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Fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em pequenas comunidades: estudo de caso na comunidade do Camburi, Ubatuba - SP

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Academic year: 2021

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Universidade Federal de São Paulo

Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas Campus Diadema

Graduação em Ciências Ambientais

Gabriel Augusto Marques Bernardes

Fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em pequenas

comunidades: estudo de caso na comunidade do Camburi

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Gabriel Augusto Marques Bernardes

Fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em pequenas

comunidades: estudo de caso na comunidade do Camburi

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção de título de Bacharel em Ciências Ambientais, ao Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliane Simões

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Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)

Bernardes, Gabriel Augusto Marques

Fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em pequenas comunidades: : estudo de caso na comunidade do Camburi, Ubatuba - SP / Gabriel Augusto Marques Bernardes. – – Diadema, 2020.

80 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Ambientais) - Universidade Federal de São Paulo - Campus Diadema, 2020.

Orientadora: Eliane Simões

1. Resíduos Sólidos. 2. Comunidades. 3. Camburi. 4. Ubatuba. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, Campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

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Gabriel Augusto Marques Bernardes

Fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em pequenas

comunidades: estudo de caso na comunidade do Camburi, Ubatuba - SP

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Ambientais, ao Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo – campus Diadema.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Eliane Simões Data da defesa: _____ de outubro de 2020

Membros componentes da banca examinadora

____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Eliane Simões (Orientadora)

(Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas - Unifesp, campus Diadema)

____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Rosangela Calado da Costa

(Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas - Unifesp, campus Diadema)

____________________________________________ Prof. Dr. José Guilherme Franchi

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9 Dedico este trabalho a todos que queriam me ver aqui e além.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente e principalmente a minha avó, uma mulher guerreira e de força imensurável que a sua maneira sempre me ofereceu seu suporte e as condições necessárias para que eu pudesse chegar aqui. Agradeço também a minha irmã Isabela que apesar não poder me oferecer o suporte necessário, me proporcionou um grande crescimento pessoal, colorindo um pouco mais a vida, me inspirando a ser uma pessoa cada vez melhor.

Agradeço a todos os bons amigos, em especial a Carol, Caio, Rodrigo, Danilo, Vinicius, Guilherme, Felipe, Rafael, Jeferson e Gabs pelas conversas, rolês, risadas, conselhos e parcerias, que não foram apenas importantes ao longo da minha graduação, contribuindo para meu crescimento profissional e acadêmico, mas, principalmente, para meu desenvolvimento pessoal.

Gostaria de agradecer minha orientadora Eliane Simões pela oportunidade de me envolver nesse projeto, ora pelo Programa Picinguaba, ora por este trabalho, neste lugar tão lindo e maravilhoso que é a Comunidade do Camburi, lá aprendi muito e vivi momentos incríveis, agradeço também por todo apoio e colaboração com o desenvolvimento de meu trabalho.

Gostaria de agradecer muito a minha supervisora Luciana Rizzo, que me apoiou muito também, não só no desenvolvimento deste trabalho, mas em toda a graduação, durante as monitorias que trabalhamos juntos e outros projetos desenvolvidos, expandindo absurdamente minha visão sobre a ciência e o mundo que vivemos, obrigado por ser essa cientista e pessoa incrível que você é.

Agradeço especialmente a minha parceira da vida Stella, que sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis, me proporcionando um ponto de paz no meio ao caos em que vivemos, tornando a vida mais leve, e agradável, inspirando minhas poesias, você sempre vai ser meu sol.

E por fim, gostaria de agradecer a Unifesp por ter me acolhido todos esses anos, ter me proporcionado momentos incríveis de crescimento pessoal e muita sabedoria.

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“O que sabemos é uma gota, o que não sabemos ou ignoramos é um oceano.”

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RESUMO

A gestão de resíduos sólidos é um dos grandes problemas da atualidade, e não ocorre somente nos grandes centros urbanos, onde a geração é mais acentuada. Muitas comunidades tradicionais, rurais e isoladas dos centros urbanos também apresentam dificuldades em realizar a gestão de seus resíduos sólidos gerados, devido principalmente, às alterações ocorridas em seus padrões de geração, provenientes do consumo de produtos e serviços industrializados associado ao acelerado processo de urbanização. Dessa perspectiva, o presente estudo, buscou inferir os fatores de influência relacionados à gestão de resíduos sólidos em uma dessas comunidades tradicionais. Para isso, foram levantados dados qualitativos acerca da gestão de resíduos sólidos realizada na comunidade do Camburi – Ubatuba (SP), por meio de formulários aplicados aos atores de interesse e intervenções a comunidade, realizadas em abril e maio de 2019 com o auxílio do programa de extensão, Práticas Ambientais entre Comunidades Tradicionais do Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Picinguaba (Programa Picinguaba) da Unifesp Diadema. Esta pesquisa também buscou levantar informações sobre a gestão de resíduos sólidos realizada pela Prefeitura Municipal de Ubatuba e suas implicações para a comunidade do Camburi. Além disso, foram propostos recomendações e instrumentos de facilitação para melhorar o processo de gestão de resíduos sólidos realizado na comunidade. Por meio dos resultados obtidos com a aplicação de formulários e as intervenções realizadas na comunidade, foi possível inferir sete fatores de influência na gestão de resíduos sólidos: a organização social, a localização geográfica, o turismo, a educação ambiental, a infraestrutura, a atuação do poder público e a logística reversa. Estes fatores também foram observados em outros estudos acerca da gestão de resíduos em comunidades tradicionais e rurais, e afetam não apenas os moradores da comunidade, mas também a prefeitura local e outros atores envolvidos no processo de gestão de resíduos sólidos. Por meio das intervenções realizadas junto a comunidade, foi possível observar, que o papel da universidade em estudar problemáticas como esta, se mostra muito importante e necessário, não apenas no sentido de fazer valer a proposta da extensão universitária e a troca de saberes, mas também em divulgar de maneira sistemática problemas como este, a fim de orientar os tomadores de decisão na resolução destas questões, bem como, mostrar possíveis caminhos a serem seguidos para se alcançar tais objetivos.

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ABSTRACT

The management of solid waste is one of the major problems today, and it does not occur only in large urban centers, where the generation of waste is more pronounced. Many traditional, rural and isolated communities in urban centers also have difficulties in managing their solid waste generated, mainly due to changes in their generation patterns, resulting from the consumption of industrialized products and services associated with the accelerated urbanization process. From this perspective, the present study sought to infer the influencing factors related to solid waste management in one of these traditional communities. For this purpose, qualitative data were collected on the management of solid waste carried out in the Camburi community - Ubatuba (SP), using forms applied to stakeholders and community interventions, carried out in April and May 2019 with the assistance of the extension program, Environmental Practices Among Traditional Communities of Serra do Mar State Park – Núcleo Picinguaba (Programa Picinguaba) of Unifesp Campus Diadema. This research also sought to gather information about the solid waste management carried out by the Municipality of Ubatuba and its implications for the Camburi community. In addition, recommendations and facilitation tools were proposed to improve the solid waste management process carried out in the community. Through the results obtained with the application of forms and interventions, it was possible to infer 7 factors of influence in the management of solid waste carried out by the Camburi community, these being the social organization, the geographical location, the tourism, the environmental education, the infrastructure, public management and reverse logistics, these factors have also been observed in other studies on waste management in traditional and rural communities, and affect not only the residents of the community, but also the local city hall and other actors involved in the management process solid waste. Through the interventions carried out by the community, it was possible to observe that the role of the university in studying problems such as this, proves to be very important and necessary, not only in the sense of enforcing the proposal for university extension and the exchange of knowledge, but also to systematically disclose problems like this, in order to guide decision makers in resolving these issues, as well as showing possible paths to be followed to achieve such goals.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização da comunidade do Camburi no município de Ubatuba - SP ...28 Figura 2 - Ponto de armazenagem e coleta de resíduos localizado na estrada principal de acesso a comunidade...30 Figura 3 - Ponto de armazenagem e coleta de resíduos do setor Praia; Cenário observado

