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ACONSELHAMENTO ENTRE PARES - Apoio institucional, enfoque psicológico e fortalecimento de lideranças comunitárias no aconselhamento em HIV/Aids

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ACONSELHAMENTO ENTRE PARES - Apoio institucional, enfoque psicológico e fortalecimento de lideranças comunitárias no aconselhamento em HIV/Aids

Rosilene Slaviero e Shirlei A. Souza

Psicólogas do Programa Municipal de DST/Aids de Campinas

O conceito de Aconselhamento entre Pares neste artigo é utilizado para ampliar a idéia da educação pelos pares.

“O termo educação pelos pares – do inglês peer education – é utilizado para se referir à metodologia de ensino segundo a qual as pessoas de um mesmo grupo populacional envolvem-se na construção de conhecimento. O pressuposto básico deste método é a eficácia de estratégias de comunicação social em que as pessoas do mesmo grupo social transmitem informações umas às outras, graças à identidade cultural e de linguagem” (Relatório da UNAIDS – Capacitação de Jovens Radialistas). O aconselhamento com foco nas DST/Aids surge no Brasil com as organizações não

governamentais, a partir de trabalhos voluntários e de grupos de apoio entre pares. As ações de aconselhamento para grupos minoritários passaram a incorporar o apoio psicológico às pessoas afetadas pela doença como suporte para questões como morte, luto, manifestações de doenças oportunistas, adaptação da pessoa para nova condição corporal e adesão às terapias

medicamentosas.

Com a experiência da prevenção através de agentes de intervenção e redes de apoio na década de 90, o Programa Nacional de DST/Aids passa a implementar a estratégia de multiplicadores de informações, com a disponibilização de materiais para formação destes agentes para atuarem diretamente com as pessoas mais vulneráveis.

A capacitação em Aconselhamento entre Pares do Programa Municipal DST/Aids de Campinas/SP diferencia-se da proposta de multiplicadores porque prepara os aconselhadores para encaminhar os usuários à testagem do HIV/sífilis, sem a necessidade de intervenção dos técnicos do Centro de Testagem e Aconselhamento local.

Comparando-se a atuação dos multiplicadores de informações com a dos aconselhadores entre pares, nota-se que aconselhar implica em maior contato, intimidade, confiabilidade e aproximação. Os multiplicadores, muito mais reservados em seus papéis, assemelhavam-se a professores e orientadores.

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Com objetivos para além da prevenção, o enfoque da capacitação é preparar os aconselhadores entre pares para lidarem com os aspectos da subjetividade no contato cotidiano profissional, familiar ou comunitário, sendo necessário um investimento na formação pessoal dos aconselhadores para o desenvolvimento da escuta das demandas emocionais dos seus pares.

A metodologia da capacitação segue o pensamento de Paulo Freire, tendo como referência a problematização, que propõe a construção do conhecimento a partir da realidade dos participantes, abordando as especificidades de suas vivências, envolvendo os sujeitos de maneira integral, seus sentimentos, suas formas de pensar e de agir.

A formação dos aconselhadores entre pares não se esgota na carga horária concentrada. Sua continuidade é avaliada e pactuada constantemente. O apoio institucional deve garantir o espaço físico adequado e a infra-estrutura, bem como a disponibilização dos profissionais para o

acompanhamento periódico e para intervenções temáticas pontuais.

O processo de formação e atuação dos aconselhadores entre pares do Programa Municipal DST/Aids de Campinas/SP, no período de 2006 a 2009, foi acompanhado por psicólogos e consistiu na

identificação dos participantes, no planejamento e organização da capacitação, no diagnóstico de necessidades, na promoção e estímulo a reflexões, no apoio e monitoramento das atuações em campo.

As reuniões mensais de apoio institucional transcorreram ao longo dos três anos em um espaço de encontro, crescimento, atualização e fortalecimento pessoal, inclusive para os participantes que não se sentiram aptos a atuar como aconselhadores.

