desde o início, pelo fornecimento dos peixes e infraestrutura local da coleta e pela amizade e companheirismo em muitas disciplinas. Ao Prof. Dr. Joaber Pereira Jr. pelo auxílio na identificação de parasitos e no artigo científico. À Ágata Paseto pela participação em coleta e quantificação de parasitos monogenóideos. Ao Renan Pirath pelo auxílio na leitura das extensões sanguíneas. À Patrícia Garcia pelo auxílio nas análises histológicas. Ao Luis Antônio Suíta pela realização das fotomicrografias de varredura..

(8) Aos amigos do laboratório AQUOS pelos momentos agradáveis e pela amizade. Ao secretário do Programa de Pós Graduação em Aquicultura da UFSC, Carlito, por solucionar quase todos os meus problemas acadêmicos, sempre com bom humor. As agências de fomento que foram fundamentais para realização deste trabalho: CNPq e FAPESC pela concessão de bolsas. Aos amigos Beto e Wesley pela colaboração durante a terceira coleta e pela amizade. A todos os colegas e professores da pós-graduação em Aquicultura pelo convívio e aprendizado. Ao “Seu Keka” por sua alegria, carinho e preocupação. Aos meus sogros, Rosa e César, por sempre me apoiarem, estarem sempre presentes e pelo carinho. À minha mãe e minha irmã, Iolita e Juliana, pelo amor incondicional, por fazerem parte da minha trajetória e por serem meus exemplos de vida. Laço eterno! Em especial, ao meu marido Cassio, meu companheiro de todas as horas, durante a dissertação e a vida, pela longa caminhada e todas as nossas conquistas juntos, por todas as madrugadas em claro, pelo apoio e bom humor, nos momentos que mais precisei e por todo amor. Sem você nada disso seria possível! A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução dessa dissertação de mestrado, o meu muito obrigada!.

(9) RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar a influência da sazonalidade nas características hematológicas e parasitológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, SP, Brasil. Foram realizadas análises hematológicas e parasitológicas de 159 peixes, sendo 20 espécimes selvagens e 20 cultivados em cada estação do ano. Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae foi o parasito mais abundante, com as maiores intensidades e dominância relativa média em todas as estações. Neobenedenia melleni foi observado em todas as estações, com aumento gradativo do número de parasitos das estações mais frias para as mais quentes e maiores prevalências e intensidades médias no verão. Helicometrina nimia, com exceção dos peixes selvagens no verão foi encontrado em todas as estações. Pseudempleurosoma sp. e larvas de Contracaecum sp. apresentaram prevalências baixas e ocorreram em peixes selvagens e cultivados no outono e primavera, respectivamente. Os maiores valores no percentual de hematócrito em peixes de cultivo, contagem total de eritrócitos e leucócitos nos peixes de ambas as origens, redução no número de trombócitos em peixes selvagens e de linfócitos nos peixes cultivados, além das maiores prevalências e intensidades médias de infecção por N. melleni ocorreram no verão. No outono, ocorreram as maiores intensidades médias de infecção por P. beverleyburtonae nos peixes de ambas as origens, além da maior contagem total de trombócitos em peixes selvagens, redução no número de linfócitos e aumento no número de monócitos nos peixes cultivados. Estes resultados sugerem que N. melleni possui maior influência sobre as características sanguíneas da garoupa verdadeira quando comparado a P. beverleyburtonae e que altas intensidades de parasitos potencialmente patogênicos podem favorecer surtos de doenças em condições de cultivo desta espécie. Palavras-chave: Serranídeos, piscicultura marinha, sangue, parasitos, saúde..

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(11) ABSTRACT Seasonal variation in parasitological and hematological parameters of wild and cultured dusky-grouper Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) in Ubatuba, São Paulo, Brazil. The aim of this study was to evaluate the influence of seasonality on haematological and parasitological characteristics of wild and cultured cultured grouper Epinephelus marginatus from Ubatuba, SP, Brazil. Haematological and parasitological analysis of 159 fishes, 20 wild and 20 cultured in each season of the year were determined. Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae was the most abundant parasite with the highest intensities and mean relative dominance during the whole seasons. Neobenedenia melleni was observed in all seasons, with a gradual increase in the number of parasites for the coldest to the hottest seasons and the highest prevalence and mean intensities in summer. Helicometrina nimia was found in all seasons, except summer in wild fish. Pseudempleurosoma sp and Contracaecum sp. larvae showed low prevalence and occurred in wild and cultured fish in autumn and spring, respectively. The highest values in the percentage of hematocrit in cultured fish and total count of erythrocytes and leukocytes in fish from both origins occurred in summer, reduction in the number of thrombocytes in wild fish and in lymphocytes in cultured fish, beyond the highest prevalence and mean intensities of infection of N. melleni. In autum, occurred the highest mean intensities of infection of P. beverleyburtonae in fish from both origins, beyond the highest total count of thrombocytes in wild fish, the number of lymphocytes decreases and the monocytes increase in cultured fish. These results suggest that the parasite N. melleni has a greater influence on the blood characteristics of dusky grouper when comparison to P. beverleyburtonae and high intensities of infection by potentially pathogenic parasites can favor disease outbreaks in culture conditions of this species. Keywords: Serranid, marine fish farming, blood, parasites, health..

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(13) LISTA DE ILUSTRAÇÕES INTRODUÇÃO Figura 1: Garoupa verdadeira Epinephelus marginatus........................ 20 CAPÍTULO 2 Figura 1: Características parasitológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. A. Parasitismo por Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae e B. Parasitismo por Neobenedenia melleni. Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05) ................................................................................................ 56 Figura 2: Características hematológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. A. Percentual de hematócrito e número total de eritrócitos; B. Contagens totais de trombócitos e leucócitos e C. Contagem diferencial de leucócitos: linfócitos, neutrófilos e monócitos. Letras distintas indicam diferença significativa nos parâmetros hematológicos entre as origens dos peixes (P<0,05) ....................Erro! Indicador não definido. Figura 2: (continuação) ......................................................................... 58 CAPÍTULO 3 Figura 1: Localidades registradas para Helicometrina nimia Linton, 1910: (1) Tortugas, EUA; (2) Bahamas; (3) Jamaica; (4) Porto Rico; (5) México; (6) Panamá; (7) Golfo Pérsico; (8) Paquistão; (9) Índia; (10) Peru; (11) Chile; (12) Brasil .......................................................... 73 Figura 2: Helicometrina nimia Linton, 1910 da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus de Ubatuba, São Paulo, Brasil. Barra: 0,85 mm ........................................................................................................ 75 Figura 3: Fotomicrografia eletrônica de varredura de Helicometrina nimia Linton, 1910 da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus de Ubatuba, São Paulo, Brasil. PG: poro genital .................................. 76.

(14) Figura 4: Fotomicrografias de Helicometrina nimia Linton, 1910 da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus de Ubatuba, São Paulo, Brasil. SC: saco do cirro; M: metratermo; A: átrio; PG: poro genital... 76.

(15) LISTA DE TABELAS. CAPÍTULO 1 Tabela 1: Valores médios (± desvio padrão) e amplitude de variação do comprimento total e peso da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada durante as estações do ano em Ubatuba, São Paulo, Brasil. N: número de peixes examinados............. 32 Tabela 2: Índices parasitológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil. P%: prevalência; AM: abundância média; IMI: intensidade média de infecção, com valores mínimo e máximo entre parênteses. Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05) ..................................................... 33 Tabela 3: Índices parasitológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. P%: prevalência; AM: abundância média; IMI: intensidade média de infecção, com valores mínimo e máximo entre parênteses; DRM: dominância média relativa de parasitos. Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05)............................ 35 Tabela 3: (continuação)......................................................................... 36 CAPÍTULO 2 Tabela 1: Características biométricas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. Comprimento total e peso ± desvio padrão (valores mínimo e máximo entre parênteses) ............. 51 Tabela 2: Índices parasitológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. PP: peixes parasitados; PE: peixes examinados; P%: prevalência; AM: abundância média; IMI: intensidade média de infecção (valores mínimo e máximo entre parênteses). Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05) ............... 53 Tabela 2: (continuação) ........................................................................ 54.

