Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.165.532 - SP (2009/0097401-8) RELATOR : MINISTRO HAMILTON CARVALHIDOAGRAVANTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : JOSÉ MAURÍCIO CAMARGO DE LAET E OUTRO(S)
AGRAVADO : LABORATÓRIO DE BIOATIVOS MEDICINAIS LTDA
ADVOGADO : KELLY CRISTINA SALGARELLI E OUTRO(S)
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO POSTERIOR AO AJUIZAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DO FEITO. REEXAME DE PROVA. DESNECESSIDADE. AGRAVO IMPROVIDO.
1. "É cediço o entendimento nesta Corte de que o parcelamento de dívida enseja a suspensão da execução fiscal" (REsp nº 1.033.509/SP, Relator Ministro Mauro Campbell Marques, in DJe 23/6/2009).
2. Julgada a matéria federal suscitada à luz dos fatos como postos no acórdão recorrido, não há falar em reexame dos elementos probatórios dos autos, restando afastada, na espécie, a incidência do enunciado nº 7 da Súmula de jurisprudência desta Corte Federal Superior.
3. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Benedito Gonçalves (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 18 de maio de 2010 (data do julgamento).
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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.165.532 - SP (2009/0097401-8)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO(Relator):
Agravo regimental contra decisão que deu provimento ao recurso
especial interposto pelo Laboratório de Bioativos Medicinais Ltda, "(...)
para anular a substituição da penhora feita em data posterior ao parcelamento do crédito tributário." (fl. 152).
Alega o Estado agravante que:
"(...)A r. decisão agravada, deu provimento ao Recurso especial, para anular a penhora feita em data subsequente ao da celebração de parcelamento do débito tributário.
Com a devida vênia, tal decisão não pode subsistir, uma vez que o recurso especial não pode ser conhecido, pois a sua apreciação depende do reexame do contexto fático-probatório, o que atrai o enunciado da Súmula nº 07/STJ.
Releva anotar que o Tribunal estadual decidiu a controvérsia à luz do contexto fático-probatório.
No âmbito consentido ao conhecimento do recurso especial, entre outros, destaca-se o seguinte precedente desta Colenda Corte:
(...)
E, como já anotado em tópico anterior, a revisão, desses fundamentos, alicerçados no contexto fático-probatório, importaria em reexame da prova, o que é vedado no âmbito do recurso especial.
(...)
" (fls. 157/158).
É o relatório.
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO(Relator):
Senhor Presidente, a decisão agravada não merece reparo.
É que o parcelamento tributário possui o condão de suspender a
exigibilidade do crédito tributário e, consequentemente, implica a imediata
suspensão da própria execução. Sendo assim, não é cabível à Fazenda Estadual
pleitear a substituição da penhora após a adesão do executado a programa de
parcelamento, posto que a execução fiscal encontrava-se suspensa.
Com efeito, uma vez efetivada a penhora e, posteriormente,
aperfeiçoada a adesão ao parcelamento, deve-se suspender a execução fiscal no
estado em que se encontra, mantendo-se inclusive a penhora realizada para que,
caso haja descumprimento do parcelamento, o exequente possa dar
continuidade ao processo de satisfação do crédito.
No caso dos autos, após realizada a penhora sobre bens do
executado, o exequente efetuou inscrição em programa de parcelamento, fato
que deu causa à suspensão do crédito tributário.
Verifica-se, contudo, que, após configurada a suspensão da
pretensão executiva, a Fazenda Pública Estadual pleiteou a substituição dos
bens já penhorados, afrontando o entendimento desta Corte Superior de Justiça.
Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados:
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – APLICAÇÃO DO ART. 557 DO CPC – POSSIBILIDADE – EXECUÇÃO FISCAL – CONFISSÃO DA DÍVIDA – PARCELAMENTO DE DÉBITO – SUSPENSÃO DO PROCESSO – PRECEDENTES.
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calcada no artigo 557 do CPC fica superada com a reapreciação do recurso pelo órgão colegiado, na via de agravo regimental, como bem analisado no REsp 824.406/RS de Relatoria do Min. Teori Albino Zavascki, em 18.5.2006.
2. O parcelamento da dívida tributária, por não extinguir a obrigação, implica a suspensão dos embargos à execução fiscal, e não sua extinção, que só se verifica após quitado o débito; motivo pelo qual a penhora realizada em garantia do crédito tributário deve ser mantida até o cumprimento integral do acordo.
2. Precedentes: AgRg no REsp 923.784/MG, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 18.12.2008; REsp 913978/RS, Rel. Min. José Delgado, Primeira Turma, DJ 10.5.2007; REsp 430585/RS, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ 20.9.2004; REsp 446.665/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 18.11.2002.
Agravo regimental improvido. "
(AgRg no REsp
1030184/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe
16/09/2009).
"TRIBUTÁRIO – EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL – CONFISSÃO DA DÍVIDA – PARCELAMENTO DE DÉBITO – SUSPENSÃO DO PROCESSO PRECEDENTES.
É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que o parcelamento da dívida tributária, por não extinguir a obrigação, implica a suspensão dos embargos à execução fiscal, e não sua extinção, que só se verifica após quitado o débito, motivo pelo qual a penhora realizada em garantia do crédito tributário deve ser mantida até o cumprimento integral do acordo.
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923784/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe
18/12/2008).
"PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL –
PENHORA SOBRE FATURAMENTO –
ADMISSIBILIDADE APENAS EM HIPÓTESES EXCEPCIONAIS – ADESÃO AO PAES – LEI N. 10.684/2003 – PENHORA POSTERIOR – DESCONSTITUIÇÃO .
1. Na linha da jurisprudência firmada nesta Corte, admite-se a penhora sobre o faturamento da empresa somente em situações excepcionais, as quais devem ser avaliadas pelo magistrado à luz das circunstâncias fáticas apresentadas no curso da execução fiscal, o que ocorreu na hipótese.
