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Código de defesa do consumidor: uma novidade ainda?

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

LUIZA GRACIANE KREIN

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA NOVIDADE AINDA?

Três Passos (RS) 2019

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LUIZA GRACIANE KREIN

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA NOVIDADE AINDA?

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Etiane Barbi Köhler

Três Passos (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, motivo de maior felicidade.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus amados pais, Clair e Luiz (in memorian), minhas saudades diárias. Saudade que não tem fim. Sinto falta de vocês todos os dias, meus anjos.

Às minhas queridas irmãs, que permaneceram sempre ao meu lado. Não sei o que seria de mim sem vocês. Obrigada por sempre estarem presentes.

À minha preciosa sobrinha Elisa, meu pedacinho de amor. Obrigada por todos os sorrisos. Você é o melhor presente.

Aos meus amigos (as) e colegas agradeço pelos valiosos conselhos e conhecimentos.

À minha querida professora e orientadora Etiane Barbi Köhler, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento. Muito obrigada pelo suporte, pela compreensão e correção na orientação, que tornaram possível a conclusão desta monografia.

Agradeço a todos os professores do Curso de Direito e funcionários da Unijuí, que foram tão importantes durante minha graduação.

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento do presente trabalho. A todos vocês, minha imensa gratidão!

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"Trabalhar 10 horas por dia e abrir uma cerveja quando chega em casa, é sucesso pra você? Tá tudo bem. Passar os finais de semana estudando para concursos te faz bem, porque estabilidade é o que você almeja? Ótimo! Investir o seu dinheiro nos finais de semana com amigos, ao invés de colocar na poupança, te faz feliz? Se joga então! Trocar de carreira aos trinta faz sentido para sua vida? Que maravilha! Economizar dinheiro para viajar algumas vezes durante o ano é tua visão de sucesso? Tá tudo certo! Quer casar e ter filhos ou prefere adotar 4 cachorros e morar sozinho? Beleza para ambos! O problema é que as pessoas querem impor uma felicidade pra nós como se a felicidade fosse uma fórmula mágica. Esqueça! O que é ser feliz para mim, pode não ser para você. Cada um é feliz da sua maneira. Bem sucedido é estar em paz com o que você escolhe!” Autor desconhecido

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O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo analisar as bases e os fundamentos da Lei nº 8.078/90, isto é, o Código de Defesa do Consumidor (CDC), que surgiu para amenizar a desigualdade existente nas relações de consumo. O Código de Defesa do Consumidor é considerado uma das leis mais avançadas e inovadoras em vigência no Brasil e desempenha um papel muito importante quando a questão é assegurar ao consumidor os seus direitos. Sendo assim, analisa-se a referida lei, procurando-se demonstrar a importância e a influência que o Código de Defesa do Consumidor representa na vida das pessoas. Também, traz suas definições, origem e evolução do Código de Defesa do Consumidor, princípios norteadores e órgãos de defesa existentes. Verifica a causa do problema do desconhecimento da lei e da falta de obediência aos ditames legais. Ainda, certifica que o consumidor, ao ter conhecimento de seus direitos e deveres, contribuirá para uma sociedade mais justa, ética e equilibrada.

Palavras-Chave: Consumidor. Código de Defesa do Consumidor. Efetividade da tutela.

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This monography, has the purpose to assay the bases and foundations of Law Nº. 8.078/90, that is, the Consumer Defense Code (CDC), which has appeared to mitigate the inequality in the consumer relationship. The Consumer Defense Code is one of the most applied and innovative laws in Brazil and is a very important role when it comes to ensure the consumers of their rights. Therefore, it analyzes the law to demonstrate the importance and influence that the Consumer Defense Code represents in people's lives. It is also useful to obtain the origins and evolution of the Consumer Defense Code, guiding the principles and the organs of consumer defense. It verifies the cause of the lack of adequate knowledge about law and the issue of obedience to the legal dictates. Also, certifying the consumer, having knowledge of their rights and duties, will contribute to a more just, ethical and balanced society.

Keywords: Consumer. Consumer Defense Code. Effectiveness of judicial protection.

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INTRODUÇÃO ... 08

1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ... 10

1.1 Fundamentos constitucionais e tutela do consumidor ... 10

1.2 Origem e evolução da tutela consumerista ... 13

1.3 Definições de Consumidor e Fornecedor ... 16

1.4 Princípios da tutela consumerista ... 18

2 VINTE E TANTOS ANOS DE CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ... 26

2.1 O Direito do Consumidor no Brasil após vinte e tantos anos de edição do CDC ... 26

2.2 Políticas Públicas e defesa do consumidor ... 30

2.3 Os Órgãos de Defesa do Consumidor ... 34

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade capitalista, a qual está baseada no consumo. É este consumo que faz a economia girar, movimentando pessoas, gerando empregos, renda, novas oportunidades. Tudo isso em um ciclo vicioso. Além disso, é possível traçar um perfil de cada indivíduo a partir dos produtos e serviços que ele consome, o que mostra o quanto o que consumimos impacta em nossa maneira de ser e de viver.

O presente trabalho apresenta um estudo acerca do Código de Defesa do Consumidor, analisando suas bases e fundamentos. Aborda a proteção conferida ao consumidor e a efetividade da tutela legal.

Sabe-se que consumidor é a parte vulnerável na relação de consumo, aceita imposição dos fornecedores muitas vezes por não conhecer seus direitos, noutras vezes, pode até ter consciência dos seus direitos, porém não possui o costume de reclamar e exigir o cumprimento da lei. Consequentemente, possui uma desvantagem técnica e jurídica em face do fornecedor. As questões que se colocam são: É necessária a especialização normativa para o regramento dos negócios de consumo? Nosso Código de Defesa do Consumidor tem sido eficaz na tutela do consumidor? O consumidor tem conhecimento de seus direitos e deveres?

Sendo assim, no primeiro capítulo do presente trabalho, faz-se a análise do Código de Defesa do Consumidor, trazendo os seus fundamentos constitucionais, a origem e evolução da legislação consumerista. Posteriormente, define Consumidor e Fornecedor e, por fim, apresenta os princípios que orientam a tutela consumerista.

Por conseguinte, no segundo e último capítulo, elenca aspectos significativos após vinte e tantos anos do Código de Defesa do Consumidor, sua evolução até os dias atuais.

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Além disso, estabelece questões relacionadas às Políticas Públicas e a Defesa do Consumidor. Ainda, evidencia quais são os Órgãos de Defesa do Consumidor.

Quanto à metodologia empregada, foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, sempre buscando enriquecer ao máximo a coleta de informações.

A partir desse estudo se verifica que o Código de Defesa do Consumidor evoluiu muito até hoje. O intuito é contribuir na conscientização do consumidor quanto aos seus direitos e na busca pela proteção da coletividade, que é o mais importante passo rumo ao equilíbrio nas relações de consumo. Inúmeras pessoas não possuem conhecimento de seus direitos, porém, conhecer os próprios direitos é fundamental para fazer escolhas conscientes. É de extrema importância o seu conhecimento por todos os cidadãos.

