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UNIDADES DE PSICOGERIATRIA: UMA REALIDADE NECESSÁRIA…
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Autores
Carlos Monteiro1, M.ª do Céu Monteiro2, Maria de Jesus Terras3
1,2,3 Enfermeiros
ARTIGO DE OPINIÃO / OPINION PAPER DEZEMBRO / JANEIRO, 2014
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Monteiro, C., Monteiro, M., Terras, M. (2014) Unidades de Psicogeriatria: Uma Realidade Necessária…, Journal of Aging & Inovation, 2 (4): 27-42
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Desde os primórdios da história que o Homem ambiciona viver o mais possível e luta para adiar a hora de morrer. Nós, profissionais de Saúde, temos consciência que contribuímos para o aumento da esperança de vida. “A
população idosa mais que duplicou nos últimos quarenta anos (INE,1999:8). Contudo, a
longevidade de vida coloca-nos perante uma questão fulcral e urgente: contribuímos para dar anos à vida, mas será que damos vida aos anos?
A população portuguesa na chamada “terceira idade” é cada vez mais expressiva no conjunto do tecido social, um fenómeno m o t i v a d o e s s e n c i a l m e n t e p e l o d u p l o envelhecimento, expressão utilizada por alguns autores como NAZARETH(1988); FERNANDES (1997) e COSTA(1999). Ao longo do tempo, o aumento do número de idosos tornou mais relevante o peso destes na sociedade. “A
velhice representa a fase da vida em que as capacidades e resistências físicas vão gradualmente diminuindo” FERNANDES
(1997:1), reduzindo-se assim a capacidade produtiva do idoso.
A e s t a f a s e e s t ã o a s s o c i a d a s representações negativas como a pobreza, a doença, a solidão e a morte que, conjugadas com a pensionalização da velhice e com uma alteração da estrutura das relações familiares
nas sociedades ocidentais, contribui para que a idade avançada seja encarada como um problema social e familiar. Como refere GIDDENS (2000:171) “Numa sociedade que
valoriza a juventude, a vitalidade e a aparência física, os idosos tendem a tornar-se invisíveis”.
Que lugar ocupam os idosos na família? Será que a família estará preparada para acolher a senescência (4 ª idade)? A institucionalização será o último recurso das famílias? “À medida
que aumenta a idade, a proporção de idosos a v i v e r ( … ) [ e m i n s t i t u i ç õ e s ] c r e s c e significativamente” (INE,1999:20). Será que este facto se deve ao esgotamento familiar e à falta de ajuda por parte dos técnicos de saúde? Como poderá ser feito o apoio aos familiares, dada a escassez de recursos externos? Esse apoio é considerado crucial
para cuidar do idoso com este tipo de patologia, como alerta BRITO(2001:19): “Cuidemos dos
cuidadores, pois, com generosidade e competência, e todos teremos a ganhar com isso”. Cuidar de familiares idosos doentes é algo
árduo e exigente, desgastante em termos físicos e emocionais, pelas múltiplas alterações que provoca na vida das famílias. A saúde destes familiares, por mais vontade que tenham em cuidar dos seus idosos, acaba por se ressentir, sendo frequentes situações de depressão e ansiedade aumentada.
A família, na maioria dos casos sem preparação, vivencia situações de sobrecarga, geradoras de angustia e culpa (LIBERMAN e LIBERMAN,
2003). Cuidar de familiares idosos doentes é
algo árduo e exigente, desgastante em termos físicos e emocionais, pelas múltiplas alterações que provoca na vida das famílias. A saúde destes familiares, por mais vontade que tenham em cuidar dos seus familiares idosos, acaba por se ressentir, sendo frequentes (cerca de 50%) s i t u a ç õ e s d e d e p r e s s ã o e a n s i e d a d e aumentada, estando sujeitas por um lado a uma sobrecarga objectiva (impacto das modificações e limitações impostas pela doença de um indivíduo nos seus familiares (Ex: disrupção doméstica, restrição das actividades sociais, dificuldades laborais e financeiras) e por outro a uma sobrecarga subjectiva ( conjunto de sentimentos decorrente da vivência destas limitações (perda, culpabilidade, tensão relacional intra-familiar, preocupação com o futuro, medo da violência, entre outros) (SEQUEIRA, 2007; SERRA,2002; BRITO,2001).
Há uma crescente atenção a esta problemática em vários países ocidentais, nomeadamente por parte dos profissionais de saúde. O sucesso da família no apoio ao doente psicogeriátrico depende de suportes adequados na comunidade, e da capacidade, por parte dos profissionais, de perceberem a experiência da família do ponto de vista desta, e de serem capazes de irem ao encontro das necessidades por ela identificadas. Entre técnicos e família é crucial a solidez de uma aliança que se move para um objectivo comum: promover a autonomia e minimizar a dependência do idoso com problemas psicogeriátricos.
