• Nenhum resultado encontrado

Frequência de Obesidade e Sobrepeso em Crianças e Fatores Socioeconômicos associados Tamires Vieira Guida 1, Rodrigo José Custódio 2,

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Frequência de Obesidade e Sobrepeso em Crianças e Fatores Socioeconômicos associados Tamires Vieira Guida 1, Rodrigo José Custódio 2,"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Frequência de Obesidade e Sobrepeso em Crianças e Fatores

Socioeconômicos associados

Tamires Vieira Guida

1

, Rodrigo José Custódio

2

,

1,2

Centro Universitário Barão de Mauá

tathiguida@hotmail.com1; rodrigo.custodio@baraodemaua.br2

Resumo

A obesidade infantil tornou-se um problema de saúde pública. Objetivo: verificar a frequência de obesidade/sobrepeso em crianças e fatores socioeconômicos/comportamentais envolvidos, especialmente o acesso às mídias digitais. Numa análise transversal, através de questionário e do cálculo do Índice de Massa Corporal, verificou-se frequência alta de excesso de peso e de comportamentos inadequados de sono e uso de mídias.

Introdução

A obesidade infantil configura, no cenário mundial, como um grande desafio à saúde pública. Estima-se que cerca de 107,7 milhões de crianças são obesas em todo o mundo. Relacionam-se à obesidade, em longo prazo, os seus efeitos metabólicos e a predisposição ao desenvolvimento de doenças crônicas de alto risco cardiovascular, tais como Diabetes Mellitus tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemias (AFSHIN et al., 2017). Um estudo norte-americano revelou que 17% das crianças e adolescentes obesos terão sua qualidade de vida e longevidade seriamente afetadas pela obesidade (STYNE et al., 2017).

Nesse contexto, também há preocupação com os gastos públicos com a saúde em função do excesso de peso. Por conseguinte, é importante identificar fatores relacionados à obesidade que são potencialmente modificáveis, a fim de estabelecer políticas de prevenção visando ao bem-estar da criança e de sua família (SALAHUDDIN et al., 2017).

Há inúmeros fatores orgânicos intrínsecos à criança (genéticos) e fatores ambientais que estão intimamente envolvidos com o sobrepeso e obesidade. Nessa conjuntura, destacam-se os fatores ambientais socioeconômicos que influenciam o desenvolvimento do excesso de peso na criança. A suspensão precoce do aleitamento materno exclusivo, a introdução inadequada de alimentos de alto valor calórico e baixo valor nutricional, redução do tempo de atividade física, ingestão alimentar pobre em variedade e rica em carboidratos simples e gorduras (especialmente os fastfoods) e aspectos

comportamentais quantitativos e qualitativos do sono são fatores ambientais que eventualmente têm papéis importantes no ganho/manutenção do peso infantis (STYNE et al., 2017).

Atualmente, uma parte das crianças vive numa era globalizada, com acesso precoce às tecnologias digitais. Tais experiências têm, em princípio, potencial de mudar e transformar comportamentos, inclusive aqueles relacionados à ingestão alimentar, atividade física e ao sono. No entanto, ainda não se tem conhecimento sobre a extensão e potencialidade dessa nova situação. Ademais, os mecanismos orgânicos envolvidos e sua interface com os eventuais fatores influenciadores proporcionados pelo acesso à tecnologia ainda carecem de esclarecimento (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2016).

A Sociedade Brasileira de Pediatria ressalta, ainda, um panorama que revela aumento significativo de prevalência de obesidade nos chamados países em desenvolvimento, com predominância de excesso de peso nas crianças de classes econômicas mais altas, demonstrando como os fatores sociais e econômicos exercem influência no surgimento de tal condição (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2016).

Na população pediátrica, o sono tem papel essencial em vários processos orgânicos, dentre eles: o desenvolvimento neuropsicomotor, o desenvolvimento das relações psicossociais e mais recentemente, evidenciou-se importante relação com a obesidade (DA COSTA, 2015). A alteração do ciclo sono vigília é capaz de afetar o apetite, por alterar a relação grelina/leptina, hormônios responsáveis por aumentar e diminuir o apetite, respectivamente, e diminuir a sensibilidade à insulina, e consequentemente, culminando com menor captação de glicose em nível celular. Há outros mecanismos envolvidos, como o aumento do cortisol e ativação do sistema nervoso simpático. A grelina é um peptídeo produzido no estômago e sua concentração no plasma aumenta antes da ingesta alimentar e em períodos de jejum e diminui em seguida das refeições. Ela também é capaz de influenciar a expressão, no hipotálamo, do neuropeptídeo Y, que por sua vez, tem níveis aumentados em

(2)

situações de hipoglicemia e jejum, ou seja, contribuindo para uma condição de retroalimentação positiva. A leptina, em síntese, também tem atuação no sistema nervoso central de modo que ativa as vias catabólicas e inibe as anabólicas (ROCHA, 2016).