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1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Desde quando o homem começou a conviver em sociedade existe a preocupação com a proteção consumerista. Isso porque a defesa do consumidor é princípio que deve ser seguido pelo Estado e pela sociedade, para assim se atingir uma justiça social. O chamado direito do consumidor é uma disciplina transversal entre o direito privado e o direito público, que visa tutelar o consumidor, sujeito de direitos, em todas as suas relações jurídicas frente ao fornecedor. Com vistas nisso, que neste primeiro capítulo do trabalho que trata do Código de Defesa do Consumidor, serão analisados os fundamentos constitucionais para a respectiva tutela, a origem e evolução da norma consumerista, as definições atribuídas aos sujeitos envolvidos e os princípios que orientam a tutela estabelecida.

A importância do Código de Defesa do Consumidor está em ser um instrumento extraordinário na concretização da cidadania e da justiça social, sendo de utilidade ímpar para a sociedade brasileira, posto que pretende realizar uma tutela efetiva e integral do consumidor, através da disciplina de todas as facetas da relação de consumo, tanto as que dizem respeito à produção e circulação dos bens e serviços, quanto ao crédito e o marketing. A tutela protetiva do consumidor tem, antes de tudo, um viés Constitucional, apresentando-se como um dos direitos e garantias fundamentais na Carta Constitucional de 1988.

1.1 Fundamentos Constitucionais e tutela do consumidor

A Constituição Federal de 1988 representou o fundamento para a codificação tutelar dos consumidores no Brasil.De referir que a violação dos direitos do consumidor também é uma violação dos direitos humanos, já que um é expressão do outro. O direito do consumidor é, assim, integrante dos direitos humanos fundamentais e por isso, dignos de proteção.

O texto constitucional, ao cuidar dos direitos e garantias fundamentais, estabelece, em seu artigo 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Assim, fica clara a relevância no ordenamento jurídico do direito dos consumidores, juntamente com os direitos humanos, que tem na Declaração Universal dos Direitos Humanos, seu marco histórico, como apontado por Lacerda:

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No tocante aos direitos humanos, o marco histórico que é reconhecido pelo s estudiosos do assunto é, sem sombra de dúvida, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada do ano de 1948, que proclamou a existência e a necessidade de respeito a tais direitos, os quais são imprescindíveis à convivê ncia pacífica dos seres humanos. (2013, p. 84).

Edmundo Vieira de Lacerda (2013, p. 87), refere que:

Com o direito do consumidor integrando o rol dos direitos fundamentais, sendo expressão dos direitos humanos, o Estado Democrático de Direito deve assegurar e proteger tais direitos, garantindo-os a todos de forma igualitária , o que existe no ordenamento jurídico brasileiro, devidamente assegurado na Constituição Federal de 1988, na Lei nº 8.078/90 e na legislação complementar, na qual o legislador brasileiro, compreendendo que a violação aos direitos dos consumidores é uma violação aos direitos humanos, tratou de assegurar e dar proteção a tais direitos.

Segundo Benjamin, Marques e Bessa,

O direito do consumidor seria, assim, o conjunto de normas e princípios especiais que visam cumprir com este triplo mandamento constitucional: 1) de promover a defesa dos consumidores (art. 5.º, XXXII, da Constituição Federal de 1988: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”); 2) de observar e assegurar como princípio geral da atividade econômica, como princípio imperativo da ordem econômica constitucional, a necessária “defesa” do sujeito de direitos “consumidor” (art. 170 da Constituição Federal de 1988: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V – defesa do consumidor; (...)”; e 3) de sistematizar e ordenar esta tutela especial infraconstitucionalmente através de um Código (microcodificação), que reúna e organize as normas tutelares, de direito privado e público, com base na idéia de proteção do sujeito de direitos (e não da relação de consumo ou do mercado de consumo), um código de proteção e defesa do “consumidor” (art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor”. (2008, p. 25).

A consideração do consumidor como parte vulnerável da relação de consumo e, portanto, carente de tutela legal, tem origem no favor debilis, princípio que reconhece que, em

determinada relação jurídica, em uma cadeia de produção, que podemos chamar também de cadeia de consumo, existe uma parte que será mais forte e outra que será mais fraca. Em relação à evolução do princípio favor debilis até o princípio de proteção do consumidor. Segundo Benjamin, Marques, Bessa (2008, p. 30):

Se o eixo-central do novo direito privado é a Constituição e sua axiologia, que inclui a proteção dos consumidores, é possível explicar o direito do consumidor também apenas pela evolução e relativização dos dogmas do próprio direito privado, tais como a autonomia de vontade, o contrato, os poderes do crédito e o pacta sunt

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servanda. Este segundo caminho, filosoficamente, baseia-se na evolução das ideias básicas da Revolução Francesa (metanarrativas ou mitos) para uma sociedade burguesa e capitalista ou de mercado, como a sociedade de consumo, ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.

Portanto, foi o favor debilis, que deu início a evolução em direção à identificação de pessoas consideradas como vulneráveis bem assim à proteção do consumidor. Por conseguinte, foram as mudanças sociais e econômicas nos mercados de produção, distribuição e de consumo que levaram à regulação especial do consumo, devido sua força e importância. Ou seja, “foram as mudanças profundas em nossa sociedade de informação que exigiram um direito privado novo, a incluir regras especiais de proteção dos consumidores” (BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2008, p. 38).

A promulgação da Lei nº 8.078/90, designada como Código de Defesa do Consumidor – CDC, foi assim o resultado do cumprimento do mandamento constitucional, estando baseada no princípio do protecionismo do consumidor, a qual prevê formas de defesa da parte considerada mais fraca, ou seja, a parte vulnerável e muitas vezes hipossuficiente na relação de consumo, que é o consumidor.

O Direito do Consumidor tem por objetivo, assim, assegurar que os consumidores obtenham acesso a informações quanto à origem e qualidade dos produtos e serviços; assegurar proteção contra fraudes no mercado de consumo; garantir transparência e segurança para os usuários dos bens e serviços e harmonizar as relações de consumo por meio da intervenção jurisdicional. Também assegura que o consumidor possa recorrer ao Judiciário para a prevenção e reparação de danos patrimoniais decorrentes na falha no fornecimento de bens e prestação de serviços.

A tutela do consumidor justifica-se pela necessidade de coibir os abusos contra a concorrência desleal nas práticas comerciais; racionalizar e melhorar os serviços públicos; e, atender à dinâmica das relações de consumo, harmonizando os interesses dos participantes desta relação. A necessidade de defesa do consumidor tem gerado um crescente aumento de órgãos que possibilitam a solução das demandas e prevenção dos litígios consumeristas, a exemplo dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, das Promotorias de Proteção ao Consumidor, das delegacias especializadas na investigação de crimes contra as relações de consumo, da Assistência judiciária, e das Associações de consumidores.

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O Código de Defesa do Consumidor é considerado uma das leis mais avançadas e inovadoras em vigência no Brasil e desempenha um papel muito importante quando a questão é assegurar o consumidor de seus direitos. Ao tratar da defesa e proteção do Consumidor, O Código de Defesa do Consumidor protege o consumidor, ou seja, a pessoa humana.

