ANÁLISE DA QUALIDADE FÍSICA E QUÍMICA DA GOIABA “PALUMA”
SUBMETIDA A TRATAMENTOS FITOSSANITÁRIOS ALTERNATIVOS
NO MUNICÍPIO DE RIO POMBA – MINAS GERAIS
*John Henrique Souza LOPES (1); Rafael Cocate ALVES (1); Brauly Martins ROCHA (1); Carlos Miranda CARVALHO (1); Roberto Alves DUTRA (1).
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, campus Rio Pomba.
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de quatro tratamentos fitossanitários alternativos para o controle das moscas das frutas sob a qualidade física, química e visual da goiaba “Paluma”. O experimento foi instalado no município de Rio Pomba, no período de junho a outubro de 2009. Foram aplicados o ácido pirolenhoso (0,5%), extrato de arruda (7,0%), óleo de nim (0,7% e 1%), e a testemunha que recebeu aplicação de água. Os tratamentos foram aplicados a cada 15 dias a partir do momento em que os frutos alcançaram diâmetro aproximado de 3,0 cm. Em seguida foram ensacados. O delineamento escolhido foi o inteiramente casualisado com quatro repetições e 20 frutos por unidade experimental. A colheita dos frutos foi realizada quando obtiveram a coloração verde clara. Em seguida foram realizadas as análises visual, física e química. Constatou-se que os tratamentos fitossanitários alternativos alteraram a qualidade física, química e visual dos frutos. As goiabas submetidas ao tratamento com óleo de nim (0,7 %) apresentaram as melhores notas quanto à aparência. As submetidas aos tratamentos com extrato de arruda (7 %) e óleo de nim (1%), respectivamente, apresentaram maior tamanho e menores teores de acidez. Quanto à massa fresca, apresentaram melhor resultado as que foram submetidas ao tratamento com extrato de arruda. No entanto os resultados para sólidos solúveis totais não foram significativos.
Palavras-chave: Controle. Efeitos. Alterações Qualitativas.
1. INTRODUÇÃO
A cultura da goiaba (Psidium guajava Linnaeus é uma alternativa rentavel para pequenos produtores da Zona da Mata. A cultura alcança alto rendimento nesta região e possui boa aceitação pelo publico consumidor e por pequenos produtores rurais.
Trata-se de uma fonte de renda importante nesta região, e se destaca pela sua adaptação as condições de solo e clima. Seu manejo está baseado em adubações, podas periódicas e controle de pragas e doenças.
No ano de 2006, Minas Gerais produziu 9.763 toneladas de goiaba ocupando a sexta posição na produção nacional. A região da Zona
da Mata ficou em segundo lugar no estado, com 2.868 toneladas (IBGE).
De acordo com PEREIRA & MARTINEZ JÚNIOR (1986), GONZAGA NETO & SOARES (1994), PEREIRA (1995) e KAVATI (1997) as plantas da variedade Paluma são altamente produtivas (mais de 50 t.ha -1), vigorosas, de crescimento lateral e com boa tolerância à ferrugem (Puccinia psidii Wint.). Os frutos são grandes (acima de 200 gramas, mesmo em plantas não-desbastadas), piriformes, com pescoço curto; nos frutos maduros, a casca é lisa e amarela; a polpa é de cor vermelha intensa, firme e espessa (1,3 a 2,0 cm); o sabor é agradável graças ao elevado teor de açúcares (aproximadamente 10 ºBrix) e à acidez equilibrada e as sementes aparecem em pequeno número.
A qualidade física e visual são fatores relevantes para a destinação dos frutos da goiaba: consumo in natura ou industrialização. Destaca-se assim, o estudo de tratamentos fitossanitários que alterem o mínimo possível estas características.
Alguns tratamentos alternativos podem ser utilizados na cultura da goiaba, entre eles destacam-se: O ácido pirolenhoso (T2) que tem se destacado na produção orgânica como insumo agrícola natural, um líquido obtido por meio da condensação da fumaça produzida durante o processo de carbonização de madeira (REZENDE et al., 2004; ZANETTI et al., 2004); o extrato de arruda que possui efeito inseticida sobre a mosca-branca (Bemisia Tabaci) reduziu a oviposição desta espécie nas folhas do feijoeiro (QUINTELA & PINHEIRO, 2004); o óleo de nim , citado por MORDUE & BLACKWELL ( 1993) extraído da árvore de nim, Azadirachta indica, da família
Meliaceae, também possui o mesmo efeito,
apresentando diversos compostos com atividades biológicas, sendo o principal a azadiractina, que é tóxica a insetos, com efeito, de repelência, além de inibir sua alimentação e seu crescimento.
