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O LIVRO DIDÁTICO DE ARTE NO PNLD 2017.

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O LIVRO DIDÁTICO DE ARTE NO PNLD 2017.

Hiannay Tupyara Jovem de Freitas PPGAV/UDESC

Resumo: Considerando a emergência da discursão acerca da educação no Brasil e de seus mecanismos operantes é que esta comunicação discutirá a presença do componente curricular arte no PNLD 2017, buscando compreender o funcionamento desta política pública. Serão discutidos dados referentes apenas à educação pública, já que ela representa mais de 80% das matrículas nos anos finais do ensino fundamental no país, e possui características dicotômicas em relação ao setor privado. Para isso se faz necessário uma breve incursão histórica que abordará o mercado editorial nacional e seu crescimento frente a implementação do PNLD. Para contribuir com essa argumentação será incorporado ao debate nomes de grandes pesquisadores relacionados à temática em estudo, como é o caso da professora Ana Mae Barbosa, no que tange ao histórico da Arte-educação e do professor Kazumi Munakata sobre o mercado editorial de livros didáticos no Brasil. Com isso busca-se compreender os principais elementos que influenciam na seleção do livro didático. Sendo explorado o histórico das editoras FTD e Scipione, que tiveram seus livros aprovados no PNLD 2017 e as análises das obras presentes no Guia do Livro Didático, emitido pelo MEC. Admitindo-se a impossibilidade de conclusões definitivas, cabe a este trabalho trazer à tona os embricados caminhos desta política pública. Palavras-chave: Educação; Arte; Livro Didático; PNLD.

Financiamento: O presente trabalho foi realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina.

1. Introdução

Tomando como norte a premissa de que nenhuma produção humana é desinteressada, não se pode supor que no caso do livro didático seja diferente. Para uma análise mais lúcida se faz fundamental compreender os agentes envolvidos no processo de produção dos livros didáticos a serem analisados nesse trabalho. Para isso seguirá um breve histórico acerca da arte-educação no Brasil, do mercado editorial nacional, assim como informações acerca das editoras detentoras dos direitos autorais das obras aprovadas no PNLD 2017 e das análises das obras constantes no Guia do Livro Didático.

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A delimitação do objeto a ser estudado por esse trabalho se deu a partir de critérios de expressividade numérica. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) referentes ao ano de 2016, das 12,2 milhões de matrículas realizadas nos anos finais do Ensino Fundamental apenas 14,8% são em escolas da rede privada. Sendo assim, quando se analisa o livro didático brasileiro, os que são adquiridos pelo governo representam uma quantidade expressivamente maior. Sendo assim, optou-se neste trabalho a análise de livros de arte constantes no PNLD 2017.

O primeiro PNLD a contemplar o ensino de arte foi o de 2015, para o ensino médio, seguido dos anos iniciais do ensino fundamental em 2016 e para os anos finais do ensino fundamental em 2017. No último processo de análise de livros citado foram aprovadas obras de duas das maiores editoras de livros didáticos do país, a FTD e a Scipione. Elas não são grandes apenas em seus números, mas também fazem parte de corporações com expressividade nacional no ramo da educação.

2. O ensino de arte no Brasil.

No sistema de alfabetização proposto pelos jesuítas no Brasil colônia já se tem relatos de oficinas destinadas aos artesãos, o que pode ser considerado o início da arte-educação na era moderna. Além disso, também se utilizava o teatro com caráter pedagógico, sendo uma forma de transpor, entre outras dificuldades, a divergência linguística. Essas práticas que estavam intimamente ligadas às questões religiosas, de catequização dos povos indígenas, representavam uma educação dita informal, não havendo uma sistematização a ser seguida por toda a nação.

Essa prática se estendeu por muitas décadas. Apenas no século XIX é que se pode demarcar o início da história da arte-educação institucionalizada no país. Em 1816 foi criada, pelo Rei D. João VI, a Academia Imperial de Belas Artes, só começando a funcionar de fato dez anos depois. Nessa época, é inserida no currículo da educação básica a disciplina de arte que, assim como a própria Academia Imperial de Belas Artes, seguia o modelo europeu, especificamente o modelo neoclássico trazido pela Missão Artística Francesa.