principalmente em épocas de verão e eventos na

comunidade...32 Figura 4 - Outro ponto de armazenagem e coleta de resíduos do setor Praia...33 Figura 5 - Outro ponto de armazenamento e coleta de resíduos; Contêiner fornecido pela SANEPAV, na tentativa de conter o grande aporte de resíduos no ponto...33 Figura 6 – Recibo de compra e venda de materiais recicláveis de um estabelecimento (sucateiro) situado em Patrimônio, um bairro de Paraty-RJ que compra resíduos recicláveis da comunidade do Camburi-SP...34 Figura 7 – Convite confeccionado para a oficina de futuro e entregue aos atores de interesse...37 Figura 8 – Produto bruto da Oficina do Futuro – Nas placas os participantes indicaram ideias para ações de longo, médio e curto prazo a serem desenvolvidas pelas associações e moradores interessados em contribuir com a gestão de resíduos na comunidade do Camburi...39

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterização da Gestão de Resíduos sólidos no Bairro do Camburi...24

Quadro 1 – Categoria 1: Percepção individual da gestão de resíduos sólidos na Comunidade ...43

Quadro 2 – Categoria 2: Percepção do engajamento da comunidade na gestão de resíduos sólidos...44

Quadro 3 – Categoria 3: Principais desafios e obstáculos da gestão de resíduos sólidos...45

Quadro 4 – Categoria 4: Responsabilidade pela gestão de resíduos sólidos...46

Quadro 5 – Categoria 5: Planos de ação e melhorias a serem realizadas...47

Quadro 6 – Categoria 6: Perspectivas futuras acerca da comunidade e da gestão de resíduos sólidos...49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMAC Associação dos Moradores e Amigos do Cambury

ARQC Associação dos Remanescentes de Quilombo do Cambury ITESP Instituto de Terras do Estado de São Paulo

PESM Parque Estadual da Serra do Mar

PESM-NP Parque Estadual da Serra do Mar - Núcleo Picinguaba PGRS Plano de Gestão dos Resíduos Sólidos

PMGIRS Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos PNSB Parque Nacional da Serra da Bocaina

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

PUT Plano de Uso Tradicional

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

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SUMÁRIO

1. Introdução 19

1.1 A Problemática dos Resíduos Sólidos 19

1.2 Comunidades e a questão dos resíduos 20

1.3 Programa Picinguaba 23 1.3.1 Comunidade do Camburi 24 1.4 Justificativa 28 2. Objetivos 30 2.1 Objetivo geral 30 2.2 Objetivos específicos 30 3. Percurso Metodológico 31

3.1 Coleta e produção de dados primários 31

3.1.1 Aplicação de formulários 31

3.1.2 Realização de Oficinas Temáticas 32

a. Oficina de Futuro 33

b. Criação de um Selo "Verde" Ambiental: 35

3.1.3 Observações de Campo 31

3.2 Análise de dados secundários: gestão de resíduos sólidos realizada pela Prefeitura

Municipal de Ubatuba em Camburi 37

3.3 Análise dos dados coletados 37

3.3.1. Análise dos dados coletados por meio de entrevistas 37

3.3.2. Análise dos dados coletados por meio das oficinas realizadas 38

4. Resultados e Discussão 40

4.1 Resultado da Coleta de dados primários 40

4.1.1 Observações de Campo 40

4.1.2 Dados coletados nas aplicações dos formulários 45

4.1.3 Realização de Oficinas 54

a. Oficina de futuro 54

b. Criação de um selo verde ambiental 56

4.2 Análise dos dados secundários levantados acerca da gestão pública de resíduos sólidos

e sua atuação na comunidade. 57

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18 a. Organização Social 59 b. Localização 62 c. Turismo 63 d. Educação Ambiental 64 e. Infraestrutura 65

f. Atuação do Poder Público 67

g. Logística Reversa 69

4.2.1 Discussão dos Fatores 70

4.2.2 Recomendações para a comunidade do Camburi com base nos fatores identificados 72

5. Considerações finais 75

Referências 78

Anexo I – Plano de Gestão de Resíduos Sólidos estruturado em intervenção do Programa Picinguaba, juntamente com os atores engajados na gestão de resíduos sólidos na

comunidade do Camburi, em fevereiro de 2019. 81

Anexo II - Formulário desenvolvido para aplicação digital aos atores de interesse,

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1. Introdução

1.1 A Problemática dos Resíduos Sólidos

O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos descartáveis em um cenário globalizado, provocou um aumento exponencial no volume e na diversidade dos resíduos gerados, colaborando para a sua incorreta destinação e transformando a questão dos resíduos em um dos principais problemas da atualidade. A produção de resíduos é uma atividade muito variada e está diretamente ligada ao nível de desenvolvimento econômico, à população e seus diferentes extratos sociais (PINHEL, 2013).

Essa problemática se mostra ainda mais caótica no âmbito da gestão municipal e sobretudo em comunidades pequenas, rurais e isoladas que enfrentam o desafio de realizar adequadamente a gestão de seus resíduos necessitando buscar soluções de curto e médio prazo eficientes dentro do cenário em que estão inseridas (CABANA, SOUZA e COSTA, 2009). Assim, a gestão dos resíduos sólidos adequada e sustentável é um grande desafio que deve ser encarado com muita seriedade por todos os atores envolvidos no ciclo de vida dos resíduos.

É neste cenário que surge a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)1 implementada no Brasil em 2 de agosto de 2010, e estabeleceu as diretrizes para a gestão de resíduos sólidos no país, estabelecendo de forma obrigatória, a construção de planos de gestão de resíduos sólidos a todos os municípios e estados. Os planos de gestão de resíduos sólidos descrevem as ações e instrumentos necessários ao manejo dos resíduos sólidos gerados no município, desde os aspectos da geração, separação no descarte, acomodação, coleta (seletiva e convencional), armazenamento, transporte, tratamento, e destinação final. Estes aspectos devem ser planejados e implementados levando-se em conta as especificidades de cada município e suas unidades constituintes, bairros, comunidades e entidades para que possam colaborar dentro dessa problemática.

O diagnóstico inicial da situação da gestão dos resíduos sólidos no local é essencial para seu desencadeamento. A partir dele, pode ser definido o prognóstico futuro para o plano de gestão, suas linhas de ação, metas, instrumentos, recursos humanos, materiais e recursos financeiros necessários (PINHEL, 2013). O desenvolvimento de programas de educação

1 A Lei 12.305/2010, denominada Política Nacional de Resíduos Sólidos, institui os princípios, objetivos e

instrumentos, sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. E segundo seu Art. 1°, parágrafo 1, "Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos".

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20 ambiental neste contexto também constitui um dos principais instrumentos na gestão de resíduos sólidos que visa reduzir a quantidade e melhora na sua destinação, devendo ser considerado pelos municípios e demais entidades na elaboração de planos de gestão de resíduos sólidos.

Segundo a Lei Federal n° 9.795 de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental em seu artigo primeiro:

Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, p. 1).

Desta forma, a Política Nacional de Educação Ambiental busca disseminar o conhecimento sobre as diversas vertentes ambientais, a visão crítica e a sensibilização de que o ser humano é parte do meio e responsável por ele (PINHEL, 2013), além de ser integrada à PNRS (2010, art. 5).

