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Significado do cuidar da criança e a percepção da família para a equipe de enfermagem

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Significado do cuidar da criança e a percepção da família

para a equipe de enfermagem

Meaning of childcare and the nursing staff perception of the family

Marcia Carla Morete Pinto1, Daniela Gasparelli Camata2, Andrea de Campos Oliveira3, Denise Pourrat Dalge4, Ângela Tavares Paes5

rESUMo

objetivo: O presente estudo de natureza quantitativa tem como objetivo descrever o significado do cuidar da criança e a percepção da família para a equipe de enfermagem. Métodos: Participaram da pesquisa 70 profissionais de enfermagem que atuam em unidades de pediatria de um hospital privado de grande porte. Além do levantamento sobre o perfil profissional, os entrevistados manifestaram sua concordância ou discordância em relação a 30 afirmações sobre o cuidar da criança e a percepção da família. resultados: Os resultados mostraram que os itens em que houve maior concordância foram os aspectos ao cuidar, a importância do conhecimento e a participação da família no processo de cuidar da criança hospitalizada. Os itens com maior discordância foram questões sobre a presença dos pais, influência das situações de estresse sobre a segurança do profissional e facilidade ao cuidar de crianças hospitalizadas por mais tempo. Observou-se ainda que os profissionais manifestaram dúvidas quanto a presença dos pais, seguimento de normas e rotinas e a tomada de decisão dos pais no tratamento do seu filho. Conclusões: Pode-se concluir que a maioria das afirmativas abordadas demonstrou alto índice de concordância, evidenciando assim, seguimento de um modelo assistencial existente na instituição. No entanto, deve-se refletir sobre o nosso papel como membro facilitador do cuidado da criança e família, buscando estratégias que proporcionem uma atenção centrada na criança e família. Descritores: Família; Equipe de enfermagem; Criança hospitalizada; Cuidados de enfermagem; Humanização da assistência; Enfermagem pediátrica

AbStrACt

objective: This was a quantitative study aimed to describe the importance of caring for children and the nursing staff perception of the family. Methods: A total of 70 nursing professionals working at pediatrics units of a large private hospital participated in this research. Besides the assessment of their professional profiles, the respondents expressed

their agreement or disagreement regarding 30 statements concerning childcare and family’s perception. results: The results showed that the items with highest agreement were the aspects of care, the importance of knowledge and participation of the family in care of hospitalized children. The items with highest disagreement included the presence of parents, the influence of stressful situations on the professional’s safety and the ease of caring for children hospitalized for longer periods. It was also observed that professionals expressed doubts about the presence of parents, compliance with rules and routines and parents making decision about the treatment of their child. Conclusions: It was concluded that most of the statements addressed showed a high rate of agreement, thus evidencing the compliance with an institutional model of care. However, we should consider our role as a facilitator of childcare and family care by seeking strategies that bring attention focused on children and family. Keywords: Family; Nursing, team; Child, hospitalized; Nursing care; Humanization of assistance; Pediatric nursing

introDUÇÃo

Até o final do século 18, o hospital era uma instituição de assistência aos pobres, visto como um lugar para morrer. O hospital como instrumento terapêutico é uma invenção relativamente nova, que aparece em torno de 1780(1).

Porém, só em 1959, com a publicação do relatório Platt na Inglaterra é que foi reconhecida a necessidade dos pais de participarem no cuidado dos filhos doentes. Este documento levou pais e profissionais da saúde a discutirem o processo de hospitalização(2).

A hospitalização é um fenômeno estressante e traumatizante para a criança, pois nesse período ela se depara com vários desafios. Para as crianças hospi-talizadas, possíveis desafios incluem lidar com a sepa-ração, adaptando-se a um novo ambiente; ajustar-se a Trabalho realizado noHospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

1 Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Enfermeira da Unidade Pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein - HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 2 Especialista em Transplante pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein; Enfermeira da Unidade de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein - HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 3 Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Enfermeira Sênior da Unidade Pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein - HIAE, São Paulo (SP), Brasil. 4 Especialista em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde; Enfermeira Coordenadora de Enfermagem do Centro de Terapia Intensivo Pediátrico, Unidade de Internação Pediátrica, Centro de

Imunizações, Clinica de Especialidades Pediátricas e Unidade de Clínica Médica e Cirúrgica – Pneumologia e Cirurgia de Tórax do Hospital Albert Einstein - HIAE, São Paulo (SP), Brasil.