O consumidor, na busca da proteção do direito pretendido ou ameaçado, deve fundamentar a sua pretensão na legislação vigente, partindo da Constituição Federal de 1988, até a legislação ordinária, especificamente Lei nº 8.078/90 e Lei nº 9.099/95, optando pelo procedimento adequado e postulando junto ao Poder Judiciário competente o que de direito, dispondo de amparo nas decisões reiteradas dos Tribunais, nas jurisprudências. Entretanto, se assim não o fizer, provavelmente não alcançará efetividade naquilo que pretende.

1.2 Origem e evolução da tutela consumerista

A defesa do consumidor no Brasil se desenvolveu a partir da década de 1960, quando foi reconhecida a vulnerabilidade do consumidor e sua importância nas relações comerciais nos Estados Unidos.

Em 15 de março de 1962, em mensagem ao Congresso Nacional estadunidense, o então presidente John F. Kennedy reconheceu o caráter universal da proteção dos direitos dos consumidores, tais como o direito à segurança, à informação e de escolha. Por esse motivo, no dia 15 de março é comemorado o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor.

A proteção legal que dispõe a relação estabelecida entre fornecedor e consumidor tem registros desde o Código de Hamurabi, pois já se percebia a preocupação em garantir-se a proteção no que concernia à garantir-segurança, à saúde e a qualidade de garantir-serviços prestados. “No Brasil, a história do direito do consumidor remonta à década de 1970, época em que foram criadas algumas entidades, associações civis e órgãos governamentais que tinham o intuito de lutar pela defesa e proteção dos direitos dos consumidores”. (LACERDA, 2013, p. 82).

Uma das primeiras legislações consumeristas de que se tem notícia é o Código Ur-Nammu, de cerca de 2040 a.C., que surgiu na Suméria, região da Mesopotâmia, onde fica

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atualmente o Iraque. Tal Código foi descoberto em 1952 e descreve costumes antigos transformados em lei e inclusive penas pecuniárias para delitos. Também há o Código que foi influência na legislação de Hamurabi, o Código de Lipit-Ishtar, de cerca de 200 anos antes do Código de Hamurabi.

Relata Oliveira que

Na Europa medieval, especialmente em França e Espanha, havia a previsão de penas vexatórias para os adulteradores de substâncias alimentícias, sobretudo a manteiga e o vinho. Em 1481, o Rei Luís XI da França baixou um edito que punia com banho escaldante quem vendesse manteiga com pedra no seu interior para aumentar o peso, ou leite com água para aumentar o volume do produto. (2014, p.105).

Infelizmente, nos dias atuais ainda podemos observar a todo momento práticas mercadológicas parecidas às mencionadas em tal citação.

No decorrer da história, as interpretações da palavra consumo tiveram variações, tendo hoje um conceito fundamental na sociedade. É um dos principais aspectos de políticas econômicas de governos.

O Código de Hamurabi, entretanto, é o mais lembrado quando se pensa em história da legislação. É um conjunto de leis talhadas em uma rocha de diorito de 2,25 metros de altura. A famosa Lei de Talião, expressa por “olho por olho, dente por dente”, que consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, foi incorporada no Código de Hamurabi. Em seu texto encontra-se uma proteção ao consumidor.

Ocorre que a tecnologia de produção das fábricas sofreu um impacto a partir da revolução industrial (século XVIII), alterando todas as relações econômicas e sociais. A produção, antes da revolução industrial, era artesanal e manual (manufatura) e existia o emprego de poucas máquinas, porém nada parecido com o que ocorreu após a revolução. Posteriormente a revolução, surge a sociedade de massas ou consumo de massas. Os produtos começaram a ser produzidos em larga escala. Com a chegada dos meios tecnológicos, a chamada sociedade de massas aumentou ainda mais sua complexidade. Os meios tecnológicos, como os computadores, por exemplo, viabilizaram operações em questão de segundos, enquanto um ser humano levaria horas para realizá-las.

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É exatamente essa sociedade de massas que se tem nos dias atuais, os produtos são produzidos em grandes quantidades para assim atender um mercado de consumo interessado pelos seus serviços. É comum vermos notícias e fotos de filas nas portas das lojas para a aquisição de um novo produto ou serviço. Em contrapartida, estão cada vez mais agressivas as campanhas publicitárias e de marketing, tornando as formas de atrair o consumidor invasivas.

Durante séculos as pessoas consumiam somente para satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, vestuário, produtos agrícolas e remédios. Não havia produção em série, estoque ou grandes pontos de vendas, os produtos eram feitos de forma artesanal e em pouca quantidade. No Brasil a situação não era diferente, até as primeiras décadas do século XIV muitos produtos eram feitos apenas por encomendas. As mudanças em relação ao consumo começaram com a vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808. Nossos portos foram abertos para o progresso e chegavam desde alimentos, vestuário, objetos, especiarias da Europa e principalmente da Índia. (MIRANDA, 2008).

Dessa forma, pela facilidade de produção e acesso a esses bens, esse tipo de comportamento se intensificam. É nesse momento que surge um personagem de enorme relevância, o consumidor. O primeiro órgão de defesa do consumidor - Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon) – foi criado em 1978, introduzido pela Lei nº 1.903, de 1978. Em 1985, foi criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor – Decreto nº 91.469) – que foi substituído pela Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (SNDE).

Apesar das dificuldades enfrentadas, com o passar dos anos o movimento em favor do consumidor brasileiro foi tomando rumos bem definidos, sendo consolidado com a elaboração da Constituição Federal de 1988, que, de forma expressa, trouxe em seu texto a possibilidade de elaboração de uma legislação ordinária federal especial para proteção de tais direitos. Foi então através da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que foi instituído o Código de Defesa do Consumidor – CDC, disciplinando, de forma ordinária, a proteção e defesa do consumidor brasileiro.

Apesar da criação de uma legislação consumerista tardia em relação aos países desenvolvidos, o Código de Defesa do Consumidor é considerado, por muitos, uma das legislações mais modernas do nosso ordenamento jurídico, tendo influenciado sobremaneira o direito privado no Brasil. (OLIVEIRA, 2014, p. 114).

O Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor a partir de 11 de março de 1991. Trouxe em seu texto todos os aspectos referentes à defesa e proteção dos interesses dos

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consumidores nas relações de consumo, viabilizando a defesa e proteção de tais direitos, dotando o país no trato das relações de consumo, por meio de uma política de consumo que efetivamente protegessem o consumidor, a pessoa humana.

1.3 Definições de Consumidor e Fornecedor

As relações de consumo se estabelecem entre fornecedor e consumidor, sendo que na lógica do mercado, o consumidor sempre será a parte vulnerável desta relação. Para a caracterização de um contrato de consumo, é necessário que se tenha uma relação jurídica envolvendo um fornecedor de produtos ou serviços, e do outro lado, o consumidor.

