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Eixo: O planejamento urbano e regional a produção da cidade sul-americana.

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Academic year: 2021

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A produção do espaço público de uso coletivo na Grande São Paulo: o caso da

cava de Carapicuíba.

Magdiel Silva

Arquiteto e Urbanista, mestrando em Planejamento Urbano e Regional pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

magdielsilva@outlook.com

Jaqueline de Araujo Rodolfo

Arquiteta e Urbanista, especialista em Arquitetura, Cidade e Geografia e mestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Jaqueline.arodolfo@gmail.com

Eixo: O planejamento urbano e regional a produção da cidade sul-americana.

Introdução

Apresentaremos neste artigo as transformações urbanas e ambientais da região da Cava de mineração de Carapicuíba, localizada no município de Carapicuíba na Grande São Paulo. Essas transformações se iniciaram em 2001 e se caracterizam por um projeto de compensação ambiental para a região encabeçado pelo DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. Em um curto período de tempo, verificamos que profundas transformações urbanas e ambientais alteraram a perspectiva de uma região subutilizada, conhecida por ter o maior lixão a céu aberto da Grande São Paulo, em uma nova centralidade. Essa região hoje é considerada um dos principais eixos de espaços públicos da cidade de Carapicuíba, e entre os equipamentos implementados destacamos o Parque Estadual Gabriel Chucre, inaugurado em 2012 e que recebe atualmente um público superior a 60.000 pessoas ao mês, e onde foram instalados em 2018 uma unidade básica de saúde e um centro de fisioterapia, ambos geridos pela prefeitura local; além das instituições de ensino: FATEC e ETEC (Faculdade de Tecnologia e Escola Técnica em Carapicuíba) administradas pelo Centro Paula Souza do Governo do Estado, inauguradas em 2006, além da Faculdade Estácio e colégio Sesi (Serviço Social da Indústria), que juntos conformam um complexo educacional no município.

Neste primeiro momento, adotaremos como metodologia o diálogo com a bibliografia específica sobre a cidade de Carapicuíba, destacando seu processo de desenvolvimento histórico e as

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atividades de mineração, que instalada nos meandros do rio Tietê, perduraram por mais de 40 anos, de 1960 a 2001.

A história de Carapicuíba remonta às ações do Padre José de Anchieta, sendo uma das doze aldeias jesuíticas que ele fundou na capitania de São Paulo, datando aproximadamente de 15801. Ligada à

São Paulo e à Coroa Portuguesa, o conjunto arquitetônico, urbanístico, histórico e cultural do antigo aldeamento jesuíta de Carapicuíba é um dos últimos e mais bem conservados refúgios da ocupação jesuíta no Brasil (OLIVEIRA, 2016). Além de ser um dos primeiros conjuntos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, o sétimo no Brasil, tombado em 19402.

Todavia, a partir de meados do século XIX, em virtude da abolição dos aldeamentos implementados pelo governador da capitania, Antonio José Franca e Horta, vemos que o aldeamento de Carapicuíba, distante das principais rotas, estradas e trilhos, ficará esquecido em certo sentido, mas manterá a presença de pequenos posseiros e agricultores que conformam nas décadas posteriores, um pequeno vilarejo formado por chácaras e sítios (OLIVEIRA, 2016). Essa ocupação, no entanto, não levará à mudanças significativas no território, situação que será alterada apenas no início século XX, com a inauguração da estação de trem da Estrada de Ferro Sorocabana, no que hoje é a região central da cidade em 1926 (PIMENTEL, 2014), região distante do antigo aldeamento, e o que justifica, na visão de (PETRONE, 1994), o fato da Aldeia ter se mantido ao longo dos anos, quase intacta. Nesse processo, a urbanização de Carapicuíba se consolidará nas proximidades dos eixos ferroviários, com a abertura sucessiva de novos bairros e loteamentos privados.

A região da aldeia de Carapicuíba, como também boa parte do que hoje é entendida como Grande São Paulo, pertencia ao município de São Paulo até meados do século XIX. A partir de 1856, temos a criação de novos municípios na região, entre eles, o de Cotia, que abrangia territorialmente a região da aldeia e do povoado de Carapicuíba.

