• Nenhum resultado encontrado

VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR ISBN

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "VI ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA DEL SUROESTE PENINSULAR ISBN"

Copied!
23
0
0

Texto

(1)

Lancinha 3:

Uma necrópole islâmica nos limites da Kura de Beja

Adelaide Pinto*, Gonçalo Lopes* e Raquel Granja*

Resumo:

O sítio Lancinha 3 corresponde a uma necrópole de época islâmica, localizada na freguesia de Alfundão, concelho de Ferreira do Alentejo, onde se identificaram sete enterramentos e uma estrutura negativa. As inumações, em fossa muito estreita, a posição em decúbito lateral direito, juntamente com a orientação SO/NE, a face virada para SE e a ausência de espólio votivo, apresentam as características típicas dos enterramentos islâmicos. A intervenção da necrópole “Lancinha 3” permitiu confirmar arqueologicamente a existência (embora de forma indirecta) de povoamento rural em época Islâmica, questão de interesse no que diz respeito à geometria territorial da região de Beja.

Abstract:

“Lancinha 3” corresponds to an Islamic necropolis, located in the freguesia of Alfundão, into the municipality of Ferreira do Alentejo. Seven buried and a negative structure have been identified in this site. The burials, in many very narrow foses, the position in right lateral decubitus, together with the bodies orientation (SW/NE) with the faces turned to the SE and the absence of grave goods, show the typical characteristics of the Islamic tombs. The excavation in the necropolis “Lancinha 3” allowed to confirm the existence (even so in indirect way) of agricultural sites in Islamic times, that is an interesting question for the study of the territorial organization of the Beja region.

72

VI

ENCUENTRO DE ARQUEOLOGÍA

DEL SUROESTE PENINSULAR

(2)

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

No âmbito da implementação dos sistemas de rega, a EDIA, S.A. adjudicou a CRIVARQUE, Lda. os trabalhos de minimização de impactes sobre o Património Cultural decorrentes da execução do Bloco de Rega de Alfundão (Fig. 1). Foram desta forma intervencionados diversos sítios, de características e cronologias distintas, dizendo o presente respeito ao sítio Lancinha 3.

A ocorrência Lancinha 3 foi identificada no âmbito dos trabalhos de acompa-nhamento arqueológico realizados durante a abertura das valas para colocação do Adutor CPA, que colocaram a descoberto uma estrutura negativa, restos osteológicos e algumas sepulturas (Fig. 2). Seguiram-se os procedimentos habituais de minimização, tendo-se preconizado medidas de escavação arqueo-lógica, posteriormente alargadas.

(3)

Os trabalhos decorreram num período compreendido entre os dias 30 Julho e 13 de Agosto de 2009, com um uma equipa com um máximo de sete elementos coordenados por ambas as signatárias.

2. ENQUADRAMENTO

Administrativamente a ocorrência localiza-se no distrito de Beja, Concelho de Ferreira do Alentejo, freguesia de Alfundão, a cerca de um kilometro desta povoação (Fig. 3).

A implantação geográfica na Carta Militar de Portugal, folha nº 509 (à escala 1: 25.000), permite-nos verificar que se trata de uma área plana de cotas elevadas e sobranceira à Ribeira do Alfundão.

A área estudada, localizada na bacia hidrográfica do Rio Sado, situa-se no sul de Portugal continental, na região do Baixo Alentejo. O relevo têm as características gerais da peneplanície alentejana, aplanado ou ligeiramente ondulado, esporadi-camente interrompido por zonas um pouco mais acidentadas constituindo rele-vos de dureza residuais (FEIO 1951).

Geomorfologicamente, trata-se de uma área de plena peneplanície alentejana, unidade fundamental do relevo, encontrando-se, nesta zona, levemente disse-cada pela rede hidrográfica.

Do ponto de vista geológico enquadramo-lo no denominado Maciço de Beja, na unidade do Complexo Plutono – Vulcânico de Odivelas, que é constituída pelo Complexo Básico de Odivelas e dos pelos Gabros de Beja. O sítio em estudo encontra-se próximo de uma zona de contacto entre estas duas unidades, implantando-se concretamente no Complexo Básico de Odivelas. Este é consti-tuído nesta zona por basaltos e diabases, estando a sua distribuição e localização correcta um pouco indefinida. Na realidade, para esta zona do maciço de Beja

(4)

apenas as grandes unidades estão estabelecidas, sendo os seus limites no terre-no variáveis e a caracterização específica difícil de realizar, isto devido à ausência de cartografia detalhada.