(16) CAPÍTULO 3 Tabela 1: Medidas comparativas de Helicometrina nimia Linton, 1910. Valores médios ± desvio padrão seguidos pelos valores mínimo e máximo entre parênteses. CComprimento, Llargura, D diâmetro .............................................................................................. 77 Tabela 1: (continuação)......................................................................... 79.

(17) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 19 Parasitologia associada à Serranidae ................................................ 21 Hematologia de peixes marinhos...................................................... 23 2. OBJETIVOS ..................................................................................... 26 2.1 Objetivo geral ............................................................................. 26 2.2 Objetivos específicos .................................................................. 26 3. CAPÍTULO 1 Fauna parasitária da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil.................................................................... 27 Resumo ............................................................................................. 28 Abstract............................................................................................. 28 1. Introdução..................................................................................... 29 2. Materiais e métodos...................................................................... 30 3. Resultados..................................................................................... 31 4. Discussão ...................................................................................... 34 Conclusões........................................................................................ 41 Agradecimentos ................................................................................ 41 Referências ....................................................................................... 41 4. CAPÍTULO 2 Influência de ectoparasitos e da sazonalidade sobre as características hematológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil.................................................................... 46 Resumo ............................................................................................. 47 Abstract............................................................................................. 47 Introdução......................................................................................... 48 Materiais e métodos.......................................................................... 49.

(18) Resultados ........................................................................................ 50 Discussão............................................ Erro! Indicador não definido. Agradecimentos................................................................................ 62 Referências ....................................................................................... 63 5. CAPÍTULO 3 Helicometrina nimia Linton, 1910 (Digenea: Opecoelidae) em garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) de Ubatuba, São Paulo, Brasil ......................... 69 Resumo............................................................................................. 70 Abstract ............................................................................................ 70 Introdução......................................................................................... 70 Materiais e métodos.......................................................................... 71 Resultados ........................................................................................ 72 Considerações................................................................................... 74 Agradecimentos................................................................................ 81 Referências ....................................................................................... 82 6. CONCLUSÃO GERAL.................................................................... 85 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 85 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTRODUÇÃO............ 86.

(19) 19 1. INTRODUÇÃO Os peixes são responsáveis por 64,4% da produção total de organismos aquáticos. Destes, a maior parte (54,7%) é constituída pela produção de peixes de água doce, os peixes diádromos representam 6,3% e os exclusivamente marinhos apenas 3,4% do total (FAO, 2010). Em relação à piscicultura marinha no Brasil, não há registro oficial da produção. Em termos de valores econômicos, os peixes exclusivamente marinhos representam 6,7% do total comercializado (FAO, 2010). Isto significa que a piscicultura marinha é feita, principalmente com espécies de alto valor de mercado, geralmente carnívoros (CERQUEIRA, 2004), como é o caso da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Figura 1). Diversos estudos apontam Serranidae como uma das principais famílias de peixes marinhos produzidos comercialmente. David-Hodgkins (1993) relata que as garoupas são peixes de grande importância econômica, alcançando elevado preço de mercado e muito procurados pela pesca esportiva e turismo subaquático, sofrendo, inclusive, sobrepesca em diversas áreas, o que reforça a importância de sua utilização em piscicultura marinha. Os serranídeos (família Serranidae, sub-família Epinephelinae) compreendem 159 espécies distribuídas em 15 gêneros (HEEMSTRA; RANDALL, 1993). Denominados genericamente por meros, chernes, garoupas e badejos, geralmente apresentam rápido crescimento e resistência ao manejo, sendo indicados para sistemas intensivos de criação. Além disso, possuem excelentes características para processamento pós-colheita (APEC/SEAFDEC, 2001). Em ambientes costeiros do litoral do Brasil ocorrem várias espécies de serranídeos. Destas, as que atingem maior tamanho são o mero Epinephelus itajara (Lichtenstein, 1822), a garoupa verdadeira E. marginatus, o badejo-quadrado Mycteroperca bonaci (Poey, 1860) e o badejo-de-areia Mycteroperca microlepis (Goode; Bean, 1879), ultrapassando um metro de comprimento e mais de 40 kg de peso (SMITH, 1971). A garoupa verdadeira é apontada como potencial candidata para a piscicultura marinha no Brasil. O cultivo de garoupas em tanques-rede é realizado há mais de vinte anos em países do Sudeste Asiático (LIAO, 1993). Nesta região, a produção de serranídeos já supera as 13.000 toneladas/ano, sendo tradicionalmente realizada por pequenos e médios produtores (APEC/SEAFDEC, 2001). Segundo Main e Rosenfeld (1995), os.

(20) 20 principais produtores de serranídeos são Taiwan, Singapura, Tailândia, Hong Kong, Indonésia, China, Malásia, Vietnã e Filipinas. Tais atividades são escassas no continente americano, sendo que grande parte dos estudos desenvolvidos com serranídeos são sob o ponto de vista biológico e não de cultivo.. Figura 1: Garoupa verdadeira Epinephelus marginatus Fonte: http://www.arkive.org/dusky-grouper/epinephelus-marginatus/imageG85881.html. Os peixes marinhos constituem, em nível mundial, um dos recursos alimentares de maior qualidade e abundância. Consequentemente, este grupo é alvo de numerosas pesquisas relacionadas a seus mais diversos aspectos biológicos. Entretanto, a influência do parasitismo na biologia dos peixes marinhos tem sido relativamente pouco estudada (LUQUE, 2004b). Doenças infecciosas restringem o desenvolvimento e a sustentabilidade do setor aquícola acarretando perdas diretas de produção, incremento dos custos operacionais e, indiretamente, causando limitações no comércio e impactos na biodiversidade. Medidas inadequadas ou mal executadas de biosseguridade refletem em perdas significativas devido às doenças em animais aquáticos em muitos países (BONDAD-REANTASO et al., 2005)..

(21) 21 Parasitologia associada à Serranidae Mesmo na natureza, os peixes possuem uma variedade de parasitos com maior ou menor potencial de patogenicidade, porém raramente apresentam sinais clínicos. Isso ocorre devido ao estado nutricional e fisiológico do peixe estar em equilíbrio com o meio ambiente, impedindo que a doença se manifeste (ANDRADE et al., 2001). Desta forma, os parasitos podem estar normalmente presentes nos peixes sem lhes causar danos (ROBERTS, 1981). Entretanto, esses organismos, que em condições normais não seriam prejudiciais, em condições de cultivo que gerem alguma forma de estresse, são capazes de constituir grave ameaça ao sucesso do cultivo (MORAES; MARTINS, 2004). Na Ásia, o número de doenças que afetam as garoupas sofreu um incremento com a expansão e intensificação do seu cultivo, incluindo doenças infecciosas (vírus, bactérias e parasitos), não infecciosas (ambiente, manejo e nutricional) e um número de doenças ainda não diagnosticado ou de origem desconhecida (BONDAD-REANTASO et al., 2001). Dentre essas, destacam-se as de origem parasitária (LEONG, 1997; RÜCKERT et al., 2008). Monogenoidea são helmintos de ciclo de vida monoxênico e estão entre um dos mais comuns e importantes problemas na criação de peixes (MÜELLER et al., 1994; MORAES; MARTINS, 2004). Alta densidade no cultivo, variações na qualidade da água e estresse de manejo contribuem para sua proliferação. São frequentemente encontrados no corpo e brânquias de garoupas cultivadas. Peixes com infecção severa apresentam hemorragias focais pelo corpo, o que pode resultar em infecções bacterianas secundárias (KANCHANAKHAN, 1996). Monogenóideos da família Diplectanidae Bychowsky, 1957 parasitam as brânquias de teleósteos e possuem distribuição mundial (OLIVER, 1993). Diplectanídeos do gênero Pseudorhabdosynochus Yamaguti, 1958 são relatados parasitando serranídeos, sendo registradas 45 espécies deste gênero em Epinephelus spp. (JUSTINE, 2007). Recentemente, foram descritas duas espécies de Pseudorhabdosynochus em águas da região sul americana do Atlântico: P. beverleyburtonae (Oliver, 1984) Kritsky e Beverley-Burton, 1986 e P. sulamericanus Santos, Buchmann e Gibson, 2000 em E. marginatus e Epinephelus niveatus (Valenciennes, 1828), respectivamente (SANTOS et al., 2000). Monogenóideos capsalídeos são considerados parasitos oportunistas que podem ocasionar surtos de infecção e mortalidades.

