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Contribuições da sociologia da infância para educação de crianças

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

RUBIELE LIRIO DE LIMA

CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

IJUÍ-RS 2019

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RUBIELE LIRIO DE LIMA

CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA PARA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul como requisito para obtenção do título de graduada em licenciatura em Pedagogia.

Orientador: Prof. Josei Fernandes Pereira

IJUÍ-RS 2019

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Dedico este trabalho a minha família, meus pais, ao meu companheiro e a minha filha, com gratidão pelo apoio e paciência durante este período, não só da elaboração deste texto, mas de todo o tempo do curso de graduação. Dedico esta conquista a eles, pois devido ao carinho e incentivo que fez continuar nesta caminhada para concluir um sonho.

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“(...) pouco se ouve e pouco se pergunta às crianças”

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RESUMO

O objetivo deste trabalho foi de compreender e analisar o campo de estudos da Sociologia da Infância. Buscando a compreensão de suas contribuições para a educação de crianças dentro da Educação Básica de nosso país. Como metodologia, utilizou-se a pesquisa bibliográfica de autores estrangeiros e brasileiros, sociólogos pesquisadores da Sociologia da Infância, que debatem sobre o lugar da infância e da criança na sociedade contemporânea. Sendo a Sociologia da Infância uma área de pesquisa ainda em constituição, buscando refletir sobre o papel da criança dentro da sociedade. Buscou-se também compreender a relevância da Sociologia da Infância para a formação docente. A partir da leitura e análise dos textos e artigos pesquisados, compreendeu-se que há grande importância dos estudos da Sociologia da Infância para a educação, como para outros campos da ciência que pesquisam sobre crianças. A Sociologia da Infância considera a criança um ator social, por isso os conceitos pesquisados e estudados por este campo tem grande relevância para a educação de crianças. Assim como se percebe que é preciso conceder o devido espaço para estes sujeitos que fazem parte da sociedade e merecem serem escutadas suas vozes.

Palavras-chave: Sociologia da Infância. Educação. Ator Social. Criança. Infância. Sociedade.

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ABSTRACT

The objective of this work was to understand and analyze the field of study of Child Sociology. Seeking understanding of their contributions to the education of children within the Basic Education of our country. As a methodology, we used the bibliographic research of foreign and Brazilian authors, sociologists researchers of the Sociology of Childhood, who debate about the place of childhood and the child in contemporary society. Being the Sociology of Childhood a research area still in constitution, seeking to reflect on the role of children within society. We also sought to understand the relevance of Child Sociology to teacher education. From the reading and analysis of the texts and articles researched, it was understood that there is great importance of the studies of Child Sociology for education, as for other fields of science that research on children. The Sociology of Childhood considers the child a social actor, so the concepts researched and studied by this field have great relevance for the education of children. Just as we realize that it is necessary to give due space to these subjects who are part of society and deserve to be heard their voices.

Keywords: Sociology of Childhood. Education. Social actor. Child. Childhood. Society.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

1. A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA 12

1.1. HISTÓRICO E CONCEPÇÕES 12

1.2. A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA NO BRASIL 18

2. QUESTÕES DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA PARA EDUCAÇÃO 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS 25

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INTRODUÇÃO

A infância é uma construção histórica e social, uma invenção da sociedade, e Sociologia da Infância é uma construção de saberes sobre a criança, sobre as suas necessidades, medos, satisfações, sobre as suas formas de sentir e agir, é através de suas vivências ela constrói sua identidade própria. Por isso ao se pensar em uma educação para a infância, e na formação dos docentes que irão atuar com crianças, devemos questionar as concepções que se tem de infância e de criança, pois não são verdades absolutas, mas sim conceitos em constante mudança, isto conforme o tempo e o espaço em que a criança está inserida.

O objetivo deste trabalho é de compreender os estudos da Sociologia da Infância na área da educação, bem como a sua relevância na formação docente, e no trabalho pedagógico dentro da sala de aula. Questiono se é possível que por meio da Sociologia da Infância o docente desenvolva e compreenda que por meio do olhar diferenciado e mais humano para o sujeito na educação, suas aprendizagens se tornaram mais válidas e concretas, tornando a criança protagonista e mais ativa na construção de seu conhecimento.

A metodologia usada foi uma pesquisa bibliográfica em legislações, documentos oficiais da Educação Básica, assim como em estudos e pesquisas da área da educação e da sociologia, artigos que trouxessem uma maior compreensão sobre a área de estudos da Sociologia da Infância, ponderando suas contribuições para a educação de crianças.

Ao se pensar na infância, faz-se a ligação a estudos voltados para a educação infantil, assim como os teóricos estudados durante o curso de Pedagogia, tem maior relação a esta etapa da educação básica. Ao revisitar estes estudos, houve alguns questionamentos, no sentido de que as concepções dadas faltava algo a meu ver. É por isso que o foco do estudo é analisar e questionar-se quanto às concepções de infância, e isso pensando dentro de toda a Educação Básica, tanto na Educação Infantil, como também nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, sendo que esta etapa tem sua especificidade e objetivos claros, mas deve-se lembrar de que os sujeitos envolvidos são crianças e tem suas infâncias, e a pergunta que se faz é se a formação do pedagogo contempla o estudo destas

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infâncias supervalorizadas na Educação Infantil e menosprezada ao chegar ao Ensino Fundamental. Por isso o objeto de estudo é de compreender que ao respeitar e valorizar as infâncias, é possível desenvolver competências docentes, para que assim o educador possa compreender esses sujeitos e suas infâncias. Cada etapa da Educação Básica compõe um período da vida do indivíduo, e por isso cada uma delas tem suas competências, e suas especificidades, sobretudo a infância perpassa essas etapas, se modifica conforme o espaço e tempo em que a criança está inserida.

