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SISTEMA DE PODER NO CANDOMBLÉ

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Academic year: 2021

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SISTEMA DE PODER NO CANDOMBLÉ

Diego Miranda do E. Santo1 Priscila Lima de Castro2

Resumo: Essa pesquisa, que iniciou em uma Feira do Livro realizada no Hangar - Centro de Convenções Amazônia em Belém do Pará, teve como principal objetivo auxiliar o professor de Ensino Religioso e o graduando na área de Ciências da Religião a produzir seu próprio material didático. Não existem muitos materiais mostrando as diversas religiões, e alguns desses materiais são tendenciosos, desviando-se dos objetivos da proposta do Ensino Religioso que deveria ser mostrar, com atividades pedagógicas, a diversidade de religiões existentes no Brasil e no mundo. Trabalharemos de forma sistemática, iniciando pelo contexto histórico até a questão do sincretismo.

Palavras-Chave: educação, papéis feminino e masculino, orixás, conhecimento.

Introdução

Vieram da África para o Brasil, na segunda metade do século XV, representantes de diferentes etnias e diferentes sistemas religiosos e culturais, não por interesses humanitários e sim comerciais. Chegaram os negros ao Brasil por meio do tráfico fluente e com eles chegou também uma das religiões afro-brasileiras, mas conhecida na atualidade como Candomblé, que se origina do termo Kandombile, que significa culto e oração. Bem diferente da imagem errônea que as pessoas têm nos dias de hoje.

Esse modelo de religião encontrou no Brasil facilidade em disseminar seu processo religioso, trazendo, na sua essência, suas histórias, costumes e cultura material com a finalidade de realizar uma aliança com o sagrado.

Dentro do Candomblé as atividades são parcialmente equilibradas entre homens e mulheres, onde os conhecimentos são transmitidos oralmente e acompanhados na prática.

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Graduado em Ciências da Religião pela Universidade do Estado do Pará. E-mail: diegomiranda20@hotmail.com

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Graduanda em Ciências da Religião pela Universidade do Estado do Pará E-mail: priscilakastro@yahoo.com.br

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Como pesquisadores da área de Ciências da Religião, observamos que há uma carência de materiais que auxiliem o professor de Ensino Religioso na sala de aula. E por isso, através dessa nossa pesquisa o profissional ou futuro profissional da área terá mais subsídios para a construção de seus próprios materiais.

[...] a instituição do candomblé, centenária e fortalecida, polariza não apenas a vida religiosa, mas também a vida social, a hierárquica, a ética, a moral, tradicional verbal e não-verbal, o lúdico e tudo, enfim, que o espaço da defesa conseguiu manter e preservar da cultura africana no Brasil. (LODY, 1987, p. 10) N Neesstteettrraabbaallhhoopprreetteennddeemmoossmmoossttrraarrddeeffoorrmmaa ssiisstteemmááttiiccaaccoommoo oosspprrooffiissssiioonnaaiissee e essttuuddaanntteess ppuuddeerraamm ccoonnhheecceerr mmaaiiss uumm ppoouuccoo ssoobbrree oo CCaannddoommbblléé ee qquuee ooss mmeessmmooss p poossssaamm nnoo ffiinnaall sseerreemm ccaappaazzeess ddee ccrriiaarr ssuuaa pprróópprriiaa lliitteerraattuurraa ppaarraa ttrraabbaallhhaarr ccoomm ooss a alluunnoossddooEEnnssiinnooFFuunnddaammeennttaall.. Contexto Histórico

