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Vocabulário Teológico Do Evangelho de São João

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Academic year: 2021

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Juan Mateos*Juan Barreto

VOCABULÁRIO

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Este "Vocabulário" foi redigido para servir de índice- resumo do livro: O Evangelho de São João, de Juan Ma­ teos e Juan Barreto [publicado por Edições Paulinas). Inserem-se, em ordem alfabética e de forma orgânica, os conceitos fundamentais de João, aqueles que pulsam ao longo de todo o escri-to e Úie conferem peculiar fi­ sionomia. Ao separá-lo do tomo volumoso, a fim de dar- lhe circulação independente, acrescentaram-se novos termos no sentido de completar o conjunto,

O comentário ao Evangelho de São João de J. Mateos e J. Barreto, de que procede e a que se refere este "Vo­ cabulário'', parte de princípios hermenêuticos muito cla­ ros e peculiares, tão peculiares que talvez signifiquem uma mudança inédita na exegese bíblica: a interpreta­ ção do texto pelo próprio texto, dando-se atenção apenas à sua linguagem e ao ambiente cultural em que se es­ creveu o texto,

Este "Vocabulário" proporcionará ao leitor: familiari­ dade com a linguagem de João; relação de não poucos termos entre si; unidade literária e doutrinal do Evan­ gelho; o seu pano de fundo judaico e o seu sentido simbólico.

Juan Mateos e Juan Barreto são fo rm ad o s em Sagrada E scritu ra p e lo Pon­ tifício In stitu to Bíblico e p ro fesso re s d e exegese n a E spanha,

GD

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Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional (CSmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mateos, Juan, S J.

M377v Vocabulário teológico do Evangelho de São loão / Juan Mateos, Juan Barreto . . . (et a l.); (tradução Alberto Costa; revisão Honótio tJalbosco). — São Paulo: Paulinas 1989.

ISBN 85-05-00924-X

1. Bíblia. N.T. João — Glossários, vocabulários etc. í. Barreto, Juan, I I. Título.

88-0960 CDD-226,503

índices para catálogo sistemático;

1. Evangelho de João: Vocabulário teológico 226.503 2. Vocabulário teológico: Evangelho de João 226.503

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JUAN MATEOS — JUAN BARRETO

em colaboração com

Enrique Hurtado, Angel Urban

e Josep RiuS'Camps

VOCABULARIO TEOLOGICO

DO

EVANGELHO DE SÃO JOÃO

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Título original

Voc^ulario teologico del Evangelio de Juan

© Edícíones Crístiandad, Madrid, 1980

Tradução Alberto Cesta Revisão Honõrlo Dalbosco EDIÇÕES PAULINAS T E L E X l i n 39464 (P S S P BR) Rua Dr. Pinto Ferraz, 183 04117 S AO PAULO - SP

END. TELEGR.: P A U LIN O S

Com aprovaçio eclesiástica

© EDIÇÕES P A U L IN A S - S Ã O P A U L O - 1989 IS B N 85-05-00924-X

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IN T RO D U CE'

Este vocabulário teológico integra, como índice temático, o comentário do evangelho de João publicado recente­ mente pela mesma editora. Todavia, no sentido de possi­ bilitar o seu uso independente foram completados os ver* betes em que se remetia ao comentário e se acrescentaram outros que parecia menos necessários enquanto constituíam apêndice à obra.

O vocabulário teológico

O vocabidário teológico propÕe-se sintetizar os dados dispersos ao longo de um ou vários escritos do Antigo ou Novo Testamento, em benefício do leitor desejoso de co­ nhecer com exatidão o conteúdo dos termos-chave que os caracterizam. Por sua índole teológica vai além da mera jus­ taposição de citações, e, por seu caráter sintético, prescin­ de da exegese em pormenores dos textos e utiliza os seus resultados. Supõe, pois, trabalho prévio que desentranhe o sentido das diversas passagens e descubra o seu significado, a fim de construir a síntese referente às correspondências ou oposições encontradas. A visão de conjunto assim obtida facilita enormemente a compreensão dos escritos: tal é a utilidade específica dos vocabulários deste gênero.

Na área do evangelho de João, este vocabulário com­ pleta os existentes, pois aqueles que abarcam o Novo Tes­ tamento inteiro, levando-se em conta a soma de escritos que o compõem, não podem prestar a cada um deles a atenção que merece. Em seu terreno, apresenta a vantagem de estar baseado em minuciosa análise do texto inteiro do evangelho. Por outro lado, quando se entrelaça em uma só síntese a teologia de diversos escritos, não vem à tona com suficiente clareza a concepção própria de cada um.

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Depois dos primeiros e necessários ensaios de síntese teológica do NT, chega o momento de ser necessário que o estudo de cada autor ou escrito por separado preceda à síntese global. Este vocabulário, que se restringe a um único evangelho, pretende contribuir para a elaboração de uma teologia neotestamentária.

O vocabulário que se limita a um só escrito, neste caso o evangelho de João, familiariza o leitor com a linguagem da obra, a qual, em grande parte, era herdada do ambiente e cultura em que nasceu e, em determinada proporão, era linguagem “técnica” criada pela comunidade com o fim de expressar sua vivência cristã. O leitor daquela época aproxímava-se do livro j'á de posse de sua linguagem. O de nossos dias, afastado do ambiente original, encontra no voca­ bulário a iniciação a um modo de conceber e expressar-se que para ele é alheio, mas que é pressuposto indispensável para compreender o texto que lê.

O vocabulário, por outro lado, mostra a coerência do autor: os termos de que lança mio são portadores de con­ teúdo semântico que vai aflorando em passagens subseqüen­ tes e adquire matizes segundo os contextos. Indica também a relação ou equivalência de vários termos entre si e, de modo semelhante, a de imagens e símbolos. Assím o leitor evitará a confusão, ao dar-se conta da correspondência ou complementariedade dos termos, que expressam com freqüên­ cia a mesma realidade desde diferentes pontos de vista. Verá ao mesmo tempo a unidade do conjunto, penetrando cada vez mais na intenção do autor. Ela parte do fato da morte-exaltação de Jesus, prova máxima do amor de Deus para com a humanidade; formula, porém, esta realidade uti­ lizando expressões, alusões e símbolos, cuja variedade e be­ leza dão realce à mensagem que transmite, pondo diante dos olhos novas facetas da mesma e evitando a monotonia.

Uma conclusão flui do estudo do vocabulário: a eficácia da teologia simbólica de João. O símbolo, ponte entre o consciente e o inconsciente, atinge esferas do ser que ultra­ passam a mera compreensão intelectual; sua ressonância não se esgota, por ser produto de experiência e convite a parti­ cipar dela. A medida que ela se torna mais profunda, o

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símbolo vai desvelando novos aspectos de sua riqueza. En­ quanto o mero conceito tende a se fazer independente do vivido, o símbolo vai acompanhando o indivíduo e o grupo no itinerário de sua experiência cristã.

Convém completar esta introdução com os pontos da introdução que precedem ao comentário, onde se descrevem a índole do evangelho de João e suas Hnhas-mestras,

Estrutura histórica ou teológica?

Adotada a hipótese de que este evangelho constitui obra unitária, é preciso determinar se sua estrutura responde a intenção preferentemente histórico-narrativa ou antes a con­ cepção teológica.

A tentativa de considerar o evangelho como narração de caráter puramente histórico tropeça basicamente com di­ ficuldades insuperáveis: anaHsando-se o texto como se fosse a obra de cronista, aparecem, por um lado, “saltos” na to­ pografia e incoerência na sucessão dos fatos e, por outro, omissão de dados, falta de lógica narrativa ou pormenores inverossímeis.

Entre os saltos topográficos sobressai a ordem dos ca­ pítulos 5 e 6. Jesus, que estava em Jerusalém, em plena controvérsia com seus adversários, encontra-se de repente, sem prévia transição, na Galiléia, à margem oriental do lago, acompanhado dos seus discípulos (6,1). Mais tarde, a barca que leva os seus discípulos situa-se subitamente “em terra”, assim como Jesus andava “sobre o mar” (6,12-21),

A falta de lógica na sucessão dos fatos sobressai no convite a sair que Jesus faz na metade do discurso da Ceia (14,31), ao passo que ele próprio continua o discurso, sem que se indique mudança de lugar ou movimento.

A omissão dos dados vê-se, por exemplo, na solene de­ claração de João Batista (1,29-34), onde está ausente toda menção de auditório; paralelamente, o grito final de Jesus, quando faz a síntese de sua atividade (12,44-50), ressoa no vazio, sem que se indique lugar nem público.