Devemos pensar na escola como um espaço em que as crianças possam viver as suas infâncias, deve sim ser vista como uma instituição de ensino, mas também como um espaço em que as crianças possam brincar e fazer amizades com outras crianças, socializar, ter acesso ao conhecimento de forma lúdica, bem como construir relações sociais, produzir sua própria cultura, poder usufruir de seus direitos de expressão, bem como ter liberdade de escolha, se constituir cidadão e construir sua identidade.

A criança deve ser vista como um sujeito social, de direitos, tem a liberdade de escolher, deve ser respeitado, tanto as suas necessidades, quanto as suas diferenças. Por isso que a escola e o docente devem ter essas concepções claras, assim como ao desenvolver sua prática pedagógica precisa levar em consideração às diferenças de cada criança, respeitar as características próprias de cada uma, respeitar esta etapa das crianças que é a infância, para assim desenvolver uma educação de qualidade, pensada para estes sujeitos.

Na Educação Básica devemos pensar nos sujeitos como “crianças”, que é o que são, e não apenas como “alunos”. A partir desta concepção podemos pautar uma prática que leve em consideração este sujeito, a criança, e o que é realmente necessário neste período, o brincar e as relações sociais que se estabelece dentro do espaço escolar. A interação durante o brincar e a socialização com outros indivíduos caracteriza o cotidiano da infância, traz muitas aprendizagens e potencialidades para o desenvolvimento integral das crianças, assim buscando em outros estudos, assim como no campo de estudos da Sociologia da Infância, é que podemos enquanto docentes compreender melhor a criança e a infância, como

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também desenvolver uma prática docente mais sensível para estes sujeitos e respeitando seus direitos enquanto pertencentes à sociedade.

A infância vai abrindo espaços na sociedade, nas ciências sociais, no

sistema educacional e na pedagogia, no ordenamento legal. Uma das

marcas mais destacadas de sua presença nessa diversidade de espaços é

que a infância pretende entrar como sujeito legitimado de direitos (ARROYO, 2011).

Ao conhecer a criança e sua realidade se supera preconceitos em relação à infância. Como futura Pedagoga, tenho que ter uma compreensão clara da criança e da infância, reconhecendo o papel que a infância tem no desenvolvimento do sujeito, tendo também a concepção clara de que as crianças são sujeitos de direitos, para que então possa realizar um trabalho conciso e de qualidade dentro da escola. A ética deve nortear o trabalho do professor, e sua relação com a criança, sendo nestas relações que se estabelece a construção de conhecimento.

Ao observar o cotidiano das crianças, se faz necessário ter um olhar atento para as relações e interações que se estabelece dentro da escola, o docente precisa desenvolver habilidades e competências, a fim de desempenhar o seu papel na educação e de efetivar o seu objetivo dentro da escola, que é de mediar às aprendizagens. Dentro da escola a criança precisa ter acesso a possibilidades para seu desenvolvimento, oportunidade de se expressar, interagir com o meio e com os outros, nesse sentido é preciso que este olhar para a criança e a infância, seja desenvolvido no docente, já desde sua formação dentro da universidade. O docente tem que desempenhar o papel de mediador entre a criança e o conhecimento, ao mesmo tempo em que necessita se colocar como um pesquisador, pois ao observar as interações e brincadeiras entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções, e destas relações acontecem às aprendizagens, é por isso que o docente deve estar atento.

Precisamos entender a criança, através do que ela é, do que faz e traz. Devemos ouvir a criança, mas sem abrir mão do papel de adulto, é um desafio a ser enfrentado pelo professor. A criança é sujeito produtor de cultura, pertencente a uma sociedade, dentro de um grupo, que tem sua história e que constrói uma nova a partir das relações estabelecidas. É preciso que no ambiente escolar sejam

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oferecidas possibilidades para que a criança produza sua cultura, produza seus conhecimentos, sendo respeitadas suas singularidades e reconhecida como sujeito pertencente a uma sociedade.

A criança precisa ser escutada, suas ideias, seu ponto de vista deve ter relevância dentro da escola, as crianças não são apenas sujeitos passivos, receptores, são atores sociais. Não se pode negar a criança o seu direito de ser criança e viver sua infância. O desenvolvimento integral da criança é um direito, previsto na Constituição Federal de 1988, previsto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), que a criança precisa ter a oportunidade do desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, devendo também ser oportunizado o desenvolvimento social, e para isto se faz necessário incentivar o convívio com outras crianças, que acontece dentro do ambiente escolar, incentivando o respeito entre elas, para assim exercerem seu direito de liberdade e dignidade.

Na escola, a criança e o professor precisam estar no centro do processo, com o objetivo de construção de conhecimentos, com o desenvolvimento integral dos sujeitos, assim como de culturas infantis. Dentro da escola visa-se desenvolver aprendizagens dos conteúdos científicos, mas sem esquecer-se das aprendizagens culturais e sociais, assim como as interações que a criança estabelece com meio escolar e com a sociedade.

