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Direitos humanos e educação ambiental: discursos e práticas nos projetos pedagógicos de escolas públicas municipais de ensino fundamental de Horizontina- RS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DIREITO

MESTRADO EM DIREITOS HUMANOS

RAQUEL LUCIENE SAWITZKI CALLEGARO

DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

DISCURSOS E PRÁTICAS NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE HORIZONTINA- RS.

Ijuí (RS) 2018

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RAQUEL LUCIENE SAWITZKI CALLEGARO

DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

DISCURSOS E PRÁTICAS NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE HORIZONTINA- RS.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação, Stricto Sensu – Mestrado em Direito, Área de Concentração Direitos Humanos, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito.

Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Elenise Felzke Schonardie

Ijuí 2018

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Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

C157d Callegaro, Raquel Luciene Sawitzki.

Direitos Humanos e Educação Ambiental: discursos e práticas nos projetos pedagógicos de escolas públicas municipais de ensino

fundamental de Horizontina - RS / Raquel Luciene Sawitzki Callegaro. – Ijuí, 2018.

122 f. ; il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Direitos Humanos.

“Orientadora: Elenise Felzke Schonardie”.

1. Direitos humanos. 2. Educação ambiental. 3. Educação em direitos humanos. 4. Práticas pedagógicas. 5. Cidadania Projetos político-pedagógicos. I. Schonardie, Elenise Felzke. II. Título.

CDU: 342.7:504

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4 UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Direito Curso de Mestrado em Direitos Humanos

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

DISCURSOS E PRÁTICAS NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE ENSINO FUNDAMENTAL DE HORIZONTINA- RS.

elaborada por

RAQUEL LUCIENE SAWITZKI CALLEGARO

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito

Banca Examinadora:

Profª. Drª. Elenise Felzke Schonardie (UNIJUÍ): ____________________________________

Profª. Drª. Isabel Christine Silva de Gregori (UFSM): ________________________________

Profª. Drª. Vera Lucia Spacil Raddatz (UNIJUÍ): ____________________________________

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Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam, poderia se encontrado numa só rosa.

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AGRADECIMENTOS

Muitos foram os desafios na construção da presente dissertação. Inúmeras foram as ausências sentidas durante a caminhada. Diferentes foram as incertezas. Alcançar o objetivo não é tarefa fácil. A certeza de que estamos no caminho certo é quando alguém nos incentiva. Esse alguém se multiplica.

A multiplicação do meu eterno agradecimento, primeiramente, é dedicada à minha família, minhas lindas filhas Catharina, Giovanna, Nathália e Victória que compreenderam, com amor e carinho, as lacunas deixadas para completar a jornada. A vocês o meu amor mais puro e efêmero! Vocês, minhas filhas, me mostraram o real sentido da palavra AMOR!

Ao meu Álvaro, marido, companheiro, amigo e eterno amor, por toda a delicadeza e incentivo nas loucuras que a vida me proporciona. Obrigada por dividir comigo a beleza da vida! Amo-te!!!

A minha amada mãe, fonte de inspiração na busca incansável por tornar-me um ser humano melhor. Cada professor que formou, enquanto educadora, demonstra a certeza de que a educação é a passagem para um mundo mais humano. À minha irmã Roberta que dedicou muitos momentos de sua vida para me auxiliar na construção e reconstrução desta dissertação, e não mediu esforços para que eu pudesse concluir esta etapa de minha vida. Ao meu irmão Rafael, por todo o carinho, auxílio e atenção. Amo vocês!

A Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, por permitir que as discussões da academia pudessem transformar meus pensamentos e minha vida. Aos professores do Curso de Mestrado em Direito, obrigada por cada palavra, por cada incentivo e por cada incerteza. Vocês trazem o conhecimento como a maior arma para tornar o mundo um espaço melhor para tod@s os seres.

À minha orientadora Prof. Drª Elenise Felzke Schonardie, pelo olhar atento e incentivo na construção, autonomia e argumentações necessárias. Muito obrigada!

Aos amigos que a 5ª Turma do Mestrado me deu. Vocês são pessoas especiais que, não apenas cruzaram em minha vida, transformaram as aulas em momentos prazerosos de conhecimento e permanecerão guardados em meu coração. Levarei um pedacinho de cada um comigo para (re)construir-me. Obrigada!

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RESUMO

A presente dissertação discorre sobre a temática Direitos Humanos e Educação Ambiental, enfatizando os discursos e as práticas nos projetos político-pedagógicos do Ensino Fundamental das escolas públicas municipais de Horizontina, estado do Rio Grande do Sul. Visto que a degradação do meio ambiente tem contribuído para desastres irreparáveis relacionados à falta de cuidado e de preocupação com o bem-estar e a manutenção dos seres vivos, trazer esse tema para o debate torna-se relevante. Partindo do entendimento de que a consciência ambiental deve ser desenvolvida e praticada na comunidade escolar, como importante tarefa de proteção às futuras gerações, o problema de pesquisa versa sobre quais discursos e práticas contemplam as atividades preconizadas pela Política Nacional de Educação Ambiental e quais destes foram internalizados gerando aprendizagem pela comunidade escolar a ponto de promover a efetivação dos direitos humanos e da educação ambiental na região investigada. Tem-se como objetivo geral, analisar o desenvolvimento da temática dos Direitos Humanos no contexto local focalizado na Educação Ambiental para compreender que discursos e práticas, apresentadas nos projetos político-pedagógicos das escolas públicas de Horizontina, RS estão se efetivando no cotidiano escolar. Desse modo, o presente estudo encontra amparo na preocupação com o futuro da humanidade e vincula-se à linha de pesquisa “Meio Ambiente, Sustentabilidade e Novos Direitos” do Mestrado em Direitos Humanos, tendo em vista que a Educação Ambiental está no cerne da questão, principalmente pela importância na formação de toda a coletividade voltada para uma reflexão crítica e transformadora. Para atingir o objetivo proposto, quanto à natureza da investigação, foi desenhada uma pesquisa teórica-empírica, uma vez que esta privilegia o construto literário relativo ao tema presente em estudos, doutrina e legislação. Considerando o objetivo da dissertação, a pesquisa classifica-se como exploratória-descritiva, com abordagem direta e indireta. Em termos de estratégia metodológica adotou-se o estudo de caso qualitativo, tendo como objeto pesquisar as práticas relativas aos Diretos Humanos e à Educação Ambiental. Por fim, conclui-se que, o estudo possibilitou evidenciar que as escolas públicas de ensino fundamental do município de Horizontina, RS têm inseridos nos projetos pedagógicos a educação ambiental e, na prática estão desenvolvendo atividades que demonstram um aumento discreto, porém importante, na conscientização dos educandos quanto a valoração da construção do saber ambiental e da proteção aos direitos humanos para as futuras gerações.

Palavras-chave: Direitos humanos; Educação ambiental; educação em direitos humanos; práticas pedagógicas; projetos político-pedagógicos.

