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Resumo: A grande maioria dos dilemas filosóficos, só

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Academic year: 2021

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Filosofia Clínica e Exames Categoriais

Contribuições de Ryle para a Filosofia Clínica,

em especial para os exames Categoriais.

Vera Lucia Laporta

Analista junguiana e Especialista em Formação em Filosofia Clínica

Resumo:

A grande maioria dos dilemas filosóficos, só existe porque fazemos mal uso das palavras, tanto no falar, quanto no pensar, gerando dessa maneira, raciocínios ilógicos. Essa confusão entre gramática e lógica acaba criando ilusões sobre a realidade. Esses erros categoriais resultam da atribuição errônea de um conceito a uma determinada categoria, em razão de semelhanças superficiais, diz Ryle. O trabalho do filósofo clínico consiste em descobrir, o que Ryle sustenta como “erros categoriais”. O que significa analisar criteriosamente juntamente com o partilhante as palavras e enunciados que o mesmo traz à clínica, tentando dessa maneira, encontrar uma solução para o seu dilema. Isso acontece, porque segundo Ryle, existe mais de uma forma de descrever as coisas e não se pode impor apenas uma descrição. É o que muito resumidamente tentarei colocar neste texto.

Palavras-chave:

Categorias, lógica, signos de lacuna e forma de conhecer.

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A opinião de Gilbert Ryle em relação às tábuas de Categorias de Aristóteles e Kant é de que elas são insuficientes para dar conta de tudo, mas, também admite ser a única forma de conhecer. Justamente por esse motivo, em seu artigo Categorias, Ryle tenta remover os obstáculos que encontrou, quando das suas observações históricas. A lista de Aristóteles, segundo ele, pretendia ser uma lista dos tipos últimos de predicados. Ryle observa que Aristóteles usava proposições simples e singulares acerca de um mesmo objeto particular, e consequentemente os predicados é que davam os aspectos diferentes dessas proposições. Esses predicados foram classificados num número finito de famílias ou tipos, que para Ryle, não satisfaz a todos os tipos de perguntas.

"Existem tantos tipos diferentes de predicados de Sócrates quantas espécies irredutivelmente diferentes de perguntas existem acerca dele". (p.30)

O método de Aristóteles, diz Ryle, parece ter consistido em coletar as interrogações ordinárias do discurso cotidiano. Entretanto, seu fio condutor não era tão estúpido, pois função proposicional nada mais é do que um modo sofisticado de escrever pergunta.

Ryle apresenta neste texto, alguns termos técnicos para tentar enunciar em que ponto ele acha que Aristóteles se encontrava no caminho certo, e em que ponto não foi bem sucedido, e inclusive, para prosseguir com sua demonstração. Ele chama, então, de fatores sentenciais a toda expressão parcial, como: palavras isoladas, frases com certo grau de complexidade, assim como cláusulas. Ryle denomina fatores e não partes, porque partes poderiam sugerir que são, ao mesmo tempo, elementos independentes e que poderiam ser arbitrariamente combinados. Diferente de fator, pois só podem ocorrer como fatores em certos tipos de complexos, e que também, eles só podem ocorrer nesses complexos sob determinadas

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maneiras. Ainda que, os fatores sentenciais não possam ser extraídos de todas as combinações, eles podem ser abstraídos de qualquer combinação específica. Numa sentença qualquer, substitui-se qualquer fragmento seu por uma linha pontilhada ou pela frase assim e assim, e o que restar será um fator sentencial. A linha pontilhada ou signo de lacuna, embora exija um complemento qualquer, toleraria, como seus complementos, qualquer dentre uma gama indefinida de fatores.

Exemplo: Sócrates é ... Sócrates é feio.

Eu sou o homem que assim e assim.

Eu sou o homem que visitou Atenas ontem.

Entretanto, diz Ryle, um signo de lacuna pode ser preenchido por uma gama de fatores sentenciais apropriados. Há dois tipos de pode. Ex: Assim e assim, está na cama. Assim, sábado está na cama. Esta frase não infringe nenhuma regra de gramática, pois a lacuna pode ser eventualmente preenchida por um substantivo, pronome ou frases substantivas. Entretanto, a sentença é absurda. Não basta, diz Ryle, que os complementos sejam de determinados tipos gramaticais; é necessário também que eles exprimam fatores proposicionais pertencentes a certos tipos lógicos.

Seguindo com suas observações históricas, Ryle aponta para o método utilizado por Aristóteles para exibir as variedades de tipos de fatores que poderiam constituir respostas às sentenças interrogativas usadas por ele, que Ryle denomina de signos de lacuna. Esse método geral, segundo Ryle, seria um aspecto importante da sua doutrina. Por outro lado, Aristóteles parece supor, diz Ryle, que uma palavra gramaticalmente simples sempre representa um

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termo, um constituinte ou um componente de uma proposição simples. Ele parece apoiar-se no senso comum e no modo comum de falar para recolher evidências de um dado fator é apropriado para preencher uma determinada lacuna. Pior ainda,

"...ele não reconhece que tipos de fatores controlam e são controlados pela forma lógica das proposições em que eles podem figurar, com exceção do caso solitário das substâncias particulares que, Aristóteles reconhece, não podem ocupar, naquilo que ele considera como proposições simples, as vagas das qualidades, das relações, das grandezas, das posições, das espécies, etc." (p. 33)