Os estudos sobre a África e as culturas africanas têm ganhado espaço nas últimas décadas. No Brasil esse estudo começou, basicamente, com Nina Rodrigues em fins do século XIX, na Bahia. Depois dele veio Arthur Ramos, no começo do século XX. Foram esses os dois grandes autores que escreveram sobre os africanos em nosso país. Seus estudos foram incorporados por grandes historiadores que trataram do período colonial, como Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior. Ambos os autores foram pela linha do cruzamento de raças, pela miscigenação, para entenderem a formação da nacionalidade brasileira. Segundo estes dois autores, essa mistura aconteceria por causa da capacidade do português de se misturar com outras raças, como diz Caio Prado Júnior: “a mestiçagem, signo sob o qual se formou a etnia brasileira, resulta da excepcional capacidade do português em se cruzar com outras raças”. Mas esta mistura não é apenas étnica, é também cultural. Porém não existe uma única cultura africana e nem uma única cultura indígena. Essa era uma visão que os europeus tinham desses povos. O mesmo Caio Prado nos informa isso: ”os povos que os colonizadores aqui encontraram, e mais ainda os que foram buscar na África, apresentam entre si tamanha diversidade que exigem discriminação”.

É preciso entender que não foi uma cultura africana que atravessou o Atlântico, mas várias. Foram diversos grupos étnicos, misturados pelos portugueses, diversas nações de africanos que vieram traficados para o Brasil Colônia. Com isso em mente vamos tentar entender os meios pelos quais essas culturas sobreviveram e moldaram a sociedade colonial – consequentemente a nossa também.

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O aspecto cultural que mais me chama a atenção, e no qual me deterei, é o candomblé. Essa prática religiosa existe até hoje, principalmente na Bahia. É fácil pensar que os africanos se adaptaram para sobreviverem no Brasil Colônia e que para isso modelaram sua cultura, mas não podemos nos esquecer que não havia apenas uma cultura africana no Brasil Colônia. Além disso, temos que prestar atenção na relação das diversas culturas africanas entre si e com as culturas indígenas e portuguesas. Assim, vamos buscar a origem do candomblé em meio a essa “pluralidade de fragmentos culturais”.

Mintz e Price escreveram “O nascimento da cultura afro-americana”, livro no qual buscam entender, entre outras coisas, como se deu o contato entre uma cultura africana e outra européia. Eles defendem que não há uma cultura africana homogênea, como é possível dizer com relação à portuguesa ou à espanhola, mas que deve haver algum traço que seja comum a todas as culturas africanas. Seria uma “herança cultural africana, largamente compartilhada pelas pessoas importadas por uma nova colônia”; em seguida a esta passagem os autores dão um exemplo interessante, o qual reproduzirei conforme descrevem: “[...] os iorubanos 'deificam' seus gêmeos, envolvendo a vida e morte deles num ritual complexo, enquanto seus vizinhos ibos destroem sumariamente os gêmeos no nascimento” e seguem afirmando que “ambos os povos parecem reagir a um mesmo conjunto de princípios subjacentes, muito difundidos, que dizem respeito à significação sobrenatural dos nascimentos incomuns”.

Levando em consideração que os escravos importados, ou traficados, não vinham de uma mesma região da África e nem tinham a mesma cultura, então como explicar traços predominantes de determinadas culturas nas colônias americanas? É uma questão complexa, mas que pode ser respondida da seguinte maneira: supondo que nasçam gêmeos (para usar o mesmo exemplo) na senzala de um senhor de açúcar da Bahia, um acontecimento que requer um ritual, e só há um sacerdote iorubá naquela senzala capaz de fazer o rito. Então esse ritual será feito conforme os seus costumes, mesmo que a maioria dos africanos de lá não sejam iorubanos. A necessidade de fazer o rito é mais importante do que a maneira como ele é feito, pois há uma herança cultural comum.

Essa idéia será desenvolvida por Luis Nicolau Parés, em seu livro intitulado “A formação do candomblé – história e ritual jeje na Bahia”. Um tema que o autor desenvolve muito bem e que penso ser de extrema relevância é a passagem do que ele chama “nação étnica” para “nação de candomblé”. O tema trata justamente dessa questão de múltiplas nacionalidades que têm uma herança em comum e, no caso, um presente também comum – que é a escravidão.