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RESUMEN

La presente disertación discurre sobre la temática Derechos Humanos y Educación Ambiental, enfatizando los discursos y las prácticas en los proyectos político-pedagógicos de la Enseñanza Fundamental de las escuelas públicas municipales de Horizontina, estado de Rio Grande do Sul. Dado que la degradación del medio ambiente ha contribuido para catástrofes irreparables relacionadas con la falta de cuidado y de preocupación por el bienestar y el mantenimiento de los seres vivos, traer ese tema al debate se vuelve relevante. A partir del entendimiento de que la conciencia ambiental debe ser desarrollada y practicada en la comunidad escolar, como importante tarea de protección a las futuras generaciones, el problema de investigación versa sobre qué discursos y prácticas contemplan las actividades preconizadas por la Política Nacional de Educación Ambiental y cuáles de éstos fueron internalizados generando aprendizaje por la comunidad escolar a punto de promover la efectividad de los derechos humanos y de la educación ambiental en la región investigada. Se tiene como objetivo general analizar el desarrollo de la temática de los Derechos Humanos en el contexto local enfocado en la Educación Ambiental para comprender qué discursos y prácticas presentados en los proyectos político-pedagógicos de las escuelas públicas de Horizontina se están realizando en el cotidiano escolar. De este modo, el presente estudio encuentra amparo en la preocupación con el futuro de la humanidad y se vincula a la línea de investigación "Medio Ambiente, Sustentabilidad y Nuevos Derechos" del Máster en Derechos Humanos, teniendo en vista que la Educación Ambiental está en el centro de la cuestión, principalmente por la importancia en la formación de toda la colectividad volcada hacia una reflexión crítica y transformadora. Para alcanzar el objetivo propuesto, en cuanto a la naturaleza de la investigación, se ha diseñado una investigación teórico-empírica, ya que ésta privilegia el constructo literario relativo al tema presente en estudios, doctrina y legislación. Considerando el objetivo de la disertación, la investigación se clasifica como exploratoria-descriptiva, con abordaje directo e indirecto. En términos de estrategia metodológica se adoptó el estudio de caso cualitativo, teniendo como objeto investigar las prácticas relativas a los Directos Humanos ya la Educación Ambiental. Por último, se presenta la conclusión que, después del estudio posibilitó evidenciar que las escuelas públicas de enseñanza fundamental del municipio de Horizontina han insertado en los proyectos pedagógicos la educación ambiental y, en la práctica están desarrollando actividades que demuestran un aumento discreto, pero importante, en la concientización de los educandos en cuanto a la valoración de la construcción del saber ambiental para las futuras generaciones.

Palabras clave: educación ambiental; educación en derechos humanos; prácticas pedagógicas; proyectos político-pedagógicos.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Evolução da População ... 83

Ilustração 2 – População urbana e população rural por faixa etária ... 84

Ilustração 3 – Participação dos Setores do PIB ... 86

Ilustração 4 – Motivação para trabalhar EA na escola ... 99

Ilustração 5 – Principal objetivo da EA: Primeira prioridade ... 100

Ilustração 6 – Principal objetivo da EA: segunda prioridade ... 101

Ilustração 7 – Principal objetivo da EA: terceira prioridade ... 102

Ilustração 8 – Modalidades de desenvolvimento da EA ... 103

Ilustração 9 – Prioridade dos temas nos Projetos de EA: primeira prioridade ... 103

Ilustração 10 – Prioridade dos temas nos Projetos de EA: segunda prioridade ... 104

Ilustração 11 – Prioridade dos temas nos Projetos de EA: terceira prioridade ... 105

Ilustração 12 – Atores que participam da gestão ... 106

Ilustração 13 – Formação continuada do Professor em EA ...107

Ilustração 14 – Fatores que contribuem para a inserção de EA na escola ...108

Ilustração 15 – Mudanças na escola com a inserção da EA ...110

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

§ Parágrafo

art. Artigo

AO Aprendizagem Organizacional

CF Constituição Federal de 1988

CME Conselho Municipal de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

CNE/CP Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno

CNEDH Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos

DH Direitos Humanos

DMMA Departamento Municipal de Meio Ambiente

DNEDH Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos

E.M.E.F Escola Municipal de Ensino Fundamental

EA Educação Ambiental

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ECO/92 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

EMC Educação Moral e Cívica

FEE Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul

FMMA Fundo Municipal de Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Educação

inc. Inciso

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MDE Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

MMA Ministério do Meio Ambiente

MNDH Movimento Nacional de Direitos Humanos

Nº Número

ONGs Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

OSPB Organização Social e Política Brasileira

p. Página

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PIB Produto Interno Bruto

PME Plano Municipal de Educação

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PNC Programa Nacional de Formação e Capacitação de Gestores

Ambientais

PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos

PNDH - 2 Programa Nacional de Direitos Humanos - 2

PNDH - 3 Programa Nacional de Direitos Humanos - 3

PNE Plano Nacional de Educação

PNEA Política Nacional de Educação Ambiental

PNEDH Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PPP Projeto Político-pedagógico

ProNEA Programa Nacional de Educação Ambiental

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

TCE/RS Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul

UNIJUÍ Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

2 HISTÓRIA, CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ... 21

2.1 Direitos Humanos e a Educação em Direitos Humanos no contexto brasileiro...21

2.2 A política pública de Educação em Direitos Humanos ... 31

2.3 O desenvolvimento da educação brasileira no contexto dos direitos humanos .. 38

3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ... 53

3.1 O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito humano ... 53

3.2 A importância da educação ambiental para a sociedade contemporânea ... 65

3.3 Sustentabilidade ambiental e cidadania ... 73

4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DIREITOS HUMANOS: DISCURSOS E PRÁTICAS NOS PROJETOS POLÍTICO-PEDAGÓGICOS ... 80

4.1 Contextualizando Horizontina e a educação pública ... 80

4.2 A apresentação dos Projetos Político-Pedagógicos da educação pública de Horizontina: os discursos pedagógicos em Educação Ambiental e Educação em Direitos Humanos ... 89

4.3 Demonstração dos resultados da pesquisa: a prática da Educação Ambiental no Ensino Fundamental no município de Horizontina – RS ... 98

CONCLUSÃO ... 115

REFERÊNCIAS ... 122

APÊNDICES ... 132

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INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios que a sociedade atualmente enfrenta está relacionada de forma direta ou indireta com o consumo excessivo de bens, com a suplantação das injustiças ambientais e com o enfrentamento da apropriação da natureza. Nesse sentido, buscar o equilíbrio entre a preservação da natureza e o desenvolvimento econômico torna-se um dos desafios do desenvolvimento sustentável, sendo a educação ambiental um meio de implantar uma mudança de paradigma que se volta para uma revolução científica, política, social e cultural. Nesta corrente em busca da sustentabilidade, a educação ambiental torna-se fundamental para tornar o educando consciente de seu papel na preservação do mundo em que vivemos e a participação efetiva para sua transformação. Tornar o ambiente escolar próximo, incluído na sociedade local, com a formação adequada para o cumprimento das previsões legais, inserem o educando, jovem cidadão, na cultura da participação das decisões.

Sendo assim, pode-se afirmar que o espaço escolar não é mais o único ambiente responsável pela construção e transmissão do conhecimento. A formação para o enfrentamento das situações geradas pelos seres humanos relativa à “destruição” ambiental deve ser trabalhada na escola, fazendo com que os alunos internalizem os problemas ambientais e construam soluções através de suas próprias vivências e de seus objetivos. A participação das crianças e dos adolescentes, integrantes do grupo escolar, visando minimizar os impactos excessivos e negativos que a ação humana tem causado no meio ambiente, gera uma importante relação de coparticipação e corresponsabilidade.

A Educação Ambiental busca a valorização da vida, visando a (trans)formação de um novo estilo de vida, principalmente, evitando o desperdício de recursos naturais e o consumo excessivo por bens. Nesse sentido, saber como se dá o processo de consumo e de destino, voltando as atenções para as políticas públicas educacionais de sustentabilidade, torna-se essencial para a definição do projeto de educação ambiental de maneira a minimizar os impactos negativos que a ação humana tem causado no mundo.