5 Doutora, Estatística do Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – IIEPAE, São Paulo (SP), Brasil.

Autor correspondente: Marcia Carla Morete Pinto – Rua Presidente Artur Bernardes, 23/72 – Embare – CEP 11040-180 – Santos (SP), Brasil – Tel.: 13 3273 7009 – e-mail: marciamorete@uol.com.br

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múltiplos responsáveis; frequentemente associar-se a crianças e algumas vezes passar pela necessidade de in-ternação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), anestesia ou até mesmo uma cirurgia(3).

A hospitalização gera situação de crise envolvendo a criança doente e sua família, caracterizada por vários fatores como: descontinuidade na satisfação das necessi-dades biológicas, psicológicas e sociais entre os membros da família; mudança no padrão do papel desempenhado pelos pais; aumento do grau de dependência da criança doente, especialmente com a mãe; o aparecimento do sentimento de culpa e a ansiedade na família(4).

A família vem sendo considerada uma instituição social, preenchendo funções históricas, e exercendo in-fluências poderosas sobre o ser humano(5).

No Brasil, essa preocupação surgiu em 1988, quan-do foi promulgada a lei nº 8.069, que regulamenta o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual determina que os estabelecimentos de saúde devem proporcionar condições para que um dos pais ou res-ponsável permaneça com a criança ou adolescente em tempo integral durante toda a internação hospitalar(6).

Para a criança, a presença dos pais traz segurança, uma vez que o processo de hospitalização pode gerar sentimentos ambíguos relacionados à dor e cura, e o hospital passa a ser visto como um local para troca de experiências dolorosas(7).

A presença da mãe durante o período de internação ameniza o sofrimento da criança fazendo com que ela tenha uma referência da sua vida fora do hospital. A criança é o espelho de uma família e quando ela é reti-rada bruscamente do convívio, isso gera conflito e per-turbação. A criança é considerada como um ser cujas condições de saúde física, mental e social estão direta-mente relacionadas com as características da família e da comunidade em que vive(8).

A assistência centrada na criança e na família ainda é algo incipiente e que passa também pelo âmbito da motivação pessoal. A convivência constante dos enfer-meiros com a família tem sensibilizado na experiência do cuidado; no entanto, nessa relação com a família, os profissionais têm experimentado a falta de confiança em si mesmos, promovendo uma incoerência entre o pen-sar e o agir de alguns profissionais de enfermagem(9).

A inclusão da família no cuidado do enfermeiro re-quer deste profissional uma postura aberta e atenta às interações e aos impactos das vivências que ocorrem no ambiente hospitalar para o conhecimento da dinâmica e formas de adaptações diversas pelas quais passam as famílias durante o processo de hospitalização de seus filhos. Contudo, nem sempre estes saberes são suficien-tes para cuidar da família, já que esse cuidado acontece em um contexto interacional de vivências compartilha-das entre família, criança e equipe de saúde(10).

A enfermagem em sua atuação, junto ao indivíduo que necessita de assistência, defronta-se com uma re-alidade familiar que necessita ser compreendida e in-corporada no cuidado, tendo em vista um atendimen-to mais abrangente, no qual o paciente não é visatendimen-to de forma isolada, mas pertencente a um núcleo familiar e envolto em um contexto social(5).

A observação da convivência no espaço hospitalar entre familiares e profissionais de saúde tem sido um de-safio, apesar de esses últimos reconhecerem as dificulda-des que a família enfrenta bem como a importância da presença dos pais na recuperação da criança e o direito de permanecerem ao lado do filho. O cuidado de enfer-magem não deve ser desvinculado da família e de suas necessidades, o que implica no domínio de informações teóricas específicas e ao desenvolvimento de uma sensi-bilidade especial para lidar com esta clientela(11).