Aristóteles parece ter pensado, diz Ryle, que existe um único tipo de ligação, ou seja, o mesmo termo que, numa proposição ocorre como sujeito, pode ocorrer como predicado numa outra. As regras silogísticas que Aristóteles descobriu giram em torno dos conceitos expressos por palavras formais tais como todo, algum, isto, não, eeimplica, mas o tratamento que ele dá a elas não contamina nem é contaminado pela sua classificação dos tipos de termos. Segundo Ryle:

"Saber tudo acerca da forma lógica de uma proposição e saber tudo acerca dos tipos lógicos dos seus fatores é saber uma só e mesma coisa. A terminologia que utilizo tenciona ser abertamente semântica. Os itens que a compõem, também, tencionam ser razoavelmente auto-explicativos." (p.34)

A contribuição que Ryle deu até o presente momento, a meu ver, é que, existindo uma lacuna no discurso do partilhante, ela não pode ser preenchida com qualquer complemento alternativo, mas, é necessário que exista certa lógica. E a função do filósofo clínico é justamente pesquisar juntamente com o partilhante, qual o termo que se encaixa. Mostrando mais uma vez, o diferencial da Filosofia Clínica, cuja principal preocupação é a singularidade.

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Já a doutrina das Categorias de Kant, segundo Ryle, parte de uma direção bem diferente de Aristóteles. Ryle diz que Kant se engana, quando diz que o seu propósito é idêntico ao de Aristóteles, salvo num sentido bem amplo e vago. Kant toma emprestadas as mesmas etiquetas que Aristóteles havia utilizado para três das suas dez rubricas. A saber, quantidade, qualidade e relação, mas que significam tipos bem diferentes de coisas para os dois filósofos. Ryle diz que, na realidade, Kant deixa de seguir a doutrina das categorias de Aristóteles, pois ele não assinala nenhuma diferença de tipo no interior das proposições de sujeito e predicado, roubando os títulos qualidade, quantidade e relação para os seus próprios objetivos, que são bem diversos de Aristóteles. Isto é,

"na utilização de Aristóteles, verde, doce e honesto significam qualidades, mas, na utilização de Kant, qualidade significa o fato de uma proposição ser afirmativa ou negativa. Quantidade, para Aristóteles, é o nome da família de predicados de grandeza ou tamanho; para Kant, é o nome do aspecto segundo o qual as proposições são da forma todo...., ou da forma algum... ou da forma isto/este.... As relações, finalmente, na utilização de Aristóteles, são predicados do gênero primo de, acima de, maior do que, mas, na de Kant, elas são aquilo que é expresso por conjunções tais como se, ou e (como ele deveria ter acrescentado) e." (p.35)

Entretanto, diz Ryle, Kant percebeu certos fatos que Aristóteles não havia observado, como a grande variedade de aspectos nos quais as proposições podem ser formalmente semelhantes ou dessemelhantes. Segundo Ryle, Kant resgatou as funções de palavras formais como todo,algum, o, um, qualquer, se, ou, e, não, que não foram assinaladas na doutrina das categorias de Aristóteles. Na interpretação de Ryle, Aristóteles parece supor que só exista uma espécie de ligação a que os fatores estão sujeitos. Mas Kant, diz ele, percebe uma imensidade de tipos de ligações e que elas determinam ou são

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determinadas pelos tipos de fatores que podem ser unidos, ou seja, é uma teoria sintática a respeito dos tipos desses fatores. Entretanto, diz Ryle, as categorias de Kant não são idênticas às suas formas de juízo, mas, de algum modo, são derivados dos itens que figuram na tábua das formas de juízo. Ou seja, tudo o que é empírico deve incorporar essas categorias e nada que não for empírico pode incorporá-las.

Ryle não participa da provável pressuposição de Kant, Aristóteles e alguns filósofos contemporâneos, na existência de um catálogo finito de categorias ou tipos. Ele não acredita num simbolismo-código da lógica formal que possa dar conta de todas as diferenças de tipo ou de forma. Ele cita como exemplo o jogo de xadrez, onde existem vários movimentos que podem ser feitos, entretanto, não existe nenhuma lista finita desses movimentos.

Essa exposição de Ryle sobre os conceitos aristotélico e kantiano remete-nos a Filosofia Clínica e à pesquisa do filósofo clínico, no momento da coleta dos Exames Categoriais. Digo pesquisa, porque as tábuas de categorias aristotélica-kantiana consideradas como formas para identificar semelhanças e diferenças, auxiliam na obtenção da melhor forma de conhecer o universo no qual está inserido o partilhante. Partindo do ponto de vista dessa investigação histórica feita por Ryle é importante que o filósofo clínico tenha sempre em mente que, assim como as categorias são as formas que nos permitem conhecer, elas também são as formas que nos limitam. Como diz Ryle, não existe nenhuma lista finita que possa prever qual o movimento que o partilhante fará em uma determinada circunstância. Assim, observamos novamente, através das contribuições de Ryle, que o conhecimento que o filósofo terá do seu partilhante será sempre aproximado.

Bibliografia

AIUB, Monica. Para entender Filosofia Clínica. 2 ed. Rio de Janeiro: WAK, 2008.

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ARISTÓTELES. Categorias. São Paulo: Martin Claret.

RYLE, Gilbert. Categorias in Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural

Referências

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