A semana de Arte Moderna é tida como grande marco na história da arte nacional, tendo grande influência inclusive na educação. Ela não foi apenas um evento artístico, mas sim um reflexo da mudança de paradigma que estava ocorrendo na época. Neste momento começou-se a defender a tecomeçou-se de que o ensino de arte deveria deixar fluir a criatividade da criança, mais conhecido como livre-expressão. A mudança não foi imediata, mas seus reflexos ainda hoje

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reverberam na arte-educação.

Durante a ditadura militar no Brasil ocorreram várias mudanças em torno da educação. Na década de 1970, Educação Artística se tornou disciplina obrigatória no currículo escolar pela lei n° 5692/71, com foco no tecnicismo. Neste momento as indústrias estavam começando a se desenvolver e ganhar força, fazendo com que a baixa escolarização da população se tornasse um problema. Era necessária a formação de mão de obra qualificada, o que fez com que o governo investisse no ensino técnico-profissionalizante. Pensando nisso, os liberais propunham mudança no ensino das artes, em vez de apenas se copiar modelos clássicos, os alunos deveriam aprender desenho industrial (design), como forma de serem mais bem qualificados para o novo mercado de trabalho que estava surgindo. (BARBOSA e COUTINHO, 2011)

Outro marco muito significativo para o ensino de arte foi o Movimento Arte-Educação que teve seu início na década de 1980, tendo como uma das principais defensoras a professora Ana Mae Barbosa, provavelmente a mais respeitada pesquisadora nacional na área. Neste momento viu-se surgir a terceira fase deste ensino no Brasil, a tendência pós-moderna, que se caracteriza pela concepção de arte como conhecimento.

Pode-se notar que ainda hoje a educação é uma miscelânea de todos os momentos históricos do país, sendo o livro didático um reflexo dessa ciranda de possibilidades e formas que a educação tem tido ao longo de sua história. Isso pode ser notado a partir da análise dos livros didáticos aprovados pelo PNLD, onde cada coleção tem características muito próprias, não havendo assim muitas similaridades entre as coleções. Muito além da mera seleção de conteúdos, a escolha do livro se coloca também como a seleção de metodologias de ensino.

3. Livros didáticos de arte.

Assim como a história das artes na educação, o livro didático também tem um percurso histórico de consolidação ao longo das décadas. Os manuais escolares nacionais são um fenômeno razoavelmente recente, tendo sido iniciada como política pública apenas em 1929. Ficando inicialmente só no papel, ela passa a ser executada apenas em 1938 através do Decreto-Lei nº 1.006/38 que instituiu a Comissão Nacional do Livro Didático para tratar da produção, do controle e da circulação das obras.

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livro didático à escola durante 67 anos (1929/1996), só com a extinção da Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), em 1997, e com a transferência da política de execução do PNLD para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é que começam sua produção e distribuição de forma contínua e massiva. (LORENZONI, s.d.)

O livro que é considerado como sendo o primeiro didático específico para a educação artística foi editado no início do século XX, escrito por Abílio César Pereira Borges. Se cogita que ele tenha tido cerca de 41 edições editadas, sendo usado nas escolas até pelo menos 1959. Neste manual intitulado Elementos da geometria prática popular, o autor segue os conceitos e atividades já propostos por Walter Smith, nos Estados Unidos da América. (BARBOSA e COUTINHO, 2011).

Como boa parte dos bens culturais na história do Brasil, o primeiro manual escolar utilizado aqui foi importado, neste caso em específico, da França. Fato semelhante ao ocorrido com o ensino de arte que teve início a partir do modelo neoclássico trazido pela Missão Francesa em 1816. As mudanças ocorridas nesse percurso não foram tão rápidas quanto se poderia supor.

No caso brasileiro, a utilização mais sistemática do livro didático no ensino remonta ao período imperial. Sobre a inspiração do liberalismo francês, o Colégio Pedro II foi criado no Rio de Janeiro na década de 30 do século XIX. A escola servia apenas às classes economicamente privilegiadas que tinham como referência de educação e cultura a Europa e, em particular, a sociedade francesa. Neste caso, para atender aos objetivos educacionais da elite nada melhor do que buscar o que havia de produção didática na própria França. Manuais didáticos em francês ou traduzidos para o português eram importados. No Brasil, a imprensa, instalada por D. João VI por ocasião da transferência da Corte Portuguesa em 1808, ainda não oferecia boas condições para a produção e publicação de textos didáticos no século XIX. (SILVA, 2012, p. 807-808).