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Outras vezes deixa-se a desejar a lógica narrativa: as­ sim, era Caná, a mãe de Jesus, notando a falta de vinho, dirige-se a ele, que é convidado, em vez de £azê-lo ao mes- tre-sala lá presente, encarregado do andamento do banquete (2,1-11), Neste mesmo episódio, Jesus “manifesta sua gló­ ria”, expressão solene, unica no evangelho, convertendo água em vinho; não, porém, mais tarde, quando dá vida a um moribundo (4,46h), faz andar um inválido (5,lss) ou dá a vista a um cego de nascimento (9,lss), obras que se diriam de maior importância.

Por outro lado, os números que aparecem em certos episódios tornam-se inverossímeis se se consideram somente do ponto de vista histórico: assim, era uma casa particular há seis talhas de oitenta a cento e vinte litros cada uma, destinadas somente à purificação (2,ó); Nicodemos compra pata embalsamar Jesus cera libras de aromas (19,39), quase quarenta quilos.

Por estes e muitos outros pormenores, o texto, lido em perspectiva puramente histórica, revela-se com freqüência des­ cuidado ou incoerente.

Estruturação teológica: suas linhas-mestras

De fato, o plano que estrutura o evangelho de João é teológico. Não se trata de biografia de Jesus (20,30), como também não se trata sequer de resumo de sua vida, e sim de interpretação de sua pessoa e obra, feita por uma comu­ nidade através de sua experiência de fé. Daí que o leitor terá que interpretar os fatos que encontra no texto, cuja historicidade não se pré-julga, atendo-se à finalidade do evan­ gelho, ou seja, como linguagem teológica.

Ora, uma vez aceito que este evangelho põe em pri­ meiro plano a interpretação teológica e a ela se subordinam os dados históricos, seria ilógico continuar considerando co­ mo problemas as dificuldades que o texto apresenta desde o ponto de vista histórico. Na leitura de João é ocioso dis­ cutir, por exemplo, se é mais exato que os sinóticos quando situa a expulsão dos vendilhões do templo no início da vida

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pública de Jesus em vez de no final, O que antes de tudo interessa neste ou outros fatos ê o seu significado dentro da estrtitura teológica do evangelho e descobrir se, enfocados a partir dela, está justificada sua posição no conjunto,

A coerência de Jo não se buscará, portanto, na exatidão histórica, e sim na unidade temática, em relação com o seu plano teológico, Muitos dos “problemas” que criam difi­ culdade neste evangelho procedem apenas de posicionamento inicial defeituoso.

As linhas-mestras da teologia de Jo são duas: o tema da criação e o da Páscoa-aliança,

O tema da criação, que se abre no prólogo {l,lss), do­ mina a cronologia e dá uma chave de interpretação da obra de Jesus, Em primeiro lugar explica a série cronológica que aparece no início do evangelho (1,19: testemunho de João Batista; 1,29: no dia segumte; 1,33: no dia seguinte; 1,43: no dia seguinte; 2,1: no terceiro dia), cujo objeüvo é fazer coincidir o anúncio e início da obra de Jesus com o sexto dia, o dia da criação do homem, marcando assim o sentido e o resultado de sua obra: terminar esta criado, a qual cul­ minará com sua morte na cruz (19,30: Está terminado)^ que ocorrerá também no sexto dia, como o lembra o evan­ gelista em outra série de indicações (12,1: seis dias antes da Páscoa; 12,12: no dia segumte; 13,1: antes da Páscoa; 19, 14,31,43: preparação da Páscoa),

Daí decorre que toda a atívidade de Jesus, até sua

morte, situa-se sob o signo de “o sexto dia”, indicando o

desígnio que a preside: dar remate à obra criadora, com­ pletando o homem com o Espírito de Deus (cf. 19,30;20, 22), O sexto dia abrange dois períodos; o da atividade de Jesus, “o Dia do Messias” (2,1-11,54; cf. 8,56), e “a Hora final”, que o consuma e coincide com o período da última Páscoa (11,35-19,42; cf, 12,23;13,1;17,1;19,14.27), entrela­ çando assim os dois temas principais,

A parte final do evangelho completa o tema da criação

em virtude de situar-se em “o primeiro dia” (20,1), que

indica o princípio e a novidade da criação terminada; é ao mèsmo tempo “o oitavo dia” (20,26), indicando sua pleni­

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tude e seu caráter definitivo. Também a mensão do horto-jar- dim (19,42; cf. 20,15) alude ao do primeiro casal.

Os temas da vida e da luz, centrais no evangelho {l,4ss e passim)^ bem como o do nascimento (l,13;3,3ss), estão na linha da criação.

O tema da Páscoa-aliança leva em si o do êxodo e, com ele, implica todos os temas subordinados: a presença da glória na Tenda da Reunião ou santuário {cf. 1,14;2,19-21), o cordeiro (1,29; 19,36), a Lei (3,lss), a passagem do mar

(6,1), o monte (6,3), o maná (6,31), o caminho ou segui­ mento de Jesus (8,12), a passagem da morte para a vida (5, 24), a passagem do Jordão (10,40). Está intimamente rela­ cionado com o tema do Messias (1,17) que, como outro Moisés, haveria de realizar o êxodo definitivo e, portanto, com o da realeza de Jesus (l,49;6,13;12,13s;18,5.7;18,33-19,22).

“O mundo” inimigo de Jesus e os seus (15,18ss), de onde ele ou o Pai tiram ( 15,19;17,6), é elemento do tema do êxodo (terra da escravidão).

O tema pascal domina o esquema das seis festas que enquadram a atividade de Jesus, Delas, a primeira (2,13ss), a terceira ou central (6,4) e a última (11,55; 12,1) são a própria festa da Páscoa.

Notar-se-á a insistência de Jo no número seis: sexto dia, sexta hora, seis dias antes da Páscoa, seis festas, seis talhas, Este numeto indica o incompleto, o preparatório, o período de atividade que visa a um resultado, O número sete só aparece numa ocasião designando a sétima hora (4,52) que segue à sexta e indica o fruto da obra consumada:' a vida que Jesus outorga.

O tema da criação e o da aliança (Páscoa) entrelaçam-se desde o início da atividade de Jesus (2,1-11), particular­ mente, na figura do Esposo, que é ao mesmo tempo o Messias que deverá inaugurar as novas núpcias-aliança (3,28­ 29) o primeiro homem da criação nova, que se encontra com a esposa (a comunidade) no horto-jardim (20,lss).

A designação de Jesus como o Homem (o Filho do homem) pertence ao tema da criação, por designá-lo como o modelo de homem, o homem acabado. Também o título de “o Filho de Deus” (1,34 etc.), que indica a realização do

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projeto divino, A designação “o Filho” abrange os dois e os une.

Das duas curas públicas que Jesus faz, a do paralítico (5,lss), a quem dá força para andar, situa-se na linha do caroinho e do êxodo, ao passo que a do cego (9,lss), a quem manifesta a luz, está na linha da criação do homem. Ambas, porém, estão unidas entre si pela menção de “cegos” em 3,3. São numerosas as ramificações destes temas no evan­ gelho.

A união do tema da criação com o do Messias ( a nova Páscoa-aliança ) mostra que Jo sintetizou aspectos da teologia judaica precedente. O Messias, objeto da expectativa, identi­ fica-se com a Sabedoria-projeto criador (Pr 8,22ss) e com a Palavra divina criadora (Gn l,lss), que é também mensa­ gem e interpelação de Deus (Sabedoria que convida). As­ sim, Jesus é o Messias em virtude de ser, por um lado, o projeto de Deus realizado, o Homem (cf. 1,14, realidade do Messias) e, por outro, a Palavra de Deus criadora e eficaz (1,17, a missão do Messias). Assim se explica a correspon­ dência entre os episódios da samaritana e do cego. Ao reco­ nhecimento de Jesus como profeta, comum a ambos (4,19;9, 17), ocorre, num caso, a sua revelação como Messias (4,25­ 26), e, no outro, como o Homem (9,35-37), evidenciando a afinidade das duas expressões. Jo demitifica a idéia de Messias (cf. 7,27) e concentra a espera, que vê realizada em Jesus, na figura do Homem acabado. O modelo de homem (tema da criação) é o modelo da humanidade e o seu li­ bertador (Messias-Filho de Deus, tema da Páscoa).

A relação entre as duas linhas teológicas pode-se con­ ceber assim: O desígnio de Deus consiste em dar remate à criação do homem comunicando-lhe o princípio de vida que supera a morte (o Espírito); em fazer do “homem-carne” o “homem-espírito” (3,6), passagem que exige a opção livre do homem (3,19). A realização deste desígnio opõe-se, po­ rém, o fato de que o homem, enganado e submetido pelas forças maléficas (1,5: as trevas; 8,23: o mundo/esta ordem) renunciou à plenitude a que o destina o projeto criador, paí a necessidade de salvador (4,42), o Messias ( 1,17), que o faça sair da escravidão em que se encontra (1,29: o pecado

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do mundo; tema do êxodo), dando-lhe a capacidade de opção, e acabe nele a obra criadora (1,17; cf. 1,33: batizar com Espírito Santo). A linha primária é, pois, a realização do desígnio criador.

