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MASTOFAUNA EM CAPÕES (PANTANAL DE POCONÉ, MATO GROSSO)

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Academic year: 2021

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MASTOFAUNA EM CAPÕES (PANTANAL DE POCONÉ, MATO GROSSO)

ITAMAR CAMARAGIBE ASSUMPÇÃO1, EVANDSON JOSÉ ANJOS-SILVA2,

GLAUCIO LUIS RIBEIRO3 e CAROLINA JOANA DA SILVA4

RESUMO: Este estudo teve como objetivo registrar a fauna de mamíferos presentes em capões no Pantanal de Poconé, MT, a comparação das espécies de taxa presentes, assim como a observação das relações existentes entre as espécies da fauna identificadas e dos hábitats amostrados. Na área de estudo, localizada na Fazenda Ipiranga, no Pantanal de Poconé, MT (16°24’ Norte e 56°40’ Oeste), predomina a presença de ilhas de vegetação conhecidas como capões, com domínio da flora e vegetação do cerrado e cerradão. Foram realizados transectos em cinco capões durante o período de seca, em outubro de 1997, sendo as observações da mastofauna de forma direta, com auxílio de binóculos. Foram reconhecidas dezessete espécies de mamíferos, sendo que 76,47% apresentam hábito terrestre, enquanto que 17,64% ocupam o estrato arbóreo. As observações das atividades mostraram que 58,82% das espécies são ativas durante a noite (crepusculares) e, 41,17%, diurnas. Em termos da dieta alimentar, registramos a maior presença de herbívoros e frugívoros, seguidos de onívoros e carnívoros. Não foram realizadas coletas em armadilhas, nem sacrifícios de animais.

1 Universidade Federal de Mato Grosso. Av. F. C. da Costa, Coxipó – Cuiabá, MT. Correio eletrônico: f.sabah@terra.com.br

2 Departamento Ciências Biológicas, Universidade do Estado de Mato Grosso. Correio eletrônico: evandson@terra.com.br

3 Universidade Federal de Mato Grosso – PPG/IB-UFMT.

4 Doutora em Ecologia. Projeto Ecologia do Pantanal – Programa SHIFT. Correio eletrônico: ecopanta@terra.com.br

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MAMMALS OF "CAPÕES" (PANTANAL OF POCONÉ, MATO GROSSO)

ABSTRACT: The goal of this study is the registration of native mammals that occur in the "capões" of the Ipiranga Farm, Pantanal of Poconé, Mato Grosso, Brazil, focusing on the observation (ethology) of taxa species present in five savanna and "cerradão" vegetation areas using the observational direct methodology. The results indicated the presence of 17 species of mammals, mainly herbivorous and frugivorous animals. We did not sacrifice the animals.

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INTRODUÇÃO

O Pantanal de Mato Grosso ocupa a depressão do Alto Paraguai, localizada entre o escudo do Brasil Central e os Andes. Desde o Quaternário, o rio Paraguai e os seus tributários depositam os seus sedimentos dentro dessa depressão. Conseqüentemente, os solos variam conforme a sua origem e idade. Sedimentos recentes ocorrem principalmente ao longo dos rios. A maioria dos solos do Pantanal é composta de sedimentos antigos, material carreado pelas chuvas e enchentes, de baixa fertilidade. Longos períodos de secas pronunciadas, causadas pelas mudanças entre épocas glaciais e interglaciais, resultaram na sua consolidação e parcial lateritização (Amaral Filho, 1986).

Essa evolução geomorfológica resultou em uma complexidade de condições da topografia, derivada da dinâmica de sedimentação e que dá origem, atualmente, a uma variada forma de modelados de relevo em microtopografias, formadoras de unidades de paisagens distintas, descritas pela conformação microtopográfica e pela dinâmica de inundações cíclicas, refletida diretamente nas fitofisionomias regionais.

Segundo Plá e Da Silva (1998), em uma área de 10.000 hectares foram observadas, em uma fazenda do Pantanal de Poconé, dezesseis unidades paisagísticas em campo e doze, por imagens de satélites.

A ocupação dessas unidades de paisagens por mamíferos dá-se de forma ordenada, conforme a disponibilidade de recursos alimentares presentes, e de acordo com a sazonalidade determinada pelo regime hídrico de inundações (Camaragibe, 1998).

Fonseca et alii (1996) registraram a ocorrência de 122 espécies de mamíferos no Pantanal Mato-Grossense, distribuídas em nove ordens, 27 famílias e 87 gêneros. Das espécies de taxa catalogadas, treze são marsupiais, dez edentados, 54 morcegos, quatro primatas, quinze carnívoros, um perissodáctilo, seis artiodactyla, dezoito roedores e um lagomorfo.