A Educação em Direitos Humanos foi incorporada à formação básica e trouxe a importância de se trabalhar as diferenças, o respeito, os comportamentos, as liberdades e o altruísmo. Inúmeros conflitos gerados pela falta de sensibilidade dos indivíduos refletem em muitas condutas indesejadas, ainda hoje. Para evitar que ações negativas sejam disseminadas mundo afora, as atitudes que abordam os objetivos da Educação em Direitos Humanos devem ser transmitidas de modo a atingir o maior número de pessoas para que estas se tornem disseminadoras da cultura da paz e de uma postura mais responsável.

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Nessa perspectiva, o educador, o educando e a comunidade escolar se inserem no contexto de ‘modificadores sociais’, sendo a escola um meio onde os conhecimentos podem ser transformados e a cidadania despertada, o que contribui para o desenvolvimento da consciência ambiental, demonstrando, desse modo, que o espaço educacional é um dos mais importantes ambientes para a disseminação de importantes alterações sociais.

A presente dissertação discorre sobre a temática Direitos Humanos e Educação Ambiental, enfatizando os discursos e as práticas nos projetos político-pedagógicos do Ensino Fundamental das escolas públicas municipais de Horizontina, estado do Rio Grande do Sul.

Partindo do entendimento de que a consciência ambiental deve ser desenvolvida e praticada

na comunidade escolar, como importante tarefa de proteção às futuras gerações, o problema de pesquisa versa sobre quais discursos e práticas contemplam as atividades preconizadas pela Política Nacional de Educação Ambiental e quais destes foram internalizados gerando aprendizagem pela comunidade escolar a ponto de promover a efetivação dos direitos humanos e da educação ambiental na região investigada.

Tem-se como objetivo geral analisar o desenvolvimento da temática dos Direitos Humanos no contexto local focalizado na Educação Ambiental para compreender que discursos e práticas, apresentadas nos projetos político-pedagógicos das escolas públicas de Horizontina estão se efetivando no cotidiano escolar. Foram construídos os seguintes objetivos específicos para alcançar o objetivo geral: a) descrever as práticas relativas à Educação Ambiental contempladas nos Projetos Político-Pedagógicos das Escolas de Ensino Fundamental da rede pública do município definido; b) compreender as formas de participação e interação entre os indivíduos que participam de práticas de Educação Ambiental nas escolas selecionadas; c) descrever como se dá a compreensão e aprendizagem dos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem da Educação Ambiental, bem como de que forma são percebidas as possibilidades de aplicação desse conhecimento no dia a dia.

Desse modo, o presente estudo encontra amparo na preocupação com o futuro da sociedade, tendo em vista que a Educação Ambiental está no cerne da questão, principalmente pela importância na formação de toda a coletividade voltada para uma reflexão crítica e transformadora. Em decorrência do fenômeno da globalização, espera-se da coletividade uma cultura pró ativa, por isso, através da formação básica dos indivíduos, de projetos político-pedagógicos eficientes e do gerenciamento de políticas públicas que objetivam educação ambiental focada no cuidado com o meio ambiente, torna o presente estudo de extrema relevância para a sociedade e para as próximas gerações.

Para tanto, propor um diálogo entre a educação ambiental, que trata das relações humanas com a natureza, e a educação em direitos humanos, que trata da esfera dos direitos inerentes às pessoas e aos grupos sociais, foi se configurando pela necessidade de se afirmar a relação de pertencimento e identidade dos seres humanos com a natureza como mais um

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direito humano. A Educação Ambiental, entendida pelo art. 1º da Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999 como os “processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” e tem, como um dos princípios básicos, o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo.

É a partir da educação que se pode projetar a formação de cidadãos mais preparados para enfrentar as dificuldades e desafios que a sociedade contemporânea lhes impõe. A escola é um dos espaços no qual é possível estabelecer conexões, criar alternativas e possibilidades que possam estimular os alunos a construírem uma postura cidadã, sentindo-se parte do meio ambiente.

Em decorrência da Lei Federal nº 9.795 coube às instituições educativas, conforme art. 2º “promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem”, bem como ao próprio Poder Público além do engajamento da sociedade na melhoria do meio ambiente. Desse modo, torna-se importante pesquisar como o tema de Educação Ambiental vem sendo trabalhado na formação básica dos estudantes da rede pública municipal de um município da região Fronteira Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Em termos de aprendizagem, nos últimos anos, observa-se uma ampliação de enfoques, abordagens e perspectivas sobre a aprendizagem organizacional, propiciada pelo aumento de debates envolvendo sua natureza e importância. Desde o surgimento do conceito no início dos anos 1950, a produção sobre Aprendizagem Organizacional (AO) cresceu significativamente, principalmente após os estudos desenvolvidos por Cangelosi & Dill (1965), Argyris (1964), Cyert e March (1963). Essa ampliação trouxe novos olhares, possibilitou o enfoque sobre outras dimensões e trouxe a contribuição de outras áreas.

O aumento da produção teórica sobre o tema vem acompanhado de distintas maneiras de classifica-lo: em metáforas, orientações teóricas, abordagens, perspectivas, dentre outras. Diante dessa amplitude, o presente trabalho, partindo da classificação em metáforas, com o intuito de identificar e analisar trocas e compartilhamentos que contribuam para a aprendizagem coletiva, busca debater e trazer dados empíricos tomando como base os discursos e práticas da Educação Ambiental trabalhados pelas escolas públicas municipais de Horizontina. Pretende-se pela análise dos projetos políticos pedagógicos das escolas, compreender se as atividades preconizadas pela Política Nacional de Educação Ambiental estão sendo aplicadas, na prática do cotidiano escolar, a ponto de gerar aprendizagem e promover a construção do saber ambiental.

Para atingir o objetivo proposto, quanto à natureza da investigação, foi desenhada uma pesquisa teórica-empírica, uma vez que esta privilegia o construto literário relativo ao tema

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presente em estudos, doutrina e legislação. Em termos de estratégia metodológica adota-se o estudo de caso qualitativo, tendo sido escolhidas para a realização da pesquisa de campo, as escolas de ensino fundamental do município de Horizontina, RS. É importante destacar que a escolha recaiu sobre Horizontina pelo fato que, no respectivo município, a autora exerce suas atividades laborais e reside, bem como Horizontina foi escolhida para construir suas raízes, criar sua família e educar seus filhos.

Em relação à metodologia aplicada para desenvolver a pesquisa, tem-se que para Victora, Kanuth e Hassen (2000, p. 37), o método qualitativo “permite a observação de vários elementos simultaneamente em um pequeno grupo, sendo capaz de propiciar um conhecimento aprofundado de um evento, possibilitando a explicação de comportamentos”. Neste sentido, considerando o objetivo desta pesquisa, o método qualitativo se apresenta como o mais apropriado, pois pretende-se compreender o contexto onde o fenômeno em questão ocorre.

A pesquisa realizada classifica-se como exploratória-descritiva, com abordagem direta e indireta. A pesquisa exploratória tem como propósito conhecer melhor um determinado ambiente, fato ou fenômeno, elaborando questões ou problemas, e posteriormente analisando-os com profundidade e provocando melhorias (MARCONI; LAKATOS, 2003). Considerando que a pesquisa propõe analisar práticas e discursos das escolas públicas municipais em relação à educação ambiental, pode-se classificar como descritiva, visto que este tipo de estudo tem como propósito descrever com exatidão as informações levantadas sobre o objeto investigado (TRIVIÑOS, 1987).