Ao pressuposto de um plano teológico estruturante do evangelho corresponde uma atitude de desconfiança sistemá­ tica de todo a prtori que pudesse vir a influir em sua leitura. Foi feito esforço no sentido de não projetar sobre o texto concepções alheias ao mesmo. Por isso, na interpretação de João evitou-se, deliberadamente, toda comparação com ou­ tros escritos do NT, cuja visão teológica, elaborada segundo plano diferente, ou respondendo a situações diferentes, pu­ desse ter introduzido elementos estranhos à de João. Essa precaução foi estendida também aos escritos joaninos (cartas de João, Apocalipse) por não constar a identidade de autor nem de época entre eles e o evangelho. Por outro lado, na primeira carta de João, apesar de suas inegáveis afinidades com o evangelho, aparecem também discrepândas; basta ci­ tar a diferente concepção de pecado ou a preocupação da carta com os problemas da comunidade, que não encontram lugar neste.

A comparação entre os diferentes escritos do NT seria certamente muito útü, mas representa passo posterior à aná­ lise de cada obra em separado. De fato, o estudo paralelo de perícopes isoladas em diferentes escritos corre perigo de de­ formar o seu sentido, pois, ainda que a temática seja comum, encontram-se integradas, de acordo com a obra de que são parte, em conjunto ou estrutura teológica diferente que pode imprimir-lhes significado ou matíz particular.

O ponto de arranque

A teologia de João parte da realidade humana de Jesus que se tornou patente na sua morte. Este é o fato central do evangelho; Jesus foi condenado à morte e executado por uma instituição que não o aceitou, por considerá-lo perigoso para os seus interesses políticos, econômicos e religiosos, de­

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fendidos pela interpretação da Lei em que se apoiaram para dar-lhe a

tnorte-O evangelista parte dessa realidade de Jesus e utiliza para expressá-la e expÜcá-la a linguagem de sua cultura, fa­ miliar para ele e para os seus destinatários, que põe a serviço de sua teologia. Sendo esta linguagem somente instrumento, cita livremente os antigos textos (13,18) e, se for preciso, os muda, omitindo frases ou combinando várias de procedência diversa. Em 12,15, por exemplo, reúne passagens de Sf 3 e Zc 9 com o fito de elaborar um texto composto que aluda ao mesmo tempo à universalidade (Sf 3,9) e à não-violência (Zc 9,9) do rei que vem, interpretado pela multidão, se­ gundo Sf 3,15, como o rei de Israel. Embora as citações ex­ plícitas do AT não passem de treze no evangelho, são muito numerosas, contudo, as alusões, quer a passagens concretas, quer, sobretudo, a temas teológicos. Também a alusão pode não ser única; no episódio de Natanael, para citar um caso, entram em jogo o texto de Sf 3,12.13 acerca do resto de Israel e de seu rei, e o de Os 9,10 {como primeiro fruto na figueira), para renovar em Natanael a eleição do antigo povo.

Outras vezes João faz releituras de passagens do AT (4,3ss, Oséias; 6,lss, Êxodo: 20,lss, Cântico) ou usa a sim- bologia das festas a fim de ilustrar a pessoa e a obra de Jesus (festa das Tendas: 7,37-39, motivo da água; 8,12, motivo da luz). Visando a sintetizar em tima passagem o significado messiânico de várias delas, introduz, por exem­ plo, na terceira Páscoa o motivo dos ramos de palmeira (o lulãb, 12,12), próprio da festa das Tendas (7,lss) e da Dedicação ou Tendas do inverno (12,22).

O emprego do AT em João é, como se vê, extrema­ mente livre, A razão é que o evangelista não pretende fazer uma síntese eclética da diversas correntes teológicas do AT, visando a apresentar a figura de Jesus, fabricando um mo­ saico composto de grande quantidade de peças. Para João, a novidade de Jesus é radical, e usa, a fim de expressá-la, lin­ guagem elaborada durante séculos e disponível no seu tempo. Por isso não leva a nada seguir a linha teológica isolada de um texto que cita ou a que alude, como se fosse filão que tivesse sentido por si mesmo separado da visão total do

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evangelista, Esta tendência a basear-se em tenno isolado foi precisamente o que criou tanta dificuldade para a 'interpre­ tação do prólogo. Pelo contrário, é preciso buscar a coerência de João no dado primordial, a vida e morte de Jesus, pois somente ela permite aferir o sentido exato de sua linguagem.

Considerando, por exemplo, as alusões ao livro apoca­ líptico de Daniel, que aparecem ein 5,28s, é preciso pergun­ tar-se o que significam na pena de João. Tendo-se presente que ele, em toda a sua obra, remete-se constantemente à realidade humana de Jesus e, em particular, à sua morte (2,4: a sua hora), como manifestação definitiva da glória- amor de Deus para com a humanidade, vê-se que, para João, toda a espera do AT alcança o seu cumprimento nessa rea­ lidade humana e neste fato; as esperanças apocalípticas reali­ zam-se em Jesus, mas no Jesus homem crucificado. Assim de- mitifica a escatologia, integrando-a na história. Ou seja, para interpretar este texto de João não se pode partir da teologia de Daniel, e sim da teologia do evangelista, e ver nas alusões ao profeta um modo de expressão de que se.serve, transpon­ do-o para a chave histórica, no sentido de expressar como Je­ sus é a norma não só do presente, mas também do passado. Ao se concentrar toda a tensão do AT na morte de Jesus ou, melhor, em Jesus crucificado, a esperança acumu­ lada na Escritura adquire dimensão histórica e concretude hu­ mana. A cruz de Jesus é o ponto de chegada para onde João faz convergir as diversas Unhas teológicas do AT, Repetindo o que dissemos antes, podemos dizer que ele não recompõe a figura de Jesus a partir do variado espectro teológico vetero- testamentário, mas, pelo contrário: olha o AT a partir da realidade concreta e tangível do crucificado e daí interpreta o antigo ou se serve simplesmente dele como linguagem para expressar sua experiência de Jesus.

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SIGLAS DOS LIVROS BÍBLICOS

Os livros bíblicos são citados abreviadamente segundo A Bíblia de Jerusalém, de Edições Paulinas.

O ln esis... G n Jo e l... Jl ÊJíodo... Ex A m ós...Am Levitico... Lv A bdias...Ab Números... Nm Jo n a í... Jn Deuteronômio...Dt Miquéias...Mq N aum ... ....N a Josué... Js Habacuc... Hab Juizes...Sz Sofonias... Sf R ute...Rt Ageu... Ag Samuel... ISm, 2Sm Zacarias...Zc

Reis...JRs, 2Rs M alaquias... MJ Crônicas... iCr, 2Cr Esdras... Esd Neemias...Ne Mateus...Mt Tobias... Tb Marcos... Mc Judite... Jt Lucas... Lc Ester... Est Jo â o ...Jo Macabeus...IM c, 2Mc Atos dos Apóstolos... ... At Romanos... Rtn J ó ...Jó Coríntios... ICor, 2Cor Salmos...Si Gálalas...Gl Provérbios... Pr Efésios... ... Ef Eclesiastes (Coéiet)...Ecl Rlipenses... H C ântico... Ct Colossenses... Cl Sabedoria... Sb Tessaionicenses...ITs, 2Ts Eclesiástico (Sirácida)... Eclo Timóteo... !Tm, 2Tm Tito... Tt Isaías...[s Filemon... Fm Jeremias... ... Jr Hebreus... Hb Lamentações... Lm EpistoladeTiago...Tg Baruc... Br Epístolas de Pedro...IPd, 2Pd Ezequiel... Ez Epístolas de João...IJo , 2Jo. 3Jo Daniel...Dn Epístola de Judas... ...Jd Oséias...Os Apocalipse... ... Ap

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OUTRAS ABREVIATURAS

acus (ativo) ingress (ivo)

adj(etivo) lit(eralmente)

adv(érbio) loc(ução)

aor (isto) oraç(ão)

aram (eu) paral{ elo)

art(igo) part(icípio)

cf. — compare-se partíc(ula)

dat(ivo) pess(oal)

dur{ ativo) pf. = perfeito

ex(emplo) pl. — plural

explicat(ivo) mais que pf.

fut( uro) pres(ente)

genit(ivo) pron(ome)

gr. = grego punt(ual)

hebr(eu) rekt(ivo)

ib. — no mesmo lugar sent (ido)

impf, = imperfeito sg. == singular

Ímper( ativo) subj(untivo)

incoat(ivo) sucess(ivo)

Índicat(ivo) trad(uçlo)

infin(iüvo) V. veja-se

Um número entre colchetes indica as vezes que o ter­ mo grego precedente aparece em Jo, As palavras que le­

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Ab r a ã o

Gr. Abraam [10], lakôb [3], íôsêph [1], boi pateres, os pais/patriarcas/antepassados [5].