Carapicuíba será distrito de Cotia até 1948, e em 1949, terá seu território anexado ao município de Barueri, condição que será mantida até fevereiro de 1964, por meio da Lei n. 8.092, quando a cidade consegue sua emancipação política e administrativa, tornando-se município em 26 de março do

1 De acordo com (MORAES, 1992) Em torno de São Paulo no século XVI, inúmeras aldeias de índios foram fundadas pelos jesuítas: M’Boy, Santo Amaro, Pinheiros, Guarulhos, Carapicuíba, Itaquaquecetuba, São Miguel.

2 Número do Processo: 0218 – T-39, Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico: nº inscr..007, vol.1, f. 03, 13/05/1940. Cf.: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/385/

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mesmo ano. Nesse contexto, na região central de Carapicuíba, nas proximidades da estação de trem da estrada de Ferro Sorocabana, e nos meandros do rio Tietê, se desenvolve no início dos anos 1960, a primeira atividade econômica significativa na cidade, a extração mineral de areia.

De acordo com Pimentel (2014 p.35), as atividades de exploração de areia em diferentes trechos do rio Tietê estavam estreitamente relacionadas às necessidades de “crescimento urbano de São Paulo,

e voltadas principalmente para a construção civil”. Em Carapicuíba, associada à estação ferroviária,

foi um dos principais fatores para a ocupação e desenvolvimento do município.

Acompanhando o crescimento populacional da região metropolitana de São Paulo, em 1950, Carapicuíba, ainda como vila de Barueri, apresentava 5.948 habitantes, em 1965, com apenas 1 ano de emancipação, sua população apresentava 24.983 habitantes3, atingindo em 1970 mais de 54 mil e

chegando em 1980 a uma população de 185.822 habitantes4. Em 2018, de acordo com estimativas

do IBGE, esse contingente populacional atingiu 398.610 habitantes distribuídos em uma área urbana de 34,5 quilômetros quadrados5. A cidade de Carapicuíba está localizada a 26 quilômetros de São

Paulo, Capital.

Figura 01: Evolução urbana de Carapicuíba, 2019. Fonte: Dos autores, com base no Plano Diretor Participativo de

Carapicuíba, 2012.

3 Anuário Estatístico de São Paulo, 1966 4 Censo demográfico IBGE, 1950, 1970, 1980.

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Histórico da cava de Carapicuíba

A cava de mineração de Carapicuíba, adjacente ao rio Tietê, funcionou no período de 1960 a 2001. Em 1972, a partir das obras de retificação do rio, ocorreu o rompimento de uma das barragens e a cava ficou alagada.

Figura 02: Cava de Carapicuíba em 1962. Fonte: Dos autores, com base em foto aérea.

Figura 03: Cava de Carapicuíba em 1972. Fonte: Dos autores, com base em foto aérea.

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A Cava de Carapicuíba, a partir de 1979, recebeu a instalação de um lixão municipal sem qualquer tipo de tratamento, tornando o entorno contaminado e colocando em risco a população local. Em 1997, por meio de uma liminar, o Ministério Público de São Paulo interditou a exploração do lixão, no entanto, a prefeitura de Carapicuíba conseguiu derrubá-la na justiça alegando, entre outras, que não tinha alternativas para o seu despejo (PACHECO & RODRIGUES, 1999); nesse contexto, muitas foram as pressões de técnicos ambientais e de Ongs que buscavam a suspensão dos despejos na região afim de controlar os impactos ambientais da atividade, como também, devido à proximidade do lixão para com a várzea do rio Tietê, que desde 1987, por meio da Lei n. 5.598 de 26 de fevereiro, estava prevista como área de proteção ambiental6. Em 19987, o lixão de Carapicuíba ocupava uma área de

75 mil metros quadrados, tinha 20 metros de altura e recebia diariamente, de acordo com a CETESB, 200 toneladas de lixos domiciliares, considerado o maior lixão a céu aberto na Grande São Paulo, além de resíduos industriais que ali entravam clandestinamente (PACHECO & RODRIGUES, 1999). A Cava de Carapicuíba, ou Lagoa de Carapicuíba, como ficou conhecida após sua inundação, ocupava até 2002, aproximadamente 800.000 metros quadrados em sua porção alagada, e apresentava 690 mil metros quadrados de entorno. A partir de 2001, com a desativação do lixão8 e a paralisação das

atividades de mineração, vemos o início de transformação desse território a partir das primeiras medidas de aterramento da porção alagada.