Enquanto procedimento, este trabalho realiza-se por meio de observação (direta e indireta), porque a análise dos projetos político-pedagógicos das escolas escolhidas será melhor compreendida se for realizada em lócus, no meio educacional, inclusive com a análise de atividades escolares realizadas na própria escola. Para entender como está sendo aplicada efetivamente a educação ambiental, a observação direta contribuiu para captar uma riqueza de informação que somente com entrevistas seria impossível alcançar.

Após a coleta dos materiais, realizou-se as respectivas análises e, organizadas em relatório de pesquisa, compuseram o estudo. Para tanto, o método dedutivo que parte de leis gerais para poder compreender as questões locais é o método que mais enquadrou para a realização da pesquisa, conjuntamente com o método comparativo pois busca-se compreender a realidade das escolas dos municípios escolhidos através de comparações entre grupos e locais diferentes.

Como fonte direta da pesquisa de campo, utiliza-se, como ferramenta auxiliar, o questionário aplicado pelo Ministério da Educação (2007) “O que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental” como balizador. O referido questionário foi adaptado para o enfoque pretendido e aplicou-se aos profissionais da educação, tendo sido respondidos pelos

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coordenadores pedagógicos, diretores ou professores das escolas pesquisadas. Esse instrumento de coleta de dados contém perguntas objetivas com resposta única, perguntas objetivas com respostas múltiplas e perguntas abertas com respostas variadas. Desse modo, contempla-se um rol de possibilidades ricas para a interpretação dos dados coletados com a pesquisa de campo que demonstrará a realidade das escolas pesquisadas.

Com a abordagem constitucional do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deparamo-nos com processos que visam a conservação e a preservação dos recursos naturais bem como a própria vitalidade do planeta. Nessa seara, o meio ambiente insere a sustentabilidade ambiental, um dos focos de estudo da linha de pesquisa “Meio Ambiente, Sustentabilidade e Novos Direitos” do Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Rio Grande do Sul, no campo do debate contemporâneo. Desse modo, um dos grandes objetivos que justificam o presente estudo encontra amparo no futuro da humanidade, tendo em vista que a Educação Ambiental está no cerne da questão principalmente pela importância na formação de toda a coletividade, voltada para uma reflexão crítica e transformadora.

A estruturação do trabalho apresenta-se, organizada em três capítulos. No segundo capítulo, é realizado um levantamento histórico quanto à construção e desenvolvimento da educação em direitos humanos no Brasil. A abordagem deu-se a partir do surgimento da Educação em Direitos Humanos com a redemocratização do país. Sendo a educação uma política pública e uma garantia constitucional, realiza-se um enfoque quanto ao incremento da educação brasileira, como política pública de governo, no contexto dos direitos humanos, principalmente após a elaboração dos documentos balizadores da ação educacional. Embora se tenha conhecimento de que os processos de formação dos indivíduos como seres sociais são longos e dificultosos, a internalização de uma nova cultura e de novas construções, depende, muitas vezes, da participação efetiva do sujeito de direitos, ingressando no espaço da educação formal.

No terceiro capítulo, aborda-se a inclusão da Educação em Direitos Humanos incorporada à formação básica, trazendo para o debate, a importância de se trabalhar as diferenças, o respeito, os comportamentos, as liberdades, o altruísmo. Para evitar que ações negativas sejam disseminadas mundo afora, as atitudes que abordam os objetivos da Educação em Direitos Humanos devem ser transmitidas de modo a atingir o maior número de pessoas para que estas se tornem disseminadoras da cultura da paz e de uma postura mais responsável. Nesse sentido, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e sadio à qualidade de vida e essencial à continuidade das espécies é discutido no que tange a um dos maiores desafios que a sociedade atualmente enfrenta, relacionada de forma direta ou indireta com o consumismo desenfreado por bens.

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A desigualdade social existente, balizada no consumo para a satisfação das necessidades individuais, está produzindo um novo cidadão que acompanha a evolução e o desenvolvimento social de uma forma muito mais crítica. Nesse contexto, a educação ambiental formal desempenha uma importante tarefa no estímulo e fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social. No capítulo aborda-se a educação ambiental como oportunidade de promover a transformação social, por meio de ações e práticas voltadas à sensibilização da coletividade, visando a incorporação e o respeito de uma consciência ambiental, sendo entendida como um valor inseparável do exercício da cidadania. No quarto capítulo, realiza-se propriamente o estudo de caso apresentando-se a legislação referente à Política Nacional de Educação Ambiental, inserida no contexto do Plano Nacional de Educação, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e no Plano Municipal de Educação do município de Horizontina. Da mesma forma exibe-se os projetos político-pedagógicos das escolas municipais de ensino fundamental e como se efetivam as ações voltadas ao cumprimento da educação ambiental como componente essencial no processo educativo para a transformação de nossa sociedade.

Desde o seu nascimento todo ser humano tem o direito de desfrutar de um meio ambiente equilibrado, importante para a sadia qualidade de vida. Por ser um direito inato, a responsabilidade de preservação de um ecossistema é um interesse de uso comum, inclusive “intergeracional”. Portanto, a preocupação do gestor em propor políticas públicas que minimizem os impactos que a degradação ambiental já sofreu pela ação humana desenfreada em busca de uma riqueza econômica é tema importante a ser discutido com toda a sociedade. A partir da influência econômica, que gera grandes desafios para a efetivação dos direitos humanos, decorre o aumento da criminalidade, da intolerância, do desrespeito à liberdade, e geram uma constante insegurança a todos. Por isso, a educação em direitos humanos, no espaço democrático brasileiro, é uma ferramenta que deve ser utilizada na busca da efetiva cultura de paz e na proteção ao meio ambiente para que o futuro da humanidade não esteja comprometido, de maneira a não permitir a evolução da espécie humana.

Nessa ótica, tem-se que a abordagem do Programa Nacional de Educação Ambiental reitera o entendimento acerca dos desafios que se apresentam cotidianamente, visando a construção do saber a partir da educação, objetivando a transformação social. Com essa aproximação entre direitos humanos e educação ambiental, projeta-se uma construção de novos valores e de novas realidades, proporcionando aos educandos e educadores uma formação humanizadora, respeitando o outro e o seu local de existência, transformando em “nosso” o espaço que habitamos.

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2 HISTÓRIA, CONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Na esteira do pensamento de Hannah Arendt (1979), os direitos humanos não são um dado; são construídos, uma invenção humana, estando em constante processo de construção e reconstrução. Embora sabe-se que os processos de formação dos indivíduos enquanto seres sociais, são longos e dificultosos, a internalização de uma nova cultura, de novas construções, depende, muitas vezes, da participação efetiva do sujeito de direitos. Todavia, “[...] a história do sujeito é, ao contrário, a da reivindicação de direitos cada vez mais concretos, que protegem particularidades culturais cada vez menos produzidas pela ação coletiva voluntária e por instituições criadoras de pertença e de dever.” (TOURAINE, 2007, p. 127-128).

Desse modo, tem-se que a educação é para o sujeito um meio de acesso a outros direitos, pois é mediante o caminho do ensino e da educação que se promove o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais. A ideia de educação e de direitos humanos é fruto da modernidade, sendo de extrema relevância a abordagem da temática nos espaços escolares, principalmente incentivando a formação para o respeito, para a tolerância e para as diferenças.