A educação pode ser compreendida como uma prática social que envolve os sujeitos nos diversos usos do conhecimento adquirido, colocados em prática dentro da sociedade em que vive. A ação pedagógica tem uma finalidade, o professor necessita conceber o seu papel e suas competências, para que possa oportunizar o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para os sujeitos, se desenvolverem e assim exercerem sua cidadania. O conhecimento construído pela criança é indissociável das interações que ela estabelece com o seu meio social, assim construindo seus valores e sua própria cultura. Através da ação, mediação do professor, espera-se que a criança possa fazer escolhas, tomar decisões, manifestar os seus desejos e anseios, iniciando a sua formação como cidadão.

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1. A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA 1.1. HISTÓRICO E CONCEPÇÕES

O campo da Sociologia volta-se para os estudos dos fenômenos sociais, analisando os indivíduos e suas relações dentro da sociedade. O objetivo desta ciência é de compreender a diversidade, bem como as interações que as pessoas estabelecem dentro de grupos. Assim por muito tempo as crianças e suas infâncias foram estudadas e observadas apenas dentro dos grupos, escolar, familiar, não sendo um campo de estudo isolado, com a Sociologia da Infância, voltou-se o olhar e as análises especificamente para as crianças, considerando as suas interações com os demais grupos.

As crianças historicamente se encontravam em situação marginalizada, nunca tiveram um papel bem definido dentro da sociedade, vistas como imaturas, ou então como um vir a ser, do adulto. Estes sujeitos eram considerados apenas como seres biológicos, que ao serem supridas suas necessidades básicas, alimentação, higiene e proteção, o sujeito se desenvolveria conforme sua natureza biológica. Houve várias concepções de criança, a partir de estudos e pesquisas foi-se evoluindo. Inicialmente a criança era tida como um adulto em miniatura ARIÉS (1978), já na Idade Moderna, considerava-se a criança um ser incompleto, imaturo e inocente. Outra concepção posta era, de que a criança não era semelhante ao adulto, mas sim um vir a ser adulto. A partir disso pode-se dizer que até o século XVI, o conceito de criança, do qual nos baseamos hoje em dia, não existia.

Segundo ARIÉS (1978), no século XVII que a noção de idades, “as idades da vida”, é que ganham visibilidade na área social e da educação. Naquele momento ainda se era negado às particularidades envolvidas no desenvolvimento da criança, com as mudanças dentro da sociedade, inicia-se um movimento no qual a criança e sua infância ganham espaço dentro do cenário social. A partir do negligenciamento da criança e de seu desenvolvimento, houve uma maior preocupação para compreender este sujeito, assim como este período da vida, no caso a infância. Iniciando-se assim estudos e pesquisas científicas, que procurassem solucionar esse problema social, a negação da criança ser um sujeito social.

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A Sociologia da infância, sendo uma das áreas da Sociologia, visa por meio dos estudos da criança, compreender o papel dela dentro da sociedade, bem como suas relações no meio social ao qual está inserida. Foi somente a partir da metade do século XX que houve uma maior visibilidade para este grupo no campo da Sociologia, por meio de pesquisas científicas que a criança passou a ser considerada, um ator social, assim como a infância a ser considerada uma categoria construída socialmente. A Sociologia da infância surgiu por volta dos anos 80, movimento surgido na Europa em busca de compreender o mundo a partir da perspectiva das crianças, sendo assim, a partir desses estudos constatou-se que a infância é uma construção social.

Em sua forma contemporânea, ela surgiu nos anos 1980-1990. Três principais recursos teóricos foram empregados em sua construção.

Primeiro, apoiou-se na Sociologia interacionista desenvolvida principalmente

nos Estados Unidos nos anos 1960. Esta problematizou o conceito de

socialização, que torna as crianças muito passivas. Segundo, nos anos 1990, sobretudo na Europa, houve um ressurgimento (um tanto quanto

surpreendente) da sociologia estrutural, que vê a infância como um dado

permanente da estrutura social. Finalmente, nos anos 1980, na Europa e

nos Estados Unidos, o construtivismo social problematizou e desestabilizou

todo e qualquer conceito consagrado sobre a infância, lançando-lhe um

olhar relativista. Este enfatizou a especificidade histórica e temporal da

infância e dirigiu o foco à sua construção através do discurso (PROUT,

2010, pg.730).

Percebe-se que é na modernidade que emerge a criança e a infância, tendo maior visibilidade e pesquisas voltadas para a compreensão da criança como um sujeito social e protagonista de suas relações. Isto se dá também, pois as crianças ganham um espaço para desenvolver-se, a escola, ganhando maior importância, para o seu desenvolvimento integral.

O autor ALAN PROUT (2010), afirma que a Sociologia da infância surge em um momento que a teoria social moderna estava em crise, momento de instabilidade sobre os pressupostos decorrentes das mudanças sociais, momento de problematização, isto, pois, nunca havia se aberto espaço para o estudo da infância, de modo a considerar as crianças como um grupo social ou uma categoria. Ainda segundo o autor a infância é um fenômeno contemporâneo, por isso a emergência de pesquisas voltadas a compreender e analisar este grupo, as crianças e suas infâncias. Destaca que a Sociologia da Infância com uma dupla tarefa, “criar um espaço para a infância no discurso sociológico e encarar a complexidade e

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ambiguidade da infância como um fenômeno contemporâneo e instável”, (PROUT, 2010, pg.733).

