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Vista do LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA | Acta Científica. Ciências Humanas

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LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

Mayara de Jesus Brasil1 Dilson Cavalcanti Batista Neto2 Resumo: Este artigo tem como finalidade abordar a liberdade religiosa, pois se trata de um direito essencial a fim de evitar retrocessos na sociedade. Entende-se que a li-berdade religiosa, por sua abrangência, não pode ser cerceada. Sustenta-se também que o respeito a todo e qualquer tipo de pessoa é essencial para o Estado de Direito, de forma que possam expressar suas opiniões livremente sob a premissa do respeito. O trabalho apresenta os conceitos doutrinários de liberdade religiosa, liberdade de expressão religiosa, estado laico, laicismo e laicidade, liberdade de consciência, li-berdade de crença e lili-berdade de culto, bem como as ameaças a lili-berdade religiosa. Palavras-chave: Liberdade de Expressão; Liberdade Religiosa.

RELIGIOUS FREEDOM OF SPEECH

Abstract: This article deals with religious freedom, as it is an essential right of an end to setbacks in society. It is understood that religious freedom, by its extension, cannot be curtailed. It is also held that respect for and any kind of person is essential for the rule of law, in the form of a public opinion on the pre-mise of respect. The work presents the doctrinal principles of religious freedom, freedom of expression, secular state, “laicism” and laicity, freedom of conscien-ce, freedom of expression and freedom of worship, as well as religious freedom. Keywords: Freedom of Speech; Religious Liberty.

1 Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail: mayrochabrasil@gmail.com

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Introdução

A temática da liberdade de expressão religiosa está muito presente no ce-nário mundial, sendo alvo de inúmeros estudos e questionamentos, tendo em vista que muito tem sido feito em nome do assunto.

Este tema atinge diretamente a todos, desde ateus a devotos, sendo que ga-rante a todos o direito e exercício da sua religião ou ausência dela. É impossível tratar liberdade de expressão ou crimes de discriminação sem falar de direitos humanos e defesa da dignidade humana, por isso, este trabalho irá abordar os pressupostos da Liberdade Religiosa no Brasil, a sua importância e essencia-lidade para a sociedade num todo, não apenas para o mundo cristão, já que é essencial para os direitos humanos.

Será abordada ainda a temática da laicidade e laicismo, e sua relação com o Estado democrático de Direito, as vertentes da liberdade religiosa e as possíveis ameaças que vem sofrendo.

A liberdade religiosa é essencial para o convívio em sociedade, para que o indivíduo possa desenvolver suas ideias, acreditar no que bem entender e viver conforme suas convicções, desde que não prejudique a outros.

É dever do Estado proteger os direitos até aqui conquistados, coibindo re-trocessos para que o bem-estar seja mantido.

Breves noções de Liberdade Religiosa.

Desde os tempos bíblicos pode-se notar que, enquanto a religião esteve intimamente ligada ao Estado, não existia o direito à liberdade de expressão religiosa. Muitas pessoas eram mortas por não concordarem com imposições relacionadas a deuses e práticas religiosas, ditadas pelo chefe de estado que era também o chefe religioso.

Na Bíblia encontram-se relatos de jovens lançados numa fornalha ar-dente, outro lançado numa cova de leões, tantos outros em prisões, uns ape-drejados, outros decapitados ou crucificados, e tantas outras formas de ex-terminação foram usadas para banir os que desejavam expressar sua religião conforme o que acreditavam.

Esse comportamento se espalhou por muitos séculos, derramando sangue de fiéis por todos os lugares do mundo, em guilhotinas, métodos inquisitórios e tantos outros ainda mais sombrios, durante as Cruzadas e a Santa Inquisição, por exemplo, fazendo com que os fiéis realizassem seus cultos escondidos em cavernas, casas e outros lugares para preservarem a vida.