Essas transformações decorrem do Decreto Estadual n. 45.911, de 11 de julho de 2001, que declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, áreas de terras situadas no Município de Carapicuíba, incluindo toda a região da Cava de Carapicuíba, para o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo - DAEE. A partir de então, o DAEE organizou um plano de recuperação ambiental e inserção urbana da região da Cava, que precisava ter sua extensão e profundidade

6 Por meio da Lei n. 5.598, de 26 de fevereiro de 19876, as regiões urbanas e rurais situadas ao longo do percurso do rio tietê, abrangendo os municípios de Salesópolis, Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba, Guarulhos, São Paulo, Osasco, Carapicuíba, Barueri, Santana do Parnaíba, são declaradas área de proteção ambiental da várzea do rio Tiete. Essa lei tinha como objetivo proteger as várzeas localizadas nas planícies fluviais do rio, e que sofreram ao longo do século XX, uma intensificação da ocupação urbana, sejam com a presença de moradias ou indústrias. Especificamente, a cava de Carapicuíba se insere na APA Várzea do rio Tiete no vetor Oeste.

7 A Ata da 48ª Reunião Plenária Extraordinária do Consema, realizada em 27 de outubro de 1997, consta que a cava de Carapicuíba já vinha sendo pensada como o local para depositar o material de bota fora das terras retiradas da calha do rio, aliada com a ideia de implementação de um parque estadual na região que ficaria aos cuidados do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo) conforme detalharemos ao longo do artigo.

8 Conforme matéria publicada na Folha de São Paulo. Cf.: Mariana Viveiros. Carapicuíba fecha maior lixão da Grande São Paulo. Folha de São Paulo, São Paulo, 28 de abril de 2001. Disponível em:

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reduzidas. O projeto envolvia 800 mil m² da região alagada da Cava e os mais de 690 mil m² das proximidades, e foi promulgado contemporaneamente, ao projeto de rebaixamento da calha e alargamento das margens do rio Tietê de 2002, que também estava encabeçado pelo DAEE.

Figura 09: Cava de Carapicuíba em 2002. Fonte: Dos autores, com base em foto aérea.

De acordo com Santos (2007 p.23) a partir de 2002, a Cava de Carapicuíba passa a receber “grandes

quantidades dos sedimentos provenientes das obras de rebaixamento da calha do rio Tietê para o combate às enchentes na capital paulista. ” O projeto desenvolvido pelo DAEE e Governo do Estado

a partir de 2002, buscava o rebaixamento em 2,5 metros ao longo de 24,5 quilômetros e o alargamento das margens rio Tietê. De acordo com o autor supracitado, o material retirado do leito do rio era transportado por barcaça e transferido por guindaste à caminhões que os levavam, entre outros, para a cava de Carapicuíba, regiões consideradas “bota-fora”.

O aterramento da cava de Carapicuíba, de 2001 a data presente, vem sendo realizado por meio de materiais provenientes do desassoreamento do rio tietê, córregos e piscinões, bem como de outras obras públicas e da construção civil. Por meio de um termo de ajustamento de conduta (TAC), esses materiais são inspecionados e monitorados antes de serem utilizados no aterramento (CETESB, 2011). Todavia, muitas foram as discussões sobre esses materiais depositados na cava estarem de fato contaminados e colocarem em risco o meio ambiente urbano local. Ao longo desse período,

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vemos que Ongs e o próprio Ministério Público do Estado pediram a suspensão do aterramento9, no

entanto, o mesmo vem sendo realizado pelo Governo do Estado, e os principais equipamentos já foram instalados na região. Em 2006 temos a inauguração dos equipamentos educacionais: Fatec e Etec, o parque estadual Gabriel Chucre, inaugurado em 2012 como uma compensação ambiental pelo aterramento da cava, e a faculdade Estácio e escola Sesi.