De modo que, iniciadas as pesquisas sobre as crianças, na área da Sociologia da Infância, como também na área da Educação, da Antropologia e da Psicologia, criou-se uma maior visibilidade em torno da criança e da infância, o que gerou reflexões acerca destes sujeitos e deste momento da vida, gerando, por conseguinte o reconhecimento das individualidades e especificidades desta categoria social. Isto, pois, para SARMENTO (2008, pg.7), a infância como sendo uma “categoria social, constituída por sujeitos historicamente situados”. Desde seu nascimento as crianças são pertencentes a uma sociedade, mas não são consideradas como tal.

Não se quer dizer, entretanto, que antes as crianças não tenham sido consideradas indivíduos ativos, ou tivessem sido tratadas como se pertencessem ao mesmo grupo que os adultos, mas sugere que, com os

estudos sociais da infância, as pesquisas sociológica e antropológica pela

primeira vez – quase de maneira programática – começam a ser sérias

sobre estrutura e agência no que diz respeito à infância e à criança

(QVORTRUP, 2010, pg.633).

Considerado um dos fundadores da sociologia da infância JENS QVORTRUP (2010), afirma que as forças políticas, sociais e econômicas tem grande influência na vida de uma criança e estas forças são influenciadoras no meio social e cultural desse grupo, considera essas forças parâmetros que ditam a construção de infâncias. Assim como a infância, a criança se constitui conforme a sociedade e tempo em que está inserida, ela se constitui a partir da construção histórica do seu meio social. Segundo QVORTRUP (2010), a infância, no discurso científico era caracterizada como um “período”, este que antecede a vida adulta. Mas podemos perceber a partir dos estudos que a infância vai além de um período marcado com tempo para terminar, é momento da vida do ser humano que o constitui para a vida adulta.

Para PROUT (2010), a ideia de “infância padrão” foi sempre questionável, isto, pois há uma diversidade de famílias, de padrões de vida que refletem diretamente na infância da criança inserida naquele grupo familiar. As questões econômicas, de classes sociais, políticas, entre outros parâmetros, sempre pautaram a vida em sociedade, e assim por consequência a vida das crianças e suas

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infâncias, estas questões transformaram a forma como a família se constituía, mulheres adentrando no mercado de trabalho e por consequência precisavam de um local para deixar seus filhos. Nesse sentido que se percebe então, ao mesmo tempo a necessidade e a importância da escola ser para todos e igualitária, isto a fim de oportunizar espaço para a criança se desenvolver sem desigualdades, e viverem suas infâncias.

A partir da Sociologia da Infância criou-se um lugar, um espaço para a problematização e reflexão sobre a infância, partindo segundo PROUT (2010), da reprodução de dicotomias da Sociologia Moderna, em meio à crise da teoria social iniciou-se questionamentos sobre pressupostos que serviram como base de estudo por muito tempo. Houve um esforço por parte dos sociólogos, para abrir espaço para os estudos da infância e para considerar a criança como sendo um ator social dentro da sociedade, a sociologia da infância buscava por valorizar a subjetividade da criança.

...se esboçava uma modesta reivindicação analítica com o intuito de prover

as crianças e a infância de “autonomia conceitual”, conforme formulou

Barrie Thorne (1987, p. 103) em um importante artigo. Essa reivindicação se

refletiu em uma demanda pela concessão de visibilidade à infância e de voz

às crianças, ou, para usar outra frase típica, lidar com a infância e as

crianças por elas mesmas, ou seja, sem ter de necessariamente fazer referência ao seu futuro, quando se tornarem adultas (QVORTRUP, 2010, pg. 634).

Coloca-se como um desafio teórico constituir a criança como sendo um ator, tanto dentro do campo sociológico como no campo da educação, isto porque estes estudos desconstroem o conceito de socialização, muito estudado no campo da sociologia, fazendo uma releitura crítica dos conceitos postos sobre criança e infância. A ideia de socialização, ou de processos de socialização é posto pelo sociólogo Durkheim (1922), que segundo PLAISANCE (2004), define a educação como “uma socialização da jovem geração”, que para o sociólogo, a educação se dá pela a ação dos adultos sobre os mais jovens, a ação de uma geração sobre outra. Constitui-se pelo pensamento de Durkheim que a criança nesse processo de socialização agrega os valores e pensamentos dos adultos, isto, pois ele é um devir social. Já os sociólogos contemporâneos, analisam o processo de socialização tendo a criança como centro da ação, ela se faz protagonista nas relações que estabelece e assim reconstrói saberes dados pelo mundo adulto.

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Um dos motivos que as pesquisas não consideravam a criança como sendo participante ativo na sua constituição como sujeito dentro da sociedade, é porque se tinha a visão de que a criança como ser natural, se faria pertencente à sociedade apenas no momento que saísse da infância. Nesse sentido o sociólogo ALAN PROUT (2010), fala sobre o discurso inverso deste pressuposto.

As crianças pertencem à natureza até fazerem parte do social. A

fundamentação da Sociologia da Infância na ideia de que a infância é uma

construção social revela-se, desse ponto de vista, como um discurso

inverso. Abandona o reducionismo biológico e o substitui pelo reducionismo

sociológico (PROUT, 2010, pg.736).