I. Abraão. Este nome só aparece na controvérsia de Jesus com os dirigentes no templo (3,33-58). Ser descenden­ te de Abraão não assegura a condição de homem livre (-^ Liberdade I) , pois Abraão teve um filho escravo (8, 33-34), nem, portanto, o direito à promessa. Ser ÍÜho de Abraão significa proceder como ele (8,37-40), Jesus, negan­ do que o modo de agir dos dirigentes seja o de Abraão, acusa-os de idolatria, pois se di2ia que quem não realizava as obras de Abraão realizava as do seu pai, que era idólatra

(8,40). _ _ _

Os dirigentes afirmam repetidamente (8,52.53) que Abraão morreu; com essa frase Jo indica que a absolutização da Lei (—^ Lei Ilb ) levou-os a se esquecerem da promessa, anterior à Lei, que imprimia o dinamismo a todo o AT. Jesus alude precisamente à promessa do descendente (—^ o Messias), que causou a alegria de Abraão (8,56). Os diri­ gentes pretendem ridicularizar a afirmação de Jesus, obje­ tando-lhe sua idade (Abraão é uma figura do passado). Jesus lhes declara de novo ser o descendente de Abraão e afirma que, enquanto JMessias, é anterior a Abraão no de­ sígnio divino (8,58).

II. Isaac nunca é nomeado neste evangelho, embora exis­ tam várias alusões à sua figura. Em primeiro lugar, a contida em 3,16: o dom do Füho único da parte de Deus alude ao que fez Abraão do seu filho. Em segundo lugar, Jesus, que carrega a cruz, faz referência à figura de Isaac, que, segundo os comentadores judeus, carregara voluntariamen­ te a lenha para ir ao sacrifício (19,17).

III. Jacó aparece somente numa narração (4,5,6.12) co­ mo doador do poço aos samaritanos. Sua qualidade de pai do povo (4,12) eclipsa-se pela nova paternidade de Deus (4,21.23), que dá origem a um povo universal (-> Pai II).

Existe, porém, alusão a Jacó na promessa de Jesus aos seus primeiros discípulos (1,51). Apóia-se no episódio

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de Betei, quando Jacó viu em sonho a rampa que unia o céu com a terra (Gn 28,12s). A interpretação do judaísmo vira em Jacó o homem sobre quem repousava a glória de Deus: Jesus declara que ele próprio é o Homem em quem reside a plenitude da glória (cí. 1,14) e anuncia aos discí­ pulos essa visão, que se verificará na cruz, onde brilhará o seu amor (a glória) até ao estremo (cf. 19,37: Verão aquele que transpassaram).

IV. José, o filho de Jacó, é mencionado uma só vez como aquele que recebeu do seu paí Jacó um terreno perto de Sicar, na Samaria (4,3).

V. Os pais designam em uma ocasião os patriarcas, em particular Abraão, que recebeu de Deus o preceito da circun­ cisão (Gn 17,12), que Moisés apenas repetiu na Lei (Lv 12,3 ) e que tinha precedência sobre os preceitos desta, Jésus menciona este fato visando a mostrar que há instâncias que expressam a vontade de Deus acima da Lei (7,22),

Nos demais casos, “os pais” são os antepassados e re­ presentam o peso da tradição, que pode ser obstáculo para reconhecer a Jesus. Assim, para a samaritana, são os antepas­ sados que erigiram o templo de Garizim e aí prestaram culto (4,20), Nos lábios do povo de Caíarnaum, são os que comeram o maná no deserto, ou seja, os que presenciaram o prodígio feito por Moisés (6,31); Jesus lhes lembra duas vezes que aquele prodígio foi inútil, pois não os livrou de morrer no deserto (6,49.58).

Á G U A

Gr, hydôr [21], cf, hydria, vasilha para água, talha, cântaro [ 3 ],

I. A água da ruptura. A água caracteriza o batismo de

João (1,26,31.33), por oposição ao batismo do Messias, que batiza com Espírito Santo (1,33). Segundo os dados do tem­ po, o batismo com água, ou seja, a imersão, simbolizava uma mudança de situação, em particular a liberdade para o es­ cravo ou a mudança de rdigião para o prosélito. Em todo

(20)

caso, expressava a ruptura com um passado, que era sim­ bolicamente sepultado na água.

No ambiente de descontentamento com a instituição ju­ daica próprio da época, o batismo de João, que se coloca para além do Jordão (1,28), fora do território propriamente judaico ( a passagem do Jordão significou a entrada na terra

prometida, cf. Js 3; —)■ Betânia II ) , é sinal de ruptura com

aquela iastituição, e, ao mesmo tempo, de esperança no Mes­ sias que haveria de se tnanifestar a Israel (1,31) (-» João Batista II) .

Os discípulos de João que não seguiam a sua mensa­ gem anunciadora do Messias, por não considerarem o batis­ mo como uma preparação que levaria a Jesus (3,26), o des­ virtuam, assemelhando-o a uma purificação ritual (3,23). II. A âgua-vinho da purificação. O tema da água apa­ rece pela segunda vez nas núpcias de Caná (2,1-11), As talhas de pedra, figura da Lei (tábuas de pedra), destinadas a conter água para a purificação, estão vazias (cf. 2,7: Enchei as talhas de âgua): a antiga Lei não pode purificar, Uma vez que João caracterizava sua missão como a da água e a de Jesus como a do Espírito (veja-se antes I), é signifi­ cativo que no começo de sua atividade Jesus transforme a água em vinho. Caracteriza assim sua obra como a passagem da aliança antiga para a nova.

Fazendo encher as talhas de água, Jesus significa sua vontade de purificar (restabelecer a relação com Deus), o que a antiga instituição não conseguira fazer; ao converter em vinho somente a amostra de água que oferece o mestre- -sala (2,9), explica que sua purificação é independente da Lei da antiga aliança (a água foÍ tirada das talhas). Sua purificação não se fará a partir de fora (água que lava), e sim a partir do interior do homem (vínho que se bebe, iO Espírito). A purificação, associada sempre à idéia de aflição ritual (liturgia penitencial), passa para o campo da alegria e da festa, dada pelo vinho do Espírito nas novas núpcias- -aliança,

III, A âgua-Esptrito. Além da oposição entre as duas alianças que se estabelece em Caná, Jo, assumindo a lingua­

(21)

gem dos profetas (cf. Is 32,13-18; Jo 3,12; Zc 12,10), faz da água o grande símbolo do Espírito.

A primeira vez que se associam água e Espírito é em 1,33: o que batizará com Espírito Santo; o verbo ‘‘batizar” não tem neste caso o significado de “submergir”, mas de “embeber'’, como a chuva (cf. Is 44,3: alento = Espírito), de acordo com o duplo sentido do verbo grego. Compara-se o Espírito com água que penetra no interior do homem e lhe dá vida e fecundidade.

A infusão da vida pela água-EspírÍto compara-se com novo nascimento que permite entrar no reino de Deus (3,5); é princípio de vida definitiva, em oposição à “carne”, que produz somente vida transitória (3,6) {-^ Came 1; Espírito Vb; Vida IIc).

Essa água-Espírito substitui a Lei, como aparece na ce­ na de Caná (água-vinho = Espírito) e, mais tarde, no epi­ sódio da samaritana, onde o manancial de Jesus (4,6.14) substitui o poço de Jacó, também íigura da Lei (4,12); é, pois, o guia interior da conduta do homem. A água-Espírito é designada agora como a água viva que, em oposição à Lei, mata a sede do homem. É de mais a mais fato personalízante, por transformar-se em manancial interior que fecunda o seu ser (4,14): rega "a terra” de cada um, desenvolvendo nele suas próprias capacidades. Assím como em 3,3 se identifica com a que jorra do lado de Jesus (3,3.7: de novojdo alto; cf. 19,34) (-5C Céu II ) , aqui se concebe como água que se bebe e se torna princípio interno de vida {4,14), A condição para receber esta água é acolher Jesus em sua humanidade (4,7: Dá-me de beber). A água que expressa amor e acolhi­ mento Jesus responde com a água do EspírÍto-amor. O con­ trário ocorrerá na cru2, quando, ao pedido de água (19,28: Tenho sede) responderão com o vinagre do ódio (19,29). Exemplíficam-se assim as reações, positiva e negativa, enun­ ciadas no prólogo (1,12: quantos o acolheram; 1,11: os seus não o acolheram).