A PNRS (2010) também determina que a prática dos 5R’s, isto é, “Recusar, Reduzir, Repensar, Reutilizar e Reciclar”, seja considerada na elaboração dos planos de gestão de resíduos sólidos. Essa prática é indicada como opção mais viável para reduzir o impacto do lixo no meio ambiente, com a consequente redução da produção e minimização dos resíduos gerados. A política também prevê que o plano de gerenciamento seja elaborado mediante processo de mobilização e participação social (SARUWATARI e FARIAS, 2017).

Na zona urbana dos municípios, o gerenciamento de resíduos sólidos acontece de forma mais facilitada, principalmente em razão da infraestrutura disponível e dos esforços demandados, o que já não acontece em periferias e locais mais afastados do centro, bem como, em comunidades de municípios com extensas área rurais, essas comunidades rurais e isoladas muitas vezes acabam realizando seu próprio gerenciamento de resíduos sólidos, pois sem contar com a assistência governamental necessária precisam criar alternativas nem sempre adequadas para a disposição final de seus resíduos.

1.2 Comunidades e a questão dos resíduos

Comunidades podem ser definidas como grupos de pessoas que compartilham algo em comum, um laço consanguíneo, uma história, um objetivo comum, padrões socioeconômicos, uma determinada área geográfica ou práticas comuns entre si (SINGER, 2014). Sendo que,

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21 dentre elas, destacam-se as comunidades tradicionais2. Estima-se que os povos e comunidades

tradicionais ocupem 25% de todo território brasileiro (ECO BRASIL, 2017) espalhadas em diversos estados, e presentes em diferentes tipos de biomas, muitas ainda hoje situadas em meio rural e isoladas em relação aos grandes centros urbanos.

Muitas dessas comunidades e povos tradicionais compartilham características de formação histórica em comum como por exemplo, os povos caiçaras, grupos sociais originários da miscigenação entre indígenas nativos, negros africanos e europeus que se desenvolveram essencialmente no bioma Mata Atlântica, no litoral do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, em pequenos enclaves de terra, na estreita faixa territorial que separa a Serra do Mar do Oceano Atlântico (PORTAL YPADÊ, 2016). Muitas dessas comunidades caiçaras ainda vivem essencialmente de atividades extrativistas, como a pesca, e da agricultura familiar, e geralmente estão situadas ainda em locais de difícil acesso, mantendo as características originárias - acesso via travessias marítimas a barco, ou por meio de caminhadas por íngremes encostas e pela mata fechada (PORTAL YPADÊ, 2016), caracterizando assim uma situação de isolamento geográfico. Essa condição, na maior parte dos casos do contexto caiçara, especialmente entre o sul fluminense e o norte paulista, permaneceu inalterada até meados da década de 80, quando a expansão urbana acompanhada da intensiva extensão da malha rodoviária (BR-101) por parte dos Governos Federal e Estadual facilitou de certa forma o acesso a essas comunidades.

A partir daí o modo de vida dessas comunidades foi amplamente afetado, proporcionando o constante acesso aos seus territórios, não só por parte dos moradores, quanto uma maior abertura para visitantes. A especulação imobiliária proveniente de grandes empresas, empreendedores individuais e veranistas, acarretou a compra e venda de grandes porções de terra dentro das comunidades, muitas vezes através de propostas sofisticadas, visto a simplicidade e a falta de escolaridade dos moradores da região. Além dessa presença crescente de turistas, a economia local que antes estava exclusivamente ligada a atividades de subsistência como a pesca e o plantio, passaram a englobar também atividades do setor terciário, isto é, o oferecimento de bens e serviços aos turistas, aumentando consequentemente a circulação de produtos industrializados tanto para a venda quanto para o consumo interno dos próprios moradores dessas comunidades, com o aumento de renda vindo de fora.

2 De acordo com o Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, em seu Art.° 3, Inciso I. “Povos e Comunidades

Tradicionais são: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.

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22 Este aumento crescente de pessoas e produtos industrializados antes inexistentes dentro dessas comunidades acarretou, dentre muitos outros problemas, o acúmulo excessivo de resíduos sólidos e, principalmente os chamados resíduos sólidos urbanos3, comumente chamados de “lixo”, principalmente em épocas de veraneio, quando o turismo é mais intenso. Esse material heterogêneo que foi se amontoando de forma aleatória, já que normalmente essas localidades não dispõem de estruturas apropriadas em quantidade e qualidade para o descarte adequado, acarretou um cenário de sobrecarga às comunidades que não estavam, e ainda não estão, de modo geral, preparadas para isto (CASTILHO et al, 2014; DIÓRIO, A.P.I.; SANTOS, E. C.; ARAÚJO, C. P., 2018). Nesse cenário, é comum a prática da queima e do aterramento dos resíduos sólidos, bem como o lançamento de resíduos sólidos em cursos d’ água, ou ainda a sua disposição ao ar livre ocasionando diversos problemas como mau odor, poluição visual, contaminação do meio e consequentemente, a disseminação de doenças graves (SANTOS & OLIVEIRA, 2009 apud SARUWATARI e FARIAS, 2017).

Além disso, de acordo com CARDOSO et al (2015) apud FREIRE et al (2018), a maioria dos problemas sanitários que afetam a população estão intrinsecamente relacionados com o meio ambiente, em particular, com a geração, descarte, coleta e destinação final dos resíduos sólidos. A poluição generalizada decorrente do descarte inadequado de resíduos é um risco que causa impactos ambientais e sociais às comunidades, comprometendo a sua qualidade de vida, e em especial, descaracterizando o objeto de interesse turístico, o que se faz mais importante para as comunidades caiçaras, que têm no turismo, atualmente, a frente econômica mais importante para sua sustentação sociocultural e econômica.

Algumas destas comunidades inclusive são contempladas pela coleta de lixo convencional e seletiva, provida pelo município no qual estão inseridas, porém, esta não é a realidade da maioria (FREIRE et al. 2016; RENK et al, 2011). Além disso cada uma dessas comunidades exibe características muito específicas acerca de sua organização social, costumes e cultura local, localização geográfica, grau de isolamento e outras características que, apesar de refletirem raízes históricas similares como mencionado, apresentam vários elementos associados a si que configuraram contextos diferentes ao longo do tempo. Além disso, a pressão do turismo se faz diferente em cada uma, dependendo muito dos atrativos turísticos que a área apresenta como um todo. Desta forma, há comunidades em que a questão dos resíduos é tratada de forma mais articulada e sua gestão tende a ser mais eficaz.

3 De acordo com a NBR ABNT 10004 de 2004, resíduos nos estados sólido e semissólidos, que

resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição, sendo os RSU resultantes da atividade doméstica e comercial dos centros urbanos.

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23 É importante ressaltar, no entanto, que tanto as comunidades que conseguem gerir os resíduos produzidos quanto as que não o fazem satisfatoriamente precisam ou precisaram passar por processos formativos de construção de saberes coletivos para ampliar sua capacidade de lidar com seus resíduos (ARAÚJO, SANTOS e DIÓRIO, 2018). Esse aprendizado é necessário pois, antes do processo de urbanização chegar com estradas, produtos e tecnologia a estes lugares, os costumes, saberes e a cultura destas comunidades tradicionais eram suficientes para lidar com esta problemática de maneira mais eficiente e integrada com o meio onde estão inseridas. Isso quer dizer que, a geração de resíduos sólidos era menor anteriormente, considerando o modo de vida tradicional destas comunidades, bem como a presença de resíduos sólidos urbanos que não podem ser inseridos novamente na natureza4 de maneira simplificada, visto suas especificidades, era inexistente.