O sítio Lancinha 3 localiza-se numa vasta área plana, sem acidentes geográficos de grande expressão, nem condicionantes visuais, entre várias linhas de água destacando-se a Ribeira do Alfundão, localizada a Norte.

3. INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA

De acordo com o preconizado pelo IGESPAR, IP e EDIA, S.A., foram implantadas seis sondagens arqueológicas de distintas dimensões de forma a escavar integralmente as estruturas identificadas. Esta intervenção decorreu em duas fases distintas, tendo-se numa primeira fase implantado três sondagens e numa segunda fase as restantes três, para além do alargamento de uma das anterior-mente referidas.

Foi assim implantada uma área de escavação, que totalizou 26,5 m, de acordo com o que pode ser observado na imagem (Fig. 4).

3.1. Estratigrafia

As seis sondagens arqueológicas realizadas revelaram a existência de sete enterramentos e uma estrutura negativa – silo, com uma estartigrafia simples e bastante afectada antropicamente.

Muito embora tenham sido recolhidas cerâmicas de construção romanas, nas coberturas das sepulturas, a deposição dos enterramentos em decúbito lateral direito e orientação SO/NE revelou estarmos na presença de uma pequena necrópole de época islâmica.

(5)

Sondagem 1

Na área a NE da sondagem identificou-se uma estrutcura negativa (UE 102), sem forma definida, escavada no afloramento (UE 101) e preenchida com um depósito (UE 103) de cor castanho claro, de matriz areno-argiloso e bastante misturado com caliços. Em associação a este depósito e à própria estrutura registou-se um depósito de imbrices (UE 104), em forma de cobertura, cortado pela (UE 105) (vala mecânica), sem qualquer forma definida, não tendo sido

Fig. 4.— Implantação no projecto das sondagens realizadas con as suas dimensões

Sond. Dimensão (m2) S1 2 x 3,5 m = 7 m2 S2 3 x 4 m + 1 x 1,5 m = 13,5 m2 S3 2,5 x 2 m = 5 m2 S4 1 x 1 m =1 m2 S5 1 x 1,5 m =1,5 m2 S6 2 x 1,5 m =3 m2

(6)

Fig. 5.— 1. Plano final da sondagem 1 (Enterramento 3); 2. Sondagem 2, com representação das três inumações

(7)

possível associa-lo à sepultura identificada posteriormente. As unidades atrás descritas correspondem certamente a um remeximento da área numa fase posterior ao enterramento que passamos a descrever e que foi identificado em ambos os lados da vala, quer a NE, quer a SO, encontrando-se assim cortado a meio.

A mistura dos sedimentos e a desagregação do afloramento, não permitiu facilmente a identificação á superfície da sepultura, tendo-se no entanto regista-do um depósito com características ligeiramente diferentes, ao qual chamamos (UE 106) e que envolveria a área próxima á sepultura (UE 107). Esta estrutura correspondente à Sepultura nº 3, encontra-se escavada nos caliços, com uma largura bastante reduzida e perfil em “U”. No seu interior identificou-se o Enterramento 3 (UE 108), envolvido num depósito de cor castanho, matriz arenosa e solta (UE 109). Tal como já foi referido a vala mecânica truncou sensivelmente a meio a deposição, tendo restado a SO o crânio e a NE parte dos membros inferiores (Fig. 5.1).

Sondagem 2

Esta sondagem inicialmente definida para uma área de 6 m2 com o objectivo de intervencionar um enterramento afectado pelos trabalhos mecânicos, cujos vestígios eram visíveis em corte, terminou com 13,5 m2 após vários alargamen-tos, que permitiram registar três sepulturas e respectivos enterramentos (Fig. 5.2).