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É notório que a íntima ligação entre religião e Estado não permitia que as pessoas escolhessem suas próprias religiões. Devido a esse estilo de gover-no, não havia o que se falar em relação à liberdade religiosa, o que prejudicava a todos, já que inibia as pessoas de pensarem e viverem conforme suas pró-prias teorias e crenças.

Mas desde muito cedo, surgiram pessoas que lutaram pela liberdade reli-giosa. Cristãos, filósofos, líderes, entre eles, Voltaire, que escreveu vários mate-riais sobre o tema e tantos outros, que aqui não caberia citar.

Soriano (2006, p. 28) acredita que a expressão liberdade religiosa foi utilizada pela primeira vez por um advogado ainda no século 2 d. C., cha-mado Tertuliano, que se converteu ao cristianismo e via a liberdade reli-giosa como um direito inalienável, por isso passou a defendê-la contra os abusos do Império Romano.

Os direitos à liberdade religiosa foram se desenvolvendo conforme o de-senvolvimento histórico dos direitos humanos, tendo em vista que àquele é es-sencial para o desenvolvimento deste.

Não há possibilidade de falar em liberdade religiosa sem antes refletir dig-nidade humana, já que este é fundamento essencial para justificar o direito à liberdade, conforme acredita Teixeira (2014, p. 22).

Liberdade, direitos humanos e dignidade humana andam juntos, um completa o outro; o cidadão, quando é livre, tem seus direitos humanos res-guardados e pode se sentir digno.

Gonçalves (2011, p.11) bem diz que a defesa dos direitos humanos está relacionada às liberdades individuais, independentemente do grupo social, ou seja, é impossível visualizar liberdade religiosa em outro parâmetro que não seja o dos direitos humanos.

Bobbio ainda acrescenta (2004 p. 31): “os direitos do homem são direitos históricos, que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem”.

A liberdade Religiosa bem se encaixa nesses direitos históricos, que sur-giram das lutas que foram travadas, quando o Cristianismo que pregava a sal-vação em outro mundo começou a rejeitar a confusão da sociedade Greco-ro-mana, entre o religioso e político, o que foi encarado como ateísmo, causando tanta perseguição, como mostra Catroga (2006, p. 23).

Um dos primeiros clamores por separação entre igreja e Estado, que é um dos pilares da Liberdade Religiosa, foi a conhecida frase de Jesus Cristo, tam-bém citada por Santo Agostinho no século 5: “Dai, pois, a Cesar o que é de Cesar, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22:21).

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É impossível pensar em liberdade religiosa sem separação de igreja e Estado. Um Estado laico é essencial para a liberdade religiosa e para os direitos humanos, como será visto mais à frente.

A liberdade religiosa é muito bem classificada como um direito do homem, valorizando assim a dignidade da pessoa humana. Soriano (2006 p. 30) diz: “A dignidade da pessoa humana é o fundamento jurídico do direito à liberdade religiosa”. Quando se trata de dignidade da pessoa humana, coloca-se em pri-meiro plano o sentimento de pertencer, a um grupo, a uma sociedade, a uma co-munidade, e ser respeitado por isso. A dignidade humana deve servir como um exame para avaliar a legitimidade das ações do Estado e de seus governantes, conforme explica Teixeira (2011, p. 32). Sendo assim utilizada, como base para a avalição das ações tanto do Estado quanto dos cidadãos, a dignidade humana pode ser entendida como direito inviolável.

Nesse sentido, Machado (2013, p. 45) acredita que é a partir da dignidade humana que decorrem os direitos inatos, inalienáveis, irrenunciáveis e impres-critíveis, como o direito à vida, à liberdade de consciência, de pensamento, de ex-pressão, de religião, de culto, de associação etc. Por isso, a necessidade de proteger tais direitos como se protege os direitos humanos, porque estão interligados.

A liberdade religiosa está intimamente ligada ao entendimento dos direitos humanos de cada lugar. Como já foi dito, é impossível pensar em liberdade reli-giosa sem direitos humanos. É como diz Teixeira (2011, p. 34): “a liberdade está direta e inseparavelmente ligada à dignidade humana”.