Nesse ínterim, em 2011, com boa parte da cava aterrada, foi apresentado um plano de recuperação completo da cava de Carapicuíba elaborado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB para o Departamento de Águas e Energia Elétrica - DAEE10. Esse plano, com cronograma

previsto até 2021, propõe para a cava de Carapicuíba a implantação de um centro de logística com heliponto; a conexão dos equipamentos educacionais FATEC e ETEC com a estação de trem da CPTM; a remoção das habitações subnormais na cava associado à provisão habitacional para os seus moradores, além da implementação de um programa para ampliação do tratamento dos esgotos despejados nos córregos afluentes da “lagoa”

Figura 04: Cava de Carapicuíba em 2019. Fonte: Dos autores, com base em foto aérea.

9 Meio Ambiente (Secretaria) vai convocar envolvidos em depósito irregular na Lagoa de Carapicuíba. Cf.: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=269166, acesso em 15 de agosto de 2019.

10 PARECER TÉCNICO Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Avaliação Ambiental da Proposta de Recuperação e Inserção Urbana da Cava de Carapicuíba. 2011

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O objetivo deste artigo, para além das questões técnicas e ambientais, é discutir em que medida esses novos equipamentos instalados na Cava de Carapicuíba, de 2006 a data presente, contribuíram para a produção de um espaço público de uso coletivo na região. Destacamos o Parque Gabriel Chucre e as instituições de ensino: Fatec e Etec, Faculdade Estácio e escola Sesi. A instalação desses equipamentos alterou a perspectiva de uma região subutilizada em um novo conjunto de espaços públicos no município, carente de áreas livres, de parques para atividades recreativas, e de instituições públicas e/ou particulares para a formação.

Espaço público

Nos últimos anos, os conceitos de “espaço público”, “esfera pública” e de “coletividade” são corriqueiramente utilizados em planos urbanos nacionais e internacionais que defendam, nem que seja apenas no discurso, uma cidade mais “democrática” e do encontro entre os cidadãos sobre o espaço urbano, próprios da “vida pública” e “coletiva”. De certo modo, hoje, são conceitos que fazem parte do vocabulário de planejadores urbanos, municipalidades, arquitetos urbanistas e demais técnicos envolvidos nas questões urbanas.

Aplicado à arquitetura, aqui, utilizaremos o conceito de “espaço público” desenvolvido por (QUEIROGA, 2012 p.59). Para o autor, o espaço público “é todo aquele de propriedade pública,

podendo-se prestar, ou não, à esfera pública”, são bens de uso comum do povo e entendido

enquanto lócus da vida pública, aberto e com a presença conjunta de indivíduos de todas as classes e segmentos sociais. O espaço público aqui proposto, é entendido enquanto esse “território de

sociabilidade” e esse aspecto está presente no cotidiano local da antiga Cava de Carapicuíba.

A cidade de Carapicuíba, ao longo de sua história, encontrou carências de instituições de ensino para formação profissional e de espaços livres para a sua população. Atualmente, as duas faculdades que existem no município estão localizadas na Cava de Carapicuíba, a Estácio e a Fatec. Essas duas instituições atraem milhares de alunos diariamente, tanto de Carapicuíba, como dos municípios vizinhos, como Osasco, Barueri e Jandira. E em relação aos espaços livres, além do parque Gabriel Chucre com seus 16 hectares localizado na Cava de Carapicuíba, o município só apresenta mais 2 parques, o Parque dos Paturis com 22,44 hectares, localizado nas proximidades do rodoanel, e o Parque da Aldeia com 31 hectares, nas proximidades da Aldeia Jesuítica.

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A partir de 2006, com parte significativa da cava aterrada, temos a inauguração da Faculdade de Tecnologia de Carapicuíba e da Escola Técnica de Carapicuíba. A viabilidade da Fatec e da Etec decorrem do Decreto Estadual n. 50.573, de 2 de março de 2006. Com o objetivo de suprir as necessidades de ordem social, educacional, cultural e econômica de Carapicuíba, essas foram as primeiras, e até o momento, únicas instituições públicas para a formação de ensino superior e técnico da cidade. A localização do campus Fatec/Etec se deu na primeira região aterrada da cava e nas proximidades da linha férrea.

