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METAS PARA A INFLAÇÃO, INTERVENÇÕES ESTERELIZADAS E SUSTENTABILIDADE FISCAL

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Academic year: 2021

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METAS PARA A INFLAÇÃO, INTERVENÇÕES ESTERELIZADAS

E SUSTENTABILIDADE FISCAL

Aluno: Guido Maia da Cunha Orientador: Márcio G. P. Garcia

Introdução

Apesar de transcorridos quase quatro anos desde a eclosão da crise financeira mundial iniciada nos Estados Unidos e de passados, acredita-se, os piores momentos desta, a recuperação das principais economias mundiais permanece tímida. As economias norte-americana e europeia permanecem extremamente frágeis, evoluindo em ritmo mais lento do que se esperaria. O crescimento econômico mundial tem sido principalmente alavancado pela China e por sua expressiva demanda por commodities, aumentando de forma acelerada a demanda por esses bens.

Considerando a grande relevância das commodities na economia brasileira, o cenário descrito gerou um quadro de superaquecimento. No entanto, apesar da mudança na condição econômica do país em relação ao início da crise, as políticas adotadas não parecem ter se alterado muito. Medidas de expansão fiscal e redução dos juros, demonstrando limitada preocupação com o controle inflacionário, continuam a vigorar, levando a taxas de inflação altas e crescentes.

Além disso, as altas taxas de juros pagas pelos títulos da dívida soberana brasileira e as boas perspectivas para o desempenho econômico brasileiro nos próximos anos tornaram o Brasil um grande destino para o volumoso excedente de liquidez presente nos mercados financeiros internacionais. Esses fluxos de entrada de divisas no Brasil têm pressionado para baixo a taxa de câmbio, o que significa um Real cada vez mais valorizado. Isso torna os produtos brasileiros menos competitivos no mercado internacional e diminui o custo de bens importados, prejudicando a indústria nacional.

A reação das autoridades brasileira ao quadro econômico descrito tem sido a adoção de uma série de políticas de contenção simultânea da apreciação cambial e do desvio da meta de inflação.

Objetivo

Estudar o quadro macroeconômico brasileiro a partir de dados e gráficos obtidos e formulados, enfocando na política monetária.

Intervenções esterilizadas

A abundância de liquidez existente no mercado financeiro internacional, aliado às perspectivas de bom desempenho econômico de algumas economias emergentes tem gerado um fluxo intenso de capital para as mesmas. No caso do Brasil, além do investimento direto, existem muitos investidores interessados em ganhos de arbitragem, comprando títulos da dívida pública brasileira, que pagam alguns dos juros mais altos do mundo. Esse fluxo de entrada de divisas tem causado uma forte pressão de apreciação do real.

O gráfico seguinte mostra a taxa de câmbio USDBRL esperada e realizada. Fica evidente a forte pressão por apreciação do real. Este é um dos gráficos cuja elaboração e atualização estava a cargo de mim.

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Já o próximo gráfico mostra, em azul, a taxa de câmbio realizada e, em cinza, a posição dos investidores no mercado futuro de dólar. Vemos que existe uma acentuada mudança na posição dos investidores (o que significa uma grande entrada de dólares no Brasil) ao mesmo tempo que em que se dá a apreciação do real.

Algumas dessas economias, a fim de impedir a apreciação nominal de suas moedas em decorrência da grande entrada de divisas, têm recorrido a intervenções no mercado de câmbio. Essas intervenções são chamadas de intervenções esterilizadas, pois a compra de câmbio, e

1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4 2,6

Taxa de Câmbio Realizada vs Expectativas para a Taxa de Câmbio no final de 2012

Expectativas para a taxa de câmbio no final de 2012 Taxa de câmbio - R$/US$ Fonte: BCB -15,0 -12,0 -9,0 -6,0 -3,0 0,0 3,0 6,0 9,0 12,0 15,0 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75 1,80 1,85 1,90 1,95 2,00 2,05 2,10 2,15 2,20 2,25 2,30 2,35 2,40 2,45 2,50 2,55 B il h õ e s d e D ó la re s R e a is / D ó la r

Posição dos Investidores Estrangeiros (Bilhões de Dólares) Taxa de Câmbio (Reais por Dólar)

Posição dos Investidores Estrangeiros no

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conseqüente expansão da base monetária, é compensada pela venda de títulos públicos em operações de mercado aberto. Seguindo uma política monetária de metas para a taxa básica de juros, o Banco Central vende títulos (contrai a base monetária) até que seja restaurada a taxa de juros inicial.

O gráfico acima mostra a taxa de câmbio diária USDBRL (real-dólar) e, em vermelho, a volatilidade da taxa de câmbio. Ambas as séries deixam claro que, a partir do último trimestre de 2009, há uma diminuição acentuada na volatilidade do real frente ao dólar americano. Isso significa que o Banco Central vem intervindo cada vez mais no mercado de câmbio a fim de evitar a apreciação do real.

