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Desconexão do meio laboral: o direito ao não trabalho como forma de assegurar o repouso e a dignidade humana do trabalhador

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

LEANDRO VARGAS RODRIGUES

DESCONEXÃO DO MEIO LABORAL: O DIREITO AO NÃO TRABALHO COMO FORMA DE ASSEGURAR O REPOUSO E A DIGNIDADE HUMANA DO

TRABALHADOR

Ijuí (RS) 2018

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DESCONEXÃO DO MEIO LABORAL: O DIREITO AO NÃO TRABALHO COMO FORMA DE ASSEGURAR O REPOUSO E A DIGNIDADE HUMANA DO

TRABALHADOR

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador (a): MSc. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho a Deus, à minha família, amigos, colegas de curso e colegas de trabalho, por me acompanharem por todo o caminho que percorri, tornando-o mais leve e mais fácil de ser traçado.

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Primeiramente a Deus, pois sem Ele eu não seria nada.

À toda minha família, mas em especial essas três pessoas: minha mãe Rosangela que sempre foi e é um exemplo de mulher, mãe, cidadã e trabalhadora; meu pai Claudiomiro que é o modelo de homem, pai, cidadão e trabalhador no qual me espelhei para ser o que sou e por fim à minha irmã mais nova Alice, que veio a esse mundo para que eu pudesse amar mais uma pessoa, mais do que a minha própria vida. Vocês são os principais motivos por eu ser quem sou e por chegar até aqui.

À minha orientadora Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento. E que além de ser uma ótima profissional, é uma pessoa maravilhosa, com vasto conhecimento em diversas áreas e com ideias e ideais semelhantes aos meus. Com toda a certeza seu trabalho fará muita diferença no mundo.

Aos meus amigos, colegas de curso, colegas de trabalho que tive ao longo desses anos, por sempre estarem dispostos a me passar um pouco de seus conhecimentos e experiências tanto profissionais quanto pessoais. Certamente me fizeram crescer muito.

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“O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.” Eclesiastes 9:10.

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O presente trabalho desenvolve um estudo sobre o direito à desconexão do meio laboral, como forma de assegurar a dignidade humana do trabalhador. Faz inicialmente uma análise sobre como o trabalho sempre fez parte da existência humana, voltando-se para a finalidade de demonstrar como ocorre a conexão excessiva ao ambiente laboral, elucidando algumas das questões a respeito de como a tecnologia evoluiu de forma rápida e acentuada, influenciando diretamente no comportamento humano e nas relações de trabalho. Objetiva ainda, explicar como o fenômeno da conexão excessiva ao trabalho ocorre na sociedade e como este interfere na dignidade da pessoa humana do trabalhador, tendo em vista que afeta negativamente a sua qualidade de vida e também a sociedade em que ele vive. Finaliza concluindo que deve haver um equilíbrio entre trabalho e não trabalho, pois o excesso de labor prejudica o trabalhador e a própria sociedade em que ele vive. A elaboração desse estudo pautou-se, sobretudo, em pesquisas bibliográficas, utilizando-se o método de abordagem hipotético-dedutivo e o método de procedimento monográfico histórico.

Palavras-Chave: Direito à desconexão. Dignidade da pessoa humana. Evolução tecnológica. Trabalho.

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The present work develops a study on the right to the disconnection of the work environment, as a way to assure the human dignity of the worker. It does an initial analysis of how work has always been part of human life. Furthermore, in order to demonstrate how the excessive connection to the work environment occurs, it elucidates questions about how technology has evolved quickly and sharply, directly influencing human behavior and labor relations. It also seeks to explain how the phenomenon of excessive connection to work occurs in society and how it is not part of the dignity of the human person, since it negatively affects the life of the worker and the society in which he lives. He concludes by concluding that there must be a balance between work and nonwork, because overwork damages the worker and the own society in which he lives.

Keywords: Right to disconnect. Dignity of human person. Technological evolution. Job.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...09

1 O TRABALHO E SUA IMPORTÂNCIA NA EVOLUÇÃO DO HOMEM...11

1.1 A evolução da concepção de trabalho...11

1.2 A concepção do não trabalho: o direito ao descanso e lazer...17

1.3 Trabalho como eixo central da existência e da dignidade da pessoa humana...24

2 O SURGIMENTO DA TECNOLOGIA E SUA INTERFERÊNCIA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO...29

2.1 Avanço tecnológico e comportamento humano...29

2.2 O teletrabalho na reforma trabalhista...36

3 O DIREITO À DESCONEXÃO...44

3.1 Reflexos do desenvolvimento tecnológico no ambiente laboral...45

3.2 Pressupostos para a construção de um conceito de direito à desconexão do trabalho...52

3.3 O direito à desconexão...59

CONCLUSÃO...68

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INTRODUÇÃO

Na atualidade o desemprego ainda é um fator evidente na sociedade brasileira, apesar de já ter sido muito mais intenso. Mas além do desemprego, há um mal que assola uma significativa parcela dos cidadãos, qual seja, a não desconexão do trabalho. Com o avanço da tecnologia, foi possível alcançar metas inimagináveis. Jamais imaginariam há trinta anos atrás, que em um clique, o trabalho estaria pronto. Entretanto, essa mesma evolução tecnológica acaba por escravizar o homem ao seu labor e pode vir a comprometer sua vida em família e sua saúde. O presente tema, propõe a discussão acerca do quão é importante trabalhar, mas além disso, descansar.

Para a elaboração deste trabalho foram utilizadas fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores, a fim de enriquecer a quantidade de informações trazidas, objetivando analisar os efeitos da desconexão do meio laboral como forma de assegurar o direito ao não trabalho, garantindo assim o pleno descanso e a dignidade humana do trabalhador, apontando que esse direito é extremamente necessário na vida de todos.

No primeiro capítulo é analisada a importância do trabalho na vida do ser humano. Para explicitar melhor como se dá essa importância, são retomados alguns conceitos antigos sobre o trabalho, desde os primórdios até os dias de hoje. Além disso, são elucidadas questões referentes ao lazer e ao descanso, que auxiliam na concepção do que seria o não trabalho, demonstrando a grande importância que tais conceitos têm para a vida humana. Por fim, há a explanação de como o trabalho tem papel essencial no que diz respeito à dignidade da pessoa humana.

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No segundo capítulo é analisado como a tecnologia exerceu e ainda exerce extrema influência na sociedade, modificando inclusive o comportamento do ser humano. Ademais, é analisado o teletrabalho, como nova forma de trabalho que hoje, após a alteração trazida pela nova legislação que mudou a Consolidação das Leis Trabalhistas, e exclui os teletrabalhadores do controle de jornada.

Por fim, no terceiro capítulo há o efetivo estudo do direito à desconexão do trabalho. Em uma primeira análise, explicita-se sobre a grande influência que o desenvolvimento tecnológico exerce no ambiente laboral, trazendo benefícios e malefícios para os trabalhadores. Em um segundo momento são analisados pressupostos que tem a sua existência necessária para a construção de um conceito real de direito à desconexão laboral. Por fim, como foco do presente trabalho, o direito à desconexão é analisado literalmente, sendo conceituado e colocado como algo essencial para o trabalhador e para a sociedade.

A partir desse estudo é possível perceber que a procura por trabalho e a conexão excessiva a este, bem como a tecnologia que inova e que escraviza, são paradoxos muito presentes na contemporaneidade do meio laboral. Ainda que muitos cidadãos brasileiros não tenham emprego e busquem por este incansavelmente, o excesso de trabalho e de vinculação ao mesmo, exerce extrema influência na vida do trabalhador, mostrando, portanto, que o trabalho excessivo não faz parte da dignidade da pessoa humana.

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1 O TRABALHO E SUA IMPORTÂNCIA NA EVOLUÇÃO DO HOMEM

Desde os primórdios, o trabalho foi extremamente necessário e sempre fez parte da humanidade. Em épocas primitivas por exemplo, quando o homem ainda não conhecia o fogo, o trabalho de alguns era plantar, colher, enquanto outros caçavam. Tais fatos demonstram que o trabalho sempre esteve em evidência, colocando-se em um papel muito importante para o desenvolvimento e evolução da humanidade.

