Religião & Sociedade
Conselho Científico(fundadores)
Duglas Teixeira (in memorian)
Alba Zaluar, Jaime Pinski, Rubem Alves, Rubem César Fernandes.
Comitê Editorial
Josildeth Consorte, Lísias Nogueira Negrão, Otávio Velho, Patricia Birman, Pierre Sanchis, Regina Novaes (coordenadora)
Assistente Editorial
Clara Mafra, Emerson Giumbelli Conselho de Redação
Alberto Antoniazzi, Alejandro Frigerio, Alfredo Bosi, Antonio Flávio Pierucci, Ari Pedro Oro, Carlos Rodrigues Brandão, Cecília Mariz, Eduardo Diatahy de Menezes, Eduar-do Viveiros de Castro, HeralEduar-do Maués, Jether Pereira Ramalho, José Jorge de Carvalho, Edênio Valle, Kenneth Serbin, Leonardo Boff, Luiz Eduardo Soares, Luis Eduardo Wanderley, Maria Helena Villas Boas Concone, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Maria Laura Vivei-ros de Castro, Marion Aubrée, Nilton Bonder, Patrícia Monte-Mor, Paula Montero, Paul Freston, Pedro Ribeiro de Oliveira, Peter Fry, Ralph Della Cava, Renato Ortiz, Waldo César, Vanilda Paiva, Yvonne Maggie.
Apoio
Coordenador de Publicações: Renato Casimiro Coordenadora de Produção: Rosania Rolins Capa: Heloisa Fortes
Religião e Sociedade é editada conjuntamente pelo Centro de Estudos da Religião (CER) e pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER) Vendas e Assinaturas para todo o Brasil Instituto de Estudos da Religião (ISER) Ladeira da Glória 98
22211-120 Rio de Janeiro - RJ - Brasil Tel: (021) 556-5004
Fax: (021) 265-5635
e-mail: religiaoesociedade@iser.org.br
R382 Religião & Sociedade. - Vol. 1 (1977). - Rio de Janeiro : ISER, 1977. v.
Semestral ISSN 0100-8587
1. Religião - Aspectos sociais. 2. Religião e civilização. I. Instituto de Estudos da Religião.
CDU 2:308 CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/PROTAT volume 20 - número 2 - outubro 1999
S
UMÁRIOEditorial ... 7
Artigos
O poder do adeus na Central do Brasil
Carlos Alberto Afonso ... 9
Os “Homens sem Deus” e o cristianismo: para um estudo dos fracassos missionários
Oscar Calavia Sáez ... 39
Inculturação? Da cultura à identidade, um itinerário político no campo religioso: o caso dos Agentes de Pastoral Negros
Pierre Sanchis ... 55
Rio Zona Sul: Percurso de crenças e identidade
Marc Piault ... 73
O xamanismo urbano e a religiosidade contemporânea
Resenhas
Marjo De Theije. All that is God’s is Good; An Anthropology of the
Liberation Catholicism in Garanhuns, Brazil.
Cecília Mariz ... 141
Robin M. Wright (org.). Transformando os deuses:
os múltiplos sentidos da conversão entre os povos indígenas no Brasil.
Flávio Braune Wiik ... 146
Stefania Capone. La quête de l’Afrique au candomblé.
Ricardo Oliveira de Freitas ... 151
S
UMMARYPresentation ... 7
Articles
The power of Good-bye
Carlos Alberto Afonso ... 9
The “godless men” and Christianity: towards a study of missionaries failures
Oscar Calavia Sáez ... 39
Inculturation? From culture to identity, a political itinerary in the religious field: the case of APNs
Pierre Sanchis ... 55
Rio Zona Sul: way of believes and identity
Marc Piault ... 73
Urban Xamanism and the Contemporary Religiosity
6 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 1-162, 1999
Reviews
Marjo De Theije. All that is God’s is Good; An Anthropology of the
Liberation Catholicism in Garanhuns, Brazil.
Cecília Mariz ... 141
Robin M. Wright (org.). Transformando os deuses: os múltiplos sentidos da
conversão entre os povos indígenas no Brasil.
Flávio Braune Wiik ... 146
Stefania Capone. La quête de l’Afrique au candomblé.
Ricardo Oliveira de Freitas ... 151
7 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 1-162, 1999
E
DITORIALO tempo – quando contado em décadas ou séculos – produz datas redon-das e ocasiões propícias para balanços. Neste ano 2000, os quinhentos anos do Brasil motivaram polêmicas comemorações oficiais, mas também provocaram críticos eventos paralelos para pensar os “outros quinhentos” do país, além de terem servido para estimular reflexões sobre o futuro, nossos “próximos quinhentos”.