Com a reformulação das politicas de saúde mental, há um aumento do número de doentes com perturbações mentais a viver com a f a m í l i a , q u e p a s s a a e s t a r a s s i m potencialmente sujeitos a uma sobrecarga psicológica significativa. (CNRSSM, 2007).
O envelhecimento é um processo complexo em que intervêm factores biológicos, socio-económicos e culturais, num sistema de relações constituído pelo indivíduo, a sociedade e o meio ambiente. Esta fase da vida sempre constituiu uma preocupação da humanidade, mas o crescente número de idosos na sociedade actual despertou maior interesse para
o assunto. É um processo contínuo e
irreversível, mas nem sempre a longevidade significa qualidade de vida, pois, em muitos casos, os idosos perdem a sua autonomia, tornando-se assim dependentes da ajuda de terceiros. Paralelamente ao aumento do número global de idosos há outro fenómeno que deve ser considerado: a existência em número cada vez maior de pessoas muito idosas.
A orientação política actual consagra a família como instituição privilegiada para a integração social dos idosos. A este respeito SERRA(2002:535) alerta-nos para alguns factos: “Devido à evolução sociocultural, às
formas de emprego, ao crescimento da u r b a n i z a ç ã o e d a i n d u s t r i a l i z a ç ã o , à necessidade de gerir o tempo de maneira diferente, certas funções, tradicionalmente cumpridas pela família, foram transferidas para agências exteriores (...) Contudo embora a família tenha sido expoliada de algumas obrigações antigas, mantém ainda cinco funções importantes: económica, educacional, reprodutiva, sexual e afectiva”.
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A velhice é um fenómeno normal, mas leva a um aumento da fragilidade e da vulnerabilidade. Qualquer agressão, ainda que mínima à sua integridade, representa o risco de provocar um desequilíbrio global e irreparável. Como refere CORDEIRO (1999:55), “cada
situação é única. O limite entre a normalidade e a patologia, ou entre um comportamento aceitável e inaceitável, nunca é preciso. Acresce que as doenças crónicas, sendo as mais f r e q u e n t e s n o i d o s o , t ê m d i f e r e n t e s repercussões, em diferentes pessoas e em diferentes idades”. Com a idade, aumenta a
p r o b a b i l i d a d e d e d e s e n v o l v e r e m , e m simultâneo, várias patologias degenerativas e de evolução prolongada, que se potenciam entre si, originando a instalação, com o decorrer do tempo, de alguma dependência de carácter físico, mental ou social.
A demência constitui uma clara fonte de stress para o indivíduo mas também para a sua família. As perturbações originam sequelas mais ou menos prolongadas e implicam importantes mudanças, que geram ansiedade, necessidade de adaptação e resistência. Quando alguém é afectado, as repercussões para toda a família são grandes. O impacto faz-se sentir pois todos os membros da família podem ter que assumir novas responsabilidades e alterar o estilo de vida, tornando-se extremamente difícil (física e emocionalmente) dependendo do grau de envolvimento e do nível da incapacidade do doente.
PAÚL(1997:137) desperta-nos para o seguinte facto “Ao contrário do que se passa
com o cuidar das crianças, [no cuidar de um
idoso], a dependência é crescente” Contudo, “a
família constitui um núcleo com um equilíbrio próprio, por vezes difícil de manter, e que se
poderá tornar instável quando confrontado com novas exigências” PIMENTEL(2001:37). Quanto
a este propósito PINTO(1999:23) refere que “em
consequência do stress permanente, a que os cuidadores estão sujeitos, verifica-se nestes, em cerca de 50% dos casos, descompensações p s i q u i á t r i c a s i m p o r t a n t e s ” . P a r a
HARTFORD(1982), citado por SHANDS e ZAHLIS(1995:126), “as necessidades de
dependência do doente, muitas vezes, não deixam ao prestador de cuidados tempo para si próprio”.
Quando um dos membros da família se confronta com problemas psicogeriátricos, é uma situação nova que contribui para descontrolar a dinâmica familiar. Como refere MARQUES(1991:105), “o confronto com uma
doença grave constitui para o doente, assim c o m o p a r a a f a m í l i a e a m i g o s , u m acontecimento de vida indutor de elevados níveis de stress. (...) susceptíveis de provocar um forte impacto emocional, alterações comportamentais, podendo mesmo surgir q u a d r o s p s i q u i á t r i c o s ” . Ta m b é m p a r a
MORVAL(1986), citado por SERRA (2002:531) “uma família é um grupo de indivíduos em
interacção.O que acontece a um dos membros (seja uma doença grave, a aposentação, ou o simples recomeço do ano escolar) repercute-se nos restantes”.
