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EXERCÍCIOS FÍSICOS EM ESTEIRA ERGOMÉTRICA: EFEITOS SOBRE A DOR, MASSA CORPORAL E PESO RELATIVO DE ÓRGÃOS EM RATOS

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Recebido em: 15/3/2010 Emitido parece em: 4/15/2010 Artigo original

EXERCÍCIOS FÍSICOS EM ESTEIRA ERGOMÉTRICA: EFEITOS SOBRE A DOR, MASSA

CORPORAL E PESO RELATIVO DE ÓRGÃOS EM RATOS

Ademir da Costa Lana, Célia Aparecida Paulino

RESUMO

Os exercícios físicos contribuem para a manutenção do bem estar físico e emocional, além de serem importantes para a função imune não-específica, representada pelo processo inflamatório. Este trabalho estudou os efeitos dos exercícios físicos sobre a nocicepção (dor) e mensurou a massa corporal e o peso relativo de alguns órgãos de ratos. Para isso, foram utilizados ratos Wistar, machos, adultos, os quais foram submetidos (grupo treinados) ou não (grupo não treinados) a exercícios em esteira ergométrica. Após 18 horas do treinamento, foi induzida inflamação aguda pela injeção de carragenina-0,5% no coxim da pata posterior esquerda dos ratos e a dor resultante foi avaliada por meio do teste plantar, antes e após 1, 2, 3, 4 e 6 horas. Após 18 horas, 8 ratos treinados e 6 não treinados foram submetidos à anestesia profunda, até a eutanásia, para coleta e pesagem das glândulas adrenais, coração e baço. Os demais animais (7 ratos treinados e 6 não treinados) foram mantidos sem exercícios durante 20 dias, sendo realizado o mesmo procedimento para coleta dos órgãos. A análise estatística dos resultados não mostrou diferença significante (P>0,05) no limiar de dor entre os ratos treinados e não treinados em nenhum dos momentos avaliados. Houve redução na massa corporal (P<0,001) e nos consumos de ração (P<0,01) e de água (P<0,05), bem como aumento no peso relativo das glândulas adrenais coletadas 36 horas (P<0,01) e 20 dias (P<0,01) após o fim do treinamento nos ratos treinados. Não ocorreram alterações significantes nos demais parâmetros avaliados. Concluiu-se, então, que este tipo, intensidade, duração e frequência de exercícios físicos, entre outros fatores, alteram a massa corporal e o peso relativo das glândulas adrenais, e não modifica a dor, em ratos.

Palavras-chave: Exercícios físicos, dor, massa corporal, glândulas adrenais, ratos.

PHYSICAL EXERCISES ON A TREADMILL: EFFECTS ON PAIN, BODY MASS AND

RELATIVE WEIGHT OF ORGANS IN RATS

ABSTRACT

Physical exercises contribute to maintain physical and emotional well-being. Furthermore, they are important for the non-specific immune function, represented by the inflammatory process. This study involved the effect of physical exercises on nociception (pain) and measured the body mass and relative weight of some organs of rats. For the study, adult, male Wistar rats were used and were submitted (trained group) or not (untrained group) to exercises on a treadmill. After 18 hours of training, acute inflammation was induced by an injection of carrageenin-0.5% into the plantar tissue of the left hind paw of each rats and the resulting pain was evaluated by plantar tests before and after 1, 2, 3, 4 and 6 hours. After 18 hours, 8 trained rats and 6 untrained rats were submitted to deep anesthesia, until their euthanasia, to collect and weigh their adrenal glands, heart and spleen. The other animals (7 trained and 6 untrained rats) were maintained with no exercises for 20 days, and the same procedure was used to collect their organs. The statistical analysis of the results did not show significant differences (P>0.05) on the pain threshold between trained and untrained rats in none of the evaluated moments. There was a reduction in body mass (P<0.001), food (P<0.01) and water (P<0.05) consumption, as well as an increase of the adrenal glands relative weight collected at 36 hours (P<0.01) and at 20 days (P<0.01) after the end of the trained rats training period. No significant changes occurred in other evaluated parameters. It was concluded that the type, intensity, duration and frequency of physical exercises, among other factors, alter the body mass and the relative weight of adrenal glands, and not modify the pain, in rats.