Até pouco tempo atrás a escravidão ainda pairava sobre a sociedade brasileira. Nessa época, o trabalho era facilmente associado à palavra “sofrimento”, pois mesmo que os próprios escravos pensassem no sentido dignificante do trabalho, a rotina diária tornava essa percepção distante pelo ritmo intenso e pela carga intensa e desgastante tornava o sofrimento algo inevitável e terrível. Não havia jornada, não havia respeito à saúde do trabalhador, não havia regulamentação de descanso, ou seja, não havia qualquer direito humano, aliás os escravos sequer eram considerados como humanos e sim como meras coisas.

Entretanto, a sociedade evolui e evoluiu muito. Hoje o trabalho é encarado como algo que dignifica o homem. É um pilar basilar da sociedade, onde trabalhar é uma das expressões do real sentido da dignidade humana, da realização pessoal, da inclusão na sociedade e da concretização de direitos sociais. Quem trabalha é considerado “cidadão de bem” e já não há mais a associação ao sofrimento.

Nesse sentido, o objetivo desse capítulo é demonstrar como ocorreu a evolução do trabalho humano, perpassando pelas vias históricas. Além disso, busca-se salientar o quão importante é o trabalho para o busca-ser humano na construção de busca-seu ser, sem deixar de lado o descanso e o lazer, pois estes são tão importantes quanto aquele.

1.1 A evolução da concepção de trabalho

A palavra trabalho, no seu sentido original tem derivação do latim tripalium, que consistia num tripé formado por três estacas fincadas no chão, utilizado para

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torturar os escravos nas sociedades primitivas (CAIRO JUNIOR, 2017). Desse modo, pode-se perceber que em determinado momento da história o trabalho foi relacionado com sofrimento.

Antes ainda, já havia uma concepção de trabalho, a primeira de todas, os trabalhos da Criação, citada na Bíblia, mais precisamente no livro de Gênesis, que narra como o mundo teria sido criado por Deus (BARROS, 2016). Ainda, após a criação, na Bíblia consta que Deus enviou Adão para o paraíso e o fez cultivá-lo e guardá-lo, ou seja, mesmo antes de pecar e ser obrigado a trabalhar por ter descumprido uma ordem do seu criador, ele já trabalhava.

Por volta do século XXI a.C. até XIX existia o Código de Hamurabi, adotado na Babilônia. Este já dispunha sobre “condições de prestação de trabalho livre, inclusive salário e já vislumbrava uma forma de arrendamento do trabalho.” (CASSAR, 2015, p. 74). A partir de então a concepção de trabalho sofreu muitas modificações.

Na Antiguidade Clássica, no mundo greco-romano, segundo Barros (2016, p. 45) “o trabalho possuía um sentido material, era reduzido a coisa, o que tornou possível a escravidão.” Portanto, nessa concepção histórica o trabalho manual era dos escravos, enquanto os homens que eram considerados livres praticavam a filosofia, o pensamento, pois acreditavam que os escravos não eram capazes de fazê-lo. Como menciona Garcia (2017, p. 22) “Na antiguidade, o trabalho apresentava um sentido negativo, sendo visto como um castigo no pensamento clássico grego.”

Nesta época clássica ainda existiam duas teorias a respeito do trabalho: uma delas foi criada por pensadores humildes, os quais o enalteciam, exaltavam o trabalho como essência do homem. Outros, porém, consideravam o trabalho “vil, opressor da inteligência humana” (BARROS, 2016, p. 46). Aqueles que pensavam desta última forma pertenciam às classes mais abastadas, enquanto que os humildes faziam parte de classes deserdadas (BARROS, 2016).

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“A difusão do trabalho escravo na Antiguidade, sobretudo entre os gregos e romanos, associada à concepção do trabalho como mercadoria são fatores responsáveis pela inclusão dessa relação laboral no contexto da propriedade.” (BARROS, 2016, p. 46). Verifica-se, portanto, nesta sociedade a locação de serviços e a locação de obra ou empreitada. (GARCIA, 2017). Essa locação era realizada apenas com escravos e pobres de classe mais baixa.

No direito romano antigo existiam três espécies de locação: rei, operis e operarum. Na primeira modalidade uma parte se obrigava a conceder à outra o uso e gozo de uma coisa em troca de certa retribuição. (BARROS, 2016). Na segunda, a integralmente conhecida como locatio operis faciendi, tinha como objetivo principal a realização de uma obra por parte de um chamado conductor, que se comprometia a executá-la para outra pessoa mediante certo preço, assumindo ainda, os eventuais riscos da execução. (BARROS, 2016). Por último e não menos importante, a locatio conductio operarum, modalidade na qual havia a prestação de serviço por uma pessoa, e a sua remuneração era fixada de acordo com o tempo despendido na prestação, arcando o executor com os riscos. (BARROS, 2016).

Paralelamente à escravidão, surge a servidão nos séculos I a XI, com o feudalismo da idade média. Regime este que era imposto aos servos, que não eram livres, que trabalhassem na terra do senhor, entregando-lhe parte da produção em troca de proteção militar e política. (CASSAR, 2015).

A Idade Média ainda traz consigo o pressuposto de que “prover a subsistência com o próprio trabalho assegura a independência, mas recomendam que seja repelido todo esforço além do necessário.” (BARROS, 2016, p. 46). Isso demonstra que mesmo que o trabalho já estivesse sendo utilizado como algo positivo, ainda havia certa limitação a respeito de como as pessoas deveriam desenvolvê-lo.

Além disso, havia falta de cuidado com o trabalhador. Conforme Garcia (2017, p. 22) estabelece em seu estudo “Apesar da existência de maior liberdade ao trabalhador, a relação das corporações com os trabalhadores era de tipo autoritário, sendo mais destinada à realização dos seus interesses do que à proteção destes.” Observa-se uma evolução das relações de trabalho até aqui, tendo em vista que no

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início o trabalhador era utilizado somente como instrumento e após passou a ser o destinatário fim, agregando não só valor monetário ao trabalho desenvolvido, mas valor real ao seu ser.

Ainda na Idade média, com as corporações de ofício, era possível observar três tipos de membros trabalhadores da sociedade: os mestres, os companheiros e os aprendizes. Os primeiros “eram os proprietários das oficinas, já tendo sido aprovados na confecção de uma obra mestra.” (GARCIA, 2017, p. 22). Os companheiros eras aqueles livres que recebiam seu pagamento dos mestres, ou seja, ocupavam um lugar intermediário na escada do meio laboral. E por último os aprendizes, que consistiam em “menores que recebiam dos mestres o ensinamento metódico do ofício ou profissão, podendo passar ao grau de companheiro se superassem as dificuldades dos ensinamentos.” (GARCIA, 2017, p. 22).

Verifica-se o início de uma hierarquia no mundo dos trabalhadores, na qual uns passam seus ensinamentos a outros, como em uma organização contemporânea, por meio da cultura. Além disso, conforme Barros (2016, p. 49) “O ajuste contratual deixa de ser norma reguladora para ser substituído pelas regras das Corporações de Ofício, aplicáveis a todos os seus membros, isto é, aos aprendizes, operários ou companheiros e aos mestres”. Dessa forma havia um controle por meio das regras das próprias corporações, limitando a liberdade contratual que havia antes.

Outro fator muito importante de se destacar, que se parece ao que temos hoje, era que, se houvesse acidente ou fato que causasse a invalidez de algum trabalhador ou sua morte, as corporações de ofício amparavam o mesmo ou sua família. Observa-se que nesse período histórico já havia uma concepção de previdência, com algo muito familiar à pensão por morte e à aposentadoria por invalidez, amparando o trabalhador.