Os trabalhos de escavação iniciaram-se logo após ser retirado mecanicamente o depósito superficial, que se encontrava bastante revolvido. Escavadas no afloramento – caliços (UE 201) identificaram-se três sepulturas e respectivos enterramentos, uma a SO (UEs 209 e 211) e as restantes duas a NE (UEs 203 e 204) e (UEs 206 e 213), com características e orientação idênticas, sendo que uma delas apresentava uma cobertura em lajes petreas (UE 207).

(8)

Sondagem 3

Esta sondagem foi implantada no lado SO da vala mecânica, de forma a intervencionar uma estrutura negativa – fossa, identificada em corte. Após o registo do referido perfil, iniciou-se a escavação do depósito de superfície (UE 301), definindo-se o topo da fossa, escavada no afloramento – caliços (UE 302). A estrutura (UE 304) de grandes dimensões apresenta um perfil em U e fundo plano e encontra-se preenchida por um só depósito sedimentar (UE 303) (Fig. 6). O depósito estéril arqueologicamente caracteriza-se pela cor castanho escura, matriz areno-argilosa, semi-compacta com nódulos de caliços.

Face aos parcos resultados obtidos não foi possível definir a funcionalidade desta estrutura negativa, nem a sua associação com a necrópole.

Sondagem 4

A implantação da Sondagem 4 decorreu da identificação em corte, já após se ter iniciado os trabalhos arqueológicos, de restos osteológicos. Foi assim definido como medida de minimização a escavação de uma sondagem de 1 x 1 m no lado SO da vala mecânica (UE 406), de forma a tentar intervencionar o máximo possível do enterramento.

Após a remoção do depósito sedimentar de superfície (UE 401) foi possível definir o topo da Sepultura nº 4 (UE 403), escavada no afloramento – caliços (UE 402). O interior da estrutura encontrava-se colmatado com um preenchimento sedimentar (UE 405) de matriz arenosa, solta e de cor bege, que envolvia o Enterramento nº 4 (UE 404). A inumação apresenta características semelhantes às já descritas anteriormente, com uma orientação de SO/NE, tendo sido possível somente recuperar parte de um crânio infantil (Fig. 7).

Fig. 7.— Perfil da vala mecânica onde foi identificado o Enterramento 4

(9)

Sondagem 5

Nesta sondagem com dimensões de 1 x 1,5 a estratigrafia revelou-se muito semelhante à identificada nas outras estruturas, tendo-se identificado logo abaixo da camada de superfície (UE 501) uma unidade sedimentar (UE 502) a preencher uma depressão no afloramento – caliços (UE 507). Esta unidade de matriz areno-argilosa e com frequentes nódulos de caliços, cobre uma estrutura petrea – cobertura (UE 504), em lajes de média dimensão, alinhadas no topo de uma sepultura. Denominada de Sepultura 6 (UE 503), apresenta-se semelhante às intervencionadas nas outras sondagens, com uma orientação SO/NE, largura bastante reduzida, cerca de 40 cm e cumprimento indeterminado, encontra-se truncada pelos trabalhos mecânicos (UE 505). No seu interior foi identificado o Enterramento nº 6 (UE 506), bastante afectado quer pelos trabalhos recentes quer por bioturbações mais antigas (Fig. 8.1).

Sondagem 6

À semelhança da sondagem descrita anteriormente, os trabalhos de minimização nesta área decorreram da identificação em corte de restos osteológicos no lado NE da vala.

Após a remoção da camada de superfície (UE 601), foi desde logo possível identificar o contorno de uma sepultura (UE 602) escavada no afloramento – caliços (UE 606), preenchida por um depósito sedimentar de cor castanho claro (UE 603), sendo igualmente visíveis algumas lajes petreas e alguns frag-mentos de opus signinum (UE 604), integrantes de uma cobertura já um pouco destruída.

A sepultura com orientação SO/NE foi bastante afectada pela vala mecânica (UE 607), tendo-se assim identificado na sua base apenas aos membros inferio-res de um indivíduo, correspondente ao Enterramento nº 7 (UE 605) (Fig. 8.2).

(10)

3.2. Morfologia das Sepulturas

As sete sepulturas identificadas encontravam-se escavadas directamente no substrato geológico e com características e orientação idênticas. Nenhuma das estruturas intervencionadas se encontrava completa, verificando-se uma afec-tação por parte da vala de obra parcialmente ou em uma das situações quase total.