No presente capítulo está estruturado em três seções nas quais, primeiramente, pretende-se desenvolver o conjunto dos Direitos Humanos e da Educação em Direitos Humanos no contexto brasileiro, realizando um breve levantamento histórico da construção e do desenvolvimento da temática. Também, procura-se identificar a política pública de educação em direitos humanos, por meio da apresentação dos programas e projetos educacionais que envolvem a formação do indivíduo e, por fim, o desenvolvimento da educação brasileira no contexto dos direitos humanos.

2.1 Direitos Humanos e a Educação em Direitos Humanos no contexto brasileiro

A Educação em Direitos Humanos no Brasil tem um papel fundamental na transformação da sociedade. Pode ser considerada uma das principais exigências da sociedade contemporânea na busca pela compreensão e possibilidade de uma formação mais

humanizada do indivíduo. Na ótica de Morin e Kern (2001, p. 21) “[...] no século XVIII, o

humanismo das Luzes atribui a todo o ser humano um espírito apto para a razão e confere-lhe uma igualdade de direitos.”

A afirmação dos direitos humanos como tema que vem evoluindo com o passar do tempo e fundamenta-se como de interesse internacional está baseado na sensibilidade humana de que a ocorrência de desrespeito e violações podem levar a conflitos bárbaros e cruéis, um verdadeiro retrocesso na evolução humana. Nessa perspectiva afirma-se que “[...] ao longo do século XIX, as ciências naturais reconhecem cada vez mais o homem como ser

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biológico, enquanto as ciências humanas o reconhecem preferencialmente como ser físico e como ser cultural.” (MORIN; KERN, 2001, p. 56). Em relação ao ser cultural existem imposições relacionadas a violação de direitos dos seres humanos.

Por um lado, não se deseja negar a universalidade dos direitos humanos e, portanto, deve-se buscar uma fundamentação que permita o acesso a eles a todas as culturas desde sua própria dinâmica, pois do contrário o simples ato de imposição cultural é já uma violação da dignidade humana, com a qual estaríamos diante de um processo de instituição de direitos humanos que estaria violentando o que supostamente se deseja proteger. (MARTINEZ, 2015, p.33).

É preciso salientar que a formação histórica do indivíduo o eleva a uma condição de participante do processo de construção pois, os direitos humanos representam, a partir de um espaço simbólico, de luta e de ação, uma conquista para das sociedades ocidentais. O ser cultural impõe o respeito à individualidade, à aceitação do outro, à proteção da integridade física, à educação e ao discurso dos direitos humanos.

Pode-se, então, incluir a educação em direitos humanos no processo de formação do sujeito cultural, que se reinventa e emerge na sociedade contemporânea como um sujeito de

direitos. Nesse sentido “[...] os direitos humanos constituem uma função para o sujeito, uma

maneira por meio da qual as pessoas se inserem no mundo e formalmente se relacionam com os outros.” (DOUZINAS, 2009, p. 317). Dessa forma, é importante o reconhecimento das diferenças e o respeito a individualidade.

Percebe-se que as relações existentes entre o indivíduo e o ambiente, estão em

constante transformação, para tanto, “[...] falar de direitos humanos, no mundo contemporâneo,

supõe enfrentar-se desafios completamente diferentes dos que enfrentaram os redatores da Declaração Universal de 1948.” (FLORES, 2003, p. 09). Muito se evoluiu desde a elaboração do referido documento, embora, frequentemente ainda se tenha enfrentado inúmeras violações geradas pela ausência de respeito às diferenças e da falta de ação do Estado.

Ao voltar-se ao período histórico que marca a proteção dos direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, pode-se destacar que o documento consagrou o direito à educação, ao garantir em seu artigo 26.2 que “[...] a educação terá por objeto o pleno desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). Torna-se fundamental a retomada dos objetivos propostos pela Declaração uma vez que permanecem como meta constantemente a ser atingida, mesmo depois de transcorridas mais de seis décadas.

A implementação de políticas públicas sobre direitos humanos tem buscado diminuir as violações e apresenta-se como elemento qualificador da democracia. Assim, “[...] as políticas públicas não se constituem em ações abstratas e neutras, mas se estruturam no âmago das

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contradições do Estado e estão diretamente relacionadas à conjuntura histórica, política, cultural e econômica [...].” (WOLKMER, 2016, p. 606). Destaca-se que

A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos foram estratégias que os estados adotaram para regular ações dos governos, assegurar os direitos individuais e preservar a dignidade humana. Desde então, diante da importância dos estados em assegurar a felicidade de sua população, inúmeros movimentos sociais e organizações não governamentais têm pressionado os governos a suprirem as demandas fundamentais da pessoa humana, bem como têm travado incessantes lutas por novos direitos, como, por exemplo, a preservação do meio ambiente, a extinção das armas de destruição em massa, o fim das ditaduras políticas, a realização da reforma agrária, a universalização da educação e saúde públicas, a defesa da liberdade de expressão, de consciência e religião, o direito ao desenvolvimento, e muitos outros. (WOLKMER, 2016, p. 607).

Do ponto de vista de uma ação conjunta entre Estado e sociedade, a educação em direitos humanos se traduz como uma possibilidade de concretização de uma cultura de respeito capaz de efetivar a dignidade humana e a cidadania. No Brasil, os anos de 1964 até 1985 caracterizados como período do Regime Militar, são considerados momentos extremamente marcados pelas tantas ocasiões em que houve violações aos direitos humanos.

As duas décadas de regime foram os anos que mais se transgrediu à proteção dos cidadãos, tendo-lhes sido negados o exercício de, praticamente, todos os direitos, de forma legitimada pelo Estado. Logo após o período, em que se iniciava a nova era da democracia brasileira, o professor Boaventura de Souza Santos já afirmava que, “[...] a luta pelos direitos humanos tem sido uma luta predominantemente nacional. Trata-se de obter do Estado nacional uma proteção, cada vez mais ampla, dos direitos humanos.” (SANTOS, 1989, p. 10). Essa proteção, no respectivo momento histórico, não era concedida a todos os brasileiros.

A partir da década de 1970, o fundamento dos direitos humanos começa a ser observado no Brasil, em decorrência de grupos políticos que reivindicavam o restabelecimento de direitos, abafados pela ditadura militar. Muitos foram os segmentos envolvidos na luta, sendo que recebem destaque as organizações ligadas à Igreja Católica, tendo promovido manifestos de apoio ao regime da redemocratização, em apologia ao regime militar (ENGELMANN, MADEIRA, 2015). Segundo os autores, “Com a realização do Concílio Vaticano II, é iniciado, no interior da Igreja Católica latino-americana, um ciclo no qual a preocupação com as causas sociais ganharia destaque.” (ENGELMANN; MADEIRA, 2015, p. 625).

Foi ainda nos anos de 1970, com a participação da Igreja Católica que surgiram as primeiras movimentações da sociedade para discutir e revelar os acontecimentos do período da ditadura militar. A tortura, os assassinatos, o desaparecimento de presos políticos, a ausência de respeito à dignidade humana, foram violações negadas pelo governo brasileiro até metade da década dos anos de 1980. As Comissões de Justiça e Paz atuavam no campo da defesa dos perseguidos políticos.

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A repercussão mais clara dessa orientação no Brasil é a Comissão de Justiça e Paz, fundada em 1969, que se afirma como um dos marcos da articulação da causa dos direitos humanos no Brasil. A Comissão foi criada como uma subseção da comissão de Roma, visando, assim, escapar da repressão política do regime militar. Em 1972, é criada uma seção no Estado de São Paulo e, em 1973, no Estado do Rio Grande do Sul. O envolvimento de setores da Igreja com as famílias de presos políticos contribuiu para a articulação, em São Paulo, de um núcleo de defesa jurídica dos perseguidos pelo regime. (ENGELMANN; MADEIRA, 2015, p. 625).