Em países onde não há liberdade religiosa é notória a ausência da democra-cia, e tampouco direitos humanos são respeitados. Pode-se tomar como exem-plo os países islâmicos que têm sido alvo dos noticiários devido às catástrofes constantes relacionadas à ausência de liberdade de expressão religiosa. Souza e Velázquez (2009, p. 151) acrescentam: “Os países que adotam uma religião oficial costumam também afastar a laicidade e cultivar discriminação, precon-ceitos e ódios contra determinados povos”. Pessoas que não podem exercer o direito à religião, geralmente são pessoas que se tornam alienadas pelo Estado, de tal modo que a própria autoestima e visão do mundo são deturpadas.

Miranda (2000, p. 4) afirma que ela (a liberdade religiosa) está “no cer-ne da problemática dos direitos humanos fundamentais, e não existe liberdade cultural nem plena liberdade política sem essa liberdade pública ou direito fun-damental”.

A liberdade religiosa, como pode ser visto, é muito mais importante e es-sencial do que muitos a julgam, por isso, a necessidade de protegê-la de qualquer ameaça, para que o país continue a crescer na temática de direitos humanos. Cercear a liberdade religiosa, indiscutivelmente, caracterizaria um retrocesso ao Estado.

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Partindo do pressuposto que o reconhecimento da dignidade da pessoa humana é a base para convivência em sociedade, a liberdade religiosa pode ser considerada como o ar que respiramos, sem ela é impossível pensar em uma convivência saudável e digna. E é impossível conceber liberdade religiosa sem o reconhecimento dos direitos humanos e a dignidade humana.

Laicismo e Laicidade

No tópico anterior foi demonstrada a importância da liberdade religiosa para o Estado e a sociedade. Liberdade religiosa está intimamente relacionada com os direitos humanos, que são invioláveis e inalienáveis, de modo que devem ser protegidos pelo poder estatal, para promoção do bem-estar da população.

Nesse sentido, pode-se observar que o maior problema de muitos países que vivem verdadeiras guerras denominadas religiosas está no Estado que in-siste em não conceder a liberdade para que cada cidadão escolha qual religião seguir e, como se isso não bastasse, utiliza de vários métodos para conter os que não concordam com tal forma de governo, inclusive a morte. Isso se dá porque, ao não conceder a liberdade religiosa para o povo, o Estado nega a dignidade de cada cidadão, e quando isso acontece, as pessoas passam a não ter valor para o Estado, sendo vistas apenas como uma ameaça ao governo.

Por isso, a necessidade de um Estado laico e, para melhor entendimento do que vem a ser um Estado laico, é importante diferenciar laicismo de laicidade.

O Estado laico é aquele independente de religião, onde a religião não in-fluencia o Estado e vice-versa, o que é completamente diferente do laicismo, que ocorreu especialmente na França, no tempo em que rompeu com a igreja, em 1905, e foi proibido qualquer tipo de manifestação religiosa.

Catroga (2006, p. 327) diz que a expressão mais utilizada pelos defensores da laicidade do final do século 19 era “livres-pensadores”.

A laicidade está relacionada à autonomia do Estado em relação à igreja, enquanto o laicismo se relaciona à abolição completa e arbitrária de qualquer atividade religiosa.

Blancarte citado por Gonçalves (2011, p. 52) diz que o Estado Laico é a primeira organização política que garantiu as liberdades religiosas; liberdade de crença, liberdade de culto e tolerância religiosa foram aceitos graças ao Estado Laico, que é o que garante que todos possam expressar suas opiniões políticas e religiosas.

A teoria laicismo exclui a religião com o surgimento de teses agnósticas e ateias, como diz Catroga (2006, p. 327). Na França, em 1905 quando o Estado rompeu com a Igreja, a religião foi suprimida da realidade estatal, as pessoas

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podiam cultuar seus deuses, exercer seus votos religiosos, desde que não atra-palhassem a ordem social, ou seja, a religião estava permitida apenas dentro de casa.