Embora a equipe de enfermagem reconheça a im-portância da presença da família para a recuperação da criança, ainda há muitas dificuldades que permeiam esse processo.

A enfermagem está muito impregnada pelo modelo hospitalocêntrico, de caráter individualista e centrado na doença, no qual a família é apenas fonte de informa-ção a respeito do paciente(12).

Desse modo, a mãe não participa das tomadas de de-cisões, mas está participando dos cuidados com o filho. Isso solidifica o distanciamento entre mães e a enferma-gem, e fortalece a execução do trabalho fragmentado(7).

Além da compreensão da dinâmica familiar é preciso entender que as frustrações associadas à doença de uma criança podem levar alguns familiares a se tornarem des-confiados, agressivos e, em alguns casos, até violentos(13).

A falta de comunicação efetiva, as expectativas dos profissionais e as decisões de poder e controle, frequen-temente impedem as negociações entre família e profis-sionais da saúde, principalmente a equipe de enferma-gem. Dessa forma, ênfase no desenvolvimento de uma melhor comunicação interpessoal e ferramentas para negociação são necessárias na educação da equipe para um melhor relacionamento com as famílias(14).

A enfermagem tem um compromisso e obrigação de incluir as famílias nos cuidados de saúde. A evidên-cia teórica, prática e investigacional do significado que a família dá para o bem-estar e para a saúde de seus membros, bem como a influência sobre a doença, obri-ga as enfermeiras a considerarem o cuidado centrado na criança e família como parte integrante da prática de enfermagem. Entretanto, este enfoque do cuidado pode ser alcançado somente com responsabilidade e respeito, estabelecendo-se práticas de avaliação e inter-venções familiares confiáveis(15).

A sensibilização dos profissionais está ocorrendo de forma lenta, fornecida por uma formação acadêmica

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que considera a família como centro do cuidado. Estar sensibilizado é ser capaz de reconhecer a família como um fenômeno complexo que demanda apoio, sobretudo na situação de doença(16).

Diante desse contexto e relevância dessa temática nesta prática assistencial, sentiu-se a necessidade de de-senvolver esse estudo que tem como objetivo descrever o significado do cuidar da criança e a percepção de fa-mília para a equipe de enfermagem.

MÉtoDoS

O estudo é de natureza quantitativa, descritiva com co-leta de dados primários. Realizado no Hospital Israe-lita Albert Einstein (HIAE), situado no município de São Paulo. Os dados foram coletados durante o mês de agosto de 2007. Participaram da pesquisa enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuam nas Unidades Pedi-átricas no período da coleta de dados, e que aceitaram participar da pesquisa, ou seja, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HIAE e pela coordenação de enfer-magem das unidades onde foram coletados os dados.

A elaboração do instrumento foi baseada e adapta-da a partir de uma Escala de Avaliação do Significado de Cuidar (EASC). Essa escala foi criada através de 227 redações de alunos de enfermagem e profissionais so-bre o cuidado e seus significados, porém não validada, na qual a autora propôs um instrumento com 45 itens sob forma de uma escala ordinal tipo Likert de cinco pontos de concordância sobre o objetivo psicológico(17).

Foram selecionados alguns itens dessa escala e adapta-dos outros, de acordo com a aplicabilidade na unidade e perfil dos pacientes atendidos, ou seja, crianças hos-pitalizadas. Procurou-se destacar aspectos importantes da prática do profissional de enfermagem quanto a sua percepção e significado de cuidar da criança hospitali-zada e de que forma ele percebe essa família inserida nesse contexto.

Os dados foram coletados por meio de um questio-nário contendo duas partes: a primeira, com dados de identificação do profissional e a segunda com 30 afir-mações sobre o cuidar da criança e de família nas quais os entrevistados indicaram seu grau de concordância ou discordância. Para cada afirmação, o profissional assi-nalava uma das seguintes opções: concordo totalmente, concordo, em dúvida, discordo ou discordo totalmente.