O surgimento da educação em direitos humanos na América Latina possui conexão com as violações sofridas pelas vítimas dos períodos das ditaduras militares. No Brasil, o reflexo da época militar observa-se pelo próprio texto constitucional, elevando o indivíduo a um patamar de proteção integral pelo Estado. Por tudo isto, “A abertura política ocorrida no Brasil nos anos 80 acirrou a luta por uma nova ordem constitucional, que contivesse garantias aos direitos humanos, como reação às ocorrências no período da ditadura militar.” (GRANZIERA, 2009, p. 75). A emergência da preocupação com a proteção do indivíduo, respeitando sua dignidade, após o descumprimento pelo próprio Estado, certamente é uma das principais dificuldades e desafios da educação em direitos humanos. Nessa perspectiva,

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos as nossas crianças o bastante para não expulsá-las do nosso mundo e abandoná-expulsá-las a seus próprios recursos, e tão pouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 2000, p. 247).

As diferentes tendências culturais, sociais, econômicas e políticas, vivenciadas pelos atores do processo de redemocratização, apresentaram grandes tensões que formam e transformam a sociedade. O movimento, conhecido como “diretas já”, se intensificou para retirar do poder os militares, no momento em que o país atravessava um período de grande recessão econômica (MENDONÇA, 2009). Porém, analisando-se por outra ótica, esse mesmo tempo foi caracterizado por ganhos no âmbito social e político, principalmente pela conquista do processo de abertura e de garantia de uma eleição direta, efetivando a participação popular na escolha dos representantes.

Os diferentes momentos de tensão entre Estado e sociedade civil puderam ser visualizados pela sociedade brasileira após o período de repressão, sendo que a fragilidade e a recessão da economia mundial aumentavam a crise vivida pelos brasileiros, contribuindo para a exclusão social e demonstrando a vulnerabilidade de instituições importantes para a democracia política. Tem-se os sindicatos e partidos políticos como os principais segmentos da sociedade civil que se apresentam como defensores dos direitos humanos (ENGELMANN; MADEIRA, 2015).

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Todavia, é impossível falar em direitos humanos sem referir-se ao indivíduo, a quem esses direitos são dirigidos. Sendo a liberdade um dos legados da Revolução Francesa, pode-se defender a ideia de que o homem somente é livre quando puder exercer pode-seus direitos pode-sem nenhuma privação que o impeça de ter dignidade. Utiliza-se da concepção do historiador, sociólogo e filósofo francês.

Cada ser humano é um cosmos, cada indivíduo é um bulício de personalidades virtuais, cada psiquismo segrega uma proliferação de fantasmas, sonhos e ideias. Cada um vive, do nascimento à morte, uma tragédia insondável, marcada por gritos de sofrimento, de lágrimas, abatimentos, grandeza e miséria. Cada um traz consigo tesouros, carências, falhas e abismos. Cada um transporta consigo a possibilidade do amor e da devoção, do ódio e do ressentimento, da vingança e do perdão. Reconhecer isso é reconhecer também a identidade humana. O princípio da identidade humana é unitas multiplex, a unidade múltipla, tanto do ponto de vista biológico como cultural e individual. (MORIN, 2001, p. 62).

Embora o princípio da identidade humana pode ser considerado uma unidade múltipla, a dicotomia que acompanha o sujeito ao longo de sua existência, nos leva a pensar que “[...] para a psicanálise, o sujeito, ao contrário de ser uma matéria pré-forjada ou uma entidade inteiramente construída, é reflexiva e instersubjetivamente constituído.” (DOUZINAS, 2009, p.

303). Enquanto seres livres de pensamento, indivíduo possui o livre-arbítrio, sugerindo “[...]

que o sujeito oprimido se liberte, se descubra e se conquiste como sujeito de seu próprio destino histórico.” (WOLKMER, 2016, p. 363).

Traçar o próprio destino, somente pode ser visualizado se as circunstâncias de escolha permitam ao homem, enquanto ser dotado de liberdade, uma autonomia com condições de garantir o mínimo de dignidade. Nesse contexto, o momento democrático que o Brasil vive

desde 19881, com a possibilidade de participação do cidadão nos processos de decisão nem

sempre oportunizam uma alternativa viável, que proporcionem o respeito às condições de dignidade humana.

A relação entre o período de redemocratização do Brasil, o crescimento econômico, o desenvolvimento, a participação popular e o poder do Estado, remetem à efetiva transformação social que vivemos. Seja em espaços públicos, seja em espaços privados. O cidadão brasileiro, como participante do processo de construção social, é peça fundamental na elevação das condições humanas, buscando a minimização das desigualdades e a efetiva cidadania.

É importante ressaltar que nesse período se inicia um processo de constantes debates entre Estado e sociedade, principalmente através das Organizações Não-Governamentais (ONGs) que objetivavam proteger os direitos humanos. Essa metodologia evoluiu para a formulação de políticas públicas de promoção dos direitos humanos em nível de Brasil. Porém, o país apresentava-se despreparado para enfrentar as violações e fomentar ações nesse

1 No Brasil, a discussão sobre a Educação em Direitos Humanos se fortaleceu nos fins da década de 1980 por meio dos processos de redemocratização do país e das experiências pioneiras que surgiram entre os profissionais liberais, universidades e organizações populares na luta por esses direitos. (BRASIL, 2013, p. 30).

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sentido. Surgem, então, os estabelecimentos de educação, principalmente as universidades, que avocam para si a formulação de políticas públicas e, posteriormente, as colocam em prática.

Tem-se a compreensão que o papel dos espaços públicos na formação e efetivação da cidadania representam uma grande conquista para a humanidade. No âmbito brasileiro, após o período de ditadura militar, mais precisamente na segunda metade da década de 1980, ainda não era possível verificar a concretização desses espaços de participação de forma a proporcionar a efetiva experiência de cidadania ativa (BRASÍLIA, 2006). Passadas mais de três décadas, ainda não se vislumbra a concretização de inúmeros direitos aos cidadãos da nação brasileira, indicando que ainda há um longo caminho de lutas e desafios.

Contudo, o período de intensa transformação no país, que culminou com a promulgação da Constituição Federal, em 1988 ainda não tem conseguido levar a efeito, como sonhado pelos seus idealizadores, a democracia participativa. Reconhecendo-se como um passo importante a participação do cidadão nos processos de escolha, surge, para a sociedade brasileira, um outro obstáculo, a garantia dos fundamentos constitucionais, principalmente no que tange à cidadania e à dignidade da pessoa humana.

Na história brasileira, nos anos subsequentes à promulgação da CF/88, diversas foram as normativas incluídas no ordenamento jurídico nacional objetivando a proteção e promoção dos direitos em relação aos grupos mais vulneráveis, especialmente em vinculação aos menores. Em decorrência, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, de 13 de julho de 1990, prevê quanto a proteção integral à criança e ao adolescente, sendo-lhe garantido o direito à educação e ao tratamento com dignidade e respeito. A obrigação é conjunta, família, comunidade, sociedade e poder público (BRASIL, 1990).

Observa-se que “[...] os direitos humanos constituem uma função para o sujeito, uma maneira por meio da qual as pessoas se inserem no mundo e formalmente se relacionam com os outros.” (DOUZINAS, 2009, p. 317). Dessa forma, é importante o reconhecimento das diferenças e o respeito a individualidade.