Religião e Sociedade, a seu modo, também não está deixando passar a data
em branco. Sem nenhuma pretensão de fazer um balanço de cinco séculos conformadores do campo religioso brasileiro, este número reúne artigos que colocam em foco múltiplos aspectos, representações e práticas religiosas presen-tes no Brasil. Através dessas contribuições somos convidados a considerar o que existe “antes e para além do Brasil”, e, ao mesmo tempo, a pensar sobre “o que faz o brasil, Brasil”.
Carlos Alberto Afonso, da Universidade de Coimbra, escreveu “O poder do adeus na Central do Brasil”. Analisando o filme Central do Brasil, de Walter Salles Junior, o autor explora o uso de temas e nomes da grande tradição bíblica para iluminar a compreensão de brasileiros que se movem entre cartas, ferrovias, desencontros e esperanças. Seu texto apresenta uma análise de articulações simbolicamente produtivas entre vulnerabilidade humana, subalternidade e um texto sagrado, por meio das quais o Brasil torna a Bíblia real e a Bíblia torna virtual o Brasil.
Evangelhos e evangelistas também fazem parte do artigo de Oscar Calavia Sáez, intitulado “Os homens sem Deus e o cristianismo: para um estudo dos fracassos missionários”. O estudo das missões franciscanas entre os índios do Ucayali, na Amazônia ocidental, explicita o paradoxo dos projetos de evangelização que reforçam identidades religiosas ao mesmo tempo que propõem
8 Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 1-162, 1999 sua tradução. A dinâmica de missões tradicionais e progressistas, protestantes e católicas, franciscanas e jesuítas, triunfantes e fracassadas, nos permite compre-ender porque a abertura para o sincretismo tem seus altos e baixos na história missional na América e no Brasil.
A noção de sincretismo volta a se fazer presente no artigo apresentado por Pierre Sanchis, “Inculturação? Da cultura à identidade, um itinerário político no campo religioso: o caso dos Agentes de Pastoral Negros”. A partir deste exemplo contemporâneo anunciado no título, o autor mostra como no Brasil as relações entre catolicismo e negritude se expressam em um quadro explicita-mente político, mesmo quando emergem em termos religiosos ou inocenteexplicita-mente culturalistas. Neste texto, Sanchis reafirma que, desde a sua “fundação”, o campo religioso brasileiro caracterizou-se pela diversidade e o embate, mas tam-bém pela porosidade e a simbiose das identidades individuais e até mesmo institucionais. Se é verdade que tal caracterização ajuda a compreender proces-sos sociais nos quais ao longo de nossa história a religiosidade marcou presença, resta saber como, no limiar do século XXI, estas características operam nas duas maiores cidades do Brasil: Rio de Janeiro e São Paulo.
Em seu artigo “Rio Zona Sul. Percurso de crenças e identidade”, Marc Henri Piault nos apresenta resultados de sua pesquisa realizada Rio de Janeiro. Combinando a prática do “estranhamento antropológico” – inerente a sua tra-jetória profissional de etnólogo francês “africanista” – com a contextualização (histórica, política, econômica) do fenômeno que se dispôs a enfocar, o autor insere o Brasil em um contexto comparativo maior e, ao mesmo tempo, discute as particularidades do sincretismo à brasileira. A partir daí analisa diferentes percursos de crenças no universo da chamada “classe média” carioca.
Por fim, agora em São Paulo, também sobre a religiosidade das camadas médias, temos o artigo “O xamanismo urbano e a religiosidade contemporânea”, de José Guilherme Cantor Magnani. Ancorado em detalhada pesquisa de cam-po, o autor apresenta uma análise de versões do xamanismo urbano inserido no circuito neo-esotérico. Ao utilizar a noção de xamanismo, Magnani estabelece uma interlocução tanto com uma “categoria nativa”, presente na literatura especializada consultada pelos seus próprios informantes, quanto com a etnologia indígena, particularmente com os estudos sobre cosmologias dos índios no Brasil. Três resenhas completam as intenções deste volume. Flavio Wiik, tradu-zindo um empenho da Comissão Editorial de Religião e Sociedade de se fazer mais presente nos debates sobre cosmologias indígenas, resenhou o livro organizado por Robin Wright, que tematiza o impacto das atividades missionárias. Já Ricardo Freitas e Cecília Mariz se encarregaram de trazer para o leitor resenhas de obras recentes, ainda não publicadas em português, sobre duas áreas fundamentais para se entender a religião no Brasil – respectivamente, os cultos afros e a