Essa problemática levou à questão do presente estudo: como auxiliar estas comunidades a gerenciar os resíduos sólidos produzidos em seus territórios? Quais fatores influenciam de forma negativa e positiva a gestão de resíduos sólidos nas pequenas comunidades? E quais estratégias e instrumentos podem ser utilizados para melhorar de maneira significativa essa realidade vivida por elas? As respostas a essas várias inquietações foram elaboradas a partir deste projeto de pesquisa denominado "Estudo dos fatores que influenciam a gestão de resíduos sólidos em comunidades pequenas - Estudo de caso da comunidade do Camburi/Ubatuba-SP". A viabilização deste trabalho foi possível por meio de intervenções realizadas pelo programa de extensão intitulado “Práticas Ambientais entre Comunidades Tradicionais do Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Picinguaba” denominado Programa Picinguaba, o qual será descrito no item seguinte.

1.3 Programa Picinguaba

O Programa de Extensão5 da Unifesp intitulado “Práticas Ambientais entre Comunidades Tradicionais do Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Picinguaba” denominado Programa Picinguaba (e vinculado ao curso de graduação em Ciências Ambientais da Unifesp), foi formulado pela Profª Eliana Rodrigues, Coordenadora do Centro de Estudos Etnobotânicos

4 De acordo com a Norma NBR ABNT 10.004, podemos observar que cada tipo de resíduo sólido tem uma

destinação diferente, e alguns com normativas próprias de gestão.

5 “A Unifesp definiu em seu Regimento Interno que a extensão é: ‘Um processo educativo, artístico, cultural,

científico e político, desenvolvido na relação entre a universidade e demais setores da sociedade, que se articula ao ensino e à pesquisa de forma indissociável, e que viabiliza a troca de saberes sistematizados entre a universidade e a comunidade, com objetivos de produzir conhecimentos derivados do contato com a realidade social, democratizar o conhecimento acadêmico e fomentar a participação efetiva da universidade na transformação da realidade social’” (UNIFESP, 2019, p. 13 e 14).

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24 da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e visava a troca e a construção colaborativa de conhecimentos entre a universidade a as comunidades tradicionais pertencentes à região de Ubatuba, nas quais já havia desenvolvido trabalhos anteriormente. Em 2018, os professores participantes do programa definiram eixos temáticos para se trabalhar com essas comunidades e que também refletissem suas necessidades. Assim, um dos eixos temáticos definidos foi a gestão de resíduos sólidos, em especial dentro da comunidade do Camburi – Ubatuba-SP, que apresentava e ainda apresenta esta problemática como uma de suas demandas prioritárias. Assim, após reuniões de validação entre a comunidade e a universidade, visando definir a forma mais rápida e produtiva de se trabalhar o tema dentro da comunidade, considerando suas dificuldades para tal, surgiu a ideia de estruturar uma força tarefa em formato de voluntariado no período das férias de verão, envolvendo alunos e professores.

1.3.1 Comunidade do Camburi

A comunidade do Camburi, ou Camburi das Pedras como também é conhecida está localizada a 40km do centro do município de Ubatuba, e abriga a última praia do litoral norte de São Paulo fazendo, desta forma, divisa com o município de Paraty-RJ (Figura 1). Em situação de semi-isolamento6, a comunidade está inserida em sobreposição à área de duas

Unidades de Conservação7 (UC) da Mata Atlântica, que se interpõem em seu território, sendo

estas o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) - Núcleo Picinguaba, e o Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), os dois pertencentes ao Mosaico Bocaina de Áreas Protegidas8. Essa sobreposição, no entanto, impõe uma série de restrições legais para o desenvolvimento da comunidade, por meio de normativas legais que impedem a realização das atividades socioeconômicas básicas, a construção de novas moradias e instalação de infraestrutura, tais como, luz elétrica, pavimentação da estrada etc. (UNIFESP, 2019). Isso gerou uma série de conflitos internos e externos e uma condição de exclusão social que a diferencia, desta forma, das demais comunidades do entorno. Apesar disso, ao final de 2004, no entanto, um

6 A comunidade do Camburi se encontra em estado de semi-isolamento segundo Simões et al, 2006. Esse

isolamento pode ser observado pela sua carência de acesso a serviços e assistência municipal, devido principalmente sua topografia, estrada precária e ausência do poder público.

7 Segundo o Art. 2°, inciso I da Lei 9.985/2000 (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza –

SNUC), unidade de conservação é um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

8 Instituído pela Portaria MMA nº 349, de 11 de dezembro de 2006. Sendo o objetivo do mosaico estimular a

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25 instrumento jurídico foi formulado pela gestão do PESM em parceria com diversas entidades como Itesp, Ministério Público e outras, que procurou estabelecer a gestão compartilhada do território, por meio do Plano de Uso Tradicional do Camburi, incorporado ao Plano de Manejo do PESM-NP em 2006 (SIMÕES, 2010). Estas medidas permitiram que a comunidade pudesse utilizar a área onde estão inseridas, para suas atividades tradicionais e moradia, contudo com algumas restrições de acesso e expansão, que caso sejam necessárias devem ser aprovadas legalmente pela gestão do PESM-NP.

Figura 1. Localização da comunidade do Camburi no município de Ubatuba - SP

Fonte: Google Maps® 2019.

A comunidade do Camburi conta com aproximadamente 700 pessoas9, dentre moradores tradicionais e flutuantes (provenientes de outras localidades), ao longo da maior parte do ano. No entanto, sua localização privilegiada entre a serra e o mar, imersa na mata atlântica, contempla uma série de atrativos naturais de extrema beleza que atraem muitos turistas. Na alta temporada de verão a comunidade chega a abrigar cerca de 3500 pessoas ao

9 Segundo dados obtidos na Atualização do Cadastramento das Edificações no Camburi, parte integrante das ações

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26 mesmo tempo. Portanto, além da condição de sobreposição territorial com as UCs, o território dessas comunidades recebe alta pressão oriunda da especulação imobiliária e dos veranistas que acampam ou alugam casas, e estabelecimentos comerciais nesta época.

Essa intensa visitação traz diversos problemas para a comunidade, comoa geração de grandes volumes de resíduos que não correspondem à capacidade de armazenamento e gestão, como mencionado.

O bairro do Camburi é dividido em cinco setores, sendo estes, partindo da Rodovia Governador Mário Covas (BR-101) até a faixa de praia, os setores Cabiúna, Jambeiro, Roça Grande, Timbuíba e o setor Praia. No setor praia se encontra a Associação de Amigos e Moradores do Camburi (AMAC), que representa os interesses dos moradores caiçaras da comunidade, e tem forte atuação neste setor do bairro, em diversas questões, como saúde, saneamento (abrangendo a gestão dos resíduos sólidos), educação etc. Contemplando o local de maior interesse para os turistas, o setor Praia concentra os maiores problemas relacionados à gestão de resíduos sólidos na comunidade, devido à presença de quiosques e o grande consumo de produtos e serviços. Além disso os demais setores da comunidade são majoritariamente residenciais e agrícolas, e o turismo de base comunitária ocorre de maneira pontual e monitorada por moradores capacitados pelo PESM-NP. Desta forma, considerando a necessidade emergente de gerir os resíduos sólidos gerados de maneira intensiva no local, às atividades propostas no percurso metodológico deste estudo, tanto o levantamento de dados primários como a realização de oficinas, foram realizadas dentro do setor Praia.

O primeiro voluntariado do Programa Picinguaba, com ênfase na gestão de resíduos sólidos na comunidade do Camburi, ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2019, e constituiu a primeira etapa de um conjunto de ações que foram desenvolvidos ao longo desse mesmo ano, com o objetivo de elaborar e implementar um Plano de Gestão de Resíduos Sólidos de forma participativa no Camburi. O PGRS teve como objetivo: sensibilizar e envolver a comunidade para correta destinação dos resíduos sólidos gerados especialmente na praia (segundo prioridade definida pelas lideranças comunitárias), conforme as condições locais, seus recursos disponíveis, entre outros aspectos.