Sobre esse assunto, o Papa João Paulo II, em carta ao governo francês da época, insistiu em dizer que não se pode tirar a religião das pessoas para tornar o Estado soberano, alegando que uma coisa não deveria ser confundida com a outra, como diz Gonçalves (2011, p. 53-54), afirmando que a religião deveria ser liberada sem nenhum vínculo com o Estado, caracterizando o que se conhece hoje por laicidade.

Laicidade, portanto, é a separação entre Igreja e Estado, sem que uma in-terfira na outra, em nenhum momento se confundindo. O Brasil bem pode ser considerado um estado laico e neutro, já que impede a instrumentalização do poder político pelo poder religioso, e vice-versa, e ao mesmo tempo promove a autonomia das religiões, sem que o erário público se encarregue de promover religião, conforme explica Machado, (2013, p. 24).

A laicidade do Estado de direito implica no não favorecimento de uma re-ligião em detrimento da outra e a liberdade para que todas pratiquem seu culto de forma livre.

Âmbitos da Liberdade Religiosa

A liberdade, inclusive no aspecto religioso, contribui para a socialização do Estado, pois é a partir do seu exercício efetivo que o cidadão se vê como parte da nação, interagindo com o Estado, podendo exigir direitos e prestar os deveres legalmente exigíveis, conforme os ensinos de Teixeira (2010, p. 47).

A liberdade religiosa, como já mencionada, é a base para o convívio saudá-vel e digno. Implica em poder escolher uma fé religiosa, alterar o vínculo com a igreja escolhida e até mesmo deixar de acreditar em determinada expressão de religiosidade; é um índice de comprometimento da ordem jurídico-política com a Democracia e seus valores fundamentais (MARTINS, 2009, p. 100).

Liberdade Religiosa em nenhum momento se confunde com a promoção de crenças ou religiões. Como foi mencionado no tópico anterior, o Estado Lai-co não desembolsa valores ou empenhos em promover uma ou outra religião. A liberdade religiosa permite aos indivíduos e grupos construírem sua maneira

de ser no mundo, adotarem concepções morais, políticas, ideológicas, permite que as pessoas pensem de forma livre (MARTEL, 2007, p. 81).

No Brasil, existe uma diversidade de religiões, assim como de teorias, sím-bolos religiosos, deuses e afins. Tal diversidade pode ser definida como plura-lismo religioso, a libertação do monopólio de determinada religião como ofi-cial e obrigatória, e a diversidade que se estabeleceu, portanto, cabe ao estado

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democrático de direito promover a igualdade na desigualdade, ou seja, a aceita-ção de todas as diferenças.

O Estado contemporâneo não deve apenas aceitar o pluralismo em sua feição religiosa, mas deve garantir sua livre expressão, impedindo quaisquer atos de favorecimento, aceitando a desigualdade de ser, agir, pensar e crer, como preceitua Martins (2009, p. 100).

A liberdade religiosa está relacionada a direitos e não a igrejas, e a violação desse direito não influencia apenas os religiosos, mas toda a população. O ar-gumento de que as crenças religiosas devem ser respeitadas por possuírem uma parte de verdade é irrelevante, a diversidade é protegida pelo Estado, por sua neutralidade, cada cidadão deve ser livre para escolher e partilhar suas crenças, sem qualquer tipo de opressão, sem relação com o que é verdadeiro ou não, em seu credo (SORIANO, 2006, p. 30).

Liberdade religiosa, quando não defendida para todos, não pode ser assim denominada, ela tem caráter universal. Já que não se tratam de crenças, doutri-nas ou uma religião específica (e sim de direito), qualquer pessoa é titular desse direito, que tem como limite a dignidade da pessoa humana.