(22) 22 massivas. O capsalídeo Neobenedenia melleni (MacCallum, 1927) Yamaguti, 1963 é responsável por significativas perdas no cultivo de peixes marinhos (MÜELLER et al., 1994) e possui baixo grau de especificidade de hospedeiro (BULLARD et al., 2003). Em serranídeos, foi registrado em Epinephelus awoara (Temminck; Schlegel, 1842) (LI et al., 2005), Epinephelus gutattus (Linnaeus, 1758) (= Nebenedenia paraguaensis, DYER et al., 1992), Epinephelus malabaricus (Bloch e Schneider, 1801) (= N. girellae, OGAWA et al., 1995), E. marginatus (SANCHES; VIANNA 2007; SANCHES, 2008), Epinephelus morio (Valenciennes, 1828) (BULLARD et al., 2000) Epinephelus striatus (Bloch, 1792) (= Benedenia melleni, NIGRELLI, 1947), Epinephelus fuscoguttatus (Forsskal, 1775) (RÜCKERT et al., 2009) e Mycteroperca rosacea Streets, 1877 (= Mycteroperca pardalis e Benedenia girellae, BRAVO-HOLLIS, 1957). Epinephelus tauvina (Forsskal, 1775), quando parasitados por capsalídeos, apresentam como sintomas o escurecimento do corpo, natação errática, exoftalmia e hemorragias em diversas áreas do corpo, resultando, posteriormente, em infecções secundárias (JITHENDRAN et al., 2005). No Brasil, Sanches e Vianna (2007) verificaram a ocorrência dos mesmos sintomas em E. marginatus constatando a ocorrência do parasito N. melleni. Após cinco dias da detecção dos sintomas este quadro clínico se agravou, resultando em lesões no globo ocular, cegueira e infecções bacterianas extensas, seguidas de mortalidade de 80% dos peixes. Estima-se que mais de 95% dos monogenóideos são ectoparasitos encontrados nas brânquias ou região cutânea de peixes (EUZET; COMBES, 1998), entretanto, alguns são conhecidos por serem adaptados a uma existência endoparasitária (SANTOS et al., 2001). Entre as espécies de monogenóideos dactilogirídeos endoparasitos, sete gêneros têm sido relatados no sistema digestivo de peixes marinhos: Diplectanotrema Johnston; Tiegs, 1922, Pseudempleurosoma Yamaguti, 1965, Neodiplectanotrema Gerasev; Gaevskaya; Kovaleva, 1987, Paradiplectanotrema Gerasev, Gaevskaya; Kovaleva, 1987, Pseudodiplectanotrema Gerasev, Gaevskaya e Kovaleva, 1987, Metadiplectanotrema Gerasev, Gaevskaya e Kovaleva, 1987 e de água doce Enterogyrus cichlidarum Paperna, 1963 (SANTOS et al., 2001). No Brasil, não há registros destes monogenóideos endoparasitos em garoupas. Os trematódeos digenéticos, helmintos endoparasitos de vertebrados, apresentam órgãos de fixação musculares pouco.

(23) 23 desenvolvidos, ciclo de vida heteroxênico, podendo incluir até dois hospedeiros intermediários. Os peixes apresentam uma qualidade singular: podem agir como segundo hospedeiro intermediário (abrigando as metacercárias) e como hospedeiros definitivos destes parasitos (LUQUE, 2004a). Crib et al. (2002) relatam que trematódeos foram encontrados em 62 das 159 espécies de serranídeos (menos de 40%), em 9 dos 15 gêneros, sendo que em Epinephelus spp. foram registrados em 38 das 97 espécies examinadas. Helicometrina nimia Linton, 1910, endoparasito digenético cosmopolita, foi registrado em várias espécies de peixes marinhos, incluindo diversos serranídeos: Cephalopholis fulva (Linnaeus, 1758) (SPARKS, 1957; CABALLERO, 1990; NAHHAS; CARLSON, 1994), M. rosacea (ARAI, 1963), Epinephelus analogus Gill, 1863 (SOGANDARES-BERNAL, 1959), Epinephelus diacantus (Valenciennes, 1828) (ZAIDI; KHAN, 1977; BILQEES, 1981), E. malabaricus (LEONG; WONG, 1990), E. morio (MORAVEC et al., 1997) e Epinephelus chlorostigma (Valenciennes, 1828) (ALMATHAL, 2001). Os nematóides, apesar de constituírem o maior grupo de parasitos de peixes, facilmente reconhecidos devido ao formato alongado com extremidades afiladas, são considerados, de maneira geral, espécies pouco patogênicas. Dióicos, exibem dimorfismo sexual e apresentam ciclo de vida heteroxênico (LUQUE, 2004a). Nematóides da família Anisakidae Skrjabin e Karokhin, 1945 são parasitos de organismos aquáticos, como peixes, mamíferos marinhos e aves piscívoras. A transmissão das espécies desta família usualmente envolve invertebrados aquáticos e peixes como hospedeiros intermediários, paratênicos ou definitivos (ANDERSON, 2000). O anisaquídeo Contracaecum sp. Railliet e Henry, 1912 é um parasito que ocorre em várias espécies de peixes marinhos e de água doce. Em garoupas, foi registrado em E. malabaricus (LEONG; WONG, 1988). Hematologia de peixes marinhos O estudo dos componentes do sangue e de suas funções é importante para o conhecimento das condições de equilíbrio normais e patológicas. Por se encontrarem em contato direto com o ambiente, os peixes são susceptíveis a qualquer alteração que nele ocorra. Estas alterações afetam particularmente os parâmetros hematológicos destes animais (RANZANI-PAIVA; SILVA-SOUZA, 2004). A avaliação destes componentes auxilia na determinação da influência de condições.