Fig. 8.— 1. Plano da sondagem 5, onde se observa o Enterramento 6; 2. Plano da sondagem 6 – Enterramento nº 7

(11)

De um modo geral todas se encontram orientadas de SO/NE, oscilando entre os 210°-230° e 220°-240° e apresentam larguras muito reduzidas. Tratam-se de fossas alongadas e muito estreitas, com os topos arredondados e de pouca profundidade, embora suficiente para a deposição do morto em decúbito lateral direito (Fig. 9). Da totalidade das estruturas, duas apresentavam uma cobertura em lajes pétreas, bem organizada e uma apenas vestígios de uma possível cobertura, as restantes apresentavam uma simples cobertura em terra (Fig. 10). Em nenhuma delas foi identificado qualquer espólio votivo.

Verificou-se ainda uma organização do espaço, com as sepulturas escavadas a alguns metros umas das outras, sem que se tenha identificado qualquer sobreposição, embora a cotas distintas, situação que pode estar relacionada com a topografia do terreno na altura.

Dimensões aproximadas

Cumprimento entre 2 m e 1,5 m

Largura entre 20 cm e 40 cm

Profundidade cerca de 30 cm

(12)

3.3. Análise Bio-antropológica Enterramento 1

O Enterramento 1 (UE 204) foi identificado na sondagem 2 e corresponde a um adulto do sexo feminino, sendo que a idade foi atribuída essencialmente pela dimensão relativa dos ossos devido às epífises se encontrarem muito deteriora-das. O sexo feminino foi determinado através do coxal, com as medidas osteo-métricas também a apresentarem valores femininos. No que respeita às pato-logias, registou-se a presença de artrose ao nível do sacro e das vértebras lombares.

Embora incompleto, foi possível constatar que este enterramento foi depositado em decúbito lateral direito, numa fossa escavada no substrato geológico, com uma orientação 210°-230°. Os membros superiores encontravam-se estendidos, bem como os inferiores, não se tendo registado a presença de qualquer espólio votivo (Fig. 11.1).

Enterramento 2

Na sondagem 2 foi identificado um outro enterramento (UE 211), que por apresentar a crista ilíaca parcialmente fundida e o 3º molar por erupcionar foi considerado juvenil. Embora se tenha atribuído o sexo feminino ao indivíduo há que ter alguma precaução já que o mesmo não é adulto, não tendo por essa razão os indicadores sexuais totalmente definidos. Ao nível patológico foi registado desgaste oral de grau 1 com reabsorção alveolar do 1º molar inferior direito. No que respeita à antropologia funerária, este indivíduo encontrava-se também numa fossa bastante estreita escavada no geológico na mesma posição e orientação que o anterior. Ou seja, com os membros estendidos e orientado a 210°-230°, sem qualquer espólio votivo. Porém dado que o grau de completitude é francamente superior ao anterior foi possível observar que as mãos se encon-travam juntas à direita e que o crânio assentava sobre o lado direito (Fig. 11.2).

Fig. 10.— Plano representativo da cobertura pétrea da sepultura 6 (sondagem 5)

(13)

Fig. 11.— 1. Enterramento 1 (UE 204); 2. Enterramento 2 (UE 211); 3. Parte do Enterramento 3 (UE 108); 4.- Patologia oral identificada no Enterramento 3

1

2

(14)

Enterramento 3

Identificado na sondagem 1, este enterramento (UE 108) embora se encontrasse bastante incompleto, e fragmentado (Fig. 11.3), permitiu chegar à conclusão de que se estava perante um indivíduo adulto (pela dimensão relativa dos ossos, e pela presença de artrose ao nível cervical). Quanto ao sexo, ao observar o crânio concluiu-se que se tratava dum homem, conclusão esta corroborada também pela osteometria.

No que respeita aos dados patológicos, registou-se a presença de artrose ao nível da 2ª vértebra cervical e na articulação temporomandibular. Ao nível da cavidade oral constatou-se um desgaste acentuado, com presença de doença periodontal e reabsorção alveolar (Fig. 11.4)

Enterramento 4

Este enterramento (UE 404) está muito incompleto, já que a maior parte dele foi destruído aquando dos trabalhos de acompanhamento arqueológico. Também o periósteo se encontra bastante alterado, o que em parte se deve às elevadas temperaturas a que esteve sujeito desde que foi posto a descoberto até ao momento da sua exumação (Fig. 12.1).