Como Munakata (1997) relata em sua tese de doutorado, não há como se precisar os números mais antigos do setor editorial no Brasil, pois os dados são praticamente inexistente até 1970 e pouco conclusivos a partir de então. Não apenas em questão de quantificação de exemplares, como também das temáticas abordadas em tais publicações. Não se sabe ao certo, por exemplo, diferenciar quais se tratavam de didáticos, paradidáticos ou literatura. Não se podendo precisar também em números confiáveis o crescimento das editoras no Brasil e como isso se deu. Sabe-se apenas que desde muito cedo o mercado editorial brasileiro foi dominado por poucas empresas que detinham grande parte da produção nacional, o que não mudou de

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forma significativa ao longo dos anos.

Munakata, no mesmo trabalho, traz também dados de 1995 sobre o mercado editorial nacional. Ele contabiliza os livros produzidos naquele ano, diferenciando-os por fases e disciplinas. Em relação à Educação Artística constata-se que o volume de livros paradidáticos é maior do que o de didáticos, assim como a não catalogação de livros em todas as fases da educação. No total são 20 livros didáticos para os anos inicias do ensino fundamental e apenas 1 para os anos finais do ensino fundamental. Deve-se ressaltar que esses livros foram vendidos apenas para o mercado privado, pois nessa época o Estado ainda não adquiria livros para essa disciplina.

4. A distribuição de livros didáticos no Brasil

Desde a sua criação o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) passou por várias reformulações até chegar ao formato que conhecemos hoje, trazendo novidades a cada novo edital lançado. Este programa é extremamente complexo, representando o maior mercado consumidor de livros didáticos do mundo.

O PNLD é uma forte política pública do Ministério da Educação que visa oferecer material didático a todos os estudantes matriculados na rede pública de ensino em âmbito nacional. Os editais são lançados de forma independentes com seleção trienal, sendo divididos em quatro fases da educação básica: Educação infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além da existência de editais especiais do PNLD, como por exemplo, para a educação no campo e EJA. É importante ressaltar também que os livros não são restritos a um único modelo, sendo também adquiridos livros em braile, libras, caractere ampliado, MecDaisy e multimídias.

Cada PNLD abrange doze etapas distintas e sequenciais, sendo elas: 1 – Assinatura do termo de adesão pelas escolas, procedimento que precisa ser feito uma única vez. 2 – Publicação do edital de abertura tanto no Diário Oficial da União e quanto no portal do FNDE na internet. Nele constam as regras a serem seguidas pelas editoras na etapa seguinte. 3 – As empresas detentoras dos direitos autorais dos livros tem um prazo estipulado para fazerem as inscrições das obras. 4 – Nesta etapa os livros são triados de acordo com as exigências técnicas e físicas constantes no edital, ficando a cargo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) esta etapa. Os livros aprovados são encaminhados à Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) para a avaliação pedagógica. A análise do conteúdo das obras é feita por

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instituições públicas de ensino superior, também selecionadas por um edital específico. Esses especialistas elaboram resenhas das obras analisadas. Há um período para que as editoras possam corrigir os erros indicados. 5 – O FNDE disponibiliza o Guia de Livros Didáticos com a resenha dos especialistas em relação às obras aprovadas. 6 – As obras são analisadas e escolhidas pelos professores, conjuntamente com os diretores, sendo necessária a seleção de duas opções, em ordem de relevância, dentre as obras disponibilizadas. 7 – A formalização da escolha dos livros didáticos é feita via internet, através de senha específica disponibilizada pelo FNDE. 8 – Encerrado o período de escolha das escolas, o Estado computa os dados e inicia o processo de negociação com as editoras. 9 – Após a negociação, é firmado o contrato entre o FNDE e as editoras e são informadas as editoras a quantidade de livros a serem produzidos e também as localidades para entrega. 10 – O IPT acompanha o processo de produção para garantir a qualidade das obras. 11 – A distribuição é feita pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), que através do contrato firmado com o FNDE, leva os livros das editoras até as escolas. Com exceção das escolas rurais, onde os livros são entregues nas secretarias estaduais de educação que ficam responsáveis pelo repasse. 12 – Os livros chegam às escolas entre outubro do ano anterior e o início do ano letivo. (FNDE)

Mesmo sendo uma política governamental consistente, ela levou muito tempo para ser consolidada. O atual formado se iniciou em 1937 com outra denominação, só tendo a atual nomenclatura a partir de 1985. O percurso dos livros didáticos no Brasil foi bastante longo e de muitas mudanças ao longo do tempo. Pode-se dizer que o ritmo de aperfeiçoamento do programa só veio a ser acelerado a partir de 1993, quando é publicado “Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos”, resultado de uma parceria entre MEC/FAE/UNESCO.