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O termo nação foi utilizado pelos portugueses para diferenciarem os grupos étnicos de escravos, que acabaram por incorporar essa distinção européia nas suas relações. Na segunda metade do século XIX, o tráfico de escravos é proibido e há um decréscimo de africanos no Brasil. Dessa forma as distinções étnicas (de nações) que os senhores faziam “deixaram de ser operacionais para a classe senhorial”, mas “elas persistiram entre os africanos e seus descendentes crioulos no âmbito de suas redes de solidariedade familiar e, sobretudo, de práticas religiosas”.

Iniciação

A iniciação é algo imprescindível não somente para o Candomblé, mas para qualquer religião. Pois a iniciação é a porta de entrada da divindade. Ou seja, é o momento onde o corpo está sendo preparado para recebê-la.

A iniciação é a sustentação social do candomblé e das religiões. É por isso que as religiões precisam de renovado fluxo de noviços jovens, para garantir a energia e o axé.

O compromisso estabelecido na iniciação é irreparável. Uma vez passando pelos ritos iniciáticos, jamais poderá voltar.

Nessa entrada, nesse inicio de tantos compromissos, o noviço geralmente é alertado para seus futuros encargos, de modo que, conscientemente, se faça a passagem da vida não religiosa para o âmbito do axé (LODY, 1987, p. 27).

A iniciação acontece muitas das vezes por motivos sociais ou, melhor dizendo, por problemas sociais. Algumas pessoas vão buscar o candomblé para a cura de doenças e acabam se identificando com a religião. Outras vão por curiosidade de descobrir os segredos mantenedores da religião.

Não é nada fácil ser um noviço, que passa por um estágio duro e, diria, até cruel. São muitos os testes pelos quais o iniciado deve passar. Às vezes esses testes exigem quase que uma vocação para a vida religiosa.

As condições em que se processam as passagens irão variar de acordo com os modelos das nações de candomblé. Certos terreiros suavizam os preceitos, enquanto outros obrigam o noviço a passar por situações inimagináveis.

Sem dúvida, está na iniciação o elemento de coesão do grupo, pois todos os que se submeteram aos rituais sabem o quanto é necessário de vontade e de crença para conseguir penetrar na nova vida, a vida do axé.

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Tudo para o noviço é novo: a partir desse momento ele tem uma nova vida, mantida pelo axé. E essa nova vida vai refletir, na sua vida cotidiana, na sua casa, no seu trabalho, nos momentos de lazer.

Como observamos, a iniciação é um elemento de coesão social do grupo que o noviço resolveu entrar. E depois de conhecidos os deuses tutelares revelados pelo estado de santo e confirmado pelo jogo de búzios, e já de posse das contas lavadas, a abiã se submete ao segundo momento da sua entrada no axé. Esse momento consiste no oferecimento de comida a sua cabeça, em cerimônia chamada bori. Tudo é preparado rigorosamente dentro do cardápio do orixá, estando presentes alimentos cozidos, fritos e crus. Tudo tangerá a cabeça da abiã, e o sangue de alguns animais imolados, aí derramado, inicia a definitiva aliança de sujeições, compromissos e comportamentos ditados pelos princípios da nação de candomblé.

Tudo acontece com a iniciada em estado de santo, sendo que, na realidade, quem recebe todos os oferecimentos não é a pessoa, mas o orixá. À iniciação começada segue-se uma rotina que somente acrescentará ao noviço elementos que culminarão com a cerimônia chamada Saída de Iaô, Dia do Nome, Dia do Oruncó ou Nome do Santo.

O dia da noviça começa de madrugada, com os banhos do abo. Ela recebe alimentação especial e, no período da tarde, passa por um aprendizado de danças e posturas rituais que deverá cumprir. Um desses rituais é incluir o adoxu sobre sua cabeça.