A determinação da idade à morte efectuada a partir dos dentes indicou que o indivíduo haveria de possuir cerca de 12 anos, pois apesar do 2º molar definitivo já estar erupcionado ainda tinha os molares deciduais presentes. Dada a idade jovem, não foi possível fazer a diagnose sexual. As conclusões ao nível da antro-pologia funerária, também foram bastante condicionadas pelo mau estado de preservação. Porém é possível referir que o crânio se encontrava elevado com a face direita sobre o solo, e que o indivíduo aparentava estar com uma orientação de 210°-230°.

(15)
(16)

Enterramento 5

Esta inumação (UE 213), foi igualmente identificada na sondagem 2 e encontrava-se em decúbito lateral direito numa fossa escavada no geológico, orientada a 220°-240°. Apresentava a face direita sobre o solo os membros, superiores e inferiores, estendidos sem qualquer espólio votivo associado (Fig. 12.2). Quanto à idade à morte este indivíduo seria um adulto (com epífises fundidas e 3º molar erupcionado), e do sexo feminino (coxal, crânio e parte da osteometria). Ao nível patológico apenas há a referir a presença de espigas laminares desde a segunda à décima segunda vértebras torácicas, e ausência de artrose.

Enterramento 6

Este indivíduo (UE 506, sondagem 5) para além de ter sido cortado no decurso dos trabalhos de acompanhamento, foi perturbado ao nível do tronco possivelmente por um pequeno animal.

Tratar-se-á dum indivíduo adulto com o 3º molar erupcionado, sendo que os seus indicadores sexuais apontam para o sexo feminino (coxal e osteometria), não tendo sido detectadas manifestações patológicas relevantes. Encontrava-se em decúbito dorsal, embora com uma torção ligeira à direita. A sua orientação era de 240°-260°, apresentando a mão esquerda na cavidade púbica e o braço direito estendido, assim como os membros inferiores (Fig. 12.3).

Enterramento 7

O enterramento 7 (UE 605), identificado na sondagem 6, corresponde a uma inumação representada apenas pelos seus membros inferiores, visto ter sido destruída mecanicamente aquando dos trabalhos de acompanhamento arqueológico. Pelas dimensões relativas aparenta tratar-se de um adulto, que

(17)

Robustez Índice pilástrico Índice planimétrico Índice de achatamiento

Ind. Idade Ind.

Etárico Sexo Ind. sexual

Estatura

(cm) Úmero

Fémur (valor

medio 20) Fémur Fémur Tíbia

1 Adulto DI R F osteometria - - - médio hiperplatimetría

achat. ap. mesocnémico achat. ligeiro E 158,00 - 18,12 fraco hiperplatimetría achat. ap platicnémico achat. transv. D

2 Adulto DI R F coxal - crânio

osteometria - - - fraco hiperplatimetría achat. ap. platicnémico achat. transv. E 158 - 18,12 nulo hiperplatimetría achat. ap. platicnémico achat. transv. D

3 Adulto DI R M crânio - - - eurincémico

diáf. redonda E

osteometria - - - eurincémico

diáf. redonda D

4 Juvenil DENTIÇÃO I - - - E

12 anos - - - D

5 Adulto DI R F coxal - crânio

osteometria 155,76 - 20,49 nulo eurimérico

mesocnémico achat. ligeiro E

3M ERUP 155,76 - 20 fraco platimérico eurincémico

diáf. redonda D

6 Adulto DI R F coxal - - - nulo hiperplatimetría achat. ap E

osteometria - - - nulo hiperplatimetría achat. ap D

7 Adulto DI R F osteometria - - - eurincémico

diáf. redonda E

- - - eurincémico

diáf. redonda D

segundo a osteometria será do sexo feminino, não tendo sido detectadas quaisquer lesões patológicas. A posição em que as pernas se encontravam era em decúbito lateral direito com uma orientação de 240°-260°, sem que se tivesse identificado a presença de qualquer espólio votivo (Fig. 12.4).