A arte foi uma das últimas disciplinas a entrar no PNLD, sendo contemplada em 2015 para o ensino médio, em 2016 para os anos iniciais do ensino fundamental e 2017 para os anos finais do ensino fundamental. Em sua segunda participação no PNLD 2018, para o ensino médio, enfrentou problemas que fizeram com que o processo fosse anulado. Fazendo-se necessário a abertura de um novo processo de seleção, realizado após a conclusão do primeiro que já havia contemplado normalmente as outras disciplinas.

O PNLD pode ser considerado uma sólida política pública educacional nacional, tendo um histórico de muitas conquistas. Este programa está em constante evolução e aperfeiçoamento, um exemplo disso é a inserção da Educação Física no PNLD 2019, última disciplina curricular obrigatória não contemplada pelo programa.

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5. Livros de arte no PNLD 2017: Ftd e Scipione.

Apesar do grande mercado editorial encontrado no Brasil, um fato que pode ser observado é a recorrente concentração da produção de livros didáticos em poucas empresas. Sobre isso Munakata (1997, p. 57) nos traz um dado interessante: “Em 1986/1987, cinco editoras acumularam 85% da demanda do Programa, ficando 15% restantes distribuídos entre 40 editoras.”. E esse panorama não vem se alterando ao longo dos anos. Dados de 1997 referentes ao faturamento das editoras, segundo Saab (1999, apud Cassiano 2004), mostram que a Ática/Scipione está em primeiro lugar disparada com US$ 242, seguida pela FTD com US$129. Sendo justamente as duas editoras que tiveram suas coleções de livros de arte aprovadas no PNLD 2017.

Outro fator importante que não pode deixar de ser elencado está relacionado com o aumento do investimento internacional:

No Brasil, como já foi citado, nove são as editoras que dominam o mercado de didáticos, porém, apenas as Editoras FTD e Brasil são independentes, as demais passaram a fazer parte de grupos editoriais: IBEP/Nacional, constituída como grupo, continua sendo nacional, ao menos até 2004; Saraiva / Atual; Ática/ Scipione e Moderna, pertencente do Grupo Prisa. (Cassiano, 2004, 9)

Com a análise dos dados consolidados do PNLD 2017 é possível notar a diferença de vendagem desses livros. Tendo a FTD um tamanho bem superior à Scipione, tanto em números absolutos, quanto em relação ao livro de Arte. Neste referido edital as duas editoras tiveram um total de cinco coleções aprovadas. A FTD teve duas coleções de história e uma de ciências, matemática e arte. Já a Scipione teve duas coleções de geografia, e uma de história, matemática e arte.

Tabela 1 – Dados estatísticos do PNLD 2017.

Editora Scipione FTD

TIRAGEM – 6° ao 9° ano 6.424.745 15.179.633

TIRAGEM – Arte 4.547.073 6.112.637

Títulos adquiridos 116 228

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Total impresso / R$ 68.546.840,08 225.962.027.56 Fonte: Elaborado pela autora com base em dados estatísticos do FNDE.

Analisando a tabela acima é possível constatar que o PNLD é significativamente importante para o mercado editorial nacional, e que suas mudanças acabam por interferir diretamente na maneira que as empresas desenvolvem seus livros didáticos. Afetando inclusive a qualidade desses livros, principalmente a partir de 1996 quando se inicia a avaliação pedagógica nas obras. Para não perder esse nicho de mercado as editoras começaram a buscar se adequar as exigências do governo.

Como só são divulgados os dados referentes às obras aprovadas, não se tem acesso a quantidade total de obras inscritas para o componente curricular arte e as possíveis inconsistências que levaram as reprovações das outras possíveis coleções. E essa informação seria muito útil para compreender a seleção das obras já mencionadas. Pois mesmo tendo sido aprovadas, ao se ler o Guia do Livro Didático é possível constatar graves problemas ainda encontrado nas obras.