No Brasil, a liberdade religiosa é um direito humano fundamental, previs-to na Constituição Federal de 1988:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabi-lidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obriga-ção legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaobriga-ção alternativa, fixada em lei (BRASIL, 1988, p. 13);

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E esse assunto não é exclusivo à Constituição Federal, sendo protegido também por diversos tratados internacionais de direitos humanos.

Após as grandes guerras mundiais e os milhões de mortos, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945, para representar cinquenta e um países e proteger os cidadãos, suas liberdades e afins. Passados três anos de sua criação, a ONU aprovou a Declaração Universal de Direitos do Homem e a dignidade da pessoa humana tornou-se o alvo de proteção.

Já em 1993, os direitos humanos foram ratificados como universais, na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos que aconteceu em Viena, na Itá-lia. A liberdade de expressão religiosa, quando entendida como direito de ma-nifestar as crenças, também é garantida no art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos arts. 2º, 3º e 4º da Declaração Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Fundadas na Religião ou nas Convicções.

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948, p. 10):3

Art. XVIII: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento,cons-ciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou cren-ça e a liberdade de manifestar essa religião ou crencren-ça, pelo ensino, pela práti-ca, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Declaração sobre a eliminação de todas as formas de intolerância e discri-minação fundadas na religião ou nas convicções:4

Art. 2º §1. Ninguém será objeto de discriminação por motivos de religião ou convicções por parte de nenhum Estado, instituição, grupo de pessoas ou particulares.

§2. Aos efeitos da presente declaração, entende-se por “intolerância e dis-criminação baseadas na religião ou nas convicções” toda a distinção, exclu-são, restrição ou preferência fundada na religião ou nas convicções e cujo fim ou efeito seja a abolição ou o fim do reconhecimento, o gozo e o exercício em igualdade dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”.

3 Disponível em: <https://bit.ly/1CVqinH>. Acesso em: 10 jun. 2015. 4 Disponível em: <https://bit.ly/2sWEFwK>. Acesso em: 10 jun. 2015.

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Art. 3º – A discriminação entre os seres humanos por motivos de religião ou de convicções constitui uma ofensa à dignidade humana e uma negação dos princípios da Carta das Nações Unidas, e deve ser condenada como uma violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais proclamados na Declaração Universal de Direitos Humanos e enunciados detalhadamente nos Pactos internacionais de direitos humanos, e como um obstáculo para as relações amistosas e pacíficas entre as nações.

Art. 4º §1. Todos os Estados adotarão medidas eficazes para prevenir e eli-minar toda discriminação por motivos de religião ou convicções, no reco-nhecimento, do exercício e do gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais em todas as esferas da vida civil, econômica, política, social e cultural.

§2. Todos os Estados farão todos os esforços necessários para promulgar ou derrogar leis, segundo seja o caso, a fim de proibir toda discriminação des-te tipo e por tomar as medidas adequadas para combades-ter a intolerância por motivos ou convicções na matéria.

A liberdade de expressão religiosa é uma das muitas facetas dos direitos humanos e, assim sendo, pretende salvaguardar a igual dignidade de todos os indivíduos, inclusive os não crentes, a escolha individual em matéria de visões de mundo está fora do alcance do Estado. Um dos principais objetivos da neu-tralidade do Estado é que todos possam expressar-se livremente, sem assédio ou ataque dos que partilham de pensamentos diversos e impedir que uma pes-soa não religiosa se sinta pressionada ou coagida pela maioria religiosa e pela presença de símbolos religiosos em espaços públicos, como preceitua Machado (2013, p. 24).

Para melhor entendimento do que vem a ser liberdade religiosa, é preci-so estudar as suas principais vertentes, denominadas liberdade de consciência, crença e culto, que serão vistas a seguir.

Liberdade de Consciência

Souza e Velázquez (2009, p. 157) dizem o seguinte: “A liberdade religiosa é assegurada desde a liberdade de consciência e de crença até a exteriorização dessa liberdade do mundo abstrato para o mundo exterior”. Seja esta crença qual for.