(18)

Concluímos assim que a presente intervenção permitiu exumar sete indivíduos, seis adultos e um juvenil com cerca de 12 anos de idade. Os indivíduos adultos são todos do sexo feminino à excepção de um que é do masculino. Ao nível da estatura foram obtidos os valores de 158 e 155 cm, sendo de chamar a atenção que os comprimentos dos ossos longos foram obtido em campo a partir do negativo do osso. Já que na maior parte dos casos as epífises não se enco-ntram presentes devido aos factores tafonómicos, nomeadamente à natureza do sedimento. Ainda no que se refere à tafonomia há a referir que todos os ossos apresentam o seu periósteo algo erodido e em alguns casos com deposições de concreções calcárias provenientes do contacto directo do solo com o osso. Ao nível patológico para além de espigas laminares na maior parte das vértebras torácicas dos enterramentos 2 e 5, foi identificada a presença de patologia degenerativa nas duas primeiras vértebras cervicais do Enterramento 3 (UE 108) (Fig. 13).

O achatamento dos ossos indica que os indivíduos recorriam à marcha ao longo de toda a sua vida. Contudo seria de esperar a existência de inserções musculares consentâneas com essa hipótese, o que não se verificou. Talvez devido a uma eventual idade jovem, ou ao facto do periósteo se encontrar algo alterado pelo factores tafonómicos (Fig. 14).

4. CONCLUSÕES

A intervenção no sítio Lancinha 3 resultou na identificação e exumação de sete inumações: cinco adultos e dois juvenis. Sendo que dos cinco adultos quatro são mulheres, e um é homem.

A posição em decúbito lateral direito estendido em parte dos enterramentos, juntamente com a orientação (SO-NE) e a face virada para SE, a simplicidade das estruturas funerárias, a ausência de espólio votivo, com as sepulturas em fossa e

(19)

a decomposição em espaço fechado, segundo Le Bars (2008) são tudo caracte-rísticas típicas de enterramentos islâmicos. Contudo a natureza da intervenção não permitiu que se percebesse os limites do espaço sepulcral (a sua dimensão), e de que forma a necrópole se distribuiu pelo território.

Para além dos resultados acima descritos, a intervenção arqueológica no sítio “Lancinha 3” envolve questões de interesse, no que diz respeito ao processo de Islamização do território de Beja. “A história do Gharb al- Andalus não escapa …a um velho e nunca inteiramente resolvido problema: de que forma se islamizou o Andalus?” (Macias 2005).

Na Kura de Beja há em simultâneo elementos de continuidade com o passado da Antiguidade tardia que coexistem com factores de ruptura. Do ponto de vista da reorganização administrativa ocorre um decalque aproximado da kura de Beja e do espaço dependente da civitas romana. A ocupação do espaço rural romano onde os vici as villae ou os simples casais com um mero carácter habitacional ou agrícola se revestem de particular importância vai manter-se certamente com a chegada dos árabes. No entanto, acerca deste assunto poucos dados nos chegam, o registo arqueológico é efectivamente parco no que respeita a vestígios desta época.

Na totalidade da freguesia de Ferreira do Alentejo, considerada como território rural da civitas Romana, e à luz dos actuais conhecimentos conhecem-se apenas duas ocorrências arqueológicas de época islâmica, sendo uma delas a necrópole em análise, que até ao momento não apresenta qualquer indicador cronológicos mais preciso. A outra ocorrência referida diz respeito a um testemunho oral, sem confirmação física, que nos fala do aparecimento de moedas árabes e vestígios romanos, numa área conhecida localmente por Alfundana. Esta ocorrência encontra-se inventariada como “Monte da Cassapa” (CNS 28969). Já no que diz respeito aos sítios de cronologia romana, eles são de facto, nesta área frequen-tes, existindo algumas ocorrências na envolvente próxima.

(20)
(21)

Os cemitérios islâmicos são áreas marginais por excelência, quer por imposição religiosa, quer por questões sanitárias. Salvo raras excepções nunca partilham o mesmo espaço com os vivos. Por este motivo são sempre indicadores da proxi-midade de um povoado e, mais importante da dimensão ou ritmo de cresci-mento desse povoado, por regra em directa proporção.