O adoxu é posto no topo da cabeça, sendo ainda acrescido de uma pena de galinha d’angola. O adoxu sacraliza a cabeça, anunciando que aquela cabeça é então intocável. O orixá já está morando nela. (LODY, 1987, p. 30).

O Orixá recém-feito demonstra suas qualidades, dançando suas músicas especiais. Em seguida é recolhido para passar os dias complementares da feitura

Distribuição e controle do poder

O Candomblé, enquanto elaborado sistema de poder, assume um valor articulador com a sociedade complexa e, ao mesmo tempo, suas hierarquias só serão realmente fortalecidas se o controle for eficaz no âmbito econômico.

O candomblé é uma religião cara. Compreende todo um conjunto de festas que se estendam por vários dias de comemorações públicas, distribuindo-se entre os presentes, ao concluir-se o toque, muita comida, procedente dos animais sacrificados nos rituais

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privados. As roupas são quase sempre novas, exigindo muitos materiais complementares em metais, palha-da-costa, búzios e contas, entre outros.

Os ogãs que executam a música instrumental recebem sempre algum dinheiro; há ainda outros gastos com manutenção dos prédios, incluindo pintura, reparos na arquitetura e consumo de luz elétrica, com flores e mesmo pagamento de fotógrafo para registrar a “beleza que é a festa”.

As mulheres tradicionalmente conseguem dinheiro com a venda de alimentos nas bancas ou quitandas de rua, oferecendo, nos seus tabuleiros, quitutes básicos à base de azeite-de-dendê, tais como o acarajé e o abará, além de doces feitos de milho, como o lelê. Ainda incidem, em grande número, as costureiras, bordadeiras e empregadas domésticas.

Os homens ou são artesãos diversos, como pedreiros e marceneiros, ou são barbeiros e vendedores em feiras e mercados, ou ainda ocupam categorias diferenciadas, como estivadores do cais do porto. Essa ultima profissão, permitia o acesso dos produtos vindo da África com um preço mais em conta para os terreiros.

Papéis: feminino e masculino

Por ser o candomblé um elaborado conjunto de serviços que vai da construção artesanal de objetos ritual-religiosos até a execução de música instrumental com o trio de atabaques, agogôs e cabaças ou afoxés, necessita de rígida divisão de tarefas, que devem ser cumpridas no cotidiano dos terreiros ou nos momentos de maior concentração.

Transgredir as determinações que impõem os limites de ser homem e do ser mulher nos postos de mando e hierarquia de cargos é romper a unidade religiosa, com consequências inclusive sobre o axé, ponto intocável e fonte geradora de toda engrenagem da temporalidade e das intervenções dos deuses no poder dos homens.

Não há, em principio, uma dominação masculina ou feminina evidente. Os trabalhos são parcialmente equilibrados nas tarefas prescritas para homens e mulheres. Embora o candomblé reproduza situações machistas, estas são atenuadas pela existência de cargos em que as mulheres são insubstituíveis.

Cada tarefa no candomblé, independente da nação, é alvo de um aprendizado sistemático, orientado por pessoas mais velhas, experientes e altamente conhecedoras de cada mister. Assim, a iniciação religiosa integra-se ao aprendizado especializando-se para cada função que o noviço receberá após a passagem da vida comum para o axé,

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visto aí novamente como o elo insubstituível dos deuses com os homens em tudo aquilo que ele ocupa, faz ou conhece dentro e fora do terreiro.

Conhecimento

A transmissão dos conhecimentos é oral e acompanhada da prática, vivenciando-se todas as etapas de cada atividade. Cozinhar, por exemplo, é tarefa feminina, e o candomblé, sem seus alimentos, não pode funcionar.

Assim o axé é revigorado, e todos os homens e mulheres que o compartilham também estão nutridos, mas em outra dimensão.