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INTRODUÇÃO

Os exercícios físicos podem reduzir sintomas de várias doenças e de certas disfunções provocadas por situações de estresse, sendo relevantes para a manutenção do bem estar físico e emocional. Os exercícios, quando regulares, podem ser indicados para minimizar quadros dolorosos, principalmente em idosos, diferentemente das indicações de alguns anos atrás, quando indivíduos que apresentavam dores crônicas eram instruídos a limitar sua atividade física, mantendo-se inativos por um longo período de tempo.

A prática regular de exercícios protege o organismo de doenças infecciosas, além de acelerar os processos de reparo na inflamação (NIEMAN, 1998). A reação inflamatória é caracterizada por rubor, tumor, calor, dor (nocicepção) e perda da função, e expressa fenômenos na microcirculação e no tecido

intersticial próximo à lesão, com participação da inervação sensitiva local (PHILLIPS et al., 1995). Ainda, os exercícios físicos podem alterar a percepção da dor, com vários relatos dramáticos de

atletas que, apesar de terem sofrido lesões, continuaram se exercitando sem sentirem dor durante os exercícios (KOLTYN, 2000). Dados como estes têm contribuído para a realização de estudos em que o exercício possibilitaria alterações na percepção da dor. Nesta direção, um dos primeiros estudos relacionando exercícios físicos com analgesia foi publicado por Black et al. (1979), no qual os autores observaram que o limiar de dor elevou-se em indivíduos após a realização de 40 minutos de corrida. Tais resultados têm contribuído para a noção de que os exercícios podem alterar a percepção de dor.

Assim, Koltyn et al. (1996) demonstraram um aumento no limiar de dor por pressão, em seres humanos, após exercícios em esteira ergométrica e uma das justificativas para tal resultado foi a ativação do sistema opióide endógeno. Em seus estudos realizados com animais os autores têm apontado evidências sobre analgesia após exercícios e envolvimento do sistema opióide endógeno modulando este processo, principalmente quando utilizada a natação no treinamento físico. Nessa mesma direção, uma pesquisa de Metzger e Stein (1984) utilizando um protocolo de exercícios de corrida de alta intensidade em esteira ergométrica, mostrou um aumento dos níveis plasmáticos de β-endorfina em ratos, sugestivo de estresse induzido pelo treinamento físico.

De fato, Sothmann et al. (1996) relataram que os exercícios físicos agudos podem desencadear reações de estresse, com ativação do eixo-hipotálamo-hipófise-adrenal, liberação de ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) e estimulação das glândulas adrenais, com consequente síntese e secreção de glicocorticóides; a secreção de cortisol (em seres humanos) é pouco alterada nos exercícios leves, mas está elevada nos exercícios exaustivos. Esses hormônios proporcionam adaptações metabólicas, dentre elas a inibição da resposta inflamatória (PRADA et al., 1997).

Além disso, segundo Ostman-Smith (1979), ratos treinados durante períodos longos, em esteira ergométrica, apresentaram hipertrofia das glândulas adrenais pelo aumento na produção de ACTH, em decorrência do estresse provocado pelos exercícios. Também, Pignatelli et al. (2000) relataram que alterações no peso das adrenais são um dos indicativos comumente utilizados, em ratos, para avaliar as possíveis reações metabólicas relacionadas ao estresse. Ainda, a aplicação de estressores físicos pode estar também associada a esta hipertrofia, sugerindo um aumento na atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Neste mesmo sentido, o peso corporal final, em ratos, também é indicativo do efeito estressor dos exercícios físicos em esteira ergométrica (PAŘΊZKOVA e STAŇKOVÁ, 1964).

Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi o de estudar os efeitos dos exercícios físicos programados e controlados sobre a dor, a massa corporal e o peso relativo de alguns órgãos em ratos.

MÉTODOS Animais

Foram utilizados ratos da linhagem Wistar, machos, ao redor de 120 dias de idade e peso corporal variando entre 300 a 400 gramas (no início dos experimentos). Os animais foram manipulados de acordo com as normas e procedimentos éticos relativos ao uso de animais de laboratório, descritos pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Este estudo foi previamente analisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN, São Paulo (Protocolo 024/2004). Os ratos foram alojados em caixas de polipropileno de 41x34x16 cm (5 ratos por caixa), e mantidos em sala de manutenção de ratos com temperatura e umidade ambiente controladas, sob iluminação artificial e fotoperíodo de 12 x 12 horas (claro-escuro), iniciando-se a fase clara às 8:00 horas. Os ratos foram alimentados com ração e água ad libitum, identificados, pesados e divididos aleatoriamente em grupos de animais treinados (TR) e grupos de animais não treinados (NTR).