No caso de Lancinha 3, embora não seja possível confirmá-lo de momento, a situação será idêntica à de outros sítios tratando-se certamente da área de necrópole de um pequeno povoado/alcaria. Obviamente, os limites da obra impõem restrições à compreensão global do sítio e fica por averiguar a sua verdadeira extensão. No entanto, traz alguns dados relativamente à dispersão do povoamento rural islâmico na kūra de Beja embora sem qualquer indicador cronológico.

(22)

BIBLIOGRAFÍA

ALARCÃO, J. (1974): Cerâmica Comum Local e Regional de Conímbriga. Suplementos de Biblos 8. Coimbra.

BRUZEK, J. (2002): “A method for visual determination of sex using the human hip bone”. American Journal of Physical anthropology 117: 157-168.

CUNHA, E. (1994): Paleobiologia das Populações Medievais Portuguesas. Os casos de Fão e S. João de Almedina, (Tese de Doutoramento inédita. Universidade de Coimbra). Coimbra.

FEIO, M. (1951): A evolução do Relevo do Baixo Alentejo e Algarve. Lisboa: 20-92.

FEREMBACH, D., SCHWIDETZKY, I. y STLOUKAL, M. (1979): “Recommendations for age and sex diagnoses of skeletons”. Journal of Human Evolution 9: 517-549.

HARRIS, E.C. (1991): Princípios de Estratigrafia Arqueológica. Barcelona.

LE BARS, D. (2008): “Étude archeo-anthropologique de la nécropole musulmane de Rossio do Carmo, Mértola: bilan des fouilles anciennes (1981-1990)”. Arqueologia Medieval 9: 233-259.

LOPES, M.C. (1996): “O território de Pax Iulia, Limites e Caracterização”. Arquivo de Beja (3ª série) 2 (3): 63-74. LOPES, M.C. (2003): A cidade romana de Beja. Percursos e debates acerca da civitas de Pax Iulia. Coimbra.

MACIAS, S. (2005): “Islamização no território de Beja. Reflexões para um debate”. Análise Social XXXIX (173): 807-826.

MATOS, F. et al. (2008): Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução dos Blocos de Rega de Alfundão e Respectiva Adução, Anexo 9 – Património: Apêndice 9.1, Relatório Final, (Relatório inédito. IGESPAR). Lisboa.

MENDONÇA, M.C. (2000): “Estimation of height from the lengt of long bones in a portugese adult population”. American Journal of Physical Anthorpology 112: 39-48.

(23)

OLIVIER, G. y DEMOULIN, F. (1990): Pratique anthropologique à l'usage des étudiants. I. Osteologie. Paris. OLIVEIRA, J.T. (1992): Carta Geológica de Portugal 1/200000, folha n.º 8. Lisboa.

SCHEUER, L. y BLACK, S. (2000): Developmental Juvenile Osteology. London.

WASTERLAIN, S.N. (2000): Morphé: análise das proporções entre os membros, dimorfismo sexual e estatura de uma amostra da colecção de esqueletos identificados do Museu Antropológico da Universidade de Coimbra, (Tese de Mestrado inédita. Universidade de Coimbra). Coimbra.

Referências

Documentos relacionados

Sendo assim, este estudo buscará identificar, em algumas empresas de construção civil da Região Metropolitana de Recife, quais são suas ações, em relação ao gerenciamento

Promoção de projetos que envolvam o desenvolvimento de processos, materiais, produtos ou sistemas sustentáveis e inovadores com maior valor acrescentado para a indústria e a

Outra opção é chamar um artigo já programado de uma das duas formas possíveis (ter em conta que deverá estar pelo menos um artigo programado,(consultar manual de programação).

tr an spar ência pingue-pongue ac ont ec hist ória de vida funbep em n úmer os Abertura Contém a Mensagem da Diretoria, algumas das principais atividades do Funbep durante o

Enquanto a criminologia clássica vislumbra o crime como um enfrentamento da sociedade pelo criminoso (luta do bem contra o mal), numa forma minimalista do problema, a criminologia

No entanto, concluímos que dependendo do interesse de cada pesquisador a preparação de esqueletos por intermédio de dermestídeos pode ter fins científicos, onde

A melhor maneira de se implementar um programa de aperfeiçoamento de professores no IF- UFRJ parece ser via um curso de mestrado de caráter profissional em Ensino de Física..