Dentre as unidades de paisagens que constituem a planície pantaneira, tem-se o

capão. Área com topografia pouco mais elevada, com cerca de 1,20 m acima da planície

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estrato herbáceo, os capões quase nunca sofrem efeitos das inundações, sendo por isso considerados um espaço importante de refúgio da fauna durante o período de cheias.

Este estudo teve como objetivo registrar a fauna de mamíferos presentes em capões no Pantanal de Poconé, MT, a comparação das espécies presentes nos diferentes capões estudados, assim como a observação das relações existentes entre as espécies da fauna identificadas e aos hábitats amostrados.

ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está localizada na Fazenda Ipiranga, situada em Poconé, MT, no Km 10 da Rodovia Transpantaneira, em posição geográfica definida em 16°24’ Norte e 56°40’ Oeste. A área está inserida dentro do Pantanal Mato-Grossense, onde predomina a presença de ilhas de vegetação conhecidas localmente como capões, com predomínio da flora do cerrado e cerradão.

Durante o período de seca, em outubro de 1997, foram realizados transectos em cinco capões da Fazenda Ipiranga. As observações da mastofauna foram realizadas de forma direta, com ajuda de binóculos. As visitas aos capões foram feitas nas primeiras horas da manhã e no final da tarde. Nesse intervalo, foram registrados os recursos alimentares disponíveis e observados animais de hábito diurno. Registros e reconhecimento de pegadas, fezes e zoofonia foram feitos durante os transectos. Não foram realizadas coletas em armadilhas, nem sacríficios de animais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As principais diferenças entre os capões estudados podem ser observadas na Tabela 1. Esses capões são utilizados como refúgio de gado bovino durante a noite, e estão bastante alterados, quando comparados com outras regiões do Pantanal, principalmente no que se refere ao corte seletivo de espécies arbóreas e à presença de clareiras. Apesar disso, notou-se um elevado número de espécies presentes e recursos alimentares básicos para sustentar populações de frugívoros não especialistas.

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TABELA 1. Principais características dos capões

Nome do capão Aspecto do capão Uso Espécies observadas

Macacos Corte seletivo de poucas

espécies arbóreas MalhadaTurismo Callitrix argentata,Dasyprocta azarae, Nasua nasua, Sciurus brasiliensis, Sciurus sp.

Cumbaru Corte seletivo de poucas espécies arbóreas

Malhada Alouatta caraya, Dulsicyon

thous, Tapirus terrestris

Roça Corte seletivo de

numerosas espécies arbóreas

Extensas áreas de clareiras

Roça para cevar animais

Agouti paca, B. argentata, Dasypus novencinctus, Nasua nasua, Dasyprocta azarae, Sylvilagus brasiliensis, Sciurus sp., Tapirus terrestris,

Mazama gouazoupira, Mazama americana

Piuval Corte seletivo de

numerosas espécies arbóreas

Extensas áreas de clareiras

Turismo Agouti paca, Callitrix

argentata, Alouatta caraya, Blastocerus dichotomus Dasyprocta azarae, Mazama americana,

Puma concolor, Sciurus

sp., Tapirus terrestris Capão da

Sociedade

Corte seletivo de poucas espécies arbóreas

Malhada Agouti paca, Callitrix

argentata, Nasua nasua

O capão da roça foi manejado para atrair mamíferos, por meio do cultivo de espécies vegetais da agricultura tradicional, como mandioca, milho e banana. Neste foi encontrado um maior número de espécies de mamíferos.

Foram reconhecidas dezessete espécies de mamíferos, distribuídas em sete ordens nos cinco capões levantados. Destes, 76,47 % são terrestres, e 17,64 %, ocupam o estrato arbóreo. As observações das atividades mostraram que 58,82 % são ativos durante a noite (crepusculares) e 41,17, são diurnos (Tabela 2).

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Camaragibe (1998) observou para capões, em áreas próximas à estudada, um número de 51 espécies, durante visitas mensais no ano de 1997.

Foi observado um padrão de distribuição no plano vertical e horizontal dos mamíferos presentes nos capões. Assim, podem-se estabelecer dois estratos de atividades para os mamíferos presentes. Mamíferos adaptados a viverem no estrato superior, nas copas das árvores, correspondem a 17, 64% daqueles observados e mamíferos terrestres com 74,47 % da amostragem, conforme mostra a Tabela 1.