(24) 24 fisiopatológicas que possam afetar a homeostase, colaborando assim no diagnóstico de condições adversas (TAVARES-DIAS et al., 1999) e na compreensão da relação entre as características sanguíneas, a saúde dos peixes e sua associação com o meio ambiente (TAVARES-DIAS; MORAES, 2004). Além de mostrarem o estado fisiológico dos peixes, os índices hematológicos são utilizados no controle de patologias e de estresse de qualquer natureza (MARTINEZ et al., 1994). Como resultado do cultivo, o estresse de captura, transporte, superpopulação, alimentação inadequada e qualidade de água imprópria podem diminuir a resistência às enfermidades e alterar o padrão característico das variáveis sanguíneas dos teleósteos dulciaquícolas e marinhos (MORAES; MARTINS, 2004). Segundo Tavares-Dias e Moraes (2004), em decorrência deste estresse, podem ocorrer aumento ou redução na concentração de hemoglobina, hematócrito, contagem de eritrócitos, volume corpuscular médio e concentração da hemoglobina corpuscular média, além de alterações morfológicas dos eritrócitos e decréscimo no percentual de linfócitos e trombócitos. Algumas destas alterações também podem ocorrer quando a carga parasitária dos animais estiver elevada (TAVARES-DIAS; MORAES, 2004). De acordo com Ranzani-Paiva e Silva-Souza (2004), a compreensão das alterações que ocorrem em espécimes de ambientes naturais possibilita monitorá-los quando esses animais são mantidos em cativeiro. Sob condições controladas, torna-se possível monitorar as alterações dos valores sanguíneos em decorrência das modificações das propriedades químicas e físicas da água. Entretanto, é necessário que se estabeleçam os parâmetros sanguíneos normais ou basais em qualquer espécie de peixe que se pretende estudar (RANZANI-PAIVA; SILVASOUZA, 2004). Em teleósteos, o sangue é formado por eritrócitos, trombócitos e leucócitos. Os eritrócitos maduros são as células mais numerosas no sangue, possuem forma oval, com núcleo central acompanhando o formato da célula. A função dos eritrócitos consiste no transporte de oxigênio e do gás carbônico, desempenhado pelo seu componente principal, a hemoglobina (TAVARES-DIAS; MORAES, 2004). Deficiências nestas células refletem em falta de oxigênio nos tecidos (RANZANI-PAIVA; SILVA-SOUZA, 2004). Redução na porcentagem de hematócrito, volume corpuscular médio, concentração de hemoglobina corpuscular média e número de linfócitos circulantes foi relatada em peixes parasitados pelo nematóide anisaquídeo Goezia leporini Martins e Yoshitoshi, 2003 (MARTINS et al., 2004)..

(25) 25 Os trombócitos de peixes têm formas variadas, predominantemente elípticos, ocasionalmente arredondados, ovais ou fusiformes, de citoplasma hialino, com núcleo grande que acompanha o formato da célula (TAVARES-DIAS et al., 2002; RANZANI-PAIVA; SILVA-SOUZA, 2004). Embora a função e a ocorrência de trombócitos ainda seja tema de discussão, acredita-se que a funcionalidade destas células em peixes, pode estar envolvida no processo de coagulação do sangue e também ligada a processos inflamatórios (MARTINS et al., 2006). Os leucócitos estão envolvidos nas defesas celulares e imunocelulares do organismo, sendo que seu significado fisiológico é parcialmente condicionado à capacidade de realizarem migração seletiva e diapedese (RANZANI-PAIVA; SILVA-SOUZA, 2004). A análise dos padrões sanguíneos contribui para o auxílio diagnóstico de condições mórbidas em populações de peixes, de estresse de manipulação ou do estado nutricional dos animais (TAVARESDIAS; FAUSTINO, 1998). As variáveis relativas à série vermelha são importantes na identificação de processos anemiantes, enquanto que o leucograma pode ser empregado como auxílio diagnóstico nos processos infecciosos (SOPINSKA, 1985) e outros estados de desequilíbrio homeostático (TAVARES-DIAS; MORAES, 2004). As características hematológicas de peixes sadios apresentam ampla variação, em função de fatores intrínsecos e extrínsecos. Dessa forma, para poder utilizar o sangue como instrumento de diagnóstico de doenças em peixes é preciso, inicialmente, conhecer os valores hematológicos normais, levando-se em conta a amplitude de variação fisiológica destes valores e as características de cada espécie em cada local (RANZANI-PAIVA; SILVA-SOUZA, 2004). De acordo com Ranzani-Paiva e Silva-Souza (2004), estudos do quadro sanguíneo de peixes marinhos realizados no Brasil são escassos, podendo-se destacar os realizados com tainha Mugil curema Valenciennes, 1836, Mugil incilis Hancock, 1830, Mugil liza Valenciennes, 1836, Mugil platanus, cavala Scomberomorus maculatus (Mitchill, 1815), Scomberomorus cavalla (Cuvier, 1829), sardinha-lage Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818), baiacu-mirim Sphaeroides testudineus (Linnaeus, 1758) e cação-frango Rhizoprionodon lalandi (Müeller e Henle, 1839). Não há registros de estudos referentes à hematologia de serranídeos no Brasil. O presente estudo avaliou as características hematológicas e parasitológicas da garoupa verdadeira em ambiente natural e de cultivo,.

(26) 26 a fim de fornecer subsídios que possam auxiliar no monitoramento da espécie em cativeiro, contribuindo assim para seu cultivo. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral • Avaliar as características hematológicas e parasitológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus de ambiente selvagem e de cultivo e verificar a influência da sazonalidade nestes parâmetros. 2.2 Objetivos específicos • Determinar o hematócrito, contagem total de eritrócitos, contagens totais de trombócitos e leucócitos e contagem diferencial de leucócitos da garoupa verdadeira. • Identificar e quantificar os parasitos da garoupa verdadeira em diferentes habitats. • Verificar a influência da sazonalidade na ocorrência e intensidade de parasitos da garoupa verdadeira selvagem e cultivada. • Avaliar a influência do parasitismo sobre as características hematológicas da garoupa verdadeira mantidas sob diferentes condições ambientais. Este trabalho está dividido em três capítulos apresentados a seguir: o primeiro – “Fauna parasitária da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil”– redigido sob as normas da revista “Aquaculture”, o segundo –“Influência de ectoparasitos e da sazonalidade sobre as características hematológicas da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil” – está redigido sob as normas da revista “Aquaculture Research” e o terceiro capítulo – “Helicometrina nimia Linton, 1910 (Digenea: Opecoelidae) em garoupa verdadeira Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) (Teleostei: Serranidae) de Ubatuba, São Paulo, Brasil” – redigido sob as normas da revista “Journal of Helminthology”..

(27) 27 3. CAPÍTULO 1. FAUNA PARASITÁRIA DA GAROUPA VERDADEIRA Epinephelus marginatus (LOWE, 1834) (TELEOSTEI: SERRANIDAE) SELVAGEM E CULTIVADA EM UBATUBA, SÃO PAULO, BRASIL. Katina Roumbedakis Ramosa, Natalia da Costa Marchioria, Ágata Pasetoa, Eduardo Luiz Tavares Gonçalvesa, José Luiz Fernando Luque Alejosb, Patrícia Barizon Cepedab, Eduardo Gomes Sanchesc, Maurício Laterça Martinsa*. a. Laboratório AQUOS - Sanidade de Organismos Aquáticos, Departamento de Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, Rod. Admar Gonzaga, 1346, CEP 88040-900, Florianópolis, SC, Brasil 55 48 3721.9923. b Departamento de Parasitologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Caixa Postal 74.508, CEP 23851-970, Seropédica, RJ, Brasil. c Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte, Instituto de Pesca/APTA/SAA, Rua Joaquim Lauro Monte Claro Neto, 2275, CEP 11680000, Ubatuba, SP, Brasil.. *Correspondência: katina.roumbedakis@gmail.com; mlaterca@cca.ufsc.br. Artigo redigido de acordo com as normas da revista “Aquaculture” (A2, Fator de impacto: 2,044)..