A Editora FTD nasceu no Brasil em 1902, apesar de os irmãos Maristas já estarem atuando antes no país, juntamente com os livros da FTD trazidos com eles. Como nessa época nem todos os países tinham um mercado editorial nacional, os Maristas levavam seus livros franceses para as suas missões nos diversos países onde fosse necessário, sendo alguns ainda escritos em francês e outros já traduzidos para o idioma local. O primeiro livro com o seu selo lançado no país foi “Exercícios de Cálculo Sobre as Quatro Operações”. O método inovador da editora, que incluía os Livros do Mestre, levou suas obras a serem massivamente adotados tanto na rede pública quanto na particular. A FTD foi a primeira editora de livros didáticos do Brasil a cobrir todas as áreas de ensino, se tornando referência para as novas editoras criadas a partir de 1950. (FTD)

Já as editoras Ática e Scipione integram o portfólio de editoras da Somos Educação. Juntas são líderes no mercado de livros didáticos e paradidáticos nacional. A Scipione está no mercado nacional a mais de 40 anos, se consolidando no mercado e colecionando importantes prêmios como Jabuti, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). (Ática Scipione)

A instituição responsável pela avaliação dos livros de Arte no PNLD 2017 foi a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), selecionada pela Chamada Pública n°1/2015 (DOU 13/04/2015). Trabalharam na elaboração do Guia de Livros Didáticos – Arte,

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sob a coordenação de professores da UFRGS professores de todas as regiões do país. Nas resenhas dos livros pode-se encontrar a visão geral sobre a obra, sua descrição, assim como a análise da coleção e sua usabilidade em sala de aula.

Projeto Mosaico, da Editora Scipione tem com autores Beá Meira, Rafael Presto, Ricardo Ella e Silvia Soter. Esta obra propõe, segundo o Guia de Livros Didáticos (MEC, 2016), um trabalho transdisciplinar por meio de quatro eixos temáticos: 6° ano traz o corpo relacionando-o com a Dança; 7° ano debate a cidade através das Artes Visuais e Audiovisuais; 8° ano reflete o planeta a partir da Música; 9° ano analisa a ancestralidade pela linguagem do Teatro. Esta coleção (Ibidem, 40): “Apresenta as contribuições de diferentes e culturas para a formação do povo brasileiro [..] mostrando as múltiplas realidades das cinco regiões brasileiras.”. São poucas as críticas apresentadas ao longo do documento. As mais contundentes são em relação a escasseies de (Ibidem, 47): “[...] propostas em que o estudante é levado a experimentar o contato com as técnicas convencionais do desenho e da pintura [...].” e a falta de elementos que contribuam para o ensino da notação musical.

Por Toda Parte, da FTD tem como autores Bruno Fischer, Carlos Kater, Pascoal Ferrari e Solange Utari. Esta obra ganhou a terceira colocação no Prêmio Jabuti de 2015, pela categoria Didático e Paradidático. Esta coleção (Ibidem, 48): “[...] propõe um trabalho interdisciplinar entre as Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, oferecendo referências bastante diversificadas, especialmente em manifestações regionais [...]”. Essa coleção, diferente da outra, angariou várias críticas, algumas até severas, o que leva ao questionamento de sua aprovação. Dentre elas estão o fato de se ter (Ibidem, 51): “[...] número maior de artistas da região Sudeste e de tradições da região Nordeste [...] mas com pouca representatividade das regiões Norte e Sul.”. Nem todas as imagens utilizadas possuem suas devidas referências, além de algumas atividades não terem alternativas para a ausência de internet e outras mídias para a sua execução. O maior número de críticas se encontra na seção Em sala de aula (Ibidem, 53-54):

Como os títulos de Unidades e Capítulos não são descritivos e, muitas vezes, não indicam claramente os conteúdos tratados, é fundamental se familiarizar com a coleção antes de se elaborar projetos e planejar aulas. Há vários textos extensos [...]. Em alguma seções, há sobreposição de informações [...] Sugere-se que as professoras e os professores procurem uma fundamentação teórica, que não se encontra suficientemente explicitada nos muitos textos do Manual do Professor.

[...] foram observados casos em que o nome presente no livro não condiz com as traduções da literatura em torno de obras de arte e o

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nome traduzido pelas distribuidoras, no caso de títulos de filmes, e com menos ocorrência, pelas editoras, no caso de livros de ficção.