Por volta de 1789, as chamadas corporações de ofício, as quais dominavam o mercado de trabalho na época, foram extintas com a Revolução Francesa. É sabido que “nenhuma sociedade consegue se manter sob o domínio de instituições que não se justificam mais em face dos seus progressos naturais.” (BARROS, 2016, p. 49). A

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sociedade já não aceitava mais o regime anterior, pois a população não concordava com os abusos praticados pelos mestres das corporações e isso acabava gerando muitos conflitos, como greves e revoltas dos companheiros. Desse modo, abriu-se espaço para o liberalismo, sem intervenção estatal.

Finalmente no ano de 1791 foi estabelecido na Lei Chapelier, em seu artigo 7º que, a partir do dia 1º de abril daquele ano, todo homem era livre para dedicar-se ao trabalho, profissão, arte ou ofício que achasse conveniente e que deveria conformar-se com os regulamentos da polícia que existiam ou que fosconformar-sem expedidos no futuro. Começa aí a liberdade nas relações de trabalho.

Passados alguns anos, houve ainda uma evolução ainda maior da sociedade, refletindo nos aspectos trabalhistas. Com as inovações tecnológicas surgindo, ocorreu a Revolução Industrial. O momento de ocorrência deste fenômeno é controvertido, pois conforme Barros (2016, p. 50) menciona “Segundo alguns autores (Toynbee), seu ponto de partida foi 1760; já para outros autores (Nef), esse processo ocorreu entre 1783 e 1802, na Inglaterra.” Cassar acredita que a mesma ocorreu no ano de 1775. O fato é que o trabalho manual desempenhado anteriormente é substituído pela máquina.

Garcia (2017, p. 22) acredita que “o Direito do Trabalho surge com a sociedade industrial e o trabalho assalariado.” Portanto, conforme supracitado, com a substituição de trabalho manual por maquinário, foi necessário que houvesse a contratação de muitas pessoas para que as máquinas pudessem ser operadas. A tecnologia era algo novo, porém, não tão avançada quanto hoje, necessitando, portanto, de trabalho humano. Daí em diante “A necessidade de pessoas para operar as máquinas a vapor e têxteis impôs a substituição do trabalho escravo, servil e corporativo pelo trabalho assalariado.” (GARCIA, 2017, p. 22).

Segundo Barros (2016, p. 50) “O novo regime consagrou a liberdade para o exercício das profissões, artes ou ofícios, e consequentemente, para as livres contratações.” Com o Código de Napoleão, de 1804, foi possível a regulamentação da vontade contratual. Esta estava pautada como “norma suprema das relações jurídicas”. (BARROS, 2016, p. 50). A partir desta época, o pacto realizado entre

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empregador e empregado tinha força de lei, pois havia vontade mútua. Da mesma forma se houvesse a revogação do contrato, deveria realizar-se com mútuo consentimento.

Nesse contexto histórico, tendo em vista que as condições de trabalho ainda eram péssimas, “com excessivas jornadas e exploração do labor de mulheres e menores (a chamada “questão social”), os trabalhadores começam a se reunir para reivindicar melhorias, inclusive salariais, por meio de sindicatos.” (GARCIA, 2017, p. 22). Ou seja, o direito do trabalho e suas garantias começam a surgir.

A partir desse momento, o Estado passa a intervir nas relações de trabalho e passa a ser mediador destas, colocando limitações quanto à liberdade contratual, contribuindo para o instituto da proteção do trabalhador. Houve criação de “legislação proibitiva de abusos do empregador, como forma de preservar a dignidade do homem no trabalho.” (GARCIA, 2017, p. 23). A concepção de trabalho neste momento já continha em seu escopo a valorização do homem.

No Brasil, o trabalho escravo esteve presente até a publicação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a qual aboliu a escravidão, tornando-a ilegal. Antes disso, em 1837, há registros de uma normativa que tratava de contratos de prestação de serviços entre colonos, abarcando justas causas de ambas as partes. (BARROS, 2016). Em 1850, havia o Código Comercial, no qual haviam preceitos a respeito do aviso prévio.

De 1888, quando ocorreu a abolição da escravatura até o ano de 1930, haviam alguns principais diplomas legais, que regulavam os atos laborais e as relações de trabalho. Em 1903: surge a lei sobre sindicalização dos profissionais da agricultura; 1907, sobre sindicalização de trabalhadores urbanos; 1916, o Código Civil, que falava em um dos capítulos a respeito de locação de serviços, etc.; 1919, lei sobre acidente de trabalho; 1923 foi criada a Lei Elói Chaves, que falava a respeito da estabilidade no emprego a qual os ferroviários poderiam ter estendida a outras classes mais tarde. (BARROS, 2016)

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Em 1930 houve a criação do Ministério do Trabalho, o qual marcou o aparecimento do direito do trabalho no Brasil. Por fim, segundo Garcia (2017, p. 24):

A existência de diversas leis esparsas sobre Direito do Trabalho impôs a necessidade de sua sistematização, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei 5.452, de 1.º de maio de 1943, que não é um código propriamente, pois sua principal função foi apenas de reunir as leis trabalhistas existentes.

Portanto, em 1943, após uma grande evolução do trabalho no mundo todo, impulsionando a sociedade para chegar a um patamar digno, considerando o homem não como ferramenta apenas, ou objeto, mas como ser digno de direitos e deveres como trabalhador, surge a Consolidação das Leis do Trabalho. Este diploma é extremamente importante para a concretização de um ideal mais humano. Esta lei surgiu para a proteção do trabalhador como parte mais frágil da relação trabalhista, pois este, comparado ao empregador revela-se hipossuficiente.

Após toda a evolução da concepção trabalho, desde indivíduos escravos, até o que se têm hoje na sociedade mundial e brasileira, o trabalhador passou por muitas dificuldades e a concepção de trabalho teve muitas mudanças e para o bem de todos evoluiu. Hoje há muito mais direitos trabalhistas, individuais e coletivos, os quais “passaram, assim, a ser assegurados no contexto dos direitos fundamentais, em sintonia com os mandamentos da dignidade da pessoa humana e da justiça social.” (GARCIA, 2017, p. 23). Portanto, ser trabalhador hoje é garantia de direitos e dignidade humana e a concepção de trabalho não é mais associada ao sofrimento, mas, para a grande maioria, esta associa-se à satisfação ou necessidade de manutenção das condições básicas de vida, mas distante do sofrimento inicialmente arraigado ao sentido do trabalho.

1.2 A concepção do não trabalho: o direito ao descanso e lazer

Desde o início dos tempos a função do trabalho foi fornecer os meios necessários para garantir a subsistência do ser humano. A sua necessidade é inegável e hoje, principalmente, nesse sistema capitalista em que se vive, o trabalho se torna mais importante ainda, tendo além de sua função social, um caráter econômico. Almeida e Severo (2014, p. 17) preceituam que “No sistema capitalista

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dos tempos atuais, muito embora existam outras formas de trabalho que não a de emprego, salvo raríssimas exceções, o trabalho é o que propicia, direta ou indiretamente, os meios necessários para a subsistência material dos indivíduos.”

Ocorre que, por muitas vezes o homem acaba por não enxergar que além da necessidade de trabalhar, há a necessidade de descansar e que ambas têm importância na vida. Quando se fala em descanso e lazer, não se fala apenas em saúde, fala-se em convívio familiar, qualidade de vida em família. Quando se fala em saúde, não se fala apenas em saúde corporal, mas principalmente mental, psíquica e psicológica. Garcia (2017, p. 508) argui que

A limitação da jornada de trabalho, por meio de normas jurídicas estabelecidas pelo Estado, atende a uma necessidade de integridade e harmonia física, psíquica e psicológica do trabalhador, sendo essencial na concretização do mandamento fundamental de dignidade da pessoa humana.

A história revela uma longa e importante evolução que teve como objetivo alcançar o sistema de proteção das condições de trabalho, incluindo, portanto, a regulamentação de uma jornada de labor (GARCIA, 2017). Na própria era industrial, tempo em que já havia certo pensamento humanístico a respeito dos trabalhadores, as jornadas eram extenuantes e as condições de trabalho eram precárias e colocavam em risco a saúde e a vida dos trabalhadores.