Um dos principais entraves quanto à adoção dos métodos alternativos de controle de pragas e doenças dentro da agricultura é a falta de informações quanto os efeitos sobre a qualidade dos produtos após a aplicação dos tratamentos.
Este trabalho objetivou avaliar os efeitos de quatro tratamentos fitossanitários alternativos para o controle das moscas das frutas na qualidade física química e visual da goiaba “Paluma” no período de junho a outubro de 2009.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O município de Rio Pomba está situado na Zona da Mata de Minas Gerais apresenta altitude de 441 metros, latitude 21°16‟ 30”S e longitude 43°10‟ 44”W. O clima é do tipo tropical com chuvas durante o verão e temperatura média anual em torno de 21 ºC, com variações entre 15,3ºC (média das mínimas) e 27,9ºC (média das máximas), com índice médio pluviométrico anual de 1581 mm. (ALMG, 2007). A região possui invernos secos com temperaturas médias não rigorosas.
Para alcançar as metas estabelecidas foram feitos os seguintes procedimentos: foram
testados três tratamentos fitossanitários, mais a testemunha (T), no pomar de goiaba da variedade Paluma. Este pomar encontra-se sob manejo orgânico.
Para serem pulverizados, os frutos foram desembalados e imediatamente embalados após a pulverização. Os tratamentos fitossanitários consistiram na aplicação de produtos alternativos com ação inseticida, indicados para o controle das moscas das frutas (PINHEIRO, 2006), que aconteceu até 20 dias antes do inicio da colheita dos frutos.
Foram aplicados o ácido pirolenhoso (T2 - 0,5%); extrato de arruda (T3 - 7,0%); e óleo de nim (T4 - 0,7% e T5 - 1%), respectivamente, de 15 em 15 dias a partir do momento em que os frutos alcançaram diâmetro aproximado de 2 cm. O tratamento testemunha (T) recebeu aplicação de água.
O experimento foi feito no sistema em blocos inteiramente casualizados, com quatro repetições e 20 frutos por unidade experimental. Os frutos foram ensacados com sacola plástica branca tipo camiseta (SPB) com 23 x 15 cm e foram identificados com etiquetas, contendo informações referentes ao tratamento fitossanitário, à data e ao diâmetro do fruto medido na região equatorial, com o auxílio do paquímetro digital modelo 100.176BL, marca DIGIMESS, no momento do ensacamento.
As embalagens foram presas ao pedúnculo do fruto com arame encapado, monitoradas a cada dois dias e substituídas imediatamente quando danificadas.
O ensacamento das goiabas visa obter frutos de melhor qualidade e sem resíduos de agrotóxicos. Tem a finalidade de proteger o fruto do ataque do gorgulho, das moscas das frutas e da incidência direta do sol (SILVA, 1998). Além de colaborar com o menor contato físico entre os frutos, folhas e galhos das plantas.
Após alcançarem a coloração verde-escuro para verde claro, as goiabas foram colhidas e transportadas para o Laboratório de Meristema do campus Rio Pomba, onde foram desembaladas, pesadas e medidas quanto ao diâmetro.
Posteriormente foi realizada a análise do teor de sólidos solúveis, utilizando o refratômetro de mesa modelo RT 30ATC da marca ATAGO, com leitura na faixa 0 a 32º Brix.
A polpa das goiabas foi submetida ao congelamento de 5 a 10°C para que posteriormente fossem feitas as análises de teor de sólidos solúveis e acidez total titulável.
TAVARES (1993) informa que em trabalhos publicados por LINGH & MARTHUR em 1954 e citados por WILLS et al. (1983), a temperatura ótima para armazenamento de goiaba se situa entre 8 e 10 ºC e com umidade relativa de 85 a 90%.
O teste da acidez total titulável, consistiu na adição de 10 g de polpa em 90 mL de água destilada e acrescentada duas gotas de azul de timol 1% como indicador. Em seguida, titulou-se com NaOH 0,1 mol L-1, pH 8,3 (AOAC, 1990). Os resultados foram expressos em gramas de ácido cítrico por 100 mg de polpa.
As análises estatísticas foram feitas no programa SISVAR (FERREIRA, 2003). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas através do teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (BANZATTO & KRONKA, 1995)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Tamanho
O tamanho dos frutos é uma característica de grande importância comercial, ela permite a tomada de decisão quanto a sua destinação, indústria ou consumo de fruta in natura.
As médias descritas na tabela 3 são resultado do diâmetro longitudinal das goiabas.