2. Suspensa a exigibilidade do crédito pela adesão ao Parcelamento Especial de que cuida a Lei n. 10.684/2003, veda-se a realização posterior de atos constritivos, dentre os quais a penhora.
3. Recurso especial provido. "
(REsp 905357/SP,
Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 23/04/2009).
E, ao que se tem, consta dos autos petição em que a Fazenda
Pública, reconhecendo a existência de parcelamento válido, requereu a
substituição do bem penhorado, verbis :
"
Há parcelamento, todavia, o juízo não está garantido eis que os bens anteriormente penhorados não despertaram interesse em hasta pública, assim, requer-se a substituição da penhora que deverá recair sobre veículo a seguir identificado, de propriedade da executada (...)" (fl.
37).
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"(...)
Trata-se de execução fiscal por débito de ICMS, com valor de R$ 10.954,93 para 15/07/02.
Noticia a agravante que, em razão do parcelamento
dos referidos débitos, foi protocolado, em 23/11/06, pedido de suspensão da referida execução , o qual não foi
apreciado pelo MM. Juízo a quo até o presente momento. Na seqüência aponta que, diante da falta de licitantes em leilão dos bens inicialmente penhorados ..., a agravada
requereu a substituição da penhora de um veículo de propriedade da agravante (fls. 15), o que foi efetivado em 13/06/07 , ou seja, após a informação e comprovação em
Juízo do parcelamento por parte da agravante, conforme comprova o anexo auto de penhora (fls. 20).
A fls. 21/22, a recorrente pleiteou o cancelamento da penhora realizada, devendo recair a medida constritiva sobre os bens anteriormente penhorados. Caso assim não entenda, requer-se a substituição da penhora do veículo pela penhora de tantos bens do estoque rotativo da executada quantos forem necessários para garantir o juízo, conforme documentos anexos.
Veio a r. decisão objurgada, consoante se vê a fls. 24: Ao dispor sobre o recolhimento de forma parcelada, dos débitos fiscais, o artigo 100, parágrafo 8º, da Lei 6.374/89, na redação conferida pela Lei 11.001/2001, pressupõe a manutenção, nos autos da execução fiscal, da garantia do Juízo, ao dispor que 'em se tratando de débito inscrito e ajuizado, a execução fiscal somente terá seu curso sustado após assinado o termo de acordo, recolhida a primeira parcela e garantido o Juízo, ainda que o parcelamento tenha sido deferido antes da garantia processual'.
Neste contexto e considerando a manifestação da exeqüente, lançada a fls. 60, bem como tendo em vista o disposto no artigo 15, I, da Lei 6.830/80, mantenho a
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constrição efetivada a fls. 80, indeferindo, outrossim, o pedido de substituição de penhora, formulado pela executada a fls. 285, penúltimo parágrafo.
Defiro a suspensão do curso do processo pelo prazo de sessenta dias, abrindo-se oportuna vista dos autos à Fazenda, para manifestação.
Sem razão o agravante.
Acerca de certeza de serem bens de fácil comercialização, poderia o agravante, antes de oferecer os bens ora indicados - bens de estoque rotativo, em nova substituição aos inicialmente penhorados -, tê-los convertido em dinheiro e, aí sim, vir com o primeiro bem elencado no artigo 655 do Código de Processo Civil e artigo 11 da Lei de Execuções Fiscais, ou, quiçá, solver seu débito.
Ao princípio de se dar a execução de forma menos gravosa ao executado, aqui o agravante, não se pode perder o objetivo da execução de se satisfazer também o eventual crédito da maneira mais rápida e eficaz possível. Como a aceitação querida pelo devedor importará evidente prejuízo para o credor - que se manifestou contrariamente à nova substituição, consoante registrado na r. decisão interlocutória -, não se tem fomento para deferir o pedido.
Além do mais, nos termos da r. decisão, a execução fiscal somente terá seu curso sustado após assinado o termo de acordo, recolhida a primeira parcela e garantido o Juízo, ainda que o parcelamento tenha sido deferido antes da garantia processual.
Por isso, e por inocorrer quebra do disposto no artigo 620 do Código de Processo Civil, não há como se dar acolhida aos argumentos do agravante.
Nego provimento ao agravo.
" (fls. 64/66 - nossos os
grifos).
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dos fatos como postos no acórdão estadual, não há falar em reexame dos
elementos probatórios dos autos, restando afastada, pois, na espécie, a apontada
incidência do enunciado nº 7 da Súmula de jurisprudência desta Corte Federal
Superior.
Pelo exposto, nego provimento ao agravo regimental.
É O VOTO.
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO PRIMEIRA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2009/0097401-8 [PROCESSO_ELETRONICO] REsp 1165532 / SP
Números Origem: 112390885 7977915 7977915902
EM MESA JULGADO: 18/05/2010
Relator
Exmo. Sr. Ministro HAMILTON CARVALHIDO Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro BENEDITO GONÇALVES Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. AURÉLIO VIRGÍLIO VEIGA RIOS Secretária
Bela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LABORATÓRIO DE BIOATIVOS MEDICINAIS LTDA
ADVOGADO : KELLY CRISTINA SALGARELLI E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : MARIA AMÉLIA SANTIAGO DA SILVA MAIO E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Procedimentos Fiscais
AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROCURADOR : JOSÉ MAURÍCIO CAMARGO DE LAET E OUTRO(S)
AGRAVADO : LABORATÓRIO DE BIOATIVOS MEDICINAIS LTDA
ADVOGADO : KELLY CRISTINA SALGARELLI E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Benedito Gonçalves (Presidente) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 18 de maio de 2010
BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA Secretária