Antes dos acontecimentos da era industrial, não havia regulamentação a respeito da duração do trabalho. Em relação a evolução histórica desse conceito de jornada de trabalho e limitação da mesma, têm-se conhecimento de alguns atos normativos e alguns períodos em que o assunto foi tratado em esfera internacional, até chegar ao Brasil.

Na Espanha, por volta de 1953, é sabido que havia um ato normativo isolado, conhecido como Lei das Índias, o qual dispunha que a jornada de trabalho não poderia ultrapassar oito horas diárias. (BARROS, 2016). Na Inglaterra, em 1847, quando da edição da primeira lei a respeito da temática, esta limitou a jornada em 10 horas diárias, enquanto que na França, em 1848, teria tido como esse mesmo limite. (BARROS, 2016). Ainda, nesse mesmo contexto, nos Estados Unidos da América,

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em 1868, já havia a fixação de oito horas de jornada para os empregados federais. (BARROS, 2016).

Na América Latina, o primeiro a estabelecer o limite para trabalhadores estatais foi o Chile, em 1908, seguido de Cuba, em 1909, e após o Uruguai, em 1915. No Brasil, há rumores e há registros de um decreto que vigorou por volta de 1891, o qual dispunha acerca da limitação de horas no Distrito Federal: para meninos era de nove horas e para meninas de oito horas. (BARROS, 2016).

Nos anos posteriores, mais precisamente em 1932 houve a edição de decretos que tinham por objetivo limitar a jornada de comerciários e industriários em oito horas, o que foi estendido a outros trabalhadores no ano de 1933. A Constituição Federal de 1934 já previa esse limite, mas houve a consolidação e unificação no ano de 1940, no território brasileiro. (BARROS, 2016).

A Constituição de 1988 manteve o tratamento acerca da jornada, mas tratou ainda de reduzir o limite semanal que antes era de 48 horas e passou a ser 44, majorando ainda o adicional de horas extras, demonstrando explicitamente que a jornada de trabalho excessiva e a falta de descanso eram assuntos de extrema importância, que deveriam ser tratados com peculiaridade.

O trabalho é algo muito significativo para as pessoas, pois, mesmo sabendo da situação em que se encontra o mundo atualmente, pela grande procura de trabalho e falta de oportunidades, as pessoas ainda mantêm uma postura discriminatória com quem não trabalha. (MAIOR, 2003). Por isto, como cita Maior (2003, pg. 3) “nos vemos forçados ao trabalho até mesmo para não sermos discriminados pela sociedade.” Ou seja, o ser humano mesmo cansado, desgastado, infeliz com seu trabalho, não deixa de fazê-lo por medo da discriminação.

A sociedade é de certa maneira hipócrita, pois a maioria pensa em não trabalhar e ganhar muito dinheiro, ou trabalhar e ganhar muito dinheiro e parar de trabalhar o mais cedo possível. (MAIOR, 2003). Portanto, criticam quem não trabalha (a maioria por não conseguir e não pelo simples fato de não querer), mas não enxergam o próprio desejo de não trabalhar.

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O lazer e o descanso são extremamente importantes e relevantes para a humanidade. Imaginem que o trabalhador não descansa nunca, não viaja com sua família, só conhece dois lugares: trabalho e casa. Será que esse cidadão vai ter um bom desempenho em sua ocupação? De fato, pode-se dizer que não. Segundo Leite (2016, p. 86) “O descanso libera da fadiga, enquanto que o lazer repara deteriorações físicas e nervosas das obrigações do cotidiano e do trabalho, ou seja, recuperação da fadiga física ou nervosa e liberação de tensões.” Portanto, são plenamente importantes para o desempenho do trabalhador.

Prevendo e sabendo disso, o legislador ao elaborar a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º, coloca como um dos direitos fundamentais o lazer, demonstrando mais uma vez a importância deste, pois está assegurado no diploma legal mais importante da nação brasileira. Além disso, outro documento importantíssimo para a formação da sociedade mundial contém um artigo dedicado ao descanso e lazer; o artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU em 10 de dezembro de 1948, estabelece que “Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias periódicas remuneradas.”

O lazer significa um tempo em que o trabalhador estará totalmente desligado de seus afazeres laborais e que possa dedicar-se totalmente à sua família e ao descanso de seu corpo, mente, sendo incluindo por alguns doutrinadores ainda o descanso espiritual. Leite (2016, p. 86) cita que “o repouso foi considerado sinônimo de lazer até o século XX, quando o lazer teve seu significado estendido, abrangendo atividades com respeito às necessidades do corpo e do espírito.” Portanto, o lazer abrange o descanso, estendendo-se não só ao repouso em si, mas na realização de atividades que possam auxiliar o trabalhador a ter um momento relaxante e renovador.

O descanso e o lazer são tão importantes, que o legislador determinou na Constituição Federal de 1988 e na CLT uma limitação de jornada de trabalho, para que não haja o prejuízo da saúde do trabalhador, bem como sua convivência em família não seja diminuída ou se torne precária. Para Delgado (2017, p. 974) “Modernamente, o tema da jornada ganhou importância ainda mais notável, ao ser

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associado à análise e realização de uma consistente política de saúde no trabalho.” Ou seja, no decorrer dos anos houve uma maior preocupação com a saúde do trabalhador e o direito ao não trabalho faz parte desse pensamento moderno.

Delgado (2017, p. 974) coloca que “a redução da jornada e da duração semanal do trabalho em certas atividades ou ambientes constitui medida profilática importante no contexto da moderna medicina laboral.” Por muitas vezes no passado o trabalhador era tratado como mero objeto de satisfação de vontades pessoais do empregador. Entretanto, no decorrer da história evidenciou-se que o trabalhador era e é extremamente necessário dentro de uma organização e que não pode ser totalmente substituído por máquinas, mesmo as mais modernas, não poderiam desempenhar funções das quais exige-se a criatividade, por exemplo.

Hoje, têm-se uma preocupação maior com a saúde do trabalhador, e as normas criadas em relação ao trabalho não tem mais apenas o sentido de resguardar o poder econômico do empregador, mas “podem alcançar, em certos casos, a função determinante de normas de saúde e segurança laborais, assumindo, portanto, o caráter de normas de saúde pública.” (DELGADO, 2017, p. 974).

A regulação da jornada de trabalho e consequente aumento e regulamentação dos períodos de descanso e lazer foi um dos mecanismos mais importantes e que muito auxiliou na redução do desemprego. Entretanto, alguns doutrinadores colocam que regulamentando e reduzindo a jornada de trabalho haveria menos produção e seria algo prejudicial ao mercado.

Ocorre que as medidas de redução de jornada de trabalho têm se mostrado muito eficazes em relação ao avanço do sistema econômico. (DELGADO, 2017). Conforme Delgado (2017, p. 974) delineia “tais medidas tendem a incentivar o conjunto de operadores econômicos à busca de maiores investimentos em tecnologia e intensificação de capital, como meio de compensarem a restrição legal na utilização da força de trabalho”. Desse modo, o sistema econômico se vê desafiado a avançar tecnologicamente, promovendo avanços inimagináveis por conta das situações em que se confronta com a redução da jornada laboral. (DELGADO, 2017).

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Pode-se notar que a regulamentação da jornada de trabalho, permitindo que o trabalhador descanse e que pratique o lazer não só auxilia na saúde do próprio trabalhador, mas também contribui para os avanços do sistema econômico como um todo. Além disso, Delgado (2017) ainda fala a respeito de como a redução e regulamentação da jornada auxilia na distribuição de renda, diminuindo a desigualdade social atuante no cenário mundial. Pois, como denota Delgado (2017, p. 976)

Ora, não tem sentido admitir-se, em uma sociedade democrática (onde o poder político não mais depende apenas — em tese — do poder econômico-social de cada indivíduo ou setor), que todos os ganhos do espetacular avanço científico e tecnológico ocorrido no sistema fiquem concentrados estritamente nas elites econômicas, sem qualquer efetiva redistribuição social [...].