Percebe-se que o campo da Sociologia ignorou o fato de a criança ser pertencente à sociedade e de se constituir um ser atuante, pois o fato desafiava a divisão entre o natural e o cultural. A questão posta é que precisamos conceber que a criança tem um caráter híbrido, uma parte natural e outra social. QVORTRUP (2010) argumenta que como foi dada muita ênfase nos estudos do desenvolvimento infantil e no conceito de socialização tradicional, dificultou-se o reconhecimento da infância como um fenômeno social.

A Sociologia da infância traz em suas concepções que a criança na verdade é parte fundante no processo de socialização, pois segundo CORSARO (2011), às crianças na sociedade são coconstrutora das relações e da cultura própria, não sendo meras receptoras passivas. O autor considera que por causa das visões tradicionais da socialização das crianças, lhe são dadas funções passivas, não dando o real reconhecimento e atenção para suas ações dentro da sociedade. O que na realidade das crianças é diferente, pois elas se baseiam no mundo adulto para criar sua própria cultura, ressignificando saberes, moldando a realidade conforme seus desejos.

Nos estudos da infância cada campo de estudos volta os olhares para a criança, no intuído de compreender este momento da vida. Na campo das ciências biológicos estudam e pesquisam o desenvolvimento natural destes sujeitos, no campo das ciências sociais pesquisam as relações estabelecidas, mas há de se considerar a integralidade deste sujeito. Por isso que o autor PROUT (2010), considera que o meio pelo qual as pesquisas terão melhor compreensão deste momento que é a infância, e compreender a criança como ator social, é que os

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estudos sejam de forma interdisciplinar. Sendo assim, a interdisciplinaridade possibilitará o fim das dicotomias postas nos estudos sobre criança e infância, assim como estabelecerá uma ligação entre os diversos campos de estudos, pois seu foco já é o mesmo. O autor sugere que haja um maior diálogo entre os pesquisadores de outros campos científicos para que se possa ter uma maior compreensão do objeto de estudo que é a criança.

A sociologia da infância, para SARMENTO (2008) se propõe a interrogar as teorias tradicionais sobre infância, buscando por afirmar a atuação da criança dentro da sociedade e das relações nela estabelecidas. As crianças são objeto de investigação, de observação, mas elas também devem ser ouvidas, estabelece-se uma construção de reflexividade sobre a condição de infância, pois elas são construtoras de uma cultura própria na infância e desta se constituem para a vida adulta.

Os estudos de CORSARO (2011) mostram que as crianças são agentes ativos na sociedade, constroem uma cultura própria, como contribuem para a cultura do mundo adulto. O autor expõe em seu livro a noção de “reprodução interpretativa”, em que as crianças reproduzem as ações dos adultos, mas colocando-se e construindo novos significados a partir da observação do mundo adulto. É por isso que o campo a ser estudado é complexo, a infância e a criança tem suas particularidades ao mesmo tempo em que a criança se embasa no mundo adulto para criar sua própria cultura.

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1.2. A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA NO BRASIL

A Sociologia da Infância é uma área em construção no Brasil, surgiu por volta dos anos 90, os estudos desta área buscam compreender a criança e suas infâncias, a criança como sendo um ator social, e o modo como constituem suas culturas próprias, e protagonizam o seu viver. A infância e a criança, a partir do séc. XX ganham maior visibilidade no campo da pesquisa devido aos movimentos sociais e pela mudança na forma estrutural das famílias. O objetivo principal das pesquisas, da Sociologia da infância, é de tirar as crianças e suas infâncias da invisibilidade social em que se encontram, dando-lhes o status merecido, no centro das relações sociais, considerando estes sujeitos como protagonistas do seu viver. As crianças foram pesquisadas e estudadas por muito tempo, dentro da estudos que se fazia sobre a família e educação, não tinha destaque como sendo protagonista de sua vida.

A infância ora é uma estrutura universal, constante e característica de todas

as sociedades, ora é um conceito geracional, uma variável sociológica que

se articula à diversidade da vida das crianças considerando a classe social,

gênero, raça e pertencimento étnico, ou seja, ora a infância é singular, ora é

plural (ABRAMOWICZ, 2018, pg.372).

Iniciou-se no Brasil a Sociologia da Infância com os estudos de Manuel Jacinto Sarmento, a partir dos seus estudos e pesquisas constatou que as crianças produzem saberes e conhecimentos partindo de suas experiências cotidianas. Segundo Sarmento (2005), as vivências estabelecidas durante a infância constituem a criança, assim como definem as aprendizagens deste indivíduo. De forma que, seus estudos visam quebrar com visões adultocêntricas, com o objetivo de possibilitar uma emancipação social da criança.

Existe ainda a visão tradicional de que o adulto é superior à criança, sendo o adulto que toma as decisões sobre o modo de ser e viver da criança. Partindo dos estudos da sociologia da infância é possível compreender que a criança pode protagonizar sua vida, o que não pode ser confundido, esse protagonismo não pode ser como livre, em que a criança deve fazer tudo o que deseja, mas ela deve ser um ator social de sua vida, isto com a mediação do adulto.