A água-Espírito aparece também em 7,37-39, onde se identifica explicitamente com o Espírito que, neste caso, brota de Jesus novo templo, segundo o simbolismo próprio da festa das Tendas (7,37) (-» Festa V I). Nos rios de

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água que jorram de suas entranhas (7,38) há alusão à rocha do deserto que coincide com a água do novo templo, segundo a síntese efetuada no judaísmo de todas as fontes de água que apareciam no AT; poços dos patriarcas, rocha do deser­ to, novo templo etc. Este simbolismo complexo transfere-se para a água que brota do lado de Jesus na cruz (19,34), momento da manifestação de sua glória (cf. 7,39).

IV, A âgua do serviço. Na Ceia, Jesus lava os pés de seus discípulos com água que ele próprio derrama na bacia

(13,3). Pedro interpreta o lava-pés como purificação ritual (13,9), mas Jesus corrige essa idéia (13,10). Os iscípulos estão puros/limpos por terem aceito sua mensagem (15,3;

13,10), A ação de Jesus é serviço que expressa o seu amor até ao extremo (13,1,4) e que deixa como exemplo para os seus (13,15), O lava-pés encena o mandamento de Jesus (13,34s), que é a mensagem que purifica (13,3) (-> Man­ damento III) .

A única fonte de purificação é o amor de Jesus, expres­ so até ao extremo na cruz, o seu máximo serviço ao ho­ mem, o qual, ao aceitar este amor, que é mensagem (15,3) e mandamento (13,34s), ou seja, ao querer conformar sua vida à de Jesus no serviço ao homem (13,34: Como eu voí amei), recebe o Espírito-amor que o purifica. Respon­ dendo com o seu amor-serviço ao impulso do Espírito, purifi­ ca-se incessantemente, pois as exigências de Jesus comunicam o Espírito sem medida (3,34) (-^ Mandamento V ),

A água significava em Caná que o Espírito-amor purifica o homem; no lava-pés, que o amor serviço o purifica, o amor-serviço que é resposta ao Espírito e fonte de Espírito (cf. 3,34), que expressa a adesão da comunidade à mensa­ gem de Jesus expressa em sua morte.

V. A água da vã esperança. Além da água da Lei, in­ capaz de matar a sede do homem (4,14), encontra-se no evangelho outra água de sentido negativo: a da piscina das Ovelhas, que representa a vã esperança de cura (5,7); a agitação da água figura as turbulências populares contra a insrituição dominante, condenadas ao malogro. O nome de SÜòé (o Enviado), aplicado à segunda piscina (9,7), onde

(23)

O cego obtém a vísta, alude a Is 8,6: as águas-, de Siloé que correm mansamente, e se opõe assím à de 5,7. Sendo a piscina do Enviado (Jesus), esta água identífíca-se com o Espírito.

Al e g r ia

-!► Bodas III; Fruto V, Nascimento III.

Al ia n ç a

—> Bodas I; Espírito IV; Lei Ila; Messias III; Moisés II; Mulher II, III, IV.

Am ig o

Amor I, IV , V I, IX ; Irmão I; Liberdade V III.

Am o r

Gr. cbaris, amor gratuito e generoso, favor, graça, dom (4); aga-pê, amor (7); agapaô, amar (36); phÜos, amigo (6); phileô, querer como amigo (13).

I. Termos. O amor é designado em Jo com dois subs­

tantivos: cbaris, o amor gratuito e generoso que se traduz em dom ( l,14.16bis.l7), e agapê, que neste evangelho sig­ nifica o amor enquanto é entrega de si (5,42;13,35;15,9, 10bis.l3;17,26), praticamente sinônimo de cbaris. O verbo correspondente, agapaô, usa-se com freqüência com valor manifestativo: mostrar, demonstrar, manifestar o amor (3, 16; 17,17; 14,21.23; 15,9), Na realidade, dado que agapê, agapaô têm em grego vasto campo de significado, o uso de cbaris no prólogo serve para determinar o significado de agapê, agapaô no corpo do evangelho.

Jo usa também o termo pbilos, amigo, a fim de denotar o vínculo de amizade que estabelece relação de iguais

(24)

(opos-to a “servo”; cf. 15,15), O verbo phãeô tem a mesma conotação.

II. Equivalências. A cbaris, o amor gratuito, qualificado de “leal” (1,14: hendíadís cbaris kãi alêtheia), equivale à “glória”, a qual, por seu traço de luniinosidade, significa o esplendor do amor leal, ou seja, sua visib’Jidade e sua evi­

dência ao ser manifestado (1,14.17) (—>■ Glória II) .

A glória-amor leal que o Pai comunica ao Filho identi­ fica-se, por outro lado, com o pneuma, o Espírito ( l,14.32s); ele é cbaris, o dom do amor que os discípulos recebem da plenitude de Jesus (1,16: de sua plenitude todos nós temos recebido: amor que responde ao seu amor; cf. 20,22: Kece- hei Espírito Santo). O Espírito significa o amor enquanto é dinamismo e força interior (4,24: Deus ê Espirito), prin­ cípio de vida que tende a comunicar-se e se torna visível na atividade.

A identificação de “a glória” ( = amor leal/Espírito) com a agapê aparece no paralelo entre 17,22: a glória que me deite eu a dei a eles, e 17,23: lhes demonstraste o teu, amor como mo demonstraste a mim (cf. 15,9) e pela com­ paração entre 17,26: para que este amor com que tu me tens amado esteja neles e 14,17: [o Espirito da verdade] estará em vós.

O termo alêtheia, no seu sentido de “lealdade”, quali­ ficação de charis (1,14.17: cbaris kai alêtbeia), usa-se tam­ bém somente para indicar o amor leal (3,21: o que pratica a lealdade = o amor leal) (-> Verdade I, II I) .

Logos, mensagem, significa a prática do amor enquanto mensagem que é preciso escutar e a que é preciso ater-se (5,24;8,31;14,24), Entolê, mandamento, denota a mesma realidade do amor enquanto é norma de vida (13,34) (—?■ Palavra I; Mandamento II I) .

Vida, zôê, está em relação com o amor enquanto ele (o Espírito) é princípio vital; daí que a comunicação do Espírito séja comunicação de vida (cf. 6,63} (—> Vida IIc).

A verdade, alêtheia, desde o ponto de vista subjetivo, é então a experiência de vida que produz a prática do amor (8,31s) (-^ Verdade Ilb ).

(25)

III, Símbolos do amor. Os símbolos do amor que Je­ sus comunica aos homens são os do Espírito (—> Espírito I, IV ). Na cruz, o sangue e a água que saem do lado de Jesus (19,34) simbolizam o seu amor pelo homem, que chega ao ponto de dar sua vida (sangue: amor demonstrado, a plenitude de amor e lealdade; cf. 1,14) e o amor que comunica aos homens (água; amor comunicado, o amor e a lealdade = o Espírito; cf. 1,17;7,39).

A permanência do amor de Jesus manifestado na cruz indica-se com o símbolo do lado aberto depois da ressurrei­ ção, que torna patente sua morte passada e continua sendo a fonte do Espírito (20,20.25,27).

Símbolo do amor como serviço é o pano que Jesus se ata a fim de lavar os pés dos discípulos (13,4) e que man­ terá posto (13,5), sem tírá-lo ao retornar ao seu lugar à mesa (13,12).

IV. O amor de Deus: o Pai. a) Característica de Deus como Pai é a plenitude de amor e lealdade (1,14), que eqüivale a ser Espírito (4,24), força e dinamismo de amor. Daí que a presença da glória (o amor leal) seja sua própria presença ( 1,14;12,45;14,9) (-> Pai II) .

O amor de Deus é universal, atínge a humanidade in­ teira (3,16: o mundo) e o demonstra chegando ao ponto de dar o seu FÜho único (ibd.). O propósito do seu amor é que o homem não conheça morte, mas que tenha vida definitiva (3.16: e nenhum pereça; 3,18: não seja julga­ do — não seja condenado a morrer; cf. 6,39) (—> Juízo I) . Uma vez que o amor é o único princípio de vida definitiva, para recebê-la é preciso dar adesão a Jesus, o Homem le­ vantado ao alto (3,14a), modelo de amor até ao extremo (13,1.34), tomando sua vida e morte como norma de sua própria vida (6,53s: comer a sua carne e beber o seu san­

gue). _

b ) O Pai ama o FÜho e amou-o desde antes de existir o

mundo (17,24), ou seja, o Pai previa a realização do seu projeto em Jesus e o seu amor o impulsionava a realizá-lo (1,1; a Pdavra/Projeto âirigia-se a Deus). Demonstra o seu amor a Jesus comunicando-lhe a plenitude de sua glória.