Acerca da definição de consumidor, temos dois sentidos diversos, um, econômico e outro jurídico. Para o sentido econômico, que é uma concepção mais ampla e genérica, pois todas as pessoas se tornam consumidoras para sua própria subsistência, o consumidor é quem adquire bens ou serviços e que movimenta toda a economia. Já para o sentido jurídico comporta diversas interpretações e sua compreensão é fundamental para a correta aplicação legal aos contratos celebrados. Podemos encontrar uma definição de consumidor, no sentido jurídico, na Lei nº 8.078/90, em seu artigo 2º, o qual descreve “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”. Aqui surge a dúvida e real definição do que se entende por destinatário final de produtos e serviços.

Conforme o que se entende por destinatário final, a interpretação divide-se entre a corrente maximalista e a corrente finalista.

A corrente maximalista tem como justificativa aumentar o campo de abrangência do Código de Defesa do Consumidor, englobando o maior número de hipóteses possível como aquele de consumidor final, justamente para que com isso se atinja o verdadeiro escopo da lei, que não é a redução, mas sim a ampliação desse tipo de proteção. Nesse sentido, identifica essa corrente como consumidor a pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou utiliza o serviço na condição de destinatário final, não importando se haverá uso particular ou profissional do bem, tampouco se terá ou não a finalidade de lucro, desde que não haja repasse ou reutilização do mesmo. (BRAGA, 2012, p. 64).

Dessa forma, para a corrente maximalista deve ser dada uma interpretação mais ampla à expressão “destinatário final”, uma vez que a Lei nº 8.078/90 tem por objetivo regular o

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mercado de consumo e não apenas proteger o consumidor não profissional. O enquadramento do adquirente do produto ou do serviço como consumidor deve ser o mais amplo possível, para abranger todos aqueles que consomem, ou seja, transformam o produto ou serviço adquirido, ainda que essa transformação ocorra visando a sua recolocação no mercado.

Outrossim, segundo Daniel Longo Braga (2012, p. 64),

A corrente finalista identifica como consumidor a pessoa física ou jurídica que retira definitivamente de circulação o produto ou serviço do mercado, utilizando o serviço para suprir uma necessidade ou satisfação pessoal, e não para o desenvolvimento de outra atividade de cunho profissional. Nessa teoria, não se admite que a aquisição ou a utilização de produto ou serviço propicie a continuidade da atividade econômica. Em outras palavras, significa dizer que o bem é adquirido para uso livre e desimpedido de lazer, de fruição. Para essa corrente, apenas a título de exemplo, o aparelho de ar-condicionado instalado em sala de espera de um escritório de advocacia não é bem de consumo, pois utilizado com o intuito de manter o ambiente mais aconchegante para seus consumidores. Aqui, adota-se o conceito econômico de consumidor, exigindo a destinação econômica final do produto ou serviço, que não poderá ser revendido nem utilizado na produção profissional do adquirente. O bem é transformado ou utilizado para oferecê-lo ao cliente consumidor do produto ou serviço que você oferece. (BRAGA, 2012, p. 64).

Vê-se, pois, que para os finalistas, em princípio, deveria ser dada a interpretação mais restrita à expressão destinatário final, assim, só seriam destinatários finais aqueles que não utilizassem, de forma alguma, o bem na sua atividade. Porém, o pensamento dos finalistas evoluiu, passando a admitir como consumidores aqueles que não exploram economicamente o bem adquirido. No atual estágio da corrente finalista, o que importa é saber se o produto ou serviço adquirido é absolutamente indispensável à atividade desenvolvida.

Quanto aos fornecedores, o Código de Defesa do Consumidor traz definição expressa em seu artigo 3º, ao estabelecer que “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.

Consequentemente, essas definições são essenciais para a correta compreensão do Código de Defesa do Consumidor. Assimilando as definições é possível identificar, de fato, quando estamos ou não diante de um contrato de consumo.

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O sistema erguido pelo Código de Defesa do Consumidor, seguindo o próprio comando Constitucional, visa amplamente a proteção do consumidor. É importante, todavia, nos atentarmos para o fato de que isso não significa o império do consumidor em detrimento do fornecedor, mas apenas uma melhor regulamentação do mercado de consumo e das relações econômicas mantidas entre esses tipos especiais de contratantes, além da própria economia, haja vista serem os consumidores os principais responsáveis pela circulação de bens e serviços.

Deste modo é possível haver o reconhecimento da vulnerabilidade e hipossuficiência do consumidor perante os fornecedores, sendo então possível a aplicação do rol de princípios que fundam o Direito do Consumidor.

1.4 Princípios da tutela consumerista

O direito do consumidor é dotado de uma base principiológica que visa à correta interpretação, compreensão e aplicação das regras previstas no Código de Defesa do Consumidor e que incidem sobre as relações jurídicas de consumo.

Na busca de soluções mais rápidas para casos concretos, segundo Silva (2003, p. 63), “as técnicas legislativas passaram a fundamentar-se em princípios, meio julgado mais célere e adequado para a solução de lides modernas, dada a complexidade de sua natureza” (grifo do autor).

Neste sentido, a Constituição Federal de 1988, ao tempo em que funda a tutela do consumidor, estabelece princípios que impactam na mesma.O CDC, por sua vez, em seu art. 4º, impõe o atendimento de certos princípios que visam não apenas atender as necessidades dos consumidores e respeito a sua dignidade, de sua saúde e segurança, proteção de seus interesses econômicos, melhoria de sua qualidade de vida, como também a imprescindível harmonia das relações de consumo.

De mencionar que o que faz com que o Código de Defesa do Consumidor seja um sistema de normas eficiente são os princípios em que ele se funda aos quais decorrem diretamente da Constituição e de suas normas. A observância dos princípios consumeristas pode ser uma poderosa ferramenta para a proteção dos consumidores, a fim de que possa o Direito acompanhar a constante mudança do capitalismo.

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Passemos então, a análise de cada um dos princípios que orientam e sustentam a tutela do consumidor.

O primeiro deles é o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Tal princípio possui ligação com Direito do Consumidor, no que tange a efetividade das normas consumeristas como fatos de inclusão social e como garantia do acesso aos produtos e serviços considerados essenciais a existência digna de todo e qualquer ser humano. A defesa dos consumidores e a tutela de seus interesses nada mais são do que uma das fases da defesa da dignidade da pessoa humana. Segundo o artigo 1º, inciso III da Constituição Federal de 1988:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;

Na sociedade capitalista e globalizada em que vivemos, o consumo se tornou uma máxima de existência digna do ser humano, ou seja, sendo ativo no mercado de consumo. A pessoa existe como cidadão que produz economicamente e que possui bens a serem respeitados. Desse modo, o artigo 170, inciso V da Constituição Federal estabelece que:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

V - defesa do consumidor;

Também, o artigo 5º da Constituição Federal,

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Sendo assim, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana demonstra o dever de observar, em relação ao consumidor, a dignidade da pessoa humana, bem como o direito a vida, a privacidade, honra e imagem.