(28) 28 Resumo Este estudo teve como objetivo identificar e quantificar parasitos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada. Durante um ano, nas quatro estações, 20 espécimes selvagens e 20 cultivadas, totalizando 159 garoupas foram examinadas no sudeste do Brasil. As taxas de prevalência, intensidade média de infecção, abundância média e dominância relativa média de parasitos foram calculadas. Cinco espécies de parasitos foram identificadas nos peixes de ambas as origens: Monogenoidea (3), Digenea (1) e Nematoda (1). A prevalência de ectoparasitos foi, na maioria dos casos, maior do que a de endoparasitos. O monogenóideo Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae foi o parasito mais abundante e que apresentou as maiores intensidades e dominância relativa média em ambos os peixes, selvagens e cultivados, em todas as estações. Neobenedenia melleni foi observado em peixes selvagens e de cultivo em todas as estações, com aumento gradativo do número de parasitos das estações mais frias para as mais quentes, com as maiores prevalências e intensidades médias de infecção no verão. Helicometrina nimia foi encontrado em todas as estações em garoupas de ambas as origens, com exceção do verão, em que foi verificada sua presença apenas nos peixes selvagens. Pseudempleurosoma sp. e larvas de Contracaecum sp. apresentaram prevalências baixas e ocorreram em peixes selvagens e cultivados no outono e primavera, respectivamente. Este estudo revelou que altas intensidades de parasitos potencialmente patogênicos podem favorecer surtos de doenças em condições de cultivo. Palavras-chave: Epinephelus marginatus, parasitos, estado de saúde, diagnóstico. Parasitic fauna of wild and cultured dusky-grouper Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) from Ubatuba, São Paulo, Brazil Abstract This study aimed to identify and quantify the parasites of wild and cultured dusky grouper Epinephelus marginatus. During a year, in four seasons, 20 wild and 20 cultured, totalizing 159 groupers were examined from the Southeastern Brazil. Prevalence, mean intensity of infection, mean abundance and mean relative dominance were calculated. Five species of parasites were identified in fish from both origins: Monogenoidea (3), Digenea (1) and Nematoda (1). The.

(29) 29 prevalence of ectoparasites was, in most cases, higher than endoparasites. The most abundant parasite was the monogeneoidean Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae in both wild and cultured fish, in all seasons. Neobenedenia melleni was observed in wild and cultured fish in all seasons, with a gradual increase in the number of parasites for the coldest to the hottest seasons, with higher prevalences and mean intensities in summer. Helicometrina nimia was found in all seasons in both wild and cultured fish, with the exception of summer, where its presence was detected only in wild fish. Pseudempleurosoma sp. and Contracaecum sp. larvae showed low prevalences occurring in wild and cultured fish in autumn and spring, respectively. This study revealed that high intensities of potentially pathogenic parasites can favor disease outbreaks in culture conditions. Keywords: Epinephelus marginatus, parasites, health, diagnostic. 1. Introdução A garoupa verdadeira, Epinephelus marginatus (Lowe, 1834) é um teleósteo serranídeo que habita áreas de fundos rochosos e protegidos, geralmente em locais rasos, chegando eventualmente a 200 metros de profundidade (Heemstra e Randall, 1993). Possui ampla distribuição geográfica, estendendo-se ao longo da costa sul do Brasil, em todo o Mediterrâneo e no Atlântico oriental das Ilhas Britânicas até a África do Sul, Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde (Heemstra e Randall, 1993; Fennessy, 2006). As garoupas são peixes de grande valor comercial e constituem importante item da pesca artesanal costeira nos trópicos. Entretanto, devido ao declínio da pesca não apenas de garoupas, mas de várias espécies de peixes marinhos, a maricultura vêm sendo utilizada para incrementar a produção de pescado (Leong, 1998). Considerada uma espécie importante sob ponto de vista econômico e turístico, a garoupa verdadeira é potencial candidata para a piscicultura marinha no Brasil (Sanches et al., 2006). Parasitos, que causam pouco dano aparente em populações de peixes selvagens, podem se tornar agentes causadores de doenças de grande importância na piscicultura (Scholz, 1999). Condições associadas à aquicultura intensiva como confinamento, superpopulação e estresse podem facilitar a transmissão de parasitos e elevar a intensidade parasitária de peixes cultivados (Ogawa et al., 1995), podendo ocasionar doenças que restringem o desenvolvimento e a.

(30) 30 sustentabilidade do setor aquícola e acarretam em perdas diretas de produção (Bondad-Reantaso et al., 2005). Apesar do progresso considerável na parasitologia de peixes nas últimas décadas, ainda existem grandes lacunas no conhecimento da taxonomia, biologia, epizootiologia e controle de parasitos (Scholz, 1999). Além disso, estudos relativos à parasitologia de peixes marinhos ainda podem ser considerados incipientes diante da grande diversidade ictiológica e parasitária. A partir deste pressuposto, o presente estudo teve como objetivo analisar a fauna parasitária da garoupa verdadeira selvagem e cultivada nas diferentes estações do ano, no Sudeste do Brasil. 2. Materiais e métodos Os peixes foram examinados no litoral do estado de São Paulo, Ubatuba, Sudeste do Brasil (23º26’20”S, 45º01’37”O) durante as quatro estações do ano, entre julho/2009 e junho/2010, sendo 20 selvagens e 20 cultivados em cada estação, totalizando 159 garoupas (Comitê de ética 23080.029981/2009-76). Os peixes cultivados foram mantidos em tanques-rede de 8 m3 confeccionados com panagem de nylon multifilamento com 25 mm de abertura de malha, em densidade de nove peixes/tanque, fixados a um sistema de “long line” montado e fixado a 20 m paralelamente à linha de costa, em águas com profundidadede 4,0 ± 0,5 m. Os tanques-rede foram limpos a cada 30 dias, visando. manter uma adequada circulação de água no interior dos mesmos. Os peixes foram alimentados com rejeito de pesca, dos quais foram retiradas a cabeça e as vísceras. Os peixes selvagens foram capturados com armadilhas do tipo covo e mantidos em tanque de 3.000 L com sistema de recirculação fechado e aeração constante no laboratório por um período de 10 dias e alimentados a cada 2 dias com rejeitos de pesca. Em todas as amostragens procurou-se padronizar o tempo entre a captura e a coleta. No período amostral, a temperatura média da água e a salinidade no local de cultivo foram monitoradas. Após a biometria, os peixes foram anestesiados com solução de benzocaína (50 mgL-1), sacrificados e necropsiados para a análise parasitológica. O muco da superfície corporal, brânquias, estômago e intestino foram coletados e fixados separadamente e posteriormente analisados quanto à presença de parasitos. Os parasitos foram coletados e fixados segundo Kritsky et al. (1995) e Eiras et al. (2006) e quantificados sob estereomicroscópio..

(31) 31 Monogenoidea foram corados com tricrômico de Gômori, montados em lâminas permanentes com bálsamo do Canadá ou montados diretamente em Hoyer’s e as espécies identificadas segundo as descrições originais de Jahn e Kuhn (1932), Yamaguti (1965) e Oliver (1984) e redescrições de Whittington e Horton (1996) e Santos et al. (2000). Digenea foram corados com carmalúmen de Mayer, clarificados em creosoto de Faia, montados em lâminas permanentes com bálsamo do Canadá e identificados segundo Linton (1910) e Hafeezullah (1971). Os nematóides foram montados em preparações semipermanentes utilizando lactofenol de Amann e realizados desenhos e medidas para comparação com a bibliografia especializada (Hartwich, 1974; Moravec, 1994; Vicente e Pinto, 1999). Os dados de prevalência, intensidade e abundância média de parasitos foram calculados utilizando-se o software Quantitative Parasitology® 3.0 (Reiczigel e Rózsa, 2005) e a dominância relativa média conforme sugerido por Rohde et al. (1995). Os dados foram transformados para raiz de x, submetidos à análise de variância e, quando significativo, ao teste de Tukey para comparação entre as médias aritméticas, adotando-se o nível de significância de 5%. Os índices parasitológicos foram comparados entre animais selvagens e de cultivo durante todo o período independente da estação e também dentro de cada estação. 3. Resultados A temperatura média da água no cultivo no período foi de 24,05 ± 1,48ºC, atingindo a máxima no mês de fevereiro/2010 (27,80ºC) e mínima em junho/2010 (21,80ºC). A salinidade permaneceu estável, variando entre 33,26 e 36,30 ppm. A Tabela 1 mostra as características biométricas dos peixes selvagens e de cultivo examinados durante o período amostral. As espécies de ectoparasitos monogenóideos identificadas nas garoupas foram Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae (Oliver, 1984) Kritsky e Beverley-Burton, 1986 (Diplectanidae) nas brânquias e Neobenedenia melleni (MacCallum, 1927) Yamaguti, 1963 (Capsalidae) na superfície corporal. Em relação aos endoparasitos, foram identificados: uma espécie de digenético Helicometrina nimia Linton, 1910 no estômago e intestino, uma espécie de monogenóideo Pseudempleurosoma sp. Yamaguti, 1965 no estômago e uma espécie de nematóide, Contracaecum sp. Railliet e Henry, 1912 no intestino..