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O amor leal (1,14), o Espírito, que é a definição do próprio Deus (l,32;4j24). Fá-lo assim ígual a si, partidpatite de toda a sua riqueza (1,14: a glória-amor); tudo põe em suas mãos, constituindo-o herdeiro universal (3,35); por isso, tudo o que é do Paí é do Filho e o que é do Filho é do Pai (17,10); por amor, ensina-lhe tudo o que faz (5,19s), de modo que a atividade do Filho é a do Pai (5, 17.21.26) e o Pai está sempre com Jesus (8,29; 16,32),

A resposta de Jesus ao amor do Pai, sua disposição a entregar a vida, faz com que o Paí lhe demonstre continua­ mente o seu amor (10,17; cf, 13,9), em outros termos, lhe comunique continuamente o seu Espírito.

A comunicado plena do Espírito (l,32s; cf. 15,9; 17,

26) fez de Jesus o Homem-FÜho de Deus (1,34) ( Es­

pírito II I) . O amor do Pai para cora Jesus é amor de ami­ zade (5,20: O Pai quer bem [philei] ao Filho), baseada na igualdade e identificação que cria a plena comunicação da glória-Espírito (10,30: Eu e o Pai somos um; 10,38: Eu estou identificado com o Pai e o Pai comigo; cf, 14,10,11b,

2 2),

c) O Pai quer bem também aos discípulos com amor de amizade porque eles querem, por sua vez, bem a Jesus e lhe dão sua adesão (16,27: phileô). Mediante Jesus e em Jesus ele os ama como amou a Jesus, e o demonstrou co­ municando-lhes o Espírito por seu intermédio (17,32.26; 19,30), A quem responde ao amor cumpriado a mensa­ gem de Jesus, o Pai demonstra o seu amor vindo com Jesus e ficando para viver com o discípulo (14,23), tornando-se companheiro de vida.

As características do amor do Pai, que é modelo para todo outro amor, é, portanto, a comunicação plena e inteira de sua riqueza (glória/amor/Espírito/vida), que faz de Je­ sus o Deus gerado, igual ao Pai, capaz de amar como ele e vivendo na intimidade e comunhão perfeita com ele (1, 18: face a face com o Pai; 17,11). Tal é o objetivo do seu amor também para com os homens, por intermédio de Jesus (17,22), Sua oferta é universal, sem nenhuma ex­ ceção; cabe ao homem torná-la eficaz com sua aceitação.

(27)

V. Amor de identificação e amor de entrega, a) O amor do Pai para com Jesus e para com todo homem evidencia-se na entrega de si mesmo pela qual comunica sua própria glóría (1,14), o Espírito-amor, princípio de vida. Sendo o amor força de integração e unidade, quem aceita e recebe o Es­ pírito permanece unido ao Pai pela comunhão que cria participação do mesmo amor.

b) Jesus, que recebe a plenitude do Espírito {l,32s), é “um” com o Pai (10,30), está identificado com ele (10, 38;14,9s); a resposta ao amor do Pai é a entrega de si mesmo aos homens (14,31), pela qual comunica o amor do Pai e seu (19,30: o Espírito) e lhe dá eficácia (6,39.40).

c) O discípulo recebe de Jesus o Espírito-amor que Jesus recebe do Pai ( 1,33;15,26;20,22; cf. 17,22: a glória), ficando dessa forma integrado na “unidade”, identificado com Jesus e, através dele, com o Pai, a nível comunitário

(14,20) e pessoal (14,23). Integrado na unidade do amor, responde ao amor recebido (1,16) com a entrega pelo ho­ mem igual à de Jesus (13,34: Como eu vos amei). AmpHa-se assím progressivamente o âmbito de “o uno” (17,llb.21. 22.23) de onde irradia o amor à humanidade; nele está ativo o amor do Pai, que é o de Jesus e o dos seus.

Esta unidade no amor ( “o uno”) constitui o reino de Deus (-» Deus II, —> Unidade I).

V I. O amor de Jesus, a) Jesus ama o Pai e o mani­ festa com sua entrega, cumprindo o seu mandamento/ordem (10,18) (-» Mandamento II ) , que o leva a dar sua vida pelo homem (14,31); ou seja, expressa o seu amor ao Pai amando o homem até ao extremo, como ele e em união com ele (13,1). Etemonstra assim sua identidade de desígnio

com o Pai Ê a sua entrega ao homem que o

identifica com o Pai e o mantém no âmbito do seu amor (15,10); o amor aos seus é a resposta de Jesus ao amor que o Pai demonstrou a ele (15,9).

b) Jesus se entrega pela humanidade inteira (10,11:

as ovelhas, sem limitação) e a todos oferece sua mensagem de vida (5,25; 10,3a). Manifesta o amor do Pai aos homens mediante os seus sinais (-^ Sinal II I) , que culminam em

(28)

sua morte, manifestação suprema do seu amor ( 15,15)? pel^ qual Jesus põe à disposição do homem toda a sua riqueza {o Espírito), a mesma que o Pai tínha comunicado a ele ( 19,30;l,32s; cf, 1,14.16.17). Comunica-o quando o seu amor atinge o ato supremo, superando o ódio mortal dos seus inimigos. Amando até ao extremo, pelo total dom de si,

é igual ao Pai Criação IV b). Essa é a meta que propõe

aos seus discípulos (13,34: Como eu vos amei).

O seu amor pode ser eficaz para com aqueles que es­ cutam a sua mensagem (5,25; 10,3b) e lhe dão sua adesão

(3,16;6,39: o que o Pai me entregou; 6,40: toâo o que reconhece o Pilho e lhe presta adesão ; 10,3b: suas ovelhas; 10,14.26; 12,46; 18,37: Todo o que pertence à verdade).

c) Jesus ama aos discípulos ( 11,5;13,1;13,34;14,21;15, 9.12). Um discípulo não nomeado, seu amigo íntimo e con­ fidente, é o protótipo deste vínculo de amor ( 13,23; 19,26; 20,2;21,7.20) (-» Discípulo Illd ) , O amor de Jesus para com os seus é amor de amizade, que, como o amor do Pai para com o Fílho (5,20), exclui a submissão e a distância próprias do servo (15,13-15); a amizade baseia-se no cum­ primento do que Jesus manda, ou seja, na prática do amor mútuo, que pÕe em sintonia com ele (15,14; cf. 13,12.17). Tão importante é que o vínculo com Jesus seja o da ami­ zade e não o de subordinação, que é o objeto da pergunta decisiva de Jesus a Pedro (21,17).

d) Jesus explica aos seus a qualidade do seu amor no lava-pés (13,4-17), onde, sendo “o Senhor", faz-se o ser­ vidor, dando também a eles a categoria de “senhores” ( = homens livres; cf. 8,36); dá-lhes assim exemplo que servirá para o seu modo de agir no futuro (13,14.16.20). O amor é, portanto, a entrega de si a fim de dar ao homem digni­ dade e fazê-lo livre, criando a igualdade. Este amor esten­ de-se aos inimigos, inclusive às custas da própria vida, co­ mo o demonstra Jesus com Judas (13,21ss); essa aceitação inclusive da morte para não desmentir a lealdade do amor, manifesta a glória do Homem e a de Deus (13,31s),

V II. O mandamento do amor. O mandamento novo,

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da comunidade messiânica, é o mandamento de amor mútuo como o que Jesus teve por eles {13,34;15,12.17), explicado no lava-pés e na aceitação da morte. Este amor que cria comunidade de homens livres e iguais é o distintivo da co­ munidade cristã (13.35) e a herança que Jesus deixa aos

seus (19,23s) (—>■ Mandamento II I) .

V III. O amor dos discípulos a ]esus. A identificação com Jesus, que se expressa em termos de amor (14,15), ou, em outros termos, a assimilação de Jesus, de sua vida e morte (6,54: comer a sua carne e beber o seu sangue), é condição para que o discípulo possa cumprir a mensagem do amor (14,15). Somente esta identificação, que é o cume da adesão (fé), é que permite ao discípulo amar como Jesus amou (13,34; v. antes V ).

Por outro lado, a assimilação e prática dos seus man­ damentos ou de sua mensagem (o amor para com os ou­ tros) é a prova de que existe a ÍdentÍfÍcação/amor com Jesus (14,21.23), Tanto o amor para com Jesus como o amor para com os outros atraem o amor do Pai (14,21.23), mostrando assim sua identidade: ama-se aos outros porque se está identificado com Jesus.