...a criança é um passado, que ao nascer traz uma infância, na qual, de

certa forma, nos reconhecemos, ela ao nascer é inscrita na história de um

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social. Inscreve e é inscrita, na medida em que nossas práticas constituem crianças de determinadas maneiras, ao mesmo tempo em que as crianças

se subjetivam como uma força sobre si próprias, que as constituem e nos

constituem. A sociologia da infância chama este processo de autoria social.

Mas a criança é também devir, um futuro que ainda não está e não é, uma

criança que nasce traz em si este futuro, a criança pode vir a ser o tempo

intempestivo, o tempo de ruptura, a fratura, a descontinuidade, daquilo que

não sabemos, não somos, não está, estamos em via de nos diferir, e que

será inventado (ABRAMOWICZ, 2018, pg.375).

Há uma institucionalização da infância, é por isso que se faz necessário os estudos sobre a infância, a busca do lugar da criança dentro da sociedade, desenvolvendo a consciência dos direitos da criança, bem como a valorização das infâncias, respeitando a condição plural e polissêmica das infâncias. Partindo destes estudos é possível conceber que há uma diferença entre as práticas relacionadas à infância e as discussões políticas. Isto, pois as crianças não são passivas, mero receptáculos de uma ação de socialização, a criança é um ator social, que estabelece novas relações sociais.

A visão de socialização tem sua importância ao considerar o coletivo, dentro deste é possível observar a forma como as crianças negociam, se relacionam, compartilham e criam suas próprias culturas, isto com os adultos e com seus pares. A ação social tem como base a interação, as relações estabelecidas com o outro e com o grupo, sendo assim é na infância que se estabelecem as primeiras relações, ligações, e estas são importantes na formação como adultos.

É possível compreender que há pelo menos três premissas fundamentais

que desencadeiam os estudos sociológicos da infância: a primeira diz

respeito à criança como sujeito portador de direitos e, devido a isso, tem

agência; a segunda diz respeito à infância como construção social histórica

e não universal e a terceira defende que as crianças são atores sociais e,

desse modo, atuam na dinâmica social, transformando a história e a cultura,

o que implica dizer que as crianças atuam positivamente e ativamente nos

processos de socialização e são, acima disso, produtoras de cultura

(ABRAMOWICZ, 2018, pg.379).

Sempre houve estudos sobre a criança e a infância, mas não concebendo como atores sociais e participantes da sociedade. A partir da Sociologia da infância estabeleceu-se um foco, tendo como base as premissas citadas pela autora Anete Abramowicz (2018). A autora Jucirema Quinteiro (2002) constatou em seus estudos que há emergência de uma sociologia de infância no país. Isto, pois é preciso considerar o ponto de vista da criança no campo de pesquisa, como também considerá-la dentro do processo educacional.

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No Brasil os estudos sobre a infância tiveram maior ênfase no campo da educação, por isso ao surgir os estudos da sociologia da infância, surgia ao mesmo tempo um embate entre os educadores e os sociólogos. Esse embate surgiu no momento em que os estudos da sociologia da infância problematizam as abordagens biológicas e psicológicas usadas pela campo da educação para a compreensão da criança. A sociologia da infância buscava e busca ainda, trazer a criança para o centro das pesquisas, considerar seus direitos dentro da sociedade, concebendo a criança como um ser uniforme, sendo ela é um ser social e histórico e não apenas natural.

Na realidade há muitas dificuldades para aqueles que pretendem realizar

estudos sobre a criança e a infância, que se complexificam na medida em

que temos que produzir formas de entender e de escutar o que as crianças

dizem. Por vezes o cardápio de sentidos de que dispomos é insuficiente

para compreender estas falas. A criança é portadora da diferença, da

diversidade e da alteridade (ABRAMOWICZ & OLIVEIRA, 2010, pg.44). O que se busca com os estudos da sociologia da infância é a pesquisa sobre o papel das crianças dentro da sociedade, assim como compreender as culturas infantis. QUINTEIRO (2002) que pouco se escuta a fala das crianças, considera que “há ainda resistência em aceitar o ​testemunho infantil ​como fonte de pesquisa confiável e respeitável” (pg.140). Nesse sentido é que se precisa haver uma maior valorização pela cultura infantil, compreender como se dá, e para isto é preciso que se dê voz para os infantes, perceber na integralidade o seu real papel dentro de uma sociedade.

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2. QUESTÕES DA SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA PARA EDUCAÇÃO

A partir dos estudos da sociologia da infância é possível uma compreensão das relações estabelecidas dentro da escola durante a infância, esta é uma questão relevante para ser abordada na formação de professores de crianças. Concebendo-se que os processos de socialização mais complexos ocorrem a partir do momento em que a criança sai do seu meio familiar e entra para o meio escolar. A sociologia da infância tem grande relevância para a área da educação, partindo de suas pesquisas e estudos, pode-se usar as contribuições como forma de transformação e mudança de olhar e conceber as crianças, a fim de respeitar os direitos da criança de ter acesso a uma educação de forma integral.

As crianças não são ouvidas, estão mergulhadas na rotina dos adultos, seu dia-a-dia baseia-se nos horários dos adultos, estes não têm a sensibilidade de olhar para as crianças e levar em consideração as suas necessidades. O tempo das e para as crianças, é colocado em segundo plano, em toda a sociedade, como também no ambiente familiar, uma cultura perpetuada ao passar dos anos, a criança vista como menos importante que um adulto, não dando voz a elas. Hoje em dia há uma diferença, houve uma mudança nas relações com a criança, mas é confundida e distorcida em alguns momentos. O que se percebe é que no ambiente escolar suas necessidades e desejos são pouco reconhecidos, ainda se vê currículos rígidos, pautados no mundo adulto sem considerar os sujeitos envolvidos.