Na análise estatística, os dados quantitativos foram resumidos em médias e desvios padrão (dp). As variáveis qualitativas foram expressas em frequências absolutas e relativas (porcentagens). Os itens de maior percentual de concordância, discordância e dúvidas foram ilustrados por gráficos de barras. O programa utilizado foi o Excel.

rESUltADoS

No grupo de 70 profissionais de enfermagem que par-ticiparam do estudo, a média de idade foi de 32,7 anos (dp = 8,5), variando de 21 a 55 anos, prevalecendo os profissionais de 20 a 30 anos (31; 44,3%). O grupo era bastante heterogêneo quanto ao tempo de formação e tempo de atuação na área de enfermagem. O tempo médio de formação foi de 8,9 anos (dp = 7,7), com no mínimo menos de 1 ano e máximo de 27 anos. Em re-lação ao tempo de atuação, variou de menos de 1 a 30 anos, com média de 7,5 anos (dp + 7,8).

Referente à categoria profissional dos participantes, prevaleceram os auxiliares e técnicos de enfermagem (39; 55,7%), seguidos de enfermeiros (22; 31,4%). Quanto à unidade pertencente, 28 (40%) eram da Unidade Pediátri-ca, 24 (34,3%) do Centro de Terapia Intensiva Pediátrica e, ainda 6 (8,6%) atuam nas duas unidades em esquema de cobertura. Quanto ao período de trabalho, 25 (35,7%) atuavam no período noturno, 20 (28,6%) pela manhã e 16 (22,9%) no período da tarde, conforme mostra a Tabela 1.

tabela 1. Perfil dos profissionais entrevistados sobre o significado do ato de cuidar da criança e a percepção da família para os profissionais de enfermagem. São Paulo, 2008 Variável n % Idade (anos) 20 a 30 31 44,3 31 a 40 17 24,3 41 a 50 8 11,4 51 a 60 3 4,3 Não respondeu 11 15,7

Tempo de formado (anos)

0 a 5 17 24,3

6 a 10 21 30,0

11 a 20 13 18,6

21 a 30 9 12,9

Não respondeu 10 14,3

Tempo de atuação (anos)

0 a 5 27 38,6 6 a 10 13 18,6 11 a 20 11 15,7 21 a 30 7 10,0 Não respondeu 12 17,1 Unidade Pediatria 28 40,0 CTIP 24 34,3 Pediatria e CTIP 6 8,6 Não respondeu 12 17,1 Categoria profissional Técnico/auxiliar de enfermagem 39 55,7 Enfermeiro 22 31,4 Não respondeu 9 12,9 Turno Manhã 20 28,6 Tarde 16 22,9 Noite 25 35,7 Não respondeu 9 12,9

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Em relação às opiniões dos profissionais quanto ao cuidar da criança e percepção de família, observou-se que 18 das 30 questões apresentavam mais de 90% de concordância (Figura 1), dentre elas pode-se destacar que 100% concordam que o cuidar envolve manejo ade-quado e interesse de quem cuida, 98,6% afirmam que cui-dar envolve organização e ética, 97,1% citam que cuicui-dar envolve compromisso, relação de confiança e que gostam de trabalhar na enfermagem, e ainda 94,3% afirmam que o cuidado exige destreza. Foram abordadas ainda opini-ões referentes ao conhecimento, no qual 98,6% concor-dam que a falta de informação gera insegurança e ansie-dade aos familiares e 95,7% acreditam que a discussão de casos entre a equipe melhora a assistência, no entanto 92,9% citam que os profissionais devem seguir normas institucionais para melhor prática e ainda 90% reforçam que o uso de técnica correta traduz o bom cuidado.