Àquele que pratica o amor para com os outros Jesus mostra o seu amor manifestando-se-lhe pessoalmente, ou seja, fazendo com que experimente sua presença (13,21). A en­ trega de si ao bem do homem é que permite ao discípulo permanecer na esfera do amor de Jesus (15,9; cf. 15,4: permanecer unidos à videira), partícipando do seu mesmo princípio vital, o Espírito; este se comunica sem cessar de Jesus aos seus e os associa à sua sorte (12,26).

IX . O amor na comunidade. Na comunidade resplan­ dece o amor, “a glória”, que Jesus recebe do Pai e comu­ nica aos seus (17,22; cf. 17,10) (-^ Glória V ). A glória, visibilidade do amor, é a presença do Pai neles; em virtude do amor, a comunidade torna-se então o santuário de Deus entre os homens. Esse amor-glória faz com que a comuni­ dade seja una e atinja a unidade com Jesus e o Pai (v. antes V). O amor, pela comunidade do Espírito, é o fator de unidade entre os discípulos (17,22). Essa unidade pelo

(30)

amor é o objetivo último da oração de Jesus pelos seus e fará com que o mundo creia na missão divina de Jesus e no amor do Paí (17,22,23) (—> Unidade IV ). O amor entre os membros da comunidade é a amizade ou fraterni­ dade, como o de Jesus com eles (15,15; cf. 11,11: nosso amigo; 20,17: meus irmãos; c£, 21,23) (—>■ Irmão I).

A missão da comunidade realiza-se em ambiente de amizade com Jesus, e faz com que a alegria do fruto seja partilhada (15,11; cf. 4,36) (-> Fruto V ). Que os dis­ cípulos não trabalham como subordinados ou assalariados Jesus o demonstra no episódio da pesca, onde ele colabora para achar o fruto (21,6) e prepara e serve a refeição aos seus (21,9.12s).

Assim como o amor do Pai e o de Jesus, também o amor dos discípulos se manifesta na partilha do que possuem e na entrega de sí mesmos no dom. Assim se manifesta no episódio dos pães (6,lss), onde Jesus, em paralelo com o lava-pés (13,4ss), faz-se servidor da multidão, comparti­ lhando com ela todo o alimento de que a comunidade dis­ punha (6,11) {—> André).

A mesma coisa se expressa na cena de Betânia (12, 1-8): a demonstração de amor e homenagem a Jesus como doador de vida haverá de se transformar, após sua morte, na demonstração de amor aos pobres, que estarão entre os discípulos e ser aceitos como irmãos (12,8: os pobres os tendes sempre entre vós, ao passo que ã mim não me ha­ vereis de ter sempre). A condição para esse amor aos pobres será a homenagem a Jesus no dia do seu sepultamento, a saber, a fé em sua vitória sobre a morte e a gratidão ao doador da vida definitiva (12,7).

X. O amor, condição para conhecer a verdade (—^ Ver­ dade lIc ).

X I. O i que não amam. Fora do âmbito do amor estão os que, tendo apego a si mesmos, não querem expor-se no meio do mundo hostU, ou seja, os que se acomodam ao sistema injusto (12,25). Esta atitude identifica-se com bus­ car a própria glória (5,44; cf. 7,18), preferindo a glória humana à que vem de Deus ( 12,43;5,44). São os que não

(31)

se atêm à mensagem de Jesus (14,24; cf. 8,31). Não se pode ter relação filial com Deus sem amar a Jesus que é o Filho (8,42); os que o rejeitam escolhem como pai o Ini­ migo, o principio de morte e mentira (8,44).

O mundo injusto quer bem aos seus e lhes dá segu­ rança, mas odeia e persegue os que manifestam a glória de Deus com o seu amor para com o homem (15,19). Püatos tínha que optar precisamente entre ser amigo de Jesus ou amigo do César (19,12). Optar pelas trevas e contra a luz é a mesma coisa que optar contra o amor e pela glóría hu­ mana (3,19; cf. 12,43). Isso faz com que os dirigentes judeus não conheçam ao Pai, porque não está neles o amor de Deus (5,42).

An d r é

Gr. Andreas (cf. anêrfandros, varão adulto; andreios, varonil).

Sobre o encontro de André com Jesus e os seus efeitos (-^ Discípulo Illa ). O nome deste discípulo, André (va­ ronil), indica semelhança com Jesus, o “varão” anunciado por João Batista (1,30); alude, portanto, à condição que o Espírito produz, acabando e levando a termo a criação do homem (cf. 6,8: Andreas; 6,10: andres, homens adultos)

(-> Criação III, V; Nascimento I; Espírito V ).

Jo precisa que André, como Filipe e Pedro, era de Betsaida ( = o porto pesqueiro) (1,44). São os três dis­ cípulos que aparecerão no evangelho em relato com a mis­ são, simbolizada pela pesca: André e Fihpe, em relação com os gregos que se aproximam de Jesus, o fruto em promessa da missão futura (12,22); Pedro, após a ressurreição

(21,3ss). _ ^ ^ _

No episódio dos pães, aparece André em contraposição a Fihpe, com nova menção de parentesco com Simão Pedro (6,8). Ao passo que Filipe, que não rompera com o passa­ do (—> Discípulo IIIc ), continua pensando em categorias de dinheiro (-^ FiKpe), André, o que ficou com Jesus (1,39), propõe a solução do amor mútuo: compattUhar o

(32)

pão que a comunidade possui; representando essa sob a fi­ gura do “menino” (6,8), demonstra participar da atitude de Jesus, que se faz servidor da multidão (6,11), A comu­ nidade é, dessa forma, figurada como “varão adulto” (An­ dré) que se pÕe a serviço dos homens sem ostentação nem superioridade alguma ( “menino”), André, porém, não ten­ do ainda total experiência da fecundidade do amor, cuja plenitude se manifestará somente na cruz, duvida da sua eficácia (6,9).

No episódio dos gregos, a consulta de Filipe e André a Jesus indica a dificuldade que experimentou a comunidade de origem judaica em admitir os gentios em pé de igualda­ de; ao mesmo tempo justifica essa decisão, que não foi tomada sem consultar ao Senhor (12,22).

(33)

Ba t is m o

^ Água I, III; Espírito II, IV; Glória IV ; João Ba­ tista II, IV; Nascimento II; Nicodemos I; Pecado II.

Be t â n ia

Gr. Bêthania [4].

L A localização ‘'Betânia". O nome de “Betânia" desig­ na no evangelho; a) o lugar onde João batizava (1,28); b) a aldeia de Lázaro, Marta e Maria (11,1.18), e c) em relação com esta última, o lugar onde se celebra a ceia em honra de Jesus, doador de vida (12,1).

Alude-se a Betânia onde João batizava em 10,40: Je­ sus vai para aquele lugar depois que os dirigentes no tem­ plo o rejeitam como Messias consagrado por Deus ( 10,23­ 39).

II. Significado de Betânia. Em três passagens se apre­ senta Betânia como o lugar onde existe a comunidade de Jesus:

a) Em 10,40-42, quando Jesus realiza a segunda etapa simbólica do seu êxodo (10,40: Foi-se desta vez para o outro lado do Jordão, com alusão a Josué; em contrapo­ sição à primeira vez, 6,1; foi-se Jesus para o outro lado do mar, com alusão a Moisés), faz-se Jesus centro de atração fora dos limites de Israel (10,41: Acorreram a ele muitos) e aí muitos lhe deram adesão (10,42).

A luz desta passagem, a localização inicial de João Ba­ tista do outro lado do Jordão (1,28: Betânia, historica­ mente muito duvidosa) aparece como o anúncio de nova terta prometida (alusão a Josué), situada fora do território propriamente judaico; prefigura assim o termo simbólico do êxodo do Messias, que tirará o povo da instituição judaica existente (ruptura significada pelo batismo com água; —^ Agua I ), por ter essa transformado a antigà terra prometida

em terra de opressão. '

b) A Betânia próxima de Jerusalém (11,18), histori­ camente bem atestada (cf. Mt 21,7;26,6: Mc 11,1.11.12;

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Lc 19,29;24,50), não perde, por ísso, o seu significado sim­ bólico. Também é o lugar de uma comunidade de discípulos (11,1-2: irmãos). Contudo, a proximidade de Jerusalém e a afluência de “Judeus” por ocasião da morte de Lázaro

(11,19) (—?■ Judeus) evidenciam que se trata de comuni­

dade que não verificou a ruptura com as antigas instituições (cf. o paralelo entre 11,1 e 1,44) (-» Filipe, Discípulo IV ).

c) Na terceira passagem (12,1) não se determina a lo­

calização de Betânia; é simplesmeüte o lugar da comunidade de Jesus, que renunciou às categorias do passado ao perceber o amor de Deus que comunica a vida definitiva (11,40: a glória).