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A liberdade de consciência vem no sentido de que o indivíduo é livre para pensar e escolher a religião que pretende seguir. Suas convicções e a forma como expressa sua religião são preservadas pelo direito à liberdade de consciência.

Nesse sentido, é valido relembrar os dizeres de Miranda (2000, v. 4): “se po-demos mover-nos e não popo-demos pensar livremente não popo-demos mover-nos”, que validade terão todos os outros direitos se não se pode manifestar os ideais?

Mendes citado por Teixeira (2010, p. 43) ainda completa que:

Se o Estado reconhece a inviolabilidade da liberdade de consciência deve ad-mitir, igualmente, que o indivíduo aja de acordo com suas convicções. […] É a prerrogativa de livre convicção do indivíduo quanto a crer ou não crer em temas de natureza religiosa, e se for o caso, escolher no quê e por que crer e ainda de decidir como expressar essa crença.

Liberdade de Crença

Como visto no tópico anterior, liberdade de consciência concretiza-se no âmbito individual, no íntimo do cidadão. já a liberdade de crença concretiza-se no foro social, é a maneira como o homem manifesta os juízos de sua consciên-cia, conforme preceitua Teixeira (2010, p. 43). É a exteriorização da Liberdade de consciência, se esta é concedida, a Liberdade de Crença também deve ser, para que o cidadão concretize as escolhas feitas em sua Liberdade de Consciência.

Silva (2017, p. 249) esclarece:

Na liberdade de crença entra a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de re-ligião, mas também compreende a liberdade de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo.

Ou seja, liberdade de Crença é, na prática, poder exercer a Liberdade de Consciência. De nada adiantaria pensar sem poder expressar os pen-samentos, ou ter suas convicções religiosas sem poder expressá-las e viver conforme suas crenças.

Liberdade de Culto

A liberdade de culto vai além da exteriorização da consciência, protegi-da pelo direito à liberprotegi-dade de crença. consiste no direito de exteriorizar es-sas crenças através de ritos, cerimônias, costumes, atividades eclesiásticas e a

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prática do conjunto de doutrinas de uma determinada denominação religiosa (TEIXEIRA, 2010, p. 42).

Religião é muito mais que um sentimento sagrado, não é a simples adora-ção a um deus. Silva (2017, p. 249) acredita que, ao lado de um corpo de doutri-nas, a característica básica da religião está na exteriorização através da prática dos ritos, no culto, com suas cerimônias, manifestações, reuniões, fidelidade aos hábitos, às tradições, na forma indicada pela religião escolhida.

Segundo Levy, citado por Machado (2013, p. 145), não é prerrogativa de o Estado interferir nas decisões de fé individual ou no cumprimento das obriga-ções religiosas, quando assumidas de forma livre e esclarecida.

Desta forma, pode-se notar que religiões cristãs que tenham como regra de fé a Bíblia não podem ser privadas dessa prática, o que seria inevitavelmente um retrocesso em relação à Liberdade Religiosa, já que não basta proteger o pensamento. A prática da religião ou da ausência dela também deve continuar sendo alvo de proteção do Estado.

Ameaças à Liberdade de Expressão Religiosa

A liberdade religiosa e sua expressão, como analisado até aqui, é essencial para a sociedade e deve ser protegido. Infelizmente, o direito à liberdade de expressão religiosa não está livre de ameaças. É como diz Machado (2009, p. 118), a quase universal consagração do direito à liberdade religiosa está longe

de propiciar o almejado descanso a esse direito fundamental. Depois de tantos anos e tanta luta para sua consagração, a liberdade religiosa ainda não está livre de ameaças.