Figura 05 – Construção da Fatec e Etec de Carapicuíba. Figura 06 – Obras concluídas Fonte:

https://www.fateccarapicuiba.edu.br/historico-da-fatec-carapicuiba/

Já o parque público Gabriel Chucre inaugurado em 2012 com o projeto arquitetônico e paisagístico do escritório Barbieri+Gorski, foi realizado através do termo de ajustamento de conduta (TAC) imposta pelo Consema ao DAEE, mediante os danos ambientais que as mudanças de usos relatadas ao longo deste artigo trouxeram para a Cava de Carapicuíba. O projeto do parque foi finalizado em 2006 e apresentado à premiação do IAB-SP, Instituto dos Arquitetos do Brasil, obtendo o Prêmio Carlos Milan11.

Ressalta-se que para a autora Gorski (2007) esse projeto de parque está relacionado ao antigo plano de implementação do parque ecológico do Tietê, presente no Decreto n. 7.868 de 1976. Este Decreto permitiu a desapropriação de alguns lotes localizados ao longo das várzeas do rio para serem recuperados e beneficiados com o projeto de retificação. A partir dessa medida, foi possível a

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implementação de parques ecológicos importantes para a proteção das várzeas do rio Tietê, como o já citado Parque Ecológico do Tietê e o Parque Ecológico do Tamboré. De acordo com a autora, o Parque Gabriel Chucre seria um embrião desse plano de valorização da várzea a partir dos parques ecológicos.

O projeto localizado no terreno particular da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e energia S.A), teve como base o aterramento por material de “bota fora”. Após o aterro, foi necessário o selamento do terreno com argila, evitando assim, uma possível contaminação. (GORSKI, op, cit)

Figura 07 e Figura 08: Parque Gabriel Chucre em 2019. Fonte: Dos autores

O parque implementado é um dos poucos equipamentos de lazer existentes no município. Apresenta equipamentos desportivos e de lazer, além de centro comunitário, pavilhão de educação ambiental e um anfiteatro. Conta também com uma unidade básica de saúde e um centro de fisioterapia recém implementados pela prefeitura do município, o que reforça a concentração dos equipamentos institucionais e a importância deste espaço público para a região.

De acordo com Amanda Dufner12, fisioterapeuta e responsável técnica do centro de fisioterapia no

parque Gabriel Chucre, são realizados, aproximadamente, 1600 atendimentos mensais, a maior parte deles vindo dos próprios moradores de Carapicuíba. A Unidade Básica de Saúde, por sua vez, de acordo com o relatório de resumo de produção13, disponibilizado na UBS e assinado por sua

coordenadora geral, Tatiana Santiago Diniz, realiza em média, 1091 atendimentos individuais

12 Entrevista realizada em 22 de agosto de 2019.

13 MINISTÉIRO DA SAÚDE, Estado de São Paulo, Município de Carapicuíba, Unidade básica de Saúde UBS-CENTRAL – Carapicuíba, Relatório de Resumo de Produção.

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mensais, além de 65 atendimentos odontológicos individuais, 1544 procedimentos médicos individualizados e 35 atividades coletivas mensais. No mês de junho de 2019, especificamente, realizou aproximadamente, 2.412 vacinações, as mais diversas. A unidade básica de saúde é formada por 5 consultórios médicos, 1 dispensa de medicamentos e 2 salas de assistência para enfermagem.

Dentre os equipamentos instalados no parque destacamos suas 5 quadras poliesportivas, 2 playgrounds, 2 pistas de bocha, 1 quadra de areia, 3 quadras de tênis, 2 pistas amplas para Skate, além dos quiosques espalhados. O parque também conta com um viveiro para mudas e plantas e um salão multiuso para eventos.

De acordo com o diretor do parque, Rogério Mendes14, em julho de 2019, o público que compareceu

ao parque foi de 85.000 pessoas, aproximadamente, sendo uma média anual, com exceção aos meses das férias escolares, de 60.000 pessoas por mês.

O parque traz como principal proposta trabalhar com as questões ecológicas através de elementos que rementem o rio Tietê, como um playground feito com pneus extraídos do rio, uma praça de interação com a água, além de um circuito “Tietê” de passeio. Também aborda as questões da sustentabilidade presente nos pisos drenantes e nos equipamentos estruturados com madeira de eucalipto com ventilação cruzada (GORSKI, 2007).