Além disso, alguns autores ainda denotam fundamentos básicos que amparam o direito ao descanso e ao lazer. A medicina e a segurança do trabalho possuem regras que envolvem condições de trabalho, descanso e períodos de trabalho. Essas normas são de caráter imperativo e estabelecem direitos de ordem pública, ou seja, impedem que as partes renunciem ou disponham de qualquer um deles, por conta do estabelecimento em lei. (CASSAR, 2015).

Essas normas de duração do trabalho, refletem diretamente no tema tratado, e segundo Barros (2016, p. 436) “têm por objetivo primordial tutelar a integridade física do obreiro, evitando-lhe a fadiga. Daí sucessivas reivindicações de redução de carga horária de trabalho e alongamento de descansos.”

Ademais, a falta de descanso tem sido apontada como fato gerador do estresse, pois trabalhar de maneira exacerbada pode resultar em um enorme desgaste para o organismo. O estresse e o desgaste por sua vez tornam o indivíduo muito suscetível a enfermidades e segundo Barros (2016, p. 436) “A par do desgaste para o organismo, o estresse é responsável ainda pelo absenteísmo, pela rotação de mão de obra e por acidentes de trabalho.” Nesse sentido, Garcia (2017) enumera certos fundamentos que são a base para apoiar a teoria do direito ao não trabalho,

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ao descanso e ao lazer. São eles os de natureza psíquica e psicológica, física, social, econômica e humana.

A teoria relativa à natureza psíquica e psicológica têm-se a concepção de que o trabalho intenso e com grandes jornadas pode causar esgotamento psíquico e psicológico, o que afeta diretamente a sua saúde mental e a capacidade de concentração. Ainda, esse fundamento evidencia a possível ocorrência de doenças ocupacionais, como por exemplo a síndrome do esgotamento profissional, conhecida como síndrome de burnout. (GARCIA, 2017).

A de natureza física, conforme Garcia (2017, p. 511) “uma vez que o labor em jornadas de elevada duração também pode acarretar a fadiga somática do empregado, resultando em cansaço excessivo.” Gerando, portanto, riscos à saúde e a vida do trabalhador.

Já a teoria social, tendo em vista que para a sociedade é importantíssimo que a pessoa, além de trabalhar, exerça outras atividades que possuam relevância para a sociedade, inclusive no âmbito familiar.

A teoria econômica, pois sem que haja o descanso, acarretando em fadiga do corpo e da mente, o trabalhador consequentemente produzirá menos, gerando perda para aquela organização em relação à produção e aos próprios empregados. Além disso, Garcia (2017, p. 511) ainda denota que o empregador passaria “a exigir trabalho somente daqueles poucos que ali prestam serviços, aumentando o desemprego, e por consequência, gerando crises na economia.”

E a teoria humana, vez que o direito ao não trabalho e ao descanso e lazer fazem parte do conceito de dignidade da pessoa humana. Portanto, necessária a preservação da vida e da saúde do obreiro.

Cassar (2015) estabelece apenas três fatores condicionantes ao direito ao descanso e lazer, abarcando todos os fundamentos supracitados. São eles: os fatores biológicos, sociais e econômicos. O primeiro trata dos fundamentos psíquico,

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psicológico e físico, o segundo traz a mesma concepção social de sociabilidade, tendo em vista que o trabalhador necessita estar no meio da família, amigos e ser útil para a sociedade de outras formas. Por fim, o terceiro retrata o quão desvantajoso é um trabalhador cansado para a economia do empregador.

Por estas razões, é necessário que haja período de descanso, permissão do lazer, o direito ao não trabalho. Além do excesso de trabalho prejudicar o trabalhador, prejudica o meio em que ele está inserido. A sociedade sofre, o trabalhador sofre e o empregador sofre com as consequências advindas do trabalho exacerbado podem ser intensas, especialmente a ocorrência de acidentes de trabalho e/ou doenças ocupacionais.

Como visto, no decorrer da história, as reivindicações por melhores condições de trabalho foram muitas, e um dos mais importantes temas discutidos é o direito ao não trabalho. Este mostra-se extremamente relevante para a sociedade, pois hoje, o que move a economia é o setor privado e o que move o setor privado são os trabalhadores, ou seja, os trabalhadores precisam descansar para que o sistema produtivo alcance o seu maior rendimento.

Com vistas à justiça, nada mais correto que regulamentar e proporcionar ao trabalhador o exercício digno de seu labor. Pois conforme cita brilhantemente Delgado (2017, p. 975) “o que fora um reclamo essencialmente social tornou-se um imperativo de inquestionável conteúdo econômico-financeiro.” Ou seja, a regulamentação da jornada de trabalho, o direito ao descanso e ao lazer, o direito ao não trabalho, passaram a residir como fator ímpar nas relações laborais, de modo que até mesmo os empregadores reconhecem a necessidade destas medidas não só sob o aspecto social, mas econômico.

1.3 Trabalho como eixo central da existência e da dignidade da pessoa humana O homem se difere dos animais por vários atributos, mas o mais importante é a capacidade de raciocínio, o que leva à evolução da própria espécie. Nas sociedades primitivas o trabalho já era realizado, entretanto, com finalidade diferente dos dias de hoje. O ser humano “trabalhava” inconscientemente, esse conceito

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ainda não existia por si só, pois o trabalho era a caça, a pesca, utilizando a natureza como forma de subsistência do corpo. Braga (2015, p. 13) coloca que “Nas sociedades primitivas a natureza atuava como um ente superior ao homem. A ele competia apenas a possibilidade de contemplá-la e de se submeter a seus desígnios.” Portanto, mesmo na era primitiva já havia a divisão do trabalho para fins de subsistência.

Ocorre que, com o passar do tempo, devido ao seu raciocínio e sua capacidade de evolução, o homem naturalmente transformou-se em um ser pensante, com objetivos e já não utilizava do trabalho apenas como instrumento de satisfação ao corpo, mas à mente, ao espírito. “O homem, aos poucos, passou a ser considerado pelo seu aspecto essencialmente cultural. Suas características biológicas, passivas e contemplativas, tornaram-se cada vez menos importantes para a sua caracterização, para a sua individualização.” (BRAGA, 2015, p. 13).

O ser humano, portanto, a partir de certo ponto da história passou a encarar o trabalho não só como fator determinante para a sua subsistência, mas como algo que acrescenta para sua vida em sociedade e, consequentemente, para sua existência e dignidade. Em relação à sua individualidade “o trabalho se apresenta como categoria central da ação do homem e do fortalecimento de suas potencialidades” (BRAGA, 2015, p. 16), porém no plano coletivo “ele se presta à preservação e progresso da vida em comunidade.” (BRAGA, 2015, p. 16).

Nesse sentido, o trabalho tem um papel extremamente importante para a construção do homem. É por meio do trabalho que o ser entra em contato com a natureza e a molda, segundo os seus desejos e objetivos. Braga (2015, p. 39) denota que “É da relação com a natureza que o ser humano retira os elementos para manutenção de sua existência física e social.” E o trabalho age como fator principal nesse contexto.

Tendo como objetivo a busca por uma qualidade de vida melhor, o ser humano busca evoluir constantemente, e utiliza o trabalho como forma de satisfazer desde as suas necessidades mais básicas às mais complexas. Ocorre que os seres são diferentes e cada um possui suas próprias habilidades, que os diferem uns dos

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outros. Portanto, “Com o escopo de alcançar uma maior satisfação de necessidades humanas impostas ou criadas surge, no corpo social, uma divisão técnica do trabalho.” (BRAGA, 2015, p. 39).

Essa divisão faz com que cada indivíduo que possui uma característica predominante e que esta auxilie na melhor execução do seu trabalho, busque melhorar, fazendo com que o outro indivíduo que possui a mesma característica ou habilidade busque melhorar também. Isso ocorria com frequência nas sociedades mais antigas, e conforme Braga (2015, p. 39)

Assim, os indivíduos possuidores de formas mais eficientes de interações com a natureza, representadas, na sociedade contemporânea, pelo intenso desenvolvimento técnico das ferramentas e dos meios e instrumentos de produção, colocavam-se em posição social de maior destaque.