As questões vinculadas aos direitos humanos se apresentam como um dos fatores marcantes na contemporaneidade, a partir, principalmente, da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos que ocorreu em 1993 na cidade de Viena, afirmando a importância do tema em âmbito global. Diversos são os instrumentos que visam a proteger os direitos humanos e foram inseridos na ordem normativa brasileira através da ratificação de Tratados, Cartas e Convenções.

Em 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei 9.394, de 20 de dezembro, que envolve todos os processos formativos, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, a educação é dever da família concomitante com o Estado. A finalidade é o pleno desenvolvimento do educando, preparando-o, principalmente,

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para o exercício de sua cidadania (BRASIL, 1996). Importante destacar a obrigatoriedade de inserção e a explanação de conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de todas as formas de violência contra crianças e adolescentes nos currículos escolares.

A peculiaridade que perpassa o entendimento do respeito às diferenças possui amparo no próprio sentido de educação como formação moral do ser humano. Para Wolkmer (2008,

p. 211) “[...] é mediante uma prática de educação que se criam condições para uma opção

radical de luta e de transformação da sociedade.” Compreender as inúmeras transformações do sujeito, enquanto sujeito de direitos, impõe à sociedade uma responsabilidade de trabalhar na formação do indivíduo, objetivando garantir sua proteção e o respeito às diferenças a partir da educação. Isso decorre da possibilidade de participar do processo, sendo que a democracia representa um avanço significativo em muitas conquistas.

Conforme estabelecia a Declaração e Programa de Ação de Viena 1993, a democracia é elemento fundamental para se obter a observância dos direitos humanos, inclusive os “de segunda geração”. [...] Mas, para quem acompanha apenas superficialmente a questão dos direitos fundamentais nestes tempos pós-Guerra Fria, dada a acentuada assertividade dos movimentos da sociedade civil, a total liberdade dos partidos de oposição e a extraordinária – e salutar – exposição autocrítica das mazelas nacionais a que se dedicam os mais importantes órgãos de imprensa livre (quando não submetida pelo sistema econômico dominante a verdadeira lavagem cerebral, como se vê em alguns dos países ocidentais desenvolvidos), tem-se a impressão de que países como o Brasil, o Chile, a Argentina, a Venezuela e outros congêneres, plenamente redemocratizados neste início de século, são mais violadores dos direitos de sua população do que governos autoritários ignorados dos noticiários. (ALVES, 2005, p. 154)

Conforme alguns autores “[...] a arte da política, se for democrática, é a arte de

desmontar os limites à liberdade dos cidadãos; mas é também a arte da autolimitação: a de libertar os indivíduos para capacitá-los a traçar, individual e coletivamente, seus próprios limites individuais e coletivos.” (BAUMAN, 1999a, p. 09). Na ideia do sociólogo polonês, a liberdade individual só pode ser assegurada de forma coletiva, porém, estamos nos dirigindo para a privatização dos meios de garanti-la. O indivíduo fica, de certo modo, seu próprio refém. Por isso torna-se demasiadamente importante o respeito à liberdade de cada um na busca da igualdade de direitos (BAUMAN, 1999a).

Enquanto o Estado, através da criação, em 1995, da Comissão de Direitos Humanos, imbuída de dar respostas à sociedade pelos crimes cometidos no regime militar, não conseguia mensurar todos os casos de pessoas que sofreram violações no período. A Câmara dos Deputados, através de parlamentares comprometidos com os direitos humanos, discutiu a elaboração de novas legislações que promovessem a proteção do indivíduo, enquanto sujeito de direitos.

No ano seguinte a concepção da Comissão de Direitos Humanos, em 1996, criou-se, no Brasil, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), ligado atualmente, à Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania (BRASIL, 1996). Esse

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promoção e defesa dos direitos humanos e será matéria abordada na próxima seção de modo mais detalhado.

Pode-se afirmar, conforme disposto no site institucional do governo federal que o programa “[...] avança incorporando a transversalidade nas diretrizes e nos objetivos estratégicos propostos, na perspectiva da universalidade, indivisibilidade e interdependência dos Direitos Humanos” (BRASIL, 2010). Com o intuito de dizer não à violência, à banalização da crueldade contra o indivíduo, visando proteger a existência humana, o programa se solidificou como uma importante ferramenta do governo na proteção de direitos, buscando promover uma cultura de direitos humanos.

O segmento da população mais vulnerável e, por consequência, mais exposto às diferentes violações tanto por parte da sociedade capitalista, como pela negativa ação do Estado, se apresenta como o destinatário desse programa, num primeiro momento. Nessa direção observa-se a inauguração de um novo momento na história do país. A promoção dos direitos humanos representa um marco referencial para a construção da democracia pois os

atores envolvidos – sociedade e Estado – se apropriam de movimentos, de ações, que

desenvolvem potencialidades de proteção da dignidade humana e do respeito as suas liberdades e individualidades.

Questiona-se, frente aos diferentes entendimentos, como, e se será possível atingir, enquanto Estado Democrático de Direito, à efetiva realização dos direitos individuais, no que tange a proteção dos direitos humanos? Dentre as normativas brasileiras que abordam a temática, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) é um passo significativo, porém, ainda, constitui-se como desafio aos atores envolvidos, quer seja na aplicabilidade, quer seja no planejamento, quer seja na destinação de verbas.

Já na apresentação do Plano (PNEDH), pode-se observar que o objetivo é incorporar aspectos dos principais documentos internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário, agregando demandas antigas e contemporâneas de nossa sociedade pela efetivação da democracia, do desenvolvimento, da justiça social e pela construção de uma cultura de paz (BRASÍLIA, 2007). Nessa esteira, a participação dos diversos segmentos públicos e privados, do Estado brasileiro como um todo, apresentam as políticas públicas no âmbito da consolidação e da promoção de oportunidades, de igualdade, de liberdade e de democracia, tendo como princípio a afirmação dos direitos humanos. Para levar a efeito, é necessário a transformação dos indivíduos aceitando o outro, respeitando suas individualidades, buscando a realização de uma cultura democrática e cidadã.

Os direitos humanos, embora tenham sido referenciados e definidos primeiramente na esfera internacional, possuem enfatizada a importância no âmbito do próprio território, sendo responsabilidade de todos a sua proteção. Nessa ótica, cumpre destacar as diversas formas de violação, dentre elas abordamos as desigualdades sociais que não proporcionam a

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efetivação de direitos básicos ao indivíduo que não possui condições mínimas de viver com dignidade, através do mínimo existencial. A liberdade de escolha não lhe permite escolher!

No Brasil, ainda há uma enorme discrepância nos índices de concentração de renda. É bem verdade que nos últimos anos essa realidade vem sendo alterada, através de políticas públicas de distribuição de renda, visando retirar da extrema pobreza aqueles indivíduos que não conseguem exercer sua cidadania com plenitude, quiçá viver com dignidade.

As práticas sociais que transformam a realidade do brasileiro, a partir da década de 1990 vão se delineando na efetivação de um país mais democrático. Os movimentos sociais, dos mais diferentes segmentos, estabeleceram uma relação direta com o objetivo da educação em direitos humanos, dizer não à violência buscando proteger a existência humana.

Contudo, como ficam aqueles que já haviam sofrido as violações? No início dos anos 2000, mais precisamente no ano de 2001, o governo federal assumiu as crueldades praticadas pelos militares durante o período da ditadura através do reconhecimento e da reparação financeira aos presos políticos que foram violentados de várias formas, física, psíquica e moralmente.