A intervenção dessa primeira etapa alcançou os seguintes principais resultados:

• Diagnóstico da tipologia e situação de descarte de resíduos em 130 edificações do bairro;

• Formulação conjunta do Plano de Gestão de Resíduos Sólidos da comunidade (Anexo I), contemplando ações prioritárias para a finalização desta intervenção, e

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27 compromissos combinados entre as associações do bairro e os estabelecimentos da praia, além de outros aspectos;

• Montagem e instalação de kits de descarte de resíduos, recicláveis e não recicláveis, em pontos estratégicos da praia, sob a guarda de quiosques que se incumbiram da sua gestão (com apoio das associações de moradores), contemplando: 6 latões para resíduos inorgânicos, 6 lixeiras de bambu para resíduos orgânicos, 6 bituqueiras de bambu (pontas de cigarro); 12 placas com informações de cunho educativo; e 8 bituqueiras de pet;

• Coleta de 1730 kg de materiais recicláveis pela Cooperativa Coco & Cia, proveniente do centro de Ubatuba;

• Formulação de um Plano de Monitoramento para os kits instalados e para a destinação adequada de resíduos por parte dos quiosques, incluindo um conjunto de ações (dentre elas, a destinação adequada, separação de resíduos, compostagem e colaboração para a coleta seletiva).

Essas atividades contaram com baixa adesão dos moradores da comunidade, seja durante o processo realizado mediante acompanhamento direto do voluntariado, seja posteriormente, em que um grupo de moradores ficou incumbido de realizar o monitoramento das atividades previstas no PGRS. De modo geral, os responsáveis pelos quiosques e pelo monitoramento não foram capazes de dar continuidade ao trabalho planejado e iniciado. A principal justificativa apresentada pelos moradores foi o seu envolvimento com os serviços voltados para os visitantes na época de alta temporada (verão), que propicia o ganho financeiro anual de maior relevância para a comunidade. No entanto, é também nessa mesma época que a destinação de resíduos sólidos se torna mais deficiente e requer maior planejamento, e por isso, as lideranças comunitárias solicitaram apoio da equipe da Unifesp para enfrentar esse problema. A coleta seletiva que foi realizada pela cooperativa de reciclagem Coco & Cia não foi continuada, devido à falta de contribuição financeira dos moradores para cobrir os gastos da coleta, tais como o de transporte dos resíduos, e desta forma optaram por cessar o serviço.

Apesar dos pontos negativos mencionados acima, a intervenção realizada por meio do voluntariado de verão identificou que boa parte dos moradores da comunidade, segundo o levantamento realizado pelo Programa Picinguaba, já fazia algum reaproveitamento acerca de seus resíduos sólidos, em âmbito domiciliar, como é possível observar na Tabela 1.

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28 Tabela 1. Caracterização da Gestão de Resíduos sólidos no Bairro do Camburi.

Edificações presentes no bairro

Entrevistadas Não entrevistadas

130 27

Separação de resíduos sólidos

Sim Não

74 56

Destinação Alternativa Outro tipo de destinação

Compostagem Reciclagem Queima Enterra

48 14 18 6

* Entrevistas realizadas pelo grupo do cadastramento de edificações do Programa Picinguaba de Extensão

Fonte: Unifesp, 2019

Após o término desta iniciativa do programa de voluntariado em 15 fevereiro de 2019, foi produzido um relatório das atividades desenvolvidas (Unifesp, 2019), no qual evidenciou-se a necessidade de prosevidenciou-seguir com as atividades e intervenções de extensão acerca da gestão de resíduos sólidos na comunidade para que se alcançasse uma melhora significativa, além da instalação de mecanismos mais eficazes de monitoramento a médio e longo prazos da gestão de resíduos sólidos realizada pela própria comunidade, após a intervenção do programa da Unifesp.

1.4 Justificativa

Nessa primeira etapa das ações de intervenção do Programa Picinguaba no Camburi foram identificados alguns problemas centrais dificultadores: sua condição de difícil acesso, conflitos socioambientais relacionados à sobreposição territorial com unidades de conservação, inexistência de serviços básicos, turismo de massa sazonal como principal fonte de renda e insuficiência de outros postos de trabalho ao longo do ano.

Face a esse contexto acerca das características da comunidade do Camburi e sobre as dificuldades observadas por meio da primeira intervenção do Programa Picinguaba na gestão de resíduos sólidos na comunidade, o presente estudo buscou se levantar e entender melhor está problemática e suas causalidades, por meio de intervenções subsequentes. Procurou-se

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29 estudar especificamente as questões que interferem mais diretamente na gestão de resíduos sólidos na comunidade.

Além da motivação instigada pela investigação aprofundada sobre os fatores que influenciam a implementação do PGRS, diante do envolvimento do pesquisador com as intervenções já realizadas e da necessidade de investimento continuado evidenciada, este estudo tem relevância no campo da saúde pública.

A inexistência de um PGRS adequado a comunidade em andamento, e a disposição inadequada de resíduos sólidos em função disso, gera problemas socioambientais graves que afetam a saúde da comunidade e de turistas, tais como: facilitação da reprodução e disseminação de vetores de doenças como dengue, zika, Chikungunya, e Leptopirose (CARDOSO et al., 2015), e a contaminação de recursos hídricos importantes (CABANA, SOUZA e COSTA, 2009). Estas consequências acarretam complicações de saúde à população atingida e pode inferir um aumento substancial nos gastos com saúde pelo poder público e, desta forma, essa questão também deve ser tratada como uma questão de saúde pública.

(26)

30

2. Objetivos

2.1 Objetivo geral

O objetivo desta pesquisa foi estudar e identificar fatores de influência na gestão de resíduos sólidos de pequenas comunidades, com foco na comunidade do Camburi.

2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos desta pesquisa compreenderam:

a) Verificar a percepção e a participação dos atores de interesse acerca da gestão dos resíduos sólidos na comunidade;

b) Verificar as ações de gestão de resíduos sólidos praticadas pela Prefeitura Municipal de Ubatuba e seus reflexos para o Camburi;

c) Propor recomendações e instrumentos de facilitação para melhorar a gestão de resíduos realizada na comunidade, visando, desta forma, incentivar a autogestão e autonomia em relação à problemática.

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31

3. Percurso Metodológico

A metodologia utilizada nesta pesquisa constituiu um estudo de caso e uma pesquisa-ação segundo (GIL, 2010), com a aplicpesquisa-ação de formulários online aos atores de interesse na comunidade, observações de campo, realização de oficinas e análise documental dos dados acerca da gestão de resíduos sólidos pública.

Foram analisados dados provenientes das observações de campo sobre a gestão de resíduos sólidos da comunidade, do seu descarte inicial até a coleta realizada pela prefeitura. As observações de campo, assim como as oficinas, foram realizadas presencialmente em intervenções do Programa Picinguaba nos meses de abril e maio de 2019. A descrição dessas ferramentas de coleta e análise de dados será detalhada a seguir.

3.1 Coleta e produção de dados primários

3.1.1 Observações de Campo

As observações de campo compreenderam a análise da gestão de resíduos sólidos realizada na comunidade, com base em fotografias (observação), anotações (em caderno de campo) e outras informações obtidas por meio das reuniões com as associações e outros moradores no âmbito das intervenções pontuais realizadas em abril e maio de 2019 a comunidade do Camburi.

Estes dados foram gerados não somente pelo pesquisador deste trabalho, mas também com o apoio dos alunos das unidades curriculares10 relacionadas ao Programa Picinguaba e suas intervenções.