É aí que se evidenciam as primeiras divisões de classe. De acordo com o trabalho e a complexidade do mesmo, os indivíduos eram colocados em determinadas posições sociais. E até os tempos de hoje a sociedade vive em função dessas divisões, o que demonstra que o trabalho tem e sempre teve grande influência na existência do ser humano em sociedade.

No decorrer da história evidenciam-se muitas concepções do que seria o trabalho e para que este serve. Ocorre que, mesmo com algumas concepções negativas e outras positivas, o trabalho nunca deixou de existir. Houve um tempo, mais precisamente na era da antiguidade em que os filósofos tinham certeza de que o trabalho atrapalhava o homem, pois o impedia de pensar. Em outros tempos, o trabalho foi tratado como essência humana, do qual o ser precisava para constituir-se como constituir-ser propriamente dito.

Hoje, o trabalho é encarado como algo que dignifica o homem e quem não trabalha por muitas vezes sofre preconceito e é taxado negativamente das mais diversas maneiras. Mas o que é dignidade? Muitos autores tentam explicar, mas não há um conceito fechado a respeito daquilo que possa definir na completude o que seja dignidade, portanto existem muitas formas de definir o que seria a dignidade da pessoa humana.

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Para Ingo Wolfgang Sarlet (2002, p. 62) dignidade da pessoa humana é

A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Como visto nas subseções anteriores, o ser humano foi extremamente explorado por seu poder de modificar as coisas. Primeiramente com a escravidão e servidão, e mesmo após a extinção dessas duas modalidades de exploração as condições em que os trabalhadores se encontravam eram degradantes. O que moveu os mesmos a reivindicar melhores condições de trabalho e consequentemente melhores condições de vida foi justamente o desrespeito à dignidade de suas pessoas.

O artigo 1º da Declaração Universal de Direitos humanos traz em seu escopo que “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” Ou seja, seja empregador, seja empregado, todos são dignos de respeito e valorização de sua vida.

O trabalho nem sempre foi digno e nem sempre foi encarado como algo positivo. Entretanto, sempre fez parte da evolução da sociedade e do homem, auxiliando na sua construção como ser de direitos e deveres, como ser que possui dignidade e teve um papel essencial na existência do homem em sociedade. Como cita Brito Filho (2004, p. 7)

É que não se pode falar em dignidade da pessoa humana se isso não se materializa em suas próprias condições de vida. Como falar em dignidade sem direito à saúde, ao trabalho, enfim, sem o direito de participar da vida em sociedade com um mínimo de condições?

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Não se pode falar em dignidade da pessoa humana sem mencionar o trabalho e não se pode mencionar o trabalho sem falar em dignidade da pessoa humana, pois os dois se completam. A dignidade está intrínseca ao trabalho e para que o trabalho seja desenvolvido de forma plena, a dignidade é indispensável, ou seja, boas condições, valorização do ser como fator principal na evolução em sociedade. O trabalho foi criado pelo ser humano, e o trabalho criou e moldou o próprio criador, agregando dignidade e sendo extremamente importante para a sua existência em sociedade.

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2 O SURGIMENTO DA TECNOLOGIA E SUA INTERFERÊNCIA NAS RELAÇOES DE TRABALHO

A tecnologia é algo muito presente na sociedade e influencia de forma bombástica o comportamento humano. Desde os primórdios da humanidade as pessoas já estudavam novas formas de facilitar suas vidas, tornar certas atividades mais fáceis e é aí que a tecnologia entra.

No início havia a ideia de que a tecnologia era neutra, porém, como será abordado a partir do presente capítulo, ela pode influenciar tanto positivamente quanto negativamente a vida humana, chegando inclusive a gerar modificações nos ambientes laborais.

Exemplo disso é o tratamento que a Lei 13.467/2017 dá ao teletrabalho, que é espécie de trabalho que se utiliza de meios tecnológicos para que se configure. Esta lei que alterou, incluiu e excluiu alguns pontos da Consolidação das Leis Trabalhistas tratou de regulamentar o teletrabalho em alguns de seus artigos, incluindo os teletrabalhadores no rol do artigo 62 da CLT, o qual exclui alguns tipos de empregados do regime de duração de trabalho.

É certo que sobre esse tema ainda há muita pesquisa a ser feita, mas o que se busca com o presente capítulo é evidenciar como ocorreu a evolução da tecnologia e como ela influencia na sociedade atual, mais especificamente no que diz respeito ao teletrabalho.

2.1 Avanço tecnológico e comportamento humano

A tecnologia tem como conceito básico a ideia de uma coisa, um produto, algo que é desenvolvido pela ciência e/ou pela engenharia, com o objetivo de resolver problemas, facilitar certos processos, etc. Portanto, pode-se dizer que a tecnologia começou a surgir já na pré-história, quando houve a fabricação de ferramentas que auxiliavam os homens na caça, na pesca, na colheita, no preparo dos alimentos, entre outros. Contudo, embora ela já existisse desde os primórdios da

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humanidade, conforme Bazzo e Silveira (s.d., p. 1) “não era essencial para qualquer finalidade técnica até o século XVI, quando se tornou indispensável à navegação.”

O avanço da tecnologia e da ciência foi algo que influenciou e possibilitou a tão conhecida Revolução Industrial. E foi a partir de então que houve um avanço mais significativo, pois havia, segundo Bernal (1969) disponibilidade de mão-de-obra e capital, o que fez com que fossem criadas muitas oportunidades para quem quisesse obter lucro, e essa vontade de lucrar agiu de forma positiva frente a tecnologia, que evoluiu com maior velocidade.

Em consequência disso, houve o surgimento de novos problemas. Carvalho (1997) aduz que houve a destituição de muitos camponeses de suas terras e consequentemente a migração destes para as cidades, buscando trabalho em indústrias. Isso fez com que houvesse um aumento substancial na população das cidades, gerando problemas como falta de saúde de qualidade, habitação, saneamento, educação. Além disso, a lei da oferta e da procura fez com que o preço da mão-de-obra fosse ficando precário, pois com o aumento da procura por emprego. Esse processo fez com que a conduta dos empregadores se voltasse para o pagamento de salários com valores baixíssimos e com isso lucravam ao máximo, ou seja, capitalismo.

Desse modo, observa-se um padrão já sendo desenvolvido, qual seja, enquanto uns concentram capital exacerbado e têm acúmulo de riquezas, a população que não tem acesso a esta riqueza cresce cada vez mais. A tecnologia e consequentemente sua evolução, tornam a vida das pessoas muito mais fácil, muito mais confortável, porém, enquanto ocorre esta evolução, as pessoas vão modificando seu comportamento e criando incertezas com relação a valores e padrões que a sociedade lhes impõe.

As mudanças tecnológicas não conseguem acompanhar as alterações de comportamento dos seres humanos. Estas mudanças resultam em novas necessidades, que demandam mais evolução para que sejam supridas. Carvalho (1997, p. 73) aduz que “Esta é uma das razões do ‘sucesso’ do capitalismo que vem transformando definitivamente a vida humana sobre a face da Terra, criando novas

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relações sociais e culturais”, ou seja, o capitalismo influenciou e influencia muito na evolução da tecnologia, e realmente “não se pode negar que o desenvolvimento tecnológico é um processo irreversível para as pessoas que o vivenciam.” (BAZZO; SILVEIRA; s.d.; p. 2).

Não se pode falar em tecnologia sem mencionar a palavra “técnica”. Conforme Leite (2016) a tecnologia e a técnica sempre estiveram presentes na vida em sociedade. A técnica surge antes da tecnologia, pois esta deriva daquela que era usada inicialmente pelos seres humanos como forma de sobrevivência frente aos desafios da natureza, inclusive com o objetivo de dominá-la. A técnica, segundo Leite (2016) são regras, em conjunto, com o objetivo de dirigir uma atividade, enquanto a tecnologia é definida como uma ciência, cuja aplicação do conhecimento científico e técnico, tendo como objetivo o desenvolvimento industrial e/ou comercial, se realiza através de uma ciência ou de uma arte.