É tarefa exclusiva dos homens a música instrumental, sendo que o vocal poderá ser dividido com as mulheres, no entanto isso pode variar de nação para nação. Como o candomblé foi trazido da África por negros, esses negros vieram de países diferentes trazendo apenas suas culturas e tradições. Uma nação de candomblé identifica-se pela maneira como realiza seus rituais, pela língua do ritual, pelo conjunto de mitos nos quais baseia seus ritos, pela maneira como toca seus tambores. Por exemplo, O candomblé que se autodenomina “de nação Ketu”, é o candomblé descendente dos cultos religiosos da região Sudanesa, de cultura yorubana. Neste culto, os deuses são chamados de orixás e representam forças da natureza como o ar, o vento, o fogo e outros. Existem três tipos de nações Ketu o qual já falamos acima, nação Angola e a nação Jeje.

O longo caminho de cada aprendizado pode levar uma vida inteira, tantos são os detalhes, sutilezas e informações que só transmitem após o cumprimento de novas obrigações religiosas, quando as pessoas passam a ganhar confiança, intimidade e, por conseguinte, conhecimento da religião.

Outro encargo fundamental, no entanto, ainda está na mão dos homens, por exemplo, o de olossãe, sacerdote que conhece as folhas indispensáveis para o uso litúrgico e para o uso medicinal. Ou ainda, o cargo de oxogum, responsável pelo sacrifício de animais.

Uma tarefa também muito particular é a da iá efum, mulher encarregada das pinturas corporais nas iniciações religiosas. Ela deve saber todos os detalhes, como cores e desenhos, para identificar visualmente o noviço e seu deus tutelar. É tarefa fundamental nos ritos de iniciação.

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Educação

O que norteia a educação no candomblé é o principio da hierarquia e da disciplina. O que é a hierarquia senão o respeito aos mais velhos? É infelizmente, um principio que está se perdendo, nos dias de hoje, na educação dos filhos.

O candomblé, com o que ele chama de hierarquia, de educação, de princípio, da convicção de que a sabedoria está no mais velho e de que, conseqüentemente, a ele se deve dedicar todo o respeito, vem na contramão da moda de “culto aos jovens”, que proclama que “o jovem é que tem a vez, o velho não está com nada”. O que resultou disso foi uma inversão de valores. Os jovens se orgulham de roubar, de grafitar, de ser nocivos à sociedade. Se não tomar cuidado o candomblé já era.

A educação, em se tratando do candomblé, é uma disciplina, uma doutrina a partir do momento em que entra no axé para se aprofundar nos princípios, quando então o jovem recebe a educação, aprende a rezar, a tomar benção aos mais velhos, a respeitar o próximo não só ali no axé, como em qualquer lugar. (OLIVEIRA, 2003, p.48)

A educação é o princípio, o respeito ao próximo em toda a circunstância. A expressão de educação está no respeito à individualidade do outro, na conciliação entre o livre-arbítrio e a convivência dos diferentes sem que um pretenda tomar o espaço do outro.

Sincretismo

Os deuses africanos estão imediatamente relacionados aos santos católicos, em tal extensão e profundidade que as categorias denominadas como orixás, vodum, inquice e caboclo são indistintamente chamadas de santos.

Missas católicas são rezadas a pedido dos filhos e mães-de-santo. Na maioria dos casos, a missa católica é indispensável a um ciclo de festas, como na conclusão do período de iniciação de uma iaô, no fim de obrigações fúnebres e na comemoração de dias de santos que têm vínculos históricos com os terreiros.

Inicialmente, parece uma duplicação da fé, porém o que ocorre é uma soma. Muitos adeptos dos candomblés reconhecem nitidamente os limites entre o santo católico e o deus africano.

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É difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos deuses africanos. (VERGER, 1981, p. 26).