3.1.2 Aplicação de formulários

Foi realizada a aplicação de formulário aos atores de interesse, isto é, aos moradores que participaram das intervenções realizadas pelo Programa Picinguaba, visando aprofundamento sobre as questões que permeiam a gestão de resíduos sólidos na comunidade. Para isso os entrevistados foram questionados acerca das ações individuais realizadas em

1010 As unidades curriculares de Antropologia Cultural e Ética e Educação Ambiental, do curso de graduação

em Ciências Ambientais contaram com atividades de campo integradas ao Programa Picinguaba. Isso significa que os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar aspectos conceituais e práticos das temáticas relacionadas a essas unidades curriculares e, ao mesmo tempo, atuaram de forma direta em ações de extensão, de forma continuada, complementando ações que foram desencadeadas no verão de 2019

(28)

32 relação à gestão de resíduos sólidos e sobre a responsabilidade da comunidade nessa gestão, bem como, desafios e melhorias que poderiam ser desenvolvidas para aprimoramento dessa questão no bairro.

O formulário (Anexo 3) foi aplicado de maneira online por meio do Google Formulários entre os dias 19 de agosto à 25 de setembro de 2020, e enviado via whatsapp aos atores de interesse. Os contatos dos entrevistados foram disponibilizados pelos próprios atores em intervenções realizadas no âmbito do Programa Picinguaba. Vale ressaltar, que em função do período de quarentena e a aplicação de maneira virtual configuraram situação especial, que dificultou a participação de todos os atores de interesses.

Os levantamentos realizados no âmbito do Programa Picinguaba foram realizados de forma presencial. Além disso, contatou-se que as pessoas que se dispuseram a responder o formulário estiveram presentes em todas as intervenções realizadas no âmbito do Programa Picinguaba, ou seja, pessoas que demonstraram interesse no tema e ainda têm vontade de realizar ações e melhorias dentro dessa temática na comunidade. Desta forma, isso não prejudicou as análises realizadas, já que possibilitaram uma análise qualitativa mais aprofundada do conteúdo. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária.

3.1.3 Realização de Oficinas Temáticas

No âmbito das intervenções do “Programa Picinguaba” diversas atividades de educação ambiental foram desenvolvidas com a finalidade de trabalhar a responsabilidade compartilhada acerca dos resíduos sólidos com os moradores e as associações da comunidade. Da mesma forma, foram realizadas reuniões periódicas com as associações para levantar as principais demandas, a fim de possibilitar a coleta de dados por meio da estruturação de oficinas e da construção coletiva junto a comunidade, visando também fomentar e complementar o PGRS criado na primeira intervenção do programa.

As realizações das oficinas e atividades nos meses de abril e maio de 2019 também contaram a com a colaboração dos alunos da Unifesp, dentro e fora das unidades curriculares relacionadas ao programa. O apoio do grupo de alunos dentro das oficinas se deu por meio do registro fotográfico, apoio à produção de materiais didáticos e de divulgação das oficinas, bem como atuando como facilitadores dentro da realização das oficinas. O Programa Picinguaba autorizou a utilização dos dados coletados e produzidos dentro das oficinas durante as

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33 intervenções a comunidade. Os dados são referentes a percepção dos atores de interesse engajados na gestão de resíduos sólidos na comunidade.

a. Oficina de Futuro

Estruturada com base na Oficina de Futuro utilizada pelo Instituto Ecoar para a Cidadania e inspirada no método ZOPP, que em português significa "planejamento de projetos orientados para alcançar objetivos" (PINHEL, 2013), a Oficina de Futuro é um instrumento de Educação Ambiental utilizado em oficinas de capacitação em planejamento participativo, buscando soluções não convencionais específicas ao cenário problema. A Oficina constitui uma forma de produção coletiva de conhecimento a partir do princípio de que todos os atores envolvidos têm a aprender e a ensinar. Essa oficina foi realizada com apoio de alunos da disciplina de Antropologia Cultural, do curso de Ciências Ambientais, em visita de campo integrada ao programa de extensão. O pesquisador atuou na monitoria dos alunos e condução da oficina. A Oficina de Futuro foi realizada na intervenção de abril de 2019 e foi dividida em quatro etapas, sendo a primeira etapa preparatória (antes da realização da oficina, portanto, com foco no planejamento e organização da oficina) e as outras três desenvolvidas dentro da própria oficina. A primeira etapa da oficina consistiu na formulação do programa da oficina, estruturação da metodologia que seria utilizada e confecção de convites (Figura 7) que foram entregues pessoalmente para os moradores da comunidade que demonstraram interesse em colaborar com a gestão de resíduos sólidos da comunidade durante as intervenções do Programa Picinguaba. Foram entregues 21 convites de um total de 28 confeccionados (este número tem como base o número de moradores que demonstraram interesse); os 7 convites restantes não puderam ser entregues pessoalmente devido à ausência de moradores que trabalham fora da comunidade, principalmente posterior ao verão, bem como desencontros em função do horário em que essa atividade foi realizada. Os convites restantes foram entregues à associação AMAC que se comprometeu a entregar aos ausentes.

(30)

34 Figura 7. Convite confeccionado para a oficina do futuro e entregue aos atores de interesse

Fonte: Autoria Própria (Intervenção de Abril de 2019)

A oficina foi realizada na associação AMAC localizada na orla da praia e de fácil acesso para a maioria dos atores. Compareceram no total, apenas 6 atores dos 21 convidados pelo pesquisador e pelos alunos voluntários, nenhum convidado posteriormente pela associação compareceu.

2a etapa (Objetivos a serem alcançados): após a apresentação dos objetivos da oficina, foram distribuídos papéis com perguntas abertas sobre a gestão de resíduos sólidos na comunidade, tais como: “Como você enxerga a gestão de resíduos sólidos da comunidade daqui a 1 ano, a 3 anos e a 5 anos?”; “Como você enxerga seu papel na a melhoria da gestão atual?” ; “O que é imprescindível para uma correta gestão de resíduos sólidos dentro da comunidade do Camburi?”. Essas perguntas tinham como intenção levantar e materializar a forma como eles imaginavam que poderia ser uma ótima gestão de resíduos sólidos adaptada à realidade da comunidade. Foram escolhidos previamente, dentre os organizadores da oficina, mediadores/facilitadores, para conduzir as etapas e ajudar os participantes a materializar suas ideias e aspirações no papel.

3a etapa (Desafios): após esse levantamento de propostas e objetivos futuros foram distribuídos papéis novamente aos participantes para que pudessem escrever desta vez os desafios para alcançarem a gestão de resíduos sólidos idealizada na etapa anterior tais como: a inexistência de recursos financeiros, falta de iniciativa por parte dos moradores etc.

4a etapa (Construção de um plano de ação): essa etapa focou na análise dos resultados das duas etapas anteriores, e de forma participativa foram construídos planos de ação de curto, médio e longo prazos, a fim de alcançar os objetivos propostos na primeira etapa. Também

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35 foram considerados que tais planos poderiam e deveriam ser refinados ao longo do tempo de sua aplicação com base no cenário vigente e mudanças que poderiam ocorrer na comunidade.

Figura 8. Produto bruto da Oficina do Futuro – Nas placas os participantes indicaram ideias para ações de longo,

médio e curto prazo a serem desenvolvidas pelas associações e moradores interessados em contribuir com a gestão de resíduos na comunidade do Camburi.