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Como segundo princípio a abordar, temos o Princípio da Vulnerabilidade, que implica no reconhecimento da fragilidade do consumidor. Este princípio tem reflexo direto no campo de aplicação do CDC, ou seja, ele determina quais relações contratuais estarão sob a égide desta lei e de seu sistema de combate ao abuso. Neste sentido, dispõe o CDC:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

De ressaltar que a vulnerabilidade não se confunde com a hipossuficiência. A hipossuficiência é uma marca pessoal, limitada a alguns, até mesmo a uma coletividade, mas nunca a todos os consumidores. Já a vulnerabilidade abrange todos os consumidores.

O terceiro deles é o Princípio da Hipossuficiência do Consumidor. Muitas vezes o consumidor não tem como demonstrar o nexo de causalidade para a fixação da responsabilidade do fornecedor, já que este é quem possui aintegralidade das informações e o conhecimento técnico do produto ou serviço defeituoso.

Sendo assim, o conceito de hipossuficiência é muito amplo, devendo ser apreciado pelo aplicador do direito caso a caso, no sentido de reconhecer a disparidade técnica ou informacional, diante de uma situação de desconhecimento. Reconhecer a hipossuficiência na relação consumerista propicia ao consumidor o exercício da ampla defesa, em prol de promover o reequilíbrio.

O quarto princípio é o Princípio do Equilíbrio. O reconhecimento da vulnerabilidade

do consumidor e o caráter desigual com que este se relaciona com o fornecedor, ressaltaram a importância do princípio do equilíbrio do direito nas relações de consumo, consolidando o princípio da isonomia constitucional. É previsto no artigo 5º, caput, da Constituição Federal, onde “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

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Tendo como fundamento para a criação do Código de Defesa do Consumidor, esse princípio, também chamado de Princípio da Equidade, busca a igualdade, uma vez que diante do fornecedor, o consumidor é vulnerável. Assim, a busca por uma igualdade deve sempre nortear o legislador e o magistrado no momento de interpretá-las e aplica-las. Pode-se dizer Princípio do Equilíbrio ou Princípio da Igualdade.

O artigo 4º, III, cita o equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores:

Art. 4º [...]:

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

Destarte, as partes na relação de consumo, fornecedor e consumidor, devem estar no mesmo patamar, com “paridade de armas”: de um lado o fornecedor com seu poderio econômico, jurídico e técnico, e do outro lado o consumidor amparado com os princípios, normas e prerrogativas oferecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. Dessa maneira, as disposições que ponham em desequilíbrio e em situação de inferioridade o consumidor são nulas, conforme dispõe o artigo 51 do CDC.

O Princípio da Boa-fé Objetiva, também encontrado no inciso III do artigo 4º do CDC, antes transcrito, é uma regra de conduta que cria no contratante a expectativa de que seu parceiro contratual se paute por padrões éticos de comportamento. Trata-se de cláusula geral que será implementada no caso concreto pelo julgador, de acordo com a natureza e peculiaridades do negócio celebrado e das partes envolvidas.

Tal princípio encontra positivação também no artigo 422 do Código Civil, ondese lê “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. A boa-fé objetiva é uma via de mão dupla, ou seja, deve ser observada tanto pelo fornecedor quanto pelo consumidor. Refere-se a cláusula implícita em todo e qualquer contrato a ser celebrado e exerce três funções no ordenamento jurídico: limitar o abuso do direito (art. 187 do CC e art. 39 do CDC); interpretar e integrar o contrato (art. 112 e 113, ambos do CC e art. 47 do CDC) e criação de deveres anexos (dever de lealdade, de cooperação, de transparência e da devida e adequada informação).

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Portanto, o princípio da boa-fé objetiva busca o equilíbrio contratual, da justiça contratual, que somente será alcançada se o consumidor, vulnerável por natureza, for devidamente tutelado e protegido.

O sexto princípio a tratar é o Princípio da Harmonia, que está relacionado à tranquilidade entre consumidores e fornecedores, ou seja, sem conflitos. É elencado no Código de Defesa do Consumidor, artigo 4º, inciso III, já transcrito. O Principio da Harmonização consiste em uma soma do Princípio do Equilíbrio com o Princípio da Boa-fé.

Como sétimo princípio a apresentar, temos o Princípio da Publicidade. A publicidade

é tida como influenciadora na aquisição de bens e serviços. Existe uma notória desproporção de forças entre fornecedor e consumidor nas relações efetivadas cotidianamente no mercado.

Trata-se de uma forma de comunicação social. Em toda publicidade há uma mensagem, um emissor que tem como objetivo alcançar um conjunto de receptores, transmitir-lhes uma ideia, incentiva-los a um determinado comportamento, como comprar um bem ou utilizar-se de certo serviço. A publicidade é uma modalidade de marketing que aproxima os consumidores dos produtos e serviços ofertados pelos fornecedores, nascendo como meio de informação. Porém, com o passar do tempo, passou a ter principalmente a característica da persuasão, estimulando o consumidor a comprar.

O Código de Defesa do Consumidor não obriga o fornecedor a anunciar seus produtos ou serviços, entretanto, estabelece o dever de informar, conforme dispõe o art. 31:

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével. (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009).

Portanto, a publicidade não é um dever imposto ao fornecedor, mas um direito exercitável à sua conta e risco. O uso da publicidade exige respeito aos princípios do Código

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de Proteção e Defesa do Consumidor, observando-se o necessário preenchimento de alguns requisitos legais.

O Princípio da Transparência, por sua vez, é como um dos pilares da boa-fé objetiva. Impõe o dever de o fornecedor informar, necessariamente, de modo adequado o consumidor, completando assim todas as informações essenciais para o melhor aperfeiçoamento da relação de consumo. O objetivo é garantir a livre escolha do consumidor ao contratar o fornecedor.

Também o Princípio da Facilitação da Defesa, sendo que é garantido ao consumidor a facilitação dos meios de defesa de seus direitos, pelo motivo que este tem maior dificuldade para exercitar seus direitos e comprovar situações, às vezes por falta de técnicas, materiais, processuais, fáticas ou mesmo intelectuais.

Dessa forma, um dos meios de facilitação de defesa é a inversão do ônus da prova. Difere-se da relação de direito civil em que a prova incube a quem o alega. Na relação de consumo, o consumidor reclama em juízo, e o fornecedor deverá provar em contrario.

O décimo princípio é o da Intervenção Estatal. Previsto no artigo 4º, II, CDC, juntamente com o artigo 5º, XXXII e 170 da Constituição Federal – CF, determina que o Estado deve promover a defesa do consumidor. Senão vejamos:

Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

De acordo com esse princípio, o Estado tem obrigação de atuar nas relações de consumo com a finalidade de proteger a parte mais fraca, isto é, o consumidor, objetivando garantir o respeito aos interesses consumeristas. A participação do Estado é imprescindível para que haja o equilíbrio de condições entre fornecedor e o consumidor. Tal participação se dá por meio legislativo e administrativo. Deve atuar inicialmente na elaboração de normas

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que atendam ao interesse da coletividade e posteriormente na entrega da efetiva prestação jurisdicional.