TABELA 2. Mamíferos registrados nos capões, estrato ocupado para atividades, o período de atividades, a dieta preferencial dos animais e tipo de registro realizado. Taxa Ordem/espécie Estrato de atividade Período de atividade

Dieta Tipo de registro Primatas

Alouatta caraya C D O Zoofonia

Cebus apella C D O visualização

Callitrix argentata C D O visualização

Xenartra

Dasypus novencinctus F, T N O toca

Lagomorpha

Sylvilagus brasiliensis T D H visualização

Rodentia

Sciurus sp. T N F visualização

Agouti paca T N F visualização

Dasyprocta azarae T D F fezes

Carnivora

Dulsicyon thous T N C pegadas, fezes

Procyon cancrivorus T N O pegadas

Nasua nasua T, C D O visualização

Felis pardalis T N C pegadas

Puma concolor T N C pegadas

Perissodactyla

Tapirus terrestris T D, N H, F pegadas, fezes

Artiodactyla

Mazama gouazoupira T D H pegadas

Mazama americana T D H pegadas

Blastocerus dychotomus T D H pegadas

T = terrestre C = copa de árvores F = fossorial D = diurno N = noturno H = herbívoro F = frugívoro O = onívoro C = carnívoro

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Em distribuição espacial observada em plano horizontal, constatou-se a existência de uma maior diversidade de mamíferos em capões com maior variedade de recursos alimentares. Capões mais alterados apresentaram menor diversidade de mamíferos, de acordo com o que descreve Forman e Godron (1996) que os animais se movem nas paisagens guiados pela necessidade de recursos alimentares, abrigos e estímulos reprodutivos.

Quanto à dieta preferencial das espécies registradas, predominou aquelas que se alimentam de itens de origem vegetal (herbívoros e frugívoros), seguidas de onívoras e carnívoras (Tabela 3).

TABELA 3. Alguns vegetais encontrados nos cinco capões da Fazenda Ipiranga, utilizados como forrageamento de mamíferos silvestres.

Taxa/vernáculo Partes utilizadas Animais beneficiados

Ficus sp.

(Moraceae), figueira

Frutos Allouata caraya, Cebus apella, Calitrix argentata, Sciurus sp. Scheelea phalerata (Mart.) Burret

(Arecaceae), acuri

Frutos, poupas, semente

Agouti paca, Cebus apella, Dasyprocta azarae

Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd.

(Arecaceae), bocaiúva Frutos Tapirus terrestris

Cecropia aff. hololeuca Miq. Cecropia cf. pachystachta Trec.

(Cecropiaceae), imbaúba

frutos, folhas Sciurus sp. Bromelia balansae Mez

(Bromeliaceae), ananás

frutos Dasyprocta azarae

Dipterix alata Vogel

(Leg-Papilionoideae), cumbarú frutos Allouata caraya, Cebus apella,Calitrix argentata, Sciurus sp. Tabebuia cf. caraiba (Mart.) Bur.

(Bignoniaceae), ipê amarelo

flores Mazama gouazoubira,

Mazama americana Pouteria glomerata (Miq.) Radkl.

(Sapotaceae), parada

frutos Agouti paca, Mazama

gouazoubira Mazama americana, Dasyprocta Azarae,

Sterculia apetala (Jacq.) Karst

(Sterculiaceae), manduvi

frutos Agouti paca, Alouatta caraya, Cebus apella, Dasyprocta azarae Genipa americana L.

(Rubiaceae), jenipapo

frutos Tapirus terrestris, Agouti paca, Mazama spp.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

AMARAL FILHO, Z.P. Solos do Pantanal Mato-Grossense. In: SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL,1., 1984, Corumbá. Anais.... Brasília: Embrapa-DDT, 1986. p.29-42. (Embrapa-CPAP. Documentos, 5).

CAMARAGIBE, I. Unidades de paisagens do Pantanal de Poconé e sua importância para

fauna de mamíferos e elas associadas. Andalucia: Universidad Internacional de

Andalucia, 1998. 112p.

FONSECA, G.A.B. da et. al. Livro vermelho dos mamíferos brasileiros ameaçados de

extinção. Fundacão Biodiversitas-WWF, 1994. 479p.

FORMAN, R.T.T.; GODRON, M. Landscape ecology. New Kork: John Wiley, 1986. 619p. PLÁ, V.L.M.; DA SILVA, C.J. Landscape identification in the Ipiranga farm and

surroundings, Pantanal de Poconé, Mato Grosso. In: WOKSHOP, Studies on human impact on forest and floodplains of the Pantanal Brazil 2., 1998, Manaus. Summaries of lectures and posters presented, SHIFT –,. Wetland Ecology and Management.

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