Fonte: Autoria Própria

b. Criação de um Selo "Verde" Ambiental

A criação do selo verde ambiental foi uma das propostas da “Oficina de Futuro”, e foi desenvolvida na intervenção de maio de 201911. A ideia do selo, consistiu na proposição conjunta com associações da comunidade, AMAC e ARQC, de um rótulo ambiental do tipo II12 para ser oferecido aos bares da faixa da praia. Esta ação estratégica foi pensada visando estimular os bares e estabelecimentos comerciais da praia à adesão ao PGRS da comunidade, bem como, configurava um instrumento alternativo para a melhoria da gestão dos resíduos sólidos gerados pelo comércio. Além disso a estratégia da criação do selo visava oferecer um

11 A intervenção de maio de 2019 foi realizada com a participação de alunos da disciplina de Ètica e Educação

Ambiental, do primeiro ano do curso de Ciências Ambientais, em atividade de campo integrada ao programa de extensão.

12 Um rótulo ambiental do tipo II é uma autodeclaração ou reivindicação espontânea, feitas pelos próprios

fornecedores ou fabricantes, sem avaliações de terceiros e sem a utilização de critérios preestabelecidos (ABNT 2002). Descrito pela NBR ISO 14021 o rótulo ambiental do tipo II está presente em diversas embalagens, tais como embalagens que contém o tipo de material que a constitui, facilitando assim sua separação e correta destinação.

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36 atrativo para os turistas que apresentam uma maior e crescente preocupação com o meio ambiente (BORGES, F; TACHIBANA, W, 2005).

O design, critérios de aquisição, manutenção e demais detalhes da estrutura do selo foi desenvolvido pelos alunos da UNIFESP da unidade curricular de Educação Ambiental do 1° semestre de 2019, que se inscreveram para participar do grupo de trabalho dentro da temática de resíduos sólidos, na intervenção de maio de 2019 do Programa Picinguaba. Esses alunos atuaram junto a alguns atores da comunidade, sob a monitoria do pesquisador, no desenvolvimento das ações de curto prazo estipuladas na Oficina de Futuro.

A estruturação do selo consistiu em seis etapas nas quais, as quatro primeiras seriam de responsabilidade do grupo de trabalho da Unifesp na ação de intervenção, e as outras duas a serem realizadas pelas associações da comunidade com o auxílio e o monitoramento remoto pelo Programa. A primeira etapa consistiu na seleção de um modelo de selo que fosse adaptável a realidade dos estabelecimentos presentes na praia do Camburi, realizada previamente a intervenção. A segunda etapa foi a apresentação do modelo de selo escolhido, bem como os critérios de obtenção para as associações da comunidade, nesta etapa foram discutidos os modelos, critérios, e alterações a serem realizadas no selo de forma coletiva. Na terceira etapa, foram realizadas as alterações necessárias para a apresentação do selo aos estabelecimentos de interesse, a quarta etapa então, consistiu na apresentação do modelo de selo selecionado para os bares situados na praia da comunidade. Os critérios de obtenção do selo: realização da separação seletiva de todos os materiais recicláveis gerados; a destinação adequada dos materiais recicláveis separados a agentes de logística reversa, como cooperativa e intermediários; compostagem do material orgânico gerado; redução e posterior retirada da utilização de resíduos plásticos de uso único ; participação na manutenção das estruturas de descarte de resíduos da praia.

A quinta etapa de estruturação do selo consistiu na homologação dos estabelecimentos ao selo, de maneira gradual, visou a adequação dos bares aos critérios estipulados, de forma que, se um estabelecimento mantivesse as ações previstas no critério, já estaria apto a receber a certificação. Desta forma, a sexta etapa que por motivos que serão discutidos mais a frente nos resultados desta pesquisa, consistiria no monitoramento dos estabelecimentos contemplados com o selo, de forma que, se os mesmos não mantivessem as ações estipuladas nos critérios, sem justificativas plausíveis, seriam então desligados do mesmo.

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37 3.2 Análise de dados secundários: gestão de resíduos sólidos realizada pela Prefeitura Municipal de Ubatuba e sua influência no Camburi

A Prefeitura de Ubatuba foi consultada com o intuito de saber um pouco mais sobre a gestão de resíduos sólidos que ocorre no município,e verificar se havia um Plano de Gestão de Resíduos Sólidos em âmbito municipal em Ubatuba, ou se ela seguia o PGRS a nível Estadual (SÃO PAULO, 2014). Além disso, atualmente a Prefeitura de Ubatuba faz parte do Programa Cidades Sustentáveis realizado pela Rede Nossa São Paulo que tem alinhamento com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em parceria com o programa, a Secretaria de Meio Ambiente Municipal e outras entidades desenvolvem diversos projetos dentro da temática dos resíduos sólidos que poderiam fornecer dados relevantes à pesquisa. Os dados acerca da gestão de resíduos sólidos realizada pela prefeitura de Ubatuba foram obtidos por meio do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) (UBATUBA, 2014), e ainda por meio de informações disponíveis no site da prefeitura, e jornais locais. Procurou-se realizar contato com a prefeitura a fim de marcar reunião com algum representante da Secretaria Municipal de Serviços e Infraestrutura Pública, ou da Secretaria de Meio Ambiente, mas isso não foi possível, devido a indisponibilidade de agenda durante o período de realização das intervenções na comunidade, e posteriormente durante a escrita desse trabalho em função período de isolamento social devido à pandemia do coronavírus.

3.3 Análise dos dados coletados

3.3.1. Análise dos dados coletados por meio de entrevistas

Os dados obtidos por meio dos formulários aplicados aos atores de interesse engajados na gestão de resíduos sólidos da comunidade do Camburi foram interpretados por meio da análise de conteúdo. Segundo Bardin (2016), consiste em um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos da descrição do conteúdo das mensagens, identificando categorias que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

A escolha de categorias, emergiu das questões orientadoras aplicadas no formulário, ou seja, os conteúdos que se repetem frequentemente são recortados do texto. Desta forma, é possível tornar as frases significativas e válidas. Esta interpretação foi ampliada para além do conteúdo das entrevistas, pois, interessou ao pesquisador o conteúdo latente, ou seja, o sentido do “que se encontra por trás do imediatamente aprendido” (CÂMARA, 2013).

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38 Nesta pesquisa, essa análise foi realizada buscando-se identificar pontos comuns nas respostas, palavras chaves que fossem repetidas entre as entrevistas que pudessem identificar o potencial fator influente que condicionasse o cenário apresentando em relação à gestão de resíduos sólidos na comunidade. Buscando refinar a visualização destas “palavras-chaves” nas respostas das entrevistas, elas foram categorizadas em seis categorias principais.

As categorias foram escolhidas levando-se em consideração todas as etapas seguintes à geração dos resíduos na comunidade. As categorias escolhidas para facilitação da análise estão intrinsecamente vinculadas aos questionamentos feitos aos atores entrevistados, pois cada uma já representa uma área distinta e complementar dentro da gestão de resíduos sólidos.

As categorias estruturadas são:

Categoria 1: Percepção individual da gestão de resíduos sólidos na Comunidade Categoria 2: Percepção do engajamento da comunidade na gestão de resíduos sólidos Categoria 3: Principais desafios e obstáculos na gestão de resíduos sólidos

Categoria 4: Responsabilidade pela gestão de resíduos sólidos Categoria 5: Planos de ação e melhorias a serem realizadas

Categoria 6: Perspectivas futuras acerca da comunidade e da gestão de resíduos sólidos

3.3.2. Análise dos dados coletados por meio das oficinas realizadas

Os dados obtidos nesta etapa se trata de uma produção coletiva de conhecimento acerca do caminho que deve ser trilhado para uma gestão de resíduos ideal na comunidade. Os dados segundo PINHEL (2013), por si só, já se caracterizam como metas, que podem ser trabalhadas temporalmente, ordenadas em ordem de prioridade, e divididas para que possam ser trabalhadas em grupos de trabalho, que visem alcançar as metas propostas, e neste caso, adicionadas ao Plano de Gestão de Resíduos criado na primeira intervenção do voluntariado de 2019. Os resultados foram então, sistematizados, ordenados e sintetizados de acordo com a prioridade temporal dentro de cada grupo de ações para se alcançar as metas.