Tabela 3 – Média do tamanho das goiabas
Tratamento Tamanho (mm) T1 T2 T3 T4 T5 61.37 a* 66.25 ab 66.76 ab 67.38 b 69.61 b
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Nos tratamentos extrato de Arruda e óleo de Nim (1%), respectivamente, os tamanhos das goiabas foram maiores em relação à testemunha e aos outros tratamentos. Neste caso, são bem aceitos comercialmente para consumo in natura ficando acima da média encontrada por LIMA, ASSIS e NETO (2002) com diâmetro transversal de 55,7 e longitudinal de 62,9 mm. Observamos que os resultados encontrados para a maioria dos tratamentos apontam para valores superiores aos descritos pelos autores acima.
3.2 Massa Fresca
Na tabela 4 encontram-se os valores médios encontrados para massa fresca.
Tabela 4 – Média da massa fresca das goiabas
Tratamento Massa Fresca
(g) T1 T2 T3 T4 T5 140.512500 a* 164.877500 ab 170.040000 ab 174.410000 ab 193.277500 b
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05).
Constata-se na tabela acima que o tratamento extrato de Arruda apresentou resultado significativo em relação à testemunha e aos tratamentos óleo de nim , com maior massa fresca. Segundo LIMA et al. (2001) os resultados se encontram dentro do rendimento médio obtido nos perímetros irrigados do Vale do São Francisco, 90,8 a 244g. Ficando dentro do recomendado para goiabas comerciais.
Os frutos destinados ao processamento industrial devem ter tamanho médio que corresponde à massa superior a 100 g (LIMA et al, 2002 ).
O teor de sólidos solúveis totais foi medido a partir da polpa extraída das goiabas. Os resultados médios são apresentados na Tabela 5.
Tabela 5 - Média do Teor de Sólidos Solúveis totais (°Brix)
Tratamento Teor de Sólidos
Solúveis Totais (°Brix) T T1 T2 T3 T4 10.55 a* 11.76 a 12.15 a 11.70 a 11.18 a
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p>0,05).
Não houve diferença significativa quanto ao teor de sólidos solúveis totais nos tratamentos, entre eles e em relação a testemunha. A goiaba pode ser colhida quando apresentar °Brix acima de 9,0% (GONGATTI NETO et al. 1994). Segundo MAIA et al. (1998) os valores de °Brix devem estar na faixa de 12,10%. Os teores de sólidos solúveis totais (°Brix) dos frutos de goiaba do presente trabalho estão adequados para alimentação in natura. Podemos notar que a presença da larva das moscas das frutas não teve influencia sobre estes valores a ponto de prejudicar a qualidade comercial dos frutos.
3.1.5 Teor de Acidez Total Titulável
O teor de acidez das goiabas foi medido obedecendo à metodologia recomendada e apresentou os resultados na tabela 6.
Estes resultados mostram menores teores de acidez para os tratamentos extrato de arruda e o óleo de Nim, respectivamente. Apresentando diferenças entre si, a testemunha e em relação aos
outros tratamentos. O tratamento extrato de arruda se mostrou mais eficiente influenciando o menor teor de acidez das goiabas.
Tabela 6 – Média do Teor Acidez Total Titulável (ácido cítrico/100g da fruta)
Tratamento Teor Acidez
Total Titulável T T1 T2 T3 T4 0.72 a* 0.67 a 0.66 a 0.66 b 0.58 c
*Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey (p≤0,05).
O percentual de acidez titulável da goiaba pode variar de 0,24 a 1,79 g de ácido cítrico/100 g da fruta (MANICA et. al. 2001).
4. CONCLUSÃO
Percebe-se, através destes resultados a influência dos tratamentos fitossanitários alternativos na qualidade dos parâmetros: massa fresca, tamanho e acidez.
Os frutos submetidos aos tratamentos com extrato de Arruda (7 %) e óleo de Nim (1%) apresentaram maior tamanho. Quanto à massa fresca apresentaram melhores resultados os frutos que foram submetidos ao tratamento com extrato de Arruda. Os menores teores de acidez foram encontrados para os tratamentos extrato de arruda e o óleo de Nim, respectivamente.
Os tratamentos usados neste trabalho são de fácil aquisição pelos produtores familiares e podem ser manipulados com segurança por não
apresentarem toxidez. Reduz o aporte por insumos externos aumentando dessa forma a eficiência energética dentro das propriedades rurais.
Por visar esses aspectos esses métodos se enquadram na proposta da Agroecologia que visa trabalhar com recursos que visem à diminuição da agressão ao meio ambiente e que sejam de fácil aquisição e manuseio pelos produtores rurais familiares. Com a divulgação desses métodos na região esperamos a adesão de grande parte dos produtores de goiaba.
5. REFERÊNCIAS
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