A efetividade dessas compras esterilizadas de câmbio na manutenção de uma taxa de câmbio favorável é discutível e o custo dessas operações é muito alto, sendo, portanto, um assunto controverso entre economistas. Porém, é de comum acordo que elas são neutras no que se refere à oferta de moeda. Ou seja, não alteram, teoricamente, a base monetária.

Um dos focos de nossa pesquisa é mostrar, através de evidências empíricas e teóricas que a adoção dessa prática da maneira como vem sendo feita – onde a taxa de juros e não a base monetária é restaurada – pode ter efeito expansivo sobre a demanda interna da economia.

O próximo gráfico mostra a evolução da base monetária brasileira nos, aproximadamente, dois últimos anos e da quantidade de divisas compradas pelo Banco Central do Brasil (intensidade com que vêm sendo feitas intervenções no mercado de câmbio).

Percebe-se claramente que há um aumento na compra de dólares pelo BC que coincide, aproximadamente, com o período em que se acentua a apreciação do real. Ao mesmo tempo em que as intervenções esterilizadas passam a ser realizadas com grande freqüência, a base monetária está se expandindo. Não se pode estabelecer uma relação de causalidade entre os dois, porém o gráfico serve de evidência de que a nossa hipótese é plausível. 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 -0,1 -0,05 0 0,05 0,1 0,15 V o la ti lit y D ai ly C h an ge s

Exchange Rate (BRL/USD):

Daily Changes and Volatility

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Fonte: BCB

Percebe-se claramente que há um aumento na compra de dólares pelo BC que coincide, aproximadamente, com o período em que se acentua a apreciação do real. Ao mesmo tempo em que as intervenções esterilizadas passam a ser realizadas com grande freqüência, a base monetária está se expandindo. Não se pode estabelecer uma relação de causalidade entre os dois, porém o gráfico serve de evidência de que a nossa hipótese é plausível.

O gráfico abaixo mostra o comportamento da média dos juros no Brasil (custo de se obter crédito) e do total de crédito no mercado a partir de 2009. Ele também não comprova a hipótese de que intervenções esterilizadas possam ser expansivas, mas também serve como evidência de que a hipótese é plausível.

127 140 153 166 179 192 205 218 -40 -20 0 20 40 60 80 100 120 140

Monetary Base and Its Main Expansion Factors (12-month-moving average; BRL bi)

Monetary Base - M0 (RHS) FX purchases (LHS) Macroprudential

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Nos últimos meses de 2009 e ao longo de 2010, quando os piores efeitos da crise, no Brasil, já haviam passado, verifica-se uma grande expansão do crédito. Porém, a partir do fim de 2009, os juros deixam de cair, permanecendo relativamente estáveis. Como existe uma forte relação entre a taxa básica de juros (Selic) e o custo de se obter crédito, vemos que, sob um regime de metas para taxa de juros, utilizado pelo Banco Central na esterilização de intervenções no mercado de câmbio, o crédito continua se expandindo: sinal de uma economia em expansão.

Através de um modelo teórico do tipo IS-LM que utiliza maior variedade de ativos (títulos e empréstimos) que o tradicional, fazemos uma hipótese de que o aumento das reservas bancárias decorrente da intervenção no mercado de câmbio tem efeito, não só sobre a demanda por moeda, mas também sobre a demanda por bens e serviços. Ou seja, para qualquer taxa de juros, a demanda por bens e serviços será maior. Isso significa que igualar os juros à meta para a taxa de juros não será suficiente para neutralizar o efeito expansivo que a compra de divisas teve sobre a demanda interna da economia.

Esse resultado é de fundamental importância no contexto econômico brasileiro atual, onde o Banco Central tem utilizado largamente o mecanismo de intervenções esterilizadas, sendo capaz de explicar, em parte, o crescimento assustador da oferta de moeda na economia brasileira.

Metas para Inflação

A importância de se verificar se intervenções esterilizadas têm, realmente, efeitos expansivos sobre a demanda agregada consiste no fato de que o Banco Central estaria estabelecendo uma meta para a taxa básica de juros abaixo dos juros necessários para conter a inflação.

O gráfico abaixo mostra o IPCA (taxa de inflação) acumulado em 12 meses. Percebe-se que a taxa de inflação esteve muito acima da meta de 4,5% em diversos meses, chegando a ultrapassar o limite superior de 6,5% no mês de maio. É claro que existem aí questões de

700.000 740.000 780.000 820.000 860.000 900.000 940.000 980.000 1.020.000 1.060.000 30 32 34 36 38 40 42 44 % a.a.

Total Credit Freely Allocated

Quantity and Interest Rate

Total Credit (RHS) Average Interest Rate (LHS) Macroprudential Measures

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sazonalidade e, portanto, o que importa é se a inflação do ano (que ainda não acabou) está dentro da meta.