Ainda referente às questões com alto índice de con-cordância, a importância dos familiares foi ponto de des-taque, no qual 97,1% acreditam que a participação dos pais auxilia o tratamento e favorece a recuperação da criança e que sua relação com aos familiares na maioria das vezes é harmoniosa e tranquila. Ainda, 92,9% dos profissionais referiram que é direito dos pais participa-rem efetivamente dos cuidados com a criança durante a hospitalização e 91,4% citam que sempre negociam com os familiares a assistência prestada à criança.

Chamaram a atenção os itens nos quais houve dis-cordância. Na Figura 2, observou-se que quatro questões têm discordância maior que 60%, chegando a mais de 90% na questão 20. A grande maioria dos profissionais discorda que sua segurança na realização de

procedi-mento é abalada pela presença dos pais (91,4%) ou por situações de estresse (87,1%). No entanto, 74,3% dos profissionais discordaram ser mais fácil cuidar da criança que está mais tempo hospitalizada. Notou-se ainda que 64,3% da equipe não concorda quanto à necessidade de expressar os seus sentimentos durante o cuidado.

Figura 1. Aspectos de maior concordância sobre o significado do cuidar da criança e a percepção da família para os profissionais de enfermagem. São Paulo, 2008

Figura 2. Aspectos com maior discordância sobre o significado do ato de cuidar da criança e a percepção da família para os profissionais de enfermagem. São Paulo, 2008

,

% discordância

Em relação aos itens questionados chamam à aten-ção as questões com percent ual de dúvidas significativo (Figura 3). Foi notado que embora os profissionais ci-tem que a presença dos pais não abala sua segurança, al-guns (27,1%) ainda assim sentem-se estressados diante da presença dos pais durante os procedimentos. Ainda, embora tenham citado a importância das normas e roti-nas a serem seguidas, 20% dos profissionais se manteve duvidoso quanto a essa questão e em relação à tomada

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de decisão dos pais junto à equipe no planejamento do

tratamento de seu filho. hospitalizadas. Apesar de existirem numerosos estudos mostrando que a equipe se beneficia com a presença da família, alguns autores acreditam que os familiares podem se tornar causa do estresse psicológico do enfer-meiro, pelo fato de haver exigências e críticas dos pais ao profissional, sobretudo porque os incomoda a ideia de que a hospitalização implica na sua incapacidade de resolver o problema de seu filho(20-21).

Ainda é possível notar que, embora os profissionais discordem que a presença dos pais não abala sua segu-rança ainda notou-se que alguns se sentem duvidosos em relação a essa situação. Nos relacionamentos em que ocorre baixo nível de confiança, certos comportamentos específicos parecem ocorrer. Por exemplo, quando um dos elementos sente-se ameaçado pelo outro ou não consegue confiar no que o outro diz, despende grande parte de seu tempo tentando compreender o comportamento comuni-cado com o propósito de se proteger, tendendo a manifes-tações de agressividade por medida de segurança(22).

O relacionamento entre os profissionais de saúde e a família deve ser um encontro de subjetividade no qual emergem novas compreensões e interpretações, contri-buindo para o sucesso do tratamento e superação da crise ocorrida durante a hospitalização da criança(16).

A enfermagem é o cuidar e, para tanto, necessita re-conhecer as individualidades pessoais daqueles com os quais está se relacionando por meio do cuidar. Portan-to, a família deve ser conhecida como uma pessoa com suas características e necessidades particulares(23).

Os sentimentos de frustração dos pais estão, com frequência, relacionados à falta de informação sobre procedimentos e tratamentos, desconhecimentos das regras e regulamentos hospitalares. Grande parte da frustração pode ser aliviada em uma Unidade Pediátri-ca, quando os pais estão cientes do que esperar e do que se espera deles(24).

A enfermagem já possui um acervo de conhecimen-tos empíricos e teóricos que permite, com segurança, negociar com a equipe e com os familiares um plano de assistência mais abrangente, que não se limite à con-secução de técnicas. Assim, a enfermagem não deve se deixar levar por arranjos e acomodações imediatas ou por resistências à mudança, mas introduzir experiências que modifiquem sua prática em direção a uma assis-tência voltada às reais necessidades da criança e de sua família, envolvida no processo. A sensibilidade é neces-sária para se perceber os múltiplos determinantes que envolvem o cuidado à família(18).