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Protocolo utilizado para treinamento físico

Os animais do grupo TR (n = 15) foram submetidos a um protocolo de exercícios em esteira ergométrica programável e adaptada para ratos (10400-Inbramed), com 8 raias individuais de aço inox. Os ratos do grupo NTR (n = 12) foram apenas manipulados e colocados na esteira (sem movimento), apenas com a finalidade de exposição ao local dos exercícios.

O protocolo de exercícios físicos constituiu-se de um treinamento com duração de 4 semanas, 5 vezes por semana. Na primeira semana, a duração das sessões foi de 10 até 15 minutos por dia; a

velocidade foi de 15m/min. Na segunda semana a velocidade e a duração foram aumentadas gradativamente até atingir 18m/min, durante 60 minutos e mantida até o final do treinamento. A inclinação da esteira ergométrica foi mantida a 1%, durante todo o período do treinamento. Apesar de não ser diretamente mensurada, a intensidade do exercício físico foi baseada em estudos prévios, que estimaram para este protocolo de treinamento um consumo máximo de oxigênio dos ratos (VO2 máximo) de aproximadamente 60% (BROOKS e WHITE, 1978; CHENNAOUI et al., 2002).

Medida do limiar de dor

A dor foi induzida por meio da injeção de uma suspensão de carragenina tipo Lambda (Sigma) na concentração de 0,5%, diluída em solução de Ringer (Aster). Para provocar uma reação inflamatória aguda, este agente irritante foi injetado no tecido celular subcutâneo do coxim da pata posterior esquerda de cada rato, no volume de 0,1 ml. O limiar de dor induzido pela carragenina (hiperalgesia) foi avaliado pelo método de Hargreaves, utilizando-se para isso o Teste Plantar, um aparelho que mensura o tempo para retirada da pata (limiar) do rato frente a um estímulo térmico (Plantar Test - Ugo Basile). Para isso as mensurações aconteceram antes e 1, 2, 3, 4 e 6 horas após a injeção da carragenina ou (não) (Hargreaves et al., 1988). Os resultados finais obtidos, ou seja, a latência para retirada da pata do ponto de incidência do calor foi expressa diretamente em segundos (seg).

Avaliação dos consumos, da massa corporal e pesagem de alguns órgãos

Os consumos de ração e água, bem como a massa corporal dos ratos foram mensurados três vezes por semana durante todo o treinamento. Para avaliação do consumo de ração e da massa corporal utilizou-se balança eletrônica digital (Marte), e para o consumo de água, uma proveta de vidro (em ml).

Após 36 horas do término do treinamento físico, 8 animais do grupo TR e 6 do grupo NTR foram submetidos à eutanásia induzida por anestesia geral profunda. Em seguida foi realizada a adrenalectomia e pesagem das glândulas adrenais, bem como a retirada e pesagem em balança analítica (Marte) de outros órgãos como o coração e baço. O mesmo procedimento foi realizado em 7 animais do grupo TR e 6 animais do grupo NTR que foram mantidos em repouso durante 20 dias após o término do treinamento.

O cálculo final do peso relativo dos órgãos de cada rato foi realizado dividindo-se o peso de cada órgão (em gramas) pelo peso corporal de cada animal no dia da coleta, e multiplicando-se o resultado por 100. O resultado foi então expresso em gramas/100gramas de peso vivo (g/100g p.v.).

Análise Estatística

Os resultados obtidos foram submetidos ao teste de Bartlett para definição do tipo de teste (paramétrico ou não paramétrico). Para análise das possíveis diferenças entre os vários grupos estudados foi utilizado o teste de Análise de Variância (ANOVA), seguida do teste de Tukey-Kramer de comparações múltiplas (dados paramétricos), ou a análise de variância Kruskal-Wallis seguida do teste de Dunn de comparações múltiplas (dados não paramétricos). Utilizou-se também o teste “t” de Student (dados paramétricos) e o teste de Mann-Whitney (dados não paramétricos), para detecção de possíveis diferenças entre os 2 grupos distintos (TR e NTR).