Acresce ainda que nas modernas sociedades ocidentais o estatuto social do idoso é muitas vezes desvalorizado. Devemos, portanto, interrogarmo-nos: será que a família
e s t á p r e p a r a d a p a r a a c o l h e r o envelhecimento normal de um dos seus membros? Se neste caso a resposta já tenderá
a ser negativa, naturalmente que a situação se agrava quando nos colocamos perante
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episódios de envelhecimento patológico, envolvendo, por exemplo, quadros de demência.
A escolha pela institucionalização ou não nem sempre é uma decisão fácil de tomar por parte de quem é cuidado (“idoso”) assim como de quem cuida (“família”). A preocupação de não recorrer à institucionalização é uma constante, como refere HESPANHA(1993) citado por PIMENTEL(2001:33): “a família,
mesmo nas piores condições, organiza-se para assumir o que considera a sua obrigação: retribuir o sacrifício dos pais.”
Para KAHANA (1989), citado por PAÚL (1997:29), a “institucionalização ocorre
geralmente na sequência da incapacidade funcional, combinada com a ausência ou insuficiência de apoios sociais”. Quando surge
um diagnóstico de demência na família, a garantia de determinados cuidados pode ser tornar-se factor gerador de um esforço elevado e uma sobrecarga acrescida que a família não estava preparada para acolher.
Quando a família está perante o envelhecimento patológico de um dos seus membros, o acompanhamento e a prestação de cuidados podem ser problemáticos e nem sempre a manutenção do idoso em casa é a melhor solução. Sobre este assunto, PIMENTEL (2001:74), alerta-nos que “ é necessário
ponderar vários factores, como o grau de dependência do mesmo, o tipo de cuidados de que necessita e as possibilidades da família em termos de recursos materiais e de tempo. Embora, por vezes, os filhos estejam dispostos a fazer todos os possíveis para apoiar os seus pais idosos, isso pode não ser, de facto, realista e praticável; por vezes, o internamento em instituições especializadas responde de forma mais adequada às suas necessidades”.
Na opinião de VIEIRA (1995:22), há imensas razões que justificam a necessidade de criar serviços psiquiátricos para os idosos, como “problemas de diagnóstico (...); o problema das
patologias múltiplas de que em regra sofrem os velhos (...)” [e a] ausência de condições físicas adequadas na maioria dos Serviços de Psiquiatria”. O autor defende a criação de
Unidades Gerontopsiquiátricas, tendo em consideração a experiência internacional, e a importância de haver uma colaboração institucional com todos os serviços de apoio comunitário e social, sendo fundamental uma boa articulação com os Centros de Saúde da zona. VIEIRA(1995:22) alerta-nos ainda que “a
assistência Gerontopsiquiátrica em Portugal, efectuada de forma organizada, tem vindo a processar-se através da criação de Consultas de Gerontopsiquiatria nos Hospitais Escolares, por iniciativa de psiquiatras interessados nesta área”. O Centro Hospitalar Psiquiátrico de
Lisboa têm já uma unidade de psicogeriatria respectivamente que, à luz de outras, assenta num trabalho desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, para dar resposta às necessidades dos idosos e cuidadores, prevenindo a deterioração física, psíquica e social do idoso, visando a autonomia e satisfação do idoso e família. Este tipo de serviço pretende por um lado, diminuir a ansiedade e o stresse dos cuidadores, por outro lado, que cuidadores adquiram competências para lidar com o doente idoso.
E m s u m a , d e f e n d e m o s q u e o envelhecimento deve ser encarado como algo natural, como mais uma etapa da nossa vida. Porém, não deve ser esquecido que esta fase implica um declínio das nossas potencialidades e condição física. A família e a própria
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sociedade desempenham um papel essencial no suavizar dos aspectos nefastos dessa decadência. Por outro lado, os profissionais de saúde devem estar despertos para as dificuldades dos cuidadores informais, de modo a ajudá-los a promover e garantir o apoio aos idosos. Dessa colaboração, dessa ajuda depende em muito a capacidade de os idosos poderem viver um envelhecimento digno, em qualidade (mesmo que do foro patológico) beneficiando do insubstituível aconchego familiar. Paralelamente, ao sentirem-se apoiadas, as famílias adoptarão uma outra atitude quando confrontadas com esta circunstância, deixando de temer e dramatizar o envelhecimento dos seus elementos mais chegados e para que possam afirmar que: “não
tenho medo de ter um familiar a envelhecer ! ”
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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