Com o objetivo de efetivar os direitos dos consumidores, o Estado deve atuar diretamente, utilizando de seu poder de polícia, ou indiretamente, por meio de políticas governamentais. Neste sentido, esta obrigação governamental não será intervenção estatal pura e simplesmente para inviabilizar a relação entre as partes, mas, para instigar o respeito e consideração contratual, no sentido de equivalência das partes. Verifica-se que o Estado tem obrigação de, mediante ação direta ou indireta, proteger os interesses dos consumidores, bem como garantir a efetividade dos direitos desses. A necessidade da intervenção governamental se dá em virtude de o consumidor ser, reconhecidamente, a parte mais fraca da relação jurídica de consumo.

Do mesmo modo, pode-se falar aqui a respeito do Princípio da Proteção que possui o mesmo significado. Cabe ao Estado o dever de proteger o consumidor, devido à condição de desigualdade existente nas relações de consumo.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Sendo assim, as normas do consumidor deverão ser aplicadas para equilibrar tais relações, estabelecendo a igualdade entre as partes.

Ainda, o Princípio da Revisão das Cláusulas Contratuais. Por ele, toda vez que um contrato de consumo acarretar prestações desproporcionais, o consumidor tem o direito à modificação das cláusulas contratuais para estabelecer e restabelecer, a proporcionalidade e o direito a revisão de fatos supervenientes que tornem as prestações excessivamente onerosas.

Por fim, o décimo segundo e derradeiro princípio a apresentar, é o Princípio da Conservação dos Contratos. O objetivo do Código de Defesa do Consumidor é apenas conservar os contratos, para tanto, havendo desproporcionalidade ou onerosidade excessiva, devem ser feitas modificações ou revisões com o intuito de sua manutenção, assim, a

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extinção contratual é em ultima hipótese quando não houver outra possibilidade de adimplir com as obrigações, ocorrendo ônus excessivo a qualquer das partes.

Os princípios, por sua vez são normas dotadas de alto grau de abstração e alta carga valorativa, regendo todo o sistema jurídico. A dinâmica de aplicação dos princípios é diferente da observada nas regras, pois havendo conflito entre princípios, um não excluirá o outro; apenas afastará sua incidência a fim de regular determinado caso concreto. Isso importa em dizer que um princípio apenas preponderará sobre o outro, sem, contudo, anulá -lo.

Assim, o CDC adotou os princípios apresentados acima, na busca de proteger o consumidor caracterizado como hipossuficiente, colocando-o em posição de equilíbrio com o fornecedor. São formas de proteção das relações de consumo, sendo amplos e efetivamente asseguram os direitos do consumidor.

Portanto, cabe ao consumidor invocar tais princípios como forma de proteção das relações de consumo, pois eles efetivam e garantem os direitos que lhe são assegurados por lei, eis que o alcance da plenitude nas relações de consumo tornasse não só evidente, como também necessário, com a conjugação dos princípios adotados pelo CDC.

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2 VINTE E TANTOS ANOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

O Brasil, no dia 11 de setembro do corrente ano, completará vinte e nove anos de promulgação do Código de Defesa do Consumidor, a Lei Federal nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, que veio regulamentar o artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição Federal de 1988, e diz: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.

O Código de Defesa do Consumidor é considerado uma das leis mais avançadas do mundo. Com efeito, a criação do Código de Defesa do Consumidor mudou a postura do cidadão, do consumidor, que passou a ser mais exigente e questionar os seus direitos. Na relação consumidor e empresa, a satisfação do consumidor faz com que o mesmo continue consumindo, o que é bom para todos. O consumo, desde que feito de forma consciente, faz a economia interna crescer, melhora a oferta de crédito e faz surgir novas empresas, gerando novos empregos e concorrência saudável.

Contudo, não podemos dizer que o CDC cumpre toda a sua função, visto que muitos consumidores ainda não conhecem o Código ou não realizam as reclamações necessárias para que os fornecedores de produtos e serviços sejam repreendidas no caso de atuação que atente contra os direitos do consumidor. É com esta ideia que neste segundo capítulo da monografia, será analisada a situação do CDC após vinte e tantos anos de sua edição, a necessidade de políticas públicas que tornem efetivas suas disposições e o papel dos órgãos de defesa do consumidor nisso.

2.1 O Direito do Consumidor no Brasil após vinte e tantos anos da edição do CDC

Em vigor desde 11 de março de 1991, a dinâmica do mercado de consumo no Brasil sofreu uma revolução sem precedentes.

Há 28 anos essa legislação visa atender as necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria de sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo.

O DataSenado entrevistou mais de mil pessoas de 119 municípios brasileiros e as opiniões colhidas mostraram que o consumidor brasileiro está mais consciente dos seus direitos e reconhece avanços nas leis que os garantem. De acordo com o

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levantamento, a maioria das pessoas, ao sair às compras, sabe da existência de uma legislação específica para proteger o cidadão dos abusos cometidos por empresas e prestadores de serviços: 84% dos entrevistados já ouviram falar no Código de Defesa do Consumidor e 98% conhecem a existência do Programa de Orientação e Defesa do Consumidor (Procon). (AGÊNCIA SENADO, 2010).

Desde a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, muitos avanços foram obtidos. Até os dias atuais, a sociedade consumerista passou por uma verdadeira revolução em termos de relações de consumo, e, sem dúvida, há muito a comemorar, pois antes da Lei nem mesmo era necessário informar o prazo de validade nos produtos.

Como já dito, as relações de consumo pressupõem a existência de um fornecedor, que é aquele indivíduo ou organização que se dispõe a fornecer um produto ou serviço, e um consumidor, o tomador da oferta sob as condições previstas pelo fornecedor. Contudo, essas relações se multiplicaram e ficaram mais complexas na sociedade pós-industrial, em especial por conta dos avanços do capitalismo.

Se o CDC foi uma legislação muito avançada para a época, mais de duas décadas e meia depois continua moderno, capaz de influenciar o mercado, através dos empresários e trabalhadores em toda a cadeia produtiva, assim como os consumidores finais, demandando grandes debates e reflexões por parte dos operadores do Direito. O CDC foi tão bem estruturado que sua aplicação estendeu-se às relações bancárias e financeiras, pois ele se pauta pela busca do equilíbrio contratual e proteção do hipossuficiente, inclusive quando este for uma pessoa jurídica.

Mesmo com o amparo dado ao assunto, com a expansão do consumo verificado nos últimos anos, emergiu a necessidade de fortalecimento da defesa do consumidor para acompanhar a dinâmica do mercado. Nesse sentido, em 15 de março de 2013 foi criado o Plano Nacional de Consumo e Cidadania (Plandec), por meio do Decreto nº 7.963, com vistas a integrar e articular políticas, programas e ações para fortalecer a defesa do consumidor a partir de três eixos: prevenção e redução de conflitos, regulação e fiscalização e fortalecimento do SNDC.

Também, os consumidores evoluíram. Não são mais os hipossuficientes dos tempos remotos. Porém, não se pode deixar de reconhecer a desigualdade das relações de consumo em seu desfavor. A integração do consumidor, decorrente dos meios de comunicação e

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especialmente do fato da internet e redes sociais, o colocou em outro nível de conhecimento das suas relações com o fornecedor.