Como símbolo da comunidade de Jesus, Betânia cono­ ta, portanto, a saída para fora da instituição israelita e o caráter de nova terra prometida próprio do grupo cristão; é o ponto de chegada do êxodo do Messias. É centro de convocação (10,41), lugar da fé (10,42), da festa e do serviço, onde se demonstta a gratidão a Jesus pelo dom da vida (12,2s): o Espírito-amor que a produz inunda a co­ munidade (12,3: o perfume).

Símbolo equivalente de Betânia é “a terra” (6,21;21, 8.9.11). Jesus constitui esta “terra prometida” na noite do

êxodo (20,19-23) (“ »■ Discípulo IX ),

Bodas

Gr. gamos [2]; nympkios, esposo [4]; nymphê, es­ posa [1]. .

I. As bodas, símbolo da diança. Na linguagem teoló-

gico-simbólica do tempo, o vínculo de Deus com o seu po­ vo, que se podia expressar em termos de promessa (Gn 17) e aliança ou pacto bilateral (Ex 19 e 24; cf. Dt 29 e 30; Js 24), expressava-se também mediante o símbolo conju­ gal, sublinhando a relação de amor e fidelidade entre Deus e o povo (cf. Is 49,14-26;54;62; Jr 2; Ez 16). A eleição do povo e a aliança foram expressão do amor de Deus por ele (Dt 4,37;7,7s;10,13). O malogro da aliança levou 2 - Vocabulário,,.

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à idéia de nova aliança escatológíca, messiânica (Jr 31,31- 34;33,14-22; Ez 36,20-32).

II. As bodas de Caná. No episódio de Caná, as bodas é figura da aliança antiga, a que pertence a mãe de Jesus, mas não ele nem os seus discípulos (2,ls). É possível que o próprio nome de “Caná”, era relação com o verbo he­ braico qanah, adquirir, criar, tenha sido escolhido por Jo visando a fazer alusao ao “povo adquirido, criado por Deus" (Ex 15,16; Dt 32,6; SI 74,2), sujeito de sua aliança. A mãe de Jesus, que representa o povo fiel da antiga aliança enquanto é origem de Jesus (-^ Mulher II; Mãe), fá-lo notar a falta de vinho, símbolo do araor (2,3); espeta do Messias que traga remédio para a situado; Jesus, po­ rém, anuncia para a “sua hora”, a de sua morte (-> Hora I I I ), a inauguração de novas bodas-aliança, na qual ele dará o seu próprio vinho, o Espírito-amor (2,4) (—> Espírito

. . .

A Lei, interpretada pelos dirigentes, criava no povo a consciência de pecado, privando-o assim da experiência do amor de Deus (falta de vinho); está representada pelas seis talhas “de pedra” (como as tábuas da Lei) destinadas às "purificações dos judeus”. A nova aliança não terá por có­ digo a Lei dada por Moisés, mas o amor leal, o Espírito, comunicado por Jesus ao horaem (1,17;19,30.34) {—> Amof V II; Água II) .

III. O Messtas-Esposo. Jesus é o novo Esposo (3,29), identificado por João com o Messias (cf, 3,28: Não sou eu o Messias). É o Espírito que desce do céu que distingue Jesus de João (1,32) e lhe permite instituir a nova aliança (cf. 3,27) batizando com Espírito Santo (1,33) (-> Água III; Espírito I I I , IV; João Batista II I) . A alegria de João ao ouvir a voz do esposo alude à restauração anunciada por Jeremias {3,29 Leit.); anunica João a fecundidade da nova aliança (3,30: A ele cabe-lhe crescer). A voz do es­ poso responde no horto-jardim a da esposa (20,16), Maria Madalena, figura da comunidade da nova aliança. A cele­ bração da vida que vence a morte (12,lss) descreve-se também com imagem nupcial no Cântico, a imção com per­

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fume (o amor) (12,3); prefigura e anuncia as núpcias de­ finitivas (20,16) (-;► Mulher IV, V ).

Em relação com o papel de Esposo está a designação de Jesus como " varão/homem adulto” (1,30), assim como também o simbolismo da expressão “desatar as sandálias” (1,27) e a dupla frase de João “se põe adiante de mim porque estava primeiro do que eu” (1,15.30).

(37)

Ca r n e

Gr. sarx [13]; em oposição a pneuma, espírito, em 3,6;6,63; em paralelo com haima, sangue, em 1,13 e, de Jesus, em 6,53.54.55.56.

I. Significado e uso do termo. "Carne” denota-o indi­ víduo humano (17,2), conotando sua condição débil e ca­ duca (11,4: astheneia), cuja última conseqüência é a morte. Para Jo, o homem de carne é a primeira etapa do plano criador de Deus; a realização do desígnio criador (6, 39s) nele depende de sua opção livre: se aceitar o Espírito- -amot que comunica o enviado de Deus, ficará acabado e terá a vida (3,36; cf. 3,34 e passim); se rejeitar o amor ofe­ recido, não saberá o que é vida, ficará sob o domínio da morte, que será definitiva (3,36b; cf. 3,18;8,21.24)

Morte II I) . A carne, criada por Deus (1,3), não é princípio mau, mas somente fase inacabada; sua debilidade, porém, faz com que possa ser cegada e dominada pela “tre-

va” (1,5) Nascimento II) ,

“A carne” sozinha é princípio vital que não pode su­ perar sua própria condição e gera sua própria debilidade (3,6; cf. 1,13); contrapõe-se ao Espírito (ío pneuma), o princípio que comunica a vida definitiva (3,6), que supera a morte {—> Vida IIc; Ressurreição III) . Por si só não pode dar a capacidade de “fazer-se filho de Deus” (l,12s); em conseqüência, malogra em sua tentativa de realizar o rei­ no de Deus (3,2-6) ou de levar a estado definitivo (6,63). Julgar a Jesus desde o ponto de vista da mera “carne” é falsear sua realidade (8,15).

II. A carne de Jesus. Jesus é o projeto de Deus feito carne (1,14), realidade humana. A descida do Espírito, que lhe dá capacidade de amor igual à do Pai, transforma sua “carne” realizando nele o modelo de Homem ( “o Filho do homem”) (-> Homem I) , o Filho de Deus (-^ Filho Ila ).

A vida definitiva que produz o Espírito-amor supera as conotações negativas da “carne”, sua debilidade e caduci­ dade (—^ Espírito V); por Ísso, o homem que nasceu do Espírito já não se chama “carne”, mas “espírito” (3,6;7,

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39). A debilidade da “carne” mani£esta-se, porém, em Je­ sus ao chegar a “sua hora” (12,23), a hora de entregar-se nas mãos do mundo que o odeia (7,7; cf. 12,25); experi­ menta então forte agitação que ele vence com sua fideli­ dade ao Pai (12,27s).

A expressão “a carne e o sangue” de Jesus significa sua entrega até a morte por amor ao homem, realizando assim até ao final sua consagração pelo Espírito (17,19). A carne de Jesus torna-se alimento para o homem (6,51), ou seja, fonte de vida (6,53ss), em virtude de comunicar o Espírito (6,63) a quem “a come”, ou, em outras palavras, a quem se compromete a viver a sua realidade humana tal

como foi vivida por Jesus (—>■ Sangue).

A eucaristia atualiza esta realidade na comunidade cris­ tã. Jesus, que se deu na cmz, dá-se como alimento aos seus, O Espírito que entregou na sua morte comunica-se através de sua carne e sangue; o discípulo que come e bebe responde a este amor de Jesus com o seu compromis­ so de viver e morrer como ele.

CÉU

Gr. ouranos [18]; anô, em cima [3]; anôíhen, de cima [5].

I. Sentido dos termos. Estes termos possuem em Jo

sentido local figurado e denotam a esfera criada pela pre­ sença e atividade divinas e, em conseqüência, Deus mesmo. Assim, Jesus levanta os olhos ao céu a fim de dar graças ao Pai (11,41) ou a fim de dirigir-lhe sua oração (17,1).

As intervenções de Deus expressam-se como “do céu” ou “de cima”. Assim, 0 Espírito desce “do céu” sobre Je­ sus (1,32); de lá desce o verdadeiro pão de Deus (6,32), o pão da vida (6,41.42,50.51.58), que é o prõprio Jesus, o dom de Deus para a humanidade (6,33,51: cf, 3,16;4,10); de lá procede a voz de Deus (12,28). Ao dizer Jesus que “desceu do céu” (3,13;6,51), indica sua origem divina por intermédio do Espírito que desceu sobre ele (l,32s); a mes­

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