O mundo hoje gira entorno do capital e o capital hoje em sua maior parte é construído através de produtos, sejam eles materiais ou serviços. Os detentores do capital buscam cada vez mais produtos eficientes e econômicos e através da técnica e da tecnologia agindo em conjunto, encontram resultados muito mais satisfatórios. Segundo Leite (2016, p. 57) “A tecnologia é o estudo científico do artificial, envolve-se com a diminuição de esforço e a solução de problemas.” De fato, a tecnologia surgiu para facilitar a vida das pessoas.

Bazzo e Silveira (s.d., p. 5) afirmam que “a tecnologia sofre e causa transformações profundas de caráter político, econômico, social e filosófico, na história do séc. XVII em diante.” Portanto, durante toda a evolução da sociedade a tecnologia esteve presente, auxiliando no desenvolvimento da humanidade. Ela representa mais que um mero estudo da técnica, pois surgiu quando a ciência se aliou à técnica, objetivando promover a junção entre fazer e saber. (MIRANDA, 2002).

Com o passar dos séculos, pôde-se notar que o desenvolvimento tecnológico modelou a sociedade, transformando-a em industrial, logo após em pós-industrial e mais além na sociedade informática. Hoje, segundo Miranda (2002), estamos

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vivendo o colapso da modernização. “A começar pela própria confiança absoluta na ciência que emanciparia o homem de toda escravidão, obscurantismos e medo.” (BAZZO; SILVEIRA, s.d., p. 7). Ocorre que, isso não aconteceu e hoje o que presenciamos é a escravidão do próprio homem pelas suas descobertas tecnológicas e invenções, que só foram possíveis graças à ciência e à técnica, que em conjunto criam a tecnologia.

Arocena (2004) acredita que a tecnologia tem aumentado quantitativamente e qualitativamente o poder de produzir e destruir, de depredar e curar, de ampliar a cultura dos seres humanos e de gerar riscos para a vida. Portanto, a tecnologia se coloca nas mãos de alguns seres humanos que se tornam poderosos por esse motivo e acabam transformando a sociedade não apenas de uma forma positiva.

Bazzo e Silveira (s.d., p. 7) acreditam que

Vivemos num mundo em que a tecnologia representa o modo de vida da sociedade atual, na qual a cibernética, a automação, a engenharia genética, a computação eletrônica são alguns dos ícones que da sociedade tecnológica que nos envolve diariamente. Por isso, a necessidade de refletir sobre a natureza da tecnologia, sua necessidade e função social.

Por muito tempo a tecnologia foi encarada com a chamada neutralidade. Entretanto, com o passar do tempo pôde-se perceber o quão influente ela é frente à sociedade em que vivemos e conforme Bazzo e Silveira (s.d., p. 8) começa-se, portanto, a perceber que a tecnologia não é neutra, “que apesar de algumas serem utilizadas para o benefício dos seres humanos, também existem outras que são prejudiciais.”

Diz-se, para tanto, que “a tecnologia é um fenômeno social, complexo, que nos conduz a um posicionamento valorativo frente a ela.” (BAZZO; SILVEIRA; s.d., p. 8). Existem muitos estudiosos que apresentam suas opiniões a respeito da influência que a tecnologia promove no comportamento humano e consequentemente na vida em sociedade. Há três posicionamentos que se destacam na doutrina a respeito da função social da tecnologia, classificados como visão otimista, visão pessimista e visão moderada da tecnologia.

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A visão otimista pode ser entendida como aquela que aduz que a tecnologia é indispensável para a sociedade. Ainda, ressaltam que é “garantia de bem-estar para os seres humanos, desobrigando-os do trabalho pesado” (BAZZO; SILVEIRA; s.d.; p. 8). Nesse mesmo sentido é tratada como fundamental para o desenvolvimento e para o progresso do mundo.

Pela visão pessimista “consideram que na origem da tecnologia está a destruição da vida e do planeta e que, se o quadro de desenvolvimento tecnológico permanecer como está hoje, não há sequer possibilidade de reversão do quadro de destruição.” (BAZZO; SILVEIRA; s.d.; p. 9). Ainda, os que pensam dessa forma afirmam que a tecnologia promove a eliminação do trabalho humano, pois a evolução tecnológica trará a necessidade de robotização, o que levaria os homens à destruição.

A visão moderada é “a qual prega a necessidade de repensar a direção dada à tecnologia hoje, advertindo da necessidade de minimizar os riscos sem, contudo, abdicar dos benefícios que a tecnologia propicia a humanidade.” (BAZZO; SILVEIRA; s.d.; p. 9). Ou seja, esta visão se mostra a mais racional e tenta equilibrar a utilização da tecnologia em favor do ser humano, sem exageros.

Na contemporaneidade, as novas tecnologias da informação e também da comunicação propiciaram e ainda propiciam o surgimento de um universo novo, com possibilidades jamais imaginadas e fantasiadas pelos seres humanos. A internet, por exemplo, propiciou captação, transmissão e distribuição de informações, a partir de qualquer lugar, em tempo real. (CASANOVAS, 2003). Além disso, conforme Leite (2016, p. 58) “Dissemina informações e conhecimentos, influencia o agir, acelera o desenvolvimento científico, tecnológico e o progresso da humanidade.”

Segundo Casanovas (2003), houve uma expansão da comunicabilidade, por meio da convergência entre a computação e as telecomunicações, auxiliando na redução de custos de distribuição e transação, facilitando e trazendo flexibilidade e muito mais eficácia às relações entre vendedores e consumidores, influenciando o usuário a consumir, mudando, portanto, o seu comportamento.

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E evolução da tecnologia e consequentemente a chegada da cultura da internet, molda o comportamento humano. Segundo Leite (2016, p. 58) “As pessoas podem possuir seu próprio espaço na web para publicar seus textos, por meio dos blogs e perfis nas redes sociais.” Dessa forma, hoje se pode conhecer diversas culturas, opiniões políticas, religiosas, com apenas um clique, o que faz do ser humano um recipiente vazio, apto a encher-se com todo esse conteúdo e oportunidade de conhecimento.

Há uma evolução constante e uma revolução constante. A tecnologia vem revolucionando as estruturas sociais de forma acelerada. Leite (2016, p. 58) destaca que a “propagação de informações abertas acessíveis por qualquer um desde qualquer lugar, em velocidade e amplitude incomparáveis, continua mudando o comportamento das pessoas, empresas, dos sindicatos, dos governos, de grupos e subgrupos sociais.” Ou seja, não atinge apenas a individualidade de cada um em sua casa, mas essa evolução é capaz de alcançar os mais variados grupos sociais.

O Estado está deixando de ser o agente regulador das relações entre os indivíduos e está sendo substituído por organizações novas, que procuram se adaptar e coordenar um sistema operacional mais dinâmico e lucrativo. (CASTELLIS, 2004). Empresários, comerciários estão evoluindo em conjunto com a tecnologia e organizando-se de forma a satisfazer as necessidades dos seus semelhantes que se encontram em evolução constante.

Porém, apesar dos benefícios que a tecnologia moderna traz aos seres humanos, vem crescendo ainda, o discurso que entende que há certos riscos para a sociedade contemporânea. Conforme Bazzo e Silveira (s.d.; p. 11) o que se tem visto é que “o progresso tecnológico não tem atendido às necessidades básicas da população e sim tem servido para a promoção de interesses de poucos como estratégia do sistema capitalista.” Pensamento este que pode ser aplicado às relações laborais. Nesse sentido, Leite (2016, p. 59) afirma que

A organização centralizada, hierarquizada e fundamentada na divisão funcional do trabalho é substituída por uma estrutura descentralizada com base em projetos por resultados. A abertura de

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novos canais de comunicação estreita a relação entre unidades produtivas, favorecendo o trabalho à distância, em especial o teletrabalho.