(32) 32 Tabela 1: Valores médios (± desvio padrão) e amplitude de variação do comprimento total e peso da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. N: número de peixes examinados. Origem dos peixes / estações Peixes selvagens Inverno (Julho/09) Primavera (Setembro/09) Verão (Fevereiro/10) Outono (Junho/10) Peixes cultivados Inverno (Julho/09) Primavera (Setembro/09) Verão (Fevereiro/10) Outono (Junho/10). N. Comprimento total (cm). Peso (g). 20. 30,01 ± 2,86 (26,5 – 37,0) 28,15 ± 4,25 (20,9 – 34,8) 27,07 ± 2,78 (22,5 – 31,5) 32,51 ± 4,89 (27,0 – 42,0). 370,36 ± 115,13 (248,7 – 677,7) 323,85 ± 156,07 (82,5 – 629,4) 260,82 ± 81,76 (132,1 – 414,1) 531,21 ± 265,90 (259,2 – 1.117,8). 28,90 ± 3,88 (21,0 – 36,5) 31,25 ± 3,75 (25,0 – 40,3) 32,62 ± 6,48 (21,0 – 46,0) 21,81 ± 5,62 (13,0 – 30,2). 339,80 ± 135,47 (140,5 – 650,1) 433,59 ± 164,56 (240,4 – 939,2) 539,75 ± 316,03 (127,0 – 1.392,9) 177,38 ± 119,40 (25,5 – 409,4). 20 20 19 20 20 20 20. Peixes selvagens apresentaram prevalências, abundância e intensidades médias de infecção por P. beverleyburtonae e H. nimia semelhantes aos peixes de cultivo. Neobenedenia melleni apresentou maior abundância e intensidade média de infecção nos peixes cultivados (16,30 e 23,29) do que nos selvagens (3,22 e 5,16). Pseudempleurosoma sp. e larvas de Contracaecum sp. apresentaram prevalências menores que 10% e intensidades médias de infecção baixas (Tabela 2). O parasito mais prevalente e mais abundante (P<0,05) foi P. beverleyburtonae com prevalência de 100% nos peixes de ambas as origens durante todas as estações, com exceção dos peixes cultivados no verão (95%). A maior abundância média ocorreu no outono em ambos os peixes, selvagens (1.350,58) e cultivados (2.077,80). Esta espécie foi também a que apresentou a maior dominância relativa média com índices superiores a 0,70 em todas as estações nos peixes de ambas as origens (Tabela 3)..

(33) Tabela 2: Índices parasitológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil. P%: prevalência; AM: abundância média; IMI: intensidade média de infecção, com valores mínimo e máximo entre parênteses. Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05). P% Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae Neobenedenia melleni Helicometrina nimia Pseudempleurosoma sp.* Contracaecum sp.*. Selvagens AM. IMI. P%. Cultivados AM. IMI. 100. 852,49a. 852,49 (1-8318)a. 98,8. 947,88a. 959,87 (4-7573)a. 63,3 20,3 1,3 1,3. 3,22a 1,66a 0,01 0,01. 5,16 (1-46)a 8,19 (1-38)a 1 1. 70 18,8 7,5 5. 16,30b 0,74a 0,19 0,05. 23,29 (1-201)b 3,93 (1-12)a 2,5 (1-9) 1. *Devido à baixa prevalência de parasitos não foi realizada a análise estatística.. 33.

(34) 34 Neobenedenia melleni foi observado em peixes selvagens e de cultivo em todas as estações, com aumento gradativo do número de parasitos das estações mais frias para as mais quentes. As prevalências variaram entre 26,3% em peixes selvagens no outono e 100% em peixes de cultivo no verão, estação em que também foram verificados os maiores (P<0,05) valores de abundância e intensidade média de infeccção(52,75) (Tabela 3). Pseudempleurosoma sp. foram encontrados em peixes selvagens e de cultivo apenas no outono, sendo sua prevalência de 5,26% e 30%, respectivamente, com abundância e intensidade média de infecção de 0,05 e 1,0 em garoupas selvagens e 0,75 e 2,5 em garoupas cultivadas, respectivamente (Tabela 3). Helicometrina nimia foi observado em todas as estações em garoupas de ambas as origens, com exceção do verão, em que foi verificada sua presença apenas nos peixes selvagens. A maior prevalência foi verificada no outono, tanto nos peixes selvagens (31,6%) como nos de cultivo (60%) e a maior intensidade média de infecção ocorreu no inverno nos peixes selvagens (11) e no outono nos peixes cultivados (4,33) (Tabela 3). Larvas do nematóide Contracaecum sp. foram verificadas apenas na primavera, em peixes de ambas as origens, com prevalências e abundâncias média de 5% e 0,05 em peixes selvagens e 15% e 0,15 em peixes de cultivo, respectivamente (Tabela 3). 4. Discussão Vários fatores podem determinar ou influenciar a fauna parasitária de muitas espécies ou grupos de hospedeiros, tais como idade, sexo, tamanho, tipo de alimento, modo de vida, distribuição geográfica e sazonal da população do hospedeiro em tempo e espaço (Dogiel, 1964). Main e Rosenfeld (1996) sugerem que doenças em ambientes de cultivo não são causadas por um único fator, mas por uma combinação de fatores interrelacionados que tornam os peixes mais suscetíveis aos patógenos. Além disso, parasitos de ciclo de vida monoxênico podem proliferar rapidamente nestas condições devido a seu ciclo de vida direto e aumentar significativamente em um curto período de tempo (Rückert et al., 2008)..

(35) Tabela 3: Índices parasitológicos da garoupa verdadeira Epinephelus marginatus selvagem e cultivada em Ubatuba, São Paulo, Brasil durante as estações do ano. P%: prevalência; AM: abundância média; IMI: intensidade média de infecção, com valores mínimo e máximo entre parênteses; DRM: dominância relativa média de parasitos. Letras distintas indicam diferença significativa nos índices parasitológicos entre as origens dos peixes (P<0,05).. Inverno Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae Neobenedenia melleni Helicometrina nimia Primavera Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae Neobenedenia melleni Helicometrina nimia Contracaecum sp.. Selvagens IMI. P%. AM. 100 50. 688,2 ± 370,37ab 0,8 ± 1a. 35. 3,85 ± 8,66a. 100 80. 1071,6 ± 884ab 3,1 ± 5,5a. 5 5. 0,05 ± 0,22 0,05. Cultivados AM IMI. DRM. P%. 688,2 ± 370,37 (183-1504)ab 1,6 ± 0,8 (1-3)a 11 ± 12,08 (2-38)b. 0,9932. 100. 0,001. 65. 605,3 ± 365abc 1,5 ± 1,5a. 0,005. 10. 0,15 ± 0,49a. 1071,6 ± 834,8 (44-2720)ab 3,88 ± 6 (1-25)ab 1a 1. 0,9969. 100. 0,002. 60. -. 5 15. 982,25 ± 1453,8 982,25 ± ab (12-5563)ab 1453,8 a 4,15 ± 7,14 6,92 ± 8,19 (1-31)ab 0,2 ±0,89 4a 0,15 ± 0,37 1. 605,3 ± 365 (197-1709)abc 2,31 ± 1,25 (1-5)a 1,5 ± 0,71 (1-2)a. DRM 0,9971 0,002 0,9954 0,004 -. 35.