Indústria do Candomblé

Distanciados dos núcleos fortalecidos pelo conhecimento religioso e pelo poder econômico, boa parcela dos candomblés é deficitária em sua composição de sacerdotes. Adotando uma nação complementar, alugam serviços de especialistas imprescindíveis aos rituais religiosos. Assim, posso citar casos de terreiros que, por ocasião de feitura de barco de iaôs (grupos de iniciadas), convocam, mediante pagamentos preestabelecidos, ogãs para funcionarem como axoguns, equédis (auxiliares femininas de alto status religioso) para ajudarem na criação dos noviços. Os pagamentos são substanciais, fazendo com que existam verdadeiras equipes móveis, circulando pelos candomblés, como prestadoras de serviços e vivendo exclusivamente dessas tarefas.

Na verdade, isso é almejado para assentar o pleno poder, sua garantia e fixação. Assim, passa a imagem de que o humano se projeta no divino, o orixá, dono e verdadeiro conhecedor do axé.

Considerações finais

O aluno deve lembrar que o longo caminho de cada aprendizado pode levar uma vida inteira, tanto são os detalhes, sutilezas e informações que só se transmitem após o cumprimento de novas obrigações religiosas, quando as pessoas passam a ganhar confiança, intimidade e, consequentemente, conhecimento da religião.

Uma coisa muito importante para sermos ser pessoas que respeitam a religião do outro: saber que todas as religiões são importantes e que todas elas têm um significado para seus adeptos. No Brasil, apesar de ser um país de maioria católica, também possui grande diversidade de religiões e que uma boa parte delas são afro-descendentes e, como bem sabemos, a igreja católica passou uma tinta em nossas mentes: por isso, consideramos tais religiões como demoníacas, e isso não é verdade. Se você for para a África, verá despachos nas esquinas das ruas assim como você vê na sua cidade; a diferença é que esses despachos não têm nada a ver com o demônio, mas sim, uma oferenda aos Orixás; entretanto aqui no Brasil a coisa funciona diferente quando você vê um despacho, procura você passar longe. Muitas coisas nessa vida só nos prejudicam

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porque não conhecemos, pois a partir do dia que as pessoas conhecerem a essência do candomblé muitos tabus serão quebrados.

Referências

AS CRENÇAS AFRO-BRASILEIRAS: Continuação. Disponível em <http://www.topgyn.com.br/conso29a/conso29a17.htm > Acessado em: 05/12/07.

A CULINÁRIA DOS ORIXÁS. Disponível em <http://www.mamaafrica.com.br/oferendas.shtm > Acessado em: 05/12/07

CARTA manuscrita arquivada na Biblioteca do Estado de Pernambuco, transcrita em nota de rodapé, por Robert C. Smith, “Décadas do Rosário dos Pretos”. [S.n., s.d.].

DOCUMENTOS DA IRMANDADE”. In: Arquivos, Prefeitura Municipal de Recife, 1º e 2º números – 1945-1951. Diretoria de Documentação e Cultura.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo, Global Editora, 2003.

MINTZ e PRICE, Sidney e Richard. O Nascimento da Cultura Afro-Americana: uma perspectiva antropológica. Rio de Janeiro: Pallas / Universidade Cândido Mendes, 2003 LIMA, Vivaldo Costa. As dietas africanas no sistema alimentar brasileiro. In: CAROSO, Carlos & BACELAR, Jefferson. Faces da tradição afro-brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. Rio de Janeiro: Pallas, 1999, p. 319 –326.

OLIVEIRA, Rafael Soares (org.). Candomblé: diálogos fraternos contra a intolerância religiosa . Rio de Janeiro: DP&A, 2003

OS MISTÉRIOS E LENDAS DO CANDOMBLÉ. Disponível em

<http://orixas.wordpress.com/dicionario/a/ > Acessado em: 05/12/07.

PARÉS, Luis Nicolau. A Formação do Candomblé: história e ritual da nação Jeje na Bahia. Campinas: Unicamp [s.d].

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. São Paulo: Brasiliense, 2006.

RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS: Candomblé. Disponível em

<http://www.pime.org.br/missaojovem/mjregafrocandomble2.htm> Acessado em: 05/12/07. VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás. Salvador: Corrupio Comércio, 1981.

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