Os resultados foram expressos como média  desvio-padrão e o nível de significância estatística adotado foi o de 5% (P<0,05).

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta os efeitos dos exercícios físicos sobre o limiar de dor. Não foram detectadas diferenças estatisticamente significantes (P>0,05) deste limiar nos dois grupos de animais

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(TR e NTR) em nenhum dos momentos analisados. O pico da hiperalgesia foi observado no momento H4 nos animais do grupo TR e entre os momentos H3 e H4 nos animais do grupo NTR.

Tabela 1. Limiar de dor em ratos Wistar submetidos ou não a exercícios físicos, em esteira ergométrica, e medido em diferentes momentos (de 0 até 6 horas).

Grupos Média e desvio-padrão da latência para retirada da pata (em segundos) de animais (n=12-15)a H0 H1 H2 H3 H4 H6 TR 15,3  4,3 6,6  4,5A 4,5  2,2A 4,5  3,0A 3,3  1,3A 4,3  1,5A NTR 13,8  3,1 5,0  3,1A 3,6  2,0A 3,1  1,0 A 3,1  1,6A 4,4  2,1A

a número de animais por grupo.

A P<0,05 em relação ao momento H

0 (Kruskal-Wallis seguida do teste de Dunn).

Obs: Não houve diferenças significantes entre os grupos TR e NTR (teste “t” de Student não pareado). A Tabela 2 apresenta os resultados referentes à massa corporal e consumos de água e ração. Houve redução do peso corporal (P<0,001) e dos consumos de ração (P<0,01) e de água (P<0,05) dos animais do grupo TR em relação àqueles do grupo NTR.

Tabela 2. Massa corporal final e consumos de ração e água de ratos Wistar submetidos ou não a exercícios físicos, em esteira ergométrica.

Grupos Média e desvio-padrão da massa corporal final (g), consumo de água (ml) e ração (g) de

animais

(n=12-15)a Peso corporal Ração Água

TR 365  27*** 195  58** 559  236*

NTR 378  21 243  76 653  228 a número de animais por grupo. *P<0,05 em relação ao grupo NTR (teste de Mann-Whitney).

**P<0,01 em relação ao grupo NTR (teste “t” de Student não pareado). ***P<0,001 em relação ao grupo NTR (teste de Mann-Whitney).

Ainda, a análise estatística dos resultados mostrou um aumento no peso relativo das glândulas adrenais coletadas após 36 horas (P<0,01) e 20 dias (P<0,01) do término do treinamento físico nos animais do grupo TR em relação aos NTR (Figura 1).

Figura 1. Peso relativo das glândulas adrenais (g/100g p.v.) de ratos submetidos ou não a exercícios físicos e coletadas 36 horas e 20 dias após o término do treinamento físico.

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P<0,01(em relação ao grupo NTR).

Todavia, a análise estatística dos resultados não revelou alterações significantes (P>0,05) no peso relativo do coração e do baço dos ratos após 36 horas e 20 dias do término do treinamento físico (Figura 2).

Figura 2. Peso relativo do coração e baço (g/100g p.v.) de ratos submetidos ou não a exercícios físicos e coletadas 36 horas e 20 dias após o término do treinamento físico.

Resultados expressos como média e desvio-padrão (n = 6 a 8 animais/grupo). Não houve diferenças estatisticamente significantes entre os grupos TR e NTR.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Os exercícios físicos praticados regularmente levam a adaptações fisiológicas e morfológicas importantes para a manutenção da homeostasia (CARTEE e FARRAR, 1988), e essas adaptações são importantes para o controle de muitas doenças, em especial aquelas de natureza cardiovascular e endócrino-metabólica (LUCIANO et al., 1994). É também descrito que os exercícios podem elevar o limiar de dor (ou nocicepção) em seres humanos (JANAL et al., 1984)e em ratos (SHYU et al., 1982). Além disso, a literatura revela que a exposição ao estresse por exercício físico pode gerar uma série de alterações bioquímicas, psicológicas e comportamentais (GAMARO et al., 1998).