O sono pode sofrer influências dos mais variados fatores, entre eles transtornos psíquicos (ansiedade e depressão) e apneia obstrutiva. Recentemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria também destacou o uso de tecnologias digitais (smarthphones, tablets, notebooks, computadores) como fator que influencia o sono. Uma pesquisa apontou que 66% das crianças brasileiras acessaram a internet mais de uma vez ao dia e que 17% delas deixaram de dormir ou de comer para ficar mais tempo conectado. Da mesma forma, o aumento maior no IMC esteve relacionado ao uso de mais de 2 horas diárias de uso das mídias (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2016).

É necessário, pois, diante da complexidade do panorama que envolve a obesidade infantil, avaliar os fatores que eventualmente estejam envolvidos para que se elaborem orientações mais efetivas de prevenção e tratamento dessa condição.

Objetivos

O objetivo geral foi verificar a frequência de obesidade e sobrepeso em crianças e os fatores socioeconômicos, comportamentais diurnos e noturnos associados; os objetivos específicos foram verificar possíveis diferenças entre crianças com sobrepeso, obesidade e eutrofia quanto aos aspectos socioeconômicos, especialmente aqueles que envolvam hábitos de sono e acesso à internet pelas mídias digitais.

Materiais e Métodos

Foi realizado um estudo transversal, com obtenção de amostra por conveniência e não probabilística. Foram obtidos pesos e estaturas de crianças oriundas de instituições de ensino privada e pública de Ribeirão Preto – SP e Muzambinho – MG.

Foram incluídas nas análises crianças de 2 a 8 anos de idade quando meninas, e 2 a 9 anos de idade quando meninos, regularmente matriculados em escolas públicas e privadas. Foram excluídas as crianças com quaisquer doenças crônicas não associadas ao excesso de peso. Da mesma forma, indivíduos com síndromes genéticas e indivíduos na puberdade não participaram do estudo.

As instituições de ensino foram devidamente contatadas e as autorizações dos respectivos responsáveis pelas mesmas obtidas.

O projeto de pesquisa foi avaliado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição e, após sua

aprovação, os dados foram coletados. Para tanto, os pais e/ou responsáveis legais foram informados sobre os objetivos e métodos utilizados na pesquisa, e, ao concordarem com a participação das crianças pelas quais são responsáveis, assinaram termo de consentimento esclarecido e, com isso, as respectivas crianças definitivamente foram incluídas no estudo. Além disso, crianças com idades acima de 6 anos foram devidamente informadas sobre os objetivos e procedimentos do estudo, assinando um termo de assentimento, quando já alfabetizadas. Tanto peso quanto estatura foram aferidos por um mesmo indivíduo devidamente capacitado e treinado, utilizando fita métrica e balança calibrados. Foi calculado o Índice de Massa Corporal de cada criança de acordo com a fórmula de IMC = peso (kg)/estatura² (m) e então avaliadas utilizando como referência as curvas de IMC para idade da Organização Mundial de Saúde. (WORLD HEALTH ORGANIZATION. 2006; 2007). Para menores de 5 anos foi considerado obesidade IMC > +3 desvios-padrão (DP), sobrepeso entre +2 e +3DP e risco de sobrepeso indivíduos entre +1 e +2DP. Para maiores de 5 anos, foi classificado como obesidade severa se IMC > +3DP, obesidade se estiver entre +2 e +3DP e sobrepeso se estiver entre +1 e +2DP (figuras 1 a 4). As crianças com obesidade, sobrepeso e risco de sobrepeso compuseram o grupo denominado excesso de peso.

Figura 1 – Curva de IMC para meninos de 0 a 5 anos de idade.

(3)

Figura 2 – Curva de IMC para meninos de 5 a 19 anos de idade.

Figura 3 – Curva de IMC para meninas de 0 a 5 anos de idade.