Porém, essa ainda é uma realidade muito preocupante para a economia brasileira, que já tem uma meta alta e bandas largas para a taxa de inflação. É preciso lembrar que altas taxas de inflação têm efeitos muito negativos sobre a economia causando prejuízos para muitos setores e, principalmente, para o consumidor.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 % a .a .

IPCA (acumulado em 12 meses)

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O gráfico acima mostra as séries de M1 (oferta monetária) sobre PIB e a taxa de inflação medida pelo INPC. Como se pode observar, em períodos de inflação alta, a proporção M1/PIB cai pois, para escapar do imposto inflacionário, os agentes passam a reter menos moeda. Isso tem diversas conseqüências negativas sobre o volume de crédito e a produtividade da economia.

Sustentabilidade Fiscal

Outra preocupação que surge na discussão sobre intervenções no mercado de câmbio é a das reservas cambiais. É certo que reter algum montante de reservas possui uma série de benefícios econômicos, por exemplo: um “colchão” contra ataques especulativos à taxa de câmbio. Porém, o volume de reservas que o Brasil tem acumulado como resultado das freqüentes intervenções cambiais que o Banco Central tem feito passa muito do que seria a quantidade considerada “ideal”.

O gráfico abaixo mostra, em vermelho, as reservas internacionais acumuladas pelo Brasil e, em verde, o montante de reservas que representaria 9% do PIB brasileiro. Fica claro que, desde meados de 2007, as reservas internacionais têm estado bem acima do patamar de 9%. 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 V ar ia çã o % Men sa l (I N P C )

M1/PIB e Inflação

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É verdade que muitos países que vêm passando por fortes pressões de apreciação cambial têm mantido volumes extremamente altos de reservas internacionais. Porém, a taxa básica de juros paga sobre títulos da dívida pública desses países é bem menos elevada que a taxa SELIC. É importante ter em mente que o Brasil está entre os países que possuem os mais altos juros do mundo. Isso significa que nós pagamos muito caro pelo nosso passivo (dívida pública).

Porém, como a maior parte das economias hoje permanece com juros muito baixos, o nosso ativo (reservas internacionais) rende juros muito baixos. Isso implica para o Brasil um custo extremamente elevado de se manter reservas internacionais.

Além do diferencial dos juros brasileiros e internacionais, existe também a questão de que o governo brasileiro subsidia em larga escala o crédito fornecido por bancos de fomento ao desenvolvimento, por exemplo, o BNDES.

Enquanto os juros pagos pelo governo sobre a dívida pública estão, hoje, acima dos 12% ao ano, o BNDES, através de empréstimos do governo, fornece crédito com base na TJLP (taxa de juros de 6% ao ano).

A discussão sobre que tipo de crédito é o mais adequado para sustentar o desenvolvimento econômico brasileiro não vem ao caso neste documento. Porém é importante ressaltar que é o já sobrecarregado governo federal que arca com o prejuízo advindo deste diferencial de juros.

Em uma economia que já apresenta sintomas sérios de superaquecimento, é importante que se reduza os gastos do governo. Porém, os empréstimos feitos pelo BNDES cresceram muito nos últimos dois anos.

A melhor forma de se observar os verdadeiros juros pagos sobre a dívida líquida (passivo menos ativo) é a taxa de juros implícita. Ela leva em consideração não apenas a taxa básica de juros, mas também outros fatores que aumentam o pagamento de juros como o custo das reservas internacionais e subsídios ao crédito consignado oferecido por bancos de fomento ao desenvolvimento.

O gráfico seguinte mostra em verde a taxa SELIC e em azul a taxa de juros implícita. O fato de a taxa de juros implícita estar muito acima da taxa básica de juros é uma forte evidência de que as reservas internacionais estão acima do nível desejado para a economia

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Reservas Internacionais (USD Bilhões)

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brasileira e que o crédito subsidiado pelo governo ocupa uma parcela maior do que deveria sobre a oferta total de crédito.

Conclusão

O quadro econômico global observado ao longo da recuperação em curso nos países desenvolvido tem gerado diferentes consequências para a economia brasileira. Enquanto o real passa por uma apreciação cambial, observa-se, ao mesmo tempo, uma tendência inflacionária decorrente do superaquecimento econômico, característico de economias que produzem acima de seu produto potencial.

Entretanto, a reação das autoridades no âmbito da política monetária tem sido de relaxamento dos juros, que claramente se encontram em um patamar inferior àquele que seria necessário para manter constante a inflação.

Portanto, deve-se atentar para esses fatos, já que as medidas atuais apontam ou para uma incapacidade do governo de controlar a inflação, ou para a falta de disposição de se sacrificar algum crescimento para se obter controle inflacionário.

Referências bibliográficas

Bernanke, B. and A. Blinder, 1988. Credit, Money, and Aggregate Demand, American Economic Review, Maio.

Referências

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