Assim, as ações foram divididas em prazos temporais para melhor visualização, designadas aos grupos de trabalhos, que tentassem desenvolvê-las nos períodos propostos. O prazo das ações foi definido ao fim da própria oficina ao se analisar criticamente as ideias propostas e as metas a serem atingidas. As ações de curto prazo, foram aquelas que pretendeu-se depretendeu-senvolver num prazo máximo de 3 mepretendeu-ses, após sua estruturação na oficina

As ações de médio prazo foram aquelas que se pretendeu desenvolver pelos grupos de trabalho num prazo de 3 meses à 1 anos, após sua estruturação na oficina.

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39 E por fim as ações de longo prazo são aqueles que pretendeu-se e ainda pretende-se trabalhar com um prazo de mínimo de 1 ano, e outros a serem definidos com base no tempo necessário para se desenvolver outras ações que demandam maior tempo, levando em considerando as metas a serem atingidas dentro do PGRS da comunidade.

Os prazos podem ser ajustados posteriormente pelos atores engajados no PGRS da comunidade com base nas demandas e recursos necessários para a realização das atividades propostas. Dentre as ações levantadas e sintetizadas para o curto prazo, a criação de um selo ambiental como citado anteriormente, foi selecionada para ser trabalhada na intervenção de maio e os resultados alcançados pelo grupo de trabalho responsável dentro do Programa Picinguaba serão descritos nos resultados desta pesquisa.

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40

4. Resultados e Discussão

Nesta seção são apresentados os resultados obtidos nas atividades propostas no percurso metodológico, obtidos por meio da aplicação de formulários e mediante as intervenções realizadas pelo Programa Picinguaba nos meses de abril e maio de 2019 acerca da gestão de resíduos sólidos na comunidade do Camburi. Também serão apresentados os fatores de influência identificados por meio das observações realizadas durante as intervenções do Programa e após essas atividades, bem como, da análise integrada de todos os dados obtidos. Foi possível assim, compor o embasamento necessário para analisar os caminhos que devem ser trilhados e propor recomendações que visem uma melhora na gestão de resíduos sólidos, dentro da comunidade do Camburi, bem como em outras comunidades similares.

4.1 Resultado da Coleta de dados primários

4.1.1 Observações de Campo

Com base nas observações de campo, foi possível agregar mais informações a caracterização da gestão de resíduos sólidos realizada na comunidade, principalmente no setor Praia, alvo das intervenções realizadas pelo Programa Picinguaba, e serão discutidas a seguir. A comunidade apresenta ao todo, oito pontos principais de armazenagem e coleta de resíduos sólidos, estruturados ao longo da via de acesso principal da comunidade que termina do setor Praia. Há 5 pontos de armazenagem localizados na parte superior da comunidade, isto é, na lateral da estrada, na entrada para os outros bairros (Cabiúna, Jambeiro, Roça Grande, Timbuíba) antes de chegar na orla da praia (no setor Praia), como mostra a Figura 2.

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41 Figura 2. Ponto de armazenamento e coleta de resíduos localizado na estrada principal de acesso à Comunidade

Fonte: Próprio Autor (Intervenção de Abril, de 2019).

Já o setor Praia apresenta ao todo 3 pontos de armazenamento e coleta de resíduos estruturados como mostram as Figuras 3 e 4 e, apesar de serem melhor estruturados e maiores que os pontos de armazenagem situados na parte superior, ainda são insuficientes para atender toda a demanda da geração de resíduos sólidos, principalmente nas épocas de verão onde o aporte turístico é intenso. A coleta dos resíduos depositados nesses pontos de armazenagem ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras no período da tarde segundo a Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Ubatuba (2020), e confirmada pelos moradores, entretanto, não há coleta seletiva, ou seja, todos os tipos de resíduos são retirados de forma conjunta, compactados pelos caminhões e levados para a estação de transbordo da cidade, ou diretamente para o Aterro do Município de Jambeiro, os problemas associados a está prática e a falta da coleta seletiva serão discutidas posteriormente neste estudo.

A falta de estrutura observada nos pontos de armazenagem e coleta acarreta em sérios problemas e atrapalha significativamente a gestão desses resíduos, o espalhamento destes resíduos na área é um cenário muito recorrente como mostram as Figuras 3, 4 e 5, não só pela superlotação das estruturas, mas também devido ao acesso facilitado de animais (cães, gatos, ratos, urubus e outras aves, animais silvestres e insetos) aos resíduos depositados, que

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42 permanecem por até 2 dias geralmente no local, até sua coleta, havendo relatos contudo de irregularidades entre os dias de coleta de até uma semana, principalmente em dias de condições climáticas chuvosas, onde o acesso a comunidade se torna mais dificultado ainda, onde o espalhamento e possibilidade de contaminação do meio por esses resíduos aumenta.

A coleta dos resíduos sólidos depositados nesses pontos de armazenagem é realizada pela empresa SANEPAV (empresa de limpeza urbana contratada pela prefeitura, para a gestão de resíduos do município), e ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras no período da tarde segundo a Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Ubatuba (2020), sendo posteriormente confirmado pelos moradores, entretanto, não há coleta seletiva na comunidade, ou seja, todos os tipos de resíduos são retirados de forma conjunta, compactados pelos caminhões e levados para a estação de transbordo da cidade, ou diretamente para o Aterro do Município de Jambeiro, onde os problemas associados a está prática e a falta da coleta seletiva serão abordados posteriormente em outro tópico.

Figura 3. Ponto de armazenagem e coleta de resíduos do setor Praia; Cenário observado principalmente em épocas

de veraneio e eventos na comunidade.

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43 Figura 4. Outro ponto de armazenagem e coleta de resíduos no setor Praia

Fonte: Próprio Autor (Intervenção de Maio, 2019).

Figura 5. Outro ponto de armazenamento e coleta de resíduos; Contêiner fornecido pela SANEPAV, na tentativa

de conter o grande aporte de resíduos no ponto.

Fonte: Próprio Autor (Intervenção de Maio, de 2019).

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44 Embora não haja coleta seletiva no Camburi, segundo levantamento realizado na primeira intervenção a comunidade (Unifesp, 2019), 19 dentre 45 edificações identificadas no setor Praia, mencionaram a realização da separação seletiva dos resíduos sólidos gerados, e posterior venda ou doação do material para intermediários13.

E posteriormente na intervenção de maio, em meio as atividades de campo, foi possível presenciar a venda de materiais recicláveis (latas de alumínio, ferro e garrafas pets) a um intermediário de Paraty – RJ, que frequenta regularmente a comunidade para a compra de materiais recicláveis e posterior venda (Figura 6).

Figura 6. Recibo de compra e venda de materiais recicláveis de um estabelecimento (sucateiro) situado em

Patrimônio, um bairro de Paraty-RJ que compra resíduos recicláveis da comunidade do Camburi-SP.

Fonte: Material Cedido pela Reciclagem Paraty

13 Intermediários são atores que trabalham com a compra e venda de materiais recicláveis, ou sucatas (resíduos

inservíveis como matéria prima segundo o anexo IV do Decreto Nº 18.955/1997), sendo também denominados sucateiros dessa forma, e fazem intermédio entre o gerador dos resíduos e o reciclador final desses materiais, podendo inclusive repassar esses materiais a outro intermediário a depender das oscilações de mercado

Referências

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