Portanto, o ambiente laboral e principalmente o trabalhador é afetado pela acelerada evolução tecnológica, bem como pelo interesse do capital em gerar mais capital. Ou seja, ao mesmo tempo que auxilia e facilita o desenvolvimento do trabalho, a tecnologia acaba interferindo na saúde e nas relações sociais do trabalhador. Conforme destaca Leite (2016, p. 59) “A influência negativa dos novos meios tecnológicos e de comunicação no ambiente laboral e, portanto, na saúde dos trabalhadores é um dos aspectos que precisam ser considerados e estudados.”

Estudiosos das áreas que abrangem tecnologia e sociedade afirmam que atualmente, utilizando-se do progresso tecnológico os governantes não têm dado a devida prioridade aos assuntos que realmente são importantes para as pessoas. Como por exemplo “busca da promoção humana, visando melhorar a qualidade de vida da população” (BAZZO; SILVEIRA; s.d., p. 11). Estão atrelados a valores egoístas e objetivando na maioria das vezes o acúmulo de capital nas mãos de poucos, enquanto muitos sofrem com a desigualdade de tratamento e oportunidades.

Bazzo e Silveira (s.d.) afirmam que na contemporaneidade as pesquisas têm se concentrado em campos distantes das reais necessidades da sociedade. A tecnologia hoje estaria objetivando atender às necessidades de classes mais abastadas, deixando um pouco de lado uma grande parcela da sociedade que gostaria e teria sua qualidade de vida melhorada se tivesse acesso ao mundo tecnológico de serviços e inovações. A desigualdade, portanto, acentua-se. Bazzo e Silveira (s.d., p. 11) destacam que

É necessário haver uma modificação radical do lugar da ciência na sociedade, de forma a abrir as portas do mundo científico e tecnológico a toda a população e não somente a uma “elite”, vinda das classes dirigentes ou por eles selecionada, que tem tido o monopólio da ciência desde o início da civilização.

É exatamente isso: a sociedade nunca foi paritária. Sempre houve desigualdade e dificilmente isso mudará de forma plena, porém, é necessário que

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haja um esforço coletivo, que cada pessoa haja pelo coletivo e não só em prol de si mesmo. É necessário que se leve em consideração todos os problemas existentes na sociedade para que exista uma mudança social e, a tecnologia pode auxiliar nessa mudança.

Por isso, conforme Bazzo e Silveira (s.d.) existe a necessidade de que se tenha uma visão contextualizada e interativa a respeito da relação que existe entre tecnologia e sociedade, “muito especialmente, nas políticas públicas mais adequadas para gestionar as oportunidades e perigos que envolvem uma mudança tecnológica.” (BAZZO; SILVEIRA; s.d.; p.11). Ou seja, o grande pensamento que fica não é se a tecnologia é boa ou não para a sociedade, mas se ela pode melhorar o contexto em que se vive hoje através da sua evolução, influenciando e mudando o comportamento humano.

2.2 O teletrabalho na reforma trabalhista

O artigo 62 da Consolidação das Leis Trabalhistas exclui alguns tipos de trabalhadores do rol do regime de duração do trabalho. O inciso III deste mesmo artigo, o qual foi introduzido pela Lei 13.467/2017, dispõe sobre a não abrangência dos empregados em regime de teletrabalho no rol supracitado.

O teletrabalho pode ser conceituado, segundo Garcia (2018, p. 944) como a prestação de serviços “preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo." Portanto, há de se fazer uma diferenciação entre trabalho externo e teletrabalho.

O trabalho externo que é excluído do regime de duração de trabalho, seria aquele que é desenvolvido fora do estabelecimento do empregador, sendo incompatível a sua atividade com a fixação de horário certo para a sua realização. Desse modo, nota-se que são necessários dois requisitos para que se caracterize o regime de trabalho supracitado: atividade externa e incompatibilidade com a fixação de horário. Ainda, conforme o art. 62, I, da CLT, há a exigência de anotação na CTPS por parte do empregador em caso de o mesmo exercer tal trabalho, porém a

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"anotação na CTPS é requisito da prova do ato, e não de sua essência." (CASSAR, 2017, p. 659). Ou seja, se mesmo sem a anotação o patrão comprovar que há atividade externa incompatível com a fixação de horário e controle, prevalece a realidade fática e não a formal.

O novo capítulo II-A, constante no título II da CLT trata do tema teletrabalho nos seus artigos 75-A ao 75-E. "Tele" significa longe, à distância, ou seja, o teletrabalho pode ser desenvolvido "no domicílio do empregado ou em um centro de computação, um escritório virtual ou alugado por hora para este fim aos interessados, pois há uma descentralização da empresa, pulverizando a "comunidade obreira"." (CASSAR, 2017, p. 660).

Ainda, Vólia Bomfim Cassar explica que há a possibilidade de que a execução do trabalho se dê parcialmente na empresa. Então, já há a diferenciação do mesmo em relação ao trabalho externo regulado no art. 62 da CLT, que não admite a realização interna nem por tempo parcial.

Valentim (1999, p. 526) elenca três requisitos básicos para que o teletrabalho seja caracterizado:

a) utilização de novas tecnologias referentes à informática e à telecomunicação;

b) ausência ou redução do contato pessoal do trabalhador com o patrão; c) o local de prestação de serviços geralmente é a casa do trabalhador.

O primeiro ponto do qual se pode falar a respeito, quando se menciona a palavra teletrabalho, é a possibilidade de realização das atividades laborais fora da presença do empregador, utilizando "os meios telemáticos e informatizados de comando, controle e supervisão" (DELGADO, 2017, p. 137), e mesmo assim ainda residir na relação jurídica a presença da subordinação.

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divergência jurisprudencial a respeito da subordinação nas relações em que o empregado realizava o teletrabalho, mas esta divergência foi sanada e hoje já temos na legislação a figura do teletrabalhador como empregado, subordinado ao empregador. Ou seja, a relação que antes não encontrava preenchimento dos pressupostos básicos de uma relação de emprego (pessoalidade, subordinação, onerosidade e não eventualidade), hoje faz parte da legislação brasileira.

A Lei 13.467/2017 alterou muitos textos da Consolidação, dentre eles, o art. 62 já citado, inserindo os teletrabalhadores no rol daqueles em que as regras concernentes à duração do trabalho não são aplicadas. Portanto, esses empregados, que realizam suas atividades mediante teletrabalho, "laborando em contexto que torna difícil ou até mesmo inviável o controle de jornada, não recebem a incidência de regras sobre duração do trabalho, horas extras/suplementares, intervalos trabalhistas, etc." (DELGADO, 2017, p. 138)

Cassar (2017) aponta para certo subterfúgio do legislador ao excluir os teletrabalhadores do rol de duração da jornada, pois ao acrescentar o inciso III ao art. 62, estes (legisladores) fugiram da limitação imposta pelo inciso I do mesmo dispositivo, pois mesmo que controlada a jornada, o teletrabalhador não teria direito a qualquer vantagem que lhe seria devida se fosse tratado como trabalhador externo.

Acredita-se de fato, que antigamente, quando os meios tecnológicos não eram tão avançados, quando a internet não alcançava toda a população, era difícil, para não dizer impossível, mensurar e controlar a jornada de um trabalhador em domicílio. Ocorre que, hoje existem sistemas muito avançados que permitem o contato entre empregado e empregador, a qualquer hora, portanto, como denota Cassar (2017, p. 660) "Absurdo, por isso, o comando legal que exclui os teletrabalhadores de tantos benefícios pela mera presunção de que não são controlados." Ou seja, seguindo esta linha, os teletrabalhadores deveriam ter os mesmos direitos dos trabalhadores externos que têm sua jornada controlada.

Há doutrinadores como Gustavo Felipe Barbosa Garcia que defendem a ideia de que só porque o empregado realiza atividades em regime de teletrabalho, não

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