Contudo, cabe destacar que apesar das questões ambientais abordadas, o parque desde a sua inauguração em 2012 conta com poucas árvores presentes, o que dificulta o conforto térmico dos usuários em dias ensolarados. E ressaltamos que, segundo consta no parecer técnico da CETESB elaborado em 2011, citado anteriormente, o parque ainda tem uma ampliação prevista até o ano de 2021, através da implementação do espelho d’agua artificial de 3 metros de profundidade para fins paisagísticos e estéticos.

Por fim, no ano de 2017 ocorre a implementação da escola SESI (Serviço Social da Indústria) que fornece educação para os estudantes do fundamental e médio, ajudando a configurar junto a presença dos demais equipamentos educacionais FATEC, ETEC e a Faculdade Estácio um complexo educacional no município instalados na antiga cava de Carapicuíba.

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Vemos que independe das questões técnicas e ambientais da Cava de Carapicuíba, cujo aterramento continua até os dias atuais e com prazo até o ano de 2021, a implantação dos equipamentos na cava modificou a perspectiva do território e dos seus usos urbanos. Conhecida pelo descarte de lixo e por ter o maior lixão a céu aberto da grande São Paulo, a região hoje conta com quatro instituições educacionais e um parque estadual, que atendem direta ou indiretamente, mais de 60.000 pessoas ao mês, isso se considerarmos apenas o parque Gabriel Chucre, sem levar em conta os atendimentos na Unidade básica de Saúde e do centro de Fisioterapia, além dos milhares de estudantes que frequentam as instituições de ensino.

Contudo, a região ainda apresenta problemas urbanos e ambientais significativos, como as habitações subnormais que existem numa porção da Cava, os despejos de esgoto sem tratamento nos córregos afluentes, além da falta de conexão desses equipamentos com a estação férrea da CPTM criando fragmentos neste território. Nesse sentido, ainda nos resta esperar pelos próximos anos para verificarmos se essas questões de fato serão resolvidas, como consta no próprio cronograma técnico do DAEE.

BIBLIOGRAFIA.

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MINISTÉIRO DA SAÚDE, Estado de São Paulo, Município de Carapicuíba, Unidade básica de Saúde UBS-CENTRAL – Carapicuíba, Relatório de Resumo de Produção.

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QUEIROGA, Eugênio Fernandes. Dimensões públicas do espaço contemporâneo: resistências e transformações de territórios, paisagens e lugares urbanos brasileiros. São Paulo. Tese (Livre Docência) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 2012

SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Economia e Planejamento. Departamento de Estatística. Anuário Estatístico de São Paulo. 1966

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LEIS CONSULTADAS

SÃO PAULO (ESTADO) Lei n. 8.092, de 28 de fevereiro de 1964. Dispõe sobre o quadro territorial, administrativo e judiciário do Estado.

SÃO PAULO (ESTADO) Lei n. 5.598, de 06 de fevereiro de 1987. Declara Área de Proteção Ambiental regiões urbanas e/ou rurais dos Municípios de Salesópolis, Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Poá, Itaquaquecetuba, Guarulhos, São Paulo, Osasco, Barueri, Carapicuíba e Santana de Parnaíba. SÃO PAULO (ESTADO) Decreto Estadual n. 45. 911, de 11 de julho de 2001. Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, áreas de terras situadas no Município de Carapicuíba, necessárias ao Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE.

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SÃO PAULO (ESTADO) Decreto Estadual n. 50.573, de 2 de março de 2006. Cria a FATEC de Carapicuíba, como unidade de ensino do CEETEPS.

SÃO PAULO (ESTADO) Decreto Estadual n.7.868, de 30 de abril de 1976. Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, áreas de terras situadas em Município da Região da Grande São Paulo, necessárias ao Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo.

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MATÉRIA DE JORNAL.

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em:https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u27960.shtml > Acesso em 20 de agosto de

2019.

ENTREVISTA

Entrevista com Rogério Mendes, diretor do Parque Gabriel Chucre, realizada em 22 de agosto de 2019. Foi perguntado à Rogério Mendes a média do público que comparecia ao parque.

Entrevista com Amanda Dufner, responsável técnica da Unidade de Fisioterapia, realizada em 22 de agosto de 2019. Foi perguntado à Amanda Dufner a média de atendimento da unidade de fisioterapia.

Referências

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