Estudos em seres humanos envolvendo analgesia induzida por estresse, associada ou não a exercícios físicos, são bastante controversos, justificando a necessidade de investigações adicionais para melhor entendimento dos mecanismos responsáveis pela analgesia induzida pelos exercícios (KOLTYN, 2000). Por esta razão, este trabalho avaliou a influência dos exercícios físicos sobre a modulação da dor, além de analisar sua influência sobre a massa corporal e o peso relativo de vários órgãos em ratos. Segundo Farrel et al. (1987), os exercícios físicos representam um estímulo estressante capaz de mudar o estado de homeostase e de reorganizar respostas de diversos sistemas, entre eles o sistema neuroendócrino (ROSA e VAISBERG, 2002),

Os resultados aqui obtidos demonstram que os exercícios físicos em esteira ergométrica não alteraram o limiar de dor em nenhum dos momentos avaliados (Tabela 1). Os animais utilizados neste trabalho foram treinados a partir de um protocolo cuja intensidade de treinamento corresponde a 60% do VO2 máximo (BROOKS e WHITE, 1978; CHENNAOUI et al., 2002). Portanto, os resultados deste trabalho concordam com os relatos de Droste et al. (1991) e de Pertovaara e Kemppainen (1992) que questionaram se esta intensidade de exercício físico seria suficiente para provocar efeito analgésico. Reforçando essas afirmações, Lana et al. (2006) evidenciaram redução do limiar de dor durante a resposta inflamatória aguda em ratos treinados em esteira ergométrica, sob um protocolo utilizando cerca de 70% do VO2 máximo destes animais.

É sabido que os exercícios físicos agudos podem desencadear várias respostas no organismo, entre elas as reações de estresse, que envolvem a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Isso induz a liberação de CRH (hormônio liberador de corticotropina) com consequente estímulo para a secreção de ACTH e aumento na síntese e secreção de hormônios glicocorticóides pelas glândulas adrenais, o que proporciona adaptações metabólicas ao exercício físico (SOTHMANN et al., 1996). Entretanto, o treinamento aqui utilizado não foi capaz de promover tais alterações.

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De acordo com Koltyn (2000), os mecanismos responsáveis pela analgesia induzida pelo exercício físico ainda são pouco conhecidos; uma das teorias propostas é a ativação do sistema opióide endógeno. Nesta direção, é citado na literatura que, durante a dor inflamatória, o CRH é capaz de estimular a liberação de peptídeos opióides (principalmente β-endorfinas) de vários tipos de células imunes, reduzindo a dor em áreas inflamadas, graças à ativação de receptores opióides presentes em terminações nervosas sensoriais periferias (MOUSA et al., 2003). Sendo assim, os resultados desta pesquisa sugerem não ter ocorrido estimulação suficiente do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal para que os níveis de CRH circulantes promovessem tais efeitos.

Em adição, os resultados aqui encontrados também podem ser indicativos de um equilíbrio do limiar de dor, caso este sistema opióide endógeno tenha sido ativado, já que estes animais foram testados 18 horas após a última sessão de exercícios físicos. Assim, utilizando protocolo de treinamento físico espontâneo de ratos em roda de metal, por um período de 3 a 4 semanas, Shyu et al. (1982) observaram um aumento significante no limiar de dor logo após o término dos exercícios, o qual diminuía gradativamente nas seis primeiras horas de inatividade seguidas ao exercício físico.

Outro aspecto a ser considerado é a possibilidade de ter ocorrido uma adaptação dos animais a esta intensidade de exercícios não muito severa. Realmente, de acordo com Gamaro et al. (1998), exposições repetidas ao mesmo estímulo aversivo pode levar a um processo de adaptação a este estímulo. Neste trabalho, os animais foram treinados a partir de um protocolo de treinamento moderado e, portanto, podem ter desenvolvido uma adaptação aos exercícios físicos e, consequentemente, uma menor ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o que, de certa forma, explicaria o fato de não ocorrer aumento no limiar de dor.