Figura 3 – Curva de IMC para meninas de 0 a 5 anos de idade.

Resultados e Discussão

O estudo contou com uma amostra de 55 crianças, preenchendo os critérios de inclusão previamente citados. Desses, 31 eram do sexo feminino e 24 do sexo masculino (tabela 1), representando 56,4% e 43,6% do total, respectivamente. A média de idade foi de 5,8 anos.

A amostra contou com 49% dos alunos regularmente matriculados em escola pública e 51% oriundos de escola privada (tabela 2). Seguindo a classificação da Organização Mundial da Saúde para curva de Índice de Massa Corporal, 65,4% eram eutróficos, 1,8% foi categorizado no item magreza e 32,7% como excesso de peso (figura 5). Quando aliada à variável sexo, 29% das meninas e 37,5% dos meninos apresentaram excesso de peso.

Foi verificado que 35,7% dos alunos classificados como excesso de peso pertenciam à rede particular de ensino, enquanto 29,6% eram da rede pública.

Da porcentagem de crianças com excesso de peso, 61% apresentavam idade superior a 6 anos, dado que pode contribuir para analisar, futuramente, estratégias de prevenção específicas para esse intervalo de idade, levando-se em consideração a autonomia própria da idade.

Ainda foi possível apurar que 27 (49%) crianças apresentaram menos de 8 horas de sono por noite, sendo 33,3% delas com excesso de peso e, portanto, 66,6% de pessoas eutróficas. Além disso, 44,5% dos indivíduos com excesso de peso também apresentavam despertares noturnos e somente 30,55% dos eutróficos tiveram o mesmo comportamento.

Em uma avaliação subjetiva do responsável, cerca de 21,8% avaliaram atraso do horário de dormir para ficar mais tempo conectado e 33% desses indivíduos estavam com excesso de peso. De todas as crianças que apresentaram atraso no horário de dormir, metade delas permaneceu mais de 2 horas acessando algum dos meios de comunicação. Esse dado levantou o questionamento sobre possibilidade de inversão do ciclo sono vigília relacionado ao uso de eletrônicos.

Quanto à acessibilidade às mídias digitais, 67,3% tiveram livre acesso a algum tipo delas, dos quais 33% desse valor foi representado pela categoria de excesso de peso. O meio mais utilizado para conexão foi o aparelho celular (29,1%). Houve apenas 1 % de diferença entre as meninas e meninos com acesso livre (67,7% e 66,7%, respectivamente). Além disso, de todas as crianças com acesso livre, 43,2% delas ficaram mais de 2 horas por dia conectadas. Esse dado indicou a necessidade de estudos futuros sobre a necessidade de vigilância dos pais ou responsáveis enquanto a mídia é acessada, pois é necessário considerar a adequação do conteúdo a que essas crianças estão sendo expostas.

Em relação ao tempo de conexão, 68,5% dos estudantes analisados ficaram conectados menos de 2 horas por dia, ou seja, dentro do recomendado pela Sociedade Brasileira de

(4)

Pediatria; no entanto, 31,5% excederam o alvo supracitado. O grupo que não cumpriu as recomendações tem mais de 50% do estrato do excesso de peso.

Tabela1–Número absoluto e porcentagem de indivíduos dos sexos feminino e masculino

Sexo Número de

indivíduos

Feminino 31 (56,4%)

Masculino 24 (43,6%)

Total 55

Tabela 2– Número absoluto e porcentagem de indivíduos de escolas pública e privada

Tipo de escola Número de

indivíduos

Pública 27 (49%)

Privada 28 (51%)

Total 55

Figura 5–Frequência de eutrofia, obesidade, sobrepeso e risco de sobrepeso na amostra.

No que diz respeito ao uso de mídias antes de dormir, 32,7% não usaram e deles, 61% apresentaram IMCs adequados para a faixa etária; entretanto, somente 38,8% dos indivíduos com IMC aumentado tiveram o mesmo hábito. Na amostra, 67,3% usaram algum tipo de mídia antes de dormir e dessa porção, 29,8% são agrupados como excesso de peso.

Quando questionados a respeito de a criança possuir alguma mídia de acesso exclusivo dela, 56,4% tiveram resposta afirmativa e, desses, 67,75% tiveram renda superior a 3 salários

mínimos. Renda mensal superior a 5 salários mínimos foi observada em 36% das famílias questionadas e, dentre elas, 35% das crianças estavam com IMC acima da faixa preconizada.