Não há como negar a existência da subjetividade dos avaliadores. Isso talvez explique como uma coleção é muito melhor avaliada, enquanto que a outra ganhou prêmio por sua qualidade. Voltando para a tese do professor Munakata (1997, 37):

Em suma, o livro didático é já um fato: não se trata mais de decidir se deve usá-lo ou não, mas de usá-lo bem. Em outras palavras, o uso do livro didático não depende do método de ensino adotado. O que o professor deve fazer é escolher o livro adequado – o que, estimulando a concorrência, deve contribuir para a melhoria geral de sua qualidade. Não cabe a este trabalho em primeiro momento questionar os processos de análise do livro didático de Arte, mas sim compreendê-los. O que servirá de base para uma análise mais profunda que poderá contribuir para o aperfeiçoamento do PNLD.

7. Conclusão

São muitos os pontos abordados neste trabalho que merecem ser retomados e mais aprofundados em futuras investigações. O primeiro é o que leva em consideração o tamanho do programa analisado, já que o PNLD é a maior rede de compra e distribuição de livros didáticos do mundo. Justamente pelo seu tamanho, esse programa tem alto grau de complexidade e há muitos elementos a serem analisados e ponderados.

Outro ponto fundamental é em relação ao histórico da Arte na educação e no programa de livros didáticos do MEC. Por mais que seja uma disciplina que faz parte - mesmo que as vezes de forma indireta - do currículo escolar brasileiro já a muito tempo, ainda não se tem tantas pesquisas que abordem os materiais didáticos adquiridos para o uso dos professores. As pesquisas acabam por se focar muito mais na atuação e na formação docente do que em políticas públicas como o PNLD.

Alguns questionamentos me parecem comuns aos outros pesquisadores que trabalham com o livro didático. Seriam necessárias investigações mais consistentes e específicas para compreender melhor o processo de escolha dos livros didáticos. Em relação especificamente aos livros de arte, a discrepância na análise das obras é um fator que chama bastante atenção. Além disso, há vários fatores que não ficam claros, fator agravado por nem todos os dados relativos ao PNLD serem abertos.

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O MEC disponibiliza o do Guia de Livros Didáticos, mas não há como se precisar até que ponto este mecanismo interfira na análise e escolha dos livros nas escolas, sendo que nem todos os professores tem conhecimento ou se utilizam desse documento. São muitos os fatores que podem influenciar na decisão dos professores no momento da escolha. O que se pode fazer, de forma prática, para colaborar com a melhoria dos materiais didáticos é justamente contribuir com as pesquisas sobre esse tipo de suporte pedagógico, para que se possa melhorar cada vez mais suas metodologias, abordagens e conteúdos.

Referências

ÁTICA SCIPIONE. Nós Somos. Disponível em:

<http://www.aticascipione.com.br/nossomos>. Acesso em: 21 Out. 2017.

BARBOSA, Ana Mae; COUTINHO, Rejane Galvão. Ensino da Arte no Brasil: Aspectos históricos e metodológicos. UNESP: São Paulo, 2011. Disponível em: <https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40427/3/2ed_art_m1d2.pdf>. Acesso em: 10 Fev. 2018.

BRASIL. MEC. PNLD 2017: arte – Ensino fundamental anos finais. Brasília: MEC/SEB, 2016. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/centrais-de-conteudos/publicacoes/category/125-guias?download=9918:pnld-2017-guia-arte>. Acesso em: 17 Out. 2017

CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Mercado de livro didático no Brasil. Disponível em:<http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/celiacristinacassiano.pdf>. Acesso em: 25 Mar. 2018.

FNDE. Dados estatísticos. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas /programas-do-livro/livro-didatico/dados-estatisticos>. Acesso em: 17 Out. 2017.

FTD. A história. Disponível em: <https://ftd.com.br/a-ftd/a-historia/>. Acesso em: 21 Out. 2017.

INEP. Censo Escolar da Educação Básica 2016: Notas estatísticas. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatistica

s/2017/notas_estatisticas_censo_escolar_da_educacao_basica_2016.pdf>. Acesso em: 25 Mar. 2018

LORENZONI, Ionice. Livro didático: 75 anos de história Disponível em: <http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/pnld/5164-livro-didatico--75-anos-de-historia >. Acesso em: 17 Out. 2017.

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MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. 1997. 223 f. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1997. Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/handle/handle/10559>. Acesso em: 12 Dez. 2017. SILVA, Marco Antônio. A fetichização do livro didático no Brasil. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 37, n. 3, p. 803-821, set./dez. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edreal/v37n3/06.pdf>. Acesso em: 21 Out. 2017.

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