O crescimento do nível de consciência dos consumidores no Brasil é o exemplo mais claro, e mostra que a democracia está cada dia mais sedimentada. O Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990 e o Decreto 2.181, de 20 de março de 1997 são invocados a cada dia, em todas as partes do país. Poucas leis brasileiras se mostram tão eficientes e populares. E mesmo com dados tão positivos, ainda sabemos que, 90% da população não reclama seus direitos, mesmo tendo conhecimento deles. Somente com o desenvolvimento amplo da consciência cidadã de cada um dos brasileiros para erguer os pilares de sustentação de uma nação forte, soberana e democrática. (MIRANDA, 2008, p. 02).

No que se refere ao processo legislativo, o CDC foi pioneiro de muitas das alterações no Código de Processo Civil. O atual Código adotou algumas de suas teses, como por exemplo, a distribuição do ônus probatório e a desconsideração da personalidade jurídica. Agora, o ideal aproveitar essas mudanças na legislação processual para melhorar algumas disposições consumeristas que ficaram desatualizadas, contudo, ainda aplicáveis, por ser uma lei especial.

Chegar aos 28 anos reflete momentos em que o CDC cuidou de reconhecer direitos básicos, qualidade dos produtos e serviços, buscou proteger a saúde e segurança, foi em busca do cumprimento das ofertas, questionou os apelos da publicidade, fez alerta às práticas abusivas e a responsabilidades pelos danos gerados, criou mecanismos e instrumentos que qualificam e facilitam a defesa do consumidor. Aqui uma saudação ao Código: louváveis os seus primeiros 28 anos! (CARVALHO; FERREIRA, 2018).

Sendo assim, o direito acompanhou o processo de padronização verificado no capitalismo industrial, mas do lado do fornecedor, que passou a criar contratos padrão para sujeitar os consumidores a essas normas. Os consumidores, por não deterem os meios de produção, submetem-se às condições impostas pelos fornecedores para satisfazer suas necessidades de consumo, ficando em condição de fragilidade.

Infelizmente, há ainda aqueles fornecedores que continuam, através de práticas abusivas, da colocação no mercado de produtos e serviços inadequados ou perigosos, da falta de informações ou de informações inverídicas, a violar os direitos básicos dos consumidores. Para estes devem estar o Poder Judiciário, o Ministério Público e os Órgãos de Proteção e Defesa do Consumidor, de olhos bem abertos.

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Entretanto, se por um lado há maus fornecedores, não podemos fechar os olhos há outra realidade, qual seja, a existência também de maus consumidores. Vemos com certa frequência pessoas que de forma totalmente negligente firmam negócios jurídicos e depois dizem que foram enganadas ou que não querer mais cumpri-los; pessoas que adquirem produtos e, sem justificativa, pretendem devolvê-los; pessoas que passam por insignificantes problemas e pretendem ser indenizados.

Após todos esses anos, o que na verdade ocorreu foi uma readequação de comportamentos, com práticas menos abusivas, mais respeito e consideração aos consumidores. Não há dúvida de que grande parte dos fornecedores passou a ver o consumidor sobre um novo prisma, reconhecendo a importância daqueles que são os destinatários de seus produtos ou serviços. Não era mais apenas o outro contratante, mas sim alguém que deveria ser informado, bem tratado e respeitado acima de tudo.

O tempo passou e muitos fatos ocorreram nesses 25 anos de vigência do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. O Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública e os Advogados, aprenderam a ler nas entrelinhas existentes no CDC e podemos dizer, sem sombra de dúvida, que tanto os chamados fornecedores como os consumidores evoluíram. Nesse período, algumas práticas foram adotadas por todos nós, que comprovam essa afirmação: a) tivemos o surgimento e evolução dos Juizados Especiais, permitindo acesso ao Judiciário aos consumidores prejudicados nas relações de consumo; b) a jurisprudência brasileira atacou as celeumas trazidas nas lides judiciais firmando posições importantes, das quais podemos destacar o enquadramento como consumidor dos clientes de instituições financeiras; c) tivemos a implantação dos SACs (Serviços de Atendimento ao Consumidor) e PROCONs em todo o país; d) a cada dia surgiram recall´s de diversos produtos; dentre outras tantas situações. (BARBOSA; FARIA; SILVA, 2016).

Ainda, por outro lado, de acordo com BARBOSA, FARIA E SILVA (2016),

mister uma contínua atualização da legislação consumerista, o que leva ao Poder Judiciário uma avalanche de questões que já poderiam ter sido normatizadas. Nesse rumo, percebemos, também, que a sociedade precisa ampliar o debate sobre os temas relacionados a matéria. Impõe-se que aprendamos a lidar com o comportamento desleal de alguns consumidores, que insistem em agir sem a boa-fé, nas relações comerciais, judicializando questões que refogem a alçada do CDC. Precisamos, também, formar os magistrados e operadores do direito para as questões que hão de vir nos próximos 25 anos do CDC. É evidente que estamos diante de um novo modelo social que navega nos umbrais da internet com tal velocidade que, se nada for feito, CDC, correrá o risco de se tornar mera retórica.

Outras questões consideráveis relacionadas ao CDC são referentes ao aperfeiçoamento das ferramentas de fiscalização do Estado para evitar a concorrência desleal e o comércio de

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produtos e serviços impróprios para o consumo, além dos aumentos abusivos de preços. À vista disso, carecemos de meios mais eficazes para o combate das práticas empresariais de programação prévia da vida útil dos produtos. Não são poucos os que lembram, com saudade, do tempo em que as TVs, geladeiras e máquinas de lavar duravam décadas.

A prática destes 25 anos revela que o CDC é uma ferramenta muito importante e que pode trazer inestimáveis benefícios. Contudo, estamos inseridos na realidade atual e premente dos inquietantes temas como - o superendividamento, o overbooking, o cartão de crédito e, especialmente, o comércio eletrônico, ainda, exige, para uma boa aplicação do direito, uma interpretação sistemática dos magistrados e demais operadores do direito. Somos, portanto, testemunhas das mudanças de comportamento dos consumidores, gestores, administradores e fornecedores, beneficiados, ainda, pelos grandes câmbios trazidos pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Assim, verifica-se que nas relações de consumo é fundamental desenvolver uma postura ética e de respeito à dignidade do consumidor. Portanto, para realizar uma boa gestão administrativa, o fornecedor de produtos e serviços precisa considerar a pauta de cidadania que o CDC expressa. (BARBOSA; FARIA; SILVA, 2016).

Desta maneira, o Código de Defesa do Consumidor representou uma grande evolução no mercado de consumo, reequilibrando a balança entre o consumidor e o fornecedor, além de trazer os direitos básicos do consumidor, estabelece princípios a serem seguidos por toda a sociedade.

2.2 Políticas Públicas e Defesa do Consumidor

A Constituição Federal, promulgada em 1988, no rol de direitos e garantias fundamentais, determina expressamente que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

O consumo de alguns produtos ou serviços é essencial para a manutenção da saúde e da vida do consumidor e a relação consumerista representa muitas vezes uma forma de inclusão social e de exercício da cidadania. A busca pela efetividade das leis consumeristas passa obrigatoriamente pela implementação de políticas públicas.