A infância como um meio social para a criança, o problema das gerações,

as técnicas do corpo e a educação da infância fazem parte do repertório

teórico da Sociologia da Infância, que vem cada vez mais se constituindo

como um campo profícuo e fecundo de pesquisas tanto para a Sociologia

quanto para a Educação (ABRAMOWICZ, 2018, pg. 379).

Na área da educação teóricos apontam que o meio mais eficaz para uma melhor aprendizagem é que os sujeitos se tornem protagonistas no seu aprender. Mas para isso é preciso desenvolver a sensibilidade, no olhar e no escutar, dos educadores, para que assim eles percebem que estes sujeitos são atores sociais, construtores de sua cultura, incluídos em uma sociedade, em instituições escolares que tem um fim social e vivendo diariamente relações e situações que lhes fazem ser, de uma maneira ou de outra, o comandante de suas escolhas.

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A criança é um sujeito de relações concretas, segundo Ana Lúcia G. Faria (2002), por isso se faz necessário, construir e fortalecer um campo de estudos que considere a criança como um ator social. Dentro da sociedade é preciso que se efetive a participação da criança democraticamente, a infância é uma variável, colocada em questão dentro da classe social, a criança é o que ela vive as relações que estabelece dentro da instituição familiar e dentro da sociedade são de grande importância para sua formação, e para sua constituição do futuro adulto. Sendo assim, se faz necessário que o educador se coloque na posição das crianças, não infantilizar a posição de adulto, mas que ele possa conceber as culturas das crianças, descentrando o seu olhar. Logo dentro da instituição escolar, é preciso que os envolvidos na educação com crianças, olhem para as necessidades e desejos delas, busquem por oportunizar um tempo e espaço voltado para desenvolver estes sujeitos.

Segundo QVORTRUP (2010), há uma exclusão da criança de dentro da sociedade, pois ao colocar, como exemplo, o objeto ou foco da educação em integrar a criança dentro da sociedade, estamos ao mesmo tempo negando o seu papel dentro dela, considerando que a mesma não seja um membro da sociedade. Neste caso é preciso que se tome outra perspectiva em relação às crianças, que de fato, e não apenas teoricamente, possamos enxergá-las como sujeitos pertencentes à sociedade, atores protagonista da construção de saberes. QVORTRUP (2010) afirma que, “As crianças são dessa forma, por definição, excluídas da sociedade, uma vez que a sua integração a esta marca o fato da sua infância ter chegado ao fim.” Isto significa, então, que a criança pode pertencer de forma participativa e ativa da sociedade a partir do momento que não forem mais crianças? Neste sentido é que a educação mais humana necessita quebrar com este paradigma, pois a criança é produtora de cultura, um ator social que precisa ter seu espaço garantido dentro da sociedade como um todo.

Por um lado, afirmam os pesquisadores, “a infância é um outro mundo”,

sobre o qual produzimos uma imagem mítica, por outro, não há este “outro

mundo”, porque é no campo das relações sociais que a criança cresce e se

constitui como sujeito. Por isto é que se pode afirmar que a participação das

crianças no processo educativo não se limita aos aspectos exclusivamente

psicológicos, mas sociais, econômicos, políticos e históricos (QUINTEIRO,

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Nas teorias da educação, o termo protagonismo infantil, vem de encontro com os estudos da Sociologia da Infância, a criança como sendo o ator, o protagonista da sua vida, das relações que estabelece e da constituição como ser integrante da sociedade. Tanto dentro da educação, como nas práticas sociais, deve-se haver uma mudança, pois estes, muitas vezes, não consideram as crianças como sujeitos participativos, não dão voz a elas, pois não as consideram capazes de atuar. Essa cultura escolarizante, que visa institucionalizar a infância, limita a criança a ser criança e viver sua infância apenas fora da escola, como se os dois fossem indissociáveis.

O que queremos dizer é sobre a necessidade de pensar o que tem sido o

processo de socialização das crianças mas, sobretudo, pensar outras e

novas formas de socialização para a produção de novas crianças e outras

infâncias no sentido de pensar uma outra forma de educação com crianças pequenas (ABRAMOWICZ & OLIVEIRA, 2010, pg.47).

Dentro da escola é preciso modificar os processos de socialização, visto que as crianças são produtoras de cultura, necessita-se pensar em metodologias que tenham por objetivo dar voz para a criança, assim como perceber nas experiências das crianças o conhecimento já construído, lhes possibilitando espaço para expor seus pontos de vistas e saberes, para assim construir novos conhecimentos. Assim sendo volta-se os olhares para o currículo de educação de crianças, é necessário que este conceba a criança na sua integralidade.

O papel do docente que trabalha com crianças é de pesquisador, observador, de escutar o que as crianças dizem do mundo que as rodeia, dar voz para estes sujeitos negligenciados, assim como a ludicidade é a afirmação da infância. Bem como o docente deve refletir sobre o espaço reservado para a infância dentro da educação infantil, como também dentro dos anos iniciais, pois os sujeitos dos anos iniciais do Ensino Fundamental também são crianças, assim como a legislação, o Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme Lei n°8.069/1990 considera criança até os dozes anos incompletos.