(36) Verão Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae Neobenedenia melleni. 36. Tabela 3: (continuação) 324,55 ± 216,89 (1-733)ac 9,16 ± 10,2 (2-46)b 8 ± 1,41 (7-9)ab. 0,9715. 95. 0,260. 100. 0,002. -. 95. 324,55 ± 216,89ac 8,7 ± 10,2a. 10. 0,8 ± 2,48. 100. 1350,58 ± 2199,2 (4-8318)ab 1. 0,9982. 100. 5,3. 1350,58 ± 2199,2ab 0,05. -. 30. Neobenedenia melleni. 26,3. 0,32 ± 0,57a. -. 55. Helicometrina nimia. 31,6. 1,95a. 1,2 ± 0,45 (1-2)a 6,17 (1-21)ab. 0,001. 60. Helicometrina nimia Outono Pseudorhabdosynochus beverleyburtonae Pseudempleurosoma sp.*. 100. *Devido à baixa prevalência de parasitos não foi realizada a análise estatística.. 126,15 ± 289,63c 52,75 ± 43,51b -. 132,79 ± 296 (4-1324)c 52,75 ± 43,51 (2-201)c -. 0,7051. 2077,8 ± 2378,6b 0,75 ± 2,02. 2077,8 ± 2378,6 (6-7573)b 2,5 ±3,21 (1-9) 12,27 ± 17,79 (1-60)ab 4,33 ± 3,6 (1-12)b. 0,9951. 6,75 ± 14,34a 2,6 ± 3,5a. 0,2848 -. 0,001 0,003.

(37) 37. Estudos relativos à fauna parasitária de peixes marinhos têm evidenciado que os parasitos dominantes em determinada espécie hospedeira tendem a ser os mesmos, independentemente do peixe ser selvagem ou cultivado, porém, o número de parasitos em peixes cultivados geralmente é superior aos selvagens (Rückert et al., 2010). Entretanto, neste estudo, na maioria dos casos, não houve diferença significativa na quantidade de parasitos de peixes selvagens e de cultivo dentro das estações, especialmente monogenóideos. Isto pode estar relacionado com o fato de que não foi possível capturar os peixes selvagens todos no mesmo dia e estes foram mantidos no laboratório por um período de 10 dias até a análise, o que pode ter contribuído para um aumento significativo no número de parasitos nestes peixes. Em relação à riqueza parasitária, Leong e Wong (1988) encontraram 16 espécies de parasitos em Epinephelus malabaricus (Bloch e Schneider, 1801) selvagens e 11 em espécimes cultivados, dos quais apenas seis foram comuns aos dois ambientes. Rückert et al. (2010) também verificaram maior riqueza parasitária em Epinephelus fuscoguttatus (Forsskal, 1775) selvagens (30) em relação aos cultivados (25). Estes autores verificaram, na maioria dos casos, maior prevalência de ectoparasitos em E. malabaricus e E. fuscoguttatus quando comparados aos endoparasitos. Os valores de prevalências de ecto e endoparasitos encontrados no presente estudo corroboram os encontrados por Leong e Wong (1988) e Rückert et al. (2010), entretanto não houve diferença na fauna parasitária de peixes selvagens e cultivados, sendo encontradas as mesmas espécies de parasitos (5) nos peixes de ambas as origens. Serranídeos, especialmente Epinephelus spp. são comumente parasitados por monogenóideos diplectanídeos (Bu et al., 1999). A maioria dos diplectanídeos que afetam as garoupas pertencem ao gênero Pseudorhabdosynochus e parasitam as brânquias (Justine, 2007). Representantes deste gênero induzem à condições patológicas em peixes de cultivo (Leong e Wong, 1988; Santos et al., 2000). Segundo Leong (1997), infecções por Pseudorhabdosynochus nestes peixes estão diretamente relacionadas com a densidade de estocagem, podendo ser considerada uma constante fonte de estresse e o principal fator que contribui para surtos da doença. No Brasil, P. beverleyburtonae foi relatado parasitando as brânquias de E. marginatus selvagens (Santos et al., 2000), sendo que no presente estudo também foi verificada sua presença em espécimes de cultivo, além dos selvagens. Tal fato poderia ser explicado pela aproximação entre os animais mantidos em tanques-.

(38) 38. rede e os selvagens que habitam a região rochosa próxima das estruturas de cultivo. Pseudorhabdosynochus epinepheli Yamaguti, 1958 foi apontado por Leong e Wong (1988) como o parasito mais abundante em E. malabaricus, com prevalências de 100% em peixes cultivados e 94% em peixes selvagens, sendo a intensidade média de infecção três vezes maior em peixes cultivados do que em selvagens. Rückert et al. (2010) identificaram P. epinepheli e Pseudorhabdosynochus lantauensis (Beverley-Burton e Suriano, 1981) Kritsky e Beverley-Burton, 1986 como os parasitos mais abundantes em E. fuscoguttatus selvagens e cultivados durante três estações consecutivas, duas chuvosas e uma seca, entretanto não verificaram a influência da sazonalidade na incidência dos parasitos. Neste estudo, os altos índices de parasitismo (intensidade e abundância) observados nos peixes cultivados principalmente no inverno, primavera e outono podem se tornar fatores limitantes para o sucesso na produção da garoupa. O manejo e a densidade de cultivo adequados, bem como a maior distância entre o costão rochoso e as estruturas de cultivo evitariam sua proliferação nos tanques-rede e a transmissão da parasitose. Luo e Yang (2010) notaram influência da sazonalidade no parasitismo de Pseudorhabdosynochus coioidesis Bu, Leong, Wong, Woo e Foo, 1999 e Pseudorhabdosynochus serrani (Yamaguti, 1953) em garoupas selvagens [Epinephelus coioides (Hamilton, 1822)] e sob condições de policultivo experimental [E. coioides, Epinephelus awoara (Temminck e Schlegel, 1842) e Epinephelus bruneus (Bloch, 1793)]. Em peixes selvagens, os autores observaram a presença destes monogenóideos apenas no outono e no inverno, com prevalência e intensidade média de infecção de ambas as espécies maiores no inverno. A prevalência e intensidade média dos dois parasitos nos peixes do policultivo demonstrou o mesmo padrão de flutuação sazonal, atingindo valores máximos no outono, exceto pela prevalência de P. serrani, que atingiu seu valor máximo no inverno. Ao contrário, no presente estudo, o diplectanídeo P. beverleyburtonae foi o parasito mais prevalente e abundante em peixes selvagens e cultivados em todas as estações. Os maiores valores de intensidade média deste parasito ocorreram no outono em ambos os peixes selvagens e cultivados, entretanto as prevalências foram semelhantes em todas as estações e às encontradas por Leong e Wong (1988). Neobenedenia melleni é conhecido pela baixa especificidade parasitária, sendo encontrado em mais de 100 espécies englobando mais.