Conforme Pařίzkova e Staňková (1964), o peso das glândulas adrenais e o peso corporal são indicadores confiáveis para a avaliação do efeito estressor dos exercícios físicos em esteira ergométrica. Em concordância com esta hipótese, os resultados de outros estudos são conclusivos na demonstração de que os exercícios promovem hipertrofia das glândulas adrenais (BLOOR et al., 1970; OSTMAN-SMITH, 1979; PIGNATELLI et al., 2000; LANA et al., 2006). Nesta pesquisa observou-se um aumento significante no peso relativo das glândulas adrenais coletadas 36 horas e 20 dias após o término do treinamento físico (Figura 1), sugerindo que o treinamento físico de intensidade moderada, utilizado neste estudo, representou um estímulo estressor insuficiente para modificar o limiar de dor, mas foi capaz de desencadear respostas adaptativas no organismo.

O peso corporal é um parâmetro biológico diretamente relacionado à intensidade de exercícios praticados, isto é, intensidades maiores dispendem gastos maiores de energia e resultam em menor ganho de peso (THOMAS e MILLER, 1958). Sobre este aspecto, Stevenson et al. (1966)relataram que exercícios prolongados e intensos provocam diminuição no consumo voluntário de ração em ratos. Em relação à massa corporal final e aos consumos alimentar e hídrico, os animais treinados nesta pesquisa apresentaram redução no peso corporal provavelmente devido ao menor consumo de ração e água após o treinamento físico (Tabela 2).

Nesta direção, Rivest e Richard (1990) demonstraram efeitos anorexígenos para o CRH administrado de forma crônica no interior do terceiro ventrículo de ratos, pois reduziu de maneira significante a ingestão de ração e o ganho de energia, simulando os efeitos desencadeados pelos exercícios físicos. Também, Stevenson et al. (1996)relataram que o grau de redução do apetite pode estar relacionado com o grau de estresse provocado pela intensidade do exercício físico à qual os animais foram expostos, e que esta supressão do apetite pode ser mediada pelos altos níveis de catecolaminas em decorrência do estresse provocado pelos exercícios.

Ademais, exercícios físicos diários podem levar a uma hipertrofia cardíaca evidenciada em várias espécies de animais de laboratório (OSTMAN-SMITH, 1979). Durante a realização de exercícios, o coração se ajusta ao aumento das atividades mecânicas e metabólicas, com adaptações bioquímicas, morfológicas e mecânicas, que induzem uma melhora na função cardíaca (NATALI, 2004).

Vale ressaltar que inúmeras variáveis são capazes de desencadear uma hipertrofia cardíaca em ratos submetidos a exercícios físicos, como, por exemplo, o tipo de exercício, a frequência, intensidade e duração das sessões de treinamento físico. Assim, os resultados desta pesquisa mostram que os exercícios físicos, nesta intensidade de treinamento, não provocaram aumento no peso relativo do coração dos animais treinados em relação aos não treinados coletado 36 horas e 20 dias após o término do treinamento (Figura 2). Desta forma, é possível que os ratos adultos tolerem com mais facilidade os exercícios físicos intermitentes sem desenvolver um aumento da massa muscular cardíaca, a não ser em treinamentos mais intensos (THOMAS e MILLER, 1958), ou ainda, o protocolo de intensidade moderada

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utilizada neste trabalho não foi suficiente para causar adaptações cardíacas necessárias para alterar o peso relativo deste órgão.

Segundo Ostman-Smith (1979), o baço também pode apresentar alterações adaptativas em decorrência de exercícios físicos; entretanto, os resultados do peso relativo deste órgão encontrado na literatura são bastante divergentes. Neste estudo não foram detectadas modificações significantes no peso relativo do baço coletado 36 horas e 20 dias após o término do treinamento (Figura 2). Da mesma forma, também não foi observada alteração no peso do baço de ratos submetidos a 12 semanas de treinamento físico em esteira ergométrica, utilizando aproximadamente 50% do VO2 máximo dos animais (LANA et al., 2006). A este respeito, Bloor et al. (1970)relataram ausência de alterações significantes deste órgão em ratos adultos treinados com exercícios de natação, 1 hora por dia, durante 10 semanas.

Finalmente, analisando-se os resultados em conjunto, pode-se sugerir que a intensidade, a duração e a frequência dos exercícios físicos, entre outros fatores, podem afetar diretamente os parâmetros biológicos analisados neste estudo. A utilização de outros protocolos experimentais de treinamento físico para ratos poderia levar a outros achados ou corroborar os resultados aqui obtidos.

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