O desafio é fazer com que a equipe reconheça suas próprias limitações, seus valores e suas crenças. Desse modo, poderá desenvolver sentimento de confiança em si mesma e, com isso, construir um caminho para esta-belecer um relacionamento mais harmonioso,

promo-DiSCUSSÃo

Diante dos resultados apresentados em relação às res-postas de maior concordância, percebeu-se que utilizan-do os saberes técnicos e científicos e a estrutura formal da instituição como ponto de partida, os profissionais de enfermagem poderiam imprimir, na dinâmica do trabalho, um plano de cuidados compartilhado, no qual a equipe e os familiares teriam corresponsabilidades. Dessa forma, seria aberto um caminho para a eman-cipação e exercício da cidadania com respeito mútuo entre usuários e profissionais de saúde e seria superada a simples divisão aleatória de tarefas(18).

Quanto ao ponto de destaque no qual os profis-sionais acreditam, é importância da participação dos pais, e a enfermagem está cada vez mais convencida da importância da sua presença na hospitalização. Isso significa para a criança, e também para a família, maior segurança, pois passa a ser parte do cotidiano do hospital. A família vive angústia e incerteza, sendo atingida por todos os níveis do sofrimento, tornando-se companheira de todas as horas durante a doença do filho(13).

E a enfermagem aprenderá quais os caminhos para o cuidado, quando num constante movimento de olhar a família, procurar compreender suas características, necessidades, expectativas, relações e ações, voltar-se-á para si própria como profissão, com desafios, possibili-dades e limitações(14).

Enfim, incluir a família no cuidar do enfermeiro exi-ge estar aberta e atenta às interações, ao impacto das vi-vências, exige conhecer dinâmicas, crenças, e formas de adaptação a situações diversas. O cuidar acontece em um contexto interacional de vivências compartilhadas(19).

Com relação às questões de maior discordância, embora os profissionais afirmem que não se sentem inseguros diante da presença dos pais, não conside-ra mais fácil cuidar de crianças que estão mais tempo

% Dúvida

Figura 3. Aspectos com maiores percentuais de dúvidas sobre o significado do ato de cuidar da criança e a percepção da família para os profissionais de enfermagem. São Paulo, 2008

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vendo um salto qualitativo tanto no cuidado, como no ambiente de trabalho da UTI Pediátrica(25).

ConClUSÕES

Percebemos que a maioria das questões apresentadas à equipe de enfermagem apresentou alto índice de concor-dância, evidenciando assim, seguimento de um modelo assistencial existente na instituição. Acreditar que a fa-mília é parte integrante do processo de cuidar da criança hospitalizada faz parte do cotidiano dos profissionais de enfermagem que atuam nessa área. As temáticas foram abordadas com importantes significados para o grupo, sendo assim, gerando grande impacto na assistência.

O estudo mostrou itens de discordância que endos-saram os aspectos de maior concordância reportando assim, a hipótese da visão compartilhada dos profissio-nais quanto à filosofia de trabalho da instituição. No entanto, poucos aspectos citam questões que geraram dúvidas, talvez por falta de domínio do processo de cui-dar o qual envolve relações conflituosas.

É possível concluir nesse estudo que o ato de cuidar para a equipe significa envolvimento, respeito, ética, satisfação, negociação e, ainda a realização das ativida-des tendo o respaldo institucional de normas e rotinas de processos definidos. E quanto à percepção de famí-lia, os profissionais mesmo reconhecendo que a doença é um evento da família, e que cada criança e sua família são únicas e vivem esse momento de modo muito par-ticular, consiste em um desafio para a sua assistência, pois em vários momentos se sentem em dúvidas diante de algumas situações. No entanto, é possível perceber que é fundamental que o profissional compreenda e au-xilie a família a se reorganizar, com o objetivo de man-ter o equilíbrio necessário para lidarem com esse novo evento em suas vidas.

rEFErÊnCiAS

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