(39) 39. de 30 famílias de cinco ordens de teleósteos selvagens e cultivados (Whittington e Horton, 1996; Bullard et al., 2000), entretanto, não há registros de informações detalhadas a respeito de lesão ou doença em hospedeiros selvagens (Bullard et al., 2000). Por outro lado, peixes em cultivos e aquários rotineiramente desenvolvem infecções intensas pelo parasito (Deveney et al., 2001; Whittington, 2004). Segundo Carvalho e Luque (2009) estudos de hospedeiros selvagens naturalmente parasitados são importantes para o conhecimento dos indicadores populacionais de N. melleni, registro de novos hospedeiros e novas áreas geográficas. Além disso, pode auxiliar no manejo e gerenciamento da aquicultura, prevenindo e controlando doenças associadas a infecções (Bullard et al., 2003). No Brasil, N. melleni foi registrado por Sanches e Vianna (2007) parasitando E. marginatus cultivadas em tanques-rede. Neste estudo, N. melleni foi observado parasitando E. marginatus selvagens e cultivadas, sendo o primeiro registro deste parasito em espécimes de garoupa verdadeira selvagem. A temperatura é conhecida por ser um fator chave que afeta o ciclo de vida de capsalídeos (Ernest e Whittington, 1996; Lackenby et al., 2007). Hirazawa et al. (2010) verificaram que em temperaturas mais altas, Neobenedenia girellae (considerada sinonímia de N. melleni por Whittington e Horton, 1996), a taxa de crescimento e a maturação do parasito foram mais rápidos, quando comparados a temperaturas mais baixas. No presente estudo, as maiores prevalências e intensidades de N. melleni foram significativamente maiores em peixes de cultivo no verão, o que pode estar relacionado às maiores temperaturas neste período. Além disso, o ciclo de vida direto destes parasitos, que não requerem hospedeiro intermediário, facilita sua propagação em situações de cultivo. Estima-se que mais de 95% dos monogenóideos são ectoparasitos encontrados nas brânquias ou região cutânea de peixes (Euzet e Combes, 1998), entretanto, alguns são conhecidos por serem adaptados a existência endoparasitária (Santos et al., 2001). Recentemente, o monogenóideo Pseudempleurosoma gibsoni Santos, Mourão e Cárdenas, 2001 foi descrito no esôfago de Paralonchurus brasiliensis (Steindachner, 1875) em Ubatuba, São Paulo, Brasil (Santos et al., 2001). No presente estudo, verificou-se a presença de espécimes deste gênero na mesma localidade no estômago de E. marginatus. Devido ao pequeno número de espécimes encontrados, não foi possível identificar o parasito em nível específico, mas este é o primeiro registro do gênero em garoupas no Brasil..

(40) 40. Helicometrina nimia Linton, 1910 é um endoparasito digenético, registrado em várias espécies de peixes marinhos, incluindo diversas espécies de serranídeos (Cribb et al., 2002). Esta espécie apresenta um espectro de hospedeiros e distribuição geográfica notoriamente mais ampla do que as outras espécies do gênero (Oliva e Muñoz, 1985). Em garoupas, foi registrado em Epinephelus analogus (Sogandares-Bernal, 1959), Epinephelus diacantus (Zaidi e Khan, 1977; Bilqees, 1981) e Epinephleus morio (Moravec et al., 1997). Moravec et al. (1997) verificaram prevalência de 15% e intensidade média de infecção por H. nimia de 1 parasito. No presente estudo, as prevalências variaram entre 0 e 60%, com intensidades médias de infecção entre 1 e 11 parasitos. Luque e Poulin (2004) relataram a ocorrência de larvas de anisaquídeos em 44 espécies de peixes marinhos do litoral do estado do Rio de Janeiro. Contracaecum sp. é um anisaquídeo que ocorre em várias espécies de peixes e, em garoupas, foi registrado por Leong e Wong (1988) em E. malabaricus com prevalências e intensidades médias de infecção de 2,9 e 1,0 em peixes selvagens e 1,6 e 1,0 em peixes cultivados. No presente estudo, foi verificada a presença de larvas de Contracaecum sp. em peixes selvagens e cultivados apenas na primavera e com taxas de prevalência e intensidades baixas, corroborando os resultados encontrados por Leong e Wong (1988). Parasitos de ciclo de vida heteroxênico dependem de hospedeiros intermediários para completar seu ciclo de vida. Consequentemente, a taxa de infecção em peixes cultivados, com exceção de infecções diretas por parasitos em estágios de vida livre-natantes, depende do acesso deles aos hospedeiros intermediários seja pela disponibilidade de presas vivas ou alimentação fresca não tratada (Rückert et al., 2009). Leong e Wong (1988) atribuíram as maiores prevalências de endoparasitos em peixes cultivados à alimentação, realizada com rejeitos de pesca. Rückert et al. (2009) verificaram que peixes cultivados alimentados com peletes de ração apresentaram menor número de endoparasitos quando comparados com peixes alimentados com rejeito de pesca. Neste estudo, não houve diferença significativa entre o número total de endoparasitos de peixes selvagens e de cultivo. A alimentação dos peixes foi realizada com rejeito de pesca, dos quais foram retiradas a cabeça e as vísceras, fato que pode ter diminuído a transmissão destes parasitos por meio da alimentação..

(41) 41. Conclusões A riqueza de parasitos e as taxas de prevalência, abundância e intensidade média de infecção observados em E. marginatus foram, na maioria das vezes, semelhantes nos peixes selvagens e cultivados. Verificou-se a influência da sazonalidade na ocorrência dos parasitos. Altas intensidades de parasitos potencialmente patogênicos foram observadas, o que pode favorecer surtos de doenças em situações de cultivo. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pela bolsa de mestrado a K. Roumbedakis (CNPq 553199/2009-9) e bolsa de produtividade em pesquisa ao Dr. M.L. Martins (CNPq 302493/2010-7); ao Instituto de Pesca, Ubatuba, SP, Brasil pelo apoio a campo nas amostragens e ao Dr. José Luiz Pedreira Mouriño (Laboratório de Camarões Marinhos, Universidade Federal de Santa Catarina, SC, Brasil) pela revisão crítica do manuscrito antes da submissão. Referências Bilqees, F.M., 1981. Digenetic Trematodes Fishes of Karachi Coast. Karachi, Kifayat Academy. Bondad-Reantaso, M.G., Subasinghe, R.P., Arthur, J.R., Ogawa, K., Chinabut, S., Adlard, R., Tan, Z., Shariff, M., 2005. Diseases and health management in Asian aquaculture. Vet. Parasitol. 132, 249272. Bu, S.S.H., Leong, T.S., Wong, S.Y., Woo, Y.S.N., Foo, R.W.T., 1999. Three diplectanid monogeneans from marine finfish (Epinephelus spp.) in the Far East. J. Helminthol. 73, 301 –312 Bullard, S.A, Benz, G.W., Overstreet, R.M., Willians, E.H., Hemdal, J., 2000. Six new host records and an updated list of wild hosts for Neobenedenia melleni (MacCallum) (Monogenea: Capsalidae). Comp. Parasitol. 67 (2), 190-196. Bullard, S.A.; Goldstein, R.J.; Hocking, R.; Jewel, J., 2003. A new geographic locality and three new host records for Neobenedenia melleni (MacCallum) (Monogenea: Capsalidae). Gulf and Caribbean Research. 15(1), 1-4. Carvalho, A.R.; Luque, J.L., 2009. Ocorrência de Neobenedenia melleni (Monogenea; Capsalidae) em Trichiurus lepturus (Perciformes; Trichiuridae), naturalmente infestados, no litoral do Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Parasitol. Vet. 18 (1), 74-76..

Referências

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