Atualmente, alguns têm se levantado em ataque à liberdade religiosa, com ideias e filosofias que aparentemente objetivam o bem comum. Machado (2009, p. 119) classifica essas teorias como nuvens negras que ensombram o horizonte da liberdade religiosa, o que com o tempo pode se tornar uma perfeita tempes-tade. Hoje já se pode sentir aqui e ali os primeiros chuviscos, que ameaçam a liberdade religiosa. Ainda está ao alcance dos juristas o tentar conter ideias que, se não mantidas dentro dos limites aceitáveis, acabarão por prejudicar a vivên-cia individual e coletiva. O que for semeado hoje inevitavelmente será colhido amanhã, portanto, é preciso investir esforços para conter as ameaças à liber-dade de expressão religiosa, até porque, como já foi mencionado, esta não está disponível apenas aos religiosos.

Ainda sobre este assunto, Teixeira (2010, p. 43) assevera: “É a prerrogativa de livre convicção do indivíduo quanto a crer ou não crer em temas de natureza

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religiosa, e se for o caso, escolher no quê e por que crer e ainda de decidir como expressar essa crença”.

O Estado não tem a função de interferir nas decisões de fé do indivíduo ou no cumprimento de suas obrigações religiosas, quando assumida de forma livre e esclarecida. Deste modo, percebe-se que é inerente à função do Estado não interferir na fé do povo. Ainda conforme Machado (2013, p. 146), “O Estado tem que ser um garantidor da igual dignidade e liberdade de todos os cidadãos e grupos de cidadãos, religiosos ou não”.

Entretanto, pode-se concluir que privar alguém de expressar sua fé, cren-ça, ou até mesmo sua opinião desprovida de motivação religiosa, seria inevi-tavelmente um retrocesso. É preciso empregar esforços para a manutenção dos direitos humanos, do direito à liberdade de expressão religiosa, para que a sociedade continue a evoluir em relacionamento e direitos. Retroceder nunca foi e nunca será a solução para os conflitos atuais.

No entanto, é preciso observar, como explica Teixeira (2014, p. 118), que a clausura e/ou ditadura ideológica são armas fracas para os que não sabem ou não podem dar coerência às suas convicções. A recusa ao debate, impondo uma ideologia minoritária sob o discurso da tolerância, é um recurso ainda mais fraco utilizado para calar convicções que são estranhas.

Considerações Finais

Mediante os princípios aqui expostos, fica notória a necessidade da pre-servação da liberdade religiosa, como base para manter a sociedade de acordo com a dignidade da pessoa humana, evitando retrocessos no sentido de privar a população de exercer o seu direito de ter ou não ter fé, de expressar ou não expressar sua religiosidade.

Com a existência de milhares de religiões no Brasil, mais do que nunca, faz-se necessário a liberdade religiosa, para que determinada igreja não desme-reça ou ofenda outra crença por ser diferente da sua, por prestar culto de forma diferente, em dia diferente, lugar diferente. Essa realidade do Brasil atual exige manutenção de direitos, aperfeiçoamento no entendimento das normas e direi-tos fundamentais para evitar desentendimendirei-tos.

É claro que ainda existe um longo caminho a ser percorrido nesse sentido, tendo em vista que algumas religiões ainda são vistas com preconceito, por sua forma de prestar culto, como por exemplo, a umbanda, o espiritismo e outras religiões de vertentes parecidas.

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Muitos ditos religiosos ofendem, perseguem e até mesmo quebram e vio-lam símbolos e templos religiosos desses fiéis sob o argumento de que a fé deles não pode ser considerada como religião.

É preciso se atentar para o fato de que o direito de prestar culto é igual para todos, não existindo distinção entre igrejas, denominações, templos ou qualquer outra coisa, sendo que todos são detentores do direito à liberdade de consciência, culto e crença, bem como todos são responsáveis por respeitar a consciência, o culto e a crença do outro, não existindo, portanto, justificativa para qualquer tipo de comportamento que negue ao outro o exercício do direito à liberdade religiosa.

Nesse sentido, é preciso investir em promoção a liberdade religiosa para que não existam retrocessos em nossa sociedade e para que não nos tornemos o tipo de país onde apenas uma religião é aceita e as demais são alvo de perse-guição.

Referências

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