De outra banda, Savater (2000, p. 43) afirma que a “[...] principal matéria que os homens ensinam uns aos outros é em que consiste em ser homem [...]”, trazendo para o debate a importância de compreender, como seres humanos, que um dos objetivos da educação é formar indivíduos para a sociedade, conscientes da realidade de seus semelhantes. Nessa ótica, “[...] a educação não formal em Direitos Humanos é orientada pelos princípios da emancipação e da autonomia, configurando-se como processo de sensibilização e formação da consciência crítica.” (BRASIL, 2010, p. 186). Aborda-se na próxima seção a política pública de Educação em Direitos Humanos como meio de transformação social.

2.2 A política pública de Educação em Direitos Humanos

Os processos de transformação social, principalmente os de globalização da economia, tem ocasionado mudanças no papel do Estado, comprometendo o desenvolvimento de políticas sociais e a garantia da implementação de direitos básicos. Tudo isso tem levado à violação dos direitos humanos, dentre eles o direito à educação. O conceito de direitos humanos é uma construção recente na história, sendo a educação em direitos humanos caracterizada como uma das vertentes mais impactantes na transformação social pois, por meio de discussões, de políticas públicas sérias, de estudos e pesquisas, de educação básica de qualidade, de desenvolvimento de uma cultura baseada no respeito às diferenças é possível a transformação do espaço local e, quem sabe, de uma nação.

A implementação de políticas públicas sobre direitos humanos tem buscado diminuir as violações e apresenta-se como elemento qualificador da democracia. Ademais, cumpre destacar que

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[...] as políticas públicas não se constituem em ações abstratas e neutras, mas se estruturam no âmago das contradições do Estado e estão diretamente relacionadas à conjuntura histórica, política, cultural e econômica que (con)forma determinada realidade social. (WOLKMER, 2016, p. 606).

Como pleno exercício da cidadania, requer que cada grupo de pessoas seja capaz de compreender o outro, possibilitando a aquisição de conhecimento e tendendo a lutar contra as diversas formas de opressão e violência. Desta forma, visa a romper com as desigualdades de modo a promover a solidariedade, o respeito e a cooperação entre os indivíduos e os grupos em que estão inseridos socialmente (MENDES; TYBUSCH, 2017).

A educação em Direitos Humanos, deve estar orientada por um conceito amplo de Direitos Humanos, que consiga abarcar a indivisibilidade dos direitos civis, políticos, econômicos, culturais, sociais e ambientais, bem como os recortes necessários de gênero, raça e sexualidade. Nesse sentido, deve-se respeitar e promover as diferenças, tendo a igualdade como direito fundamental a ser respeitado na sua integralidade, principalmente, nos espaços de formação.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, importante segmento do Estado na busca da proteção e da implementação de políticas públicas de promoção dos direitos humanos, foi criada no ano de 2003. Atualmente possui uma importante ferramenta de auxílio na proteção do cidadão vítima de violência, o disque 100. É um canal de comunicação entre o governo e a sociedade que facilita a adoção de medidas para evitar violências e crueldades contra o

indivíduo. A educação em direitos humanos2, recebe importância como ferramenta

fundamental na busca da erradicação da violência (GORCZEVSKI, 2009).

Trabalhar de forma integrada os diversos segmentos da sociedade, do ponto de vista da efetividade de uma política pública, demonstra a importância da educação em direitos humanos e para os direitos humanos. Formar cidadãos que promovam a política da democracia e da cultura para a paz é um dos anseios da sociedade brasileira. Inúmeros avanços vêm ocorrendo desde o processo de redemocratização do país até hoje. A busca da defesa da igualdade, da liberdade de escolha, da individualidade, do respeito às diferenças torna-se um dos principais objetivos do Programa Nacional de Direitos Humanos ao longo dos vinte anos de existência. Nessa direção, torna-se imprescindível,

2A educação e a cultura em Direitos Humanos visam à formação de nova mentalidade coletiva para o exercício

da solidariedade, do respeito às diversidades e da tolerância. Como processo sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos, seu objetivo é combater o preconceito, a discriminação e a violência, promovendo a adoção de novos valores de liberdade, justiça e igualdade. A educação em Direitos Humanos, como canal estratégico capaz de produzir uma sociedade igualitária, extrapola o direito à educação permanente e de qualidade [...] o fortalecimento de políticas que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos Direitos Humanos, bem como da reparação das violações (BRASIL, 2010, p. 185).

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A formação e a educação continuada em Direitos Humanos, com recortes de gênero, relações étnico-raciais e de orientação sexual, em todo o serviço público, especialmente entre os agentes do sistema de Justiça e segurança pública, são fundamentais para consolidar o Estado Democrático e a proteção do direito à vida e à dignidade, garantindo tratamento igual a todas as pessoas e o funcionamento de sistemas de Justiça que promovam os Direitos Humanos. Por fim, aborda-se o papel estratégico dos meios de comunicação de massa, no sentido de construir ou desconstruir ambiente nacional e cultura social de respeito e proteção aos Direitos Humanos. Daí a importância primordial de introduzir mudanças que assegurem ampla democratização desses meios, [...] buscando sensibilizar e conquistar seu compromisso ético com a afirmação histórica dos Direitos Humanos. (BRASIL, 2010, p. 186).

É preciso salientar que o processo de redemocratização do país não aboliu por completo a ideologia do período militar, como a obrigatoriedade de disciplinas que mantinham o modelo de veneração ao Estado autoritário, em vários currículos escolares até poucos anos. A

disciplina de Organização Social e Política Brasileira – OSPB, tinha por objetivo curricular o

enaltecimento do nacionalismo e fomentar o civismo dos alunos. Da mesma forma a disciplina

de Educação Moral e Cívica – EMC, ambas criadas no regime militar, tinha o propósito de

manter os interesses da ditadura perpetuados entre os jovens educandos. É mister considerar que no ambiente escolar,

É preciso voltar-se antes de mais nada para a escola, pois se trata de um setor da vida social onde se confrontam não apenas ideias, mas também opções feitas pelos próprios professores e sobretudo pelos pais de alunos, convencidos de que a opção de uma escola tem efeitos profundos e duradouros sobre toda a vida de seus filhos. (TOURAINE, 2007, p. 152).

Um importante ator desse processo de transformação da educação em direitos humanos é o educador Paulo Freire, como agente político e com uma enorme bagagem de conhecimento e de fundamentos da educação no Brasil, criou o Projeto de Educação em Direitos Humanos e abordava a temática sob a ótica da educação libertadora, de forma interdisciplinar. Considera que o indivíduo é um ser inserido em uma cultura e não poderia, de forma fracionada, formar sua identidade. Inúmeras são as contribuições do professor Paulo Freire para a educação e em especial para a educação em direitos humanos.

Para Paulo Freire (1996, p. 76), “outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.” Nada mais sublime que interferir no mundo de maneira a promover o respeito às diferenças e a proteção do indivíduo. Por isso, a importância que a sociedade contemporânea concede ao papel do educador e da educação para a formação de cidadãos mais preparados para enfrentar as mazelas do mundo é digna de louvor e de aplausos. Contudo, há inúmeros desafios relacionados a falta de valorização dos profissionais que não possuem o devido reconhecimento por parte dos governantes e da

própria sociedade. É necessário destacar que no município de Horizontina – RS, local da

pesquisa, os professores apresentam-se como importantes agentes transformadores da realidade local sendo que a educação de qualidade é refletida em remuneração condizente, os

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