A valorização das particularidades infantis, e a compreensão das necessidades das crianças se põe como um desafio para docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental, isto, pois há uma pressão maior neste etapa da Educação Básica, o alfabetizar. Observa-se que os educadores desta etapa focam em seus

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planejamentos a concretização de seu objeto principal a alfabetização e conteúdos científicos, demonstrando discursos pedagógicos tradicionais. Pergunto-me sobre a compreensão de infância desses educadores, pois preocupam se em alfabetizar, passar conteúdos, e pouco enxergam o real sujeito que está à frente dele. Tomando como compreensão que é possível ajustar, oportunizar um ambiente de aprendizagens considerando o sujeito e suas singularidades.

A Base Nacional Comum Curricular (2018) assegura para as crianças a oportunidade de aprender, de ter um espaço para se desenvolver integralmente, mas sendo respeitadas suas singularidades e, sobretudo considerando-a como um sujeito ativo no processo de aprendizagem. Assim como na Educação Infantil a educação deve pautar-se no respeito pela criança e suas infâncias, no Ensino Fundamental também deve conceber que os alunos são crianças. No texto introdutório da etapa do Ensino Fundamental pode-se perceber isto, assim como a necessidade de uma articulação entre as duas etapas, para que a criança tenha suas experiências dentro da sociedade valorizadas.

A BNCC do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, ao valorizar as situações

lúdicas de aprendizagem, aponta para a necessária articulação com as

experiências vivenciadas na Educação Infantil. Tal articulação precisa

prever tanto a progressiva sistematização dessas experiências quanto o

desenvolvimento, pelos alunos, de novas formas de relação com o mundo,

novas possibilidades de ler e formular hipóteses sobre os fenômenos, de

testá-las, de refutá- -las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos (BNCC, 2018, pg.57).

A partir de um currículo e metodologias pensadas para as crianças, oportunizando que elas se façam participantes deste processo também, valorizam as crianças e as envolvem na educação como protagonistas. Esta faixa etária tem suas especificidades, e neste processo educativo deve ser concebidas, são sujeitos pertencentes a um grupo social que têm vivências e delas agregam saberes. Por isso que na própria Base Comum Curricular Nacional (2018), busca trazer como referência que a escola tente organizar o espaço tempo das crianças de modo a considerar os interesses das crianças ao mesmo tempo em que faça a mediação entre os conhecimentos científicos. Assim desse modo é que se concretizará a aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletir sobre os conceitos postos pela Sociologia da Infância pode-se analisar que ao se considerar os sujeitos e suas infâncias há um melhor desenvolvimento no ensino-aprendizagem, assim como há uma maior apropriação, por parte dos sujeitos, do conhecimento. Tomando a criança como sendo protagonista de sua vida, ator social dentro da sociedade, compreende-se que estes sujeitos têm suas particularidades e que é preciso ser respeitadas, não se pode tomar como sendo certo apenas um ponto de vista, e assim é com as crianças, o adulto se coloca na posição de determinador do que é melhor para ela, sem ao mesmo escutá-la.

Compreende-se com os estudos da Sociologia da Infância, que é preciso estabelecer uma construção dialógica, entre o adulto e a criança, em que o adulto possa uma desenvolver uma reflexibilidade investigativa a partir das vivências e do testemunho infantil. Isto significa que o adulto e ou o educador, necessita escutar os testemunhos infantis, as falas das crianças, para assim compreender a complexidade da infância, como também nesse contexto analisar as produções simbólicas das crianças, evidenciando a cultura própria destes indivíduos.

Partindo destes pressupostos, precisa-se pensar uma educação a partir do contexto das crianças, dando direito à participação, possibilidade de dar voz a elas, e isto implica em dar à criança o direito de escolha, de opinar nas questões com relação à construção de saberes, e da própria organização do tempo e espaço da infância. A escola está voltada conforme o tempo e espaço que os adultos, assim consideram melhor para as crianças, não são respeitadas as necessidades destes sujeitos.

Na educação de crianças a Sociologia da Infância tem muito a contribuir, pois a partir de suas pesquisas é possível uma compreensão das relações que se estabelecem dentro da escola, assim como muito importante para se pensar em uma pedagogia para as infâncias. Para isto se faz necessário que dentro da formação de professores, volte-se os olhares para as conceitos de criança e infância e assim questionar as concepções que educadores têm dos mesmo. Percebe-se que a relevância dos estudos do campo da sociologia para a formação de professores, se

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faz necessário para assim fazer uma reflexão sobre a práxis dos educadores, que estes possam desenvolver um olhar mais sensível e humano dentro das relações que estabelecem com crianças no âmbito escolar.

Para uma educação de qualidade, pensada para as crianças, é necessário que a criança atue como sujeito ativo na sua aprendizagem, isto para futuramente tornar-se um indivíduo consciente, crítico e criativo, para tanto é preciso articular os vários conhecimentos que estão sendo construídos sobre a criança e infância dentro do campo de estudos da sociologia da infância, estes podem superar a dicotomia entre a teoria e prática. Portanto é preciso articular as diversas pesquisas sobre a criança e a infância, produzidas, nos vários campos de estudos, para que se possa desenvolver competências docentes que valorizem e respeitem estes sujeitos, assim como suas infâncias.

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Referências

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