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Seguem abaixo alguns relatos de mudanças pessoais percebidas a partir da participação no processo de formação de Aconselhamento entre Pares.

Susy - Agente de Redução de Danos do Centro de Referência em DST/Aids

“Eu falo que a capacitação que a gente fez do

Aconselhamento entre Pares foi muito importante pra mim nesse momento, não só como experiência de vida, mas de tudo. A conduta, conversar, ouvir, respeitar o momento da pessoa, dar o ombro pra ela chorar, dar água, esperar o momento que ela quiser falar... isso pra mim foi muito importante”

(citando sua atuação em um Centro de Saúde onde foi chamada a dar suporte a uma entrega de resultado positivo para HIV).

Renata Pompeo – Agente de Prevenção do Grupo Identidade

Depoimento no vídeo-documentário “Se me Deixam Sonhar”, onde relata um

encaminhamento que fez ao Centro de Testagem e Aconselhamento:

“Com o Aconselhamento entre Pares, não ficou só na entrega de preservativos, a gente pode dar uma orientação. Dei o cartãozinho de Aconselhamento entre Pares, ela foi ao serviço e era aquilo que eu falei, uma DST”.

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Mercedes dos Santos - Diretora no Sindicato das Domésticas desde 2004, membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e do Conselho Municipal de Saúde:

“Comecei a trabalhar como doméstica com oito anos de idade e fiquei alienada a tudo. Não estudei, não sei escrever, ler eu aprendi sozinha. Eu pegava o jornal e ficava

emendando as palavras. Comecei a perceber

as necessidades da gente em 2006, quando o curso ‘Doméstica Cidadã’ veio pra Campinas. Logo depois, eu vim pra cá e era a única que estava disponível no Sindicato, afastada do trabalho por problemas de saúde. Aprendi muito. Era uma pessoa que não falava direito. Depois que vim pro Aconselhamento, eu perdi o medo de passar informações pras

companheiras. Eu gostei muito deste preparo, serviu de base pra minha vida. Antes de vir fazer o curso, eu não sabia que precisava usar camisinha. Eu nem pensava nisso, ouvia falar, mas achava que não era pra mim. Só vim a usar depois que entrei no Aconselhamento. A participação na Parada Gay, em 2008, foi um avanço em minha vida. Eu, que vivia só e alienada, passei a conviver com a diferença das pessoas. Só vim a me libertar em 2007. Minha meta hoje é estudar.”

Conclusão

O processo de formação com enfoque no aconselhamento e a consequente possibilidade de atuação para além da multiplicação de informações é o marco diferencial deste trabalho. A identificação com o semelhante enriquece o contato, potencializa a atuação e desperta para descobertas que retroagem no aconselhador, aumentando a auto-estima e alimentando a continuidade do processo.

Observou-se maior facilidade de atuação dos aconselhadores que se destacam como referência entre seus pares, pois a cultura, a linguagem e horizontalidade são facilitadores da comunicação. A utilização de uma prática com relações mais horizontais entre os profissionais de saúde e os aconselhadores entre pares favorece o acesso de pessoas que não estavam inseridas na rede de serviços de saúde, bem como possibilita trocas transdisciplinares (que se dão entre, através e além das disciplinas).

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A experiência de compartilhar saberes e poderes é uma práxis que não substitui o lugar do técnico, mas agrega conhecimento. Não substitui a política pública, nem o lugar do Estado; é uma prática complementar e geradora de novas tecnologias, onde os participantes se apropriam de um saber e se fortalecem enquanto sujeitos e cidadãos.

Referências bibliográficas

Relatório de Avaliação Programa Ação Família (PAF) Mídia – Capacitação Jovens Radialistas, UNAIDS, Fundo de Populações de Nações Unidas/Brasil, 2007.

Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA): integrando prevenção e assistência – Coleção DST/aids – Série Estudos, Pesquisas e Avaliação nº 8. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Manual do Multiplicador – Prevenção às DST/Aids. Brasília: Ministério da Saúde, 1996.

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