Por outro lado, 37,7% das famílias apresentaram renda mensal inferior a 2 salários mínimos, sendo que apenas 20% das crianças tiveram excesso de peso.

Sonolência diurna foi presente em 16,36% das crianças e desse grupo, todos faziam uso de mídias antes de dormir, o que poderia indicar eventual influência aprendizado e na capacidade de concentração.

Conclusões

Os resultados demonstraram alta frequência de excesso de peso na amostra avaliada. Além disso, também se observou reduzido número de horas de sono em grande parte das crianças estudadas. Da mesma forma, se verificou número elevado de horas diárias de conexão.

Os dados indicam a necessidade de avaliar melhor a realidade a fim de elaborar estratégias mais eficazes para promover saúde através das adequações dos problemas abordados.

Tendo em vista que a obesidade infantil é uma doença de determinantes multifatoriais, ainda há dificuldades para estabelecer estratégias e ações para combatê-la, com demanda de uma ação multiprofissional e mais do que isso, intersetorial, a fim de incluir setores governamentais, profissionais de saúde, instituições de pesquisa e sociedade para que se possa almejar resultados mais significativos e diminua a perspectiva de um cenário negativo em relação às doenças cardiovasculares, por exemplo.

Referências

AFSHIN, A. et al. Health Effects of Overweight and Obesity in 195 Countries over 25 Years. New England Journal of Medicine, Boston, v. 377, n. 1, p. 13-27, jul. 2017. Disponível em: <https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa16 14362#article_references>. Acesso em: 10 jan. 2018.

DA COSTA, C. F. L. Questionários utilizados para avaliação do sono em pediatria: uma revisão sistemática. 2015. 21f. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2015. Disponível em: <http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/6148>. Acesso em: 17 dez. 2017.

ROCHA, L. M. Relação entre padrões de sono, concentrações de vitamina D, obesidade e resistência à insulina. 2016. 174f. Dissertação

(5)

(Doutorado em Clínica Médica)-Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016.

Disponível em:

<http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP /322651/1/Rocha_LianeMurari_D.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.

SALAHUDDIN, M. et al. Predictors of severe obesity in low-income, predominantly hispanic/latino children: The Texas Childhood Obesity Research. Preventing Chronic Disease, Atlanta, vol. 14, E141, dez. 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. (Brasil). Manual de Orientação. Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: <http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/20

16/11/19166d-MOrient-Saude-Crian-e-Adolesc.pdf >. Acesso em: 17 dez. 2017.

STYNE, D. et al. Pediatric obesity-

ass

essment, treatment, and prevention: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. New York, v. 102, n. 3, p. 709-757, mar. 2017.

Disponível em:

<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2835909>. Acesso em: 21 dez. 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Child Growth Standards. 2006 e 2007. Disponível em: <https://www.who.int/childgrowth/en/>.

Referências

Documentos relacionados

A técnica utiliza a aplicação de redes neurais, que é uma técnica que faz com um algoritmo funcione de uma maneira a imitar o cérebro humano (neurônios), na qual

Desenvolver uma coleção de acessórios a fim de lançar a marca RISE no mercado de moda autoral de Fortaleza-CE, aliando design contemporâneo e minimalista a bijuterias,

A presente pesquisa objetivou investigar como a política de governo eletrônico implementa a inclusão digital nos municípios da Região Metropolitana de Salvador (RMS).

Variáveis como a faixa de renda, que apontou atitudes mais positivas em maiores faixas de renda, ou a média das atitudes mais positivas de acordo com a

O Custeio Baseado em Atividade nas empresas de prestação de serviço, assim como na indústria, envolve os seguintes passos: os recursos consumidos são acumulados por

MELO NETO e FROES (1999, p.81) transcreveram a opinião de um empresário sobre responsabilidade social: “Há algumas décadas, na Europa, expandiu-se seu uso para fins.. sociais,

O sistema de custeio por atividades é uma metodologia de custeio que procura reduzir as distorções provocadas pelos rateios dos custos indiretos e fixos aos produtos e serviços.

Um teste utilizando observa¸c˜ oes de fra¸c˜ ao de massa do g´ as de aglomerados de ga- l´ axias e SNe Ia foi proposto por Gon¸calves, Holanda e Alcaniz (2012)[ 41 ]. Eles