As políticas públicas de proteção ao consumidor são ferramentas para tornar efetiva a legislação vigente.

A partir do momento em que a implementação de políticas públicas utiliza o sistema financeiro, e a concessão de crédito como mecanismo – talvez o principal deles –

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para atingir seus destinatários, fatalmente acaba havendo exposição do beneficiário a práticas que o CDC classifica como ilegais. Por vezes, entretanto, o regramento específico da política pública não prevê a possibilidade de que, pela via da bancarização ou da concessão de crédito, possa ocorrer violação a direitos dos beneficiários. Surge, assim, possibilidade de o beneficiário da política pública sofrer abusos, sem encontrar, a princípio, regras jurídicas na própria política pública, que sejam capazes de lhe proteger. (CANAN, 2014, p. 215).

Nesse sentido, a defesa do beneficiário da política pública e, portanto, do cidadão pode se confundir com a defesa do consumidor. Até mesmo porque oCDC não pode ser tomado apenas como uma regra jurídica de proteção ao consumidor stricto sensu (em sentido específico), sob pena de se lhe prejudicar a potencialidade protetiva. Portanto, o CDC trata-se de uma norma que rege a maioria das relações jurídicas na sociedade de consumo.

O CDC é uma norma jurídica de caráter principiológico que, como destaca José Geraldo Brito Filomeno (2012, p. 11), possui cunho inter e multidisciplinar, formando verdadeiro microssistema jurídico. Ademais, o CDC relaciona-se com outros ramos do direito, devendo, à luz da regra do diálogo das fontes, interpretar-se a lei sempre de maneira mais favorável àqueles que a Constituição Federal confere proteção especial, no caso, os consumidores. Não tem como deixar de aplicar o CDC quando inserido na sociedade de consumo e o agente financeiro lucra com a intermediação de políticas públicas.

Quando particulares utilizam a política pública como uma forma de obter lucro, ou mesmo obter clientes, atrelando atividade eminentemente empresarial à política pública, devem estes mesmos particulares, ainda que agentes repassadores de crédito ter seus atos empresariais regidos pelas regras do CDC. Primeiro, porque a relação jurídica que, em princípio, se estabelece entre o Estado e o cidadão (destinatário da política pública) gera uma nova relação jurídica, que agora se estabelece entre a instituição financeira e o cidadão, como por exemplo, um financiamento para aquisição de casa própria. Esta segunda relação trata-se, sem dúvida, da relação de consumo. Há, pois, uma ligação entre o Estado e a instituição financeira. Ambos beneficiam-se: o Estado atingindo os destinatários da política pública através do sistema financeiro, e as instituições financeiras obtendo lucro pela prestação do serviço.

Há, entretanto, em meio a esta ligação, o destinatário da política pública, o cidadão. Se por um lado o cidadão se beneficia pela facilitação do acesso à política pública, por outro fica exposto a práticas comerciais e contratuais abusivas. Desta forma, proteger o consumidor pelo

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uso do CDC, garantindo-lhe que não será vítima de abusos ou de atos ilícitos, resulta em uma maior penetração da política pública.

O uso do CDC como regra de proteção das políticas públicas e dos beneficiários destas, é uma forma de defesa das próprias políticas públicas. Na medida em que o art. 4º do CDC, que trata da Política Nacionais das Relações de Consumo, objetiva atender as necessidades do consumidor respeitantes à dignidade, saúde, segurança, proteção de interesses econômicos e melhoria da qualidade de vida, é correto afirmar, pois, que protege direitos atinentes à cidadania. Ademais, o art. 4º, II, “c”, estabelece que a ação governamental de proteção ao consumidor se dá pela presença do Estado no mercado de consumo. Se o Poder Judiciário é uma das funções do Estado, e o art. 2º, da CF, atesta que é, sua presença como agente protetor do consumidor e beneficiário das políticas públicas é recomendável. Idêntico raciocínio cabe em relação ao art. 4º, III, do CDC, que trata da necessidade de harmonização dos participantes das relações de consumo com a ordem econômica, que tem como objetivo assegurar a todos existência digna (art. 170, da CF). E, por fim, o art. 4º, VI, do CDC estabelece que é dever do Estado coibir e reprimir todos os abusos praticados no mercado de consumo, o que pode implicar, conforme anota Antônio Carlos Efing, em determinados casos, no preterir o resultado econômico e financeiro dos fornecedores para preservar interesses dos consumidores. (CANAN, 2014, p. 2018).

Assim, preceitua no capítulo II do CDC – Da Política Nacional de Relações de Consumo, art. 4º:

Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

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O art. 4º possui enorme relevância em relação ao próprio CDC e à Política Nacional das Relações de Consumo. Suas normas são utilizadas para interpretar e guiar todas as outras normas do microssistema, indicando caminhos e objetivos.

Logo, segundo CANAN (2014, p. 219), se o Estado utiliza o mercado de consumo para implementar a política pública, é possível que ocorram abusos, o que deve ser controlado pelo Poder Judiciário. Não se pode imaginar que o Estado, através da realização de políticas públicas, ofereça às instituições financeiras uma oportunidade de obter lucro, pela intermediação, e ainda permita que, com violação das regras de defesa do consumidor, intensifique seus lucros em detrimento da atividade produtiva do cidadão, explorando-o.

No Brasil, a implementação de políticas públicas tem usado o sistema financeiro. Tanto quando o crédito é a própria política pública, quanto para atingir os destinatários das políticas públicas. Os agentes financeiros atuam como intermediários entre o Estado e o cidadão, e auferem lucros. Seja utilizando os valores repassados, seja alienando outros produtos e serviços aos beneficiários e também obtendo novos clientes. Considerando o nível de endividamento e achatamento dos salários, defende-se que o Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado nos dois casos. Como meio de defesa do beneficiário das políticas públicas de crédito, que se torna vítima de abusos e ilícitos praticados pelos agentes financeiros. E também como defesa da própria política pública, o que representa garantia do exercício da cidadania. (CANAN, 2014, p. 203).

Para as políticas públicas de defesa do consumidor, destacam-se dois instrumentos do CDC: a Política Nacional das Relações de Consumo, que, de maneira geral, estabelece diretrizes para a defesa do consumidor e cria instrumentos para sua execução, em especial órgãos oficiais e incentivos à criação e desenvolvimento de associações civis; e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, composto por órgãos Federais, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais, bem como entidades privadas de defesa do consumidor, sendo responsável por executar a Política Nacional de Defesa do Consumidor, sob coordenação do Departamento Nacional de Defesa do Consumidor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico, órgão que foi substituído pela Secretaria Nacional do Consumidor, também no âmbito do Ministério da Justiça.

Portanto, de acordo com CANAN (2014, p. 222), o CDC é norma que pode e deve ser aplicada nos casos de veiculação de crédito proveniente de políticas públicas pelos agentes do sistema financeiro, quando estes agentes praticam abusos ou ilegalidades, violando direitos dos beneficiários das políticas públicas.

Referências

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